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ESTUDO DO

MOVIMENTO:
CINESIOLOGIA

Mariluce Ferreira Romão


Planos e eixos aplicados
ao movimento humano
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar o que são os planos e eixos anatômicos.


 Identificar os planos e eixos aplicados ao movimento humano.
 Avaliar os movimentos realizados em diferentes planos e eixos
anatômicos.

Introdução
Para facilitar e esclarecer o estudo da anatomia humana, planos e eixos
anatômicos são aplicados aos movimentos. Para isso, o corpo deve ser
delimitado por planos tangenciais e cada parte do indivíduo deve ser
imaginada como se estivesse no interior de uma caixa. Nesse contexto,
a posição anatômica de referência facilita a compreensão das análises e
avaliações das ações. Assim, cada “lado” tem uma referência topográfica
e direcional.
Neste capítulo, você vai conhecer em detalhes cada um dos planos e
eixos anatômicos. Além disso, vai identificar os planos e eixos aplicados
ao movimento humano e avaliar os movimentos realizados em diferentes
planos e eixos anatômicos.

1 Planos e eixos anatômicos


Para facilitar a compreensão dos planos e eixos anatômicos, vejamos antes
de mais nada e resumidamente a posição anatômica e os termos direcionais
anatômicos, apresentados na Figura 1. As direções anatômicas sinalizam a
posição de uma parte específica do corpo em relação a outra.
2 Planos e eixos aplicados ao movimento humano

Figura 1. Posição anatômica e direções anatômicas.


Fonte: Floyd (2016, p. 2).

Planos anatômicos de movimento


Os movimentos articulares do corpo humano devem ser analisados e caracte-
rizados conforme seus respectivos planos de ação. Os planos anatômicos de
movimento podem ser conceituados como uma base imaginária bidimensional
ao longo da qual acontece o movimento de uma parte ou segmento corporal
(Figura 2) (FLOYD, 2016).
Planos e eixos aplicados ao movimento humano 3

Figura 2. Planos de movimento e eixos de rotação: (a) plano sagital com eixo frontal;
(b) plano frontal com eixo sagital; (c) plano transverso com eixo vertical.
Fonte: Floyd (2016, p. 6).

As classificações das inúmeras ações articulares são definidas de acordo


com seus planos de movimento, ou planos cardinais. Cada plano de movimento
divide o corpo humano em duas partes. Suas denominações são as seguintes:
plano sagital, plano frontal, plano transverso e plano diagonal ou oblíquo
(FLOYD, 2016; TORTORA; DERRIKSON, 2019).
Em cada parte dividida, é identificada uma infinidade de planos paralelos
aos planos de movimento. Para que você comece a entender essa questão,
vamos iniciar examinando os movimentos que acontecem no plano sagital,
também chamado de plano sagital mediano ou mediano. As flexões da região
abdominal, por exemplo, que contam com a participação da coluna vertebral,
acontecem no plano sagital. As flexões de cotovelo e as extensões de joelho
também acontecem no plano sagital, mas podem ser classificadas especifi-
camente como acontecendo no plano parassagital, ou seja, paralelamente ao
plano sagital (FLOYD, 2016).
4 Planos e eixos aplicados ao movimento humano

Apesar dos movimentos das articulações serem classificados em relação


aos planos sagital, frontal ou transverso, nossas ações não costumam acontecer
integralmente em um único plano, e sim em uma combinação de planos. Nos
planos combinados, os movimentos acontecem no plano de ação diagonal ou
oblíquo (FLOYD, 2016, TORTORA; DERRIKSON).
O plano sagital, sagital mediano ou mediano, em sentido anteroposterior
(AP), secciona o corpo da parte anterior ou ventral para a parte posterior
ou dorsal, dividindo-o em partes laterais simétricas, direita e esquerda. Os
movimentos de flexão e extensão acontecem no plano sagital, como, a flexão
do pescoço e a extensão dos dedos (FLOYD, 2016). Quando o plano sagital
encontra-se exatamente no plano mediano e ainda assim está dividindo o corpo,
ou um segmento ou órgão, em partes laterais direita e esquerda desiguais ou
assimétricas, ele passa a ser chamado de plano paramediano ou parassagital
(TORTORA; DERRIKSON, 2019).
O plano frontal, coronal ou lateral secciona o corpo humano, em sentido
lateral, dividindo-o em partes anterior (ou ventral) e posterior (ou dorsal). Os
movimentos de abdução e adução acontecem no plano frontal, como observado
nos polichinelos, que envolvem o movimento do ombro e dos quadris, bem
como a flexão lateral da coluna vertebral e desvio radial e ulnar (FLOYD, 2016).
O plano transverso axial ou horizontal secciona o corpo humano em
partes superior (ou cefálica) e inferior (ou caudal). As rotações acontecem no
plano transverso, como a pronação e a supinação do antebraço e as rotações
da coluna vertebral (FLOYD, 2016).
O plano diagonal ou oblíquo combina mais de um plano de movimento.
Basicamente, a maior parte dos movimentos corporais que acontecem nas
práticas esportivas são executados em algum ponto paralelo e/ou perpendi-
cular aos planos sagital, frontal ou transverso, ocorrendo no plano diagonal
ou oblíquo (FLOYD, 2016).
Com a finalidade de fazer uma descrição mais específica dos movimentos
que acontecem no plano diagonal, são consideradas ações em um plano diagonal
alto ou elevado ou em um dos dois planos oblíquos inferiores ou baixos. O plano
diagonal alto ou elevado se aplica aos movimentos dos membros superiores
realizados com as mãos elevadas, em nível superior ao acima do ombro; já
os dois planos diagonais inferiores ou baixos se aplicam à diferenciação dos
movimentos dos membros superiores, realizados com a mão em nível inferior
ao ombro, e aos movimentos diagonais dos membros inferiores (FLOYD, 2016).
O ponto na intersecção dos três planos de referência é o centro de gravidade
do corpo (BEHNKE, 2014).
Planos e eixos aplicados ao movimento humano 5

Eixos de rotação
Conforme o movimento acontece em um determinado plano, a articulação
se move ou gira em torno de um eixo e estabelece uma relação perpendicular
ou de 90° com este mesmo plano. Os eixos são indicados conforme a sua
direção (Figura 2).
Veja no Quadro 1 a relação entre os planos de movimento e seus respectivos
eixos de rotação (FLOYD, 2016).

Quadro 1. Planos de movimento e seus eixos de rotação

Descrição Eixo de Descrição Movimentos


Plano do plano rotação do eixo comuns

Sagital (AP) Divide o Frontal (coro- Movimenta Flexão,


corpo em nal, lateral ou no sentido extensão
direita e mediolateral) medial/
esquerda lateral

Frontal Divide Sagital (AP) Movimenta Abdução,


(coronal ou o corpo no sentido adução
lateral) anterior e anterior/
posterior posterior

Transverso Divide o Vertical Movimenta Rotação


(axial ou corpo em (longitudinal no sentido medial, rotação
horizontal) superior e ou longo) superior/ lateral
inferior inferior

Fonte: Adaptado de Floyd (2016).

O eixo frontal, coronal, lateral ou mediolateral recebe este nome devido à


mesma direção do plano de ação frontal. Os movimentos acontecem lateral-
mente. O eixo mediolateral é identificado, por exemplo, na flexão e extensão
do cotovelo, que acontecem no plano sagital, ou na flexão do cotovelo quando
o antebraço faz um movimento giratório em torno de um eixo frontal, que
se movimenta de uma extremidade lateral à outra. O eixo frontal também é
chamado de eixo bilateral (FLOYD, 2016).
6 Planos e eixos aplicados ao movimento humano

O eixo sagital ou anteroposterior acontece no plano frontal, coronal ou


lateral, girando em torno do eixo sagital, que, por sua vez, acompanha a mesma
direção do plano de ação sagital. Trata-se de um deslocamento da parte anterior
ou ventral em sentido posterior ou dorsal, formando um ângulo de 90°, ou
perpendicular, com o plano frontal de movimento. O eixo anteroposterior é
identificado, por exemplo, com a abdução e adução dos quadris e no movimento
de polichinelo, em que o fêmur realiza movimento giratório, em torno de um
eixo que se movimenta da parte anterior para a parte posterior ao longo da
articulação do coxofemoral (FLOYD, 2016).
O eixo vertical, longitudinal ou longo é projetado do cume da cabeça,
formando um ângulo de 90°, ou perpendicular, com o plano de ação trans-
verso. No movimento do “Não”, quando a cabeça “roda” da esquerda para a
direita, tanto o crânio quanto as vértebras cervicais giram em torno de um
eixo descendente e verticalizado pela coluna vertebral (FLOYD, 2016).
O eixo diagonal ou oblíquo (Figura 3) se move em um ângulo de 90°,
ou perpendicular, com o plano diagonal. Quando a articulação glenoumeral
faz abdução diagonal para adução diagonal, como acontece nos arremessos
superiores ao nível da cabeça, seu eixo corre perpendicular em relação ao
plano, através da cabeça do úmero (FLOYD, 2016).

Figura 3. Planos diagonais e eixos de rotação: (a) movimento e eixo do membro superior
no plano diagonal elevado; (b) movimento e eixo do membro superior no plano diagonal
baixo; (c) movimento e eixo do membro inferior no plano diagonal baixo.
Fonte: Floyd (2016, p. 7).
Planos e eixos aplicados ao movimento humano 7

2 Planos e eixos aplicados ao movimento


humano

Tipos de movimentos
O movimento de translação ou linear acontece em uma linha “quase” reta
entre duas extremidades. Todo objeto se movimenta pela mesma distância,
mesma direção e mesmo tempo. O movimento direcionado em linha reta
é denominado movimento retilíneo, como é observado em um trenó que
desce com uma criança ladeira abaixo (Figura 4a) ou em um veleiro que se
movimenta na água. Caso o movimento ocorra em sentido curvo sem formar
um círculo, é denominado movimento curvilíneo. Um atleta que se desloca
em direção à água partindo de uma prancha de mergulho, por exemplo, faz um
movimento curvilíneo, como o sentido curvilíneo de um esquiador que desce
em uma pista própria para o esqui (Figura 4b). Outras formas de movimento
curvilíneo são observadas em uma bola ou dardo projetado ou lançado, ou na
órbita da Terra em torno do Sol (LIPPERT, 2018).

Figura 4. Tipos de movimentos: (a) movimento retilíneo); (b) movimento curvi-


líneo); (c) movimento angular; (d) combinação de movimentos linear e angular.
Fonte: Lippert (2018, p. 6).
8 Planos e eixos aplicados ao movimento humano

Um objeto que se movimenta a partir de um eixo ou ponto fixo está fazendo


um movimento angular, ou rotatório (Figura 4c). As articulações no corpo
humano atuam como eixos e em torno delas acontece o movimento angular.
Nesse tipo de movimento, o objeto todo se move por um ângulo comum, no
mesmo sentido e no mesmo tempo, mas em distâncias diferentes. Ao fazermos
uma flexão de joelho, por exemplo, a articulação do joelho representa o eixo
de rotação; o pé se movimenta mais no espaço quando comparado com o
tornozelo ou com a perna (LIPPERT, 2018).
Em geral, a maior parte dos movimentos que acontecem no corpo humano
é angular, enquanto os movimentos em sentido externo ao corpo tendem
a ser lineares. É bastante comum observar as duas formas de movimento,
angular e linear, acontecendo simultaneamente, ou seja, quando um objeto
considerado “no todo” se move de forma linear e as suas partes se movem de
forma angular. A Figura 4d demonstra todo o corpo de um skatista se movi-
mentando de forma linear, enquanto suas articulações nos membros inferiores
se movimentam individualmente, de maneira que os quadris, o joelho e o
tornozelo se movimentam em torno de seus próprios eixos, indicando uma
forma angular de movimento. Outra forma de movimentos combinados é a
marcha ou caminhada. Na caminhada, o corpo inteiro faz movimentos lineares,
exceto os quadris, joelhos e tornozelos, que realizam movimentos angulares.
Um indivíduo que arremessa uma bola faz movimentos angulares no membro
superior, e a bola faz um percurso curvilíneo. Entretanto, é importante destacar
que a escápula faz elevação/abaixamento e protrusão/retração como forma
linear de movimento. Já a clavícula, articulada com a escápula, faz movimento
angular, a partir da articulação esternoclavicular (LIPPERT, 2018).

Movimentos articulares
As articulações possuem diversas possibilidades de movimentos. As ações
acontecem em torno dos eixos articulares, e, portanto, atravessam seus planos.
Flexão/extensão, abdução/adução e rotação são terminologias utilizadas para
descrever os diversos movimentos que podem acontecer nas articulações
classificadas como sinoviais. Quando a avaliação correlaciona os ossos lo-
calizados em torno de um eixo articular, a forma de movimento articular é
denominada osteocinemática. Um exemplo de osteocinemática é o úmero
se movimentando em relação à escápula. A correlação dos movimentos da
superfície articular, como rotação, deslizamento e rolamento, são incluídos
nas formas de movimento artrocinemático. Aqui, daremos enfoque à osteoci-
nemática, correlacionada aos planos e eixos de movimento (LIPPERT, 2018).
Planos e eixos aplicados ao movimento humano 9

Movimentos que acontecem no plano sagital


Considerando a posição anatômica, são identificadas as seguintes formas de
movimentos que acontecem no plano sagital, sagital mediano ou mediano:
flexão, extensão e hiperextensão (Figura 5a, 5b e 5c).

Figura 5. Movimentos articulares: (a) flexão; (b) extensão; (c)(hiperextensão;


(d) abdução; (e) adução; (f) desvio radial; (g) desvio ulnar; (h) elevação; (i) depressão;
(j) inclinação ou flexão lateral; (k) rotação lateral; (l) rotação medial; (m) supinação;
(n) pronação; (o) inversão; (p) eversão; (q) abdução horizontal; (r) adução horizontal;
(s) protração; (t) retracão; (u) circundução.
Fonte: Lippert (2018, p. 6) e Tortora e Derrikson (2019, p. 271).
10 Planos e eixos aplicados ao movimento humano

 O movimento de flexão (Figura 5a) indica que um osso se curva em


relação ao outro, permitindo que as duas superfícies que articulam
se aproximem enquanto o ângulo articular diminui. Em geral, isso
acontece devido à aproximação das superfícies articulares anteriores
de ossos adjacentes. Na região cervical, por exemplo, a flexão é o
movimento referente à inclinação anterior, de maneira que a cabeça
se movimenta ventralmente, em sentido anterior em relação ao tórax.
No cotovelo, a flexão indica a aproximação das superfícies anteriores
do braço e antebraço; no quadril, a flexão indica que a coxa se move
anteriormente, em sentido anterior ao tronco. Nesse contexto, o joelho
é considerado uma exceção, porque a flexão acontece no momento em
que são aproximadas as superfícies posteriores tanto da coxa quanto
da perna. A flexão no punho pode ser chamada de flexão palmar e a
flexão no tornozelo pode ser chamada de flexão plantar.
 O movimento de extensão (Figura 5b) indica que um osso se afasta
em relação a outro, aumentando o ângulo articular. Em geral, nesse
movimento ocorre um retorno à posição anatômica após uma flexão. Em
extensão, as faces anteriores das superfícies que se articulam têm uma
tendência a se afastarem entre si. Uma extensão acontece, por exemplo,
quando a cabeça se movimento em sentido superior se afastando da
face anterior do tórax, bem como quando, anteriormente, a coxa se
afasta do tronco e volta para a posição anatômica de referência inicial.
 O movimento de hiperextensão (Figura 5c) indica que ocorre uma
extensão que vai além da posição anatômica. Articulações do ombro,
quadril, punho, pescoço e tronco podem ser hiperestendidas.

Movimentos que acontecem no plano frontal


Considerando a posição anatômica, são identificadas as seguintes formas de
movimentos que acontecem no plano frontal, coronal ou lateral:

 O movimento de abdução (Figura 5d) indica que um segmento ou parte


do corpo se afasta da linha mediana do corpo, como, por exemplo, o
membro superior que se desloca em direção lateral. Nesse movimento,
um segmento ou parte do corpo se aproxima da linha mediana do corpo.
O ombro e o quadril fazem movimentos de adução, mas diferem na
amplitude maior e menor, respectivamente. Na mão, a linha mediana é
considerada o dedo médio, ou dedo III, e no pé, a linha mediana refe-
Planos e eixos aplicados ao movimento humano 11

rencia o dedo II. Tanto no pé quanto na mão, considera-se uma adução


quando ocorre um retorno da abdução. Os movimentos de desvio radial
e desvio ulnar se aplicam à abdução e adução do punho. O movimento
lateral da mão iniciando pela posição anatômica direcionado ao polegar
é conhecido como desvio radial (Figura 5f). Em contrapartida, quando a
mão se movimenta em sentido medial iniciando pela posição anatômica,
ou seja, em direção ao dedo V, cumpre o movimento conhecido como
desvio ulnar (Figura 5g).
 O movimento de elevação (Figura 5h) indica o deslocamento superior
da cintura ou cíngulo do membro superior, enquanto o movimento de
depressão (Figura 5i) indica o deslocamento inferior da cintura ou
cíngulo do membro superior.
 O movimento de inclinação ou flexão lateral (Figura 5j) se aplica
ao movimento lateral do tronco, tanto para a direita quanto para a
esquerda. Se a inclinação do tronco for para a direita, o ombro também
se desloca em direção ao quadril direito; portanto, essa ação é chamada
de inclinação lateral direita.

Movimentos que acontecem no plano transverso


Considerando a posição anatômica, são identificadas as seguintes formas de
movimentos, que acontecem no plano transverso, axial ou horizontal:

 O movimento de rotação medial ou interna (Figura 5k) indica que


um osso gira em direção à linha mediana referencial do corpo. Já o
movimento de rotação lateral ou externa (Figura 5l) indica que um osso
gira se afastando da linha mediana referencial do corpo. As articulações
do ombro e do quadril fazem tanto rotação medial quanto lateral, assim
como o pescoço e o tronco. Quando o pescoço gira em sentido superior,
ou seja, quando o olhar é voltado superiormente em relação ao ombro
direito, isso sinaliza uma rotação cervical direita.
 O movimento de supinação e pronação se aplicam ao antebraço. Con-
siderando a posição anatômica, a superfície palmar voltada anterior-
mente indica uma supinação (Figura 5m). Na pronação (Figura 5m),
a superfície palmar encontra-se voltada posteriormente. Observando
o cotovelo em flexão, por exemplo, no momento em que a superfície
palmar está voltada superiormente, a mão está supinada, e quando a
superfície palmar está voltada inferiormente, a mão está pronada.
12 Planos e eixos aplicados ao movimento humano

 O movimento de inversão (Figura 5o) indica o desvio medial da superfície


plantar, enquanto o movimento de eversão (Figura 5p) indica o desvio lateral.
 O movimento de abdução horizontal (Figura 5q) e adução horizontal
(Figura 5r) não acontecem na posição anatômica de referência. Trata-se
de movimentos precedidos por flexão ou abdução do ombro, com o
braço posicionado no mesmo nível. Partindo da última posição descrita,
quando o ombro se move em sentido posterior, ele perfaz uma abdução
horizontal. Já quando o ombro se move em sentido anterior, ele cumpre
uma adução horizontal. Movimentos similares acontecem no quadril,
mas com amplitude menor de movimento.
 O movimento de protração ou protrusão (Figura 5s) representa um
movimento linear que acontece no plano paralelo ao solo e em sentido
anterior, enquanto o movimento de retração ou retrusão (Figura 5t)
indica um movimento linear no mesmo plano, mas em direção contrária,
ou seja, posterior. A protração observada na cintura ou cíngulo do mem-
bro superior indica o movimento da escápula em sentido anterior, como
na protrusão da mandíbula. A retração nas duas situações anteriores
sinaliza o retorno posterior, ou seja, à posição anatômica referencial.

Flexão/extensão, abdução/adução e rotação são termos que costumam ser usados


para descrever os movimentos osteocinéticos que ocorrem nas articulações sinoviais.
Inversão/eversão e protração/retração são termos específicos que se aplicam apenas
a articulações sinoviais específicas (LIPPERT, 2018).

Movimentos que acontecem em múltiplos planos


O movimento de circundução (Figura 5u) é circular e forma uma espécie de
“cone” imaginário. Trata-se de um movimento que combina flexão, abdução,
extensão e adução. Na circunducão do ombro, é realizado um círculo, de
maneira que a mão faz um círculo ainda maior. O membro superior, consi-
derado na íntegra, se movimenta em um padrão sequente, em forma cônica,
transitando de flexão para abdução, extensão e adução, e reposicionando o
braço de acordo com a posição de início.
Planos e eixos aplicados ao movimento humano 13

3 Avaliação dos movimentos em diferentes


planos e eixos
As análises e avaliações dos movimentos corporais são realizadas com base
em coordenadas tridimensionais (Figura 6), que são alinhadas anatomicamente
de acordo com os eixos mediolateral (plano sagital), anterioposterior (plano
frontal) e superioinferior ou longitudinal (plano transverso). Ocasionalmente,
é feita a opção pela análise bidimensional ou planar, considerando somente,
dois dos três eixos citados, tendo em vista a complexidade de recursos para
as observações tridimensionais (OATIS, 2014).

Figura 6. Os três eixos e planos cardinais do corpo, vistos


na posição anatômica.
Fonte: Houglum e Bertoti (2014, p. 6).

Uma descrição do movimento humano demonstra as características tanto de


posição quanto do próprio movimento da parte do corpo, que inclui elementos
14 Planos e eixos aplicados ao movimento humano

articulares e as suas relações espaciais e topográficas. A descrição pode fazer


referência a um único segmento ou a vários segmentos reunidos, conforme a
Figura 7, que demonstra várias posições articulares e segmentares do corpo
humano possíveis de serem assumidas em atividades funcionais, como: a flexão
do ombro, cotovelo, quadril e joelho, observado no plano sagital (Figura 7a);
movimentos de abdução do ombro e quadril que acontecem no plano frontal;
e movimentos de rotação do tronco, quadril e joelho que acontecem no plano
transverso.

Figura 7. Exemplos de posições articulares e de segmentos do corpo humano em


atividades funcionais: (a) movimentos realizados no plano sagital; (b) movimentos
realizados no plano frontal; (c) movimentos realizados no plano transverso.
Fonte: Houglum e Bertoti (2014, p. 5).

Avaliação da marcha nos diferentes planos de


movimento
A marcha é a forma pela qual os mamíferos terrestres se deslocam ou se loco-
movem de lugar para o outro, incluindo todas as possibilidades de movimento.
No ser humano, o ciclo da marcha apresenta a seguinte sequência, conforme
a Figura 8a (HOUGLUM; BERTOTI, 2014).
Planos e eixos aplicados ao movimento humano 15

Figura 8. Análise da marcha humana em diferentes planos: (a) ciclo da marcha; (b) plano
sagital; (c) plano frontal; (d) plano transverso.
Fonte: Houglum e Bertoti (2014, p. 549-550).
16 Planos e eixos aplicados ao movimento humano

 Fase de apoio: 1 — contato inicial; 2 — resposta à carga; 3 — apoio


médio; 4 — apoio final; 5 — pré-balanço.
 Fase de balanço: 1 — balanço inicial; 2 — balanço médio; 3 — balanço
final.

No plano sagital e frontal (Figura 8b e 8c), são observados movimentos


angulares de flexão e extensão acontecendo no ombro, cotovelo, quadril,
joelho e tornozelo.
No plano transverso, são identificadas rotações em torno dos eixos ver-
ticais, nas vértebras, região pélvica, quadril, joelhos, tornozelo, e nos pés.
Trata-se de movimentos, em geral, considerados “leves” e observados tanto
no tronco quanto nos membros. No plano transverso, os movimentos são
recíprocos dos ombros e pelve, de acordo com o membro superior direito e
o membro inferior esquerdo, opostos, que balançam anteriormente (Figura
8d). Tanto os ombros quanto as vértebras superiores fazem rotação em sentido
anti-horário à medida que a perna esquerda balança anteriormente. A partir
de então, revertem para o sentido horário conforme a perna direita faz o
balanceio para a frente. Trata-se de uma rotação que, complementarmente,
acelera a velocidade da marcha, estando o local de rotação mínima próximo
à sétima vértebra torácica (SMIDT, 1971).

BEHNKE, R. S. Anatomia do movimento. 3. ed. São Paulo: Artmed, 2014.


FLOYD, R. T. Manual de cinesiologia estrutural. 19. ed. Barueri: Manole, 2016.
HOUGLUM, P. A.; BERTOTI, D. B. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 6. ed. Barueri: Manole,
2014.
LIPPERT, L. S. Cinesiologia clínica e anatomia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2018.
OATIS, C. A. Cinesiologia: a mecânica e a patomecânica do movimento humano. 2. ed.
Barueri: Manole, 2014.
SMIDT, G. L. Hip motion and related factors in walking. Physical Therapy, v. 51, n. 1, p.
9–22, 1971.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2019.
Planos e eixos aplicados ao movimento humano 17

Leituras recomendadas
ACKLAND, T. R.; ELLIOTT, B. C.; BLOOMFIELD, J. (ed.). Anatomia e biomecânica aplicadas
no esporte. 2. ed. Barueri: Manole, 2011.
LAROSA, P. R. R. Anatomia humana: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
MOORE, K. L.; DALLEY, F.; AGUR, M. R. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

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