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ORGANIZAÇÃO E

PLANEJAMENTO
DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Autoria: Manoel Carneiro de Oliveira Junior

2ª Edição
Indaial - 2022

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Jairo Martins
Marcio Kisner
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: : Desenvolvimento de Conteúdos EdTech

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

Copyright © UNIASSELVI 2022


O48o

Oliveira Junior, Manoel Carneiro de

Organização e planejamento do treinamento desportivo. / Manoel


Carneiro de Oliveira Junior – Indaial: UNIASSELVI, 2022.

151 p.; il.

ISBN Digital 978-65-5646-548-7

1. Treinamento desportivo. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo


da Vinci.

CDD 796

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
Histórico e Avaliações do Treinamento Desportivo.................7

CAPÍTULO 2
O Fator Planejamento no Treinamento Desportivo...............51

CAPÍTULO 3
A Psicologia e a Nutrição na Contribuição do
Treinamento Desportivo...........................................................101
APRESENTAÇÃO
Para entendermos os conceitos do treinamento desportivo, é fundamental
vermos os fatos históricos marcados em épocas distintas e que complementam
tudo aquilo que vemos atualmente quando falamos de técnicas de treino. Se
formos pensar em primórdios do treinamento, vemos o homem pré-histórico
utilizando técnicas de corrida, lançamento e saltos, que eram importantes para
a sua sobrevivência. A história do treinamento passa desde essa época até anos
mais tarde, em que as técnicas de treino foram marcadas por grandes mudanças,
como a era dos jogos modernos da Grécia, em que o Barão de Coubertin deu início
às competições em nível de público, tornando os atletas pessoas consagradas e
mostrando a todos como são importantes as técnicas e a disponibilidade de treino.

Não podemos pensar no treinamento desportivo como uma forma isolada de


técnicas e treinos, temos que pensar também que existem “braços” no treinamento
que ajudam em todos os aspectos na montagem e supervisão. Estamos falando
das técnicas de aferição ou da antropometria, que é de extrema importância
para determinarmos o andamento dos trabalhos que estão sendo conduzidos.
Assim, no Capítulo 1, veremos a antropometria, uma valiosa ferramenta tanto nos
treinamentos quanto na saúde dos avaliados, pois ela orienta os possíveis fatos e
acontecimentos que podem fazer, por exemplo, que o atleta perca seu rendimento,
passando por momentos fisiológicos importantes que não demonstram sucesso.

Um outro aspecto muito importante e que também está ligado à antropometria


são as avaliações neuromotoras, nelas podemos avaliar e mensurar a força, a
resistência muscular e a flexibilidade, o que ajuda em qualquer esporte treinado.

No Capítulo 2, abordaremos o planejamento do treinamento desportivo. A


periodização deve ser organizada de forma global, respeitando todas as fases
do desenvolvimento, evitando, assim, o abandono precoce da prática, devido
a possíveis lesões ou transtornos causados ​​ pela falta de planejamento do
treinamento. Uma vez estabelecidos de forma clara e concreta os objetivos da
formação, respeitando os seus princípios científicos, as fases desse processo
devem ser identificadas e organizadas, visto que a formação deve ser periódica.

A periodização representa uma linha de trabalho para estruturar e orientar


o treinamento, levando em consideração o tempo disponível para as atividades,
o público-alvo e o ambiente no qual o programa estará inserido. Essa divisão é
uma estratégia para organizar variáveis ​​de carga de trabalho, como intensidade,
volume, frequência e períodos de descanso, permitindo uma variedade de
sessões de trabalho e auxiliar no rendimento do indivíduo.
Por último, no Capítulo 3, abordaremos o trabalho da área nutricional e
psicológica frente ao individuo que realizará o treinamento. Recentemente
(Olimpíadas de 2021, em Tóquio), a atleta americana Simone Biles, da ginástica,
desistiu de uma competição olímpica devido a problemas emocionais, o que
justifica o uso da psicologia no esporte para manter não só o emocional, mas
também a integridade dos atletas e/ou indivíduos que treinam. Abordaremos
também o fator nutricional e como alguns parâmetros, como o metabolismo,
podem interferir não só no rendimento, mas também na própria competição.
C APÍTULO 1
HISTÓRICO E AVALIAÇÕES DO
TREINAMENTO DESPORTIVO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Entender os fatos históricos do treinamento desportivo, passando por diversas


épocas e fatos que trouxeram ferramentas para a sua constituição.
• Avaliar os tipos de análise e avaliações corpóreas e como elas podem nos
ajudar na elaboração de um treinamento.
• Verificar as análises, passando desde uma simples anamnese até a utilização
de equipamentos para nos auxiliar no contexto do treino.
• Diferenciar as avaliações de medidas com as avaliações neuromotoras e
entender como elas podem influenciar no contexto neuromuscular.
• Entender as dinâmicas do treinamento e ter uma noção ampla de como
estruturar um ciclo de treino para um indivíduo.
• Realizar medidas importantes para o contexto do esporte, utilizando técnicas
simples e complexas para o desenvolvimento do atleta.
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Segundo Tubino (2003), treinamento esportivo é o conjunto de atividades
físicas que são realizadas ao longo de um período prolongado, perfazendo de
uma forma progressiva, cuja principal função é desenvolver as habilidades
humanas, fisiológicas e psicológicas de um indivíduo. Se formos levar em termos
práticos e simples, os treinamentos são exercícios bem planejados individual e
sistematicamente para a evolução de um atleta ou de uma equipe.

Os objetivos do treinamento esportivo são diferentes, sendo o principal a


evolução da forma física e técnica do indivíduo. Quando feito corretamente, ajuda
a melhorar o desempenho, porém, certos princípios devem ser seguidos para
atingir os resultados desejados em nível competitivo ou não.

Dantas (2014) preconiza que é altamente recomendado que um profissional


com destreza e técnica, formado em educação física, seja o responsável pelo
planejamento do treinamento para atender a todos os detalhes de cada indivíduo.
Mesmo em equipes com muitos atletas, o treino deve ser individualizado, pois
cada organismo tem uma resposta diferente aos estímulos, o que podemos
chamar de individualidade biológica.

Embora os aspectos técnicos sejam bastante aprofundados, é importante


afirmar e ressaltar que, além dos conhecimentos técnicos, estes também devem
abranger outras áreas, como psicologia e nutrição. O bom desenvolvimento
mental é essencial para o alcance dos objetivos propostos, da mesma forma que
o alimento pode ser um aliado ou um vilão nos resultados.

Não há esporte em que o treinamento esportivo seja mais adequado. Isso


porque cada atividade possui suas especificidades e particularidades, além das
suas peculiaridades, e cabe ao profissional buscar o conhecimento técnico e
científico para aplicar com eficácia a metodologia. Além disso, como cada atleta
possui características próprias, o treinamento individualizado deve ser utilizado
em qualquer esporte.

2 HISTÓRIA DO TREINAMENTO
DESPORTIVO
Quando pensamos em treinamento desportivo, logo vem à mente os jogos
olímpicos na Grécia, mas será que a história do treinamento desportivo provém
dessa época?

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OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Os jogos olímpicos são jogos denominados de excelência, que dispõem de


sucessos, fracassos, além de serem uma grande vitrine de atletas e, através disso,
temos métodos de treinamento que são mostrados ao mundo, demonstrando o
seu poder ao grande público. Segundo Bompa (2000), é necessário considerar
que, antes dos jogos olímpicos surgirem na Grécia Antiga, já existiam algumas
práticas de treinamentos diversificados sempre em busca de um objetivo, que
era a melhora do rendimento físico. Óbvio que nesse contexto não nos convém
debater e discutir se existia eficiência nesses treinos e sim a causalidade destes.

2.1 OS FATOS HISTÓRICOS DO


TREINAMENTO DESPORTIVO
Pensando em forma de treinamento e até fazendo um comparativo com os
tempos ditos modernos, as práticas desportivas em forma de treinamento eram
feitas de forma inconsciente e não com o objetivo de performance, como seria
na Pré-História, em que o objetivo do homem apenas e tão somente era a sua
sobrevivência em relação aos seus predadores, bem como os de sua própria
espécie, e isso pode ser considerado devido ao seu condicionamento físico
adquirido no dia a dia (TUBINO, 2003).

Posteriormente, com a evolução do homem, principalmente na Grécia e


na Roma Antiga, estas práticas, bem diferentes do treinamento desportivo da
atualidade, passaram a obedecer a um senso lógico e comum, buscando além
da estética (e, pensando na estética, a beleza corporal era considerada um
alto elemento significativo, principalmente para elevar o homem comum a uma
condição social mais elevada). Óbvio que esse fator era importante também para
a preparação para as guerras, bem como para outras competições desportivas
menos importantes que os Jogos Olímpicos, como os Jogos Augustos e os Jogos
Capitolinos.

Com o objetivo de iniciar uma nova discussão sobre o assunto, podemos


exemplificar a evolução do treinamento desportivo na história com a seguinte
ordem cronológica:

1º - Período do Empirismo – duração: dos métodos arcaicos de preparação


física das antigas civilizações até o surgimento do Renascimento (século
XV).
2º - Período da Improvisação – duração: do surgimento do Renascimento
(século XV) até as I Olimpíadas da Era Moderna (1896 - Atenas).
3º - Período da Sistematização – duração: das I Olimpíadas da Era Moderna
(1896 - Atenas) - até as XI Olimpíadas (1936 - Berlim).

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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

4º - Período Pré-Científico – duração: das XI Olimpíadas (1936 - Berlim) até


as XIV Olimpíadas (1948 - Londres).
5º - Período Científico – duração: das XIV Olimpíadas (1948 - Londres) até
as XXI Olimpíadas (1972 - Munique).
6º - Período Tecnológico – duração: das XX Olimpíadas (1972 - Munique)
até as XXV Olimpíadas (1992 - Barcelona).
7º - Período do Mercantilismo Desportivo – duração: a partir das XXV
Olimpíadas (1992 - Barcelona) (COSTA, 1972).

Temos que pensar que muitos dos diferentes processos que implicaram na
complicada estrutura esportiva atual têm sua origem na mais remota civilização.
Desde o começo da aventura do homem sobre a Terra, foram transmitidas de
geração em geração práticas utilitárias, principalmente para a sua sobrevivência,
que foram obviamente observadas e imitadas, possibilitando-lhe viver em um
meio hostil, e isso ajudou o homem a apurar seus sentidos. Iniciando pela Pré-
História, período em que o homem primitivo tinha sua vida cotidiana assinalada
por grandes preocupações, principalmente atacar e se defender, passando pela
Antiguidade, na qual alguns povos, como os do Oriente, Ocidente e do Novo
Mundo, apresentavam um notável interesse em cuidar da alimentação, regime
de vida e performance, até atingir o rigor tecnológico e científico que conhecemos
nos dias atuais.

Como aspecto profilático (prevenção de doenças) existiam


os exercícios físicos, através de jogos, de ginástica, de desporto
(esporte), da dança, do excursionismo, que é a prática de exercícios
por um gosto, das massagens e das saunas. Na Antiguidade,
os exercícios eram orientados principalmente para os aspectos
estabilizadores e terapêuticos, tendo por objetivo geral cooperar
no desenvolvimento integral do indivíduo, além de manter esses
indivíduos saudáveis. Assista ao vídeo Efeitos da pandemia sobre os
esportes de alto rendimento, disponível em: https://youtu.be/A8nKn-
YG2ow.

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OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Na Antiguidade, podemos falar da enorme contribuição dos povos gregos e


romanos para o desenvolvimento do treinamento desportivo. Temos na Grécia
Antiga o exercício com o objetivo do culto ao corpo. Com os gregos era significativo
o número de jogos existentes, e podemos, obviamente, relatar o principal evento
desportivo: os Jogos Olímpicos.

Para Tubino (1985), pode-se dizer que a preparação dos atletas helênicos
(atletas que participavam de quatro festivais de jogos gregos: os Jogos Olímpicos,
os Jogos Piticos, os Jogos Nemeus e os Jogos Ístmicos) era muito semelhante
aos treinos empregados nos dias atuais, com uma preparação bastante eclética
(corridas, marchas, lutas, saltos etc.). Esses atletas usavam sobrecargas para
a melhoria do seu rendimento físico e tinham uma preparação psicológica
apoiada no sofrimento. Eles utilizavam o aquecimento no início e a volta à
calma acrescida de artifícios importantes, como massagens ao final do treino,
e já possuíam, a exemplo dos ideais científicos modernos, os chamados ciclos
de treino, denominados na época de “tetras”, e ainda eram estabelecidas dietas
diferenciadas nos períodos de treino e competições.

Por outro lado, os povos romanos, chamados na época de ‘senhores do


mundo’, atuando principalmente como conquistadores, desviaram totalmente
os objetivos propostos através do esporte pelos gregos. Aproveitando os
conhecimentos esportivos dos gregos, passaram a treinar seus soldados, a fim
de torná-los “indestrutíveis’ em um combate, e foi ainda sob a égide dos romanos
que se passou a profissionalizar o esporte de forma degradante, assim, o esporte
deixou de ser de um aspecto competitivo para se tornar um aspecto de força e de
luta.

A partir do século XV, temos como característica a transição da mentalidade


medieval para a mentalidade moderna. Isso ocorreu através do movimento
renascentista, que foi originado na Europa com um amplo alcance intelectual,
atingindo alguns setores, como o das artes, das ciências e da filosofia, trazendo
como consequência a construção de uma nova sociedade, mais racionalizada e
baseada no progresso das ciências e na difusão educacional dos conhecimentos
entre os homens.

Para Cotrim (1987), com o aparecimento do Renascimento, surgiram


os humanistas, que se encarregaram de transmitir a seus contemporâneos
a necessidade de desenvolver amplamente a capacidade do homem, como
também a interpretação da vida de uma maneira mais completa. Nesse contexto,
os humanistas conseguiram ampliar, a exemplo dos povos antigos da Grécia,
horizontes verdadeiramente amplos, conduzindo os propósitos dos indivíduos
como realmente era necessário: com amplitude e profundidade, compreendendo
de forma bastante criteriosa as mais importantes tendências da personalidade

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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

humana em todos os aspectos.

Dessa forma, como ponto de partida, esse período iniciou com os métodos
arcaicos e antigos de preparação física das antigas civilizações, que não
passavam de práticas perceptivas de treino, em que a busca de conhecimento
passou a ser constante, e foi finalizado com o surgimento do período renascentista.
Podemos afirmar que algumas dessas práticas influenciaram também importantes
modificações na educação física e nos desportos.

2.2 O PERÍODO DA SISTEMATIZAÇÃO


No período da sistematização (século XX), evidencia-se a necessidade de
um planejamento do controle e da ordem das cargas de trabalho para serem
passadas durante um treinamento, estabelecendo caminhos e pontos básicos
para serem seguidos em direção a uma meta estabelecida previamente.

Esse processo teve uma facilidade, uma vez que, apesar das dificuldades
de comunicação e pouco conhecimento na época no que diz respeito aos treinos,
o continente europeu adaptou seus métodos e meios de treino de acordo com
as “inovações” apresentadas pelos americanos, surgindo, nesse período, outras
tendências de treinamento esportivo.

Hegedus (1969) evidencia em seus estudos que o primeiro país a tomar a


iniciativa dessa sistematização foi a Finlândia, destacando-se Lauri Tahko Pihkala
(1888-1981), um treinador que, por volta de 1912, desenvolveu o sistema de
treinamento finlandês. Suas ideias se voltaram para um tipo de treino denominado
treinamento multilateral, aplicando um conceito do tipo ondulatório, que é o
aumento da intensidade do trabalho, partindo de um trote lento até a velocidade
máxima. Seus alunos faziam 4-5 vezes 100 a 200 metros com esforços intensos
e pausas de 10-20 minutos. Por esse motivo, muitos alegam que foi Pihkala o
criador do treino intervalado (interval-training) (TUBINO, 2003). O seu método
apresentava as seguintes características:

• A inclusão do treinamento de velocidade para meio-fundistas e fundistas.


• Alternância de corridas curtas e intensas com intervalos longos para
recuperação orgânica.
• Incrementar significativamente tanto a quantidade como também a
qualidade dos treinamentos.

Em 1920, na Alemanha, surgiram os estudos de Krummel, estudioso que


seguia a tendência norte-americana, ele sistematizou o treinamento e publicou
em seus trabalhos as seguintes demonstrações:

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OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

• Há diferenças entre resistência e endurance; sendo a resistência a


capacidade de um músculo ou até um agrupamento muscular de
manter contrações repetidas sobre uma carga em um período de
tempo (prolongado). A resistência exigia do sistema cardiovascular
um fornecimento energético muscular para manter um trabalho físico
sustentado.
• Existia uma vantagem em utilizar intervalos entre estímulos.
• Era possível adquirir resistência e endurance através da aplicação de
pequenas distâncias de treinamento (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES,
2021).

O método finlandês constituía-se de várias correntes de trabalho, tendo um


mesmo denominador comum, que parte do princípio a adaptação aos meios que
a natureza oferece, a fim de desenvolver as reservas naturais do homem por meio
de esforços prolongados.

Com essa intenção, precisamente na cidade sueca de Bosöm, o treinador


Gösta Holmér (1891-1983) desenvolveu o treinamento “Fartlek”, que consistia
na superação de percursos com subidas, descidas, planos, trechos com areia,
entre outros. Nos percursos, os atletas deviam apresentar variações de ritmos
de trabalho, embora a intensidade da corrida variasse de acordo com as
distâncias e o tempo dos esforços executados, partindo do princípio de que os
atletas deveriam evitar, em seus treinamentos, o contato direto com os locais de
competição, como as pistas, utilizando outros “terrenos”, como bosques, campos
e áreas parecidas, que seriam os locais mais favoráveis para o desenvolvimento
das capacidades funcionais, como a velocidade e a resistência (BOMPA, 2000).
O método constava em sua forma original de:

• Esforços realizados em plena natureza, portanto, longe da pista de


corridas, com 1 ou 2 horas de duração.
• Existência de uma combinação de todos os tipos de distâncias durante o
seu transcorrer, com uma variação de 50 até 3.000 metros.
• Intensidade dos esforços de acordo com a distância das corridas.
• A pausa entre os esforços de acordo com as características das corridas,
realizadas de tal maneira que o intervalo de recuperação fosse realizado
em forma de marcha ou trote.

Apesar de esse método de treinamento passar por várias modificações


ao longo dos anos, ainda hoje é largamente utilizado em todas as modalidades
desportivas.

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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Ainda em 1930, também na Suécia, na cidade de Valadalen, Gösta Ölander


(1911-1984) amplia o cenário esportivo da época, criando um método que
recebeu o nome de Treinamento de Valadalen, que tinha como características de
treinamento:

• Alternar treinamentos “pesados” e “leves” para obter o efeito restaurador


no organismo.
• Utilizar terrenos com alto grau de dificuldade (areia da praia e morros).
• Alegria e correção técnica durante a execução dos trabalhos.

Segundo Costa (1972), a escolha do tipo de treino que os atletas deveriam


executar provocou uma divisão entre esses dois treinadores suecos. Holmér
optava pelo trabalho relativamente prolongado com variação de esforço, ao que
Ölander preferia fazer um trabalho mais curto, com algumas sessões com grande
intensidade, uma vez que ele dava preferência ao princípio da intensidade em
relação à quantidade.

Mesmo com essa divisão de preferência, o progresso no rendimento dos


atletas foi muito satisfatório e a contribuição desses treinadores é notada nos
tempos atuais, cuja tendência se volta para uma mesclagem dos dois tipos de
treinamento preconizados na Suécia.

Esse período iniciou com a primeira olimpíada da era moderna (1896 –


Atenas), durando até as XI olimpíadas (1936 – Berlim), quando Adolf Hitler
promoveu a primeira grande manifestação ideológico-política dos jogos
olímpicos, construindo toda uma estrutura que permitisse mostrar ao mundo a
pseudossupremacia dos alemães arianos sobre os outros povos e raças.

2.3 O PERÍODO PRÉ-CIENTÍFICO


O período pré-científico iniciou-se um pouco antes da Segunda Guerra
Mundial, durando alguns anos após o final da guerra. O que caracterizou essa
época foi o aparecimento das primeiras tentativas de experimentos científicos
relacionados à preparação física, baseada nas observações experimentais até
então vigentes no momento (BOMPA, 2000). Esses ensaios foram sensivelmente
prejudicados pela escassez de recursos financeiros, uma vez que o mundo voltava
suas atenções para a guerra, o que estabeleceu nesse período uma profunda
recessão econômica, o que não impediu o surgimento de novas tendências de
trabalho com relação ao treinamento desportivo.

No período pré-científico, constata-se a contribuição do corredor tcheco Emil


Zatopeck (1922-2000), o qual, por volta de 1945, a partir dos conhecidos trabalhos

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OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

de Toni Nett, modificou gradativamente sua forma de treinar, começando a utilizar


intervalos de recuperação entre as corridas (TUBINO, 2003). Na sequência, ele
promoveu algumas mudanças na proposta original predita, até desenvolver seu
próprio método, que constava de:

• Uma diminuição nas distâncias empregadas anteriormente.


• Uso somente das distâncias: 200 e 400 metros.
• Utilização de até 70 repetições das distâncias.
• Utilização de 60 segundos de intervalo entre as repetições.

Surgia, assim, o treinamento com intervalos, com o qual Zatopeck


surpreenderia o mundo desportivo da época com resultados considerados
excepcionais, apesar de hoje tornarem-se arcaicos, a ponto de serem conseguidos
com facilidade por vários atletas.

No ano de 1948, com a utilização de esforços físicos intervalados fora


da Alemanha e Tchecoslováquia (agora República Tcheca), pelo médico e
treinador húngaro Mihály Iglói (1908-1998), que ganhou extrema notoriedade
por considerar o fato de os atletas possuírem diferentes condições hereditárias
(Miháloy começou a pensar em genética), os planos de treinamento deveriam ser
individualizados (DANTAS, 2014). Atualmente, sabe-se ser esta a pedra angular
sobre a qual deve ser edificado todo o processo de treino, porém, pela primeira
vez, observa-se na história a preocupação com a individualidade biológica. O seu
método de treinamento se baseava em:

• Uma grande dose de trabalho diário (20 a 40 quilômetros).


• Cargas de treino estritamente individualizadas.

Consideramos que esse período tenha durado das XI Olimpíadas (1936 –


Berlim) até as XIV Olimpíadas (1948 – Londres).

2.4 O PERÍODO CIENTÍFICO


Este período, apesar de iniciar-se ainda sobre os resíduos pouco
fundamentados do período anterior, evoluiu rapidamente, com o mundo desportivo
sendo estimulado por uma multiplicação impressionante de laboratórios de
pesquisa do esforço físico, constituindo-se de três grandes tendências esportivas
(FERNANDES, 1981).

Na década de 1950, inicia-se uma época inovadora no treinamento


desportivo, através da proposta de Percy Cerutty (1895-1975) na Austrália. Percy,

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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

que em 1952 foi a Helsinque (Finlândia) a fim de assistir aos Jogos Olímpicos,
aproveitou a oportunidade para visitar Ölander e aprender o funcionamento do
sistema de treinamento (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2021).

De volta à Austrália, Percy procurou adequar a metodologia às possibilidades


naturais existentes lá. Para isso, escolheu um local específico na costa oceânica,
entre Melbourne e Portsea, com uma extensão de 80 a 100 quilômetros, que
passou a ser o centro de treinamento de corredores australianos e, obviamente,
de outros países. Cerutty foi adepto de um trabalho muito intenso e até muito
esgotador. Seus melhores atletas percorriam uma distância de até 150
quilômetros por semana, no período de preparação geral, e 100 quilômetros no
período que antecedia às competições. Eles utilizavam terrenos, como dunas de
areia, buscando o desenvolvimento da resistência muscular localizada, para a
qual alguns países, como EUA e Alemanha, recorriam ao treinamento de tempo
(time-training) realizado em pistas de corridas (TUBINO, 2003).

A alegação utilizada por Percy Cerutty era de que, em terrenos como dunas,
o atleta necessita de um desenvolvimento de maior esforço em uma unidade de
tempo superior às solicitações de uma competição. O corredor desenvolveria,
dessa maneira, uma condição física muito especial perante o sofrimento
provocado por semelhantes esforços.

Com certeza seu método se ajusta perfeitamente a um dos princípios do


atual treinamento de duração, cujos esforços prolongados são realizados sob um
ritmo e intensidade especiais.

Percy Cerutty não gostava do treinamento intervalado, ele acreditava ser um


sistema proveniente de laboratório, porque os resultados nem sempre estavam de
acordo com o que existia na prática. Ele achava que, para se adquirir a resistência
geral e específica, era necessário executar trabalhos prolongados e extensos e
nunca esforços rápidos e breves (HEGEDUS, 1969; FERNANDES, 1981).

Arthur Lydiard (1917-2004), na Nova Zelândia, procurou pegar os pontos


fortes do treinamento intervalado e do treinamento de duração, fazendo uma
mesclagem dos dois tipos de sistemas. Assim, de acordo com a temporada de
competições do seu país, dividia o ano em várias etapas de treinamento, nas
quais se buscava um distinto objetivo (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2021):

Etapa pós-competitiva

No final da temporada das competições, iniciava-se esta etapa do treino.


Nela, os corredores treinavam 6 vezes por semana, correndo entre estradas
e bosques, fazendo um trote de 1 hora de duração, gastando uma média de 7
minutos por milha, durante 2 ou 4 semanas.
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Etapa de competições nacionais de cross-country

Nesta etapa, era pedido ao corredor um trabalho feito nas mais diversas
condições de terreno (areia, lama, pedras etc.), bem como nas mais diversas
condições climáticas.

Na primeira metade da semana eram feitos apenas trotes, para, em seguida,


ser intensificado o trabalho, incluindo uma grande variação de esforços, que
iam desde 50 metros até quilômetros, chegando a quilometragens enormes
feitas aos domingos. Isso era feito durante 12 semanas, quando começavam as
competições de cross-country.

Etapa de treinamento de maratona

Quando terminavam as competições de cross-country, iniciava-se o


treinamento visando às altas quilometragens, atingindo uma média de 100 milhas
por semana. O ritmo desenvolvido nas corridas era ajustado à capacidade de
cada um dos corredores e o maior número de quilometragem era percorrido aos
sábados, num ritmo menor que os dias anteriores, cerca de 7 minutos por milha.

O total em quilômetros a serem percorridos durante a semana era distribuído


de forma a alternar um dia com carga menor que o outro, cuja intensidade do
trabalho variava conforme o terreno a ser utilizado para a corrida.

Etapa de treinamento em terrenos variados

6 semanas no total, esta etapa dava continuidade ao período anterior, e o


local utilizado era um terreno acidentado com longos aclives, intercalando com
partes planas e descidas, para exigir uma grande variedade de ritmos para a
corrida. O percurso possuía uma distância de 3.200 metros e o total percorrido
em cada dia atingia uma média de 20 quilômetros. No final da semana, era feito
um treinamento de maratona de 2 a 2,5 horas de duração.

Etapa de treinamento em estradas

Nesta etapa, já se iniciava a preparação para as competições na pista. Os


corredores percorriam 13 quilômetros por dia durante 4 semanas, fazendo uma
mesclagem de treinamento de duração com corridas de tempo e séries de sprints,
portanto, um trabalho bastante semelhante ao que conhecemos como fartlek.

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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Etapa de treinamento em pista

Após toda a etapa de preparação que antecedia às competições, iniciava-se


o treinamento de pista, com uma duração de 12 semanas, período em que eram
realizadas as competições.

Lydiard não utilizava o treinamento intervalado porque considerava as pausas


muito lentas, o que ele acreditava não levar a resultados esperados. Ele preferia
uma mescla de velocidade pura, velocidade prolongada e longas distâncias.
Assim, seus corredores de meio-fundo faziam tanto velocidade prolongada
quanto devia fazer um meio-fundista e o mesmo número de quilômetros que fazia
um corredor de fundo (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2021).

2.5 A ERA TECNOLÓGICA


Após o advento do período científico, os resultados esportivos, que já tiveram
um crescimento significativo, foram extremamente acelerados. Isso não se deve
apenas ao surgimento de uma metodologia de treinamento com embasamento
científico, mas também ao constante avanço da tecnologia, como a fabricação
de aparelhos, a confecção de roupas para atletas de elite, entre outros (TUBINO,
1985; DANTAS, 1998).

Novas tendências surgiram com o crescente interesse político pelos grandes


resultados esportivos. Os países ocidentais aceitaram de bom grado o desafio,
razão pela qual atualmente as nações estão investindo orçamentos milionários
na preparação de seus atletas em defesa de suas ideologias políticas, como pode
ser visto nas competições internacionais, e com isso podemos destacar a China
e a Rússia.

Nesse momento, o uso de tecnologias de informação parece ser um


elemento fundamental no diagnóstico morfofuncional e psicológico de atletas, no
planejamento do treinamento esportivo, na prescrição de exercícios em volume
e intensidade de treinamento, bem como na correção da análise técnica e tática
das situações competitivas. Esses fatores podem ser vistos como determinantes
no caso da ciência moderna do fitness.

Essa tendência tinha como líder das competições esportivas os Estados


Unidos, seguido pelo Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, onde se
tinha a universidade, que se constituía na principal fonte de pesquisas dentro
das mais sofisticadas condições tecnológicas, oferecendo total apoio aos seus
atletas, que recebiam em troca os estudos na própria universidade, a orientação

19
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

dos melhores técnicos desportivos do país, bem como utilizavam uma tecnologia
e material desportivo de alto nível (FERNANDES, 1981; TUBINO, 2003).

Essa tendência foi liderada pela ex-Alemanha Ocidental, que tinha seus
principais componentes em países europeus não socialistas, tendo o intercâmbio
técnico-científico facilitado pela situação geográfica dos países europeus, com o
Brasil se beneficiando enormemente de estágios realizados em seus principais
centros de formação científica e pesquisa, como Colônia e Mainz e outros
localizados em outros países integrantes de sua doutrina (FERNANDES, 1981;
TUBINO, 1985).

Naquela época, havia alguns países que faziam parte dessa escola,
principalmente Japão, Coreia e China. Nestes países, além de um rigoroso
planejamento educacional, o esporte já recebia grande ajuda das suas inúmeras
indústrias, com fábricas formando times esportivos. A característica mais marcante
dessa tendência é que os aspectos capitalistas já eram evidentes e a cultura era
usada como meio de motivação (TUBINO, 1985).

2.6 O PERÍODO DA ERA


MERCANTILISTA ESPORTIVA
Sem dúvida, o esporte se tornou um dos produtos mais eficientes para
divulgar nome, marca, patrocínio e publicidade, em grande parte porque
permitiu uma maior aproximação com seus clientes e com o mercado esportivo
em particular. É importante ressaltar que o esporte mostra ao atleta como ter
sucesso e isso é inconscientemente atribuído às empresas que o promovem e,
principalmente, aos seus produtos.

Dessa forma, o investimento no esporte solidificou um excelente negócio,


com grande retorno publicitário em divulgação, valorização de imagem, ganhos
financeiros e impostos. Parte dessa era são os países capitalistas (EUA,
Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Israel e países da Europa Ocidental),
independentemente de sua localização geopolítica, com clubes e associações
que quase sempre são subsidiados por empresas de apoio a atletas.

O que mais chama a atenção nesse período é que as competições de alto


rendimento tornaram-se verdadeiros espetáculos, independentemente do nível
profissional, em que grandes empresas que desejam divulgar seus produtos
utilizam estratégias publicitárias para investir milhões de dólares no financiamento
da formação de atletas ou equipes (são considerados verdadeiros astros), bem
como a promoção e a gestão de eventos desportivos, sendo a universidade a
principal fonte de investigação.
20
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

3 ANTROPOMETRIA
A palavra antropometria, em seu contexto, é formada pela combinação de
dois termos de origem grega: “anthropos”, que tem o significado de “homem” ou
“ser humano”, e “metron”, que significa “medir”, e antes de falarmos sobre como
devemos proceder, precisamos saber o que é antropometria. Antropometria é um
ramo da antropologia, e é a ciência que estuda principalmente as medidas de
diferentes áreas e partes do corpo humano (PETROSKI, 2001).

3.1 O QUE É ANTROPOMETRIA


Segundo Franceschini et al. (2017), a ciência chamada antropometria está
relacionada aos estudos da antropologia física ou biológica, e esta trata de analisar
os aspectos genéticos e biológicos do ser humano e fazer uma comparação entre
eles. A antropometria utiliza várias técnicas para medir cada uma das partes do
ser humano. Por meio dessa medição fornecerá informações valiosas para atletas
e pessoas sedentárias sobre aspectos de sua condição física e biológica.

3.1.1 Finalidades da antropometria


Atualmente, a antropometria é utilizada em diversas áreas da saúde para
estudar principalmente as doenças e anomalias que afetam as dimensões do
organismo e da fisiologia humana. A puericultura é um ramo da antropometria
que acompanha o desenvolvimento do corpo infantil, e este tipo de avaliação está
sendo inserido no campo da pediatria (FRANCESCHINI et al., 2017).

Nesse contexto, também podemos destacar a antropometria nutricional, que


pode ser utilizada como uma ferramenta para avaliar o estado nutricional de um
indivíduo. A antropometria nutricional consiste na avaliação nutricional, verificando
o Índice de Massa Corpórea (IMC), a análise de dobras cutâneas e o índice de
gordura entre a cintura e o quadril.

A avaliação nutricional é um conglomerado de métodos de avaliação


utilizados para diagnosticar o estado nutricional de indivíduos e/ou da população.
Estes métodos incluem anamnese alimentar, exame clínico, dados bioquímicos,
antropométricos e psicossociais, que permitem identificar indivíduos em risco
nutricional, possibilitando intervenções e monitoramento (PETROSKY, 2011).

21
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

O estado nutricional é uma característica individual ou populacional que


possui um grande dinamismo. Resulta do balanço entre a ingestão e a perda de
nutrientes, levando em conta sua ingestão, absorção, utilização e excreção. Pode
manifestar uma nutrição adequada, carência de nutrientes ou algum distúrbio
nutricional.

A anamnese nutricional é o primeiro passo para se estruturar um plano


alimentar adequado às necessidades do indivíduo. O questionário aplicado pelo
nutricionista deve fornecer o maior número de informações possível, dentre
estas é imprescindível ter os hábitos alimentares e as rotinas de horários, além
da investigação sobre atividade física e o tipo de atividade, a qualidade do
sono, os sinais e sintomas clínicos, como fadiga, unhas quebradiças, alopecia,
adormecimento de membros inferiores, edema, cãibras, perda de memória,
estufamento e má digestão, distúrbios alimentares, etilismo e tabagismo, além da
quantidade de álcool e cigarro/dia.

As medidas antropométricas, como peso, altura e medida de circunferência


de cintura e de quadril, são utilizadas para o diagnóstico do estado nutricional e
avaliação dos riscos para algumas doenças e têm sido demonstradas como um
parâmetro indicado para avaliar o estado nutricional populacional, principalmente
pela facilidade de obtenção das medidas, que podem ser válidas e confiáveis,
desde que haja treinamento adequado e as aferições tenham padronização.

3.1.2 Principais medidas


antropométricas
Segundo Leão e Gomes (2014), podemos avaliar com os seguintes
parâmetros:

Peso: o peso mostra a dimensão da massa ou volume corporal total,


constituído por todas as células, tecidos, órgãos e sistemas do organismo.
Habitualmente chamada de peso, a massa é a soma de todos os componentes
corporais e reflete o equilíbrio energético-proteico do indivíduo.

Em adultos, o peso deve ser aferido em balança zerada, colocada em piso


nivelado, com o avaliado de pé, de costas para a escala da balança, com os
pés afastados lateralmente, no centro da plataforma, com olhar reto e fixo para
o horizonte. Deve estar usando o mínimo de roupa possível ou roupas leves e a
medida deve ser feita, preferencialmente, no período matutino, em jejum, para
evitar flutuações de peso decorrentes de algum tipo de edema. Caso isso não

22
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

seja possível, fazer o controle sempre na mesma hora do dia.

Estatura: a estatura demonstra a dimensão longitudinal ou linear do corpo


humano. Ela é a soma dos membros inferiores, a pélvis, a coluna vertebral e
o crânio. Frequentemente chamada de altura, a estatura é a distância entre o
ponto mais alto da cabeça (ponto vértex) e a região plantar. É feita utilizando-se
um equipamento chamado estadiômetro, trena ou antropômetro (LEÃO; GOMES,
2014). Para essa análise, o indivíduo que será testado deve estar descalço e em
posição ortostática: de pé, ereto, com os calcanhares unidos, braços estendidos
ao lado do corpo, com as superfícies posteriores (calcanhar, quadril, costas e
cabeça) em contato com o instrumento de medida e com a cabeça voltada para
frente, paralela ao solo.

IMC: definido pelo peso em quilogramas dividido pela potência da altura em


metros (altura)². O Índice de Massa Corporal (IMC) fornece uma boa avaliação da
gordura corporal para grupos populacionais, porque a maioria das diferenças de
peso entre adultos ocorre em virtude da gordura corporal. O IMC também pode
ser um indicador de saúde.

Circunferâncias: Galisa (2018) preconiza que a medida de circunferência


fornece o perímetro dos diversos segmentos corporais, como braços, pernas,
cintura, quadril, tórax e pescoço, porém daremos mais ênfase às circunferências
de abdômen e quadril. A aferição da circunferência de cintura é feita com o
avaliado em posição ortostática, colocando a fita em um plano horizontal,
passando por cima da cicatriz umbilical.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), é a medida


da região do abdômen, no ponto médio entre a borda inferior da
última costela e a borda superior da crista ilíaca, em que pode se
concentrar principalmente a gordura visceral, diretamente relacionada
a diversos riscos de saúde, como a hipertensão, diabetes mellitus e
dislipidemias (doença que se caracteriza por anomalias nos níveis
de lipídios no sangue), fatores que elevam o risco de doenças
cardiovasculares.

FONTE: <https://www.saude.rj.gov.br/obesidade/noticias/2017/11/
muito-alem-do-imc>. Acesso em: 19 jan. 2022.

23
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Circunferência de quadril: a pessoa a ser avaliada deve estar em posição


ortostática, braços levemente afastados e pés juntos, colocando-se a fita em um
plano horizontal no ponto de maior circunferência das nádegas. As medidas são
feitas lateralmente.

Relação cintura x quadril (RCQ): é o cálculo que se faz a partir das medidas
da cintura e do quadril, dividindo-se a medida da circunferência da cintura em
centímetros pela medida da circunferência do quadril em centímetros. O índice de
corte para risco cardiovascular é igual ou maior que 0,80 cm para mulheres e 0,90
cm para homens.

Percentual de gordura corporal: é aferido principalmente para a proporção


de gordura corporal em relação ao peso corporal total (%GC). Esse percentual
permite, em conjunto com o peso corporal, determinar o peso de gordura total
de um indivíduo. Ao estabelecer um %GC desejado, conhece-se qual peso o
indivíduo teria se modificasse apenas a massa gorda e mantivesse sua massa
magra intacta (FRANCESCHINI et al., 2017).

Composição corporal: o corpo humano pode ser separado em dois grandes


grupos: massa gorda (gordura corporal) e massa magra (parte muscular). Caso
se subtraia a gordura do indivíduo, tudo o que sobra é a massa magra. Essa
divisão didática é conhecida como modelo bicompartimental e permite simular
administrações orais e inalatórias. A massa magra, por sua vez, é composta pela
massa óssea (ossos do esqueleto), massa muscular e massa residual. A divisão
corporal em quatro compartimentos (massa gorda, muscular, óssea e residual –
a massa residual é a composição de água, vísceras e outros componentes de
massa magra) é didaticamente conhecida como modelo tetracompartimental.

Bioimpedância: o principal objetivo da bioimpedância é determinar a


quantidade de massa magra e massa gorda do corpo. Isso se torna importante
ao imaginarmos dois indivíduos com o mesmo peso e estatura, porém com
composições corporais diferentes (LEÃO; GOMES, 2014). A massa magra é
composta por músculos, ossos e órgãos vitais, sendo o principal responsável pela
queima de calorias, e a massa gorda é composta de gordura corporal.

Orientações para a realização da bioimpedância: 2 horas de jejum absoluto,


inclusive água; evitar exercício físico no dia do exame; evitar estimulantes,
como cafeína (café, chá mate, chá preto, chocolate e refrigerante tipo cola) ou
bebidas alcoólicas no dia do exame; e usar roupas leves. Pessoas portadoras de
marcapasso não podem realizar este exame.

24
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

3.1.3 Componentes da avaliação


antropométrica

Após a “coleta” ou adquirir as informações necessárias para determinar os


parâmetros avaliativos, todas as obtenções avaliativas deverão ser comparadas
e analisadas através de uma tabela de classificação. Lembrando que a avaliação
antropométrica nutricional será o resultado dessas avaliações e, para isso, deve-
se ter certeza de que todos esses dados estão descritos de forma correta.

Por exemplo, o peso deve ser aferido no período matutino, de preferência


com o avaliado em jejum, com a bexiga vazia e usando roupas confortáveis,
que não sejam “pesadas”. O peso é a soma de todas as células corpóreas e
seus componentes (órgãos e tecidos). Essa avaliação deve ser realizada
preferencialmente em uma balança antropométrica (Figura 1, fotos 1 e 2), que
esteja perfeitamente calibrada e com o analisado em posição ortostática, podendo
estar ereto ou deitado.

FIGURA 1 – BALANÇA ANTROPOMÉTRICA

Foto 1: Balança antropométrica (vista lateral) Foto 2: Balança antropométrica

FONTE: O autor

Com relação à altura, esta avaliação deve ser realizada com o avaliado em
pé, totalmente ereto e com os membros superiores ao longo do corpo. Devemos
nos certificar de que esteja olhando para o horizonte (ângulo de 90°) em relação
ao chão e que os membros inferiores possuam um ponto de contato (como
uma parede, por exemplo) com os pés bem fixados no chão. Para aferir, basta
somente a parte móvel da balança antropométrica “encostar” no topo da cabeça
do paciente (comprimindo o cabelo).
25
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

O IMC pode ser obtido após serem aferidos o peso e altura do avaliado,
bastando somente realizar o simples cálculo: IMC = altura (m)² / peso (kg).

Com o resultado dessa conta podemos obter o volume corporal total de


um indivíduo, porém somente com esse parâmetro não podemos verificar a
distribuição de massa corpórea. Isso significa, por exemplo, que um atleta em
plena forma física poderá ter um IMC de 27, mas isso não significa que ele tenha
sobrepeso. No entanto, se levarmos em consideração uma pessoa sedentária, se
ela obtiver esse resultado, com certeza terá um risco alto de doenças coronárias.

Por fim, as medidas antropométricas mais comumente usadas são a medida


de circunferência e a medida de dobras (plicas) cutâneas, que é utilizada para
identificar em quais partes do corpo existe um acúmulo de gordura. Nesse
contexto, são realizadas medidas no tórax, cintura, abdômen, quadril, braços,
antebraços, coxa e panturrilha.

As medidas de dobras cutâneas são realizadas com um aparelho chamado


adipômetro (Figura 2). Normalmente, este aparelho é encaixado em contato com
dobras do corpo, como axilas, tríceps, abdômen e coxas.

FIGURA 2 – ADIPÔMETRO

FONTE: O autor

26
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

4 MEDIDAS DE AVALIAÇÃO DO
TREINAMENTO DESPORTIVO

Para direcionar os treinadores e os profissionais de educação física,


principalmente a fim de que estes possam oferecer um serviço com segurança e
qualidade, o CONFEF elaborou a Nota Técnica nº 002/2012, que tem a premissa
de orientar os profissionais a realizarem uma avaliação física detalhada antes da
elaboração de um programa de exercícios. Óbvio que caso sejam observados
alguns fatores de risco que possam ser agravados pelo treinamento, o profissional
deverá solicitar uma avaliação médica especializada, buscando identificar
restrições e estabelecer linhas de orientação para prescrições de exercícios e
treinos apropriados.

É importante para o treinador a capacidade de realizar uma avaliação física


detalhada, utilizando protocolos de estratificação de risco, com conhecimento
adequado dos testes, das indicações e contraindicações, das respostas
hemodinâmicas e respiratórias ao treinamento, do preparo do beneficiário, do
conhecimento dos mecanismos de funcionamento dos equipamentos, bem como
suas limitações e indicações de interrupção dos testes.

Essa Nota Técnica do CONFEF, que veremos posteriormente na


sua integridade, foi fundamentada nas diretrizes do American College
of Sports Medicine (ACSM), que é a grande referência no mundo
com relação à prática de atividade física de forma segura e orientada,
e no livro Recomendações sobre condutas e procedimentos do
profissional de Educação Física na Atenção Básica à Saúde, que
está disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/
imagem/2363.pdf.

27
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Falando em profissional de educação física, quanto à profissão,


o Conselho Federal de Educação Física estipula em suas diretrizes:

Resolução CONFEF nº 328/2016.


Dispõe sobre Especialidade Profissional em Educação Física na
área de Avaliação Física.

Veja a Resolução na íntegra em: https://www.confef.org.br/


confef/resolucoes/405.

Quanto à Nota Técnica n° 002/2012, temos a seguinte premissa:

NOTA TÉCNICA CONFEF n° 002/2012


Assunto: A avaliação física em programas de exercícios físicos
e desportivos
1. Apresentação
O Conselho Federal de Educação Física emite esta Nota
Técnica na perspectiva de informar, orientar e padronizar condutas
e procedimentos do profissional de Educação Física no uso da
avaliação física como elemento principal para prescrição de
exercícios físicos e desportivos.
Leia a Nota Técnica na íntegra em: https://www.confef.org.br/
confef/conteudo/837.

A grande pergunta de todo profissional que atua com atletas é: quando


devemos realizar uma avaliação física, principalmente, quando devemos
reavaliar? É importante realizar as avaliações sempre no início dos treinamentos,
para determinar o nível de intensidade que será usado com o atleta; no decorrer de
um período de treinamento, para determinar cargas de treino; e, principalmente,
pelo sistema de adaptabilidade do indivíduo. Não podemos passar este capítulo
sem falar desses princípios de treinamento. Começaremos pelo princípio da
individualidade.

28
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

4.1 AS VARIAÇÕES DOS PRINCÍPIOS


NAS AVALIAÇÕES DESPORTIVAS

De acordo com Tubino (1985, p. 100), “chama-se individualidade biológica


o fenômeno que explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o
que faz que com que não existam pessoas iguais entre si”. Cada indivíduo possui
uma estrutura e formação física e psíquica própria, nesse sentido, o treinamento
individual tem melhores resultados, pois obedeceria às características e
necessidades do indivíduo. Grupos homogêneos também facilitam o treinamento
desportivo. Cabe ao treinador verificar as potencialidades, as necessidades e
as fraquezas de seu atleta para o treinamento ter um real desenvolvimento. Há
vários meios para isso, além da experiência do treinador, que conta muito, os
testes específicos são primordiais.

Uma das capacidades do rendimento esportivo é a capacidade


biotipológica, que está dividida em capacidade constitucional
fenótipo e capacidade constitucional genótipo. O genótipo
é o responsável pelo potencial do atleta. Isso inclui fatores,
como composição corporal, biótipo, altura máxima esperada,
força máxima possível, percentual de fibras musculares dos
diferentes tipos, entre outros. O fenótipo é responsável pelo
potencial ou pela evolução das capacidades envolvidas
no genótipo. Neste se inclui tanto o desenvolvimento da
capacidade de adaptação ao esforço e das habilidades
esportivas como também a extensão da capacidade de
aprendizagem do indivíduo (BENDA; GRECO, 2001, p. 34).

O indivíduo deverá ser sempre considerado como a junção


do genótipo e do fenótipo, dando origem ao somatório das
especificidades que o caracterizarão, deve-se entender o
genótipo como a carga genética transmitida à pessoa e
que determinará preponderantemente diversos fatores e,
os potenciais são determinados geneticamente, e que as
capacidades ou habilidades expressas são decorrentes do
fenótipo (DANTAS, 1998, p. 39).

Para Dantas (1998), o campeão seria aquele que nasceu com um ‘dom
da natureza’ e que, aproveitando totalmente esse dom, o desenvolve através
de um perfeito treinamento. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, verificamos
em entrevistas de atletas brasileiros considerados fenômenos pela mídia, um
discurso que os bons resultados obtidos não eram frutos somente de um dom, e
sim de muito esforço, trabalho, treinamento, incentivos financeiros e técnicos.

Elevando a importância dos fatores ambientais, do fenótipo do atleta,


consequentemente, elevamos a importância do treinador, do profissional de

29
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

educação física e sua intervenção para o sucesso do atleta, de um campeão.


Não cabe aqui discutir fatos históricos ligados às tentativas de manipulações
das características genéticas, do genótipo de atleta, através, principalmente,
dos ideais da eugenia no decorrer do século XX. Entretanto, sempre caberá em
qualquer lugar o alerta com relação às tentativas de manipulação e violação do
corpo, da integridade e dos direitos de todo homem.

Princípio da adaptação

Quando falamos de adaptação temos que pensar em adaptação como um


princípio da natureza. Se não fosse esse princípio várias espécies não teriam
sobrevivido ou ao menos conseguido sua sobrevivência a alguns ambientes e
isso se deve graças à necessidade de adaptação. O próprio homem conseguiu
“sobreviver” no planeta, como espécie ou ser vivo, devido a essa capacidade de
adaptação.

A adaptação é a lei mais universal e importante da vida. Adaptações em nível


biológico se manifestam como mudanças funcionais e estruturais em quase todos
os sistemas fisiológicos. Podemos definir ‘adaptações biológicas no esporte’
como alterações de órgãos e sistemas funcionais que aparecem em decorrência
das atividades psicofísicas e esportivas (WEINECK, 2003).

A adaptação ocorre constantemente e está dirigida à melhor realização


das sobrecargas, representando a condição interna de uma capacidade que
foi melhorada com o seu funcionamento, e esse processo existe em todos os
níveis corporais. “O processo de adaptação e a sua capacidade pertencem ao
processo evolutivo e são uma característica importante na vida. Os processos
de adaptações são processos reversíveis e precisam constantemente ser
revalidados” (ISRAEL, 1983, p. 141 apud WEINECK, 1991, p. 22).

Weineck (2003) promulga em seus estudos que, no esporte, devido a


múltiplos fatores de influência, o genótipo é completamente transformado em
fenótipo raramente, mesmo se o indivíduo fizesse um treinamento mais pesado.
Para o autor, temos as fases sensitivas, que são zonas de limite, e que possuem
uma maior adaptabilidade, sendo encontradas em diferentes períodos, para
fatores de desempenho de coordenação e condicionamento.

Nessa zona limite, é possível uma melhor expressão das características,


e essa expressão é chamada de ‘período crítico’ (TUBINO, 2003). Quando
temos a assimilação de estímulos, chamamos de capacidade de adaptação ou
adaptabilidade, e isso se dá frente à mesma qualidade e quantidade de exercícios
ou carga de treino. Ela pode ser atribuída à relação organismo e ambiente, sendo
um ponto de vista da predisposição hereditária e sua expressão gênica (genética).

30
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Esse princípio do treinamento esportivo está ligado de uma forma muito


intensa ao fenômeno do estresse fisiológico. As pesquisas relacionadas ao
estresse tiveram início em 1920, tendo um grande “boom” no período entre 1950
e 1970, em que praticamente surgiu uma literatura científica básica sobre isso
(TUBINO, 2003).

Para Tubino (2003), a homeostase se define como o equilíbrio estável do


organismo humano em relação ao meio ambiente. Em resumo, a homeostase
representa o equilíbrio do ser humano, que se modifica por qualquer alteração
ambiental, isto é, para cada estímulo há uma resposta. Por estímulos definimos
o calor, os exercícios físicos, as emoções, as infecções, entre outros. Conclui-
se, com base num grande número de experiências e observações de diversos
autores, que em relação ao organismo humano, temos:

• estímulos débeis: não acarretam problemas;


• estímulos médios: apenas excitam;
• estímulos médios para fortes: provocam adaptações;
• estímulos muito fortes: causam danos.

Segundo Dantas (1998, p. 40), a “homeostase é o estado de equilíbrio


instável mantido entre os sistemas constitutivos do organismo vivo, e o existente
entre este e o meio ambiente”. Para o autor, a homeostase pode ser “quebrada”
por fatores internos, geralmente provenientes do córtex cerebral, ou externos,
como calor, frio, situações inusitadas, provocando emoções e variação da
pressão, esforço físico, traumatismo, entre outros. Sempre que a homeostase
é perturbada, o organismo apresenta um mecanismo de compensação, que
procura restabelecer o equilíbrio, portanto, todo estímulo provoca uma reação no
organismo, acarretando uma resposta adequada sobre isso.

Nesse sentido, o sistema fisiológico busca o equilíbrio constante, estando


sempre em um estado constante de equilíbrio. Tubino (2003) relata que, quando o
organismo é estimulado, imediatamente aparecem mecanismos de compensação
para responder a um aumento de necessidades fisiológicas. Podemos afirmar
que deve existir uma relação entre a adaptação de estímulos de treinamento e
o estresse, o que é explicado pelo princípio científico da adaptação. A definição
dada ao estresse por Tubino (2003) é a seguinte: estresse ou Síndrome de
Adaptação Geral (SAG) é a reação do organismo aos estímulos que provocam
adaptações ou danos, sendo que esses estímulos são denominados agentes
estressores ou estressantes.

31
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

A Síndrome de Adaptação Geral (SAG) costuma ser dividida em três fases,


até que o agente estressante na sua ação atinja o limite da capacidade fisiológica
de compensação do organismo:

1ª fase: reação de alarme.


2ª fase: fase da resistência (adaptação).
3ª fase: fase da exaustão.

A 1° fase, de reação de alarme, preconiza que os mecanismos auxiliares


são mobilizados para manter a ansiedade, a fim de que a reação não se difunda.
É caracterizada pelo desconforto, e está dividida em duas partes: o choque e
o contrachoque. Podemos definir como choque a resposta inicial do organismo
a estímulos aos quais não está adaptado, provocando a diminuição da pressão
sanguínea. O contrachoque seria uma inversão de situação, ou seja, quando
ocorre um aumento da pressão sanguínea.

A fase da resistência é denominada como fase da adaptação, que é obtida


pelo desenvolvimento adequado dos canais específicos de defesa, sendo essa
etapa caracterizada pela dor e pela ação do organismo resistindo ao agente
estressor e inicial, sendo a fase que realmente mais interessa ao treinamento
esportivo. A fase da exaustão é aquela em que as reações se disseminam, em
consequência da saturação dos canais apropriados de defesa, apresentando
como característica a presença do colapso, podendo chegar até a morte.

Tubino (2003, p. 103) ainda menciona que “Eüler observou três tipos de
estresse, de acordo com a origem dos estímulos estressantes, sendo eles o
estresse físico, o estresse bioquímico e o estresse mental”. É muito importante
a utilização correta do princípio de adaptação, tendo cuidado na aplicação das
cargas de treinamento, agentes estressantes. Não só de modo realista devemos
enxergar o princípio da adaptação, em termos de treinamento, o critério adaptativo
pode ser estendido a vários outros fatores além do treinamento fisiológico.

Princípio da sobrecarga

Depois de aplicada a carga de trabalho, o organismo se recupera


imediatamente com o objetivo de reconstruir a homeostase.
[...] Usar o fenômeno de assimilação de compensação ou
sobrecompensação permite a aplicação gradual do princípio
de sobrecarga, e também pode ser severamente danificado
pela má alocação do tempo de aplicação de carga. O equilíbrio
entre a aplicação de carga e o tempo de recuperação garantirá
que haja sobrecompensação permanente (DANTAS, 1998, p.
43-44).

32
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Segundo Tubino (2003), o momento exato de adaptação aos fatores


estressantes (estímulos) é, sem dúvida, um dos assuntos mais polêmicos no
treinamento esportivo. Há uma visão de que a adaptação é estabelecida durante
o intervalo intermediário de treinamento, enquanto outros estudos sustentam o
argumento de que a adaptação é feita após o último intervalo de treinamento.

Segundo Hegedus (1969), os diferentes estímulos produzem


desgastes diversos, que são substituídos quando o trabalho é
finalizado, e nisso podemos reconhecer a primeira reação de
adaptação, uma vez que o organismo é capaz de restaurar as
energias perdidas pelos diversos desgastes. Ele se cansa e
ainda se prepara para uma carga de trabalho mais pesada, que
chama de fenômeno de assimilação compensatória. Assim,
sabe-se que não apenas as energias perdidas são devolvidas,
mas também são criadas maiores reservas de energia de
trabalho. A primeira fase, que é a que restaura as energias
perdidas, é chamada de período de restauração, que permite
a chegada ao mesmo nível de energia anterior ao estímulo.
A segunda fase é chamada de período de restauração
prolongada, após o qual o organismo terá uma fonte maior de
energia para novos estímulos (TUBINO, 1985, p. 105-106).

Para Tubino (1985), estímulos mais fortes devem ser aplicados sempre ao
final da assimilação compensatória, principalmente no período mais longo da
fase de recuperação estendida, para que o limite de ajuste do atleta seja elevado.
Esse é o princípio da sobrecarga, também chamado de princípio da progressão
gradual, e sempre será fundamental em qualquer processo evolutivo atlético.

Tubino (2003) dá algumas indicações para a aplicação do princípio da


sobrecarga, que são referidas nas variáveis volume (quantidade) e intensidade
(qualidade), em diferentes tipos de treinamentos, tais como contínuo, intervalado,
circuito, musculação, flexibilidade, agilidade e técnica. O professor ou técnico deve
ter bom senso ao definir a sobrecarga que ele trabalhará com seu aluno ou atleta,
observando todos os demais princípios do treinamento esportivo, sempre levando
em consideração as necessidades e os desejos do atleta e, principalmente, o
treinamento dentro da ética e dos limites.

Princípio da continuidade

Esse princípio está intimamente relacionado ao da adaptação, uma vez que


a continuidade no tempo é essencial para que o corpo se adapte gradativamente.
Uma condição atlética só pode ser alcançada após alguns anos consecutivos de
treinamento, e os preparativos anteriores têm uma grande influência em qualquer
programa de treinamento contínuo (TUBINO, 1985). Essas duas premissas
explicam o chamado princípio da continuidade.

33
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Pode-se acrescentar que este princípio compreenderá sempre


no treinamento em curso de uma sistematização de trabalho
que não permita uma quebra de continuidade, isto é, que
apresente uma intervenção compacta de todas as variáveis
interatuantes. Em outras palavras, considerando um tempo
maior, o princípio da continuidade é aquela diretriz que não
permite interrupções durante esse período (TUBINO, 1985, p.
110).

A continuidade do treinamento evita que o técnico subtraia passos


importantes na formação atlética de um esportista. Em geral, um atleta que
tem um alto desempenho, certamente teve uma continuidade ao longo de sua
preparação, treinamento e também do aprendizado do esporte praticado.

A continuidade também é importante no treinamento amador e recreativo,


não apenas em termos fisiológicos, mas também, por exemplo, em termos
psicológicos e em outros aspectos, cujos fatores podem afetar a prática atlética.

Princípio da interdependência volume-intensidade

Esse princípio está intimamente relacionado ao da sobrecarga, pois o


aumento da carga de trabalho é um dos fatores que melhoram o desempenho.
Esse aumento será produzido em volume e intensidade. Para Tubino (2003),
pode-se dizer que os sucessos de atletas de alto rendimento, independentemente
da especialização esportiva, estão ligados a uma grande quantidade (volume) e
a uma alta qualificação (intensidade) para trabalhar, sendo essas duas variáveis
(volume e intensidade). As fases de formação devem ser sempre adequadas,
obedecendo a uma orientação de interdependência entre elas.

“Na maioria das vezes, o aumento dos estímulos de uma dessas duas
variáveis é acompanhado por uma diminuição do foco formativo da outra”
(TUBINO, 2003, p. 110). As variáveis de volume e intensidade nem sempre são
claramente explícitas para o treinador para que ele possa definir um treino ou
ação com base na relação entre eles. Portanto, usando o bom senso, na dúvida,
você nunca deve arriscar ou colocar o atleta ou praticante em risco. Um bom
treinador pode ver mais claramente a relação interdependente entre o volume e a
intensidade de uma ação ou atividade de treinamento.

Princípio da especificidade

De acordo com Dantas (2014), a partir do conceito de treinamento total,


quando todo o trabalho de preparação passou a ser feito de forma sistêmica,
integrada e voltada para objetivos claramente enunciados, a orientação do
treinamento por meio de métodos de trabalho veio, paulatinamente, perdendo

34
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

a razão de ser. Atualmente, nos grandes centros desportivos, essa forma de


orientação do treinamento foi totalmente abandonada em proveito da designação
da forma de trabalho pela qualidade física que se pretende atingir.

Associando esse conceito à preocupação em adequar o treinamento do


segmento corporal ao do sistema energético e ao gesto esportivo, utilizados na
performance, ter-se-á o surgimento de um sexto princípio esportivo: o princípio
da especificidade, que vem somar aos já existentes. Podemos dizer que esse
princípio sempre esteve intrínseco em todo o treinamento esportivo, desde o mais
rústico nas práticas utilitárias, mas tê-lo como princípio norteador e como um dos
parâmetros que devem ser levados em consideração é essencial ao estudo e
planejamento crítico e consciente nos treinamentos contemporâneos.

O princípio da especificidade é aquele que impõe, como


ponto essencial, que o treinamento deve ser montado sobre
os requisitos específicos da performance desportiva, em
termos de qualidade física interveniente, sistema energético
preponderante, segmento corporal e coordenações
psicomotoras utilizados. [...] Ao se estudar o princípio da
especificidade, de imediato sobressai um fator determinante,
que é o princípio da individualidade biológica, estabelecendo
limites individuais a esta capacidade de transferência. O
princípio da especificidade irá se refletir em duas amplas
categorias de fundamentos fisiológicos: os aspectos
metabólicos e os aspectos neuromusculares (DANTAS, 2014,
p. 50).

Isso serve, cada vez mais, para firmar na consciência do treinador que o
treino, principalmente na fase próxima à competição, deve ser estritamente
específico e que a realização de atividades diferentes das executadas durante
a performance com a finalidade de preparação física se justifica se for feita para
evitar a inibição reativa (ou saturação de aprendizagem). O segundo componente
dos aspectos neuromusculares é controlado, principalmente, pelo sistema nervoso
central ao nível de cérebro, bulbo e medula espinhal e pressupõe que todos os
gestos esportivos, realizados durante a performance, já estejam perfeitamente
“aprendidos”, de forma a permitir que, durante a performance, não se tenha que
criar coordenações neuromusculares novas, mas tão somente “lembrar-se” de um
movimento já assimilado e executá-lo.

Princípio da variabilidade

Também denominado de princípio da generalidade, encontra-se


fundamentado na ideia do treinamento total, ou seja, no desenvolvimento global,
o mais completo possível, do indivíduo. Para isso, deve-se utilizar das mais
variadas formas de treinamento (COSTA, 1996). “Quanto maior for a diversificação
desses estímulos – é óbvio que estes devem estar em conformidade com todos

35
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

os conceitos de segurança e eficiência que regem a atividade – maiores serão as


possibilidades de se atingir uma melhor performance” (COSTA, 1996, p. 357).

A atenção a esse princípio diminui a possibilidade do aparecimento de um


plateau no treinamento, ou mesmo o aparecimento de fatores desestimulantes,
agindo de forma contrária, atuando na motivação e, o mais importante,
possibilitando o surgimento de novas técnicas de treinamento, de estratégia,
táticas, entre outras, inclusive de novos gestos específicos, que sob um
determinado ponto de visão, sob um treinamento não variável, não seria possível
ser identificado ou ter aparecido. Um dos alicerces desse princípio é a criatividade,
tanto do atleta quanto do treinador.

Princípio da saúde

Segundo Costa (1996, p. 358), esse princípio encontra-se diretamente ligado


ao próprio objetivo maior de uma atividade física utilitária que vise à saúde do
indivíduo:

Assim, não só a ginástica localizada em si e suas atividades


complementares possuem grande importância. Também os
setores de apoio da academia, como o departamento médico,
a avaliação funcional e o departamento nutricional assumem
relevante função no sentido de orientar todo o trabalho, visando
à aquisição e à manutenção dessa saúde.

Podemos colocar que esse princípio está fundamentado na


interdisciplinaridade. No entanto, nem sempre o princípio da saúde tem sido o
principal norteador, ou mesmo um dos princípios norteadores.

Em práticas de atividades físicas hodiernas, verificamos não somente aquelas


ligadas à aquisição e à manutenção da saúde do praticante, mas também aquelas
de alta performance, que podem trazer malefícios devido ao compromisso com o
alto rendimento e resultados, e, ainda, as atividades que não têm compromisso
algum com o aspecto saúde. Atualmente, pessoas colocam a vida em risco em
esportes extremamente radicais quando tentam ultrapassar os limites físicos.
Portanto, cabe perguntar: os treinamentos dessas atividades estariam sob o
princípio da saúde? De certo modo, com relação ao preparo para a execução da
atividade, sim, pois é necessário um certo nível de condicionamento e saúde para
tais práticas, e pelo fato de os praticantes estarem fazendo algo que gostam, que
é importante para a vida delas e lhes dá prazer. A correlação entre esse princípio e
outras perspectivas do esporte é um ponto interessante para ampliar os estudos.

36
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

1 Analise as afirmações:

I. O processo de treinamento pode ser planejado e programado de


acordo com certos princípios, chamados princípios do treinamento
esportivo. Na prática, o técnico deve ser capaz de compreender
esses princípios antes de traçar programas de longo prazo para a
preparação de atletas, especialmente para jovens atletas. São: o
princípio da sobrecarga; o princípio da reversibilidade; o princípio
da especificidade; e o princípio da individualidade biológica.
II. O princípio da sobrecarga consiste em sobrecarregar o corpo do
atleta, de forma adequada, variando a frequência, a intensidade,
o volume e a duração do treinamento. A sobrecarga deve ser
individualizada e aplicada gradualmente ao longo do processo de
treinamento.
III. Quando o tempo dedicado ao período de regeneração é adequado
às cargas de trabalho, os níveis de atividade enzimática e de
substratos metabólicos são restaurados acima dos observados
antes do treinamento, e as fibras musculares são reduzidas.
Regenera-se completamente do trauma sofrido.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) As afirmativas I e III estão corretas.


b) Apenas a afirmativa I está correta.
c) Apenas a afirmativa II está correta.
d) Todas as afirmativas estão corretas.

A inter-relação dos princípios

De acordo com Costa (1996), faz-se lógico e transparente que essas leis
não existem apenas por existir. Cada princípio, considerado individualmente,
possui seu valor e função próprios, entretanto, a integração entre esses princípios
adquire inestimável importância. Assim, cada princípio assume uma importância
maior, um papel mais destacado quando associado aos outros princípios.

Apesar dessa importante correlação, os princípios da adaptação,


da sobrecarga, da continuidade e da interdependência volume-
intensidade é que vão não só dar corpo como orientar toda a
aplicação prática do treinamento, ou seja, são os verdadeiros

37
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

responsáveis pela “arrumação” de todo o processo de


treinamento, traduzida na forma dos micro, meso e macrociclos
de trabalho (COSTA, 1996, p. 358).

Podemos certamente concluir que somente com o conhecimento de todos


os princípios é possível realizar um treinamento ideal e eficaz. Provavelmente,
a excelência em treinamento deve estar acompanhada do profundo saber
de todos os princípios aqui comentados, além de outros tantos tópicos do
treinamento esportivo. O saber profundo desses princípios e de mais outros
tantos conhecimentos não é o único fator determinante para a excelência em
treinamento. A excelência só será atingida se houver a inter-relação perfeita entre
todos esses saberes e respectivas aplicações, e uma constante reformulação
dessa inter-relação, pois esse conceito de reformulação está embutido nos
próprios princípios.

Componentes das avaliações físicas

Após ver todos os princípios é importante determinar e saber as etapas das


avaliações para um melhor parâmetro de montagem de uma programação de
treinamento.

É fundamental seguir alguns parâmetros baseados em antropometria.


Uma sequência de fácil manuseio baseia-se em: anamnese, avaliação dos
parâmetros fisiológicos, verificação da composição corporal e uma excelente
avaliação antropométrica. É importante definir o local onde serão realizadas
essas avaliações, levando em consideração que as avaliações deverão seguir
sempre o mesmo local e horário em que foram realizadas desde a primeira vez.
Essas podem ser feitas em laboratórios específicos para avaliação física ou até
no “campo” de treinamento. Oriente o indivíduo que realizará as análises do
treinamento para trajar roupas que possibilitem o livre movimento, como shorts/
bermuda, top/camiseta, tênis e meia.

Importante reforçar que o atleta não deve ingerir nenhum tipo de bebida
que contenha cafeína na sua composição. Nos dias dos testes, não ter praticado
atividade física intensa e não se deve realizar os testes com o indivíduo em jejum
prolongado.

Anamnese

Segundo Franceschini et al. (2017), para que ocorra uma excelente


anamnese, devemos seguir alguns parâmetros importantes, que deverão ser
arquivados e, posteriormente, comparados para ver o nível de evolução do
avaliado. É importante conter na ficha de anamnese alguns parâmetros como:

38
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

diagnósticos clínicos (histórico de sintomas e enfermidades), em que serão


anotadas todas as intercorrências importantes acontecidas durante um período
de tempo que podem influenciar a prescrição de treinamento; exames clínicos
e físicos realizados anteriormente: caso o avaliado possua algum exame físico
anterior é importante para vermos como foi realizado e se houve algumas
mudanças importantes.

Problemas ortopédicos, uso de medicamentos e alergias são parâmetros


importantes para definir uma meta de treino ou adaptar uma prescrição conforme
a condição do avaliado. Importante também destacar, para o conhecimento do
avaliador e treinador, outros hábitos, como tabagismo e etilismo, e profissão, caso
o indivíduo labore em outros locais (LEÃO; GOMES, 2014).

Parâmetros fisiológicos

Segundo Leão e Gomes (2014), essas medidas são importantes para tipos e
cargas de treino. São utilizados parâmetros como: idade; no caso de o avaliado ser
do gênero feminino, o ciclo menstrual, para determinação do treinamento de força
e de cargas para se evitar lesões durante o ciclo hormonal; importante também
verificar a frequência cardíaca em repouso e de treino para determinarmos o
limiar aeróbio, além do IMC e da relação cintura quadril, o que pode nos dar um
parâmetro importante de doenças cardiovasculares.

Questionário par-q (physical activity readiness questionaire)

O PAR-Q é uma ferramenta simples de autoavaliação, normalmente usado


por treinadores para determinar a segurança ou os possíveis riscos do exercício
com base no histórico de saúde, sintomas atuais e fatores de risco do avaliado.
Também pode ajudar o treinador a criar uma prescrição de exercício ideal para um
indivíduo. Todas as perguntas foram elaboradas para ajudar a descobrir qualquer
risco potencial à saúde associado ao exercício. O risco potencial mais sério do
exercício intenso é o de um problema cardíaco ou outro evento cardíaco súbito
em alguém que não foi ainda diagnosticado com problemas cardíacos (WHALEY
et al., 2006).

Embora o PAR-Q não seja um histórico médico completo, as perguntas visam


revelar problemas cardíacos, circulatórios, de equilíbrio, médicos, emocionais e
articulares que podem tornar os exercícios difíceis, ou mesmo perigosos, para
algumas pessoas. Segundo Whaley et al. (2006), o PAR-Q pode e deve ser usado
por qualquer pessoa que esteja planejando iniciar um programa de exercícios e
mantê-lo, seja por conta própria ou com a ajuda de um treinador ou instrutor.
Também é recomendado para quem deseja aumentar a intensidade de sua rotina
de exercícios atuais.

39
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Quais são as perguntas do PAR-Q? O PAR-Q contém apenas sete perguntas


de sim ou não, tornando-o rápido e fácil de responder. Essas questões são:

1. O seu médico já disse que você tem problema de coração e que só deve
fazer atividade física recomendada por um médico?
2. Você sente dor no peito quando faz atividade física?
3. No último mês, você sentiu dor no peito quando não estava praticando
atividade física?
4. Você perde o equilíbrio por causa da tontura ou perde a consciência?
5. Você tem algum problema ósseo ou articular que pode ser agravado por
uma mudança em sua atividade física?
6. O seu médico está prescrevendo medicamentos (por exemplo,
comprimidos de água) para sua pressão arterial ou problemas cardíacos?
7. Você conhece algum outro motivo pelo qual não deveria praticar
atividade física?

Resultados PAR-Q

Segundo Adams (1999), as respostas a essas perguntas podem ajudar a


determinar a prontidão para iniciar um programa de exercícios ou aumentar a
intensidade do programa atual.

Se a maioria das respostas foram sim, o próximo passo é fazer o PAR-Q +,


que é uma série de 10 perguntas de acompanhamento. Essas perguntas mais
aprofundadas perguntam se o indivíduo tem problemas de saúde específicos,
como artrite e câncer. Tendo uma resposta sim a qualquer uma delas é
recomendado que o indivíduo consulte um médico antes de fazer um teste de
condicionamento físico ou aumentar substancialmente a atividade física.

Se a maioria das respostas do PAR-Q foram não, pode estar razoavelmente


certo de que o indivíduo pode se exercitar com segurança e tem baixo risco de
ter quaisquer complicações médicas decorrentes do exercício. Ainda é importante
começar devagar e aumentar gradualmente. Também pode ser útil fazer uma
avaliação de condicionamento físico para determinar por onde começar (ADAMS,
1999).

IMC

Como vimos, o IMC é extremamente importante, porém não traz parâmetros


fiéis, ainda mais com pessoas treinadas, em que o índice de massa deste indivíduo
será maior devido a sua condição e isso está relacionado com o aumento de
massa magra e não com o aumento de massa gorda (FIGURA 3).

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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

FIGURA 3 – IMC

FONTE: <https://www.efdeportes.com/efd175/analise-do-imc-em-
escolares-na-zona-rural.htm>. Acesso em: 6 out. 2021.

RCQ – Relação Cintura-Quadril

Este é um parâmetro importante, pois correlaciona a concentração de massa


gorda com os riscos cardíacos. Quanto mais elevada a concentração de gordura
próxima ao sistema cardíaco, maior o risco para o desenvolvimento de doenças
neste sistema (Figura 4). Para se calcular, devemos utilizar uma fita métrica em
volta da região da cintura, na parte mais estreita, passar em volta do quadril, na
parte mais larga, e o resultado deve ser calculado dividindo o resultado obtido da
cintura pelo do quadril.

FIGURA 4 – TABELA DE RISCO CINTURA-QUADRIL

FONTE: <https://www.tuasaude.com/relacao-cintura-quadril/>. Acesso em: 6 out. 2021.

Análise visual postural

Esta análise é fundamental para se visualizar alguns desvios que podem


prejudicar o indivíduo ou o treino que está sendo executado, é importante
também para determinar a biomecânica do exercício. Neste tipo de avaliação, a
importância da visualização será sempre a coluna vertebral (Figura 5), os joelhos
(Figura 6) e os pés (Figura 7).

41
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

FIGURA 5 – COLUNA VERTEBRAL

FONTE: <https://pt.depositphotos.com/vector-images/escoliose.
html?qview=91303554>. Acesso em: 6 out. 2021.

FIGURA 6 – JOELHOS

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Tres-diferentes-tipos-alinhamentos-
do-membro-inferior-A-geno-varo-B_fig1_303486788>. Acesso em: 6 out. 2021.

FIGURA 7 – PISADA

FONTE: <https://rsaude.com.br/img/noticias/g/voce-cuida-da-sua-
postura-20122017172039.png>. Acesso em: 6 out. 2021.
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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

1 Uma das medidas mais importantes na antropometria e de fácil


aferição é a medida de peso. Para realizá-la, são importantes
alguns parâmetros e, principalmente, alguns requisitos. Com
relação à aferição de peso, assinale a alternativa CORRETA:

a) Verificado em uma balança calibrada, em que o indivíduo é


posicionado em pé, descalço, no centro da balança e com roupas
leves. O valor aferido representa o peso atual do indivíduo
naquela data.
b) Definido com alguns parâmetros, tais como idade, biótipo, sexo
e altura. Devido às variações individuais, o peso pode variar de
10% para baixo ou para cima.
c) Referência na avaliação às mudanças recentes de peso e em
caso de impossibilidade de aferição do peso atual. Geralmente, é
o peso que se mantém por maior período.
d) O indivíduo deve estar em posição supina e com leito horizontal
completo. Marcar o lençol na altura da extremidade da cabeça e
da base do pé no lado direito do indivíduo com o auxílio de
um triângulo.

5 AVALIAÇÃO NEUROMOTORA
É importante salientar que a avaliação neuromotora é essencial para a saúde
e as funções fisiológicas dos indivíduos. Sempre buscamos analisar a força dos
grupos musculares, denominados flexores e extensores de tronco, com o objetivo
de identificar alguma assimetria na força desses músculos, já que possíveis
diferenças de força entre esses grupos musculares podem estar ligadas a dores
ou lesões nessa região (KENDALL, 2007). Poucos indivíduos vão a óbito pela
falta de flexibilidade ou uma força diminuída, no entanto, muitas pessoas sofrem
com problemas lombares crônicos e a diminuição da força muscular com o fator
de envelhecimento, isso associado à falta e/ou à carência de atividade física,
tornando-se visível a importância de exercícios regulares para a manutenção do
aspecto neuromuscular, baseados em flexibilidade, força e resistência muscular
localizada.

43
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

5.1 TESTES DE AVALIAÇÃO


NEUROMOTORA
Dentre estes testes, podemos começar com os de flexibilidade, que
demonstram a qualidade física, que pode ser definida com uma certa amplitude
do movimento em algumas articulações e apresenta relevante papel de níveis
de aptidão física e saúde. Os testes de flexibilidade podem ser realizados com
medidas angulares, em que os resultados são expressos em graus realizados
através de aparelhos próprios para eles. Os testes de medidas lineares,
como sentar e alcançar, são os mais difundidos por prescindirem de alguns
instrumentos para serem realizados. Os testes de medidas adimensionais
avaliam a flexibilidade, de forma passiva, com aproximadamente 20 movimentos
específicos (KENDALL, 2007).

Testes angulares são aqueles que possuem os seus resultados em ângulos


(formados entre os dois segmentos corporais que se opõem na articulação). A
medida dos ângulos é denominada de goniometria e tem sido o método mais
frequentemente utilizado na literatura sobre flexibilidade e mobilidade articular.

Instrumentos:

• Flexômetro de Leighton.
Fleximeter – (baseado no Flexômetro de Leighton).
Eletrogoniômetro.
• Goniômetro – (goniometria).

Testes adimensionais são os testes de flexibilidade como adimensional


quando não existe uma unidade convencional, tal como ângulo e centímetros, para
expressar o resultado obtido. Como regra, eles não dependem de equipamentos,
utilizando-se unicamente de critérios ou mapas de análise preestabelecidos.

• Testes de Carter – Wilkinson e Beighton – Horan.


• Flexiteste – original (20 movimentos analisados).
• Flexiteste – adaptado (8 movimentos analisados).

Testes lineares se caracterizam por expressar os resultados em uma escala de


distância, tipicamente em centímetros ou polegadas. Utilizam primariamente fitas
metálicas, réguas ou trenas para a mensuração. Os testes lineares apresentam
como pontos fracos a incapacidade de dar uma visão global da flexibilidade do
indivíduo e a provável interferência das dimensões antropométricas sobre os

44
Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

resultados dos testes.

Banco de Wells

Sentar e alcançar – Seat and Reach Test.


• Extensão de tronco e pescoço – Trunk-andreck Extension Test.
• Afastamento lateral dos membros inferiores – Side Split.
• Teste de Schoberlike – avalia a coluna cervical.
• Teste de Schober – avalia a coluna torácica e lombossacro.
• Teste de Ott – avalia a coluna torácica e lombossacro.
• Teste de tocar os dedos para flexibilidade do manguito rotador.
• Teste de Amplitude de Movimento das Costas Passivo.
• Teste de Amplitude de Movimento das Costas Ativo.
• Testes Combinados de Flexão do Tronco e da Articulação do Quadril de
Calliet.

Teste de força

Segundo Kendall (2007), a avaliação de força é fundamental para uma


prescrição eficaz, tendo como objetivo a promoção da saúde. É importante
também para atenuar a diminuição de força muscular e densidade óssea,
principalmente quando associada ao processo de envelhecimento. Os estudos
de força têm mostrado uma redução dos riscos de lesão articular e musculares
que podem ocorrer durante as atividades. Dentre esses parâmetros, podemos
destacar também a resistência muscular, que é a capacidade de executar e
contrair os grupos musculares repetidamente por um período específico, podendo
causar algum tipo de fadiga ou manter estatisticamente uma contração muscular
voluntária máxima por um período prolongado.

Alguns testes de força podem ser aferidos de forma: isométrica ou estática,


em que a musculatura envolvida nesse teste desenvolve tensão sem mudar o
comprimento da fibra muscular; isotônica, também conhecida como dinâmica,
em que a tensão deve estar constante em toda a amplitude de movimento,
podendo acontecer de forma concêntrica e excêntrica; e isocinética, que são
testes realizados com contrações com velocidade constante em amplitudes de
movimentos. Neste teste existe a necessidade de equipamentos especiais que
permitem a velocidade constante na contração, independentemente da carga.

Para uma mensuração de força e resistência, são empregados desde


aparelhos, como dinamômetros, tensiômetros e até pesos livres. Podemos
classificar esses testes em força máxima, força explosiva e força rápida.

45
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Testes de avaliação de força máxima podem ser classificados em testes


dinâmicos, estáticos e isocinéticos. Os testes dinâmicos utilizam teste de peso
máximo, também conhecido como o famoso teste de 1 RM (1 repetição máxima),
que avalia a força dinâmica em um determinado músculo ou um grupo muscular,
e se refere à quantidade máxima de peso levantado de uma só vez, de forma
correta e completa.

O teste de 1 RM tem a finalidade de aferir a quantidade de força dinâmica


máxima executando um movimento completo, abrangendo o arco articular como
um todo. Devemos tomar cuidado com esse teste, pois ele deve ser aplicado em
pessoas que já fazem uso de trabalho de força e tenham conhecimento corporal
(KENDALL, 2007).

Para esse teste, serão utilizados aparelhos de treino de força que contenham
diversos pesos ou barras e anilhas. Na metodologia do teste, constam as
seguintes etapas: primeiro, escolhe-se o músculo ou grupo muscular que será
testado. O avaliado realiza uma série de tentativas para determinar a maior
carga que é capaz de mover em determinado movimento. A carga inicial deve ser
leve, em função de ser a primeira tentativa, e vai aumentando a carga até que o
avaliado consiga realizar no máximo uma repetição completa com a maior carga
possível.

Teste estático: este teste utiliza equipamentos específicos, que geralmente


são os tensiômetros e os dinamômetros, para testar a força máxima isométrica. O
tensiômetro tem a característica de ser leve, versátil, portátil, durável, fácil de usar
e mensura a força em praticamente todos os ângulos na amplitude do movimento.
A finalidade é mensurar a força máxima de um músculo ou grupamento em
determinado ângulo do movimento.

1 Algumas pessoas são mais flexíveis e possuem um talento natural


para algumas atividades, como a ginástica artística ou para
atividades mais comuns, como a yoga. Outras têm mais força,
tendo uma maior facilidade para atividades, como musculação
ou levantamento de peso, como atletas, e existem pessoas que
têm uma maior potência aeróbia, sendo mais predispostas a
atividades, como corrida e natação. Através disso, percebemos
que existem pessoas diferentes, que apresentam diferentes níveis
iniciais de aptidão física, tanto morfológica, cardiorrespiratória,
muscular e articular. Lendo essa sentença, podemos defini-la
com qual princípio de treinamento desportivo?

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Capítulo 1 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

a) Princípio da adaptabilidade.
b) Princípio da especificidade.
c) Princípio da individualidade.
d) Princípio da progressividade.

2 Este princípio estabelece que, para adquirir uma boa aptidão


física, o organismo precisa ser submetido a esforços cada
vez maiores (mais intensos ou por um tempo maior, ou ainda
em maior frequência), de tal maneira que possa provocar no
organismo reações de adaptação que acarretem na melhoria da
aptidão. A isto, chamamos de:

a) Volume/intensidade.
b) Especificidade.
c) Reversibilidade.
d) Sobrecarga.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Vimos neste capítulo as referências históricas do treinamento desportivo
e como esses fatos contribuíram para o que conhecemos atualmente. Vimos
a evolução, principalmente tecnológica, e como ela influencia no planejamento
individual e/ou coletivo. Vimos também o quão importante é a antropometria, que
provém da antropologia. O principal fator da antropometria é a avaliação como
um todo, e sendo uma avaliação de precisão, ela é extremamente importante
para avaliar dimensões físicas, nutricionais e composição corporal no ciclo de
treinamento.

Um fator muito importante de conhecimento são os métodos existentes de


avaliação e como estamos inseridos em um “mar” tecnológico, muitos aparelhos
estão sendo produzidos com a mais alta tecnologia, beneficiando não só o
avaliado, mas também o avaliador. Vimos que as técnicas que não são tão
tecnológicas são também eficientes, pois nem todos dispõem de uma condição
financeira favorável para a compra desses equipamentos. Portanto, mesmo
utilizando técnicas menos tecnológicas, o planejamento do treinamento também
consegue ser eficaz, e existem diversas técnicas, chamadas de técnicas “puras”,
que conseguem realizar esses procedimentos.

47
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Por fim, vimos as avaliações neurológicas e como elas são eficientes no


planejamento de melhora de performance de um atleta ou de uma equipe. Através
de técnicas simples de avaliação de força, estrutura muscular e flexibilidade
podemos aumentar o rendimento de um atleta de forma excepcional.

Até o próximo capítulo!

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LEÃO, L. S. C. S.; GOMES, M. do C. R. Manual de nutrição clínica para


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PETROSKI, E. L. Antropometria: técnicas e padronizações. 5. ed. São Paulo:


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prescription. 7th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2006.

49
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

50
C APÍTULO 2
O FATOR PLANEJAMENTO NO
TREINAMENTO DESPORTIVO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Planejar de forma técnica os tipos de treinamentos para pessoas e atletas


pensando em tempo de treino.
• Entender como é a influência dos programas de avaliação e planejamento no
tipo muscular e como a má gestão destes pode influenciar de modo negativo
em uma competição de alto rendimento.
• Aprender tanto o treinamento coletivo quanto o treinamento individualizado.
• Aprender como, onde e quando devemos intensificar o treino, dar rest pause e
incentivar os indivíduos com as mudanças de treino.
• Entender as bases do treinamento personalizado frente à periodização de
treino.
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

52
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Atualmente, em quase todos os esportes, o ano de treinamento é dividido em
vários períodos e ciclos com o objetivo específico de alcançar o alto rendimento
por meio de uma preparação sistemática. Com isso aparecem fases e períodos,
surgindo, assim, o termo periodização.

Segundo Bompa (2001), entende-se por periodização a subdivisão da época


de preparação em estágios com objetivos, diretrizes e características específicos,
o que implica a definição de procedimentos e diretrizes de treinamento específicos.
As fases são importantes no planejamento da formação, visto que têm uma
influência decisiva na organização e estruturação da formação. Os fundamentos
que justificaram a necessidade de dividir a temporada em determinados períodos
e fases de preparação residem, inicialmente, na necessidade de responder às
especificidades do treino, determinadas pelas variações climáticas, adaptação
do organismo e, por fim, pelo reconhecimento de peculiaridades inerentes às
diferentes modalidades esportivas, que devem ser atendidas e respeitadas pela
lógica do processo de preparação.

O conceito fundamental que promove a periodização é baseado na síndrome


de adaptação geral, que sugere que a adaptação do corpo passa por três fases
quando se depara com uma necessidade. Neste caso, o estímulo oferecido é
chamado de choque: quando o corpo enfrenta um novo estímulo de treinamento,
a “dor” (desconforto) se desenvolve e o desempenho realmente diminui. A
segunda fase é a adaptação do estímulo: o corpo se adapta ao novo estímulo de
treinamento e o desempenho aumenta (TUBINO, 2003).

Segundo preconiza Tubino (2003), a terceira fase é caracterizada pelo


cansaço: o corpo já se adaptou ao novo estímulo, sem qualquer outra adaptação.
Nessa fase, o desempenho pode não mudar ou, no caso de muitos atletas
altamente motivados, o desempenho pode diminuir devido ao excesso de
treinamento. A grande importância da periodização do treinamento esportivo
reside na possibilidade de controlar o processo da forma esportiva como um
estado ótimo de preparação (o melhor possível) do atleta para alcançar certos
resultados esportivos.

Em geral, a forma esportiva é uma unidade harmônica de todos os aspectos


(componentes) da capacidade ideal do atleta: físico, mental, técnico e tático.
Somente a presença de todos esses componentes permite afirmar que o atleta
está em boa fase da forma, tentando fazer coincidir o período de bons resultados
com o período das grandes competições. Nesse sentido, a periodização do
treino desportivo visa organizar e orientar o processo de preparação para que a

53
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

manifestação da forma aconteça durante a competição ou durante as competições


mais importantes da temporada dividida em três períodos: preparação, competição
e transição, que correspondem às três fases do formulário, respectivamente,
aquisição, manutenção e perda temporária (WEINECK, 2003).

2 MONTAGEM E PLANEJAMENTO DO
TREINAMENTO DESPORTIVO
O programa anual é uma ferramenta que orienta o treinamento atlético.
Segundo Bompa (2001), o treinamento é baseado em um conceito de
periodização, que, por sua vez, é dividido em fases e princípios do treinamento.
O conhecimento existente sobre planejamento esportivo, bem como o controle de
treinamento, é algo que nenhum profissional deve ignorar.

É igualmente verdade que os treinadores que atuam na área do alto


rendimento esportivo aplicam esses conhecimentos de forma fundamentalmente
artesanal e individual para melhorar o desempenho de seus atletas (FEAL;
NAVARRO; FONTOIRA, 2001). O principal objetivo do treinamento é fazer com
que o atleta atinja um alto nível de desempenho em uma certa circunstância,
especialmente durante a principal competição do ano, perfazendo uma boa forma
atlética (BOMPA, 2001).

2.1 O FATOR PLANEJAMENTO NO


TREINAMENTO DESPORTIVO
Para uma boa estruturação, temos os conceitos da planificação:

• A planificação não é intuitiva. Pelo contrário, tem que seguir um processo.


• Os objetivos devem estar de acordo com os problemas e necessidades,
devendo estabelecer-se claramente.
• As metas, os objetivos e, em última instância, os fins devem ser
alcançáveis, realistas (o que não exclui uma certa ousadia e um certo
nível de risco).
• A planificação é um processo sequencial e logicamente ordenado, não
se desenvolve tudo simultâneo e nem caprichosamente.
• A planificação está imersa no meio ambiente, não podendo desprezá-lo
e nem trabalhar à margem dele.
• Toda planificação pressupõe uma troca efetiva a respeito da situação
existente.
• Planifica-se para a execução. Não se pode falar de verdadeira

54
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

planificação sem a intenção de pôr em prática o trabalho exclusivamente


teórico, deve, portanto, existir vontade de fazê-la efetiva (SANCHO, 1997
apud FORTEZA, 2001).

Nesse contexto, Forteza (2001) considera que o planejamento do treino


desportivo é a organização de tudo o que acontece nas fases de preparação
do atleta, portanto, o sistema que relaciona os momentos de preparação e
competição. Essa definição deixa em aberto o problema atual do planejamento de
desempenho competitivo. Estrutura e planejamento são dois termos indissociáveis
no processo de preparação esportiva, mas são diferentes. A estrutura organiza o
cronograma para treinamento e competição. A estrutura formativa é de carácter
temporário, considera o início e o fim do processo de preparação e qualificação e
será determinada basicamente por:

• Calendário competitivo, que considera o número de competições, a


frequência, o caráter e a dispersão ou concentração das competições
em um período de tempo.
• Organização e dosificação das cargas, que considera se estas serão
diluídas ou concentradas. A concepção adotada no caráter da carga,
quer dizer, a proporcionalidade entre as cargas gerais e as especiais.
• As direções de treinamento, objetos de preparação, que consideram
as direções determinantes do rendimento (DDR) e as direções
condicionantes do rendimento (DCR).

A estruturação do rendimento desportivo é considerada hoje uma das


principais condições para se ter um resultado esportivo e isso se aplica a qualquer
esporte.

Após as Olimpíadas de Tóquio, muitos atletas jovens têm


se destacado e até ganhado medalhas em seus esportes, mas
o que podemos dizer sobre o treinamento de alto rendimento com
crianças? Leia a notícia sobre Giovanna Wacksman, atleta de futebol
do Botafogo com 12 anos de idade, que já se revela uma superatleta,
disponível em: https://www.fogaonet.com/noticias-do-botafogo/
giovanna-waksman-vai-jogo-botafogo-ganha-camisa-rafael-sera-
emprestada-internacional/.

55
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Para analisar uma estrutura de formação atual, deve-se partir da estrutura


formulada por Matveiev (1977), conhecida mundialmente como periodização de
formação. Periodização e planejamento são conceitos diferentes: periodização
é o período e planejamento é a integração do processo de receita. O objetivo
deste estudo é mostrar as diferentes estruturas da periodização pedagógica do
treinamento esportivo no contexto de uma pesquisa bibliográfica.

2.2 O TREINAMENTO ESPORTIVO


COMO PROCESSO EDUCACIONAL
O treinamento esportivo moderno como processo educacional ocorre sob a
orientação de princípios científicos consagrados, que podem ser divididos em dois
grupos básicos: gerais e específicos (SIFF; VERKHOSHANSKY, 2000).

A teoria do treinamento esportivo afirma que o conhecimento dos princípios


científicos, comumente referidos como leis e regras, podem, na prática,
pavimentar o caminho para o sucesso. O próprio regulamento apresenta objetivos,
dependências e elos essenciais no domínio da atividade desportiva. Basta formar
bases sólidas para a obtenção de resultados esportivos não subjetivos. A diferença
entre as manifestações inconscientes das leis e as regras da atividade, que aqui
também inclui o esporte, dá a liberdade de escolher uma de suas variantes e leva
a resultados diferentes, dependendo da variante escolhida e das circunstâncias
específicas.

Segundo Tubino (2003), o efeito de usar os mesmos meios e métodos de


preparação esportiva em diferentes situações não é o mesmo. Por isso atribui
particular importância à procura de objetivos e à consequente concretização de
princípios consolidados, isto é, de teses, que no estado ideal revelam as regras
fundamentais e, ao mesmo tempo, a liderança, mais precisamente das condições
de prática esportiva. Portanto, o cumprimento do Regulamento de Preparação
Esportiva está vinculado à elaboração dos princípios norteadores.

Os princípios são adequados apenas se revelarem objetivamente as regras


e não forem deduzidos ao acaso. É aqui que os princípios e regras relevantes
trabalham juntos: as regras são primárias e os princípios (como uma representação
das regras) são secundários.

A implementação do plano, fundamentalmente, aborda os principais


problemas metodológicos a serem elaborados nas formas de preparação
esportiva. Existem pontos em comum quando se trata de fazer ajustes em
um plano de preparação anual e um plano de preparação de longo prazo.

56
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Veremos, agora, o plano de preparação do produto em cada estágio de seu


desenvolvimento. As etapas do planejamento da preparação têm muito a ver
com praticamente tudo aquilo que devemos fazer antes de chegarmos ao final da
elaboração de qualquer planejamento e devemos dar-lhe forma, anotando. Essas
etapas estão profundamente ligadas aos problemas relacionados com os fatores
que influenciam o planejamento (ZAKHAROV; GOMES, 1992).

É importante reunir e organizar as diferentes partes que, uma vez


devidamente harmonizadas, constituem o próprio plano. Há um grande número de
operações a serem realizadas, algumas das quais são muito diferentes. Estude,
analise, compare, caracterize pessoas, construa baterias de teste e/ou controle
de testes, entre outras.

Estes são alguns fatores que não devemos esquecer quando formos montar
um plano de treino:

1. Análise da situação anterior.


2. Conhecimento detalhado de modelos de competição e treinamento.
3. Caracterização de cada atleta e seu respectivo grupo. Esta caracterização
resulta da comparação dos dados dos dois fatores anteriores (modelos
de jogo e preparação) com os resultados da análise da situação anterior.

Dessa comparação, teremos dados sobre o que fazer a seguir:

a) Estabelecer os objetivos da preparação: elementos fundamentais de


ordem física, tática, técnica, psicológica e teórico-metodológica. Os
objetivos da preparação podem ser determinados pelos grupos de
atletas e individualmente.
b) Estabelecer objetivos de desempenho: classificação na prova;
promoções para níveis superiores; convocar jogadores para times
estaduais, nacionais e internacionais.
c) Definição de ideias de jogos (no caso de jogos desportivos): será com
base nos objetivos estabelecidos e no conceito de jogo definido que
veremos quanto tempo vai demorar para os atingir.

4. Conhecimento do calendário competitivo.

No caso de elaboração de um plano de preparação, basta conhecer as


principais competências, o que lhe permitirá estabelecer o prazo específico.

• Para a elaboração de um plano anual de preparação, no entanto,


é necessário conhecer todas as competições em que os atletas
participarão, independentemente da sua natureza.

57
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

• Estabelecido o calendário competitivo anual completo, é determinada


a ordem de importância das partidas ou competições. É a ordem de
importância que servirá de base para a periodização do processo
de preparação anual e a determinação dos diferentes mesociclos de
treinamento, cada um com sua especificidade.

5. Programação de taxas de treinamento esportivo. Sendo a forma esportiva


o resultado qualitativo do processo de preparação, parece claro que não
deve continuar a ser avaliada por meio de frases, como ‘me sinto bem’,
‘não me sinto bem hoje’ etc. Quantas vezes nós treinadores já ouvimos
essas frases, ou semelhantes, que tentam demonstrar que o praticante
se sente ou não capaz de realizar determinadas tarefas (no treinamento
ou mesmo diretamente na competição). A forma desportiva é o objetivo
do treino e é fundamental que possamos identificá-la. O desenvolvimento
tecnológico, na era das tecnologias da informação, facilita essa ação.
Portanto, a forma esportiva deve ser expressa, na medida do possível,
por meio de dados objetivos obtidos em diagnósticos médicos biológicos,
bem como por meio de dados específicos fornecidos pela própria
competição. Assim, é possível ter:

a) resultados em testes de controle específicos;


b) valores de índices funcionais, consumo máximo de oxigênio, capacidade
de esforço anaeróbio;
c) resultados de comportamento psíquico.

6. Estabelecer números de indicadores de prontidão; para cada mesociclo,


o número de: dias de preparação; sessão de treinamento; jogos e
competições; dias de descanso etc.
7. Teste. É necessário identificar os momentos em que é conveniente
e útil aplicá-los de acordo com a divisão em mesociclos obtida após
a determinação da ordem de importância dos jogos e das diferentes
competições. Os resultados são registrados em planilhas individuais.
8. Controle médico. Pode ser geral ou parcial. As datas de implementação
devem ser estabelecidas. Além disso, as marcações não podem ser
escolhidas aleatoriamente, há momentos em que é necessária a
supervisão médica e outros em que é aconselhável. Aqui estão alguns
exemplos:
• Antes de começar.
• Antes de um período difícil de competição, para saber em que condições
se encontram os atletas.
• Antes do período de transição, para saber como organizar esse tempo
para cada atleta.

58
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

9. Meios de manter e restaurar a eficiência. Eles serão específicos


dependendo das características dos mesociclos nos quais serão usados.
10. Apoio científico e metodológico. Também terá um caráter específico,
dependendo dos diferentes tipos de mesociclos, que podem ser:

a) pesquisas laboratoriais (por exemplo, determinações bioquímicas);


b) investigações de campo (por exemplo, observação e coleta de dados
para avaliação estatística da própria equipe e dos futuros adversários;
controle do treinamento por meios telemétricos).

11. Aspectos materiais e administrativos.

É você quem finalmente permite que o plano se concretize ou não.


Precisamos ter uma ideia muito clara de ‘em que podemos confiar’. Esta também
é a área por excelência para uma cooperação estreita e eficaz com diretores de
esportes.

12. Elabore o plano e não se esqueça da documentação anexa (fichas


desportivas, principais grupos de recursos a utilizar no processo de
treino, documentação de treino, aspectos de individualização de treino
etc.).

Como todo plano tem necessariamente uma parte descritiva e um gráfico,


cada treinador deve desenhar um certo número de formas (incluindo mesociclo,
microciclo, treinos, formas de atleta etc.).

2.3 PLANEJAMENTO DE LONGO


PRAZO
Atualmente, você dificilmente pode esperar muito dos planos de curto prazo,
que ocorrem em quase todas as áreas da vida. Parece não haver nada melhor do
que exemplos (GOMES, 2009). Alemanha, Canadá e Cuba, três países que não
pertencem ao grupo das grandes potências mundiais em termos de população,
mas que se inserem no campo dos esportes de alto rendimento.

Se muitos fatores diversos contribuíram para essa situação, que em cada


caso foram necessariamente diferentes, a verdade é que esses países se
beneficiaram muito com a existência de planos de formação de longo prazo.

59
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Quanto ao plano de preparação de longo prazo, existem duas alternativas


para a sua elaboração. O primeiro refere-se à preparação dos atletas de um clube
e o segundo aos componentes das diferentes equipes. Portanto, não é realizado
para todas as categorias de atletas e inclui apenas os grupos devidamente
selecionados.

Esses planos costumam ter duração de quatro anos (influenciados pelos


ciclos olímpicos), mas também podem ser desenvolvidos por um período mais
curto (dois ou três anos), como superar o baixo nível de qualidade dos atletas
de um determinado clube ou por muito tempo. Um plano de preparação de longo
prazo consiste nos seguintes componentes:

Dados preliminares (parte descritiva)

a) Caracterização do valor atual da respetiva modalidade e aprofundamento


das suas tendências de desenvolvimento. Conhecer os modelos e analisar a
situação anterior são aspectos que têm muito a ver com outros já mencionados.

Além disso, também é necessário examinar com muito cuidado quais


aspectos são fundamentais e decisivos para que os componentes individuais
do processo de treinamento (físico, técnico e psicológico) alcancem resultados
de alto nível. Outros aspectos estão relacionados à necessidade de prever os
resultados e estabelecer a hierarquia de valores para cada modalidade.

b) Composição do grupo e caracterização individual e detalhada dos atletas.


Devem aparecer aqui os elementos que nos permitem ter a nossa disposição
uma primeira imagem da matéria humana.

É necessário ter a informação mais completa possível sobre cada atleta,


referente à(a):

• Idade, peso, altura, equipe em que compete.


• Funções desempenhadas (alternativa principal), tempo de exercício,
origem (antigo treinador).
• Índices morfológicos e funcionais.

Gomes (2009) explicita em seus estudos que é fundamental uma pequena


anamnese destacando os dados relevantes (parâmetros do esforço anterior
do atleta, elementos relativos ao último período imediatamente anterior ao
planejamento, estado de saúde, trauma sofrido e características fundamentais
do processo preparatório a que foi submetido). Todos esses elementos podem e
devem ser registrados.

60
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

c) Novos elementos em preparação. Precisamos estar atentos a novos


desenvolvimentos, e o mais importante é saber exatamente como e quando
podemos apoiar e enriquecer efetivamente o nosso processo de formação.

Elementos de conteúdo gráfico

a) Definição de objetivos. Os objetivos serão divididos em gerais, grupais e


individuais. Para atingir seus objetivos, você precisa se fazer algumas perguntas
durante o processo de preparação. Para uma melhor e mais eficiente organização
do trabalho, é bom que tenhamos uma divisão muito clara dos problemas a
resolver. Portanto, uns se referirão ao aprendizado, outros à correção de um ou
outro detalhe, e outros apenas ao seu aprimoramento.

Parece necessário destacar algumas considerações sobre a metodologia


a ser seguida para a determinação dos objetivos. Em seguida, iniciaremos com
uma análise do desempenho da equipe e dos atletas no ano esportivo anterior,
bem como uma apreciação dos resultados esportivos alcançados.

Os objetivos de desempenho podem ser de ordem diferente. Portanto,


podemos ter, entre outras possibilidades, o seguinte:

• Classificações das várias competições (as principais) em que a equipe ou


atleta participará. No caso da equipe, deve-se estabelecer a quantidade
de pontos com que será possível obter a vaga desejada. Para o atleta
individual, deve ser feita uma previsão do resultado necessário.
• Promoção de um a dez atletas pela Seleção Nacional. Quanto aos
objetivos de preparação, eles devem ser aumentados ano a ano e
compreender os elementos fundamentais que permitirão o cumprimento
do modelo e dos objetivos finais. Devem ser estabelecidas metas para
cada componente do processo de treinamento esportivo (preparação
física geral e especial, preparação técnica, preparação tática, preparação
psicológica e preparação teórica) e para cada ano de sua duração.
• b) Calendário de competições.

Inclui apenas as competições principais (campeonato nacional, competições


internacionais oficiais), de acordo com as quais serão processadas.

c) Formas e locais de preparação. As formas de preparação podem ser:


fases (em altura, costa, entre outras), torneios multi-dias, fases especiais de
preparação, preparação normal no clube, fases de preparação comuns com
clubes ou seleções, entre outras.

61
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

As formas e locais de preparação são escolhidos em função das


possibilidades materiais existentes, dos objetivos propostos, da periodização do
processo formativo e da necessidade de aperfeiçoamento.

O diagnóstico e os exames médicos são importantes para conhecer a


evolução dos índices (carta desportiva).

d) Parâmetros de preparação. Este item deve incluir os dados mais


significativos e cruciais para o progresso: número de sessões de treinamento
(com a equipe, com grupos de atletas, individualmente), número de partidas e/
ou competições, número de dias de preparação, número de dias de treinamento,
viagem, número de dias de descanso, tempo dedicado à preparação física, tática
e técnica, entre outros.

Plano anual de treinamento do ciclo

O plano anual é um documento obrigatório para qualquer categoria de atleta.


Portanto, pode ou não vir de um plano de preparação de longo prazo. Nesse
caso, servirá para atingir gradativamente os objetivos traçados em segundo plano
e deverá incluir elementos com influência direta, no que diz respeito à preparação
dos atletas para as necessidades atuais e de longo prazo.

Um plano de preparação anual deve incluir:


Conjunto de dados preliminares (parte descritiva).

a) Equipe de especialistas. Serão apenas anotadas as mudanças que


possam ter ocorrido e estudadas as possíveis consequências nas diferentes
formas de colaboração e na dinâmica de relacionamento que deve existir entre os
diferentes membros da equipe.

b) Composição do grupo de atletas.


c) Definição de metas.
d) Calendário de competições.

Com relação ao plano de preparação de longo prazo, Weineck (2003) relata


que se devem considerar todos os jogos ou competições em que a equipe e/ou
atletas competirão, independentemente de sua natureza. O calendário competitivo
completo nos fornece a periodização do treinamento.

A ordem de importância dos jogos nos leva a dividir o processo de preparação


em diferentes mesociclos, cada um com sua especificidade bem definida.

a) Formas e locais de preparação.

62
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

b) Parâmetros de preparação e compromisso. Escalonado por mesociclos,


com registro e controle estrito da relação entre o que é planejado e o que
é feito.
c) Testes de controle. Exame médico. Direção de moda esportiva.
d) Meios de recuperação e esforço.
e) Assistência metodológica científica (pesquisa, documentação, controle
de treinamento, entre outros).
f) Aspectos materiais e administrativos.
Análise detalhada da situação anterior (dos atletas e da equipe). Proceda
conforme descrito no plano de preparação de longo prazo.

2.4 MONTAGEM DE PROGRAMAS DE


AVALIAÇÃO
Durante todo o processo da atividade motora do indivíduo, muitas tarefas
motoras têm que ser resolvidas. A solução dessas tarefas está relacionada
à percepção da atividade motora (AM). A atividade motora, que faz parte da
atividade integral do indivíduo, deve estar sempre atenta e orientada. A diferença
entre o princípio da atividade motora e o movimento em função do organismo
humano se manifesta por meio da locomoção motora humana de duas maneiras:

• manutenção constante da posição corporal (postura);


• deslocamento do corpo em relação ao meio circundante ou deslocamento
de algumas de suas partes em relação a outra (PLATONOVOV, 2008).

As ações motoras constituem um meio completo e específico de preparação


do atleta, e cada tipo de atividade esportiva se caracteriza pelo seu conjunto de
ações motoras. Como regra geral, um movimento conjunto por si só ainda não
constitui um AG independente. A ação com a qual o atleta resolve a tarefa motora
é composta por movimentos articulares distribuídos e interligados no espaço e no
tempo. Em cada ação motora, movimentos isolados podem ser condicionalmente
distinguidos. Assim, no salto em altura, destacam-se: impulso, ação combinada
de elevar a perna acima da barra e aterrissar (BARBANTI, 1997).

O exercício físico é a base da preparação do atleta como processo


pedagógico. Portanto, os exercícios físicos são a principal forma de utilização das
ações motoras na preparação esportiva. O exercício físico integrado ao processo
de preparação do atleta pode ser definido como a atividade motora incluída no
sistema geral de possíveis influências pedagógicas destinadas a resolver as
tarefas de preparação do atleta. A corrida, por exemplo, adquire importância no

63
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

exercício físico quando é utilizada de acordo com as necessidades justificadas do


ponto de vista de preparação do atleta (GOMES, 2009).

O exercício está necessariamente relacionado ao método, uma vez que o


processo organizado, visando à melhoria de quaisquer qualidades do indivíduo
e assumindo um sistema estável de ações repetidas, possui as interconexões
necessárias para a solução das tarefas planejadas e não apenas um conjunto
aleatório de operações. Portanto, tais ações, em essência, formam um método.

Na linguagem esportiva, o termo “meio” indica o que é usado e o termo


“método” como os meios são usados no processo de atingir a meta de preparação.
Assim, o exercício representa os meios e a forma como é utilizado representa o
método (TUBINO, 2003).

Ao lado das ações motoras, existem muitos outros fatores relacionados à


mídia, cujo uso direcionado determina a eficiência da preparação do atleta. Por
exemplo, como meio de preparar o atleta, o seguinte deve ser considerado:

• Equipamentos especiais: o material desportivo, as instalações


desportivas, os aparelhos de treino desportivos, os aparelhos de
ginástica, a barra de ferro, a aparelhagem de diagnóstico – testes,
piscinas.
• Fatores da natureza: a influência do ar e da água, a radiação solar, as
condições climáticas das zonas montanhosas etc.
• Condições sociais e ecológicas de vida dos atletas: as condições de vida
cotidiana, o regime de sono, os estudos, o trabalho, os fatores social,
econômico e cultural etc.
• Alimentação do atleta: deve ser vista como fator importante na
preparação, o que determina, no organismo, a recepção das quantidades
necessárias de substâncias ricas de energia, água, microelementos,
vitaminas e sais.
• Fatores de recuperação: a massagem, os preparados farmacológicos, a
fisioterapia, a sauna etc.
• Influências informativas: a informação verbal e visual do técnico, a
observação como forma de obter dados.

É costume caracterizar o exercício físico pela forma e pelo conteúdo. A forma


do exercício físico é determinada pelos parâmetros dinâmicos e cinemáticos.
A cinemática fornece a ideia do aspecto externo dos movimentos do atleta e
caracteriza-se pelos seguintes parâmetros:

• Espaço: a posição do corpo e de suas partes e a amplitude do movimento.


• Tempo: a duração do exercício.

64
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

• Espaço e tempo: a velocidade, a aceleração e a desaceleração.

As características dinâmicas dão uma ideia das forças que influenciam


o movimento do corpo. Esses parâmetros são influenciados pelas forças
relacionadas ao movimento. A ideia integral da forma de exercício físico está
expressa na ‘técnica do exercício físico’. O conteúdo do exercício físico é revelado
no processo de atividade locomotora imediata do indivíduo e é caracterizado por
sua “carga”.

É preciso orientar, na diversidade dos exercícios físicos, o que melhor


corresponde, em volume mais completo, às tarefas de preparação. A seguir, você
poderá ver algumas maneiras de classificar os exercícios com base em diferentes
indicações.

Classificação dos exercícios

Dependendo do regime de contração muscular em movimento, a contração


muscular em exercício pode ser estática ou dinâmica. Os exercícios físicos
estáticos são aqueles relacionados à manutenção da posição adotada, como a
posição do corpo nos exercícios ginásticos nas argolas “cruzadas”. Os exercícios
físicos dinâmicos estão relacionados ao movimento do corpo ou partes do atleta
(por exemplo, exercícios para correr e pular).

A divisão dos exercícios em dinâmicos e estáticos é muito convencional, pois


a maioria dos movimentos é realizada combinando regimes dinâmicos e estáticos
com contrações de diferentes músculos. Portanto, para realizar o movimento
dinâmico da mão ou perna, todos os músculos do tronco devem primeiro se
certificar de que estão em uma determinada posição estática. Por outro lado,
para manter a posição, é necessário que, antes de qualquer ação que perturbe
essa posição, sejam realizados os correspondentes movimentos dinâmicos
compensatórios (FORTEZA, 2001).

Quanto à estrutura do movimento, os exercícios dinâmicos dividem-se


em cíclicos, acíclicos e mistos (BOMPA, 2001). Os exercícios cíclicos são
caracterizados pela repetição múltipla de ciclos de movimento em relação à
estrutura biomecânica. Ao final de cada ciclo de movimentos, todas as partes do
corpo do atleta voltam à posição inicial (corrida, natação, ciclismo etc.), o que
permite a possibilidade de repetição dos movimentos por muito tempo.

Os exercícios acíclicos caracterizam-se pela variação no final do movimento


em comparação com a inicial, o que exclui a possibilidade da repetição reiterada
e ligada de tais movimentos (ex.: arremessos e ações motoras nos jogos
desportivos).

65
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Quanto aos exercícios mistos, são os que combinam os movimentos do


tipo cíclico e acíclico (ex.: o salto com vara). Dependendo do volume da massa
muscular ativa que participa no movimento, os exercícios físicos classificam-se em
exercícios localizados, regionais e globais (TUBINO, 2003). Os exercícios locais
são aqueles cuja realização participa até um terço de toda a massa muscular
do corpo do atleta (ex.: o exercício feito apenas com os músculos do braço ou
da perna). Os regionais são os exercícios cuja realização envolve de um terço
a dois terços de toda a massa muscular (ex.: exercícios com halteres deitado).
Os exercícios globais são os que envolvem mais de dois terços de toda a massa
muscular (natação, corrida, esqui etc.). Essa classificação é importante do ponto
de vista do sistema energético do exercício (GOMES, 2009).

Weineck (2003) relata que, com todas as condições iguais, os exercícios


globais têm valor energético maior. O aperfeiçoamento físico do indivíduo adquire
uma orientação especial de preparação somente quando os exercícios são
escolhidos considerando-se sua significância para o aperfeiçoamento da atividade
motora na modalidade desportiva praticada.

A orientação especial constitui o pivô metódico, que determina a estrutura


e o conteúdo dos meios de preparação do atleta. É por isso que se utiliza mais
amplamente, na teoria e na prática de preparação dos atletas, a classificação
dos exercícios físicos segundo a medida de semelhança das características
cinemáticas e dinâmicas das ações motoras que compõem o exercício físico
dado, com as ações motoras que baseiam a modalidade escolhida da atividade
competitiva. De acordo com esse indício, todos os exercícios físicos dividem-se
em exercício competitivo, preparatório especial e preparatório geral.

Exercício competitivo

É uma atividade motora integral, dirigida no sentido da solução da tarefa


locomotora que constitui o objeto da competição e realizada de acordo com as
regras da modalidade a ser competida.

É importante salientar os exercícios competitivos propriamente ditos,


realizados em condições reais, com todos os requisitos próprios das competições.
A forma de treino (modelo) do exercício competitivo coincide com a primeira forma
pelas principais características cinemáticas e dinâmicas dos movimentos, mas
cumpre-se nas condições do treino e é dirigida para a solução das tarefas deste.
Como exemplo, podemos mencionar o combate no boxe ou a corrida na distância
igual à de competição, objetivando obter o resultado máximo (GOMES, 2009).

66
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Exercício preparatório especial

Representa o exercício que é muito semelhante, por seu parâmetro, aos


competitivos. A especialização é um princípio de melhoria muito importante em
qualquer tipo de negócio. É por isso que esse tipo de exercício representa o
principal meio que condiciona a melhoria dos resultados desportivos. Deve-se
notar que os exercícios preparatórios especiais não são idênticos aos exercícios
competitivos, caso contrário, não haveria razão para recorrer a ele. Esses
exercícios são usados para garantir a influência mais considerável e seletiva
que corresponde aos parâmetros determinados do exercício competitivo integral
(MATVEIEV, 1977).

Os exercícios preparatórios especiais representam um modelo seletivo dos


componentes da atividade competitiva. São muito importantes na preparação
especializada do atleta, visto que, nos estágios iniciais de preparação, a adesão
total ao exercício competitivo é inacessível, devido ao baixo nível de aptidão
física. Existe a possibilidade de modelar, no processo de treinamento, alguns
parâmetros, com limitada reprodução simultânea de outros. Tudo isso torna o
exercício acessível.

Os exercícios preparatórios especiais aproximam-se gradualmente dos


competitivos em seus parâmetros. Como exemplo dessa modelagem parcial,
podemos usar um ciclista ao pedalar em ritmo de corrida, mas com transmissões
baixas, ou em corridas com uma motocicleta na liderança. Nesse caso, um
parâmetro corresponde totalmente ao fator rítmico dos movimentos, e o outro se
limita ao regime de força do exercício (BOMPA, 2000).

Nos esportes cíclicos são muito comuns exercícios preparatórios especiais,


nos quais são previstas distâncias menores que a distância da corrida, mas
com a velocidade da corrida, ou, inversamente, trechos mais longos, mas com
velocidade menor que a corrida.

Em modalidades de coordenação complexa, como a ginástica, o exercício


pode ser utilizado com a execução de toda a combinação de competição, mas
com uma distribuição dos elementos mais longa no tempo do que o exercício de
competição (competitiva).

67
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

1 A periodização é um dos conceitos mais importantes no


planejamento do treinamento. O termo vem da palavra período,
que é uma porção ou divisão do tempo em segmentos menores,
mais fáceis de controlar, chamados de fases. Existem três
períodos:

1) Período de planejamento.
2) Período preparatório.
3) Período competitivo.
4) Período transitório.

Quais seriam eles?


a) 1, 2 e 4.
b) 2, 3 e 4.
c) 1, 2 e 3.
d) 1, 3 e 4.

Exercício preparatório geral

Para Tubino (2003), o exercício pode ou não ser semelhante aos principais
exercícios competitivos. Visto que o organismo humano é único, o desenvolvimento
de algumas propriedades não ocorre isoladamente do desenvolvimento de outras.
Uma especialização extremamente estreita, na qual o necessário desenvolvimento
multilateral é ignorado, contradiz o desenvolvimento natural do organismo.

Ter isso em mente é fundamental em crianças e adolescentes. Todas as


experiências na preparação de atletas mostram que o sucesso da especialização
esportiva em uma determinada modalidade depende em grande parte do
desenvolvimento físico multilateral. De acordo com essa disposição, a melhoria
do nível geral das capacidades funcionais do corpo do atleta é essencial para
o sucesso da especialização desportiva. Essa importante tarefa preparatória é
resolvida com a ajuda dos exercícios preparatórios gerais (ZAKHAROV; GOMES,
1992).

A prática desportiva acumulou ao longo da sua história uma enorme


quantidade de exercícios preparatórios gerais, porém, na resolução de tarefas
preparatórias, tendo em conta a sua abordagem particular, a composição dos

68
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

meios de preparação geral do atleta é escolhida de forma a poder contribuir


precisamente para o desenvolvimento de qualidades dominantes no desporto
escolhido.

Todos os meios de treinamento esportivo mencionados não são apenas


formas de preparação física, mas também de preparação técnica, tática e
psicológica. Ao mesmo tempo em que são usados meios específicos, são
utilizadas formas variáveis de preparação intelectual, moral e estética. A seguir,
serão descritos exemplos de exercícios para desenvolver habilidades motoras.

Métodos pedagógicos de preparação desportiva

O método de preparação desportiva está diretamente ligado ao objetivo


pretendido, o qual representa um sistema estável de ações consecutivas
direcionadas para a solução de tarefas programadas anteriormente.

A preparação integral do atleta pressupõe a obtenção de vários objetivos,


que determinam os mais diversos meios e métodos de preparação desportiva.

Para cada componente do sistema de preparação do atleta, existe uma


composição de métodos. Na sequência, será abordada apenas a característica
geral dos métodos de influência pedagógica. Tais métodos, para podermos
estudá-los com profundidade, serão divididos em três grupos: influência prática,
verbal e demonstrativa (MATVEIEV, 1977).

A especificidade da preparação do atleta pressupõe a orientação


predominante das influências sobre o aperfeiçoamento das capacidades
locomotoras do organismo humano, que determina o significado dominante dos
métodos de influência prática.

No processo de preparação do atleta, tais métodos são apresentados,


preferencialmente, pelos métodos de exercício físico. Os dois outros grupos de
métodos, influência verbal e demonstrativa, são complementares para a ótima
realização dos métodos práticos (ZAKHAROV; GOMES, 1992).

Os métodos de influência prática são referendados pelos métodos de


exercício físico conhecidos como: programados, de jogos e competitivos.

Método de influência prática “programado”

A programação é uma condição necessária para a influência direcional


dos métodos de treinamento e ajuda a resolver com eficácia as tarefas de

69
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

preparação. Qualquer método possui um certo grau de programação, mas o


grau e os parâmetros são diferentes (TUBINO, 2003). Os métodos de exercícios
programados prescritos são muito diversos. Os aspectos internos do conteúdo de
cada método possuem características muito específicas. É conveniente comparar
as características de cada método com os objetivos específicos de preparação do
atleta. Cada método possui uma série de variáveis, que são utilizadas conforme a
demanda pela tarefa de movimento aumenta. Portanto, apresentaremos a seguir
apenas a classificação geral dos métodos com base em evidências externas
baseadas em exercícios. Todos os métodos de exercícios programados podem
ser divididos em dois subgrupos:

• Métodos orientados para o ensino da técnica das ações motoras.


• Métodos orientados para o treinamento das capacidades motoras.

Essa divisão com certeza é considerada convencional, pois qualquer


execução prática do exercício possui influência conjugada sobre diversos
aspectos de preparação do atleta. Dessa forma, tal classificação permite distinguir
os diversos elementos que são próprios desses métodos.

Métodos de ensino da técnica de ações motoras

Destacam-se dois enfoques metodológicos principais do ensino da técnica


das ações motoras: o integral e o dividido.

a) Método de ensino integral


Sua premissa é realizar um estudo abrangente sobre a técnica do movimento.
Sua principal vantagem é que a tecnologia da atividade esportiva pode ser
assimilada na interação permanente de suas etapas de forma holística, de forma
que o ritmo da ação e sua estrutura geral sejam mantidos.

Quanto às deficiências, podemos destacar:

• A dificuldade de aplicar o método no ensino das ações motoras


complexas.
• As dificuldades na correção dos erros, pois o técnico não é capaz de
corrigir imediatamente todos os erros cometidos durante a realização do
exercício.
• A dificuldade de prestar atenção seletiva ao aperfeiçoamento de certos
elementos das Ações Motoras (AM).
• O rápido cansaço do atleta promovido pela múltipla repetição do
exercício.

70
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Esse método é utilizado para o aprendizado preliminar de movimentos


motores relativamente simples, que envolvem técnicas ou movimentos, que
não podem ser divididos sem destruir as etapas e os elementos destacados. É
amplamente utilizado na fase de consolidação e aprimoramento da tecnologia
AM. O método de execução integral múltipla de AM pode ser usado nas seguintes
variantes (HARTMANN et al., 2009):

• execução repetida da AM com o consequente aperfeiçoamento dos


elementos e dos detalhes;
• repetição múltipla da AM nas condições permanentes com o objetivo de
sua consolidação;
• execução com as condições crescentes que se aproximam das
realizadas em competição;
• execução nas condições complexas (com muito cansaço, com a
presença do adversário, com as condições climáticas etc.).

b) Método de ensino dividido (analítico-sintético).

Representa a divisão da atividade motora em elementos ou em fases


relativamente independentes, que podem ser aprendidos de modo autônomo,
com sua posterior ligação globalizada.

A possibilidade de uma concentração mais completa da atenção do atleta


durante a fase de apostas, bem como melhorias mais detalhadas, constituem
seus aspectos positivos. Ao utilizar os componentes dessa tecnologia, exclui-se a
execução repetitiva das peças e etapas que não foram assimiladas. Dessa forma,
erros estáveis podem ser evitados (destacados no método de ensino integral).
Gomes (2009) afirma que a execução da parte isolada não é tão cansativa quanto
a execução da ação integral. Portanto, o número de repetições de elementos na
ação pode ser aumentado. Recomenda-se dividir as atividades esportivas para
minimizar o número de desfigurações na parte destacada. Sua assimilação não
pode ser considerada automação (nível de hábito).

Uma desvantagem considerável desse método é que ele não deve ser usado
onde AM não pode ser segmentado (por exemplo, pular ou chutar na ginástica) ou
não pode ser segmentado sem desfiguração significativa da parte proeminente.
Mesmo no caso mais vantajoso, quando partes ou fases relativamente
independentes são destacadas na tecnologia AM, é impossível manter
completamente suas próprias características na composição de um AM completo.
Quando as partes separadas das atividades esportivas são apresentadas na
forma de exercícios, chamados de ‘exercícios semelhantes’, as deficiências dos
métodos de ensino segmentados são reduzidas. Eles representam variantes
simplificadas de ações de trabalho ou partes separadas da AM geral (FORTEZA,
2001).
71
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

As principais variantes desse método são:

• o estudo separado dos elementos da ação com posterior ligação para o


movimento total;
• o ensino consequente dos elementos da técnica da AM com sua ligação
gradativa (ensino da técnica da AM com o método de “intensificação”;
• o destaque dos elementos da AM, para curto período, para sua precisão;
• o aperfeiçoamento dos elementos da AM sob a forma de exercícios.

Métodos de treino das capacidades motoras

Na classificação geral dos métodos voltados ao treinamento de habilidades


motoras finas, existem indicações externas para o exercício, portanto, o exercício
pode ser realizado em um intervalo contínuo (permanente) ou em regime misto.
Cada uma das variantes pode ser caracterizada por exercício constante ou
variável. Os seguintes modos de exercício planejados são então destacados,
aplicáveis para melhorar as habilidades motoras (TUBINO, 2003).

O método de exercício de carga contínua é caracterizado por desempenho


de exercício prolongado sem mudanças frequentes de ritmo. As mudanças de
ritmo de carga são programadas com antecedência e podem ser concentradas
na prática de várias maneiras. Esse tipo de capacidade aeróbia (VO2 máx.) é
utilizado nos esportes, principalmente nas modalidades em que o desempenho
depende dessa fonte de energia, tais como natação, ciclismo, atletismo, remo,
canoagem, entre outros (GOMES, 2009).

O método de exercício contínuo pode ser controlado em sua intensidade


pelos parâmetros de frequência cardíaca, concentração de lactato e velocidade
média de execução do exercício: o volume é controlado pela duração total do
exercício. O importante é que o técnico observe com que dinâmica de carga
pretende administrar o trabalho, pois esta está diretamente correlacionada com o
nível apresentado pelo atleta.

Método de exercício de carga com intervalo

O exercício de carga com intervalo deve ser estruturado com o objetivo do


treinamento em mente. Na organização da sessão de treinamento, o treinador
seleciona a dinâmica de carga compatível com o seu objetivo de treinamento,
determinando, assim, a dinâmica a ser utilizada ou o número de repetições ou
séries que deve compor o programa de treinamento. O volume está diretamente
relacionado ao tipo de esporte. Os exercícios de intervalo devem ser uma
prioridade em esportes de combate, jogos de equipe e uma série de outros
esportes de curta duração (BOMPA, 2000).
72
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Método de exercício de carga mista (intervalado e contínuo)

É importante observar a dinâmica das cargas mistas, em que a prioridade


é sempre começar com cargas intervaladas e terminar com cargas contínuas.
Na prática, é muito comum que o treinador decida, por exemplo, no início do
treinamento, treinar o sistema anaeróbio alático e finalizar o treinamento com o
sistema aeróbio, podendo compor o trabalho de diferentes formas, dependendo
do esporte e da prioridade do treino (MATVEIEV, 1977).

Os métodos discutidos não cobrem toda a multiformidade de meios para


resolver as tarefas de treinamento de atletas. Na prática, várias variantes de
métodos combinados têm sido amplamente utilizadas. Com base em métodos
combinados, muitas vezes é possível resolver as tarefas de preparação com mais
sucesso, pois ampliou-se as possibilidades de exercícios de prescrição.

Método competitivo

O método competitivo deve ter características de competições A competição


é a expressão mais brilhante do método competitivo, que tem uma abrangência
muito ampla e pode ser utilizado em qualquer modalidade baseada em exercícios
físicos. A subordinação do desempenho do atleta à tarefa de vencer o adversário,
ou seja, superar o resultado obtido anteriormente, é a pista mais característica do
método competitivo do atleta (BOMPA, 2000).

O fator rivalidade cria condições emocionais nas quais as mudanças


funcionais no organismo do atleta são potencializadas. Nas condições do
método competitivo, o efeito do treinamento é mais expressivo do que no caso
da utilização de outros métodos. É justamente assim que se explica a particular
importância do método na preparação de atletas de alto nível. A desvantagem
desse método é a limitação da direção do atleta no processo de realização do
exercício de forma competitiva, bem como a dificuldade de dosar e controlar a
carga, garantindo o complexo de influência (conjugado) em diferentes aspectos
da preparação e, portanto, é muito eficaz na fase de aperfeiçoamento esportivo. A
aplicação do método competitivo na fase inicial de aprendizado da técnica AM, ou
com baixo nível de desenvolvimento de habilidades, não é recomendada, pois o
resultado pode ser negativo (TUBINO, 2003).

Método de jogo

O método de jogo se dá não apenas por meio dos jogos usuais (vôlei,
futebol, basquete etc.), mas é muito mais amplo nos meios e formas de atuação.
A principal peculiaridade do método de jogo é desenvolver a atividade locomotora

73
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

do indivíduo. Como base para o desenvolvimento, podem ser utilizadas


situações de vida imaginadas (jogos de imitação), certos movimentos e ações
características do trabalho humano e da prática militar (ZAKHAROV; GOMES,
1992). Se o mesmo exercício não tem um sentido de desenvolvimento semelhante
e está totalmente subordinado à tarefa de aperfeiçoar a técnica de ação ou a
velocidade de movimento, neste caso é o método de exercício planejado ou o
método competitivo aplicado. No método de jogo, sempre há um confronto entre
os participantes do jogo, mas está subordinado ao desenvolvimento do exercício.

No caso em que um jogo esportivo passa a ser o conteúdo do exercício


realizado com base no método do jogo e, dependendo do seu resultado, ocorre a
competição, as diferenças entre os dois métodos desaparecem (BOMPA, 2000).
A par da forma, a falta de uma programação rigorosa e a emotividade claramente
expressa na atividade dos jogadores são os sinais mais característicos do método
de jogo.

A diversidade das situações de jogo exige uma independência criativa na


escolha das soluções mais adequadas e mais eficientes para as tarefas motoras.
Nesse sentido, em geral, o complexo de diferentes hábitos e habilidades motoras
se manifesta no jogo, características essas que potencializam o valor do método
do jogo no processo de preparação de jovens atletas. Na aplicação do método de
jogo, deve-se ter em mente que ele não permite a dosagem precisa da carga, uma
vez que não há a possibilidade de prever as ações de cada um dos participantes
(GOMES, 2009).

Métodos de influência verbal

A própria denominação desse método deixa claro o tipo de interação entre


técnico e atleta que ele envolve. A solução de qualquer que seja a tarefa de
preparação do atleta é impossível sem a utilização das formas verbais de contato.
Dentre os métodos de influência verbal, podem ser citados a explicação, a
conversa, o comando, a indicação corretiva, a análise verbal e a avaliação.

Convém relevar o conteúdo emocional e o sentido lógico (informativo) de


cada método verbal (BARBANTI, 1997). O alto nível pedagógico do técnico
manifesta-se, em grande medida, na maneira como são tratados os atletas,
sabendo utilizar a palavra para a ativação e para a direção eficiente da sua
atuação. É muito difícil falar dos caminhos concretos de aplicação de tal ou qual
método, pois são demasiadamente diversificadas as situações que determinam a
escolha do processo pedagógico.

74
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

O técnico apoia-se frequentemente em critérios de difícil detecção e ligados à


intuição, à experiência pessoal, ao conhecimento das particularidades individuais
do atleta e à situação concreta. Não poderíamos, neste livro, analisar todas as
situações possíveis e os métodos de influência verbal ligados a elas (TUBINO,
2003). É por isso que temos de nos limitar à constatação geral do papel do
método na preparação dos atletas.

Métodos de influência demonstrativa

No que diz respeito à demonstração, pretendemos utilizar, no processo


de formação do atleta, as possibilidades dos diferentes sistemas sensoriais
humanos. Existem três grupos de métodos de influência demonstrativos:

• Os métodos de demonstração visual podem ser divididos em


apresentação da atividade motora, demonstração do material de
ensino e orientação visual. A demonstração da atividade motora é o
método de ensino mais popular, aplicado na fase de aprendizagem.
Na base do ensino, com a ajuda da demonstração, existe a imitação. É
especialmente importante usar esse método ao trabalhar com crianças,
pois elas têm uma capacidade altamente desenvolvida de imitar. O
método de demonstração visual é sempre combinado com o método de
influência verbal.

Para criar uma ideia geral, a prova completa é aplicada, entretanto, para
apresentar as peculiaridades da FA em detalhes, a prova adaptada é usada.
Os movimentos são apresentados em ritmo lento e, na medida do possível,
enfatizando expressivamente as posições do corpo com paradas (FORTEZA,
2001). A demonstração do material didático oferece possibilidades adicionais
para o atleta compreender os meios de resolução da tarefa motora: gravações
de vídeo, cartazes, desenhos e diagramas. A orientação visual permite que o
movimento no espaço e no tempo seja executado corretamente. Como pistas
visuais, objetos ou sinais são usados, a partir dos quais o atleta deve construir
seu movimento (por exemplo, são usadas “ondas” de luz ao longo da pista de
corrida ou na piscina).

• Os métodos de demonstração auditiva (som) criam os pontos sonoros


de referência, necessários para o início e o fim do movimento ou seus
elementos. Com um sinal sonoro combinado com antecedência, é
possível indicar o momento do esforço principal (por exemplo, a curva
do corpo na execução de um elemento de ginástica no aparelho). Com
o auxílio da demonstração sonora, o ritmo das ações motoras é bem
assimilado, utilizando, para isso, um animador sonoro.

75
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

• Os métodos de demonstração motora (cinestésicos) visam organizar


a percepção do atleta das sensações originadas do aparelho motor. A
técnica de fixar as posições do corpo ou de suas partes em momentos
separados (por exemplo, a postura do ciclista ou do boxeador) também
ajuda a ensinar esta posição. Será muito útil para o atleta sentir a posição
correta versus a má posição (TUBINO, 2003).

1 Um indivíduo pretende correr uma maratona em 4 horas.


Consequentemente, ele precisa de um plano de treino para
atingir os objetivos. A proposta do educador físico que coordenará
o plano de treinamento é de 180 dias até o dia da maratona. O
período total para conseguir isso é chamado de:

a) Misociclo.
b) Mesociclo.
c) Ciclo semestral.
d) Macrociclo.

3 PERIODIZAÇÃO APROFUNDADA
A periodização do treinamento desportivo procura organizar e orientar o
processo de preparação de modo que a ocorrência da forma aconteça por ocasião
da competição ou das competições mais importantes da temporada. Assim, o
treino, para obedecer ao ciclo da forma, deve ser dividido em etapas.

3.1 ETAPAS DE PREPARAÇÃO A


LONGO PRAZO
A preparação de longo prazo é dividida em cinco etapas.

Etapa 1: fase de preparação preliminar

Na fase de preparação preliminar, as principais tarefas são: assegurar


a preparação física multilateral e a formação harmônica do organismo em
desenvolvimento, ensinar os vários gestos motores necessários à vida do

76
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

indivíduo (correr, pular, jogar, nadar etc.), incluindo gestos básicos para futuras
sessões de esportes.

Desenvolver interesse em exercícios e regimes esportivos (treinamento


regular, combinação de estudo e treinamento escolar, higiene etc.) é importante
nessa fase (BOMPA, 2000). No processo de preparação preliminar, não é
necessário precipitar-se para a especialização desportiva, seria mais correto
dar ao atleta iniciante a oportunidade de experimentar diferentes exercícios
desportivos e, só a seguir, definir o tipo de especialização futura.

Grupos de preparação física geral, nos quais as crianças não são


responsáveis pela obtenção de resultados esportivos em uma determinada
modalidade, são uma forma ideal de organizar o treinamento na fase preliminar.
A análise retrospectiva da preparação dos atletas mais destacados mostra que as
sessões dos primeiros dois ou três anos foram de caráter expressamente lúdico
a partir do uso extensivo de elementos de diferentes modalidades, com o método
de jogos preferido (TUBINO, 2003).

Na fase de preparação preliminar, a estrutura do ciclo anual, característica


das fases posteriores, ainda não foi formada. Na preparação de muitos atletas
excepcionais, períodos prolongados de descanso e mudanças na atividade
dos tipos motores, que geralmente são de dois a três meses ou mais, são
características dos primeiros anos de treinamento. O microciclo semanal deve
geralmente consistir em duas a quatro sessões de treinamento, cada uma com
duração de 30 a 60 minutos (WEINECK, 2003). O volume total anual é de 100
a 300 horas ou 10 a 15% do volume da fase de resultados superiores. A fase de
preparação preliminar é geralmente de dois a três anos e depende da idade em
que o esporte começa. Se a criança começa a praticar esportes relativamente
cedo, a preparação preliminar leva quatro anos ou mais, mas se o início for tardio,
o estágio pode ser reduzido de um ano para um ano e meio.

Etapa 2: fase de especialização desportiva inicial

O início desta fase deve estar condicionalmente vinculado ao esporte em


que se encontra a especialização do atleta, em processo de preparação a longo
prazo. A especialização inicial do atleta costuma ocorrer em escolas de esportes
das categorias infantis (GOMES, 2009). Garantir a preparação multilateral geral
dos jovens atletas deve ser considerada a tarefa mais importante da fase inicial
de especialização e contribui para o aprimoramento efetivo das habilidades
especiais do atleta.

O organismo humano apresenta-se como uma unidade, e o retardo ou o


desenvolvimento desproporcional de certos órgãos ou sistemas funcionais reflete-

77
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

se inevitavelmente na atividade do organismo como um todo e, em particular,


nas condições extremas de competição. O valor deve constituir o arranjo
metodológico, que determina a estrutura e o conteúdo da preparação dos jovens
nessa fase (GOMES, 2009).

Na maioria dos esportes, a fase inicial da especialização coincide com


o período da puberdade, condicionado pelo desenvolvimento impetuoso do
organismo (aumento de tamanho e de massa corporal e alterações hormonais),
o atleta recebe uma grande carga biológica além do treinamento. Portanto, os
parâmetros das influências formativas devem ser rigorosamente dosados,
levando em consideração os ritmos de desenvolvimento individual dos corpos dos
adolescentes.

O aprimoramento das habilidades motoras em jovens atletas deve seguir seu


desenvolvimento natural. Além de atentar para a velocidade e a capacidade de
coordenação, não se deve esquecer de melhorar a resistência, habilidade motora
necessária para atletas de diferentes modalidades. Experiências tardias com
cargas que aumentam a resistência causam danos essenciais ao desenvolvimento
físico multilateral da criança e não permitem que o corpo se prepare gradualmente
para grandes cargas de treinamento nos estágios finais de preparação a longo
prazo (TUBINO, 2003).

Na primeira fase da especialização, deve-se atentar para o desenvolvimento


da força muscular nos jovens, devendo os exercícios que contribuem para o
desenvolvimento da força ser acompanhados de tensão mínima, excluindo
esforços prolongados e consideráveis. As crianças costumam ter deficiências nos
músculos abdominais, quadris, isquiotibiais, abdutores das pernas e músculos
escapulares. Aqui, os exercícios gerais de preparação são o método dominante.

Seu percentual, no volume total, diminui, ao final da etapa, de 80 para 50%.


A redução dos meios gerais de preparação facilita o crescimento de meios mais
específicos, caracterizando-se como um dos sinais de conclusão da fase inicial
de especialização (PLATONOV, 2008). Uma das tarefas centrais da fase inicial
de especialização é dominar as técnicas da modalidade escolhida. É necessário
que os atletas novatos comecem a aprender os fundamentos da técnica das
ações motoras, e que a variedade de hábitos e de experiências motoras seja
mais ampla, isso garantirá, posteriormente, o melhor aprimoramento na técnica
esportiva.

A estrutura do ciclo anual de preparação adquire, ao final da fase inicial de


especialização, os sinais da periodização tradicional, ou seja, com os períodos
preparatórios prolongados e transitórios, os microciclos começam a se formar
competitivos, os quais podem ser considerados como os com base no período

78
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

competitivo. A estrutura e o conteúdo do ciclo anual estão geralmente sujeitos ao


regime de aulas escolares para jovens.

O maior volume de formação realiza-se durante as férias escolares, o


que conduz ao aparecimento de microciclos e mesociclos durante as férias
(TUBINO, 2003). Durante o período de férias de verão, são estruturados dois
a três mesociclos de quase um mês cada. A preparação, durante as férias,
deve, muitas vezes, levar em consideração o fato de as crianças estarem no
campo de esportes, em que o número de treinos no microciclo pode aumentar
consideravelmente. A regra geral é ter duas sessões de treinamento por dia, o
que resulta em um aumento acentuado no volume de treinamento durante esse
período. A carga de treinamento durante o mesociclo de um mês durante as férias
escolares pode ser de 80 a 90 horas. Volume normal 30 a 40 horas (três a quatro
sessões por semana) no ano um.

Etapa 3: fase de especialização profunda

A fase de especialização profunda é a continuação natural da fase de


preparação inicial anterior e visa criar uma base especializada para a preparação
do atleta. A preparação, nessa fase, exige um aumento substancial do tempo
de trabalho e visa à obtenção de resultados desportivos. É por isso que
apenas atletas que possuem potencial funcional suficiente para alcançar altos
resultados esportivos em uma determinada modalidade podem iniciar a fase
de especialização profunda. Formar uma motivação estável para alcançar altos
resultados esportivos é uma tarefa importante nessa fase (GOMES, 2009).

Uma das principais peculiaridades metodológicas da fase de especialização


profunda é o aumento invariável do volume dos meios de preparação
especializados em correlação absoluta e relativa com os meios de preparação
física geral. No aprimoramento das habilidades motoras, o preparo da força e a
velocidade do atleta merecem considerável atenção, pois permitem influências
específicas nos grupos musculares que, por sua vez, garantem a manifestação
das possibilidades de força no esporte praticado. Ao se preparar para a velocidade
e força, é aconselhável usar vários exercícios de salto com peso e exercícios
especiais de corrida (ZAKHAROV; GOMES, 1992).

Para evitar a estabilização do nível de capacidade de velocidade (o aspecto


da ‘barreira de velocidade’), as influências do treinamento devem ter um caráter
de “contraste”. “A partir da idade de 15 a 16 anos, crescem intensivamente o
interesse e a capacidade de vontade, o que se deve ao aumento do vigor do
sistema nervoso, criando premissas para maior enfoque, durante a etapa de
especialização profunda, no aperfeiçoamento da resistência especial” (GOMES,
2009, p. 164). No início da fase de especialização profunda, os atletas já devem

79
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

dominar as bases técnicas da modalidade escolhida, razão pela qual aos jovens
atletas é confiada a tarefa de uma consolidação sólida de técnicas. Técnicas de
aprimoramento esportivo e alguns detalhes das ações motoras são resolvidos
devido ao crescimento da condição física do atleta.

Na fase de especialização profunda na modalidade escolhida, o método


competitivo passa a ter um papel substancial no aprimoramento das técnicas
esportivas, dessa forma, o jovem atleta aprimora suas habilidades táticas (defesa)
e a individualização do treinamento nesse sentido. A transição para a fase de
especialização profunda em muitos atletas está ligada ao início da preparação
nas escolas para meninos.

Graças a isso, a preparação começa a desenvolver-se em função de uma


dieta especializada, que permite ter, no final da etapa, de dois a três treinos por
dia (10 a 14 treinos no microciclo semanal) e aí há um aumento substancial do
volume de treinamento que, em dinâmica, de acordo com os anos da fase de
preparação, representa de 600 a 1000 horas por ano, e, em alguns aspectos, o
número pode ser maior (GOMES, 2009). A estrutura do ciclo anual de preparação
inclui períodos preparatórios, competitivos e transitórios. O período preparatório
inclui as etapas de preparação geral e especial. O período competitivo tem uma
duração mais curta do que as fases seguintes.

Etapa 4: fase de resultados superiores

O objetivo desta fase é obter resultados superiores (máximo individual)


na modalidade escolhida, cuja duração coincida com os limites da idade ótima
correspondente ao período de resultados superiores. O objetivo de realizar o
potencial funcional acumulado nas conquistas esportivas é determinar a estrutura
e o conteúdo da preparação para o ciclo anual. Na fase de resultados superiores,
o volume de treinamento atinge parâmetros máximos de 1000 a 1500 horas por
ano e, em alguns casos, até 1800 horas.

A participação do treinamento especial no volume de treinamento geral


aumenta consideravelmente e se aproxima dos índices máximos (de 80 a 85%).
O número de microciclos de “choque” também aumenta, mesmo com cargas
concentradas apenas para um objetivo fisiológico. O número total de sessões
pode ser de 15 a 20 no microciclo semanal, incluindo cinco a oito sessões de alta
carga (GOMES, 2009).

De forma alheia às condições climáticas locais, a preparação, no ciclo anual,


é construída a partir de dois ou três macrociclos. Portanto, a preparação do atleta
geralmente ocorre em clubes profissionais, escolas de esportes de primeira linha,
centros de treinamento olímpico e seleções nacionais (ZAKHAROV; GOMES,
1992).
80
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Etapa 5: fase de manutenção de resultados

A principal tarefa da preparação é manter um alto nível de resultados


esportivos. O número de atletas em processo de preparação a longo prazo que
chega a essa fase está longe de ser grande, visto que a maioria termina suas
carreiras no esporte em fases anteriores devido a circunstâncias diferentes. Há
uma queda do nível de resultados desportivos provocada por erros metodológicos
e pela necessidade de renúncia à prática desportiva por motivos profissionais,
familiares etc. Para a manutenção dos resultados, os atletas precisam ser
altamente qualificados e preparados, com o objetivo de continuarem a atuar em
jogos desportivos. Esses atletas podem ser profissionais ou amadores.

3.2 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO


TREINAMENTO NO CICLO OLÍMPICO
O ciclo olímpico de treinamento separa uma olimpíada
da outra. Com quatro anos de duração, são muitas as
formas de estruturar o treinamento nos mais diversos
desportos que compõem o calendário olímpico de
competições. Alguns atletas da história da olimpíada
chegaram a participar de 4 a 5 olimpíadas, totalizando
16 a 20 anos de alto rendimento desportivo. Por mais
talentoso que seja o atleta, esse nível de performance só
é possível com a execução de exercícios rigorosamente
selecionados e no tempo correto durante os vários ciclos
olímpicos de treinamento (GOMES, 2009, p. 167).

Existem duas variações na estruturação do ciclo olímpico: a primeira é a


preparação do atleta para os primeiros jogos olímpicos, a segunda é a estrutura
de carga a ser utilizada com atletas que já participaram dos jogos olímpicos. Os
grupos de exercícios devem ser distribuídos durante a temporada de treinamento,
respeitando as fases de trabalho com sua concentração fisiológica adequada.

O que é ser um treinador? Assista a este vídeo e veja Edu


Gaspar falando sobre a gestão de treino. Disponível em: https://
youtu.be/lkCX-nKK47Q.

81
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

No período de competição, normalmente estruturada em um curto período,


habilidades específicas são aprimoradas, facilitando o grande momento, que é
a forma esportiva de alto nível. Nos esportes coletivos, o período preparatório
é menos importante, sendo muito mais curto do que nos esportes individuais
(PLATONOV, 2008).

Determinar a duração do período preparatório e competitivo no esporte é


uma discussão entre vários pesquisadores ao redor do mundo. A ciência ainda
não conseguiu explicar quanto tempo leva para alocar cada período. A tendência
atual mostra que a correlação do conteúdo do treinamento em cada etapa da
preparação pode facilitar uma adaptação mais efetiva das influências em cada
tipo de esporte. A composição do ciclo olímpico varia de país para país, o que
está relacionado com a importância atribuída ao calendário internacional de
competições.

As experiências científicas mostram tendências na organização do processo


formativo que têm permitido atingir resultados elevados todos os anos do ciclo.
De modo geral, o período de preparação, no primeiro ano do ciclo olímpico,
deve durar cinco meses no início da temporada; no segundo ano, o período de
preparação é reduzido para quatro meses, aumentando o período de competição
para sete, e, no terceiro ano, dois macrociclos são estruturados na temporada. No
primeiro macrociclo, os períodos de preparação e competição são de três meses,
no segundo macrociclo, apenas dois, e o período de competição sendo de três
meses (TUBINO, 2003).

O objetivo principal, no terceiro ano do ciclo olímpico, é desenvolver ao


máximo as habilidades competitivas e a resistência de participação dos atletas
em competições. O quarto ano do ciclo competitivo, também estruturado com dois
macrociclos, visa preparar o atleta diretamente para as competições. O período
preparatório para o primeiro macrociclo é de apenas dois meses, sendo três
meses para a competição (GOMES, 2009). O segundo macrociclo começa com
um mês de preparação, no qual o conteúdo do treinamento é mantido de forma
particular, dedicando os cinco meses seguintes ao período de competição, em
que se pretende atingir o rendimento máximo possível do atleta.

A construção do ciclo olímpico deve levar em consideração o tipo de esporte


e suas particularidades. Quando falamos do ciclo olímpico nos esportes coletivos,
temos que encurtar o período de preparação, dando maior ênfase ao período de
competição (GOMES, 2009).

Nesse caso, são desenvolvidos modelos que atendem, em


sua estrutura e conteúdo, todos os esportes que fazem parte
do programa olímpico. Estruturar o sistema de treinamento no
ciclo olímpico de atletas de alto rendimento não é uma tarefa

82
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

fácil para o treinador, pois a diversidade dos esportes e das


funções desempenhadas pelo atleta dificulta a elaboração do
plano. Nesse contexto, a experiência apresentada na literatura
internacional por alguns estudiosos pode servir como um
ponto de partida, facilitando, assim, o trabalho do treinador na
atualidade (GOMES, 2009, p. 169).

3.3 ESTRUTURA DA SESSÃO


(SEMANA) DE TREINAMENTO
A sessão de treinamento é o elemento integral inicial da
estrutura de preparação do atleta, representando um sistema
de exercícios relativamente isolado no tempo que visa à solução
de tarefas de dado microciclo da preparação do desportista.
A teoria e a metodologia referentes à estrutura coerente
e ao conteúdo da sessão de treinamento baseiam-se nos
princípios pedagógicos de estruturação de uma sessão, mas
têm também algumas particularidades específicas próprias
do treinamento desportivo. Na classificação das sessões de
treinamento, deve ser levada em consideração uma série de
fatores, dentre os quais convém destacar os objetivos e as
tarefas, os meios de organização dos atletas, a composição
dos meios de treinamento e a grandeza da carga da sessão
(GOMES, 2009, p. 171).

Dependendo de seus objetivos, os exercícios podem ser divididos em sessões


de treinamento e controle (TUBINO, 2003). Os exercícios visam aumentar o nível
de treinamento do atleta e podem resolver diversos problemas: treinamento de
habilidades básicas e educação da personalidade do atleta, ensino da técnica de
ações motoras, domínio de sistemas táticos etc. As sessões de acompanhamento
pressupõem a avaliação preferencial da eficácia do processo de formação.

Sessão de treinamento

Essas sessões podem ter como objetivo verificar o nível de certos aspectos
do estado de treinamento e pressupor uma avaliação complexa do estado de
treinamento do atleta.

A sessão de treinamento pode ser tratada como uma unidade autônoma de


tempo de ensino, com tarefas e objetivos operacionais bem definidos – como uma
unidade diária cíclica (duas a três sessões de treinamento por dia) – com objetivos
operacionais diferentes. Deve constituir-se como um todo funcional com cada uma
de suas partes, cujas modalidades e conteúdos não devem ser programados ao
acaso, mas devem estar interligados de forma a sanar a deficiência apresentada
pelo atleta ou pela equipe (BARBANTI, 1997). Em cada treino é comum destacar

83
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

três partes devidamente interligadas: preparatória, principal e final. A divisão da


sessão em três partes é condicionada pelas peculiaridades do estado funcional
do atleta.

Parte preparatória

Na fase preparatória da sessão, devem ser criadas as condições para


a atividade efetiva dos atletas na parte principal. Com esse objetivo, podemos
destacar a fase de organização e o aquecimento. Na fase de organização, todo
o grupo se reúne e as tarefas a serem realizadas são explicadas em sessão,
preparando o material a ser utilizado, que deve chamar a atenção dos atletas e
motivá-los para o desenvolvimento da atividade (WEINECK, 2003).

O aquecimento deve garantir a transição do corpo do atleta do estado de


repouso para o estado de “trabalho”, o que efetivamente resolve as tarefas de
preparação durante a parte principal do treinamento. Está conectado com a
superação da inércia de sistemas de um organismo humano que não começam
a funcionar imediatamente com o aumento no nível da atividade motora. Leva
tempo para que tais sistemas passem de um estado de calma para um estado de
mobilização e coordenação mútuas adequadas.

Assim, por exemplo, o volume de sangue por minuto, a ventilação pulmonar


e o consumo de oxigênio atingem um nível ideal 3-5 minutos após o início
do trabalho. Os órgãos respiratórios e o sistema cardiovascular não podem
garantir imediatamente o fornecimento de oxigênio aos órgãos operatórios nas
quantidades necessárias. Portanto, se um atleta competir sem aquecimento, ele
pode chegar ao final do exercício competitivo sem revelar seu potencial. Nesse
caso, o resultado esportivo será inferior ao potencial do corpo (TUBINO, 2003).

No aquecimento é necessário destacar a parte geral e a parte especial.


O efeito interno da parte geral do aquecimento está ligado ao aumento da
temperatura corporal, que está diretamente ligado à ativação do metabolismo, à
atividade dos sistemas cardiovascular, respiratório e motor etc. (GOMES, 2009).

Recomenda-se começar com exercícios para os braços, região dos ombros


e depois exercícios para o tronco e quadril, terminando com exercícios para as
pernas (coxa, perna e pé). Esse trabalho muscular para cima e para baixo pode
ser feito repetidas vezes. “Primeiro, devem ser realizados os exercícios para os
grupos musculares menores” (GOMES, 2009, p. 172).

Cada exercício é geralmente repetido de 10 a 15 vezes (BARBANTI, 1997).


O conjunto de exercícios contém de 10 a 15 exercícios. Depois vêm os exercícios

84
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

que melhoram a mobilidade das articulações, que têm um alcance cada vez
maior e contribuem para o alongamento dos músculos que intervirão ativamente
nos seus movimentos. A função do aquecimento é preparar os músculos e
ligamentos para movimentos futuros e a profilaxia de traumas, e não o aumento
da flexibilidade do atleta. A quantidade de exercícios e sua orientação dependem
da atividade futura e das características individuais dos atletas (idade, nível de
trauma sofrido etc.) (GOMES, 2009).

A parte especial do aquecimento deve corresponder à atividade específica


do aparelho motor e às funções vegetativas do organismo (além do estado mental
do atleta), exigidas na parte principal da sessão, geralmente dura de 20 a 40
minutos. O intervalo ideal entre o aquecimento e a parte principal da sessão não
deve exceder 15 minutos, durante os quais o efeito de aquecimento persiste. No
caso de intervalos maiores, o efeito de aquecimento desaparece gradualmente. O
aquecimento pré-corrida merece atenção especial, pois continua sendo o principal
método de mobilização das habilidades do atleta antes da largada (GOMES,
2009).

Ao resolver uma tarefa, existem diferentes abordagens metodológicas para


o conteúdo da sessão. Portanto, em alguns casos, a tarefa pode ser resolvida
usando um único meio de treinamento, que será estável durante toda a parte
principal da sessão.

Em outros casos, tal tarefa pode ser resolvida recorrendo


a um amplo círculo de meios de treinamento de uma
orientação, aplicados no regime de um método. Por exemplo,
o aperfeiçoamento da resistência aeróbia pode resolver-se,
no primeiro caso, apenas mediante a utilização da corrida
num regime correspondente e, no outro caso, com base na
aplicação de repetição de alguns exercícios cíclicos (marcha,
corrida, natação, trabalho em veloergômetro etc.) (GOMES,
2009, p. 175).

A escolha de uma ou outra variante depende da finalidade da sessão e de


sua inserção no sistema de treinamento de longa duração do atleta, pois afeta
diferentes funções do corpo que determinam a revelação dessa habilidade
(GOMES, 2009). Durante sessões com diferentes meios de comunicação
com a mesma orientação, os jovens apresentam uma capacidade de trabalho
significativamente maior, sem risco de esgotamento mental, em comparação com
o caso de utilizar apenas um meio.

Na preparação de atletas de alto nível, essa variante da sessão de


treinamento raramente é utilizada, principalmente com o objetivo de eliminar a
tensão psíquica decorrente do monótono trabalho anterior.

85
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Segundo Gomes (2009), à medida que a preparação e o nível desportivo


aumentam, as sessões unidirecionais ganham cada vez mais importância,
estruturadas em torno de um único meio de treino, atrelado principalmente a três
condições metodológicas para a preparação dos atletas de alto nível.

1. As possibilidades de adaptação do organismo do desportista


aumentam à medida que diminui o número de fatores a que
o atleta tem que se adaptar. Por conseguinte, a diminuição
da diversidade motora das sessões de treinamento leva
à especialização mais concreta dos sistemas funcionais.
Se os exercícios são escolhidos e estão de acordo com a
especificidade da modalidade desportiva, verifica-se o rápido
crescimento dos resultados desportivos.
2. A condição metodológica está ligada à interação dos efeitos
de treinamento de cargas de diferente direção. Tal interação
pode ter caráter positivo, neutro ou negativo. A interação
negativa dos efeitos de algumas cargas obriga a seguir a
variante de sessões de treinamento com uma direção.
3. A condição metodológica está ligada à necessidade de
elevação gradual de influências de treino concentradas
na referida sessão. Caso contrário, torna-se impossível o
crescimento posterior dos resultados desportivos (GOMES,
2009, p. 175).

Nesse ponto particular, as condições naturais de vida do indivíduo


(alimentação, sono, desempenho de funções sociais etc.) não permitem aumentar
a duração das sessões de treinamento. Assim, passamos a um regime de dois a
três treinos diários (GOMES, 2009).

No treinamento dos atletas de alto nível, as sessões com


objetivo seletivo constituem um dos principais fatores que
estimulam a melhora dos resultados desportivos. Nos treinos
dos jovens, a utilização de uma grande quantidade de sessões
de direção seletiva com um meio nem sempre é justificada,
pois está ligada à exploração ativa das possibilidades de
adaptação do organismo e poderá levar à supertensão dos
sintomas funcionais (GOMES, 2009, p. 175).

4 TREINAMENTO PERSONALIZADO
No treinamento personalizado, o indivíduo sempre irá dispor de um
acompanhamento muito mais próximo, individualizado, o que nos remete àquela
teórica da individualidade biológica, e totalmente focado nos seus objetivos, o que
faz toda a diferença no resultado.

Uma das suas principais vantagens é que, nesse tipo de treino, o professor/
treinador tem a oportunidade de ter um conhecimento melhor do atleta para
montar um treino mais específico e efetivo: seus hábitos alimentares, patologias,
limitações, rotina e outros fatores relevantes. Saber das variáveis particulares

86
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

da vida do atleta faz com que o treino funcione como uma prescrição médica,
atuando de forma mais direta no que precisa ser trabalhado para cada caso.

4.1 CARGA DE TREINAMENTO NO


MICROCICLO E SUAS DIVERSAS
COMBINAÇÕES
A estruturação dos microciclos é determinada por uma série de fatores, entre
os quais se destaca o caráter do efeito de treinamento das cargas aplicadas
no microciclo. Um dos problemas mais complexos da teoria e metodologia de
preparação é a descoberta de uma correlação ótima de cargas no microciclo,
com o objetivo de obter o efeito sumário que permite resolver tarefas de
aperfeiçoamento de diversos aspectos da preparação do atleta (PLATONOV,
1986 apud GOMES, 2009).

A primeira, preferencialmente entre as décadas de 1950 e 1960, formou a


base teórica para a estruturação dos microciclos de treinamento. Considerava-
se que a interação dos efeitos de treinamento somente contribuía para uma
dinâmica ascendente do crescimento do nível de treinamento do atleta no caso
de a carga repetida no microciclo referir-se à fase de supercompensação depois
da influência precedente ou à fase de recuperação consolidada (GOMES, 2009).

Realizar a sessão de treinamento com uma carga inferior de sub-recuperação


foi considerado um erro metodológico grave que causava o sobretreinamento.
Ressalta-se que tal abordagem ainda possui alguma importância metodológica,
sendo aplicada, em particular, na preparação de atletas iniciantes (GOMES,
2009).

Nas décadas seguintes, muitos dados recebidos atestam que os processos


de recuperação após o trabalho físico são heterocrônicos, ou seja, a recuperação
e a sobrecompensação das diferentes funções do organismo não ocorrem
simultaneamente, e a presença da fase de sobrecompensação não é uma
condição obrigatória para alcançar mudanças adaptativas positivas. Em alguns
casos, a recuperação da capacidade de trabalho ocorre apenas ao nível inicial,
ocasionando a ausência da fase de sobrecompensação (GOMES, 2009).

Pesquisas realizadas mostram que, mesmo com um regime de treinamento


muito rígido, a capacidade de trabalho diminui sensivelmente apenas “com a
primeira dose significativa de carga. Mais adiante, à medida que o exercício é
repetido, verifica-se a diminuição e a estabilização prolongada da capacidade de
trabalho do indivíduo” (PLATONOV, 1986 apud GOMES, 2009, p. 187).

87
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Dessa forma, o organismo, mesmo nas condições de sub-


recuperação, é capaz de manter um bom nível de treinamento,
embora seja menos alto. No que diz respeito à preparação
do atleta, tais dados podem servir de fundamento fisiológico
de que a realização, dentro de certos limites de um regime
rígido de combinação de cargas nos microciclos, pode levar ao
aumento do nível de treinamento do atleta. A alta exigência das
possibilidades do atleta, consequência do intenso trabalho sob
determinada orientação, não significa, de modo algum, que ele
não seja capaz de manifestar alta capacidade de trabalho na
esfera de uma outra orientação, realizada predominantemente
por outros órgãos e mecanismos funcionais. Por exemplo,
uma forte fadiga do sistema funcional, que determina o nível
das capacidades de velocidade ou de força máxima do atleta,
não impede que ele, passadas algumas horas, revele uma alta
capacidade de trabalho na atividade aeróbia. Tais dados e a
necessidade de elevação posterior dos resultados desportivos
determinaram a segunda abordagem relacionada com a
questão da alternância de cargas de grandeza e orientação
diferentes no microciclo. Apoiando-se nesses pontos de vista,
ocorreu, nos anos 1970, o aumento substancial (quase duas
vezes) do volume geral de cargas em diversas modalidades,
inclusive o volume de exercícios de alta intensidade. Na maioria
dos casos, a preparação passou a constituir-se na base de
duas ou três sessões de treinamento por dia, com o volume
de trabalho de treinamento no microciclo semanal de até 32
a 38 horas. Nos últimos anos, as características qualitativas
dos microciclos adquiriram tendência à estabilização de seus
parâmetros (PLATONOV, 1987 apud GOMES, 2009, p. 187).

No microciclo de orientação predominante, a combinação das sessões com


a carga máxima requer atenção especial.

Orientação à fadiga

Nesse sentido, a capacidade de trabalho do atleta, na segunda


sessão, resulta consideravelmente diminuída, e ele geralmente
não pode cumprir mais do que 75 a 80% do trabalho proposto.
Levando em consideração essa circunstância, convém
planejar, com muito cuidado, duas sessões seguidas com
cargas de choque no microciclo somente para atletas
qualificados e bem treinados. A introdução no microciclo
das sessões com cargas estabilizadoras e recuperativas, na
fase de alta fadiga, após as sessões de orientação seletiva,
exerce, normalmente, influência favorável na adaptação
do organismo do atleta. Não é conveniente utilizar duas
sessões de orientação de velocidade com o volume máximo
de exercícios, pois, ao repetir a sessão, perturbam-se as
principais disposições metodológicas que condicionam o
aperfeiçoamento das capacidades de velocidade. Durante o
aperfeiçoamento das capacidades de força, seria conveniente
prever, na segunda sessão, outros grupos musculares com
a manutenção da orientação geral de força das sessões.

88
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Na prática do treinamento desportivo, são mais difundidos


os microciclos de caráter complexo, que permitem exercer
influências equilibradas sobre diferentes aspectos da
preparação do atleta em conformidade com as tarefas da etapa
de preparação. Nas modalidades de coordenação complexas,
nos jogos desportivos e nos combates, que se distinguem pela
diversidade de ações motoras e por um grande número de
fatores determinantes da atividade competitiva, o microciclo
constitui a única forma aceitável de construção do processo de
treinamento (PLATONOV, 1986 apud GOMES, 2009, p. 188).

A estruturação do microciclo com o objetivo de resolver tarefas complexas


apresenta sérias dificuldades metodológicas, vinculadas à definição da
combinação de sessões de diferentes cargas. Se, no microciclo de caráter
concentrado, a carga orientada para solucionar uma tarefa constitui o principal
fator, no microciclo complexo, o número de fatores aumenta proporcionalmente
ao número de tarefas a solucionar. A soma de efeitos das cargas de diferente
orientação, no microciclo, tem importante significado para a determinação dos
parâmetros de influência de treino sobre o organismo do atleta (GOMES, 2009).

Na literatura especializada, não se conseguiu encontrar dados


convincentes sobre o efeito positivo da combinação direta
de cargas de choque de diferente orientação. O especialista
(PLATONOV, 1986) procura explicá-lo com o fato de a
carga máxima exigir a mobilização das reservas profundas
do organismo do atleta e a redistribuição da atividade dos
processos que ocorrem no organismo de acordo com a
orientação da carga. Devido à fadiga que se desenvolveu, tal
processo possui uma estabilização significativa. A aplicação da
carga de outra orientação exige também mobilização máxima,
mas já de outros sistemas, o que é pouco conveniente do
ponto de vista da formação das reestruturações de adaptação
a longo prazo. Tal combinação pode provocar descoordenação
dos processos de adaptação, e mesmo falha de adaptação.
Por isso, seria conveniente alternar, no microciclo, as cargas
próximas das máximas com as cargas de grandeza moderada.
No processo de preparação dos atletas de alta qualificação,
depara-se, frequentemente, com um problema: a utilização de
microciclos para solucionar tarefas complexas não assegura
que influências de diferentes orientações sejam suficientemente
capazes de estimular o aperfeiçoamento posterior imediato de
alguns componentes da preparação do atleta (GOMES, 2009,
p. 188-189).

A eficiência de direção do processo de treinamento no microciclo é


condicionada, em grau considerável, pela dinâmica do volume e da intensidade
da carga. A análise dos microciclos de sete dias, com seis dias de treino, que
são os mais difundidos na prática do treinamento de atletas qualificados, permite
destacar variantes com a dinâmica de um, dois e três picos de volume e de
intensidade de cargas (GOMES, 2009).

89
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Normalmente, a carga máxima não é esperada no primeiro dia de microciclo,


principalmente nos casos em que o microciclo anterior termina com um dia de
descanso. “Não é desejável que ocorra, no organismo, uma brusca mudança, que
poderá ser provocada pela passagem do estado de descanso a uma atividade
que exija a completa mobilização das reservas do organismo” (GOMES, 2009, p.
189-190).

O período de recuperação, após cargas próximas das máximas, dura


alguns dias e, portanto, todos os exercícios subsequentes serão realizados
com o objetivo de sub-recuperação, o que pode afetar negativamente
a eficiência geral do microciclo. Por isso, recomenda-se, no primeiro dia do
microciclo, a carga com parâmetros não superiores a 60 ou 70% das máximas
(GOMES, 2009).

Seria preferível planejar as cargas de alta intensidade, ligadas


ao aperfeiçoamento das capacidades de velocidade, de força
explosiva, assim como o ensino inicial das ações motoras
complexas para o 1º e 2º dia do microciclo ou para o dia seguinte,
após a sessão de treino recuperativo. Quanto aos exercícios
com alto volume de carga orientada para o treinamento da
resistência aeróbia, anaeróbia, glicolítica e de força, seria
conveniente planejá-los de modo que o pico de intensidade
adiante, em tempo, o pico do volume de cargas. O aumento do
volume da carga além das grandezas determinadas provoca
inevitavelmente a redução da intensidade (GOMES, 2009, p.
190).

Com relação às particularidades dos processos recuperativos que


determinam a estrutura do microciclo, convém levar em conta o fato de que a
duração de recuperação, após as cargas máximas de diversas orientações,
apresenta diferenças substanciais. As possibilidades dos sistemas funcionais,
que asseguram o nível das capacidades de velocidade, de coordenação, a força
máxima e de impulso, se restabelecem de uma e meia a duas vezes mais rápido
do que as capacidades dos sistemas funcionais que determinam o nível de
resistência aeróbia e anaeróbia glicolítica (GOMES, 2009).

Na construção do microciclo, deve-se levar em consideração que as


capacidades de recuperação do corpo humano, após um trabalho pesado,
mudam significativamente sob a influência do treinamento. Atletas de alto
desempenho não só superam os menos habilidosos em resultados esportivos e
habilidades funcionais de diferentes sistemas, como, também, na capacidade de
se restabelecerem rapidamente (GOMES, 2009).

O treinador não deve esquecer também as peculiaridades estritamente


individuais do organismo de diferentes atletas, relacionadas à duração da
recuperação.
90
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

1 O treinamento esportivo de alta performance normalmente é


dividido por algumas questões cronológicas. Qual a denominação
dessa divisão?

a) Sobrecarga do treinamento.
b) Periodização do treinamento.
c) Adaptação do treinamento.
d) Microciclo de treinamento.

4.2 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO


DO TREINAMENTO NO MESOCICLO
INDIVIDUALIZADO
Classificação dos mesociclos

O mesociclo trata da estrutura de carga, que varia de 3 a 6 semanas, e


representa o elemento da estrutura de preparação do atleta orientado para a
solução das tarefas de determinado macrociclo (período) de preparação.

Quanto aos indícios que permitem classificar os mesociclos, podem-se


destacar:

• A principal tarefa a ser resolvida pelo mesociclo no sistema de


preparação.
• O momento do referido mesociclo na estrutura do macrociclo de
preparação.
• A composição dos meios e dos métodos de treino aplicados no mesociclo.
• Os tipos de microciclos que compõem o conteúdo predominante do
mesociclo estabelecido.
• A grandeza das cargas e sua dinâmica no mesociclo (GOMES, 2009).

Mesociclo inicial

Sua tarefa é garantir a transição gradual do corpo do atleta do estado reduzido


da atividade de treinamento no nível competitivo para parâmetros elevados,
muitas vezes próximos às cargas máximas de treinamento nos mesociclos. O

91
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

conteúdo do mesociclo inicial consiste em 2-3 microciclos de recuperação ou tipo


inicial e termina com o microciclo de recuperação. A intensidade relativamente
baixa com um aumento gradual no volume total de exercícios é característica do
mesociclo inicial (FORTEZA, 2001; GOMES, 2009).

Mesociclo básico

Agrupa alguns tipos de mesociclos, nos quais se realiza o trabalho de


treinamento principal no que se refere ao aprimoramento de vários aspectos
da preparação do atleta que, pela magnitude das cargas, dividem-se em
desenvolvimento e estabilizadores (GOMES, 2009).

Mesociclo evolutivo

É a principal forma de organização das influências do treinamento, com


o objetivo de alcançar o efeito cumulativo do treinamento, que é a base para
aumentar o nível de treino do atleta. Tal ciclo é caracterizado pela quantidade
considerável de cargas (geralmente próximas do máximo para um dado nível de
preparação). A seguir, analisaremos algumas peculiaridades metodológicas de
construção desse tipo de mesociclo (FORTEZA, 2001; GOMES, 2009).

Mesociclo estabilizador

Visa consolidar as alterações obtidas anteriormente, as quais são garantidas


pela redução ou estabilização insignificante das cargas anteriormente realizadas.

Mesociclo de recuperação

Aplica-se no período transitório de preparação, quando têm


importância predominante as tarefas de recuperação completa
do atleta após um período prolongado de cargas máximas
de treinamento e de competição. O mesociclo recuperativo
é importante para a adaptação do organismo do atleta, pois
permite prevenir a transformação da fase de resistência na
fase de profundo esgotamento e de fracasso de adaptação.
O mesociclo caracteriza-se pela redução do volume e da
intensidade das cargas (geralmente 20 a 30% em relação
aos parâmetros do mesociclo básico de desenvolvimento).
Têm sido aplicadas diferentes formas de descanso ativo que
contribuem para a descarga psicológica do atleta (natação,
jogos, passeios nas montanhas etc.). No processo de
preparação de atletas qualificados, incluem-se, no mesociclo
recuperativo, vários tratamentos fisioterapêuticos que visam
à eliminação das consequências de traumatismos sofridos e
à profilaxia de doenças. Nesse mesociclo, seria conveniente
efetuar uma análise médica aprofundada que permita avaliar o
estado de saúde do atleta (GOMES, 2009, p. 193).

92
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Mesociclo de controle

Geralmente, completa o período preparatório. Sua principal tarefa é garantir


o controle multiforme da eficiência dos mesociclos básicos anteriores e a
adaptação progressiva do atleta às necessidades dos mesociclos de competição
subsequentes. Desempenha a função de preparação e controle. Durante esse
mesociclo, qualquer deficiência na preparação do atleta pode ser corrigida
(GOMES, 2009).

Mesociclo pré-competitivo

Destaca-se como componente estrutural que proporciona a preparação


imediata para a competição principal do macrociclo.

Durante esse mesociclo, tarefas são resolvidas, em particular, a recuperação


após a fase anterior de competições seletivas, a manutenção e a possível
elevação do nível alcançado, a eliminação de pequenos defeitos de preparação,
a resolução do estado mental do atleta, a adaptação das condições das principais
competições etc. A necessidade de resolver essas tarefas condiciona a inclusão,
na estrutura do mesociclo pré-competitivo, de diferentes tipos de microciclos, cujo
conteúdo pode variar dependendo da condição do atleta. As particularidades da
estrutura e da dinâmica geral das cargas, no mesociclo pré-competitivo, serão
analisadas posteriormente (GOMES, 2009).

Mesociclo agonístico

Representa a base do período competitivo de preparação do


atleta. A sua estrutura e o seu conteúdo são determinados
pela especificidade da modalidade desportiva, pelo sistema de
preparação competitiva, pelas particularidades do calendário
de competições, pelo nível da qualificação do atleta e por
outros fatores. A duração do período competitivo poderá
ser de 6 até 8 meses, o que é característico, por exemplo,
para os jogos desportivos. Nesse período, destacam-se
geralmente 4 a 6 mesociclos competitivos. Nesses casos,
quando as competições se realizam durante 1 a 2 meses, é
conveniente destacar o mesociclo de competições principais
e os mesociclos competitivos que resolvem outras tarefas (o
mesociclo de competições seletivas, os preparatórios etc.).
Dependendo do número de participações, do intervalo entre
elas e da importância das competições, podem ser incluídos,
na estrutura do mesociclo competitivo, além dos microciclos
competitivos, outros tipos de microciclos (GOMES, 2009, p.
193-194).

93
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Sua função é contribuir para a recuperação e garantir a manutenção da alta


capacidade de trabalho do atleta ao longo do mesociclo competitivo.

4.3 COMPOSIÇÃO DOS


MICROCICLOS NA ESTRUTURA DO
MESOCICLO
Dependendo das tarefas a serem realizadas no mesociclo e do nível de
preparação do atleta, a carga dos microciclos pode variar em uma faixa muito
ampla. Conforme o número de sessões de treino com cargas de choque e
ordinárias e de sua distribuição nos microciclos, o processo de recuperação das
possibilidades funcionais do organismo, depois da soma da carga do microciclo,
poderá terminar dentro de algumas horas após a última sessão ou demorar alguns
dias. Assim, o microciclo seguinte poderá realizar-se no período de recuperação
depois da soma da carga do microciclo precedente ou no momento da fadiga
residual. A dinâmica de cargas pressupõe a execução do trabalho de treino no
terceiro microciclo no nível da fadiga do microciclo anterior, sendo que o microciclo
de choque é planificado durante a recuperação relativa (GOMES, 2009).

Mesociclo preparatório para mulheres

Ao planejar cargas de mesociclo para mulheres, a influência do biorritmo


mensal deve ser levada em consideração. A alteração do estado funcional, que
depende do ciclo biológico específico, denominado ovulatório-menstrual, é uma
peculiaridade do organismo feminino, cuja duração varia, na norma fisiológica,
em média de 21 a 36 dias. Em 60% das mulheres, é de 28 dias (MARX et al.,
2001; GOMES, 2009).

O ciclo é geralmente dividido em cinco fases: a primeira, a da menstruação


(do 1º ao 3º dia); a segunda, pós-menstrual (do 4º ao 12º dia); o terceiro, ovulatório
(do 13º ao 14º dia); a quarta, pós-ovulatória (de 15 a 25 dias); e o quinto, o pré-
menstrual (do 26º ao 28º dia). A duração da primeira metade do ciclo ovulatório-
menstrual (até a ovulação) é diferente e está relacionada às características
individuais do organismo feminino, sendo a duração da segunda metade sempre
constante (14 dias). É fundamental saber os prováveis dias de início da ovulação:
com o ciclo de 21 dias, a ovulação começa do 7º ao 9º dia; com o ciclo de 28 dias,
a ovulação ocorre entre o 12º e o 16º dia do ciclo; enquanto que, com o ciclo de
36 dias, entre o 19º e 23º dia do ciclo (GOMES, 2009).

94
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

Em condições normais, durante as diferentes fases do ciclo ovulatório-


menstrual, ocorrem uma alteração da atividade hormonal e uma alteração do
estado funcional de todos os sistemas do organismo (KOROP; KONONENKO,
1983; KEIZER, 1986). Índices de capacidade para o trabalho mais elevados
durante este ciclo são característicos das fases pós-menstrual e pós-ovulatória
(GOMES, 2009).

Essas variações têm um caráter expressamente individual e se manifestam


de acordo com a especialização do esporte. Nessas fases há diminuição da força,
velocidade, resistência particular e distúrbios da coordenação dos movimentos
em considerável número de desportistas.

Nas fases pré-menstrual e menstrual do ciclo ovulatório-menstrual, a


irritabilidade e a instabilidade emocional das atletas aumentam (MARX et al.,
2001).

A literatura apresenta abordagens relacionadas com o


problema da estruturação da preparação desportiva das
mulheres. Continua a ser bastante discutido o ponto de vista
dos técnicos que estruturam a preparação desportiva das
mulheres idêntica à dos homens, ou seja, desconsideram as
mudanças do estado funcional e as oscilações da capacidade
de trabalho desportivo das mulheres durante o ciclo ovulatório-
menstrual. Como principal argumento, aludem, nesse caso, ao
fato de que as atletas obrigam-se a participar das competições
em diversas fases do ciclo. Pelo visto, tal argumento já não
pode satisfazer às exigências modernas da preparação das
atletas altamente qualificadas. Deve-se dar atenção especial
às variações individuais do estado funcional das atletas em
diversas fases do ciclo ovulatório-menstrual (GOMES, 2009,
p. 195).

Parece mais justificada a abordagem que se propõe a encarar o ciclo biológico


feminino como uma formação estrutural integral (mesociclo) da preparação das
desportistas. Nesse caso, convém que, na planificação do mesociclo, seja tomado
como base o ciclo ovulatório-menstrual individual da atleta, e seus microciclos
sejam relacionados com as fases do ciclo ovulatório-menstrual (GOMES, 2009).

Kraemer et al. (2003) preconizam que, tendo em conta o estado funcional


da mulher, as tarefas correspondentes devem ser resolvidas em cada fase,
determinando os meios de treino mais adequados para o choque. Para períodos de
reduzida capacidade de trabalho, os microciclos devem ter cargas principalmente
de caráter recuperativo. Como as oscilações mais pronunciadas das funções
fisiológicas do corpo feminino ocorrem nas fases ovulatória, pré-menstrual e
menstrual, deve-se enfatizar, no mesociclo, dois microciclos especiais: o primeiro,

95
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

incluindo a possível fase de ovulação, e o segundo, que cobre o período de 1-2


dias antes da menstruação.

O mesociclo de treinamento compreende, além de dois microciclos especiais,


respectivamente, mais 2 a 3 microciclos de treinamento. O número e a duração
dos microciclos devem ser planejados de acordo com a duração do ciclo individual
e suas fases (GOMES, 2009).

No caso do ciclo curto de 21 dias, é necessário prever, no primeiro microciclo,


uma redução significativa da extensão da carga nos dias de provável ovulação
em atletas com ciclo ovulatório-menstrual reduzido, e o programa de treinamento
principal deve ser concluído na segunda metade do mesociclo. Durante o período
do microciclo especial, recomenda-se reduzir o volume total e a intensidade das
cargas (KRAEMER et al., 2003; GOMES, 2009).

As cargas mais aceitáveis são as que visam à manutenção da preparação


técnica e da flexibilidade, sendo que as cargas aeróbias em pequenos volumes
exercem influência favorável. As cargas estáticas e dinâmicas globais sobre os
músculos da zona pélvica e abdominal são contraindicadas (GOMES, 2009).

Estrutura do mesociclo

Pré-competitivo

As grandes competições são o objetivo da preparação do atleta, uma vez que


o desempenho nessas competições depende do resultado da preparação anterior
(às vezes vários anos de treinamento). Na fase que antecede as competições
principais, a preparação do atleta visa criar as condições mais favoráveis para
atingir o nível de capacidade de treino alcançado nos desportos de alto nível
durante essas competições.

O fato, porém, de o atleta ter o nível necessário de treinabilidade


não significa que, a qualquer momento, seja capaz de
mostrar tais resultados altos. Na prática desportiva, há muitos
exemplos em que, durante as competições principais, os
atletas apresentavam resultados mais baixos, que não
correspondiam aos resultados dos testes de treinabilidade.
Segundo dados dos especialistas (ZAKHAROV, 1985;
PLATONOV, 1986), 25 a 60% dos atletas demonstram os seus
melhores resultados nas competições principais. A causa de
falhas reside frequentemente na má estruturação do mesociclo
pré-competitivo (GOMES, 2009, p. 196).

96
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

1 A combinação das fases de estimulação e recuperação cria


as condições necessárias para que ocorra o fenômeno da
sobrecompensação, melhorando o nível de condicionamento do
atleta. A menor fração do processo de treinamento é considerada:

a) Mesociclo de preparação.
b) Mesociclo de transição.
c) Microciclo.
d) Período pré-preparação.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Que bom que você conseguiu chegar até aqui. Neste capítulo, vimos como é
realizado o planejamento e o que nós chamamos de periodização de treinamento,
e esperamos que você tenha compreendido o quanto é fundamental esta
periodização, tanto para a melhora de rendimento quanto para a preparação para
a “não lesão” durante o fator competitivo. Vimos que a periodização é dividida
em tempos, denominados micro e macrociclos, e a principal diferença entre eles
é que o macrociclo é um plano de periodização que organiza o treino a longo
prazo, podendo ser anual, bianual ou olímpico, com a duração de quatro anos.
Já o mesociclo é o conjunto de microciclos, ou seja, o agrupamento de treinos
menores. Cada mesociclo pode ter uma periodicidade de 1 a 12 microciclos.

Vimos aqui também o treinamento personalizado não como coletivo, mas


sim como individual. Levamos em consideração o treino feminino no aspecto
hormonal e como este período tem influência no treinamento, principalmente
quando falamos de evolução de treino e hormônios. Assim, temos que levar em
consideração que a maior quantidade de estrogênio e testosterona presentes
no organismo após a menstruação interfere positivamente na sua disposição e
favorece a construção da musculatura. Já, após a ovulação, quando os níveis
desses dois hormônios despencam e a progesterona domina o organismo (ela
prepara o corpo para a menstruação), é normal que o seu rendimento não seja
mais o mesmo.

Esperamos que este capítulo tenha elucidado algumas práticas e que ajude
no seu dia a dia na construção dos seus treinos e que você consiga aumentar o
rendimento dos seus atletas.

97
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Um grande abraço e nos vemos mais adiante.

REFERÊNCIAS
BARBANTI, V. J. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2. ed. São Paulo:
Edgard Blucher, 1997.

BOMPA, T. O. A periodização no treinamento esportivo. Barueri, SP: Manole,


2000.

BOMPA, T. O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 4. ed. São


Paulo: Phorte, 2001.

FEAL, A. R.; NAVARRO, N. V.; FONTOIRA, D. M. Planificación y control del


entrenamiento de natación. Gymnos: Editorial Gymnos S. L., 2001.

FORTEZA, A. de la R. Treinamento desportivo: carga, estrutura e planejamento.


São Paulo: Phorte Editora, 2001.

GOMES, A. C. Treinamento desportivo: estruturação e periodização. 2. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2009. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.
php/5281087/mod_resource/content/1/Treinamento%20Desportivo%20
Estruturac%CC%A7ao%CC%83%20e%20Periodizac%CC%A7a%CC%83o.pdf.
Acesso em: 10 dez. 2021.

HARTMANN, H. et al. Effects of different periodization models on rate of force


development and power ability of the upper extremity. The Journal of Strength
and Conditioning Research, [s. l.], v. 23, n. 7, 2009.

KEIZER, H. A. Exercise – and training – induced menstrual cycle irregularies.


International Journal Sports Medicine, [s. l.], v. 7, p. 38-44, 1986.

KOROP, I.; KONONENKO, I. A natação feminina: particularidades e perspectivas.


Kiev: Zdorovie, 1983.

KRAEMER, W. J. et al. Physiological changes with periodized resistance training


in women tennis players. Med. Sci. Sports Exerc., [s. l.], v. 35, n. 1, p. 157-168,
jan. 2003. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12544650/. Acesso
em: 10 dez. 2021.

98
Capítulo 2 O FATOR PLANEJAMENTO NO TREINAMENTO
DESPORTIVO

MARX, J. O. et al. Low-volume circuit versus high-volume periodized resistance


training in women. Med. Sci. Sports Exerc., [s. l.], v. 33, n. 4, p. 635-643, apr.
2001. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11283441/. Acesso em: 10
dez. 2021.

MATVEIEV, L. P. Periodización del entrenamiento deportivo. Madrid: Instituto


Nacional de Educacion Fisica, 1977.

PLATONOV, V. N. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo: Phorte,


2008.

SIFF, M. C.; VERKHOSHANSKY, Y. Superentrenamiento. Barcelona: Paidotribo,


2000.

TUBINO, M. G. Metodologia científica do treinamento desportivo. 13. ed. São


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WEINECK, J. Treinamento ideal. 3. ed. São Paulo: Manole, 2003.

ZAKHAROV, A.; GOMES, A. C. Ciência do treinamento desportivo: aspectos


teóricos e práticos da preparação do desportista, organização e planejamento do
processo do treino, controle da preparação do desportista. Rio de Janeiro: Grupo
Palestra Sport, 1992.

99
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

100
C APÍTULO 3
A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA
CONTRIBUIÇÃO DO TREINAMENTO
DESPORTIVO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Abordar a ajuda de duas áreas importantes para o treinamento coletivo e


individualizado.
• Verificar como a nutrição e a psicologia influenciam de forma positiva para o
alto rendimento de atletas e como a não utilização destas pode acarretar danos
psicológicos e/ou nutricionais.
• Abordar os macro e os micronutrientes, os fatores sociopsicológicos e as
ferramentas para identificar problemas nessas áreas.
• Interpretar de forma correta os problemas psicológicos que estão acometendo
a equipe e/ou o atleta.
• Indicar a melhor solução para a estabilização esportiva.
• Verificar se o atleta e/ou a equipe estão se alimentando perfeitamente para
cada tipo de esporte específico e se isso está influenciando os resultados que
deveriam ser obtidos.
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

102
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Nutrição e esporte são áreas que se complementam e é difícil pensar em
um sem cuidar do outro. Muitas vezes, uma alimentação balanceada não é
suficiente para manter o indivíduo com boa saúde, é necessário, também, fazer
exercícios físicos adequados. Mesmo sabendo da importância de trabalhar as
duas questões juntas, surgem as seguintes questões: Qual é a melhor abordagem
para a nutrição no esporte? Como posso melhorar o desempenho atlético do meu
cliente por meio do monitoramento nutricional?

A nutrição, atualmente, está muito na mídia e quase todo mundo acha que
domina o conteúdo, certo? Quem nunca recebeu de um amigo conselhos sobre
uma dieta “milagrosa” que ele viu em algum lugar?

Além disso, por se tratar de uma “nova” ciência, nós, profissionais, muitas
vezes nos deparamos com mudanças de conceito e devemos aprender a lidar
com esse fato diariamente. O mercado de esportes e atividades físicas está se
fortalecendo no Brasil e, antes mesmo dos ajustes dietéticos necessários, as
pessoas já usam diversos suplementos alimentares. Talvez um dos maiores
desafios do profissional que trabalha com nutrição hoje é fazer a pessoa entender
que, mais importante do que o uso de qualquer suplemento é, sobretudo, regular
a alimentação, porque é muito comum notar certas falhas na maneira como essa
pessoa se alimenta.

Devemos estar cientes de que além de introduzir uma nova dieta, será
necessário corrigir alguns erros para que o acompanhamento deste atleta ou
praticante de atividade física tenha os resultados esperados. Isso não significa
que os alimentos ou suplementos escolhidos sejam prejudiciais, mas que seu uso
sem o devido controle e dosagem não produzirá o efeito desejado e pode até ser
prejudicial à saúde.

A psicologia do esporte é o estudo de fatores comportamentais que


influenciam e são afetados pela participação e desempenho no esporte, exercício
ou atividade física e a aplicação dos conhecimentos adquiridos por meio deste
estudo à situação diária. Estudar psicologia aplicada ao exercício é estudar as
causas e os efeitos dos eventos psíquicos que os seres humanos experimentam
antes, durante e depois do exercício. Certamente você já percebeu que, mesmo
para ingressar em uma simples academia, o seu estado mental afeta diretamente
a forma como você treina. Alguns dias são melhores ou piores do que outros.
Muitos desses sentimentos são consequências de pensamentos, considerações
e percepções de si mesmo e do mundo. Como outros campos da psicologia, a
psicologia do esporte surgiu justamente para estudar o efeito da mente na prática
de esportes físicos, especialmente de alto rendimento e trabalho em equipe.
103
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Temas, como motivação, personalidade, agressividade e violência, liderança,


dinâmica de grupo, bem-estar psicológico, pensamentos e sentimentos dos
atletas e vários outros aspectos da prática esportiva e física da atividade exigiram
o estudo e a atuação dos profissionais do setor. Com efeito, o nível técnico
dos atletas e das equipes de alto nível deve tornar-se mais equilibrado, livre das
pressões extremas que prejudicam a saúde das pessoas, o que é muito facilitado
pela atenção especial à preparação.

2 ASPECTOS NUTRICIONAIS E O
DESEMPENHO FÍSICO
Segundo Guyton e Hall (2002), a nutrição é responsável por fornecer ao
corpo todos os nutrientes de que ele precisa, tanto em termos da necessidade
de energia física para o esporte quanto em termos dos nutrientes de que o corpo
necessita para equilibrar sua saúde e atingir seus objetivos. Na hora de escolher
uma alimentação de qualidade, o corpo é o principal beneficiado e se você deseja
ter um corpo saudável ou perder peso, a nutrição esportiva é fundamental para
isso. Ao fornecer os nutrientes certos em quantidades adequadas a sua rotina e
qualidade de vida, a nutrição esportiva ajuda a equilibrar sua saúde.

2.1 A NUTRIÇÃO E O DESEMPENHO


FÍSICO
A nutrição esportiva proporciona os seguintes benefícios: previne o desgaste
natural da cartilagem e dos ossos; ajuda a melhorar o desempenho físico; evita
que vitaminas e minerais do corpo percam o ritmo devido a novas atividades
físicas incluídas na rotina; acelera a recuperação muscular; ajuda a reduzir a
gordura corporal; ajuda a regular a quantidade apropriada de nutrientes para o
exercício que o paciente está fazendo e também para os objetivos do paciente;
ajuda o corpo a se recuperar mais facilmente após o treino etc.

A hidratação é um aspecto importante para que o corpo tenha saúde,


qualidade de vida e equilíbrio, portanto, além de seguir o plano alimentar pensado
para a sua individualidade, é extremamente importante ingerir a quantidade ideal
de água todos os dias (COLLINS, 2009).

Para configurar uma fonte de alimentação adequada, é importante que o


atleta forneça uma maior variedade de informações para melhorar a prescrição
da nutrição esportiva. O momento do treinamento físico é um aspecto que será

104
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

levado em consideração pelo profissional que prescreverá a nutrição. Com


relação à refeição após o treino, é importante fornecer nutrientes e garantir uma
recuperação mais rápida do corpo após um curso de atividade física intensa.
É frequente até que o médico peça exames para avaliar o estado de saúde do
seu paciente, para que a partir dos dados construa uma alimentação saudável e
totalmente personalizada (SHIRREFFS, 2009).

É importante ressaltar que o grande diferencial da nutrição esportiva é


a melhora significativa na saúde e no desempenho físico de quem procura um
bom profissional. Uma pessoa que participa de um exercício físico de qualquer
intensidade geralmente causa um desequilíbrio natural de seus minerais e
vitaminas. Isso é normal devido à eliminação do suor e ao próprio treinamento,
mas nenhum desequilíbrio é saudável, principalmente quando é gerado por uma
pessoa tentando se autoalimentar ou seguindo uma dieta da moda.

Consultar um nutricionista esportivo é uma escolha acertada para evitar


problemas de saúde e dificuldades de desempenho. Pensando nisso, o
praticante entende as necessidades naturais do seu corpo, garantindo, através
da alimentação, tudo o que precisa para se tornar mais saudável. Portanto, a
dieta será uma fonte dos nutrientes exatos para garantir que o atleta alcance seus
objetivos estéticos, bem como uma fonte de energia.

Até o momento, vimos que o trabalho da nutrição ajuda o atleta e o usuário


a criarem uma rotina mais saudável e eficiente, mas quais são os reais efeitos da
boa alimentação nesses casos?

Em termos da resposta física às mudanças dietéticas, o monitoramento


nutricional é capaz de melhorar o treinamento energético, aumentar o rendimento
e, o mais importante, ajudar na recuperação muscular e nas reservas de energia
para que o atleta possa realizar sessões de treinamento sem afetar o desempenho
e a saúde. Graças ao acompanhamento nutricional, o atleta e/ou praticante de
exercício físico conseguem manter um bom estado nutricional, com um peso ideal,
um bom percentual de gordura e massa muscular, um ótimo estado de macro
e micronutrientes e bioativos compostos extremamente importantes para: a boa
formação de energia (melhoria da função mitocondrial); o funcionamento ideal
dos sistemas de defesa e melhoria da imunidade; combater o estresse oxidativo
(gerado naturalmente pela atividade, mas que não deve ser excessivo) e a
inflamação, pois reduz muito o risco de lesões musculares e articulares; melhorar
a produção de hormônios; e corrigir desequilíbrios intestinais. Finalmente, com
suporte nutricional, melhora não só o desempenho, mas também a saúde!

105
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

1 Imagine a seguinte situação: um atleta, campeão brasileiro de


mountain bike, te procura porque no final do ano passado ele
estava pesando 5 kg a mais e teve a impressão de que isso
estava prejudicando o seu desempenho. O que o atleta não sabia
é que não era apenas o peso que o impedia de ir bem nos treinos.
Apesar de ter passado por vários profissionais, ele continuava
cometendo os erros da maioria dos atletas de resistência
(esportes fracos ou médios, intensidade e longa duração): tinha
um consumo excessivo de carboidratos de baixa qualidade
(comia pão branco com creme de avelã cheio de açúcar no café
da manhã, colocava açúcar no café e comia massa branca com
frequência), comia pouca proteína e ingeria suplementos. Como
ele pode obter melhores resultados nas provas em que participa?

2.2 O ASPECTO HIDRATAÇÃO NA


NUTRIÇÃO DESPORTIVA
Segundo Collins (2009), os fluidos corporais são distribuídos nos
compartimentos intracelular e extracelular, sendo este último formado pelo
interstício celular e plasma sanguíneo. Cerca de 20% do peso corporal consiste
em fluidos intersticiais e plasmáticos, respectivamente, 3/4 e 1/4 dos 14 litros
de compartimento extracelular existentes no homem médio de 70 kg. Na sua
composição, predominam os cátions de sódio (142 mEql/l), secundados pelos
ânions de cloro e pequenas quantidades de proteínas e potássio (4,2 mEq/l).

A composição do líquido extracelular é estritamente regulada por diferentes


mecanismos, com ênfase na função renal, que mantém as células umedecidas
em um líquido com concentração de eletrólitos e nutrientes suficientes para seu
funcionamento adequado. No compartimento intracelular, existem 28 litros dos 42
litros existentes no corpo, o que representa cerca de 40% do peso corporal de um
indivíduo médio. O fluido intracelular contém pequenas quantidades de cloreto e
íons de sódio (14 mEql/l), grandes quantidades de íons de potássio (140 mEql/l),
fosfato e quase quatro vezes a concentração plasmática de proteína (GUYTON;
HALL, 2002).

A manutenção de um volume relativamente constante e de


uma composição estável dos solutos dos líquidos corporais é
essencial para a homeostasia do organismo. A necessidade

106
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

diária de água varia individualmente, sendo influenciada por


uma série de fatores, como as condições ambientais e as
características da atividade física, como duração da sessão,
intensidade do exercício e necessidade de vestimentas
que interferem na termorregulação, por exemplo. A água
do organismo provém de várias fontes, sendo ingerida sob
a forma de água pura e de água que compõe os alimentos,
inclusive os sólidos, que são as fontes exógenas. Existe,
ainda, a produção endógena de água, decorrente da oxidação
dos macronutrientes. A soma das fontes exógena e endógena
precisa oferecer ao organismo humano a quantidade de água
correspondente às perdas diárias. Além do débito urinário,
cerca de 100 ml de urina/hora, ocorrem perdas pela pele e
pelo trato respiratório, somando cerca de 700 ml/dia de perda
insensível de água, perda pelo suor, que é bastante variável,
podendo atingir até dois litros por hora durante a prática de
exercícios físicos, além das perdas pelas fezes, cerca de 100
ml/dia. Portanto, para que exista equilíbrio entre ingestão e
excreção, cabe aos rins a tarefa de regular a perda de líquidos
e eletrólitos, por meio de múltiplos mecanismos. Com efeito,
o mecanismo essencial pelo qual o organismo mantém o
equilíbrio hidroeletrolítico depende do bom funcionamento
renal (GUYTON; HALL, 2002 apud CARVALHO; MARA, 2010,
p. 144).

2.3 TERMORREGULAÇÂO
A eficiência mecânica do organismo humano é baixa. Na caminhada
rápida e na corrida, no máximo 25% da energia química advinda da oxidação
dos nutrientes costumam se transformar em energia mecânica, responsável
pelo movimento. O restante é transformado imediatamente em energia
térmica. Posteriormente, inclusive a energia mecânica, que proporcionou o
movimento, também é transformada em energia. Portanto, 100% da energia
são transformados em calor. Essa energia térmica, que se acumula durante o
exercício, elevando a temperatura corporal, deve ser dissipada, o que é feito por
mecanismos termorreguladores, sem os quais o corpo entraria em colapso por
superaquecimento em poucos minutos de atividade (CARVALHO; MARA, 2010).

Dentre os mecanismos termorregulatórios, o mais eficaz durante a


prática de exercícios é a evaporação do suor. Portanto, não basta suar, sendo
necessária a evaporação do suor para que o calor seja liberado pelo organismo,
algo influenciado pela umidade relativa do ar ambiente, ou seja, o aumento da
umidade relativa do ar diminui a taxa de evaporação do suor, possibilitando,
consequentemente, menor liberação do calor corporal. Os demais mecanismos,
que são a condução, a irradiação e a convecção, têm importância menor durante a
prática de exercícios, principalmente os mais intensos e prolongados. Na medida
em que ocorre a elevação da temperatura externa, esses três mecanismos se
tornam ainda menos efetivos (CARVALHO; MARA, 2010).

107
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Convecção é a transferência de calor por meio da movimentação


interna dos fluidos. A convecção ocorre quando há transmissão ou
transferência de energia de um lugar para outro pelo deslocamento
de meio material através de correntes que se estabelecem no interior
do meio. Dois exemplos são a geladeira e o aquecedor de água.

FONTE: <https://www.if.ufrgs.br/~dschulz/web/conveccao>. Acesso


em: 25 jan. 2022.

O fluxo sanguíneo que banha as células do hipotálamo anterior permite


ao corpo humano controlar o sangue ou a temperatura interna do corpo.
Segundo Gisolfi e Duchman (1992), diante do aumento de temperatura central,
desencadeia-se uma resposta eferente mediada por receptores adrenérgicos
nos vasos sanguíneos, ocorrendo vasodilatação periférica e, consequentemente,
desvio de sangue para a pele. Concomitantemente, ocorre estímulo dos receptores
colinérgicos nas glândulas sudoríparas, que aumentam a taxa de produção do
suor. Portanto, o aumento da temperatura central desencadeia o mecanismo de
termorregulação, que culmina com a formação e a evaporação do suor.

Os mecanismos da termorregulação e da manutenção da homeostasia


cardiocirculatória podem se tornar conflitantes, principalmente se houver
desidratação com diminuição do volume plasmático circulante, quando o
organismo privilegia a manutenção do volume plasmático, em detrimento da
termorregulação, ocorrendo, então, diminuição da vasodilatação periférica e da
produção de suor. Com o aumento da temperatura central, a consequência é a
gradativa diminuição do desempenho físico, que pode culminar com o colapso,
a exaustão e a insolação, ocasionando até mesmo o óbito (MONTAIN; COYLE,
1992).

O Comitê de Medicina Esportiva da Academia Americana de Pediatria (vide


Tabela 1) recomenda que sejam levados em consideração para a prática esportiva
os níveis de estresse térmico medidos pelo Índice de Temperatura do Globo e
Bulbo Úmido. Esse índice combina as temperaturas de medida do ar (Tdb),
umidade (Twb) e radiação solar (Tg), sendo determinado pela equação WBGT
= 0,7wb + 0,2Tg + 0,1Tdb. Curiosamente, essa recomendação é mais relevante
para atividades extenuantes e de longo prazo (CARVALHO; MARA, 2010).

108
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

TABELA 1 – EXERCÍCIOS FÍSICOS DE ACORDO COM


OS NÍVEIS DE ESTRESSE TÉRMICO

FONTE: Carvalho e Mara (2010, p. 145)

2.4 DESIDRATAÇÃO
Guyton e Hall (2002) afirmam que, em atletas de provas de longa duração,
o mecanismo de desidratação se dá principalmente pela perda de suor, que
pode chegar a ser de até dois litros/hora, sendo que fatores, como as condições
ambientais, condicionamento físico, aclimatação, grau de intensidade de esforço
e tempo de exposição influenciam o volume da perda. Principalmente, mas não
somente, as atividades de longa duração em climas quentes expõem o indivíduo
às doenças relacionadas com o calor, sendo importante o diagnóstico do estado
de hidratação nesse contexto (LOPEZ; CASA, 2009).

O uso de solução de reposição oral, recomendação que


obrigatoriamente deve ser seguida pelos participantes de
atividades de longa duração, inclusive os que percorrem
trilhas, atividade que vem crescendo nos últimos anos, permite
a adequada reposição de água, energia (carboidrato simples) e
eletrólitos (principalmente o sódio). Portanto, a reposição ideal
se faz por meio das soluções hidroglicoeletrolíticas, conhecidas
popularmente como ‘bebidas desportivas’ (CARVALHO;
MARA, 2010, p. 145).

109
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

O grau de desidratação pode ser determinado pela massa corporal verificada


imediatamente antes e após a atividade física, sendo a perda de cada 0,5 kg
correspondente a aproximadamente 480-500 ml de líquido (GUYTON; HALL,
2002). A partir de certo ponto, a desidratação, que espolia os compartimentos
intracelular e extracelular, acarreta diminuição do fluxo sanguíneo periférico
e do ritmo da transpiração, podendo mesmo interromper a dissipação do calor
(SAWKA, 1992).

A desidratação, que reduz a massa corporal em 1%, compromete a


termorregulação entre 3 e 5%, causando aumento da frequência cardíaca e
da temperatura e diminuição do débito cardíaco, enquanto a desidratação, que
reduz a massa corporal em 7%, geralmente causa colapso durante o exercício
(SAFRAN; MCKEAG; VAN CAMP, 1998). O ambiente sempre deve ser levado em
consideração, pois atletas com o mesmo percentual de perda de massa corporal
apresentam melhor desempenho em clima frio ou ameno (20 ou 21° C) do que
em clima quente (31 ou 32° C) (SHIRREFFS, 2009).

Desidratação leve e moderada causa sinais e sintomas, como fadiga, perda


de apetite, sede, vermelhidão da pele, intolerância ao calor, tonturas, oligúria
e aumento da concentração urinária. A desidratação severa causa pele seca e
enrugada, olhos fundos, visão embaçada, delírio, espasmos musculares, choque
térmico e coma, podendo levar à morte (SCHWELLNUS, 2009).

2.5 REPOSIÇÃO HIDROELETROLÍTICA


Segundo Montain e Coyle (1992), a partir da desidratação que causa perda
de peso corporal entre 1 e 2%, há um aumento na temperatura corporal de 0,4
°C para cada percentual subsequente de desidratação. A reposição em volumes
equivalentes às perdas previne o declínio no volume de ejeção ventricular,
beneficiando a termorregulação, favorecendo o fluxo sanguíneo periférico e
facilitando a transferência de calor.

Especialmente no exercício de longa duração, água, eletrólitos e estoques


de glicogênio são constantemente depletados e, a menos que esses elementos
sejam repostos, podem ocorrer hipovolemia, hipoglicemia, hiponatremia,
hipertermia e desidratação (GISOLFI; DUCHMAN, 1992).

A inadequada reposição eletrolítica e a super-hidratação podem contribuir


para a hiponatremia, cujos sinais e sintomas, muitas vezes semelhantes aos da
desidratação, exigem a dosagem de sódio sérico capilar e a pesagem de massa
corporal antes e após a atividade física, para que se estabeleça o diagnóstico
diferencial (Tabela 2) (ADROGUÉ; MADIAS, 2000).

110
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Você já imaginou o quanto os atletas de luta se desidratam


tanto em competições quanto nos períodos de pré-competição?
Muitos utilizam essas pseudotécnicas para perder peso e diminuir
de categoria, mais o quanto isso é prejudicial para o atleta? Veja a
matéria ‘O perigoso método usado por lutadores de MMA para perder
7 kg em um dia’ e tire as suas conclusões sobre esse perigoso método.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-
39280340#:~:text=Esse%20processo%20%C3%A9%20
potencializado%20com,gota%20de%20%C3%A1gua%20do%20
corpo.

A perda de sódio é dependente do estado de aclimatação do atleta e da taxa


de suor, sendo uma grande preocupação em atividades de longo prazo. Além da
perda de água e eletrólitos, exercícios prolongados podem causar hipoglicemia
e depleção de glicogênio, fatores que contribuem para o aparecimento da fadiga
relacionada ao clima e à atividade esportiva (SHIRREFFS, 2009).

O Colégio Americano de Medicina Esportiva publicou um


guia de orientação para a reposição hidroglicoeletrolítica
fundamentado na duração e intensidade do evento desportivo,
de modo que seja devidamente estimada a necessidade de
reposição de água, eletrólitos e substrato energético. Tal
reposição deve ocorrer antes, durante e após a sessão de
exercício. Conforme a duração, os eventos são classificados
em atividades de menos de uma hora, entre uma e três horas
e acima de três horas. Em atividades com menos de uma
hora de duração, a reposição de água visa evitar o aumento
da temperatura central, não sendo necessária a reposição de
sódio. Nessa situação, também, a reposição de carboidrato
não é recomendada, principalmente porque em geral são
atividades de alta intensidade, nas quais o esvaziamento
gástrico é prejudicado. Eventos com duração entre uma e três
horas são realizados geralmente entre 60 e 90% do consumo
máximo de oxigênio, devendo ocorrer reposição hídrica e do
substrato energético (CARVALHO; MARA, 2010, p. 146).

111
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

TABELA 2 – SINAIS E SINTOMAS DIFERENCIAIS


ENTRE HIPONATREMIA E DESIDRATAÇÃO

FONTE: Carvalho e Mara (2010, p. 146)

Em eventos de longa duração, ou com duração maior que três


horas, recomenda-se a ingestão de 300 a 500 ml de água antes
da prova e de 500 a 1.000 ml por hora de atividade. A bebida a
ser consumida durante a atividade deve ter temperatura entre
5 e 15 ºC, e conter entre 6 e 8% de carboidrato e entre 20 e 30
mEq/l de sódio. A reposição de potássio pode ser benéfica, na
concentração entre 3 e 5 mEq/l (GISOLFI; DUCHMAN, 1992
apud CARVALHO; MARA, 2010, p. 146).

As diretrizes da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, sobre


modificação da dieta e reposição de eletrólitos, geralmente recomendam que o
indivíduo comece a se hidratar com 250 a 500 ml de água duas horas antes do
exercício e mantenha a ingestão de líquidos a cada 15 a 20 minutos durante o
exercício. O volume a ser ingerido varia de acordo com a taxa de suor, que pode
variar de 500 a 2.000 ml/h (CARVALHO; MARA, 2010).

A reposição de carboidrato, entre 30 e 60 g de glicose por hora


de atividade, deve ser considerada apenas para as atividades
intensas e contínuas com mais de uma hora de duração. Após
o exercício, deve continuar a ingestão de líquido, para que
sejam supridas as perdas adicionais pela urina e sudorese.
Recomenda-se a reposição de 50 g de glicose nas primeiras
duas horas após a atividade, para que se promova a ressíntese
de glicogênio muscular e hepático (CARVALHO; MARA, 2010,
p. 146).

112
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

2.6 RECOMENDAÇÕES
NUTRICIONAIS
Segundo Carvalho e Mara (2010), para aqueles que praticam exercícios não
competitivos, uma alimentação balanceada, recomendada para a população em
geral, é suficiente para manter a saúde e permitir um bom desempenho físico.

No caso do atleta, a necessidade energética é calculada por


meio da soma da necessidade energética basal e o gasto
energético médio em treino. Os macronutrientes (carboidratos,
lipídios e proteínas) devem ser consumidos visando à
recuperação muscular, manutenção do sistema imunológico,
equilíbrio do sistema endócrino e melhora do desempenho
desportivo. As necessidades nutricionais, em termos calóricos,
correspondem a um consumo que se situa entre 37 e 41
kcal/kg de peso/dia. Contudo, a depender dos objetivos, a
necessidade calórica pode apresentar variações mais amplas,
entre 30 e 50 kcal/kg de peso/dia (CARVALHO; MARA, 2010,
p. 147).

Na atividade leve, abaixo de 70% da FC máxima, portanto,


abaixo do limiar anaeróbio, a energia advém quase que
exclusivamente das reservas de gordura (quociente respiratório
igual ou pouco acima de 0,70). Durante uma atividade contínua
e moderada, com intensidade entre 70 e 85% da FC máxima,
algo em torno ou pouco acima do limiar anaeróbio, a obtenção
de energia advém de fonte mista, ou seja, da mobilização
de carboidratos e gorduras (quociente em torno de 0,83).
Quando a intensidade se acentua, igual ou acima do ponto
de compensação respiratória, a obtenção de energia depende
exclusivamente dos carboidratos (quociente respiratório igual
ou acima de 1,0). A energia decorrente dos carboidratos
depende principalmente do glicogênio armazenado no
músculo esquelético, ou seja, da glicogenólise e subsequente
glicólise, enquanto a energia vinda da gordura decorre da
oxidação de ácidos graxos, provenientes principalmente da
lise de triglicérides (lipólise). Portanto, a determinação do
substrato a ser utilizado como fonte de energia depende da
duração e intensidade do exercício (CLAASSEN et al., 2005
apud CARVALHO; MARA, 2010, p. 147).

Segundo Carvalho (2003), o glicogênio exige muito espaço para pouca


energia, pois 3/4 do seu volume correspondem à água. A energia advinda
dos carboidratos é de grande explosão, sendo facilmente depletável.
Consequentemente, após cerca de 90’ de uma atividade contínua, moderada e
intensa, costuma ocorrer a depleção quase total das reservas de carboidrato,
tendo como consequências a fadiga e a indisposição, causadas principalmente

113
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

pela hipoglicemia e pelo acúmulo de corpos cetônicos (cetose). Para que isso não
ocorra, há a necessidade de consumo de carboidrato simples durante a atividade,
mesmo quando existe uma boa reserva inicialmente. A reposição das reservas de
carboidrato é importante no período de recuperação, evitando a fadiga crônica e
preservando o desempenho desportivo e a saúde (HERNANDEZ, 2009).

A ingestão de carboidratos correspondente a algo situado


entre 60 e 70% do aporte calórico diário atende perfeitamente
à demanda de um treinamento desportivo. Para aperfeiçoar o
processo de recuperação muscular, recomenda-se o consumo
de carboidratos entre 5 e 8 g/kg de peso/dia. Em atividades de
longa duração, recomendam-se até 10 g/kg de peso/dia para
que ocorra adequada recuperação do glicogênio muscular.
Para atletas de provas longas, recomenda-se consumo entre
7 e 10 g/kg de peso/dia e entre 30 e 60 g de glicose para cada
hora de exercício contínuo, para prevenção da hipoglicemia,
da depleção de glicogênio e da consequente fadiga.
Imediatamente após o exercício, recomenda-se a ingestão de
carboidratos simples, de alto índice glicêmico, correspondente
a algo entre 0,7 e 1,5 g/kg de peso. A ingestão de carboidrato
simples imediatamente após o exercício favorece a ressíntese
de glicogênio muscular de forma mais rápida, tendo sido
demonstrado que altas taxas de ressíntese de glicogênio
muscular podem ser obtidas com o consumo de cerca de 1,2
g de glicose/kg a cada 30 minutos nas primeiras cinco horas
de recuperação (GOFORTH et al., 2003 apud CARVALHO;
MARA, 2010, p. 147).

Visando um maior acúmulo ou “supercompensação” de glicogênio muscular,


Sherman et al. (1981) propuseram, para um grupo de atletas praticantes de
atividade de longa duração, uma redução no volume e intensidade do treinamento
e um aumento no consumo de carboidratos, de cerca de 9 a 10 g/kg/dia
durante os quatro dias imediatamente anteriores ao teste, em uma abordagem
considerada mais eficaz do que a proposta anteriormente por Bergstrom et al.
(1967), que haviam demonstrado que a sobrecarga de carboidratos produzia altas
concentrações de glicogênio muscular após a corrida. Foi também demonstrado
que a ingestão de bebida contendo carboidrato simples melhora o desempenho
dos atletas durante a atividade de longa duração, na comparação com a ingestão
de água ou placebo, sendo que a resposta metabólica não ocasionou elevação
da temperatura corporal central, mesmo em temperaturas ambientes de 30 ºC
(HULSTON; JEUKENDRUP, 2009 apud CARVALHO; MARA, 2010).

Em temperaturas de 30 °C, Keizer et al. (1987) verificaram que, quando o


consumo de alimentos à vontade era permitido, sem orientação específica aos
atletas, eles não conseguiam repor adequadamente os estoques de glicogênio.

Portanto, é importante monitorar e orientar a ingestão de carboidratos


durante o período de recuperação dos atletas conforme prescrição necessária.

114
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Isso indica que, para atletas de provas de longa duração, recomenda-se consumir
entre 7 e 10 g/kg de peso corporal/dia e entre 30 e 60 g de carboidratos simples
por hora de exercício contínuo, a fim de prevenir hipoglicemia, exaustão grave
de glicogênio e fadiga. Após a atividade física, são recomendados carboidratos
de alto índice glicêmico, correspondendo a algo entre 0,7 e 1,5 g/kg de peso, no
período entre quatro e cinco horas. Para a população em geral, consumir uma
quantidade normal de carboidratos na dieta, dentro de 24 horas após atividades
longas, é suficiente para repor os estoques de glicogênio, sem a necessidade de
recomendação especial (KEIZER et al., 1987).

Com relação às proteínas, é suficiente para indivíduos


sedentários o consumo entre 0,8 e 1,2 g/kg/peso/dia. Para
atletas, a recomendação pode ser entre 1,2 e 1,6 g/kg/
peso/dia. Mesmo no caso de atletas de força (fisiculturistas,
halterofilistas etc.) a recomendação é de no máximo 1,8 g/kg/
peso/dia, algo facilmente possível de ser obtido por meio de uma
dieta balanceada, que, portanto, é suficiente para fornecer a
proteína que permita a necessária síntese proteica, necessária
para o ganho de massa muscular, não havendo necessidade
de qualquer suplementação. Quanto às necessidades diárias
de lipídios, os atletas necessitam das mesmas recomendações
destinadas à população em geral, ou seja, 1 g de lipídio/kg
de peso corporal, correspondendo a 30% do valor calórico
total da dieta, devendo ser mantidas as proporções normais
de ácidos graxos, ou seja, 10% de lipídios saturados, 10% de
monoinsaturados e 10% de poli-insaturados (HERNANDEZ,
2009 apud CARVALHO; MARA, 2010, p. 147).

1 A nutrição é uma ferramenta importante dentro da prática


esportiva. É um dos fatores que pode favorecer o desempenho
atlético, já que, quando bem orientada, pode reduzir a fadiga e as
lesões ou ajudar na recuperação destas, aumentar as reservas
de energia para a competição e auxiliar na preparação física.
Assinale V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas:

( ) Reduções significativas na gordura dietética podem prejudicar


o desempenho físico. Alimentos ricos em gordura devem ser
consumidos antes da atividade física, pois a gordura é uma fonte
de energia para exercícios de longa duração de alta intensidade.
( ) Recomenda-se o consumo de carboidratos com índice glicêmico
moderado imediatamente após uma maratona, a fim de promover
a ressíntese de glicogênio.

115
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

( ) Indivíduos treinados têm maior capacidade de utilizar ácidos


graxos e também economizar glicogênio muscular durante o
exercício.
( ) A ingestão de carboidratos durante o exercício não previne a
fadiga muscular, mas retarda seu início.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) F, F, V, V.
b) V, F, V, F.
c) V, V, F, F.
d) F, V, F, V.

2.7 A SUPLEMENTAÇÃO NA VISÃO DA


COMPOSIÇÃO CORPORAL
Ganho de força, aumento da massa muscular, redução da gordura corporal,
aumento da capacidade aeróbica, redução da fadiga, recuperação rápida e outros
fatores que melhoram o desempenho físico atlético são objetivos comuns em
atletas. Para o ganho de massa muscular, é preciso ter um aporte adequado de
nutrientes, contido em todos os grupos de alimentos, e, sobretudo, um aporte
proteico adequado, pois o aumento da disponibilidade plasmática de aminoácidos
leva ao anabolismo proteico muscular (KATSANOS et al., 2008).

Os suplementos alimentares estão no centro das atenções, ainda mais


quando pensamos sobre seus possíveis efeitos no desempenho físico, e seu uso
está cada vez maior, principalmente entre atletas (PENCHARZ; ELANGO; BALL,
2012). Frequentemente, as necessidades de alta energia não são atendidas
apenas pela dieta, o que requer a adição de ingestão de suplementos dietéticos
(GOSTON; CORREIA, 2009). Macronutrientes são recomendados para atletas,
de 1,2 a 2,0 g/kg p/dia de proteína, 60,0% de carboidratos e 20,0% de gordura.

Criada em 10 de novembro de 1999, a Agência Mundial Antidoping (AMA)


– em inglês, World Anti-Doping Agency (WADA) – estabelece regras e diretrizes
para combater a dopagem em escala global, expandidas politicamente pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
e outros órgãos (CFM, 2018).

116
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Suplementos abrangidos na RDC nº 18/2010 da ANVISA, especialmente


formulados para auxiliar os atletas e atender suas necessidades nutricionais
específicas e auxiliar no desempenho do exercício: cafeína, creatina, suplementos
energéticos, suplementos hidroeletrolíticos, suplementos para substituição parcial
de refeições e suplementos proteicos (BRASIL, 2010).

No entanto, essa regulamentação não abrange substâncias estimulantes,


hormônios, entre outras consideradas como “doping”. Pessoas fisicamente
ativas, que praticam atividade física recreativa, por estética ou para a promoção
da saúde não necessitam de nutrientes adicionais além dos obtidos por uma
alimentação equilibrada, a não ser em condições especiais, sob prescrição
de profissionais da área (GOSTON; CORREIA, 2009). Atletas envolvidos em
treinos com considerável duração diária e semanal podem se beneficiar do uso
de suplementos, sendo estes adicionais a uma dieta adequada, visto que esses
indivíduos precisam consumir energia suficiente para o treinamento (BECKER et
al., 2016).

A baixa ingestão alimentar pode levar à diminuição de massa muscular e


densidade óssea, aumento do risco de fadiga, lesão muscular, entre outros
(MALFATTI et al., 2008). É importante entender a legislação vigente para avaliar
as características dos suplementos e os fatores associados ao seu consumo,
visto que existe uma grande quantidade desses produtos no mercado atual, o que
torna difícil entender corretamente os seus reais benefícios e quais são os mais
adequados para uso em situações específicas (COSTA JÚNIOR, 2012).

A prescrição de suplementos pelo nutricionista deve ser baseada na


avaliação do estado nutricional, na dieta do atleta, no ajuste do consumo alimentar
e na definição clara do período de uso do suplemento. Fica clara a importância
do trabalho multidisciplinar, visto que o nutricionista, em sua formação, não
aprende satisfatoriamente todos os conteúdos sobre a fisiologia do exercício e do
esforço e as características de cada tipo de treinamento, informações totalmente
compreendidas pelo educador físico e pelo fisiologista (WLOCH et al., 2008).

Veremos, a seguir, alguns dos suplementos mais utilizados, seus efeitos e


consumo segundo alguns estudos.

Suplementos à base de carboidratos

Os carboidratos são combustíveis importantes para o sistema nervoso


central, têm efeito anticetogênico, ação poupadora de proteínas e fator
imunorregulatório (SANTOS, 2011). O uso de suplementação de carboidratos por
atletas é interessante, pois dependendo da duração e intensidade do treinamento,

117
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

há perda de fluidos corporais, queda da glicemia e depleção dos estoques de


glicogênio muscular (ACSM, 2011). As bebidas isotônicas, por exemplo, também
são utilizadas por atletas por conterem concentrações adequadas de eletrólitos,
que levam à rápida absorção dos líquidos, mantendo o corpo hidratado e
equilibrado, visto que o equilíbrio eletrolítico visa aumentar o açúcar no sangue.
O consumo de bebidas energéticas de 10 a 60 minutos antes do exercício pode
ser benéfico, melhorando o foco mental e o desempenho durante o treinamento.

O uso dessas bebidas durante o treino é importante para a manutenção


de níveis adequados de glicose, principal substrato para a geração de energia,
porém, cuidados devem ser tomados, pois uma maior ingestão calórica pode
favorecer uma ingestão de energia que às vezes não é considerada parte
integrante do consumo energético diário total necessário. As bebidas isotônicas
contêm de 4 a 8% de carboidratos em sua composição, como misturas de glicose,
sacarose, frutose e maltodextrina, eletrólitos (sódio e potássio) e pode conter
outros compostos, como proteínas/aminoácidos ou cafeína (BURKE; MAUGHAN,
2010).

Costa et al. (2010) sugerem que a quantidade e o tipo de carboidratos


utilizados são fundamentais para que seu uso seja eficaz, influenciando
diretamente no esvaziamento gástrico. Concentrações de carboidratos acima
de 8% diminuem a taxa de esvaziamento gástrico, retardando o processo de
absorção. As recomendações para o consumo adequado de carboidratos em
exercício serão descritas no Quadro 1.

QUADRO 1 – CONSUMO DE CARBOIDRATOS RECOMENDADO PARA ATLETAS

FONTE: Becker et al. (2016, p. 97)

118
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

BCAA

Estudos já demonstraram que, para a síntese de proteínas musculares,


uma mistura de aminoácidos de cadeia ramificada é tão eficaz quanto todos os
aminoácidos essenciais combinados (MATA; NAVARRO, 2009). Com relação
ao possível efeito antifadiga dos BCAA, Falavigna et al. (2012) comentam que
a suplementação crônica com 3,57% de BCAA contidos em uma dieta padrão
para roedores com livre acesso à ração aumentou o tempo de natação até a
exaustão em ratos suplementados em comparação a um grupo com controle. A
suplementação de BCAA possui efeito dose-dependente e uma ingestão crônica
de grandes quantidades de BCAA pode levar à incapacidade de manter a força
muscular, com consequente redução do desempenho, ao contrário do que se é
esperado pelos atletas ao usarem a estratégia da suplementação (BECKER et al.,
2016).

Como não são decompostos diretamente no fígado, os BCAA ingeridos


acabam na corrente sanguínea e estão disponíveis para os músculos esqueléticos.
Dietas ricas em BCAA estão frequentemente associadas ao baixo peso corporal,
sugerindo oxidação de ácidos graxos (KAINULAINEN; HULMI; KUJALA, 2013).
“Enfim, há a hipótese de que os BCAA são mediadores no catabolismo da glicose,
há o aumento da utilização dos ácidos graxos para a β-oxidação, aumentando a
capacidade aeróbia no exercício e também em situações de repouso” (BECKER
et al. 2016, p. 98).

Arginina

A associação da suplementação de arginina ao exercício físico pode


melhorar o desempenho, uma vez que a arginina é substrato para a formação do
óxido nítrico, levando a uma melhora na função endotelial com melhoria do fluxo
sanguíneo e também à redução da agregação plaquetária, melhora da resistência
e crescimento vascular, aumento do ritmo de filtração glomerular, entre outros
(LIMA et al., 2012).

A arginina tem sido estudada, também, como um aminoácido que estimula a


secreção de hormônio do crescimento (GH), por meio da inibição da secreção da
somatostatina, que é um hormônio que inibe a secreção de GH, podendo, então,
aumentar os níveis de GH em repouso (NICASTRO et al., 2008 apud BECKER et
al., 2016).

Creatina

O exercício pode induzir lesões musculares e comprometer o desempenho


do atleta, devido a isso, existe a justificativa das estratégias de suplementação

119
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

nutricional, que visam interferir positivamente nesse aspecto (SOUZA et al., 2010).
Essa pode ser uma ferramenta de modulação do metabolismo de carboidratos.
Em alguns estudos, já foi observado que a creatina pode afetar a absorção
de glicose, aumentando a secreção de insulina pancreática ou por ação direta
nos tecidos periféricos, aumentando a expressão do transportador de glicose
muscular (GLUT-4) aumentando o transporte de glicose para as células (FREIRE
et al., 2008).

A melhor forma de administrar a creatina ainda é bastante discutida e,


em alguns estudos, que não chegaram a uma conclusão em si, a absorção de
creatina parece ser aumentada quando combinada com carboidratos em sucos
ou bebidas esportivas (MAHAN; RAYMOND, 2011). Devido a isso, sugere-se que
a ingestão de carboidratos simples estimula a secreção de insulina, resultando
em aumento da atividade da bomba sódio-potássio e do transporte de creatina
para o músculo.

A dose diária de suplementação segura e recomendada de creatina pode


ser entre 3 e 5 gramas, e o recomendado é que a ingestão de creatina ocorra 30
minutos antes do exercício. Estima-se que os estoques de creatina permaneçam
elevados 2 a 3 meses após a suplementação com 20 gramas de creatina durante
cinco dias.

Whey Protein

A maioria dos estudos disponíveis conclui que o soro do leite ou proteína


do leite (soro + caseína) ingerido imediatamente após o exercício de resistência
aumenta a síntese de proteína muscular em comparação com o consumo de
carboidratos imediatamente após o treinamento (HULMI; LOCKWOOD; STOUT,
2010). Além disso, a proteína do soro do leite pode ter a propriedade de aumentar
a resposta antioxidante, devido à produção de glutationa celular, que é um
peptídeo composto por glutamato, cisteína e glicina, que tem efeito antioxidante.
Durante exercícios, espécies reativas de oxigênio são liberadas, resultando em
estresse oxidativo (TERADA et al., 2009).

Terada et al. (2009) demonstraram que a ingestão de proteínas hidrolisadas


do soro do leite após o exercício leva à maior síntese de aminoácidos no sangue
e de proteínas musculares quando comparado à ingestão de proteínas de soja
ou caseína também pós-exercício. Observou-se, também, que a ingestão de
proteínas de soja estimulou maior síntese de proteínas em relação à caseína.
Sugere-se, então, que o consumo de um suplemento de proteínas hidrolisadas
tem ação mais rápida, aumentando a disponibilidade de aminoácidos na circulação
sistêmica que estarão disponíveis para o anabolismo de proteínas musculares. A
suplementação de proteína do soro do leite é vista na maioria dos estudos como

120
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

uma estratégia importante para aumentar a resposta de resistência ao exercício e


hipertrofia muscular, e a proteína do soro do leite pode ou não estar associada à
ingestão de carboidratos.

1 O processo de hipertrofia ocorre quando a taxa de síntese


proteica muscular ultrapassa a taxa de degradação, resultando
em um balanço positivo do balanço proteico muscular. Assinale V
para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) O exercício de força induz a um aumento agudo no turnover e


oxidação de proteínas durante o exercício.
( ) A hidratação e a ingestão adequada de nutrientes (carboidratos
e proteínas) durante o período pós-exercício atuam em conjunto
para atingir o balanço proteico muscular positivo.
( ) Recomenda-se uma ingestão proteica entre 1,6 g/kg/dia e 2,0 g/
kg/dia com o objetivo de otimizar a síntese de proteína muscular.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


( ) F, F, F.
( ) V, V, V.
( ) F, V, V.
( ) F, V, F.

2 As recomendações dietéticas para homens e mulheres


fisicamente ativos visam atingir um equilíbrio entre a ingestão e
o gasto de energia, promovendo uma melhora no desempenho
físico, manutenção/ganho de massa magra, benefícios nas
funções imunológicas, entre outros. Assinale a alternativa
CORRETA:

a) O aumento do metabolismo na atividade física amplia a produção


de radicais livres potencialmente prejudiciais. Para reduzir a
possibilidade de estresse oxidativo e danos às células, sua
dieta diária deve conter alimentos ricos em vitaminas e minerais
antioxidantes.
b) A suplementação de vitaminas em excesso aos valores
encontrados em uma dieta balanceada pode melhorar o
desempenho físico ou o potencial de treinamento, além dos
poderosos benefícios antioxidantes que agrega à dieta.

121
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

c) Não há recomendação precisa para a ingestão diária de gorduras,


uma recomendação conservadora sugere não ultrapassar de 30
a 35% do valor energético total e, dentro desse percentual, tentar
chegar a 90% na forma de ácidos graxos insaturados.
d) Para atender às necessidades diárias de energia e nutrientes e
minimizar o risco de doenças crônicas, os adultos devem consumir
entre 45 e 65% do valor energético total dos carboidratos, com
ingestão máxima de açúcares adicionados de 25% do valor total.

3 O METABOLISMO ATUANTE NO
TREINAMENTO DESPORTIVO
“Nos momentos iniciais do exercício, ocorre predominância das fontes
energéticas primárias ATP e CP” (LANCHA JUNIOR, 1996, p. 68). Este evento
se deve à ressíntese do ATP pela quebra do CP; a enzima creatina fosfoquinase
(CPK) controla a degradação desse CP. O metabolismo ATP-CP predomina em
atividades de curta duração e alta intensidade.

3.1 O METABOLISMO ENERGÉTICO


NO TREINAMENTO DESPORTIVO
Cintra Filho (1997), estudando dois grupos de sedentários, negros africanos
(de Camarões, Senegal, Zaire, Costa do Marfim e Burundi) e caucasianos,
descobriu que os africanos têm maior atividade da enzima CPK, envolvida
no metabolismo do ATP-CP, e a enzima fosfofrutocinase (PFK), que atua no
metabolismo glicolítico. Em comparação aos caucasianos, não houve diferenças
significativas. Assim, concluiu que “os negros africanos são, em média, bem
dotados para provas de alta intensidade e curta duração com respeito às
características enzimáticas” (CINTRA FILHO, 1997, p. 58).

O metabolismo ATP-CP predomina até 30 segundos, em seguida, o sistema


glicolítico prevalece no exercício. Cintra Filho (1997) relata que os carboidratos
são a fonte de energia do metabolismo glicolítico e alerta que esse carboidrato
é transformado em glicose, para uso, ou convertido em glicogênio, para
armazenamento no fígado e nos músculos. Segundo Hawley e Hopkins (1995),
a degradação do glicogênio em glicose ou seu uso imediato pela glicose forma o
ácido pirúvico; a fosfofrutocinase (PFK) controla a taxa do metabolismo glicolítico,

122
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

e o PFK de jovens de 16 e 17 anos apresenta menor atividade do que o de


adultos. Nessa faixa etária, o ácido pirúvico se combina com os íons hidrogênio
(H +) e forma o ácido lático (LA), que é o produto do metabolismo glicolítico e uma
das causas do cansaço e da fadiga.

1 O sistema fisiológico depende de uma molécula que constitui a


principal forma de energia química, pois sua hidrólise é altamente
exergônica. Qual é o nome dessa molécula considerada como a
moeda energética dos seres vivos?

a) ADP.
b) ATP.
c) DNA.
d) RNA.

As características dos desportos e das atividades físicas do metabolismo


glicolítico são ações de alta intensidade e maior duração que o ATP-CP;
geralmente, o sistema predomina até três minutos. Tourinho Filho e Tourinho
(1998) afirmam que crianças e adolescentes apresentam déficit no metabolismo
glicolítico quando comparados aos adultos, pois a taxa de glicólise é menor.
Exercícios com ácido lático devem ser evitados, principalmente em crianças que
não estão preparadas para exercícios de alta intensidade.

No entanto, o American College of Sports Medicine (1988) recomenda de 20


a 30 minutos de exercícios vigorosos para crianças e adolescentes. Uma questão
importante é o uso eficiente do tempo nas aulas de educação física.

Um importante assunto é o uso efetivo do tempo da aula de


educação física. O estudo do tempo e da movimentação dos
alunos durante as aulas de educação física tem sugerido que
uma grande fração do tempo instrucional é dedicado à matéria
teórica, ao tempo de espera, à troca de veste e ao banho. Em
algumas aulas, os estudantes gastam não mais que 11 minutos
do período de 50 minutos, e, durante grande parte do tempo
disponível, a frequência cardíaca (FC) não atinge o limiar de
treinamento de 150 batimentos por minuto (BPM) (SHEPHARD,
1995, p. 72 apud MARQUES JUNIOR, 2001, p. 66).

123
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

3.2 O EFEITO EPOC


O gasto energético diário pode ser dividido em três componentes: TMR (taxa
metabólica de repouso), efeito térmico da dieta e gasto energético associado à
atividade física (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 1988).

A primeira condição refere-se ao próprio gasto energético durante o


exercício e durante a fase de recuperação; a segunda refere-se às alterações
na taxa metabólica de repouso (TMR). Com relação ao efeito agudo, está bem
estabelecido que, após o término do exercício, o consumo de O2 não retorna
imediatamente aos valores de repouso.

O excesso de consumo de oxigênio após o exercício consiste


em um componente rápido e um componente prolongado. O
componente rápido do EPOC ocorre dentro de 1h. Embora a
causa precisa dessas respostas não esteja bem esclarecida, é
provável que esses fatores contribuam para: a ressíntese de
ATP/CP, redistribuição comportamental dos íons (aumento na
atividade da bomba de sódio e potássio), remoção do lactato,
restauração do dano tecidual, assim como restauração do
aumento da FC e do aumento da temperatura corporal (BAHR;
SEJERSTED, 1991 apud FOUREAUX; PINTO; DÂMASO,
2006, p. 394).

Durante o componente prolongado, os processos de retorno da homeostase


fisiológica ocorrem continuamente, mas em nível inferior. Esses processos podem
incluir o ciclo de Krebs com maior uso de ácidos graxos livres; efeitos de vários
hormônios, como cortisol, insulina, ACTH, hormônios da tireoide e GH; ressíntese
de hemoglobina e mioglobina; aumento da atividade simpática; aumento
da respiração mitocondrial pelo aumento da concentração de norepinefrina;
ressíntese de glicogênio e aumento da temperatura (RICCIONI et al. 2004, BAHR;
SEJERSTED, 1991).

Os resultados de vários estudos sobre a extensão e a duração do EPOC


são conflitantes: enquanto vários estudos mostram que o EPOC pode durar
horas, outros concluíram que o EPOC é transitivo e mínimo (FOUREAUX; PINTO;
DÂMASO, 2006).

Vários trabalhos têm analisado a contribuição do EPOC em


programas de emagrecimento, visto que este é o resultado de
um balanço energético diário negativo entre consumo e gasto
energético. Bahr et al. (1987) já haviam considerado o EPOC
como um importante fator no controle do peso, uma vez que
o exercício demanda uma energia extra além da prevista na
atividade física (FOUREAUX; PINTO; DÂMASO, 2006, p. 394).

124
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

O aumento do metabolismo durante a recuperação tem uma implicação


importante na prescrição de programas de redução de peso. A perda de peso
também está ligada a alterações crônicas na atividade física, ou seja, na taxa
metabólica de repouso (TMR).

A TMR é definida como o gasto energético necessário à


manutenção dos processos fisiológicos no estado pós-
absortivo, chegando a compreender até 60-70% do gasto
energético total, dependendo do nível de atividade física.
Todo esse interesse na redução ponderal deve-se ao fato de
a obesidade, atualmente, ser considerada pela Organização
Mundial de Saúde um problema de saúde pública. Uma
estimativa considerando a prevalência de pessoas obesas
atualmente ressalta que, se essa proporção se mantiver, no
ano de 2230, 100% da população norte-americana será obesa.
Analisando a realidade brasileira, Meirelles e Gomes (2004)
mostraram que, no Rio de Janeiro, 44% dos homens e 33%
das mulheres na faixa etária de 26 a 45 anos apresentam
sobrepeso ou obesidade (FOUREAUX; PINTO; DÂMASO,
2006, p. 394).

Embora a obesidade esteja ligada a várias causas, tais como genéticas,


fisiológicas, metabólicas, ambientais, emocionais e culturais, toda a atenção dada
ao aumento do gasto energético total diário é de grande valia, uma vez que o
balanço energético é determinado, por um lado, pelo consumo e, por outro lado,
pelo gasto de energia, e um desequilíbrio energético positivo pode levar a um
acúmulo excessivo de energia armazenada como gordura corporal (FOUREAUX;
PINTO; DÂMASO, 2006).

3.3 EFEITO DO EPOC NO AUMENTO


DO GASTO ENERGÉTICO DIÁRIO
TOTAL COM EXERCÍCIO AERÓBIO
Segundo Imamura et al. (2004), as disparidades nos resultados relacionados
ao EPOC podem refletir diferenças em muitos fatores, como massa muscular
envolvida no exercício; intensidade e duração; estado do treinamento; ingestão
de alimento (efeito térmico da refeição); qualidade do sono da noite anterior;
condições ambientais; familiaridade do sujeito com o protocolo; variações
na temperatura e nas concentrações de catecolaminas; custo metabólico da
remoção do lactato; utilização do substrato e fase do ciclo menstrual, no caso das
mulheres; ansiedade pré-exercício; ritmo circadiano; presença de overtraining,
em casos de atletas; entre outros.

125
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

O EPOC aumenta linearmente com a duração do exercício. No entanto,


a intensidade do exercício parece afetar tanto o tamanho quanto a duração do
EPOC; a duração do exercício, por outro lado, afeta apenas a duração do EPOC
(IMAMURA et al., 2004). Portanto, estudos têm sugerido que exercícios de maior
intensidade produzem aumento mais sustentado do EPOC do que exercícios de
menor intensidade (quando em volume equivalente), devido ao fato de causar
maior estresse metabólico, exigindo maior gasto de energia para retornar à
homeostase.

Além disso, um maior nível de atividade do sistema nervoso simpático


(estimulado por catecolaminas) também pode contribuir para o aumento da taxa
metabólica após o exercício, uma vez que adrenalina e norepinefrina estimulam
a respiração e a função mitocondrial e celular, facilitando a passagem de sódio
e potássio pela membrana celular, aumentando a produção de ATP e o uso de
oxigênio (BORSHEIM et al., 1994).

Existe um aumento de 20-35% na resposta lipolítica no adipócito após o


exercício, no entanto, a taxa de oxidação lipídica é ainda maior após o exercício
de alta intensidade porque a síntese de glicogênio é aumentada para substituir o
glicogênio utilizado. A oxidação dos lipídios também está associada ao aumento
do turnover dos ácidos graxos livres; ao mesmo tempo, o aumento do turnover
de proteínas também pode contribuir para um maior EPOC. Além desses
fatores, exercícios mais intensos estão associados a uma maior ressíntese de
hemoglobina e mioglobina e parecem estar inversamente associados às taxas de
obesidade (BAHR; SEJESTED, 1991).

Alguns trabalhos analisaram o EPOC e o gasto energético


comparando protocolos de exercício contínuo e intervalado
submáximos e exercício contínuo submáximo e intervalado
supramáximo. Todos esses estudos demonstraram maior
gasto energético para os exercícios mais intensos. Partindo-
se do princípio de que é possível realizar mais minutos à alta
intensidade com o exercício intermitente se comparado com o
exercício contínuo, pessoas com sobrepeso podem exercitar-
se por tempo menor a uma intensidade que produza um
EPOC maior, visto que, na maioria das vezes, essas pessoas,
além de descondicionadas, têm aversão à atividade física
(FOUREAUX; PINTO; DÂMASO, 2006, p. 394).

No entanto, deve-se ressaltar que o EPOC é relativamente curto após


exercícios de intensidade e duração moderada, < 70% do VO2máx. e/ou < 60
minutos, visto que a magnitude do EPOC após o exercício aeróbio depende de
ambos os fatores (intensidade e duração do exercício). Por outro lado, exercícios
com duração > 60 minutos e/ou com intensidade > que 70% do VO2máx. parecem
estar relacionados a um EPOC prolongado. Tem sido proposto, ainda, que para
as pessoas que querem emagrecer, a magnitude do EPOC (custo energético) é
mais importante que a duração (FOUREAUX; PINTO; DÂMASO, 2006).
126
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

3.4 EFEITO DO EPOC NO AUMENTO


DO GASTO ENERGÉTICO DIÁRIO
TOTAL COM O EXERCÍCIO
RESISTIDO
Laforgia et al. (1997) apontaram que exercícios de endurance provavelmente
causam maior perturbação da homeostase do que exercícios aeróbicos, sugerindo
que, devido às altas intensidades envolvidas, podem requerer mais gasto de
energia, tanto durante o exercício quanto durante a recuperação. Além disso,
olhando apenas para o exercício resistido, sugere-se também que um protocolo
mais intenso é mais eficaz no controle de peso (SCHUENKE; MIKAT; MCBRIDE,
2002).

Dois fatores foram atribuídos ao fato de o exercício de endurance produzir um


EPOC mais alto: o primeiro fator refere-se às respostas hormonais, que podem
alterar o metabolismo, especialmente catecolaminas, cortisol e hipertrofia tecidual
de GH, que se deve ao fato de a síntese de proteínas ser reduzida durante o
próprio exercício. No entanto, após o exercício, há um fenômeno compensatório,
no qual o turnover das proteínas parece ser estimulado. Além disso, o processo
de síntese de proteínas requer uma alta demanda de energia (6 ATP por mol de
peptídeo formado). Esse mecanismo também pode contribuir para um estímulo
duradouro do gasto energético após o exercício.

Um estudo acompanhou sete homens saudáveis em


dois circuitos de treinamento de peso, um usando 20’’ de
intervalo e outro usando 60’’ a 75% de 20 RM. Os resultados
demonstraram que o EPOC foi significativamente maior
no protocolo de 20’’, se comparado com o de 60’’. O gasto
energético em 1h de recuperação foi de 51 ± 2,84 kcal x 37
± 1,97 kcal, respectivamente; essa diferença também foi
significativa, porém, o gasto de energia total (exercício + 1h
de recuperação) foi significativamente maior no protocolo de
60’’ de intervalo (277,23 kcal) comparado com o protocolo de
20’’ de intervalo (242,21 kcal). O protocolo de 20’’ resultou
em maior componente rápido do EPOC, o que era esperado,
uma vez que este é proporcional à intensidade do exercício
(FOUREAUX; PINTO; DÂMASO, 2006, p. 395).

Parece haver uma combinação ideal de intensidade e duração em exercícios


de endurance para maximizar o EPOC. No entanto, essa combinação ótima
permanece incerta. No estudo de Schuenke, Mikat e McBride (2002), um EPOC
foi encontrado além de 16h após 38' de exercício de endurance. Além disso, o

127
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

VO2 também apresentou aumento constante ao longo do dia, atribuindo a isso


o provável acúmulo de efeitos causados por atividades diárias, emoções e ritmo
circadiano. O efeito do exercício resistido no EPOC foi verificado em homens
de 22 a 40 anos previamente treinados com exercícios resistidos, nos quais foi
observado que, após uma sessão de 90 minutos, a taxa metabólica permanecia
elevada por mais de duas horas após o exercício.

Outro estudo investigou o efeito de 45’ de exercício resistido


em mulheres treinadas sobre o EPOC. Após 120 minutos de
recuperação, observou-se elevação de 18,6% no metabolismo
de repouso, se comparado com o controle. Em contraposição
aos trabalhos mencionados anteriormente, um estudo analisou
seis homens adultos por 42 minutos durante exercício
de levantamento de peso (12RM), observando-os nos 60
minutos iniciais da recuperação. A taxa metabólica estava
significativamente elevada ao final dos 60 minutos, porém,
apenas 19 kcal adicionais foram despendidas. Os autores
ressaltaram que esse gasto energético de recuperação teria
pouco efeito na regulação do peso. No entanto, o fato de o
consumo de oxigênio ter permanecido elevado após o controle
de uma hora impossibilitou que esses autores determinassem
a verdadeira duração do EPOC e o verdadeiro gasto energético
durante esse período. Visto isso, o consumo de oxigênio
poderia ter retornado aos valores de repouso imediatamente
após esse período, como pode ter permanecido elevado
por horas (MELBY; TINCKNELL; SCHMIDT, 1992 apud
FOUREAUX; PINTO; DÂMASO, 2006, p. 395).

Existem muitos mecanismos potentes pelos quais o exercício regular poderia


facilitar a manutenção ou a redução do peso corporal, o que inclui: aumento do
gasto energético diário total, redução do apetite, aumento da TMR, da massa livre
de gordura, do efeito térmico da refeição, do consumo excessivo de oxigênio após
o exercício e da taxa de mobilização e oxidação de gordura (GORE; WITHERS,
1990).

Epoc e obesidade

Vários estudos mencionaram o efeito do EPOC no auxílio à perda de peso. No


entanto, embora as palavras perda de peso e obesidade tenham aparecido com
frequência na literatura, poucos estudos realmente analisaram essa população.
Poehlman et al. (2002) analisaram o efeito do treinamento aeróbio e resistido
em mulheres obesas; entretanto, não observaram o consumo de oxigênio após
o exercício, o que reforça a importância de novos estudos analisando o EPOC
nessa população específica. Esses autores também citam outro aspecto relevante
ao contexto dos obesos: a TMR foi medida 10 dias após os seis meses de
treinamento e não houve alteração crônica significativa em nenhum dos grupos.

128
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

3.5 TMR: EFEITOS AGUDO E


CRÔNICO DO EXERCÍCIO
A TMR é o principal componente do gasto energético diário, sendo
modificada por diversos fatores como: horário do dia, temperatura, ingestão
alimentar, ingestão de cafeína, tipo de exercício e estresse (IMAMURA et al.,
2004). Na massa corporal, isso se deve em parte a uma diminuição da massa
corporal magra e da atividade do sistema nervoso simpático. Com relação
aos efeitos agudos do exercício, Osterberg e Melby (2000) descobriram que o
exercício resistido aumentou a TMR por 16 horas após o exercício em cerca de
4,2%, sugerindo um aumento em cerca de 50 kcal/dia da TMR com o exercício.

Um estudo de Hawley e Hopkins (1995) constatou que a TMR pela manhã


após o exercício de endurance foi 4,7% maior do que a medida pela manhã antes
do exercício. Para analisar o efeito crônico do exercício, mulheres obesas na pós-
menopausa foram acompanhadas por 16 semanas de treinamento de resistência.
Além disso, as pessoas obesas experimentaram reduções significativas na
massa corporal, gordura corporal e porcentagem de gordura, indicando que o
exercício resistido pode ser um importante componente integrado a programas de
emagrecimento em mulheres pós-menopausa.

Schuenke, Mikat e McBride (2002) acrescentam um aspecto importante à


literatura ao demonstrarem que o treinamento resistido acompanhado de redução
da massa corporal não levou à redução da MTR. Confirmando esse resultado,
foi encontrado um aumento de 7,7% na TMR em homens idosos com protocolo
semelhante. No entanto, Bahr et al. (1987) analisaram os efeitos de 12 semanas
(3 vezes por semana) de exercícios aeróbicos e de resistência sobre o peso
corporal, composição corporal e MTR em 18 idosos (aproximadamente 61 anos),
que apresentaram diminuição da massa corporal 9 ± 1 kg em 11 semanas.

Os resultados indicaram que nenhum dos dois tipos de exercício conseguiu


reverter a diminuição da TMR de aproximadamente 15% (260 kcal/dia) ou a
oxidação de gordura como consequência da redução da massa corporal anterior.
Da mesma forma, dois grupos de mulheres não obesas foram treinadas, um grupo
com exercício resistido e outro com exercício aeróbio por seis meses. O gasto
energético diário foi mensurado 10 dias após os seis meses. Concluiu-se que os
benefícios do treinamento físico no aumento do gasto energético é primariamente
decorrente do efeito do exercício e não de elevação crônica do gasto energético
diário em mulheres não obesas (POEHLMAN et al., 2002).

129
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

No entanto, deve-se notar que os dados sobre os efeitos do treinamento


de longa duração na MTR são conflitantes, talvez devido ao fato de ser difícil
quantificar o tempo exato de recuperação de um treinamento anterior, quando
apenas o efeito crônico destina-se a ser medido durante o treinamento, excluindo
o efeito agudo da última sessão (para não superestimar a RMR).

Segundo Freake e Oppenheimer (1995), fatores genéticos e fisiológicos


que influenciam a RTM, como níveis de hormônio tireoidiano circulante, turnover
das proteínas desacopladoras 2 e 3 e níveis circulantes de leptina, também
começaram a ser investigados. Esses aspectos do metabolismo de repouso
indicam que a atividade física pode ter dois efeitos distintos na TMR. Além do
efeito do treinamento no aumento da massa magra, um segundo efeito pode
resultar desses processos fisiológicos que influenciam a TMR (FOUREAUX;
PINTO; DÂMASO, 2006).

A proteína de desacoplamento (UCP3) foi descoberta em 1997 (BOSS et al.,


1997). Essas proteínas transportam certos prótons ou ânions de ácidos graxos
através da membrana interna da mitocôndria para produzir ATP e aumentar o
gasto de energia. No entanto, também há evidências de que a principal função
fisiológica da UCP3 não é a regulação do gasto energético, mas isso permanece
obscuro (FOUREAUX; PINTO; DÂMASO, 2006).

Foi sugerido por Lanouette et al. (2001) que a UCP3 pode estar envolvida
com as adaptações induzidas pelo treinamento no metabolismo energético,
exercendo uma downregulation na UCP3, que, por sua vez, está associada ao
aumento do mecanismo de eficiência no aproveitamento de energia. Deve-se
ressaltar, no entanto, que, no exercício agudo, ocorre upregulation da UCP3,
possibilitando maior oxidação de ácidos graxos. Entretanto, com o treinamento, a
capacidade de oxidar ácidos graxos poderia aumentar, reduzindo a necessidade
de altos níveis de UCP3.

3.6 TMB NOS OBESOS E LEPTINA


A leptina, um hormônio produzido pelo tecido adiposo, é o maior regulador da
ingestão de alimentos e da taxa metabólica. O nível plasmático de leptina reflete-
se nos estoques energéticos, uma vez que esse hormônio exerce um feedback
negativo no eixo hipotálamo-pituitária-tireoide e eixo hipotálamo-pituitária-adrenal
(RICCIONI et al., 2004). O mecanismo de ação da leptina envolve diminuição da
ingestão alimentar e aumento do gasto energético, com consequente redução da
massa corporal.

130
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

A leptina também aumenta a atividade simpática, sugerindo aumento da


termogênese no tecido adiposo marrom (regula o peso corporal após a compulsão
alimentar), o que poderia ser um mecanismo pelo qual a leptina poderia regular
a massa corporal. Um estudo mostrou uma redução de 43% na ingestão de
alimentos com a administração de oxigênio de leptina, o que foi associado a
um aumento na síntese de novas proteínas UCP (proteína desacopladora). A
concentração total de UCP aumentou em 131% com a administração de leptina,
promovendo a redução da massa corporal. A ativação do UCP aumenta a taxa de
oxidação do substrato e a produção de calor. Os autores concluíram que a leptina
aumenta o turnover da norepinefrina no tecido adiposo, porque a leptina aumenta
a ativação simpática, aumentando a termogênese no tecido adiposo marrom e a
expressão de UCP (ZHOU et al., 2000).

3.7 A PSICOLOGIA APLICADA AO


DESPORTO
O rendimento esportivo está associado, por razões óbvias,
aos resultados dos atletas; em geral, estamos de acordo que:
melhores rendimentos produzem melhores resultados. Um dos
aspetos que maior atração exerce sobre atletas, treinadores,
preparadores físicos e psicólogos, é esse momento em que
se produz a melhor execução possível, a excelência esportiva,
ou a execução plena, utilizando a terminologia de Williams e
Straub (1991). Alguns dos atletas mais experientes relevaram a
enorme importância do fator psicológico: “no tênis profissional,
95% é mental”, comentava Jimmy Connors, ou “se teu cérebro
pode convencer teu corpo de que ele pode fazer algo, sem
dúvida o fará”, falava Carl Lewis (CÁRDENAS; CÁRDENAS,
2012, s.p.).

Segundo Williams e Straub (1991), é necessário assumir que o desempenho


completo é consequência tanto de fatores físicos quanto mentais. Não podemos
separar a mente do corpo. Podemos estimar que uma condição prévia para as
execuções ótimas é ter um certo nível de condicionamento e domínio das tarefas
físicas implicadas na execução. O psicólogo deve analisar quais habilidades
psicológicas são mais relevantes e necessárias nas diferentes situações
esportivas, bem como analisar e determinar as necessidades específicas de cada
atleta (CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

O psicólogo de esporte aplicado deverá conhecer e analisar as


diferentes situações esportivas que se produzem ao longo de
um jogo, uma competição, uma temporada ou um ciclo olímpico
no esporte, em que será feito um treinamento psicológico,
e deverá avaliar, em primeiro lugar, as necessidades e os

131
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

recursos psicológicos de seus atletas e da equipe técnica com


quem ele vai colaborar, para poder otimizar o rendimento e o
bem-estar dos atletas com quem trabalha (CRUZ, 2002, p. 29).

3.8 ASPECTOS METODOLÓGICOS


PARA O TRABALHO PSICOLÓGICO
NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO
Para uma intervenção psicológica, é muito importante conhecer os aspectos
característicos de cada esporte. Embora as variáveis psicológicas relacionadas
ao desempenho sejam as mesmas para todos os atletas, o mesmo não
acontece com as situações específicas que terão de enfrentar, situações com
potencialidades diferentes, cargas de estresse diferentes para cada esporte
e para cada momento esportivo do mesmo esporte. Aspectos, como o sistema
competitivo, a estrutura da temporada, os momentos de participação inativa na
competição e a necessidade de um maior ou menor nível de ativação, exigem que
o psicólogo do esporte tenha algum conhecimento do esporte em que intervirá
(CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

Tendo como proposta ideal o trabalho multidisciplinar no esporte, em que o


objetivo é a otimização do rendimento do atleta, o psicólogo, como todos os demais
profissionais: médicos, fisioterapeutas, treinadores ou preparadores físicos,
deve ter um conhecimento básico dos aspectos específicos que fazem parte do
trabalho dos colegas. Nesse aspecto, o psicólogo, tendo conhecimentos gerais
de preparação física, treino desportivo, medicina e anatomia básica, mantém uma
útil proximidade com o ambiente profissional. Em esportes específicos, foram
realizados estudos que indicam dentro de cada esporte a existência de uma fase
mais ou menos importante para o atleta (ALZATE et al., 1997). Na verdade, não
devemos perder de vista os seguintes pontos:

• Concentração.
• Deslocamento para o lugar da competição.
• Aquecimento prévio.
• Início da competição.
• Períodos de participação não ativa (faltas, arremessos livres, o saque
em voleibol etc.).
• Diferenças no marcador.
• Reiniciar o jogo após o descanso.
• Quilômetros concretos em esportes de resistência.

132
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

O atleta deve saber administrar as demandas psicológicas que cada um


desses momentos exige. Na realidade, essas situações tornam-se um verdadeiro
test bed para contrariar as técnicas, habilidades e estratégias aprendidas pelo
atleta durante um treinamento psicológico prévio. Segundo Nitsch (1985, p.
150), “o objetivo e a finalidade do treinamento psicológico é a modificação dos
processos e estados psíquicos (percepção, pensamento e motivação), ou seja, a
base psíquica para a regulação do movimento. Essa modificação será realizada
com o auxílio de procedimentos psicológicos”. Os principais objetivos podem ser
alcançados com medidas de treinamento psicológico:

• Melhoria planejada e sistemática das habilidades psíquicas individuais e


habilidades de desempenho.
• Estabilização e otimização do comportamento de corrida.
• Aceleração e otimização dos processos de recuperação e regeneração
psicológica.
• Otimização dos processos de comunicação social.

No treinamento psicológico, os seguintes princípios éticos devem ser levados


em consideração (BECKER JUNIOR; SAMULSKI, 2002):

• A participação no treinamento psicológico deve acontecer por interesse


próprio e sem pressão externa.
• Antes de aplicar o treinamento psicológico, deve-se informar aos atletas
seus objetivos, métodos, indicações e efeitos.
• Os métodos aplicados no treinamento psicológico devem ser
cientificamente aprovados.
• O treinamento psicológico deve contribuir para o desenvolvimento
da personalidade, da saúde, do bem-estar, da autodeterminação e da
responsabilidade social.

1 Atualmente, falamos muito em qualidade de vida, mas o dia a dia é


mais exigente. A tecnologia, feita para facilitar a vida das pessoas,
está tornando o mundo cada vez mais complexo, implacável e
sedentário, além da poluição, das obrigações, dos abusos etc.,
que afetam a saúde mental e o bem-estar psicológico. Nesse
sentido, assinale a alternativa INCORRETA:

133
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

a) A redução da ansiedade após o exercício físico ocorre


independentemente da intensidade, da duração ou do tipo do
exercício, embora os melhores resultados sejam obtidos em
atividades aeróbicas.
b) O autoconceito é um termo usado para caracterizar os aspectos
concernentes a quem o indivíduo é. É uma variável de baixa
relação com a satisfação que um indivíduo tem quanto a sua
vida.
c) As consequências fisiológicas do exercício para o bem-estar
psicológico podem ser explicadas pelo aumento no fluxo
sanguíneo cerebral, pelo aumento e pela liberação do consumo
de oxigênio no cérebro, pela redução da tensão muscular, entre
outros.
d) O estresse produz poucos efeitos debilitantes em uma
personalidade resistente e o exercício auxilia nesse processo.

3.9 O TRABALHO PSICOLÓGICO


GERAL PARA O ESPORTE DE ALTA
COMPETIÇÃO
O trabalho psicológico que se desenvolve na alta competição deve
ser realizado ao longo do macrociclo de treinamento, sistematicamente
durante a preparação física, técnica, tática e teórica, nas semanas que
antecedem à competição e na própria competição. Seu objetivo é a educação,
o aperfeiçoamento de todos os componentes psicológicos do sistema de
regulação da ação e do comportamento do atleta, que influenciam na formação
da personalidade. Por outro lado, com o trabalho psicológico, o atleta saberá
adaptar-se melhor ao rigoroso esforço de trabalho exigido por pertencer a uma
equipe de alto rendimento (CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

É importante considerar as diferenças individuais no desenvolvimento


do plano de trabalho psicológico durante o treinamento, pois os atletas podem
ter diferentes dificuldades. A identificação dos componentes psicológicos
subdesenvolvidos em atletas é uma tarefa essencial para o desenvolvimento do
trabalho psicológico geral, em que é necessário considerar o nível de expressão
de qualidades psicológicas, processos e formações que não são alterados por
dias ou semanas. Requer-se de longos meses de trabalho, às vezes, anos, no
sentido de obter esse objetivo (CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

134
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

Segundo Samulski (2002), para elaborar um plano geral de trabalho


psicológico, é necessário levar em consideração as fases do macrociclo, em que
as tarefas específicas serão introduzidas, pois a priorização dos componentes da
regulação psicológica, dentro do macrociclo, dependerá do papel que cada um
desempenha dentro das diferentes fases de preparação do atleta.

Ao priorizar os componentes psicológicos, devem ser levadas em


consideração as características do esporte. O desenvolvimento de um plano
de trabalho psicológico para uma equipe de tiro não é o mesmo que para uma
equipe de voleibol ou de outra disciplina esportiva. Cada modalidade tem sua
especificidade e, portanto, seus requisitos essenciais. Segundo Cárdenas e
Cárdenas (2012), os componentes psicológicos (de regulação orientadora) que
determinam um alto rendimento no tiro esportivo são os seguintes:

• Capacidade de coordenação sensório-motora.


• Capacidade de reação.
• Rapidez de percepção óptica.
• Capacidade de concentração.
• Discriminação tátil.

Esses componentes não são os mesmos que determinam a qualidade do


desempenho dos jogadores de voleibol. Nesses participam, como qualidades
importantes de atenção, a distribuição e a velocidade de mudança. A distribuição
tátil não é tão importante quanto os cálculos ópticos motores e as reações de
antecipação etc. No trabalho psicológico geral, todos os componentes do
sistema de regulação psicológico que dizem respeito à ação desenvolvida pelo
atleta devem ser instruídos. Veja, a seguir, a periodização dos componentes
psicológicos dentro de cada preparação do atleta de alto desempenho.

135
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

TABELA 3 – O TRABALHO PSICOLÓGICO ESPECIAL


PARA O ESPORTE DE ALTA COMPETIÇÃO

FONTE: Cárdenas e Cárdenas (2012, s.p.)

O trabalho psicológico especial para o esporte de alta competição será


responsável por garantir que o atleta possa se apresentar em uma competição
com um estado ideal de desempenho.

Cada competição é ao mesmo tempo para o atleta: um meio para comprovar


a eficiência de nosso trabalho; um momento de confrontação de possibilidades
para o atleta; uma possibilidade para mobilizar a vontade e desenvolver o
autocontrole; um meio a mais de treinamento em condições de alta tensão; uma

136
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

forma ideal para integrar os membros da equipe num mesmo propósito; meta
imediata para objetivos futuros (CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

Portanto, podemos dizer que o trabalho psicológico especial possui


características diferentes do geral, embora faça parte dele. Segundo Thomas
(1982), um trabalho psicológico especial deve ser desenvolvido sempre que
participamos com a equipe de uma competição. Pensar que apenas na
competição mais importante deve ser feito um trabalho psicológico especial
seria um erro, pois isso poderia levar a um estresse adicional para o atleta, já
que ele não estaria adaptado a essa intervenção. Fazer todos os requerimentos
de ordem psicológica, a fim de que o atleta participe com a melhor disposição,
nas diferentes atividades que se desenvolvem no macrociclo, adapta o atleta a
receber as tarefas como algo normal e necessário.

Preparação pré-competitiva

Está compreendida em várias semanas antes da competição. O tempo


dedicado a essa preparação é maior ou menor, em dependência da importância
da competição e das características de nossa equipe. Seu objetivo é mobilizar as
disposições e capacidades de rendimento do atleta, para que este obtenha, na
data da competição, ou durante a temporada da competição, um estado ótimo
que lhe permita obter altos desempenhos. Nela, são feitas tarefas específicas,
que pretendem “colocar em forma” tanto os aspetos de motivação, vontade,
controle dos estados de tensão psíquica como todos aqueles componentes
psicológicos sob os quais descansam as destrezas técnicas-táticas (CÁRDENAS;
CÁRDENAS, 2012).

Preparação competitiva

Esta preparação compreende as tarefas que são feitas nas jornadas


competitivas; seu tempo de duração é variável, tendo em consideração o tipo de
esporte. Seu objetivo é manter ótimo o estado de desempenho, o qual começa a
se modelar desde a preparação geral, mobiliza-se na preparação pré-competitiva
e tem que se manter nos dias da competição. Nela, aplicam-se tarefas que
são dirigidas fundamentalmente à regulação dos estados desfavoráveis e à
concentração dos atletas nas ações imediatas, assim como na correção das
ações da equipe durante a competição.

Pode-se observar que, no trabalho psicológico, existe uma


interdependência entre o geral e o especial. Se excluirmos o
trabalho psicológico geral, estaremos preparando as condições
para o fracasso do trabalho psicológico especial, porque o
atleta só poderá ter confiança em si mesmo, e um alto grau
de aspirações, caso se sinta com pleno domínio de suas

137
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

habilidades motrizes, e se educamos nele os componentes


indutores, que o permitem entregar-se totalmente na busca
da vitória. Ao mesmo tempo, a preparação pré-competitiva
é a base para a preparação competitiva, porque não se
pode manter um estado que não se tenha mobilizado nas
semanas anteriores à competição. Assim mesmo, o resultado
de nosso trabalho com os atletas, durante o período de
competição, repercutirá favoravelmente na sua disposição
geral para enfrentar o próximo ciclo de treinamento, sempre
que formos capazes, seja ante os êxitos ou ante os fracassos,
de utilizar esses resultados de forma produtiva (CÁRDENAS;
CÁRDENAS, 2012, s.p.).

1. Informação detalhada sobre a competição e os adversários


Forma de aplicação: comunicar ao atleta a data, a cidade e o provável
local onde decorrerá a competição, o comportamento típico do público, julgar a
possibilidade de participação, as condições de alojamento (durante uma viagem
a outro local, estado ou país), o nível de treinamento e resultados competitivos
das equipes ou a individualidade do adversário ou da equipe, os votos por eles
impostos, as posições alcançadas em jogos anteriores etc. (muitos treinadores
tiram fotos de seus oponentes e as colocam na academia ou no campo, para que
sua equipe possa se relacionar com eles e se acostumar com suas características
externas). Frequência de aplicação da tarefa: uma vez, no início dessa preparação
(CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

2. Informação sobre as próprias possibilidades individuais e coletivas


Forma de aplicação: inicia-se com entrevistas individuais, em ambiente
privado, com cada membro da equipe, em que são analisados os aspectos
positivos e ainda não resolvidos nos dias que antecedem à prova. Além disso,
informa-se ao atleta suas possibilidades reais para esse confronto a fim de que ele
possa ter uma aspiração real de rendimento, e evitar, dessa forma, uma vivência
de fracasso que possa interferir em sua motivação futura. Posteriormente, reúne-
se a equipe e se analisa coletivamente a particularidade do nível de treinamento
do grupo, utilizando sempre a mobilização de todas as suas disposições para
a entrega ao trabalho, e refletir sobre o resultado que consideram alcançar no
confronto, se necessitam realizar um esforço supremo etc. Frequência de
aplicação: uma vez, no início dessa preparação (CÁRDENAS; CÁRDENAS,
2012).

3. Fixação de aspirações de rendimento individuais


Forma de aplicação: individualmente, perguntar-se-á a cada atleta qual é
o rendimento que ele aspira alcançar (exemplo: se é um jogador de handebol,
deverá informar sua aspiração com relação à eficiência em arremessos a curta,
média e longa distância, passes etc.), influindo sempre inteligentemente, para
que eleve ou diminua suas aspirações, quando consideramos que elas diferem

138
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

de suas possibilidades reais. É importante que o atleta fique convencido de que


essas metas surgem dele e que não são impostas pelo seu treinador. Frequência
de aplicação: uma vez, no início dessa preparação (CÁRDENAS; CÁRDENAS,
2012).

4. Fixação de aspirações coletivas de rendimento


Após a informação das metas individuais, reúne-se toda a equipe para
informar, coletivamente, as aspirações individuais de rendimento, com o intuito de
convertê-las em compromisso. Também, analisa-se, com todos os membros da
equipe, de forma democrática, o possível lugar a alcançar na competição; é dizer
as aspirações de rendimento da equipe, os apoiando nas experiências anteriores,
nos resultados de confrontos passados, no nível alcançado pelos atletas durante
o macrociclo, na qualidade dos adversários etc. Frequência de aplicação: uma
vez ao início dessa preparação (CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

5. Treinamento modelado
Faz-se necessário programar as tarefas gerais e particulares, tanto na ação
prática como no plano mental, nas quais se deve fazer o seguinte:

• Treinamento ideomotor, a fim de representar a participação pessoal nas


diversas ações, nas condições prováveis da competição.
• Treinamento moldado à competição é dizer as atividades que serão
feitas no treino, e estas deverão se ajustar às mesmas condições da
competição (influências de sons gravados de barulho da torcida, música
etc.), da forma mais variada possível.

É importante compreender que os estímulos aplicados nos treinos da última


semana, similares aos que enfrentarão nossos atletas na competição, ajudarão
para que estes apresentem um estado psíquico mais controlado e com melhores
possibilidades de êxito. Frequência de aplicação: duas vezes por semana
(CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

6. Regulação das tensões psíquicas pré-competitivas


Forma de aplicação: serão utilizadas técnicas variadas para o controle das
tensões psíquicas, aprendidas durante a preparação psicológica geral. Nessa
tarefa, é importante considerar que não é possível incorporar ao treinamento
que se desenvolve na etapa de preparação pré-competitiva aquelas tarefas
para o controle dos estados de tensão psíquica que não foram apreendidas
anteriormente, pois isso influirá negativamente sobre os resultados competitivos.
Só deverá ser utilizada aquela tarefa que o atleta esteja identificado, dessa forma,
poderá influir positivamente nessa etapa. Frequência de aplicação: todos os dias,
sete semanas antes da competição (CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

139
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

Tarefas que podem ser feitas na preparação competitiva no trabalho


psicológico especial:

• Antes de chegar ao lugar da competição, devemos ter em


consideração as seguintes questões: mostrar alegria e levar confiança
e serenidade aos nossos atletas. Não é o momento de discutir com
eles, nem de mostrar o nosso nervosismo ou as nossas preocupações.
Não permitir que membros da torcida, jornalistas, familiares, diretores
etc. pretendam, na última hora, falar com os atletas, exigindo-lhes um
bom desempenho ou lembrando-os que todos estarão pendentes de
sua atuação. Caso isso ocorra, só contribuirá para elevar os níveis de
tensões psíquicas dos atletas, o que influirá posteriormente em seu
desempenho Não permitir uma alimentação exagerada poucas horas
antes do confronto. Se a competição ocorrer à tarde ou à noite, deve-se
propiciar aos atletas que se distraiam, escutando música, vendo filmes,
participando de jogos recreativos, lendo livros etc. Evitar a realização
de atividades físicas intensas (dançar, nadar etc.). Deve-se vigiar o
repouso do atleta durante o dia; se os atletas dormem depois do almoço
e a competição é à noite, só deverão dormir o tempo de costume. Se
a competição é à tarde, deverão repousar de 15 a 20 minutos, sem
chegar ao sono profundo. Se nos deslocamos de ônibus para o lugar da
competição, devemos estar atentos para que os atletas mantenham a
alegria e a tranquilidade. Deverão ser medidas as pulsações dos atletas,
e, se possível, a estimação do tempo (utilizando cronômetros), duas
horas antes do início da competição, para determinar os que apresentam
tensões psíquicas desfavoráveis, a fim de tomar as medidas pertinentes.
Os atletas que apresentem tensões psíquicas desfavoráveis deverão
fazer técnicas de regulação das tensões psíquicas excessivas uma hora
antes da competição, a fim de que possam se apresentar num estado
adequado para começar as ações (CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

Como será a vida intensa de uma atleta frente a uma competição


internacional? Simone Biles ainda não se sente segura para voltar
a praticar a ginástica artística. A lendária ginasta confessou, em um
programa de TV dos Estados Unidos, que ainda não conseguiu se
recuperar da crise psicológica que teve nos Jogos Olímpicos de
Tóquio. Biles se emocionou durante a entrevista. Leia a entrevista
de Simone Biles e tente imaginar o que se passou na cabeça dela.
Disponível em: https://ge.globo.com/ginastica-artistica/noticia/biles-
fala-sobre-seu-emocional-ainda-tenho-medo-de-fazer-ginastica.
ghtml.

140
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

• Ao chegar à competição: segundo Thomas (1982), ao chegar ao local


onde decorrerá a competição, devemos considerar que as nossas tarefas
psicológicas passam por três fases:

1. Primeiro passo: orientação

Os atletas devem olhar livremente o local da competição, adaptando-se aos


estímulos de atuação (observar as características da instalação, onde estão os
torcedores etc.). É importante que os atletas encontrem a semelhança do local da
competição com o local onde realizam os seus treinamentos.

2. Segundo momento: concentração

Os atletas devem focar sua atenção no programa da primeira atuação.


Deverão também eliminar gradualmente de seu pensamento todo conteúdo que
possa desviar-lhe sua atenção no momento da execução da ação. Para isso, é
necessário utilizar técnicas de autorregulação das tensões psíquicas excessivas,
tais como Terapia Racional Emotiva (RET), treinamento ideomotor, Terapia Ativa
(TA), sempre antes do aquecimento.

3. Terceiro momento: manter o estado ideal durante a competição

O treinador sempre pode ajudar na valoração das ações, ainda


em situações críticas, de forma calma e eficiente, para cooperar com a
precisão e modificação do programa tático estabelecido, e na regulação
das tensões dos atletas durante a competição. Segundo Gorbunov (1988),
é mais conveniente utilizar os termos ‘tranquilos’, ‘mas ativos’, fortes,
a utilizar imperativos, tais como ‘controla-te’, ‘acorda’ etc. A conduta
do treinador constituirá um espelho para o atleta, porque treinadores
nervosos = atletas nervosos e treinadores calmos = atletas com maiores
possibilidades de se acalmar.

Deve-se garantir o descanso e a recuperação nas saídas da quadra, entre


os jogos etc. com meios rápidos de regulação das tensões psíquicas, como os
exercícios respiratórios, regulação por imagens positivas, mudanças na direção
do pensamento, música suave etc. O fim da competição não é o momento de
analisar os resultados. A análise deve ser feita depois, quando a equipe estiver
descansada, e sempre tendo em consideração as vivências de êxito ou de
fracasso que os atletas obtiveram ao finalizar. No caso de êxito, a análise pode
começar pela informação dos erros que foram feitos, porque o estado de ânimo
da equipe está elevado e pronto para receber novas informações. No caso de
fracasso, deve-se estimular o estado de ânimo da equipe iniciando a análise pelos

141
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

aspetos positivos, dessa forma, eles poderão ativar sua atenção para processar
a informação que vai sendo encaminhada para melhorar os erros apresentados
(CÁRDENAS; CÁRDENAS, 2012).

A análise dos resultados ao finalizar a competição deverá contar,


necessariamente, desde o ponto de vista psicológico, com vários aspetos:

• Destacar as ações que têm contribuído para o sucesso coletivo.


• Criticar ações que possam contribuir para o fracasso dos objetivos
coletivos.
• Analisar a disciplina mantida durante a competição.
• Não criticar os atletas, mas sim os erros, os maus jogos. A expressão
‘você estava muito mal’ é percebida de forma diferente de ‘a ação X
não surtiu efeito’; a primeira tem uma conotação pessoal, que pode ser
avaliada pelo atleta como agressão.

1 O esporte atualmente é caracterizado pela pressão para vencer


e treinar durante o ano todo. As recompensas financeiras para
os melhores, assim como a publicidade e o status para atletas
e treinadores têm levado ao prolongamento das temporadas,
resultando em pouco tempo para o descanso e desgaste
excessivo dos protagonistas esportivos. Analise as afirmações a
seguir:

I. O desgaste mental tem como características: esgotamento físico


e psicológico; sentimento de baixa realização; baixa autoestima;
sentimento de fracasso; depressão; despersonalização; e
desvalorização.
II. Ao vivenciar um desgaste psicológico, o atleta e o técnico buscam
uma fuga psicológica, emocional e física, em resposta a um
excessivo nível de estresse ou insatisfação. O afastamento do
esporte é inevitável.
III. Apesar de pouco falado, o desgaste psicológico é bastante comum
nos árbitros. Isso é gerado pelo alto nível de estresse e pelas
poucas compensações da profissão. O medo do fracasso e de
uma marcação equivocada acarreta avaliações negativas sobre o
indivíduo, que pioram, ainda mais, o nível de estresse.

a) Assinale a alternativa CORRETA:


b) Apenas a afirmativa II está correta.

142
Capítulo 3 A PSICOLOGIA E A NUTRIÇÃO NA CONTRIBUIÇÃO
DO TREINAMENTO DESPORTIVO

c) Apenas a afirmativa I está correta.


d) As afirmativas I e II estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Estamos muito felizes que você tenha chegado até aqui. No Capítulo 3, você
conseguiu ver e analisar como a nutrição e a psicologia são essenciais para a
saúde do atleta, seja ele de alto nível ou não. Vimos que sem a nutrição existe
uma depleção de nutrientes eficazes para o atleta e que, atualmente, no esporte
de alto rendimento, vitórias aleatórias são cada vez mais raras e a tendência à
interdisciplinaridade tanto do controle dos estados mentais e emocionais é uma
das condições básicas para o desempenho máximo do atleta em competição.

O esporte competitivo também é um estressor em decorrência de variáveis


fisiológicas, biomecânicas e psicológicas, que desempenham um papel relevante
no desempenho esportivo. Altos níveis de estresse estão ligados a perdas no
desempenho esportivo, influenciando o nível de atenção, ansiedade, ativação e
motivação do atleta, predispondo-o a situações de perda de controle, depressão
e ansiedade.

Atletas que possuem um maior controle emocional, administrando altos níveis


de estresse e oscilações de humor, têm potencial para atingir níveis ótimos de
ativação, com resultados favoráveis no momento da competição. Além do controle
emocional, destaca-se a influência da dieta alimentar em atletas. Os efeitos da
insuficiência nutricional incluem aumento da propensão à fadiga, predisposição à
desidratação, perda da composição corporal, entre outros, por isso a necessidade
de termos esse conhecimento para auxiliar nossos atletas.

Esperamos que este capítulo tenha sido informativo a você e que continue
estudando mais e mais sobre o mundo do esporte e como ajudar nossos
competidores.

Uma excelente jornada.

143
OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo

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