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Treinamento Funcional: 
Um novo conceito de 
Treinamento Físico para 
Idosos 

Aprenda a montar um treino de Funcional + 200 exercícios


RESUMO

O envelhecimento é um processo inevitável, associado ao declínio


fisiológico e da capacidade funcional do ser humano. O treinamento funcional
vem se desenvolvendo muito na área da saúde, tem como objetivo
aperfeiçoar as capacidades físicas e motoras, assim favorecendo para
diminuição de doenças crônicas e aumentando seu desempenho no dia-a-dia.
Esta revisão teve como objetivo analisar, treinamento funcional: um novo
conceito de treinamento físico para idosos, para nós darmos subsídios para
desenvolvermos mais pesquisas sobre o assunto. Para tanto, procurou-se
coletar dados quanto aos seguintes aspectos: a) conceituação do treinamento
funcional; b) aptidão física e funcional c) impacto do envelhecimento no
organismo humano d) treinamento funcional para idosos. Conclui-se que o
treinamento funcional, tem maiores benefícios funcionais para a vida dos
idosos, assim influenciando em seu cotidiano, o tornando mais ativo para
suas tarefas diárias.

Palavras-chave - Envelhecimento; Capacidade funcional; Treinamento


funcional; Idoso.

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INTRODUÇÃO

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OLIVEIRA, 2002), entre


1950 e 1998, a porcentagem de pessoas com idade maior ou igual há 60
anos aumentou de 8 para 10%, e na projeção para 2050, as pessoas dentro
dessa faixa etária seriam responsáveis por 20% da população mundial. Esses
números se tornam mais surpreendentes, quando são calculados para
projeção de países em desenvolvimento, onde a população de idosos
aumentará cerca nove vezes até 2050, ou seja, de 171 milhões para 1,6
bilhões.

Para o Brasil, estas perspectivas são muito importantes, pois será um dos
maiores contribuidores para o crescimento dessa população. O
envelhecimento populacional, aliado à falta de políticas públicas voltadas a
essa nova realidade mundial, vem preocupando todos os segmentos da
sociedade. Faz-se necessário, uma concentração de esforços nas diferentes
áreas profissionais, objetivando um maior conhecimento sobre o fenômeno do

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envelhecimento, e principalmente como envelhecer de forma saudável
priorizando esses esforços na manutenção da independência e autonomia do
indivíduo.

De acordo com Robert A. Robergs e Scott O. Robert (2002) O


envelhecimento não é simplesmente o passar do tempo, mas as
manifestações de eventos biológicos que ocorrem ao longo de um período.
Não há uma perfeita definição de envelhecimento. O envelhecimento não
deve ser visto como uma doença, mas como um processo natural. De certa
maneira, qualquer coisa neste planeta envelhece com o tempo, não apenas
seres humanos. O período de vida é a duração máxima que um membro da
espécie humana pode alcançar em condições ótimas. Como a morte precoce
foi reduzida neste século, uma proporção maior da população tem sobrevivido
ao seu período natural de vida, que parece ser de 85 anos.

Durante o processo de envelhecimento são observados declínios


significativos nos diferentes componentes da capacidade funcional (CF), em
especial, nas expressões da força muscular (força muscular concêntrica,
excêntrica e isométrica máxima, resistência de força, potência muscular, entre
outras) e na flexibilidade, caracterizada pela capacidade de mover uma
articulação através de sua amplitude máxima de movimento (ACSM, 1998).
Assim, estudiosos têm utilizado critérios que combinam status funcional com
nível de saúde que correspondem a aplicações práticas do dia-a-dia
(COTTON, 1998). Para isso têm usado como referência as atividades da vida
diária (AVD) para determinar se um idoso é capaz de viver
independentemente. As medidas de AVD permitem saber o que um idoso
pode realmente fazer (MATSUDO, 2004). Afinal, o treinamento funcional vem
com uma proposta de tornar o indivíduo preparado para o seu dia-a-dia,
assim prevenindo lesões, retardando o processo do envelhecimento e
favorecendo as doenças crônicas, obesidade; hipertensão; diabetes; que são
mais acometidas principalmente na terceira idade.

De acordo com a Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF, 2000), o


Educador Físico deverá lançar mão de todos os meios formais e não-formais
(exercícios, ginásticas, esportes, danças, atividades de aventura,
relaxamento, etc.) para educar o ser humano para a saúde e para um estilo
de vida ativo.

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O CONFEF defende que este trabalho educativo a partir do movimento deve
estabelecer relações também com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Ciência e o
Turismo e tem compromissos com as grandes questões contemporâneas da
Humanidade como as pessoas com necessidades especiais, a exclusão
social, a paz e o meio ambiente.

Com relação à legislação brasileira, no ano de 1994, foi sancionada a Lei nº


8.842, que dispõem sobre a Política Nacional do Idoso, onde se incluem
menções "ao incentivo e à criação de programas de lazer, esporte e
atividades físicas que proporcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso
e estimulem sua participação na comunidade" (BRASIL, 1994).

Com base nessas diretrizes, é de dever do Educador Físico proporcionar


atividades que envolvam benefícios a essa população, como a promoção da
saúde e prevenção de doenças, assim tendo menor incidência de morte
nessa faixa etária. De certa forma, enfatizaremos a expansão de pesquisas
relacionada ao assunto, buscando mobilizar projetos sociais para o mesmo.
Esta revisão tem como objetivo investigar treinamento funcional: um novo
conceito de treinamento físico para idosos constantes na literatura em língua
portuguesa, sob forma de livros. Para tanto, procurou-se coletar dados quanto
aos seguintes aspectos: a) Conceituação do treinamento funcional; b) Aptidão
física e funcional c) Impacto do envelhecimento no organismo humano d)
Treinamento funcional para idosos

Conceituação do Treinamento Funcional

O que é treinamento funcional?

Em uma síntese das definições encontradas no dicionário Michaelis (2009),


pode-se dizer que o treinamento funcional refere-se a um conjunto de
exercícios praticados como preparo físico ou com o fim de apurar habilidades,
em cuja execução se procura atender à função e ao fim prático, ou seja, os
exercícios do treinamento funcional apresentam propósitos específicos,
geralmente reproduzindo ações motoras que serão utilizadas pelo praticante
em seu cotidiano.

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Em um conceito mais técnico, Clark (2001) diz que movimentos funcionais
referem-se a movimentos integrados, multiplanares e que envolvem redução,
estabilização e produção de força. Em outras palavras, os exercícios
funcionais referem-se a movimentos que mobilizam mais de um segmento ao
mesmo tempo, que pode ser realizado em diferentes planos e que envolvem
diferentes ações musculares (excêntrica, concêntrica e isométrica). Para que
esse treinamento seja eficiente, a cadeia cinética funcional deve ser treinada
na busca da melhora de todos os componentes necessários para permitir ao
praticante adquirir ou retornar a um nível ótimo de função.

Origens do treinamento funcional

O treinamento funcional teve origem com os profissionais da área de


fisioterapia e reabilitação, já que estes foram pioneiros na utilização de
exercícios que imitavam o que os pacientes faziam em casa ou no trabalho
durante a terapia, possibilitando, assim, um breve retorno à sua vida normal e
as suas funções laborais após uma lesão ou cirurgia. Assim, se a tarefa
ocupacional do paciente requeresse levantamentos de peso repetidos, a
reabilitação deveria ter como objetivo principal permitir um retorno a essa
função o mais breve possível, com bom desempenho e sem dor.

Baseado no sucesso de sua aplicação na reabilitação, o conceito de


treinamento funcional passou a ser utilizado no desenvolvimento de
programas para a melhora do desempenho atlético e do condicionamento
físico e para minimizar possíveis lesões dos praticantes da atividade física.
Atualmente, muitos profissionais são adeptos dessa nova metodologia,
mesmo com um volume pequeno de publicações científicas mostrando os
benefícios desse tipo de treinamento em relação aos treinamentos
tradicionais.

O treinamento de força mais utilizado tradicionalmente tem seu foco em


movimentos isolados, ganhos absolutos de força e treino de grupos
musculares de forma independente e utiliza, geralmente, apenas um plano de
movimento. Esse é o caso da musculação, atividade com muita procura nas
academias de ginástica atualmente, pois é segura e eficiente em relação a
um dos principais objetivos dos praticantes, que é o ganho de massa
muscular e a manutenção de sua força para uma boa qualidade de vida.

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Utilizar o treinamento funcional como estratégia de treino refere-se a uma
quebra de paradigmas e, portanto, torna-se necessário identificar algumas
vantagens que o método possui em relação aos treinamentos tradicionais.

Caracterização do treinamento funcional: treinamento funcional x


treinamento tradicional

Algumas diferenças entre o treinamento funcional e o treinamento


tradicional são apontadas no Quadro 1.0

Quadro 1. Diferenças entre o treinamento funcional e treinamento


tradicional
Treinamento não funcional Treinamento funcional

Isolado Integrado
Rígido Flexível
Limitado Ilimitado
Uniplanar Multiplanar

No treinamento funcional, como pode ser observado, o condicionamento


físico é conduzido por meio de exercícios que são integrados para que sejam
alcançados padrões de movimentos mais eficientes. Sabe-se que o
treinamento isolado apresenta resultados em termos de aumento de massa
muscular e força, pois permite que haja fadiga individual dos músculos:
entretanto, o treinamento funcional aproxima-se mais dos movimentos reais,
ou seja, daqueles realizados no cotidiano e que envolvem integração de
movimentos. Esse aspecto atende à especificidade que é um dos mais
importantes princípios do treinamento. Segundo Weineck (2003), somente
atividades semelhantes às do esporte desenvolverão uma melhora no
desempenho. Para melhorar tarefas funcionais é necessário treiná-las.

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Um maior grau de liberdade de execução dos movimentos é outra
característica do treinamento funcional, já que é possível realizar movimentos
em diferentes amplitudes, principalmente se comparados aos exercícios da
musculação. Por conta disso, é possível dizer que o treinamento é flexível e
ilimitado, pois apresenta infinitas variações. A realização de movimentos
múltiplos planos também é característica, já que as atividades funcionais
ocorrem em três planos e requerem aceleração, desaceleração e
estabilização dinâmica. Apesar de os movimentos parecerem dominantes em
um plano específico, os outros dois necessitam ser estabilizados
dinamicamente para permitir ótima neuromuscular no treinamento funcional.

Aptidão Física e Funcional

A habilidade de realizar as atividades durante o dia, bem como a


performance física, atinge seu pico máximo por volta dos 30 anos de idade e,
depois disso declina com a idade (Hunter et al, 2004). O declínio das
capacidades físicas e as alterações fisiológicas decorrentes do processo de
envelhecimento geram perdas da capacidade funcional, contribuindo para a
dependência física do idoso (Tribess e Virtuoso Jr., 2005). Sendo assim, a
queda da aptidão física com o envelhecimento é um fato inexorável, que se
inicia de maneira gradativa, ao redor da quinta década de vida (Alves et al.,
2004).

Para Cooper (1972), aptidão física refere-se ao conjunto de atributos


relacionados com a saúde e com a performance, sendo que, a saúde e a
performance estão diretamente ligadas à capacidade aeróbia de um
indivíduo, ou seja, a aptidão física geral é a aptidão de resistir ou capacidade

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de executar um trabalho prolongado, sem fadiga excessiva, havendo desta
forma uma forte dependência da saúde geral, saúde cardiovascular,
respiratória, muscular, etc. Carvalho e Mota (2002), também concordam que a
aptidão física está relacionada com a saúde, embora hajam outros
componentes além da aptidão cardiorrespiratória que também devem ser
levados em consideração como: a flexibilidade, resistência e força muscular e
composição corporal. Malliou et al (2003) acrescentam ainda o equilíbrio, o
controle postural e a visão como fatores que influenciam na performance
funcional.

O termo “capacidade física” é composto por uma variedade de


características incluindo categorias da capacidade respiratória (consumo
máximo de oxigênio - VO2MÁX, limiar de lactato e capacidade metabólica),
composição corporal, distribuição localizada de gordura, força e resistência
muscular e flexibilidade. Neste contexto, capacidade física é definida como a
habilidade de realizar atividade física de nível moderada sem entrar em fadiga
(ACSM,.1998).

Para Tribess e Virtuoso Jr. (2005) o termo aptidão física também pode ser
utilizado como aptidão funcional. Entretanto, estes mesmos autores
defendem que, para os idosos, os componentes da aptidão física e funcional
de destaque são: cardiorrespiratório, força, flexibilidade, agilidade, equilíbrio,
tempo de reação e coordenação. Tais qualidades físicas atuam como
preceptores da capacidade funcional, pois reúnem condições para que o
indivíduo consiga realizar as suas tarefas do dia a dia de modo satisfatório.
Rikli e Jones (2001) definem que, a avaliação da flexibilidade, força muscular,
resistência aeróbica, agilidade/equilíbrio dinâmico, bem como da composição
corporal são essenciais para se definir a aptidão física de um idoso, pois
formam um conjunto de componentes relevantes à capacidade funcional do
mesmo.

Williams (1996) cita que as principais vantagens de se avaliar a aptidão


física de um idoso são, por um lado, determinar a prescrição de exercício
mais apropriada, reduzindo riscos e aumentando mudanças fisiológicas e
psicológicas; e por outro lado, quantificar as mudanças ocorridas durante o
programa para efetuar mudanças a longo prazo. Uma vez diagnosticado qual
é a aptidão física em que o idoso se encontra, faz-se necessário definir os

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exercícios apropriados, bem como a intensidade, volume, freqüência, tipo de
exercício e progressão do exercício físico (ACSM, 1998), com o objetivo de
melhorar a qualidade de vida, retardar as alterações fisiológicas, melhorar a
capacidade motora e proporcionar benefícios sociais e psicológicos. (Tribess
e Virtuoso Jr., 2005).

Resumindo, de uma forma geral a aptidão física e funcional é definida como


o conjunto de habilidades que um indivíduo possui para desenvolver um tipo
de atividade física específica (Williams, 1996; McArdle et al, 1998).
Em termos de atividade física, a aptidão é geralmente dividida em duas
grandes áreas: aquela mais relacionada com a performance e, aquela mais
relacionada com a saúde. Portanto, quando se trata de aptidão física e
exercício físico direcionado aos idosos cria- se uma maior associação aos
benefícios relacionados à saúde (McArdle et al, 1998). São através da prática
regular de exercício físico que se obtêm melhoras em várias doenças (ACSM,
1998). Dentro desse contexto, o exercício físico representa um de seus
principais componentes (McArdle et al, 1998), ou seja, se o objetivo é
melhorar a habilidade funcional ou o estado de saúde dos idosos, as
intervenções devem focar nas prevenções de debilidades e das doenças
através da prática regular de exercício físico (Hurley e Roth,2000).

Quando nos referimos à aptidão física no idoso, estamos a falar da sua


funcionalidade e, por conseqüência, da sua autonomia e independência
(Carvalho e Mota, 2000), que por sua vez, pode ser melhorada independente
do nível de aptidão física em que o mesmo se encontra (Evans e Campbell,
1997; Hunter et al, 2004). A aptidão física deverá ser definida como a
capacidade fisiológica de desempenhar atividades normais do dia-a-dia de
forma segura, independente e sem fadiga, tendo como parâmetros que
suportam a mobilidade funcional e a independência física: a força muscular, a
flexibilidade, o equilíbrio dinâmico/agilidade, a resistência aeróbia e a
composição corporal (Rikli e Jones, 1999).

Impacto do envelhecimento no organismo humano

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O processo do envelhecimento, do ponto de vista fisiológico, não ocorre
necessariamente em paralelo ao avanço da idade cronológica, apresentando
considerável variação individual. Este processo é marcado por um
decréscimo das capacidades motoras, redução da força, flexibilidade,
velocidade e dos níveis de VO2 máximo, dificultando a realização das
atividades diárias e a manutenção de um estilo de vida saudável.

As alterações fisiológicas de perda da capacidade funcional ocorrem


durante o envelhecimento em idades mais avançadas, comprometendo a
saúde e a qualidade de vida do idoso. E são agravadas pela falta de atividade
física e conseqüentemente diminuição da taxa metabólica basal associada à
manutenção ou ao aumento do aporte calórico, excedendo na maioria das
vezes as necessidades calóricas diárias.

O processo de envelhecimento evidencia mudanças que acontecem em


diferentes níveis:

a) ​antropométrico:​ caracteriza-se pela diminuição da estatura, com maior


rapidez nas mulheres devido à prevalência de osteoporose após a
menopausa e o incremento da massa corporal que inicia na meia idade
(45-50 anos) e se estabiliza aos 70 anos, quando inicia um declínio até os 80
anos. Mudanças na composição corporal, decorrente da diminuição da massa
livre de gordura e incremento da gordura corporal, com a diminuição da
gordura subcutânea e periférica e o aumento da gordura central e visceral,
aumentam os riscos à saúde propiciando o surgimento de inúmeras doenças.

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O declínio da massa mineral óssea relacionado com os aspectos hereditários,
estado hormonal, nutrição e nível de atividade física do indivíduo, favorece
para que o indivíduo esteja mais suscetível a osteoporose,
conseqüentemente a quedas e fraturas.

b) ​neuromuscular:​ perda de 10 - 20% na força muscular, diminuição na


habilidade para manter força estática, maior índice de fadiga muscular e
menor capacidade para hipertrofia, propiciam a deterioração na mobilidade e
na capacidade funcional do idoso.

c)​ cardiovascular:​ diminuição do débito cardíaco, da freqüência cardíaca, do


volume sistólico, do VO2 máximo, e aumento da pressão arterial, da
concentração de ácido láctico, do débito de O2, resultam numa menor
capacidade de adaptação e recuperação ao exercício.

d) ​pulmonar:​ diminuição da capacidade vital, da freqüência e do volume


respiratório; aumento do volume residual, do espaço morto anatômico; menor
mobilidade da parede torácica e declínio do número de alvéolos dificultam a
tolerância ao esforço.

e)​ neural:​ diminuição no número e tamanho dos neurônios, na velocidade de


condução nervosa, no fluxo sangüíneo cerebral, e aumento do tecido
conectivo nos neurônios, proporcionam menor tempo de reação e velocidade
de movimento.

f)​ outros:​ diminuição da agilidade, da coordenação, do equilíbrio, da


flexibilidade, da mobilidade articular e aumento na rigidez de cartilagem,
tendões e ligamentos.

Na elaboração de programas de exercícios físicos para idosos é importante


atentar-se para a avaliação do nível de dependência funcional (Quadro 1.1).
A prescrição de exercícios deverá ser direcionada ao nível de dependência
funcional do idoso, para que os programas sejam mais direcionados as
necessidades das pessoas mais velhas, aumentando a efetividade do
programa e reduzindo os riscos ao idoso.

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Quadro 2 - Relação da função física em pessoas idosas categorizadas
de acordo com a funcionalidade nas Atividades da Vida Diária e
Atividades Instrumentais da Vida Diária.

Nível I

Fisicamente incapazes: totalmente dependentes


Fisicamente dependentes: realizam algumas atividades básicas da
vida diária e são dependentes

Nível II

Fisicamente frágeis: Realizam tarefas domésticas leves, prepara as


refeições, faz compras. Conseguem fazer algumas das atividades
intermediárias e todas as Atividades Básicas da Vida Diária, que
incluem as atividades de auto-cuidado.

Nível III

Fisicamente independentes: Conseguem realizar todas as atividades


intermediárias da vida diária, incluem os idosos com estilo de vida
ativo, mas que não realizam atividades físicas de forma regular.

Nível IV

Fisicamente aptos ou ativos: Realizam trabalho físico moderado,


esportes de resistência e jogos. São capazes de realizar as
atividades avançadas da vida diária e a maioria das atividades
preferidas.

Nível V

Atleta: Realizam atividades competitivas, podendo disputar no


âmbito internacional e praticar esportes de alto risco.
Adaptado de Spirduso

Treinamento Funcional para Idosos

Os benefícios que a atividade física promove para a realização de tarefas


funcionais em idosos têm sido investigados, haja vista a diminuição da

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capacidade funcional que ocorre em virtude de alteração nos sistema
musculoesquelético e nervoso nessa faixa etária. Assim, pesquisas têm sido
realizadas para verificar se exercícios de resistência muscular, bem como
exercícios com maior ênfase alongamento ou no equilíbrio, promovem melhor
capacidade na realização de tarefas funcionais em idosos.

Macaluso e De Vito (2004), em uma extensa revisão de literatura sobre


treinamento de força e envelhecimento, observaram, entretanto, que poucos
estudos investigaram o quanto a realização de tarefas funcionais na pratica
de exercício melhora efetivamente a sua realização no cotidiano. A tabela 1.0
apresenta a síntese de literatura encontrada neste estudo. Pode-se observar
que somente três estudos utilizaram a prática de tarefa funcional em sua
metodologia. Como resultados, dois apresentam melhoras significativas em
tarefas funcionais, e um dos estudos não apresenta mudanças. Todos os
outros estudos apresentados e que estudaram o efeito do treinamento de
força nas capacidades funcionais de idosos mostram benefícios. Assim,
pode-se dizer que os dois tipos de treinamento seriam interessantes e viáveis
àqueles que querem se manter funcionalmente ativos no envelhecimento.
Entretanto, é interessante observar que um dado publicado mais recente
mostra que parece ser o treinamento funcional uma estratégia que permite a
manutenção dos ganhos por um período maior de tempo.

A referida pesquisa foi publicada na Revista da Sociedade Americana de


Geriatria e procurou comparar o treinamento funcional com o treinamento de
resistência tradicional em idosos. Nesse estudo, foram estabelecidos três
grupos: um de prática de resistência muscular (34 idosas) e outro que não
realizava que não realizava a prática, ou seja, o grupo controle (31 idosas).
Os dois grupos de pratica realizaram os exercícios durante 12 semanas, 3
vezes na semana, alcançando intensidades semelhantes (nível entre 7 e 8 da
escala de 10 pontos da percepção subjetiva do esforço). Cada grupo
desenvolvia atividades diferenciadas. As aulas de resistência envolviam
exercícios que visavam a grupos musculares importantes para a realização
das tarefas do cotidiano, como flexores e extensores de cotovelos, abdutores,
adutores e rotadores de ombros, flexores e extensores do tronco, flexores,
extensores, abdutores e adutores do quadril, extensores e flexores de joelho
e flexores plantares e dorsais dos pés. Como em um típico protocolo
progressivo de resistência, três a quatro músculos foram treinados em três

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séries de dez repetições. O incremento de sobrecarga era feito de acordo
com os profissionais que acompanhavam o grupo e consistia na utilização de
halteres, elásticos e caneleiras.

Já o grupo de treinamento funcional desenvolvia os exercícios exemplificados


no Quadro 3.

Quadro 3. Exemplos de exercícios utilizados no treinamento funcional


Fase de prática Fase de variação Fase de tarefas diárias

1. Subir em uma 1. Caminhar sobre um 1. Caminhar sobre um piso,


plataforma (step) piso e pegar um objeto recolhendo objetos do chão e
de frente. leve no chão. os colocando em um cesto.

2. Subir de lado 2. Caminhar sobre uma 2. Pegar um objeto do chão


em uma linha reta carregando enquanto se senta e coloca o
plataforma uma bandeja. objeto em uma estante.
(step).

3. Passar sobre 3. Subir um pequeno 3. Subir escadas (12 a 17


o step de frente lance de escadas degraus) carregando um
e de lado. carregando uma garrafa pequeno objeto em uma das
d´água de plástico em mãos.

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uma bandeja.

4. Andar em um 4. Andar sobre um 4. Pegar roupas e saquinhos


caminho com caminho curvo no chão. de areia de uma estante
obstáculos baixa e carregá-las em um
carregando uma cesto em um caminho de
bandeja. obstáculos.

5. Levantar da 5. Mover diferentes 5. Caminhar sobre diferentes


altura dos objetos entre estantes de superfícies (chão, colchão,
joelhos e diferentes alturas. sacos de areia.
carregar uma
caixa pesada.

6. Sair da cama 6. Levantar do chão e 6. Levantar de uma cadeira,


e carregar um carregar um pequeno andar em uma linha reta e
pequeno objeto. objeto. chutar uma bola em um local
determinado.
Como pode ser observado, os exercícios foram divididos em três fases para
que os idosos pudessem se adaptar lentamente às exigências das tarefas,
que iam aumentando ao longo dos três meses. Assim, a fase de prática durou
duas semanas, a de variação, quatro, e a tarefa diárias durou seis semanas.
Durante as sessões, os instrutores variavam diversos aspectos inerentes às
tarefas, como mudanças no número de objetos carregados, altura dos steps,
entre outros. Ao final de 12 semanas, os testes realizados inicialmente foram
refeitos, e os principais resultados demonstravam um aumento significativo na
força de membros inferiores, no equilíbrio, na coordenação, no teste funcional
e na resistência no grupo de treinamento funcional em relação ao grupo de
treinamento de resistência. Outro dado interessante é que, após nove meses
do início da pesquisa, a pontuação total dos testes de treinamento funcional,
força total de membros superiores, força de membros superiores e inferiores,
equilíbrio, coordenação e resistência se manteve maior em relação ao grupo
que treinava somente resistência muscular, parecendo, assim haver melhor
manutenção dos ganhos nas tarefas funcionais, o que é extremamente
benéfico para esse público.

Considerações Finais

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Nos últimos anos na área do condicionamento físico, muitos profissionais de
Educação Física têm aderido a essa metodologia, associando instabilidade
na execução de exercícios físicos para conduzir os treinamentos, sejam eles
voltados ao desempenho esportivo ou à melhora da qualidade de vida.
As evidências aqui apresentadas por diversas literaturas evidenciam que o
treinamento funcional favorece ao desempenho do cotidiano do idoso, isso
facilita seu convívio social, físico e no seu lazer. O exercício físico é de
extrema importância para vida social, mental e física do idoso. O treinamento
funcional vem se propagando por todo mundo e está buscando seu espaço,
afinal é muito recente no Brasil. O Treinamento Funcional vem sendo bem
adotado pela essa população por mostrar benefícios bastante significativos às
atividades diárias, que por sinal é benéfico para vida desta população. Vale
salientar que o exercício físico não deve ser estimulado somente na terceira
idade e durante toda fase da vida, como forma de prevenir e controlar as
doenças crônicas que aparecem muito mais com freqüência na terceira idade
e como forma de torna-se um idoso muito mais ativo e funcional. Enfim, talvez
esse seja o grande achado desta pesquisa. Sabe-se, no entanto, que muito
mais precisa ser investigado para que haja um consenso na literatura sobre o
assunto.

Outras pesquisas devem investigar a manutenção dos resultados, e um


volume maior de trabalhos elucidará, porque outros trabalhos identificaram
melhoras semelhantes entre os dois tipos de treinamento: funcional e de
força.

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Por​: Kalysson Araujo Dias

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