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DESPORTIVO
Salma Hernandez
Periodização completa
de treinamento
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Modelos de periodização de treinamento físico são cruciais para o plane-
jamento a longo prazo. Tais modelos descrevem fundamentos propostos
por estudiosos da área que aplicaram e teorizaram seus achados e emba-
saram a proposição desses modelos até a atualidade. Esses fundamentos
contemplam indicações sobre, por exemplo, como direcionar a carga de
trabalho e em que momento utilizar mais intensidade ou volume a fim
de alcançar a forma desportiva.
Neste capítulo, você vai conhecer as características dos principais
modelos teóricos da periodização em treinamento desportivo, consi-
derando suas especificidades a longo prazo. Além disso, vai estudar a
importância do heterocronismo na aplicação das cargas e seus efeitos
em termos de periodização.
que não há um modelo melhor que os demais, e sim aqueles que melhor
se adequam às condições desta ou daquela modalidade, geralmente se
modernizando ao longo do tempo. Dentre os diversos modelos ou métodos
de periodização existentes, vamos discutir os principais: clássico, modular,
pendular, por blocos e ondulatório (PLATONOV, 2008; BOMPA, 2012;
FUNDAÇÃO VALE, 2013).
O modelo mais utilizado na prática, cujos primórdios remontam à década
de 1950, é o modelo clássico proposto por Leo Matveev (1997), considerado
o pai da teoria da periodização. Tal modelo se fundamenta na síndrome de
adaptação geral, que consiste em diferentes fases para se atingir a forma
desportiva: desenvolvimento, conservação e perda. Assim, nesse modelo de
periodização o ciclo anual de treinamento, ou macrociclo, é dividido em três
períodos bem definidos: preparatório, competitivo e transitório, relacionados às
diferentes fases de forma desportiva, em que deverão ser realizadas diferentes
proposições entre volume e intensidade dos estímulos.
Por sua vez, o modelo modular surge em meados dos anos 1970, pro-
posto por Vorobjev. O racional desse modelo era oposto àquele proposto por
Matveev, uma vez que no treinamento modular preconiza-se a preparação
específica (e não a geral), com mudanças intensas e frequentes de volume e
intensidade das cargas de treinamento durante toda a temporada. No recorte
histórico da periodização, esse é o primeiro modelo a se afastar do modelo
clássico e do emprego da preparação geral (PLATONOV, 2008; BOMPA,
2012; FUNDAÇÃO VALE, 2013).
Já o modelo pendular foi proposto por Arosjev e Kalinin também nos
anos 1970 (FORTEZA DE LA ROSA, 1994). Trata-se de um aperfeiçoa-
mento do método proposto por Matveev, em que são mantidos os períodos
de preparação, mas são acrescidos pressupostos sobre o descanso ativo e
sua relação positiva com a capacidade no restabelecimento do trabalho.
Esse método também preconiza a sequência de microciclos básicos e de
regulação (discutidos no próximo tópico) no restabelecimento eficaz e na
capacidade de suportar ritmos elevados e reduzidos de trabalho geral pelo
organismo do atleta. Desse modo, quanto maiores forem os pêndulos, maior
será a manutenção da forma desportiva. O fundamento básico do modelo
pendular é impor vários picos de rendimento durante uma temporada,
aproximando-se do calendário competitivo anual (Figura 1) (PLATONOV,
2008; BOMPA, 2012; FUNDAÇÃO VALE, 2013).
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Ao planejar mesociclos para mulheres, convém avaliar seu biorritmo mensal, ou seja, a
alteração de seu estado funcional em decorrência do ciclo biológico menstrual. Alguns
estudos comprovam uma variação da capacidade de trabalho durante o ciclo menstrual,
sendo atribuída a flutuações das capacidades de força, velocidade e resistência especial e
por perturbações na coordenação motora, bem como por alterações de humor, como irri-
tabilidade e instabilidade emocional. Gomes (2009) propõe a seguinte aplicação de variação
de carga dentro de um mesociclo (Quadro 1) considerando um ciclo menstrual de 28 dias.
Quadro 1. Variação da carga durante um mesociclo de treinamento para mulheres de
acordo com um ciclo menstrual de 28 dias
Microciclos de treinamento:
■ microciclo de choque — caracteriza-se por altas cargas de treina-
mento, próximas ou mesmo no limite do atleta (80–100%), o que leva
a uma mobilização máxima das reservas energéticas do organismo;
■ microciclo ordinário — impõe cargas de treinamento moderadas,
de 60 a 80% do máximo do atleta;
■ microciclo estabilizador — tem como objetivo a manutenção da
forma física do atleta, cuja grandeza das cargas ficam entre 40 e
60% do seu máximo;
■ microciclo recuperativo de manutenção — o objetivo principal deste
microciclo é assegurar a recuperação do atleta, mas possibilitando ao
mesmo a manutenção de certas adaptações obtidas nos microciclos
anteriores e da condição integral do atleta (cargas entre 30 e 40%
do máximo).
■ microciclo recuperativo — visa a recuperação completa do atleta,
com cargas de treinamento por volta de 10–20% do seu máximo e
com dias de descanso.
Microciclo preparatório de controle: geralmente é aplicado ao final
de etapas de preparação, incorporando ao treinamento participação em
situações próximas ou até mesmo idênticas ao que o atleta encontrará
nas competições.
Microciclo pré-competitivo: é o período de preparação que se encon-
tra próximo às competições objetivadas pelo atleta. Não é indicada a
utilização de cargas máximas e os treinamentos de alta intensidade se
alternam com fases de recuperação.
Microciclo competitivo: o objetivo deste microciclo é transferir o que
foi realizado durante os treinamentos para as competições.
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Período preparatório
Subdividido em preparação geral e específica. Na preparação geral, o objetivo
é potencializar as capacidades coordenativas e motoras, criando uma base
para posteriormente progredir em atividades específicas à modalidade, além
de desenvolver as qualidades técnico-desportivas e psicológicas. Por sua vez,
a preparação específica garante o estabelecimento direto da forma esportiva
impondo estímulos específicos e muitas vezes idênticos aos realizados nas
competições.
Período competitivo
É o período que envolve a competição em si. Nele, o objetivo do treinamento
é a manutenção da forma adquirida nos períodos anteriores, bem como pro-
gressivamente desenvolver ainda mais o rendimento competitivo, culminando
em um nível excelente de condicionamento do atleta, além do cumprimento
dos resultados traçados no início da temporada.
Período transição
É o período entre a competição e o início da próxima temporada ou ma-
crociclo. O objetivo desse período é a recuperação completa do atleta de-
pois dos períodos extenuantes de treinamento e competição, reduzindo-se
drasticamente os volumes e as intensidades do treinamento. No entanto, é
importante ressalvar que não se trata de um destreinamento, e sim de uma
fase de manutenção básica da forma física, principalmente por meio do
descanso ativo. Este também é o período de recuperação das possíveis lesões
decorrentes da temporada.
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Seja como for, ao entender melhor cada um dos modelos e suas caracterís-
ticas, o treinador pode optar por aquele que mais casa com suas necessidades.
O domínio das ferramentas e de suas partes constituintes de periodização a
longo prazo é fundamental para que a forma desportiva seja alcançada com
sucesso. Contudo, a mera aplicação sistemática de estímulos segundo um
modelo teórico não basta para alcançar a forma desportiva. Na verdade, é no
processo de relação entre estímulo e recuperação que essa forma se desenvolve.
O controle desse processo é o que veremos no próximo tópico.
Diante disso, para que seja alcançada uma otimização ao longo de várias
sessões de treinamento, é preciso controlar os componentes isolados em cada
uma delas, isto é, o estímulo gerado em cada sessão de treinamento, obser-
vando aspectos quantitativos (duração, volume e frequência) e qualitativos
(intensidade e densidade) desse estímulo (Figura 3) (PLATONOV, 2008;
WEINECK, 1999; FUNDAÇÃO VALE, 2013).
Leituras recomendadas
VIRU, A. Postexercise recovery period: carbohydrate and protein-metabolism. Scandi-
navian Journal of Medicine & Science in Sports, v. 6, nº. 1, p. 2–14, 1996.
VOROBJEV, A. Halterofilia: ensayo sobre fisiologia y entrenamiento deportivo. México:
Libros de México, 1974.
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