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Periodização
Sumário
Introdução 3
1 Síntese histórica 3
1.1 Modelo tradicional 4
1.2 Modelos contemporâneos 5
1.3 Diferenças e problemáticas dos diferentes modelos de periodização 6
3 Recuperação do treinamento 12
3.1 Ciclo de supercompensação 14
5 Modelo em bloco 25
Referências 48
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Introdução
A periodização do treinamento desportivo não é uma - 3ª fase: de 1970 até os dias de hoje,
novidade ou um descobrimento dos novos tempos, sendo o momento de grande evolução dos
mas está presente desde o Egito Antigo e Grécia conhecimentos da área do treinamento
Antiga até os dias de hoje. As teorias se aperfeiçoam, desportivo, também chamado de período dos
os conhecimentos evoluem e, consequentemente, modelos contemporâneos. (Monteiro e Lopes,
modificam-se as práticas de treinamento desportivo. Os 2009, p. 71).
processos de periodização do treinamento evoluíram,
sempre se adaptando ao corpo de conhecimentos já A periodização do treinamento com pesos também
conquistados durante sua história. pode ser entendida como progressão temporal das
cargas de treinamento. Lembramos que, em relação
No treinamento desportivo, a periodização ao treinamento na musculação, a carga representa
é um processo de estruturação das fases de qualquer variável que pode ser manipulável na
treinamento que busca atingir níveis máximos ou composição de uma sessão de treinamento.
ótimos das capacidades físicas, técnicas, táticas
e psicológicas dos atletas através de avaliações A progressão de cargas é um processo necessário
periódicas. A finalidade é verificar quais são devido à alta capacidade de adaptação (plasticidade)
os pontos que foram bem trabalhados e áreas do organismo aos estímulos do treinamento, tanto em
que devem sofrer alterações na aplicação aspectos estruturais (enzimas, proteínas e organelas
dos treinamentos, porém em ambas as áreas celulares) quanto neurológicos. Podemos observar
de atuação profissional torna-se necessário a plasticidade muscular no desenvolvimento dos
planejar. Segundo Stone (1999), periodizar é parâmetros externos funcionais como força, potência
o método lógico de manipulação das variáveis e resistência muscular.
de treinamento tendo como fim o aumento do
As adaptações estruturais ao treinamento ocorrem
potencial para atingir objetivos de performance.
por meio do aumento da taxa de síntese de proteínas
(Monteiro e Lopes, 2009, p. 71).
observadas em mudanças no RNAm (gráfico 1).
Portanto, as adaptações crônicas ao treinamento
1 Síntese histórica ocorrem pelo incremento da atividade transcricional
e traducional da célula muscular, acompanhado por
A história da planificação ou periodização um novo estado de funcionalidade tecidual.
desportiva pode ser dividida em três períodos:
Uma vez alcançado esse novo limiar, o tecido em
- 1ª fase: desde os primeiros autores até questão requer que os estímulos do treinamento
1950, onde se inicia o conceito de periodização, sejam progressivos e respeitem o principio da
ou também chamado de período dos precursores sobrecarga. Isso se faz necessário para manter
da periodização desportiva. a atividade de síntese de proteínas musculares
envolvidas nas adaptações desejadas com o programa
- 2ª fase: de 1950 até 1970, momento onde de treinamento.
se começam os questionamentos sobre os
modelos clássicos aparecendo novas propostas
de modelos, ou também chamado de período
dos modelos tradicionais.
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Gráfico 1 – Adaptações agudas na expressão gênica em resposta ao treinamento. Fonte: adaptado de Fluck (2003).
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Caracteriza-se como uma proposta analítico- 20. Pouca diferença de carga de trabalho
sintética. (Monteiro e Lopes, 2009, p. 35). entre o período preparatório e específico.
Assim, Oliveira (2008) destaca como características 23. Utilização de cargas concentradas.
do sistema contemporâneo a individualização,
concentração das cargas de treinamento em um curto 24. Diferenciadas em etapas definidas.
espaço de tempo, tendência a um desenvolvimento
25. Grande volume concentrado de estímulos
consecutivo das capacidades ou objetivos e
de preparação especial.
incremento do trabalho específico.
26. Homogeneidade de estímulos.
Um dos autores mais conhecidos desta fase é Yuri 28. Etapas de estímulos específicos
Verkhoshansky. Nesta fase não se utiliza o termo segmentados em blocos definidos.
planificação ou periodização, mas um sistema onde se
encaixam os conceitos de programação, organização 29. Redução persistente dos índices
e controle. Os conceitos dele e de outros autores funcionais, seguida de uma supercompensação.
estão apresentados logo abaixo:
30. A formação geral cria a sustentação para
recuperar a capacidade de rendimento, após
Autor: Tschiene cargas de grande volume.
14. Propõe uma forma ondulatória de carga 31. O rápido aumento e diminuição do
com contínuas fases breves caracterizadas por volume de trabalho produz a intensificação das
alterações frequentes de intensidade e volume. cargas de treinamento e obtenção máxima do
desempenho.
15. Busca de um nível ótimo (não o máximo)
das capacidades biomotoras. 32. Capacidades de diferente orientação
funcional são distribuídas em diferentes estágios
16. Aplicação de um modelo de adaptação de tempo específicos segmentados em blocos
biológica. definidos.
17. Utilização de cargas altas de treinamento. 29. Redução persistente dos índices
funcionais, seguida de uma supercompensação.
18. Predominância do trabalho específico.
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daquele habitual (por exemplo, maior intensidade ou diversos componentes do sistema funcional do
volume de exercícios), dispara a reação de alarme. organismo.
Esta reação se inicia no sistema nervoso central,
4 - Adaptação psicológica às particularidades
estimulando a síntese de hormônios, os quais incitam
do treinamento físico e de competição. (GOMES,
uma série de reações químicas voltadas a aumentar a
2009, p. 74).
disponibilidade de energia para o trabalho muscular.
Na presença do estresse, cresce a velocidade do
De fato, a obtenção da fase de resistência às
consumo de energia, aumentando a necessidade de
cargas aplicadas constitui o objetivo primário do
ATP. Quando o estímulo do exercício não é removido,
processo de treinamento.
verifica-se o esgotamento gradativo dos recursos de
adaptação aguda, e surge um padrão de reações - Reação de exaustão (esgotamento):
defensivas do organismo percebida pelo indivíduo
como fadiga. Esta fase ocorre quando a ação do agente
estressor não diminui e, dessa maneira, verifica-se o
- Reação de resistência: esgotamento progressivo da capacidade de adaptação
imediata. Nesse momento, surge a reação defensiva do
Descreve as adaptações do organismo que
organismo, percebida subjetivamente pelo indivíduo
substituem os mecanismos de resposta aguda de
como fadiga. Essa fase pode ocorrer quando o nível
urgência pelas mudanças estruturais e funcionais em
de sobrecarga aplicada está acima da capacidade de
longo prazo para satisfazer a demanda de energia.
adaptação do indivíduo ou acima da capacidade de
Nesse momento, não ocorre somente a mobilização
mobilizar sua reserva atual de adaptação.
dos recursos energéticos e plásticos estruturais do
organismo, mas também a redistribuição desses
recursos para o seu sistema dominante responsável
pela adaptação. O aumento da capacidade de
resposta do organismo frente a um agente estressor
é também conhecido como supercompensação.
O tempo de obtenção dessa reação é de semanas
ou meses e depende da capacidade do indivíduo
responder ao estímulo.
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“Quanto mais treinado for o indivíduo, menos Dessa forma, 10’ para resistência, 30’ para a força
treinável ele é.” Ou seja, quanto maior o potencial e 20’ para a flexibilidade representam a duração de
de treinamento, mais evolução há em relação às cada estímulo. Se somarmos as durações, teremos
melhoras da aptidão física. então o volume.
No caso do iniciante percebemos que há um - Volume: o volume pode ser representado pelo
grande potencial para a evolução (alto potencial de número de movimentos, quilômetros percorridos,
treinamento) enquanto para o avançado a evolução números de séries X número de repetições X carga
será lenta, uma vez que ele já possui boas adaptações levantada, tempo transcorrido etc. O volume de
em relação às cargas de treino (baixo potencial de treino deve ser considerado para que possamos ter
treinamento). o bom desenvolvimento de algumas capacidades
físicas já citadas.
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ou a resistência aeróbia. Neste tipo de intervalo resistência e flexibilidade. Para indivíduos iniciantes
o volume deve predominar sobre a intensidade. recomenda-se o trabalho de cargas complexas
visando o desenvolvimento global do indivíduo.
II - Parciais: os intervalos parciais trabalham
com tempos entre um e dois minutos de
recuperação. São utilizados em exercícios 2.2.4 Grandeza da carga
que envolvam a força dinâmica com intuito
de hipertrofia e a resistência anaeróbia. A A grandeza da carga representa a relação entre a
utilização deste intervalo permite trabalhos de aplicação do exercício e as respostas do organismo.
maior intensidade concomitantes a um volume Platonov (2008) caracterizou a grandeza da carga em
moderado. quatro componentes:
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Gráfico 5 – Exemplo hipotético de recuperação de um atleta amador ou praticante intermediário de treinamento com pesos. Fonte: adaptado de
Bishop et al. (2008).
Em outro exemplo, o gráfico 6 mostra que a recuperação ocorreu imediatamente após o período de
24h entre as sessões, devido ao alto volume ou intensidade empregado no treino. Esse fenômeno pode
explicar, ao menos em parte, o platô ou estagnação dos níveis de desempenho comumente encontrado entre
praticantes avançados e atletas.
Gráfico 6 – Exemplo hipotético de recuperação de um atleta ou praticante avançado de treinamento com pesos. Fonte: adaptado de Bishop et al.
(2008).
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O gráfico 7 mostra o processo hipotético de recuperação quando o atleta entra na reação de exaustão da
síndrome geral de adaptação. Neste caso a recuperação é incompleta, e as sucessivas sessões de treinamento
são iniciadas em sub-recuperação. Se o treinamento prosseguir nestas condições, é possível que o atleta
desenvolva a síndrome do sobretreinamento.
Gráfico 7 – Exemplo hipotético de recuperação incompleta no treinamento de um atleta ou praticante avançado de treinamento com pesos. A linha
reta exemplifica um processo de sub-recuperação entre as sessões de treinamento, ou seja, um efeito negativo sobre os marcadores de desempenho.
Fonte: adaptado de Bishop et al. (2008).
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no treinamento.
O gráfico 10 representa uma relação hipotética
entre o tempo de recuperação necessário para
induzir a supercompensação em função da grandeza
da carga aplicada no microciclo.
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A periodização divide a temporada em ciclos e a interpretação a curto, médio e longo prazo da aplicação da
carga é fundamental para a análise dos efeitos do treinamento. Se a carga de treinamento é adequadamente
estruturada (volume, frequência, intensidade e intervalo de recuperação) e se a próxima sessão de trabalho
coincide com a fase de supercompensação, a condição física do indivíduo aumenta. O gráfico 11 apresenta
diferentes comportamentos da resposta do organismo em relação à aplicação da carga de treinamento.
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4.1 Macrociclo
O macrociclo (do ponto de vista estrutural)
representa o período de adaptação do organismo ao
treinamento. O conteúdo, a organização e a duração
do macrociclo dependem basicamente do calendário
disponível e do tempo necessário para mobilização
da reserva adaptativa do organismo do atleta ou
praticante. O macrociclo é constituído pelo período
Gráfico 13 – Divisão do macrociclo no treinamento personalizado. Fonte:
preparatório, período competitivo e período transitório. adaptado de Monteiro (2011).
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Gráfico 17 – Periodização simples para atletas especializados. Fonte: adaptado de Monteiro e Lopes (2009).
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As ênfases no treinamento das capacidades físicas distribuição das cargas de treinamento no mesociclo
dentro do mesociclo podem ser atribuídas da seguinte de desenvolvimento pode ocorrer em uma dinâmica
maneira, de acordo com Ide et al. (2010): crescente ou decrescente, oscilatória e horizontal.
- Mesociclo estabilizador
- Mesociclo de desenvolvimento
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- Microciclos de treinamento
- Microciclo de choque
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- Microciclo recuperativo
- Microciclo de controle
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- Microciclo competitivo
O principal objetivo deste microciclo é sustentar no decorrer das competições a forma desportiva adquirida
no período preparatório. Os gráficos 31 e 32, abaixo, apresentam um microciclo competitivo com uma ou
duas competições, respectivamente.
Gráfico 31 – Microciclo competitivo com uma competição. Fonte: Gráfico 32 – Microciclo competitivo com duas competições. Fonte:
elaborado pelo professor. elaborado pelo professor.
A tabela abaixo apresenta um resumo da classificação e particularidades dos microciclos de acordo com
Monteiro e Lopes (2009):
5 Modelo em bloco
Os modelos de periodização contemporâneos surgem a partir da necessidade de concepções específicas
a respeito de determinadas modalidades esportivas. As diferenças metabólicas, biomecânicas e a maior
demanda competitiva do desporto atual suportaram a necessidade do surgimento de novos modelos de
estruturação e organização o treinamento.
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• Possíveis desvantagens
• Pode promover o destreinamento das
capacidades físicas treinadas inicialmente
• Representa um modelo de difícil aplicação
em modalidades esportivas complexas
(esportes coletivos)
• Promove grande estresse no mesmo
sistema, o que pode inviabilizar a
recuperação de cargas sucessivas
Gráfico 33 – Representação gráfica do modelo simples da periodização • O modelo original proposto por
em bloco. Fonte: adaptado de Verkhoshansky e Siff (2009).
Verkhoshanky é muito longo, podendo
não haver tempo hábil para aplicação dos
blocos. Nesse caso, seria necessária uma
Em geral, a ordem de treinamento das capacidades adaptação do modelo para a realidade
físicas no treinamento com o modelo em bloco ocorre competitiva atual: reduzir o tempo das
da seguinte maneira: etapas e priorizar as capacidades físicas
determinantes.
• Força geral
• Resistência de força
6 Periodização do treinamento de
• Potência muscular e velocidade resistência
• Potência específica e tática O objetivo central dos programas de treinamento
de resistência bem planejados é auxiliar o
Segundo Ide et al. (2010, p. 197), as vantagens e atleta ou praticante a obter as adaptações
desvantagens do modelo em bloco são: fisiológicas necessárias por meio do treinamento
e recuperação, além de ajudá-lo a alcançar o pico
• Principais vantagens de desempenho para a competição. Os programas
• Permite maior controle das cargas de bem desenhados e planejados reduzem o risco de
treinamento lesão musculoesquelética e proporcionam períodos
adequados de recuperação, evitando o aparecimento
• Caracteriza-se por sessões de treinamento
da síndrome de sobretreinamento. Podemos
específico
elaborar um programa de treinamento de resistência
• Permite maior individualização do periodizado percorrendo quatro etapas:
treinamento
I - Coletar informações
• Evita concorrência do processo de
adaptação entre capacidades físicas, II - Focar nos componentes iniciais da planificação
principalmente força e resistência III - Examinar o programa de treinamento em
detalhes
• Permite a recuperação do atleta no bloco B,
pois o volume de trabalho é reduzido, com IV - Planejar a periodização de cada ciclo
manutenção simultânea da intensidade
A coleta de informações inclui a organização das
(efeito de polimento – taper)
competições pelo estabelecimento de prioridades
e objetivos a curto, médio e longo prazo. Esta
etapa também inclui a determinação do estado
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de treinamento do indivíduo, histórico de lesões, deve ao acúmulo crescente das cargas de trabalho
desequilíbrios musculares, indicadores fisiológicos e no mesociclo. Portanto, uma semana de recuperação
bioquímicos de desempenho e o tempo real disponível é necessária para promover a supercompensação e
para o treinamento. manifestar o efeito acumulativo do treinamento.
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Nas últimas 3 semanas do período preparatório geral, a frequência de treinamento semanal deverá
aumentar para 5-6 dias, enquanto exercícios de técnica de corrida deverão ser incorporados em 2-3 sessões
por semana. Neste período, uma sessão de treinamento semanal deverá incluir uma corrida de longa duração
em baixa intensidade, sendo que o volume da sessão deverá ser por volta de 25% da distância total do
microciclo.
No treinamento das últimas 5 semanas (13 a 18), a intensidade do estímulo deve ser aumentada
suavemente pela ênfase do trabalho no limiar de ritmo de corrida e pelo treinamento intervalado de longa
duração.
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O papel do treinamento de força para o desempenho de resistência ainda causa muita confusão. Nesse
caso, o objetivo é aumentar a força muscular sem comprometer as adaptações obtidas com as cargas de
resistência. Quando olhamos para os fatores que determinam o desempenho de resistência, vários deles
podem ser destacados como o consumo máximo de oxigênio, limiar de lactato e economia de movimento.
Abaixo, a figura 2 apresenta os efeitos do treinamento de força e de resistência sobre o desempenho.
Figura 2 – Influência do treinamento com pesos e de resistência sobre o desempenho de resistência. Fonte: adaptado de Reuter (2012).
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Quadro 2 – Modelo de planejamento para o treinamento de força voltado para o desempenho de resistência
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a estagnação dos resultados, o que diminui a refere normalmente a uma semana de treinamento.
probabilidade de sobretreinamento e potencializa os No entanto, de acordo com o formato do programa
ganhos de força, potência e hipertrofia muscular. podemos programar microciclos de 1-4 semanas.
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- Fase de hipertrofia
Ocorre nas semanas iniciais do período preparatório, em aproximadamente 6 semanas. Nesta fase busca-
se desenvolver a massa muscular e uma boa base metabólica para suportar o treinamento mais intenso nas
fases posteriores.
No final do período preparatório a fase de força básica é treinada com objetivo de aumentar a força
muscular até níveis ótimos para os objetivos específicos do programa de treinamento.
O último estágio do período preparatório é a fase de força e potência. O treinamento com pesos é
direcionado para a execução de exercícios de levantamento olímpico e exercícios explosivos de sobrecarga
elevada e baixo volume.
Gráfico 34 – Modelo linear aplicado ao treinamento de força/potência. Fonte: adaptado de Baechle e Earle (2008).
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Gráfico 36 – Efeito do treinamento com pesos no incremento de desempenho no exercício de supino reto após 16 semanas de treinamento em jogadores
de futebol americano. Fonte: adaptado de Willoughby (1993).
Os resultados revelaram que o comportamento no incremento da força muscular não é similar entre
os grupos musculares ou no mesmo período de tempo do programa de treinamento. Os programas de
periodização requerem um longo período de treinamento para mostrarem sua superioridade nos processos
de adaptação no organismo.
Isso ocorre devido à necessidade de tempo suficiente das adaptações fisiológicas (hipertrofia muscular e
adaptações neurais) para se manifestarem em níveis ótimos e em períodos específicos.
Gráfico 37 – Efeito do treinamento com pesos no incremento de desempenho no exercício de agachamento após 16 semanas de treinamento em
jogadores de futebol americano. Fonte: adaptado de Willoughby (1993).
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Gráfico 38 – Periodização linear reversa com objetivo de hipertrofia muscular. Fonte: adaptado de Prestes et al. (2010).
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Gráfico 39 – Modelo de periodização ondulatória diária. Fonte: adaptado de Prestes et. al. (2010).
Além disso, utilizar menos zonas de RMs promove alterações menos abruptas na sobrecarga do treinamento,
possibilitando maior facilidade de adaptação ou recuperação e menor magnitude da fase de alarme. Por
exemplo, o indivíduo treinará utilizando somente duas zonas de RMs voltadas para desenvolver a hipertrofia
muscular. Na primeira sessão ele realiza o treinamento com cargas de 10-12RMs e, na próxima sessão para
o mesmo grupo muscular, o indivíduo executa o treinamento com cargas de 6-8RMs.
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Em comparação à periodização ondulatória diária (tradicional), o modelo semanal requer menor dinâmica
nas cargas de treinamento, permitindo maior recuperação e possibilidade de adaptação, pela exposição mais
frequente ao estímulo.
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Com relação às vias moleculares, o treinamento de resistência estimula adaptações ao nível energético
por meio da ativação da proteína AMPK. Essa proteína atua como sensor energético da célula, pois sua
atividade é modulada principalmente pela redução do conteúdo de creatina fosfato, da razão ADP/ATP e
níveis de glicogênio muscular. Embora os ajustes metabólicos ocorram durante o exercício mediado pelas
reações de alarme, o treinamento crônico pode modular a expressão de genes envolvidos no controle da
homeostase energética (figura 3).
Figura 3 – Respostas moleculares adaptativas ao treinamento com pesos e de resistência. Fonte: adaptado de Coffey e Hawley (2007).
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Três elementos devem ser considerados para devido a sua importante participação na habilidade
o desenvolvimento da potência máxima. Primeiro, de produzir elevados níveis de potência em diferentes
é essencial que a força muscular seja maximizada gestos esportivos.
devido a sua direta relação com a habilidade de
expressar altas taxas de produção de força e a potência
muscular. Segundo, é importante desenvolver a 8.2 Taxa de desenvolvimento de força
habilidade de expressar altos níveis de força em
A taxa de desenvolvimento de força descreve a taxa
curto período de tempo. Finalmente, é necessário
na qual a força é expressa durante um determinado
desenvolver a habilidade de expressar altos níveis de
movimento. Tipicamente, esta habilidade é avaliada
força conforme a velocidade de movimento aumenta.
pela produção de força em função de um determinado
tempo (Δ força/ Δ tempo). Por exemplo, tempos de
8.1 Força máxima contração muscular entre 50-250 milissegundos são
muitas vezes associados com movimentos rápidos,
A importância do incremento da força muscular tais como saltos, corridas em velocidade (sprints) ou
torna-se evidente quando analisamos atletas mudança de direção. Nestas situações, a produção
amadores que não possuem níveis adequados de de força máxima é limitada pela disponibilidade
força muscular para produzir elevados valores de de tempo (> 300 milissegundos). Alguns autores
potência muscular. Para esses atletas, simplesmente sugerem que o treinamento com exercícios balísticos
aumentar sua força muscular já estimula um deve ser realizado com cargas leves submáximas
resultante aumento da produção de potência. Por para otimizar a taxa de produção de força, e,
outro lado, uma vez que o atleta tenha atingido portanto, a potência muscular.
valores adequados para a força muscular, eles devem
ser capazes de maximizar seus efeitos, incorporando No gráfico 41 observamos que o treinamento
o treinamento específico (exercícios pliométricos, com pesos com cargas elevadas pode aumentar
balísticos e complexos) designado para otimizar o significativamente a força máxima e a taxa de
treinamento de potência muscular. desenvolvimento de força, em comparação com
indivíduos destreinados. Por outro lado, o treinamento
A determinação dos níveis de força requeridos com exercícios explosivos balísticos parece ser superior
para o treinamento de potência representa um para o incremento da taxa de desenvolvimento de
grande desafio para treinadores e preparadores força (principalmente em indivíduos bem treinados),
físicos. Algumas evidências na literatura sugerem mas não é superior para desenvolver a força máxima.
que atletas que são capazes de realizar 1RM de
agachamento com 2x sua própria massa corporal
podem expressar maiores valores de potência no
salto vertical, em comparação com atletas cujo 1RM
representa somente 1,4-1,7x sua massa corporal.
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8.3 Sobrecarga
A sobrecarga ótima para o treinamento de potência
muscular é definida pela sobrecarga que potencializa
a produção de potência em um movimento
específico. Embora a velocidade de movimento seja
comprometida com a aplicação de cargas elevadas
no treinamento (gráfico 42), o objetivo é sempre
a produção de velocidade máxima de movimento
(potência) para qualquer nível de força em situações
de treinamento ou competição.
Recentemente, a literatura especializada aponta para a utilização de métodos mistos de treinamento para
o incremento simultâneo da força, potência e capacidade de desempenho esportivo. Teoricamente, o uso de
sobrecarga baixa em movimentos de alta velocidade pode impactar na área de alta velocidade da curva força-
velocidade. Ao contrário, exercícios com alta sobrecarga aumentam o desempenho em esforços na porção
alta da curva força-velocidade.
Assim, métodos mistos permitem adaptação mais completa em toda amplitude da curva. Uma estratégia
possível é aplicarmos uma variedade de sobrecargas de treinamento (diferentes % de 1RM). Por exemplo,
no agachamento a potência máxima ocorre entre 30-70% de 1RM, enquanto sobrecargas superiores a 75%
de 1RM são úteis para desenvolver a força muscular.
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Gráfico 43 – Efeito de diferentes intervenções no treinamento sobre a curva força-velocidade. Fonte: adaptado de Haff (2012).
A tabela 3 apresenta algumas sugestões para o desenvolvimento da potência muscular dos membros
inferiores. Ao utilizar exercícios pliométricos no treinamento, o principal objetivo passa a ser o desenvolvimento
da potência muscular na porção mais baixa da curva força-velocidade. Exercícios balísticos como os de
levantamento olímpico entre 70-90% de 1RM podem desenvolver potência muscular em diferentes parâmetros
de força e velocidade.
Tem sido documentado que o treinamento tradicional com pesos pode também ser contraprodutivo
no desenvolvimento da potência muscular em função das fases de desaceleração em algumas partes dos
movimentos (24-40% da amplitude de deslocamento). Notavelmente, este percentual pode aumentar
quando o executante move a resistência mais rapidamente, no esforço de deixar a execução do movimento
em velocidade máxima.
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A tabela 4 a seguir traz as sugestões do American College of Sports Medicine para o treinamento de
potência.
Tabela 4 – Recomendação do American College of Sports Medicine para o treinamento de potência muscular
Velocidade
Ação Seleção do Ordem dos Intervalo
Sobrecarga Volume de Frequência
Muscular Exercício Exercícios de repouso
movimento
Grandes < 30-60% 1-3 séries 2-3 x /
Iniciante EXC e CON Multiarticular 2-3 min moderada
Pequenos 1RM 8-12 reps semana
Grandes < 30-60% 1-3 séries 2-4 x /
Intermediário EXC e CON Multiarticular 2-3 min rápida
Pequenos 1RM 3-6 reps semana
Grandes < 30-60% 1-3 séries 4-6 x /
Avançado EXC e CON Multiarticular 2-3 min rápida
Pequenos 1RM 3-6 reps semana
Fonte: American College of Sports Medicine (2009)
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