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Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Abordar a descrição da biomecânica do movimento humano, as definições de planos, eixos,
tipos de contração muscular e manifestações de força muscular;
• Estabelecer e discutir a relação entre os conceitos ligados à mecânica newtoniana (as três
leis de Newton) e as determinantes da produção de força muscular (comprimento muscular
x tensão, velocidade x força e ciclo alongamento-encurtamento).
UNIDADE Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
Por exemplo, durante uma viagem de carro em que o passageiro se encontra imóvel
dentro do automóvel, seu corpo está sendo deslocado linearmente. Entretanto, se o
passageiro mover o braço para alcançar um objeto, essa não será mais uma translação
pura, visto que o braço mudou de posição em relação ao restante do corpo que continua
se deslocando linearmente no espaço.
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O movimento linear pode ser retilíneo ou curvilíneo (é importante não confundir o
movimento linear curvilíneo com o movimento de rotação). Imagine um ciclista em uma
pista plana. Exceto pelas rodas e pelo pedal, que estarão em movimento rotacional,
tanto a bicicleta quanto o ciclista estarão em movimento linear retilíneo (assim como o
carro viajando que discutimos anteriormente). Contudo, se o ciclista utilizar uma rampa
para saltar com a bicicleta, durante o salto até a aterrissagem, esse conjunto estará em
um movimento linear curvilíneo, dada a rota que o conjunto assume durante o salto.
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UNIDADE Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
A maior parte dos movimentos dos corpos acontece devido a uma combinação entre
movimentos de translação e movimentos de rotação, sendo denominada de movimento
geral. Imagine um arremesso de basquetebol. Ao mesmo tempo que a força externa
aplicada pelo atleta que arremessou faz com que a bola descreva um movimento curvi-
líneo até a cesta, a bola também rotaciona ao redor do seu próprio eixo, resultando em
um movimento geral.
Trocando Ideias...
E, durante uma caminhada ou corrida, qual o tipo de movimento que realizamos? O des-
locamento humano talvez seja o maior exemplo da combinação de movimentos rota-
cionais e translacionais. Para haver a translação do corpo humano ao longo do espaço,
ou seja, o deslocamento linear, uma série de rotações deverá ocorrer, por exemplo, os
movimentos angulares dos segmentos ao redor de seus eixos articulares. Um passo a
frente durante uma caminhada pressupõe flexão de quadril, extensão de joelho e aplai-
namento do pé no solo (uma sequência de flexão dorsal e plantar, respectivamente).
Todos esses movimentos acontecem de maneira angular ao redor do eixo das respectivas
articulações e contribuem para o deslocamento linear do corpo como um todo.
Descrição do movimento
Para progredirmos na descrição do movimento humano, teremos que dar alguns
passos para trás a fim de brevemente revermos algumas terminologias da anatomia hu-
mana, afinal o movimento humano é descrito a partir da perspectiva dos planos e eixos
anatômicos em que ele ocorre.
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Inicialmente, vamos definir posição de descrição anatômica, uma vez que todos os
planos e eixos são, convencionalmente, orientados por esse posicionamento. Na posição
de descrição anatômica (ou posição anatômica de referência), o indivíduo deve estar em
posição ereta bípede (em pé), o olhar direcionado para o horizonte, os braços estendidos
junto ao corpo e com as palmas das mãos para frente, assim como as pernas devem
estar estendidas com as pontas dos pés direcionadas para frente (Figura 5).
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Newtoniana e Cinemática Linear
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Figura 8 – Movimentos de flexão, extensão e hiperextensão no plano sagital e eixo laterolateral
Fonte: HALL, 2016
Por fim, os movimentos que ocorrem no plano transversal e eixo longitudinal são,
principalmente, as rotações internas e externas (Figura 9). Como movimentos de seg-
mentos específicos no plano transversal e eixo longitudinal estão: supinação e pronação
do antebraço e, embora a abdução e a adução sejam movimentos no plano frontal e
eixo anteroposterior, quando o membro superior se desloca numa trajetória horizontal
de uma posição medial para lateral diz-se abdução horizontal e quando a trajetória ho-
rizontal inicia em posição lateral e finaliza em posição medial diz-se adução horizontal.
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UNIDADE Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
Contrações isométricas
Durante as contrações isométricas, a tensão produzida pelo músculo contraído não
produz força suficiente para vencer a resistência imposta ao movimento. Dessa forma,
as contrações isométricas não apresentam alteração do ângulo articular, da distância
entre origem e inserção do músculo, bem como não há movimento. Naturalmente, as
contrações isométricas são verificadas, especialmente, em condições de manutenção de
postura e estabilização de segmentos corporais.
Contrações isotônicas
Ao contrário das contrações isométricas, as contrações isotônicas apresentam altera-
ção do ângulo articular e da distância entre origem e inserção do músculo e, justamente
em função dessas condições, podem ser divididas em concêntrica e excêntrica.
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Trocando Ideias...
Vamos associar os conhecimentos de biomecânica e fisiologia. Para que haja contração
muscular, as cabeças de miosina devem interagir com os sítios ativos de actina formando
as pontes cruzadas e, a partir da utilização de energia (ATP), tracionar os filamentos de
actina para o centro do sarcômero, encurtando o ventre muscular. Essa foi uma breve
descrição da contração isotônica concêntrica em nível molecular. Durante a contração
isotônica excêntrica, as pontes cruzadas vão sendo gradativamente desfeitas (também
há custo energético) para que os filamentos de actina retornem à posição inicial. Agora,
sabe aquela dor que todos experimentamos de 24 h a 48 h depois de um treino de força
intenso, ou após um treino de saltos (pliométricos)? Uma das causas são as microlesões
induzidas pelo excesso de contrações isotônicas excêntricas presentes nesse modelo de
treino. Especialmente quando há excesso de carga durante as contrações excêntricas,
as pontes cruzadas são desfeitas mecanicamente, rompendo as pontes cruzadas e os
filamentos proteicos e favorecendo o processo inflamatório. A parte boa é que, se o des-
canso e a alimentação forem respeitados de maneira adequada, a arquitetura muscular
será fisiologicamente readequada a ponto de otimizar sua capacidade.
Contrações isocinéticas
Por último, as contrações isocinéticas são a combinação de contrações isotônicas
concêntricas e excêntricas acontecendo em velocidade angular constante, ou seja, tanto
na fase de contração quanto na fase de relaxamento, o tempo sob tensão muscular e,
consequentemente, a velocidade do movimento, são os mesmos. Essa condição é razo-
avelmente complexa de ser atingida de maneira precisa sem o auxílio de equipamentos
sofisticados como o dinamômetro isocinético.
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Newtoniana e Cinemática Linear
Introdução à Mecânica
Newtoniana (Leis de Newton)
Como abordado na primeira unidade desta disciplina, a biomecânica é o campo da
ciência que aplica os conceitos da mecânica (campo da física) aos sistemas biológicos,
neste caso, ao corpo humano. A partir dessa aplicação, é possível entender e descrever
o movimento humano.
Nesse sentido, entre os diversos nomes que cooperaram para o progresso da mecânica
moderna, destaca-se o inglês Isaac Newton. As contribuições de Newton foram tão im-
portantes para a mecânica que a unidade de medida de força leva seu nome (newton, N).
O físico inglês compreendeu e publicou seus achados sobre as relações entre a física e o
movimento, assim como elaborou três princípios básicos que explicam mecanicamente
o deslocamento dos corpos, inclusive o humano. Esses três princípios são popularmente
conhecidos como as “leis de Newton” e iremos discuti-los a seguir.
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que uma força externa o altere. Isso significa que, se um corpo está em movimento, ele
irá permanecer em movimento, exceto se uma força for aplicada a esse corpo. Da mesma
maneira, um corpo que se encontra parado irá permanecer parado até que uma força
externa altere essa condição.
Imagine uma criança chutando uma bola. Antes de o chute ser executado, a bola se
encontrava em estado de repouso, o qual foi alterado para estado de movimento a partir
do contato do pé da criança com a bola, responsável por aplicar uma força de magnitude
suficiente para alterar o estado do movimento em que a bola se encontrava. Essa é uma
descrição de uma situação bastante intuitiva para compreender o princípio da inércia,
entretanto, quando o corpo está em deslocamento, o princípio da inércia não parece tão
óbvio, uma vez que, em condições normais, haverá a resistência do ar e o atrito como
duas forças sempre presentes e responsáveis por desacelerar o movimento.
Para auxiliar o entendimento desta última condição, basta refletirmos sobre duas situ-
ações hipotéticas: após aplicação de uma força exatamente igual, em qual condição um
patinador alcançaria uma distância maior, deslizando sobre uma superfície áspera ou des-
lizando sobre o gelo? Claramente, na segunda situação, visto que o atrito proporcionado
pelo gelo contra as lâminas dos patins é comparativamente muito menor do que o atrito
de uma superfície áspera e, portanto, a força contrária imposta ao movimento e respon-
sável por causar a desaceleração do patinador também será proporcionalmente menor.
Exemplo 1: uma bola de 1 kg, após rebatida, acelera a 10 m/s2. Qual foi a força
aplicada na rebatida?
F=m×a
F = 1 kg × 10 m/s2
F = 10 N
Exemplo 2: uma bola de 2 kg, após rebatida, acelera a 10 m/s2. Qual foi a força
aplicada na rebatida?
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UNIDADE Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
F=m×a
F = 2 kg × 10 m/s2
F = 20 N
Exemplo 3: uma bola de 1 kg, após rebatida, acelera a 5 m/s2. Qual foi a força apli-
cada na rebatida?
F=m×a
F = 1 kg × 5 m/s2
F=5N
Inicialmente, imagine o músculo agindo em seu corpo como um fio, mais especifi-
camente um elástico. Um elástico é extremamente efetivo para tracionar objetos, mas
inócuo se for utilizado para empurrar algo. Da mesma maneira funciona o músculo,
visto que, a partir de sua capacidade contrátil e propriedades elásticas, ele é capaz de
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tracionar os segmentos ósseos que se articulam e formam as alavancas responsáveis
pela produção do movimento da forma como conhecemos.
Nesse sentido, a interação entre a capacidade contrátil e as propriedades elásticas do
músculo gera respostas específicas que, obviamente, influenciam o desempenho muscular
no que diz respeito à geração de força e, consequentemente, movimento. Os fatores
mecânicos que iremos discutir a seguir são: a relação comprimento muscular × tensão/
força gerada pelo músculo, a relação força muscular × velocidade de contração e o ciclo
alongamento-encurtamento muscular.
Subestirado Superestirado
Comprimento
120 ótimo
100
(percentual da máxima)
Tensão/força muscular
80
60
40
20
0
40 60 80 100 120 140 160 180 200
Comprimento em repouso do sarcômero
(percentual do ótimo)
Figura 10 – Relação entre comprimento do sarcômero e capacidade de produção de tensão/força
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UNIDADE Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
Trocando Ideias...
Você gosta de testar conceitos na prática? Realize o experimento a seguir e anote os
resultados: a tarefa será dividida em três dias. No primeiro dia, realize uma série de três
saltos verticais com 10 segundos de intervalo entre eles e anote a altura atingida em
cada um deles. Espere 30 minutos passivamente, realize a série novamente e anote os
resultados mais uma vez. No segundo dia, faça a mesma coisa, mas, ao invés de aguar-
dar passivamente entre uma série de saltos e outra, realize 30 minutos de exercícios de
moderada/alta intensidade, alongamentos dinâmicos e exercícios tradicionais de aque-
cimento. No terceiro dia, realize de novo as séries de saltos, mas, entre elas, alongue, de
maneira intensa, durante 30 minutos, os músculos do quadríceps, isquiotibiais, glúteos
e tríceps sural. Quais serão os resultados de cada um dos dias? No primeiro dia, possivel-
mente não haverá diferenças entre as séries de salto, sobretudo se você for experiente
nesse gesto motor. No segundo dia, é possível que o aquecimento auxilie os músculos a
atingirem o comprimento ótimo, e isso irá influenciar positivamente o desempenho dos
saltos. Já no terceiro dia, caso o alongamento seja exagerado, ele irá contribuir para um
superestiramento dos músculos e consequente diminuição do desempenho dos saltos.
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Por exemplo, desde muito jovens, atletas profissionais de tênis, beisebol, golfe, entre
outros esportes que se utilizam de artefatos para atingir uma bola em movimento, rea-
lizam detalhados estudos biomecânico para identificar o peso ideal desses artefatos em
relação à velocidade de movimento dos golpes realizados. Dependendo da velocidade dos
golpes, os pesos de raquetes e tacos podem ser ajustados para que a máxima potência
seja aplicada a cada rebatida.
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Carga no músculo
Ciclo alongamento-encurtamento
Quando um músculo tensionado é alongado imediatamente antes da contração con-
cêntrica, a força da contração ocorre de maneira mais intensa se comparada à condição
sem alongamento prévio. Esse fator é conhecido como ciclo alongamento-encurtamento
e diz respeito ao benefício experimentado em relação ao desempenho muscular em uma
situação na qual a contração concêntrica é precedida por um alongamento. Ainda, é im-
portante ressaltar que o tempo entre o alongamento e a contração, bem como o tempo de
manutenção do alongamento, é fator condicional para a otimização da força da contra-
ção concêntrica e deve ser o mais curto possível (GUEDES NETO et al., 2005).
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UNIDADE Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
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Vamos testar o ciclo alongamento-encurtamento na prática? Realize um salto vertical
a partir de duas técnicas distintas. Na primeira, inicie o salto da posição ereta e, o mais
rápido possível, flexione os joelhos até 90° seguido de uma contração concêntrica de
extensão de joelho em sua maior capacidade. Na segunda técnica, flexione os joelhos
até 90° e sustente essa posição entre 3 e 5 segundos. Realize a concentração concêntrica
de extensão de joelho o mais rápido possível. Qual das técnicas irá resultar em melhor
desempenho no salto vertical? Partindo do pressuposto tratado anteriormente, durante
a primeira técnica (denominada salto contra movimento), as propriedades elásticas dos
músculos serão utilizadas de modo mais eficiente, contribuindo com o desempenho do
salto, enquanto, na segunda técnica, a manutenção da flexão de joelhos irá contribuir
para dissipar a energia elástica acumulada nos músculos, consequentemente diminuindo
o desempenho do salto.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Contração muscular
https://youtu.be/-Mfo3Af5E3c
As 3 leis de Newton
https://youtu.be/B2u8FYE9fWk
Leitura
Journal of Exercise and Sport Sciences
https://bit.ly/3t8qi5I
Capacidade motora força: conceptualização e formas de manifestação
https://bit.ly/31Y0gWT
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UNIDADE Descrição do Movimento, Mecânica
Newtoniana e Cinemática Linear
Referências
GUEDES NETO, C. L. et al. A atuação do ciclo alongamento-encurtamento durante
ações musculares pliométricas. Journal of Exercise and Sport Sciences, v. 1, n. 1,
p. 13-24, 2005.
HALL, S. Biomecânica básica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. (e-book)
VILAÇA ALVES, J.; SAAVEDRA, F.; REIS, V. Capacidade motora força: conceptua-
lização e formas de manifestação. Vila Real: UTAD, 2013.
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