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Se sua escola tem laboratório de Ciências bem montado, ótimo!

Mas a falta de microscópio


não vai impedir você de tratar desse conteúdo. "Nas primeiras séries, o professor pode
ensinar regras de higiene, contar histórias que tenham germes como personagens ou passar
vídeos ", sugere Gláucia Colli Inglez, do Museu de Microbiologia do Instituto Butantan, em
São Paulo. Para os mais velhos, ela indica experiências com materiais alternativos, como as
cinco sugeridas nesta reportagem.

localizar no tempo as descobertas dessa área ajuda os jovens a entender como as questões
sociais motivaram os cientistas. O médico alemão Robert Koch (1843-1910), por exemplo,
ganhou um microscópio quando uma doença provocada por bactérias estava matando
pessoas e animais no Leste Europeu. Ao examinar sangue de carneiros, ele descobriu
bastonetes que não existiam no sistema circulatório de seres saudáveis. Seus estudos
levaram a postulados que fundamentaram a microbiologia e, mais tarde, à descoberta do
bacilo causador da tuberculose.

É interessante ainda contar à garotada que os micróbios foram os primeiros seres vivos a
habitar nosso planeta. Apesar da antigüidade, só foi possível confirmar a existência desse
pequeno ser em meados do século 17, quando o holandês Antony van Leeuwenhoek
começou a divertir-se derretendo vidro para fazer lentes. Ele produziu mais de 400 e usou-
as para descrever bactérias, algas e protozoários. Daí à invenção do microscópio foi um
passo, o que trouxe avanços na microbiologia e na medicina.

Com a constatação de que microorganismos existiam e afetavam os seres humanos,


percebeu-se a necessidade de adotar medidas de higiene e políticas públicas de saúde que, a
longo prazo, duplicariam nossa expectativa de vida. Hoje ainda morrem cerca de 20
milhões de pessoas por ano vítimas de infecções. Mas a vacinação em massa já erradicou
doenças como a varíola e diminuiu o número de casos de tuberculose, raiva e outros males.

Para conhecer melhor os microorganismos

Os alunos vão entender que também existem microorganismos que ajudam no equilíbrio do
meio ambiente e de nosso corpo

TIPO DE
CARACTERÍSTICA ALGUNS DO BEM ALGUNS DO MAL
MICROORGANISMO
Microorganismos sem célula, considerados Não existe. Influenza (gripe); Herpes zoster
parasitas intracelulares, pois só têm ação no (catapora); Rhinovirus (resfriado);
VÍRUS interior de outras células. Ébola (febre hemorrágica); HIV
(Aids); Flavivirus sp.(Dengue);
Morbilliviirus (sarampo).
Organismos unicelulares, sem núcleo Rhizobium (ajudam na fixação Mycobacterium tuberculosis
definido e geralmente com apenas uma de nitrogênio em raízes de (tuberculose); Corynebacterium
molécula de DNA. Podem ser esféricas plantas leguminosas); diphtheriae (difteria); Salmonella
BACTÉRIAS
(cocos), em forma de bastão (bacilos), Lactobacillus e alguns tipos de typhi (febre tifóide); Streptococcus
espiral (espiroqueta e espirilo) e vírgula Streptococcus (produção de pneumoniae (pneumonia); Vibrio
(vibrião). queijo, iogurte e requeijão). cholerae (cólera).
Constituídos de hifas (filamentos) Agaricus campestris (cogumelo Trichophyton sp (micose ou pé-de-
multicelulares nucleadas com exceção das comestível); Saccharomyces atleta);candida albicans
leveduras, que são unicelulares. cerevisae (fabricação de pão e de (candidíase); Aspergillus sp
FUNGOS
bebidas alcoólicas); Penicillium (aspergilose).
sp (produção de antibióticos e de
queijos).
PROTOZOÁRIOS Seres unicelulares nucleados com estruturas Triconympha sp (vivem nos Entamoeba histolytica (disenteria
locomotoras, com exceção dos cupins, auxiliando na digestão). amebiana); Trypanosoma cruzi
esporozoários. (doença de Chagas); Plasmodium sp
(malária); Giardia lamblia
(giardíase).
Vivem no mar, em lagos, rios. Elas fazem Planctônicas (realizam 90% da Dinoflagelados (algas vermelhas
fotossíntese e com isso transformam luz fotossíntese do planeta); causadoras da maré vermelha
ALGAS
solar em energia. diatomáceas (com carapaças de quando proliferam excessivamente).
UNICELULARES
sílica, constituem rochas usadas
como abrasivos).

Cinco experiências que não precisam de microscópio

Marcos Engelstein, professor de Ciências do Colégio Santa Cruz, em São Paulo,


desenvolve em laboratório, com seus alunos de 7ª série, as experiências 1, 2, 4 e 5. Já a
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Loteamento Gaivotas 3, também na
capital paulista, não tem laboratório. Em suas aulas, o professor Fábio Pereira usa materiais
alternativos e desenvolve atividades lúdicas, como a de número 3.

1. Cultivando bactérias
Objetivo
Mostrar a existência de micróbios e como eles contaminam o meio de cultura.

Material (para o meio de cultura)

1 pacote de gelatina incolor

1 xícara de caldo de carne

1 copo de água

Dissolver a gelatina incolor na água, conforme instruções do pacote. Misturar ao caldo de


carne

Material (para a experiência)

Duas placas de petri (ou duas tampas de margarina ou dois potinhos rasos), com o meio de
cultura cobrindo o fundo

Cotonetes

Filme plástico

Etiquetas adesivas

Caneta

Procedimento
Os alunos passam o cotonete no chão ou entre os dentes, ou ainda entre os dedos dos pés
(de preferência depois de eles ficarem por um bom tempo fechados dentro dos tênis!). Há
ainda outras opções, como usar um dedo sujo ou uma nota de 1 real. O cotonete é esfregado
levemente sobre o meio de cultura para contaminá-lo. Tampe as placas de petri ou envolva
as tampas de margarina com filme plástico. Marque nas etiquetas adesivas que tipo de
contaminação foi feita. Depois de três dias, observe as alterações.

Explicação
Ao encontrar um ambiente capaz de fornecer nutrientes e condições para o
desenvolvimento, os microorganismos se instalam e aparecem.

Esse ambiente pode ser alimentos mal-embalados ou guardados em local inadequado. O


mesmo acontece com o nosso organismo: sem as medidas básicas de higiene, ele torna-se
um excelente anfitrião para bactérias e fungos.

2. Testando produtos de limpeza


Daniel Aratangy

Objetivo
Provar a eficácia de desinfetantes e outros produtos que prometem acabar com os
microorganismos.

Material

Bactérias criadas na experiência no 1, Cultivando Bactérias (com sujeira do chão ou com a


placa bacteriana dentária)

1 placa de petri limpa (ou tampa de margarina), com meio de cultura

1 pedaço de filtro de papel

1 pinça

1 tubo de ensaio

1 copo de desinfetante, água sanitária ou anti-séptico bucal


1 estufa (é possível improvisar uma com caixa de papelão e lâmpada de 40 ou 60 watts,
como a da foto acima) Água

Procedimento
Raspe um pouco das bactérias que estão nas placas já contaminadas, dilua-as em algumas
gotas de água (use um tubo de ensaio) e espalhe a mistura de água com bactérias na placa
de petri com meio de cultura. Com a pinça, molhe o filtro de papel no desinfetante (se usar
as bactérias criadas com a sujeira do chão, do dedo ou da nota de papel) ou no anti-séptico
bucal (se usar as originadas da placa bacteriana dentária). Coloque o filtro no meio da placa
contaminada por bactérias e guarde-a na estufa. Aguarde alguns dias. Quanto melhor o
produto, maior será a auréola transparente que aparecerá em volta do papel; se for ruim,
nada acontecerá.

Explicação
Para ser eficientes, os produtos devem impedir o crescimento dos microorganismos. Os
bons desinfetantes usam compostos com cloro ou outros produtos químicos tóxicos para
alguns micróbios.

Daniel Aratangy

Auréola transparente: quanto mais eficiente o produto, maior ela será pega-pega
contra os germes

3. Pega-pega contra os germes


Objetivo
Analisar o funcionamento do sistema imunológico, como o corpo se cura e como as
doenças ocorrem.

Daniel Aratangy
Fábio e alunos da Escola Loteamento Gaivotas 3: como o corpo se defende estragando
o mingau

Material (para 30 alunos)

10 cartões retangulares brancos representando os anticorpos

15 cartões retangulares coloridos representando os antígenos (microorganismos invasores)

5 cartões coloridos com formatos diferentes dos anteriores

Observação
Você pode trabalhar com doenças causadas por vírus e/ou bactérias. Veja, no quadro da
página anterior, sugestões de doenças a ser trabalhadas.

Procedimento
Distribua os cartões entre os alunos. Os que estão com cartões brancos procuram os colegas
que estão com cartões coloridos. Cada aluno dono de cartão branco pode encontrar somente
um aluno de cartão colorido. Depois que os pares são formados, pare a brincadeira e
converse com os alunos sobre a simulação do sistema imunológico que acabaram de fazer.

Explicação
Os cartões brancos representam os anticorpos, que têm a função de combater os diversos
antígenos, causadores de doenças. Para cada antígeno existe um anticorpo. Quando o aluno
com cartão branco encontra o colega com cartão colorido do mesmo formato, representa a
vitória do corpo sobre o germe.

Mas, quando o par é formado por cartões com formatos diferentes, está representado que o
organismo não conseguiu produzir o anticorpo necessário ou não produziu em quantidade
suficiente para combater aquela doença.

4. Estragando o mingau
Objetivo
Perceber a necessidade de guardar bem os alimentos para que eles não se contaminem.
Material

5 copinhos de café numerados

1 saco plástico ou filme plástico

2 colheres de amido de milho ou outro tipo de farinha

1 colher de óleo

1 colher de sopa

1 panela pequena

1 copo de vidro

1 colher de vinagre

água

Procedimento

Prepare o mingau com o amido de milho e um copo de água. Misture bem e leve ao fogo
até engrossar. Coloque o mingau ainda quente até a metade dos copinhos. Deixe o copo 1
aberto, em cima da pia do laboratório. Cubra o 2 com o filme plástico, vede-o, e deixe-o
também sobre a pia. O 3 é completado com óleo e o 4, com vinagre.

O 5 é colocado na geladeira, sem cobertura. Observe com a turma em qual mingau


apareceram as primeiras alterações. Depois de uma semana, peça a todos para descrever a
aparência de cada copo e fazer desenhos coloridos, seguindo o que viram nos copinhos.

Explicação
A temperatura alta, usada no cozimento do mingau, matou os microorganismos. Já o calor
que ultrapassa os 30 graus Celsius deixa o ambiente propício para a proliferação de
micróbios, que se depositam no mingau deixado ao ar livre.

Observe o que acontece com cada copo de mingau.

Daniel Aratangy

1. É o que apresenta mais alteração, pois ficou na temperatura ambiente e sem proteção,
exposto aos microorganismos. 2. Está menos estragado que o primeiro, porque o filme
plástico impede que os micróbios se depositem sobre ele. 3. O óleo funciona como
cobertura ou embalagem, impedindo qualquer contato com o ar e, por conseqüência, com
os micróbios. 4. A acidez do vinagre impede o aparecimento de microorganismos (é o
princípio de preparação de algumas conservas). 5. As baixas temperaturas são as que mais
retardam o aparecimento de fungos, por isso a geladeira é o melhor lugar para conservar
alimentos.

Para ir além

Peça pesquisas sobre técnicas antigas de conservação de alimentos como a salga e a


defumação de carnes e as modernas, como a pasteurização, a esterilização, o congelamento,
a desidratação e a radiação.

5. Mãos limpas?
Objetivo
Mostrar que mãos aparentemente limpas podem conter microorganismos.

Daniel Aratangy

O azul vira amarelo: ação dos fungos

Material

1 colher de fermento biológico diluído em um copo de água

Água com açúcar em uma tigela

1 tubo de ensaio

1 funil

1 rolha para fechar o tubo de ensaio

1 chumaço de algodão

Algumas gotas de azul de bromotimol


Procedimento
Peça para a turma lavar bem as mãos. Divida a classe em grupos de cinco. Um aluno joga o
fermento biológico na mão direita e cumprimenta um colega com um aperto de mão. Esse
cumprimenta outro e assim por diante.

O último lava as mãos na tigela com água e açúcar.

Com o funil, coloque um pouco dessa água no tubo de ensaio. Molhe o algodão no azul de
bromotimol e coloque-o na boca do tubo de ensaio, sem encostar no líquido. Feche-o com a
rolha e espere alguns dias.

Explicação
Dentro do tubo de ensaio, a água com açúcar fornece o alimento necessário para os
microorganismos no caso, fungos se desenvolverem. Os fungos respiram e soltam gás
carbônico, o que torna o ambiente do tubo ácido. Com isso, o azul de bromotimol, sensível
à alteração de pH, muda sua cor para amarelo. Ressalte que medidas de higiene pessoal,
feitas com regularidade, evitam uma série de doenças.

Quer saber mais?


Colégio Santa Cruz, Av. Arruda Botelho, 255, 05466-000, São Paulo, SP, tel. (011)
3024-5199

Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Loteamento Gaivotas 3, R. São


Paulo, 53, 04849-308, São Paulo, SP, tel. (11) 5933-4973

Museu de Microbiologia do Instituto Butantan, Av. Vital Brazil, 1500, 05503-001, São
Paulo, SP, tel. (11) 3726-7222

Bibliografia
Aventuras da Microbiologia, Isaias Raw e Oswaldo Augusto Sant'Anna, 170 págs., Ed.
Hacker, tel. (11) 3733-7912, 25 reais

Epidemias no Brasil Uma Abordagem Biológica e Social, Rodolpho Telarolli Júnior, 120
págs., Ed. Moderna, tel. (11) 6090-1500, 26 reais

Pequenos Seres Vivos, Gilberto Martho, 48 págs., Ed. Ática, tel. (11) 3990-1777, 18,50
reais

Filmografia
Série Nosso Corpo: Os Germes e o que Causam e Como o Corpo Cura a si Mesmo,
Didak Tecnologia Educacional, 22 min., tel. 0800-175233, didak@didak.com.br, 70 reais
(VCD ou VHS)
Micróbios parceiros da saúde
Conheça os benefícios trazidos por bactérias que
vivem em nossa pele, boca e intestino!

A gente pode até não saber o que é um micróbio, mas de


tanto a nossa mãe falar mal dele, imaginamos que coisa
boa ele não deve ser. Afinal, para nos convencer a lavar
as mãos e tomar banho, você sabe, ela sempre tem na
ponta da língua o alerta: "olha o micróbio!". Tiro e queda,
ele faz logo a gente correr para o banheiro, embora não
tenhamos visto nem a sombra do micróbio, o que é
natural.

Esses seres são tão pequenos que só podem ser vistos no


microscópio. Mas nem todos eles fazem mal à nossa
saúde. Alguns, que vivem na nossa pele, boca e no nosso
intestino, nos trazem até benefícios! Em sua maioria, eles
são bactérias -- há trilhões delas no nosso corpo! Essa
quantidade é tão grande que, se colocadas na balança,
elas pesariam juntas um quilo e duzentos gramas! Vamos
conhecer esses pequenos seres da pesada?!

Muita gente pensa que toda bactéria causa alguma doença, mas isso não é verdade, como comprovam as
bactérias que vivem normalmente no nosso corpo. Elas trazem apenas vantagens para nós. A começar por
nos proteger de micróbios que representam uma ameaça à nossa saúde.

Os micróbios estão por toda a parte. Tanto os que provocam doenças quanto os inofensivos. Por conta disso,
nós sempre entramos em contato com eles, daí a importância de lavar as mãos, tomar banho, limpar bem o
chão... Com a higiene, reduzimos o número de micróbios e, assim, as chances de topar com algum que
provoque doença.

No entanto, é impossível eliminar todos os micróbios. Então, eles acabam entrando no nosso corpo junto com
o ar que respiramos, com alimentos e bebidas que ingerimos. Mas não pense que basta eles invadirem o
nosso organismo para causar doenças. Na maioria das vezes, isso não ocorre porque eles encontram
justamente as bactérias que vivem no nosso corpo!

As bactérias impedem que os micróbios que provocam doenças se abriguem na nossa pele ou em outra parte
do corpo. E fazem isso de duas formas: produzindo
substâncias que não permitem que os micróbios se
alojem no nosso organismo ou competindo com eles
por alimento ou por uma 'vaga' em algum canto do
nosso corpo. Mas esse é só o primeiro dos três
benefícios que elas nos oferecem...

Há um exército dentro de nós. Sim, senhor! Um


exército formado por células especiais, que tem a
função de defender o nosso organismo de micróbios
que entrem nele. Chamado de sistema imunológico,
ele combate a maior parte dos micróbios que causam
doenças, às vezes com sucesso, outras vezes, não.

Esse exército está sempre alerta, pronto para agir.


Basta algum micróbio invadir o nosso corpo para ele
entrar em ação. Fazendo isso, ele evita que fiquemos
doentes com facilidade. Mas não é um general quem mantém esse exército de defesa -- o sistema
imunológico -- de prontidão. São as bactérias que vivem no nosso corpo.

Quer saber como elas fazem isso? Então, acompanhe: essas bactérias são muito parecidas na sua forma
com as que provocam doenças, mas, ao contrário delas, não possuem armas para agredir e invadir o nosso
corpo e têm somente armas para nos proteger. As bactérias que vivem dentro de nós estão o tempo todo em
contato com as células de defesa, mostrando para elas como pode ser uma bactéria que deve ser temida e
eliminada. Dessa forma, quando uma célula de defesa encontra um micróbio que causa doença, ela já está
avisada da possível forma do inimigo e pronta para reagir e eliminá-lo.

Inimigos das bactérias

Se não houvesse bactérias dentro do nosso corpo, o sistema imunológico -- nosso exército de defesa --
levaria muito mais tempo para nos defender. Afinal, demoraria mais para reconhecer como é perigoso o
micróbio que invadiu o nosso corpo. Com a presença das bactérias, ele é estimulado e está sempre alerta!

Além de manter o sistema imunológico de prontidão, as bactérias que vivem no nosso organismo ainda nos
auxiliam de outra maneira: elas produzem vitaminas e ajudam na absorção de alguns alimentos que não
seríamos capazes de utilizar para nossa nutrição sem a contribuição delas.

Mas essas bactérias, que nos trazem vantagens, podem ser perturbadas por várias razões e não funcionar
bem. Os antibióticos, por exemplo, são importantes para combater doenças, mas também matam as bactérias
que nos são favoráveis, podendo diminuir os benefícios trazidos por elas. Então, devem ser usados com
cuidado e do jeito que o médico indica.

Uma mudança radical na alimentação também pode afetar as bactérias que vivem dentro de nós. Prova disso
está na dor de barriga que muita gente tem quando viaja para algum lugar onde a comida é bastante
diferente. Acreditam os cientistas que isso ocorre porque as bactérias que convivem conosco precisam de um
tempo para se acostumar à nova comida e, nesse período, não conseguem oferecer a sua proteção.

Por fim, situações de tensão e nervosismo, o chamado estresse, também podem perturbar as bactérias do
nosso corpo. Quando ficamos assim, tensos, preocupados, podemos ter problemas intestinais. Quem nunca
teve uma dor de barriga às vésperas de uma prova, por exemplo? É curioso notar que o estresse também
causa problemas intestinais nos animais. Afinal, assim como nós, eles têm o organismo repleto de bactérias,
embora elas sejam diferentes das nossas.

Quando o conjunto de bactérias que há no nosso corpo não funciona bem, é possível compensar suas falhas
ingerindo alimentos que contenham bactérias vivas, semelhante às que temos normalmente. Essas bactérias
são chamadas de probióticos e estão em iogurtes ou leites fermentados vendidos em supermercados e em
produtos encontrados em farmácias. Pesquisas mostram que vários probióticos são capazes de compensar o
mau funcionamento das bactérias que vivem no nosso corpo.

No entanto, o melhor é sempre ter as bactérias que convivem conosco em plena forma. Afinal, como vimos,
elas são importantes para a nossa saúde, assim como as que vivem nos bichos e nas plantas são primordiais
para esses seres. As bactérias se adaptaram ao corpo de vários animais há muito tempo -- inclusive ao do
homem -- e, por isso, a convivência entre nós e elas, hoje, é pacífica e traz vantagens para ambos.

Então, é preciso ter consciência de que existem bactérias que devem ser eliminadas e aquelas cuja presença
no nosso corpo deve ser preservada para que possamos aproveitar os seus benefícios.

Ciência Hoje das Crianças 141, novembro 2003


Jacques Robert Nicoli,
Departamento de Microbiologia,
Leda Quercia Vieira,
Departamento de Bioquímica-Imunologia,
Universidade Federal de Minas Gerais.

Prato do dia: algas!


Além de serem um delicioso alimento, elas estão em produtos usados diariamente!

Dadá é um garoto esperto.


Como qualquer menino de
seis anos de idade, ele vive
querendo saber o porquê de
tudo. Seu irmão, Guto, estuda
biologia na faculdade, e tem a
maior paciência em esclarecer
o que pode para o caçula. O
único problema é que Dadá
costuma soltar a imaginação
enquanto ouve as
explicações. Outro dia, a
família foi a um restaurante
japonês e a comida servida foi
objeto de muita informação,
mas também de uma
confusão danada!

Seu Antônio recebeu um aumento e, para comemorar, resolveu levar toda a família para jantar. Estavam
todos sentados no chão de pernas cruzadas e limpando as mãos com toalhinhas quentes. "Você tem certeza
de que é fácil comer com estes palitinhos?", perguntou Dona Júlia, a mãe.

- Moleza! - falou Guto. - Eu vi o Kaneto usando uma vez. Não parecia difícil!

Dadá estava maravilhado com o restaurante japonês, principalmente com as carpas, que nadavam tranqüilas
e coloridas de um lado para o outro. Havia também lindos quadros na parede, com samurais pintados que
pareciam prontos para pular na mesa e lutar com ninjas. De repente, abre-se a porta da cozinha e sai um
garçom japonês equilibrando toda a comida. Tinha um pouco de tudo: sushis, sashimis, arroz branco, peixe
grelhado, tofu, sopa de soja... Tudo muito bonito e diferente.

A família começa a comer, ou melhor, a lutar com a comida, tentando usar os palitinhos. A mãe, mais sábia,
chama o garçom e pede garfos. Guto, mais prático, começa a comer com a mão e comenta: "Hummm... Está
delicioso!". Enquanto isso, Dadá olha desconfiado para um makisushi:

- O que é esse negocinho verde que está em volta desse pneuzinho?

- É nori - responde o pai. - Experimenta que é bom. É feito de alga.

Enquanto o cérebro de Dadá começa a se lembrar das suas experiências com algas, seus olhos vão ficando
arregalados. Ele faz uma cara de nojo e diz: "Eeeeca! Algas são aquelas coisas verdes que crescem no
aquário do vovô quando ele se esquece de limpar? Aquelas coisas que ficam enroscando na perna da gente
lá na praia? Não vou comer mesmo!"
- Mas Dadá, essas são boas de comer. Além do mais, as algas produzem a maior parte do oxigênio que a
gente respira. Sem contar que a gente usa diariamente produtos que contêm algas - explica Guto, lembrando
de suas aulas na faculdade.

- Como assim, diariamente? - pergunta o pai, com a boca cheia de sashimi.

- Podemos usar algas, por exemplo, como fertilizantes e em alguns sistemas de tratamento de esgotos -
responde Guto.

- Viu? Esgoto é nojento! Não vou mais usar nada que tenha algas! - anuncia Dadá.

- É mesmo? Ainda bem que você não tem barba nem usa maquiagem, porque há componentes retirados de
algas no creme de barbear e em produtos de beleza - provoca Guto.

- Quando eu crescer, eu não vou me barbear! Vou ficar com a barba grande, como a do presidente! - retruca
Dadá.

- E na hora de escovar os dentes? Existem pastas que levam algas... - completa Guto.

Antes que Dada responda, a mãe se intromete:

- Nem pense em parar de escovar os dentes, menino!

- Tudo bem, mãe! Nem toda a pasta de dente leva produtos retirados de algas - explica Guto.

- Viu, mãe? Agora, a gente só vai comprar pasta de dente que não tenha alga - decide Dadá.

- Mas como eu vou saber o que tem e o que não tem algas? - pergunta Dona Júlia.

– É só procurar na embalagem dos produtos. Se entre os ingredientes existirem substâncias como o ágar,
os alginatos e a carragena, o produto contém algas. Geralmente, elas são usadas como espessantes ou
estabilizantes, ou seja, para deixar os produtos mais cremosos ou para ajudar a misturar seus
ingredientes - explica Guto.

continua...
Até no sorvete

- Mas só os orientais usam algas na alimentação, certo? - pergunta o seu Antônio.

- Errado, pai. Vários alimentos que a gente come ou bebe todos os dias têm produtos retirados de algas -
responde Guto. - Aqueles iogurtes com frutas que a mamãe compra, por exemplo, têm. O mesmo vale até
para a cerveja!

Nesse momento, o garçom japonês pára e interrompe a conversa:

- É mentira! Olha aqui no rótulo desta latinha - diz ele pegando uma lata de cerveja em outra mesa. -
"Ingredientes: água, malte de cevada, lúpulo e fermento", nada de algas.

Todos olham espantados para o garçom, que devia estar escutando toda a conversa há tempos. Guto pega a
latinha, lê o rótulo e explica:

- Espera um pouco, você não leu o rótulo inteiro! Olha aqui: "Contém estabilizante INS 405". Esse é o código
que algumas empresas usam para o alginato, que é retirado de algas marrons. EP I, EP II e EP X são códigos
de produtos retirados de algas usados como espessantes. Eles colocam o alginato para a cerveja ter mais
espuma.

Enquanto o Guto continua explicando sobre o uso das algas em pesquisas científicas e em remédios, Seu
Antônio e Dona Júlia, surpresos com a ousadia do garçom e com todas as utilidades que as algas têm,
decidem pedir a sobremesa.

- Pois, de agora em diante, não tomo mais remédios que tenham algas, muito menos tomarei cerveja! -
confirma Dadá. - Agora, já me decidi que não como nem uso mais nada vindo de algas! Estou contra as algas!

Enquanto Dadá fica com os braços


cruzados, firme em sua decisão, chega
um outro garçom com quatro taças
enormes de sorvete. Dadá logo se
esquece de toda a discussão e se
prepara para comer sua sobremesa.

- Dadá, eu duvido de que você não vai


comer nem usar nada vindo de algas -
provoca Guto, preparando alguma coisa.

- Pois não vou! - afirma Dadá.

- Não vai comer nada mesmo? Tem


certeza? - continua Guto.

- Nadinha de nada! Estou eliminando as algas da minha vida! - confirma Dadá, agora pegando uma colher
cheia de sorvete.

- Nem mesmo o leite de caixinha que você leva de lanche? - desafia Guto. - São utilizados produtos de algas
para deixá-lo cremoso.

- No meu leite com chocolate???


Essa descoberta pegou o Dadá de surpresa. Ele até se esqueceu um pouco do sorvete, apesar de ser de
passas ao rum, seu sabor preferido. O seu leitinho não era nojento, mesmo contendo algas. Na verdade,
quase tudo que o irmão falou que continha algas não era nojento, mas ele não podia deixar o irmão ganhar
essa. Então, ele decidiu ser teimoso:

- Tudo bem, não vou mais levar leite de lanche!

- E aquele pudim de chocolate que a mãe compra? - perguntou Guto, rindo.

- Eu nem gosto desse pudim mesmo! - respondeu Dadá, sem recuar de sua posição.

- Mas de sorvete você gosta, não é? Pois ele está cheio de produto de algas! - completou Guto, já
gargalhando. - Tem algas até no chantilly!

Dadá pára, olha o seu sorvete, olha para o irmão, que continua dando risada, e coloca uma colherona na
boca: "Sorvete pode!", responde de boca cheia.

Todos começaram a dar risada do Dadá, mas ele nem deu bola. Afinal, sorvete é sorvete.

Muitos dos produtos que temos em casa levam substâncias retiradas de algas.
Que tal procurá-los pelos armários? Leia as embalagens para identificar ágar,
carragena ou alginato entre os ingredientes. Estes são produtos retirados de
algas e que são bastante utilizados pelas indústrias.

Ciência Hoje das Crianças 141, novembro 2003


Carlos Takeshi Hotta,
Instituto de Biociências,
Universidade de São Paulo

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