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Revista Faculdades do Saber, 01(1): 28-40, 2016 28

A IMPLEMENTAÇÃO DO TREINAMENTO MENTAL NOS ESPORTES

IMPLEMENTATION OF MENTAL TRAINING IN SPORTS

Lucas Flores MARQUES1, Alaércio PEROTTI JÚNIOR2

Resumo
Todo treinador/professor de Educação Física tem o papel de ensinar, ou mesmo aprimorar as
habilidades motoras e capacidades físicas de seus alunos. Também tem a necessidade de buscar
novas metodologias e técnicas para tornarem esse processo mais fácil, menos massivo e estressante,
objetivando melhores resultados para a aquisição de tais habilidades. O treinamento e aprendizagem
de habilidades motoras ocorrem normalmente por meio de técnicas repetitivas e extremamente
tecnicistas. O treino mental consiste na simulação mental de repetidos movimentos, ou mesmo a
formação de uma imagem mental do gesto técnico com a intenção de promover mudanças e
aprendizagem de uma habilidade motora específica. A finalidade e meta da implantação do treino
mental é: aquisição de habilidades motoras, diminuição da carga física, sem a exigência de esforço
físico, maior chance de concentração, sem obrigatoriedade de local adequado, reabilitação,
relaxamento, menor exigência de tempo, controle de níveis de ansiedade, aumento significativo de
concentração, eliminação de risco de lesões, entre outros benefícios. Assim, o objetivo desse estudo
foi verificar prováveis benefícios do treinamento mental em aspectos referentes a técnicas e a
aprendizagem de habilidades motoras em diferentes modalidades esportivas. Foi verificado que o
treinamento mental pode sim contribuir para a aprendizagem de habilidades motoras, e que o
mesmo pode ser utilizado como uma importante ferramenta no treinamento de atletas, tanto para
melhoria do desempenho como na aquisição e aperfeiçoamento de habilidades motoras. Essa
pesquisa teve caráter de revisão, baseada em periódicos, livros, artigos e sítios acadêmicos.
Palavras-Chave: Aprendizagem motora, Treino Mental, Habilidades Motoras.

Abstract
Every coach / physical education teacher's role is to teach, or even enhance the motor skills of their
students. Also has the need to seek new methods and techniques to make this less massive and
stressful process easier, aiming to better results for skill acquisition. The training and learning motor
skills occur through repetitive and extremely technicists techniques. The mental training is the
mental simulation of repeated movements or even the formation of a mental image of technical
movements with the intention of promoting change and learning of motor skills. The purpose and
goal of deploying metal workout is: acquisition of motor skills, decrease in physical load, without
requiring physical exertion, increased chance of concentration, with no obligation to proper location,
rehabilitation, relaxation, lower requirement for time control anxiety levels, a significant increase in
concentration, elimination of risk of injury, among other benefits.. The objective of this study was to
verify the anticipated benefits of mental training in aspects related to technical, and learning of
motor skills in different sports. Mental training can indeed contribute to the learning of motor skills
through literature can be concluded that mental training can be used as an important tool in training
athletes, both for improved performance as the acquisition of motor skills. This research has a review
character, based on free journals, academic articles and academics websites.
Keywords: Motor Learning, Mental Training, Motor Skills.

1
Docente na Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo. Mestrando em Ciências Biomédicas em FHO-
Uniararas. E-mail: lucasmarques802@hotmail.com
2
Doutorado em Educação Física pela Universidade de São Paulo. Docente do Centro Universitário Hermínio
Ometto – UNIARARAS, Araras, SP.; Universidade Paulista - UNIP, Limeira, SP; Faculdades Einstein de Limeiras -
FIEL, Limeira, SP. E-mail: alaercioperotti@gmail.com

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Introdução do TM que tem origem da Psicologia


cognitivista. Segundo Rúbio (2000) a
Ao longo dos anos observa-se Psicologia do Esporte Americana foi
aumento significativo na produção marcada nos anos 80 por uma produção
científica sobre novas técnicas e voltada para o enfoque cognitivista, com
pedagogias para que alunos e atenção para as questões relacionadas
praticantes de atividade física consigam com representações mentais, como eles
um melhor aprendizado, e diante disso a mentalizam e qual sua influência no
necessidade de se procurar meios mais desempenho.
eficientes para um aprendizado ou Magill (2000) descreve o TM
refinamento de habilidades que sejam como uma recapitulação cognitiva de
eficazes e seguro. No meio esportivo uma habilidade física na ausência dos
uma área que tem evoluído muito nos movimentos físicos e explícitos. Samulski
últimos anos é a Psicologia do Esporte e (2002) reconhece o TM como:
dentre as variáveis estudadas, um tema Imaginação de forma planejada,
que tem despertado o interesse dos repetida e consciente das habilidades
pesquisadores, é o Treinamento Mental motoras e técnicas esportivas. Segundo
(TM) (TESTA, 2011). Machado (2006): a prática mental é um
O objetivo desse estudo foi de método adotado pela psicologia do
verificar os efeitos do treinamento Esporte, para efetuar mudanças no
mental na melhora das técnicas e da comportamento e promover
aprendizagem de habilidades motoras aprendizagem.
em diferentes modalidades esportivas. O O TM pode ser implantado tanto
treinamento mental é uma alternativa na aquisição de habilidades como para a
para que a prática, não se torne maçante melhoria de desempenho, objetivando
e com isso estressante, e que pode controlar níveis de comportamento.
muitas vezes ocasiona desistências Para Weinberg e Gould (1999): “um
devido traumas, resultantes de atleta pode reconstruir, através da
movimentos extremamente tecnicistas, imaginação, experiências positivas do
repetitivos e específicos à prática. passado ou visualizar eventos futuros
Aprendizagem ou aquisição de com o fim de preparar-se mentalmente
habilidades motoras para Schmidt para a performance”. Segundo Samulski
(1993) é um conjunto de processos (2011) o TM é orientado para dois
associativos com prática ou experiência, objetivos no esporte: para os
que direcionam as mudanças movimentos e para as situações. Como
relativamente permanentes nas movimentos entendem-se as
capacidades para uma execução habilidades motoras especificas
habilidosa. A aprendizagem de (técnicas), e como situações, as ações
habilidades motoras é um dos objetivos táticas e as estratégias esportivas

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inseridas dentro de um contexto Desenvolvimento


específico.
A utilização da prática mental Na literatura existem diversos
segundo Tzachou-Alexandri citado por relatos mostrando os efeitos positivos
Becker (1996) já ocorria no período do TM. Devido às suas características,
clássico, cinco séculos AC, em Atenas, serão mostrados ao longo desse
nos ginásios existiam zonas com todas as trabalho pesquisas as quais evidenciam
facilidades para que treinadores e que a implantação desse método pode
atletas realizassem "o treinamento, ser uma alternativa para aprendizagem
tanto do corpo quanto da mente” e ou melhora de um determinado gesto
segundo Santos citado por Becker (1996) técnico. O TM apresenta duas linhas de
os filósofos Platão e Descartes davam explicação para a sua aplicação: a
grande importância à utilização de primeira linha é de nível
técnicas mentais, como recursos de comportamental (psicológico), e a
aprendizagem e memorização. segunda a de nível motor. O TM quando
O início do estudo científico das implantado em níveis psicológicos visa
práticas mentais segundo Becker citado controlar níveis de ansiedade, ativação e
por Schú e Scalon (2004) foi em 1892 motivação. A explicação para a melhoria
com Jastrow que estudou os da motricidade é encontrada na
movimentos involuntários produzidos fisiologia, Franco (2000) afirma que um
durante várias operações mentais. De movimento imaginado e exercitado
acordo com Testa (2011) existem teorias mentalmente produz micro contrações e
registradas sobre este assunto no ano de consequentemente uma melhora na
1934, mas é na Alemanha que a pratica coordenação neuromuscular.
mental começou a ser usada no meio Um estudo realizado por Bonuzzi
esportivo, por volta de 1958. Sendo que e Perotti Jr. (2010) teve como objetivo
no Brasil ela chegou há pouco tempo. investigar os efeitos do TM no
Esse trabalho foi realizado por aperfeiçoamento de uma habilidade
meio de revisão de literatura e foi motora aberta em uma situação de
desenvolvido da seguinte forma: envolvimento cognitivo. Participaram do
primeiramente apresentando pesquisas estudo dois levantadores de voleibol. Os
sobre a implantação do TM em objetivos específicos foram: a) analisar a
diferentes modalidades, após isso será estratégia cognitiva (Eficiência Tática)
apresentado como é a implantação do utilizada por levantadores de voleibol e
TM e como se dá a interação dos b) o padrão motor utilizado no
sistemas sensoriais no mesmo, os riscos levantamento (Eficiência Técnica). Os
das pedagogias extremamente resultados indicaram que houve
tecnicistas nos esportes e o TM na melhora significativa para um dos
aprendizagem de habilidades motoras. levantadores no que se refere à

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Eficiência Tática e no que se refere à distância. Todos os testes envolveram a


eficiência Técnica os dois levantadores execução de 10 tentativas cada. O grupo
mostraram melhoras. GF realizou somente a prática física, o
Um estudo realizado por Leite grupo GFMB realizou a prática mental
(1981) investigou o efeito do TM sobre a após cada bloco de 10 tentativas e o GPFI
aquisição do lance livre do basquetebol realizou a prática mental após cada dois
no qual aplicou três métodos de blocos de 10 tentativas. A variável
aprendizagem: a) Prática Mental (PM); dependente foi a pontuação obtida com
b) Prática Física (PF) e c) Combinação de a cesta. Observou-se que no pós-teste
Prática Mental e Física (PMF). Os tanto o grupo GFMB e GFMI
resultados indicaram que todos os apresentaram uma média de
métodos propiciaram melhoras desempenho superior ao grupo GF.
significativas, mas o grupo (PF) e (PFM) Em um estudo realizado por
tiveram resultados mais efetivos que o Pinheiro e Cardenás (2010) procurou-se
grupo (PM). Observou que o grupo investigar a influência do treinamento
(PFM) obteve um rendimento superior, mental no aperfeiçoamento da técnica
ainda que não significativo do saque do voleibol, usando o modelo
estaticamente sobre o grupo (PF). de treinamento de oito passos
Um estudo realizado por desenvolvido por Eberspacher (1995),
Marques e Perotti Jr. (2013) investigou o nessa amostra que foi constituída por 17
lance livre no basquete, participaram adolescentes, de ambos os sexos, nesse
desse estudo 18 adultos jovens na faixa estudo, constou da avaliação de um
etária entre 19 e 27 anos de idade de experimento/treinamento destinado ao
ambos os sexos, distribuídos igualmente melhoramento do saque tipo tênis, com
em três grupos experimentais: grupo duração de cinco semanas. Para a coleta
prática física (GF), grupo prática física e de dados fizeram um registro da
mental em bloco (GFMB) e grupo prática representação motora do saque
física e mental intercalada (GFMI). A expressa de forma oral e de imagem
tarefa constituiu em realizar o lance livre para notação da execução do
do basquetebol. O delineamento movimento. Os resultados foram
experimental constou das seguintes avaliados através do pré-teste e pós-
fases: pré-teste, aquisição, pós-teste e teste. Os dados levantados sugerem que
adaptabilidade. Os três grupos a representação motora oral do saque
praticaram a tarefa durante a sessão de indicou que boa parte dos atletas
aquisição com a execução de 150 assimilou o treinamento mental. Os
tentativas divididas em 15 blocos de 10 resultados indicaram que o treinamento
tentativas cada, o pré-teste o pós-teste mental é uma importante ferramenta
foram realizados na mesma condição e a para a facilitação de aprendizagem.
adaptabilidade com 1m a mais de

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Para verificar os efeitos da o desenvolvimento do TM: Ideomotor,


prática mental na aquisição de Autoverbalização e a Auto-observação.
habilidades motoras em sujeitos novatos O treinamento Ideomotor, quando o
(GOMES et al. 2012), a tarefa constitui aluno, através de suas sensações
no transporte de bolas de tênis internas sobre o movimento, reorganiza-
(posicionamento manual) em os e transfere para o movimento físico.
sequenciamento e tempo alvo pré- Na Autoverbalização o aluno terá que
determinados utilizando a mão não repetir mentalmente o que ele tem por
preferencial. A tarefa envolveu precisão sua percepção do movimento. E na Auto-
espacial como a precisão temporal. observação,o executante terá de assistir
Participaram do estudo 25 universitários alguém fazendo o movimento, que ele
que praticaram uma tarefa seriada de terá que repetir imaginando que está
posicionamento e foram distribuídos em realizando o movimento, pensando em
cinco grupos conforme o tipo de prática: todas as variáveis da pratica e suas
física, mental, física-mental, mental- sensações.
física e grupo controle. Os resultados
mostraram superioridade dos grupos Requisitos para o Treinamento Mental
prática física, física-mental e mental-
física. Os resultados sugerem que a Os requisitos para o TM, segundo
prática mental em sujeitos novatos Eberspacher citado por Samulski (2002)
depende da prática física para ser são: o estado de relaxamento, própria
efetiva. experiência, própria perspectiva e
O TM segundo estudiosos da vivencia de forma profunda. O estado de
área pode tanto auxiliar na relaxamento do esportista é necessário
aprendizagem, aperfeiçoamento e para a implantação do treinamento, e é
também no controle de níveis importantíssimo que o esportista esteja
emocionais. Segundo Testa (2011), muito relaxado, pois ele precisa estar
experiências vividas pelos atletas com a mente livre de outros
durante competições e a busca pelo pensamentos que o possam atrapalhar.
domínio da técnica e das emoções fazem No segundo estágio, o aluno ou atleta
do TM uma etapa de grande importância tem que ter uma experiência prévia na
nos programas de treinamento de habilidade ou tarefa, por que só assim
grandes atletas de alto rendimento, ele pode entender o movimento e
como também de iniciantes. também repeti-lo mentalmente. Na
própria perspectiva, é que o movimento
Implantação do Treino Mental tem que estar inserido e capaz de ser
feito pelos alunos ou dentro de suas
Para Eberspächer citado por capacidades motoras. No último estágio
Samulski (2002), existem três fases para o papel do professor é de estimular que

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aluno se atente a todos os detalhes da Os sistemas sensoriais e o treinamento


prática ou do movimento. mental

Programa de Treinamento Mental Segundo Suinn citado por Becker


(1996) cita que durante uma sessão de
Em relação aos procedimentos TM é possível atuar sobre os sistemas
que devem ser tomados para a sensoriais, em quatro dimensões
implantação do TM, segundo distintas: visual, cinestésica, auditiva e
Eberspacher citado por Samulski (2002), emocional.
acontece em oito passos. O primeiro é a Dimensão visual – A visão
escolha da técnica que deseja treinar representa o principal sistema sensório
mentalmente. Segundo, detalhar de perceptivo para obtermos informações
forma escrita do que é necessário no relevantes do ambiente para controle
movimento, mas também escrever o das ações motoras (TEIXEIRA, 2006).
que se tem de percepção do movimento. Para Becker (1996) na dimensão visual o
No terceiro passo, nos três dias atleta imagina-se realizando a ação
seguintes, durante meia hora por dia, ler desportiva e pode produzir diferenças na
e analisar várias vezes o que escreveu perspectiva, isto significa que além das
sobre o movimento, procurar memorizar informações externas, a imaginação
o movimento de forma intensa. Na visual pela sua característica de colocar a
leitura procurar imaginar o movimento atenção em todos os detalhes possíveis
de forma muito intensa durante 15 dias. da ação.
No quarto passo, quando a percepção do Dimensão cinestésica - Segundo
movimento é feita de forma sólida, Suinn (1981) citado por Becker (1996)
pode-se incluir novos pontos-chave para esta dimensão trata da imaginação da
o treino. No quinto passo, descrever e percepção interna que o atleta vivencia,
classificar os pontos-chave, e procurar se antes, durante e depois da ação motora,
adaptar ao ritmo do movimento. Sexto e que juntamente com a dimensão visual
passo, exercitar esse exercício duas ou é a mais utilizada pelos atletas.
três vezes, e se encontrar dificuldades Dimensão auditiva – A audição
pode regredir dois ou três passos. costuma ser desprezada como fonte de
Sétimo passo, combinar o TM com a informação para as nossa ações
execução física. E o último passo, treinar motoras, mas é uma fonte importante
de forma mental as fases de pré e pós- para orientação de direção, distância e
preparação, nas pausas ou nas reconhecimento do ritmo, por exemplo,
interrupções curtas de uma competição como atividades com música (TEIXEIRA,
ou jogo. 2006). Durante a execução física,
segundo Becker (1996), os atletas
registram ruídos que ocorrem tanto em

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si mesmo, como no objeto ou objetos podendo ser utilizada em casos de lesões


que maneja e no ambiente desportivo ou mesmo na reabilitação.
que o rodeia. Somada a dimensão visual Muitas vezes, e até passado
e cinestésica contribui para um melhor despercebido, por treinadores e pais que
rendimento dos atletas. pedem o máximo de seus alunos e filhos
Dimensão emocional - Conforme em algumas competições ou
Becker (1996) por mais que um atleta treinamentos, com isso pressionam para
esteja preparado para uma competição, que tenham uma performance perfeita,
é impossível deixar de sentir a emoção não levando em consideração
relacionada ao movimento. A maturação biológica muito menos
visualização das emoções é uma técnica estrutura física, chamado de
de imaginação, que pode levar a um especialização precoce. No caso de
melhor controle destes fatores pelo especialização precoce: Entendem-se
atleta. Desde antever um gesto motor, por treinamento intensivo precoce, ou
até ter um momento antes do jogo ou especialização esportiva precoce é o
competição, que possa relaxar, pensar período onde se adotam programas e
ou repetir mentalmente o gesto ou métodos de treinamento especializados
habilidades que será exigido na (SANTANA, 2001). Para crianças que não
competição, jogo ou disputa. possuem estruturas físicas adequadas
para o desporto ou mesmo não oferecer
Os Riscos de Pedagogias Extremamente atividades diversificadas.
Tecnicistas nos Esportes O número elevado de repetições
que normalmente se é encontrado em
Ao longo dos anos cada vez mais alto rendimento ou em técnicas
se é discutido sobre a importância da extremamente tecnicistas que podem
busca de novas metodologias e ocorrer na aprendizagem ou na
pedagogias para a aquisição de aquisição de habilidades podem
habilidades ou mesmo na melhoria do apresentar riscos de lesões, por
rendimento. Para que a aprendizagem estressar demasiadamente a
não apresente riscos como musculatura.
especialização precoce, lesões, A implementação do TM também
ansiedade, desmotivação e também visa o controle das emoções, e com isso
para que melhoria de desempenho não controlando também níveis de
apresente um grau tão alto de stress, ansiedade e com isso motivando o aluno.
que é muito mais ligado ao alto Para Samulski (2002) a motivação
rendimento por se ter um número depende de fatores intrínsecos
elevado de repetições, além da (pessoais) ou extrínsecos (ambientais) e
repetição que não precisa se diferencia em técnicas de ativação e
necessariamente ser física e sim mental, técnicas de estabelecimentos de metas.

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Todos esses temas podem levar ao nessas atividades e para que isso ocorra
abandono do desporto e também eles sempre tem de estar motivados.
podem estar ligados ao êxito da pratica O esporte para a criança precisa
quando se é encontrado o inverso de um clima menos suscetível de
desses temas. confronto, menos rivalizável, que gere
O professor tem a menos expectativa, quanto mais novo
responsabilidade de entender que as for o indivíduos (SANTANA, 2004). E com
crianças ou mesmo atletas, passam por isso diminuindo possíveis traumas
etapas as quais devem ser respeitadas e ligados a busca da melhoria do
jamais serem desvalorizadas. A atividade rendimento, extremo clima de disputa e
que o treinador propõe tem de ser concorrência.
estimulante, divertida, lúdica e Em um estudo realizado por Bara
diversificada, para que saia de moldes e Garcia (2008), no qual o objetivo foi de
tradicionais e tecnicistas dos esportes. O avaliar os motivos do abandono no
professor tem de pensar em todas essas esporte em jovens com idades
variáveis antes de montar um treino ou compreendidas entre 10 e 20 anos,
atividade, e pensar com muito mais comparando modalidades esportivas,
seriedade de como será a formação gênero e faixas etárias. A amostra foi
esportiva de seus alunos. A formação composta por 332 jovens (179 meninos
esportiva é um processo longo, e assim o e 153 meninas) que haviam abandonado
imediatismo ou supressão de qualquer seus respectivos esportes (Futebol,
uma de suas fases terá consequências basquete, natação, ginástica artística e
(NUNOMURA, CARRARA e TSUKAMOTO, handebol). Aos sujeitos do estudo foi
2010). Diante dessas realidades pode-se aplicado um questionário aberto sobre
ocorrer o abandono do esporte. os motivos do abandono da prática
Segundo Bara e Garcia (2008), o esportiva. A pergunta principal consistia
abandono da prática esportiva entre em quais motivos o levaram a abandonar
jovens é frequente devido a uma maior o esporte. Após receber todos os
instabilidade física, psicológica e social. questionários, passou-se a categorizar os
Desta forma, sugere-se cautela em motivos citados pelos atletas para
processos de inciaçãoo esportiva. quantificar as respostas. Os principais
O profissional de Educação Física motivos gerais do abandono foram:
tem de saber que seu papel é de estudos (34% dos ex-atletas), falta de
estimular seus alunos por uso de tempo para amigos/namoro/ lazer
técnicas que motivem e atraiam seus (17%), outros interesses fora do esporte
educandos e atletas, as técnicas tem de (16%). Diferenças ocorreram na
ser lúdicas e prazerosas para que comparação de ex-atletas de
mantenham eles sempre inseridos modalidades coletivas e individuais, com
maior incidência dos motivos outros

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interesses, monotonia dos treinos, O profissional tem a necessidade


desmotivação, esgotamento e excessivo de pesquisar novas técnicas e
tempo de dedicação como mais pedagogias para implantar em suas
significativos para ex-atletas das aulas, e não ficar retido à pedagogias
modalidades individuais e lesões/ arcaicas e ultrapassadas. Educadores,
problemas de saúde e falta de treinadores, a todo o momento tem de
companheirismo nas modalidades estimular seus atletas ou educandos,
coletivas. Observou-se uma para que esse primeiro contato ou
multiplicidade de motivos do abandono mesmo no aprimoramento da
do esporte, denotando a importância de habilidade, seja de uma maneira não tão
conhecê-los para se desenvolver agressiva, tão tradicional, e que seja de
estratégias para evitar que este uma maneira agradável.
fenômeno ocorra sistematicamente no
esporte. Esse estudo tem real relevância O Treinamento Mental na Aprendizagem
para a Educação Física, pois nos mostra Motora
uma gama de fatores que podem definir
a permanência ou não permanência de O TM tem sua implantação na
nossos alunos na pratica de atividade aquisição de habilidades ou na
física ou exercício físico. aprendizagem motora. Aprendizagem
E que o conhecimento dos motora para Schmidt (1993) é um
motivos para o abandono precoce pode conjunto de processos associativos com
auxiliar os envolvidos no esporte prática ou experiência, que direcionam
competitivo a minimizar a incidência as mudanças relativamente
deste fenômeno no esporte infanto- permanentes nas capacidades para uma
juvenil. Diante desses objetivos execução habilidosa, ou seja, processos
podemos ver que existem três motivos que visam a melhoria ou mudança de
que estão ao nosso alcance, para desempenho.
mudarmos ou alterarmos conforme Segundo Magill (2000)
nossos objetivos, que são: métodos, desempenho é um ato comportamental
estrutura do treinamento e a figura do de executar uma habilidade. As
treinador. habilidades são entendidas como
Segundo Nunomura et al. (2010), operações mentais, nas quais as
os técnicos e demais envolvidos no informações são processadas e, após um
esporte não devem poupar esforços período de prática, são armazenadas
para proteger os atletas, para prolongar para serem utilizadas em situações
sua participação e, principalmente, para posteriores (MAGILL, 2000).
proporcionar-lhes experiências positivas Segundo os autores Fitts e
no esporte. Posner, citados por Schimidt (2001):
apresentam um modelo clássico de

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estágios de aprendizagem motora. São Estágio autônomo


definidos como: cognitivo, associativo e
o autônomo. O último estágio é o autônomo,
para se chegar a esse estágio, observasse
Estágio cognitivo que a acumulação das práticas e
experiências como a qualidade das
O estágio cognitivo é aquele em instruções, a qualidade e quantidade de
que o executante, principiante, práticas e que podem levar anos. A
concentra nos problemas de natureza habilidade se torna automática ou
cognitiva. É marcado por erros. Faltando habitual. Enquanto desempenham a
consistência entre uma tentativa e habilidade, as pessoas não pensam
outra. Os principiantes saibam que estão conscientemente no que estão fazendo,
fazendo algo de errado, eles não sabem pois, já não precisam de instruções
o que é necessário fazer para melhorar. prévias. Frequentemente conseguem
realizar outras tarefas são mesmo tempo
Estágio associativo e, a variabilidade no desempenho é
muito pequena, ou seja, as pessoas bem
O segundo estágio, o associativo, capacitadas desempenham a habilidade
também é denominado de refinamento. com boa consistência entre as tentativas
Neste momento a pessoa aprende a subsequentes, quando comparada ao
associar certas informações fornecidas dos estágios anteriores. Os praticantes
pelo ambiente, com o movimento que é experientes conseguem detectar os seus
necessário para se alcançar a meta da próprios erros e fazer os ajustes
habilidade. A quantidade de erros é necessários para corrigi-los.
menor, em relação ao estágio anterior e Segundo Magill (2000) a primeira
os erros menos grosseiros desde que se etapa da aprendizagem motora envolve
tenham adquirido os fundamentos um alto grau de atividade cognitiva. Por
básicos ou mecânicos da habilidade isso a importância da implementação do
embora precisem ser refinados. A treino mental. A primeira etapa da
pessoa concentra no desempenho bem aprendizagem o aluno está de frente a
sucedido da habilidade e procura se novas experiências, assim o treinamento
tornar a mais consistente possível de mental pode ajudar ao processo de
uma tentativa para outra, diminuindo, evolução do aprendizado, assim como
assim, a variabilidade do desempenho. na correção de erros nas etapas finais da
As pessoas adquirem, também, a aprendizagem, que seriam as fases
capacidade de detectar e identificar associativas e autônomas. O TM ajuda na
alguns de seus próprios erros de primeira etapa da aprendizagem porque
execução. é um instrumento que pode ajudar na
aprendizagem de habilidades, porque

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auxilia na assimilação de elementos alunos e atletas. Contudo, o TM é muito


cognitivos simbólicos, ou elementos que pouco trabalhado e disseminado, e
são relevantes para a prática. também, temos a necessidade de uma
O TM pode tanto auxiliar na maior pesquisa do resultado da
aprendizagem, aperfeiçoamento e implantação do TM nas diversas
também no controle de níveis modalidades e situações do jogo ou de
emocionais. Segundo Testa (2011): atividades físicas.
experiências vividas pelos atletas
durante competições e a busca pelo Referências
domínio da técnica e das emoções fazem
do treinamento mental uma etapa de BARA, Mauricio; GARCIA, Félix.
grande importância nos programas de Motivos do abandono do esporte
treinamento de grandes atletas de alto competitivo: um estudo retrospectivo.
rendimento, como também de Monografia (Graduação em Educação
iniciantes. Física). Revista Brasileira de Educação
Física e Esporte, Universidade Federal de
Conclusão São Paulo. São Paulo, v.22, n.4, p.293-
300, 2008.
Através dos estudos BECKER, Benno. El efecto de
apresentados, pode-se concluir que o tecnicas de imaginacion sobre patrones
TM pode ser utilizado como importante electroencefalograficos, frecuencia
ferramenta no treinamento cardiaca y en el rendimento de
contribuindo para o processo de practicantes de baloncesto con
aprendizagem e o aperfeiçoamento de puntuaciones altas e bajas en el tiro
habilidades motoras. Na maioria dos libre. Barcelona: Universidade de
estudos foram encontradas melhorias Barcelona, 1996.
significativas em grupos que faziam a BONUZZI, Giordano; PEROTTI;
pratica física junto com a prática mental Alaércio. Efeitos do treinamento mental
(prática combinada), somente a pratica na eficiência tática e no padrão de
mental não apresentou tantos movimento de levantadores de voleibol.
benefícios quanto o grupo que foi Revista Brasileira de Psicologia Aplicada
implantado o treino mental e a prática ao Esporte e à Motricidade Humana, v.2,
física. n.1, p. 109-118, 2010.
Conclui-se que o TM pode ser CASTRO, Girlaine; COSTA, Flávia.
uma ferramenta importante para treinos Treinamento mental na aprendizagem
mediados por técnicos, treinadores e do elemento reversão simples por
professores. Por diminuir o número de crianças iniciantes na ginástica artística
repetições do treino e por reduzir a de solo. Monografia (Graduação em
ansiedade e estressar menos nossos

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Educação Física). Revista Digital de esporte de alto nível. Rio de Janeiro:


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