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UNIVATES

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


CURSO DE ENGENHARIA

FUNDAMENTOS DA TERMODINÂMICA
Material Didático da Disciplina

Profa. MANUELA GOMES CARDOSO


2016
Disciplina: Fundamentos da Termodinâmica
Profa. Manuela Gomes Cardoso
2016

UNIDADE 1. FUNDAMENTOS GERAIS


1.1 Conceitos Básicos
A. Grandezas

Volume molar (v). É o volume total ocupado por uma unidade de mol, expresso em
unidades de [m3·mol-1].

(Eq. 1)

Volume específico (v’): É o volume total ocupado por uma unidade de massa; no SI possui
unidade de [m3·kg-1].

(Eq. 2)

Massa específica ou densidade (ρ): Representa a quantidade de massa contida em uma


unidade de volume e no SI possui unidade de [kg·m-3]. Todo fluido que for dito incompressível
possui massa específica constante e consequentemente volume específico constante.
Líquidos, em geral, são ligeiramente compressíveis (ρ desprezível), por isso, são ditos
incompressíveis.

(Eq. 3)

Força (F): Produto da massa por sua aceleração; no SI possui unidade de [N]. Pode-se
relacionar com a potência necessária para uma massa adquirir velocidade (𝑊̇ = F · c) ou ainda
com o trabalho necessário para efetuar um deslocamento (𝑊̇ = F · Δx).

(Eq. 4)

Pressão (P): Para um fluido em equilíbrio, consideramos a pressão como sendo a força
normal exercida por unidade de área; no SI possui unidade de [N·m-2 ou Pa]. A pressão
absoluta é a pressão exercida ou sofrida por uma massa (= pressão efetiva ou, manométrica)
acrescida da pressão atmosférica. Pabs = Pman + Patm

(Eq. 5)

Exemplo 1) Um astronauta pesa 730 N em Houston, onde a aceleração da gravidade (g) local
é 9,792 m·s-2. Qual a massa do astronauta e o seu peso na lua, onde g = 1,67 m·s-2?
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Exemplo 2) Um manômetro a contrapeso, com um êmbolo de 1 cm de diâmetro é usado para


medidas precisas de pressão. Em uma situação particular, o equilíbrio é alcançado com uma
massa de 6,14 kg. Se a aceleração da gravidade é de 9,82 m·s-2, qual a pressão manométrica
que está sendo medida? Sendo a pressão atmosférica de 99,72 kPa, qual a pressão absoluta?

Exemplo 3) A 27°C, a leitura em um manômetro de Hg é de 60,5 cm. Sabendo-se que a


aceleração da gravidade local é de 9,784 m·s-2 e que a densidade do Hg é 13,53 g·cm-3,
determine a pressão, em kPa, que este manômetro está indicando.

B. Sistemas Termodinâmicos

Um sistema termodinâmico é definido como uma quantidade de matéria com massa e


propriedades definidas, sobre o qual vamos realizar um estudo. Tudo que for externo ao
sistema é chamada de vizinhança. O sistema é separado da vizinhança pelas fronteiras do
sistema. As fronteiras podem ser reais ou imaginárias, fixas ou móveis.

Exemplos de sistemas termodinâmicos:

Figura 1: (a) gás confinado em um cilindro e (b) compressor de ar.

Sistema Isolado: Não é influenciado de forma alguma pelo exterior. Massa, calor,
trabalho e nenhuma outra forma de energia cruzam as fronteiras do sistema.

Sistema Fechado: Não entra nem sai massa, mas permite transferência de calor e das
outras formas de energias com a vizinhança.

Sistema Aberto: Há entrada e saída constante de massa e energia.

Sistema Adiabático: Um sistema adiabático é aquele impermeável ao fluxo de calor, ou


seja, neste sistema não há troca de calor com o meio ambiente. Não é o mesmo que sistema
isotérmico; no sistema adiabático pode haver mudança de temperatura.

Exemplo 4) Classifique os sistemas da Figura 1(a) e 1(b), em: isolado, fechado, aberto ou
adiabático.

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C. Equações de Estado e Diagrama de Fases


Equações de Estado: Equações que relacionam as condições de pressão, temperatura e
volume de um fluido. Estas equações não descrevem as transformações, mas sim o estado
inicial ou final do fluido. A equação de estado mais simples e mais utilizada é a Lei dos Gases
Ideais ou Lei dos Gases Perfeitos.

 Por definição, um gás ideal ou gás perfeito é aquele onde a energia de


interação entre as moléculas é desprezível. Outras equações de estado serão
vistas mais adiante. A Lei dos Gases Ideais é descrita conforme:

(Eq. 6)

(Eq. 7)

 Para qualquer gás ideal, que sofre um processo qualquer da situação inicial (1) à
situação final (2), a relação entre os estados será dada por:

(Eq. 8)

Exemplo 5) Um gás ideal, com massa molar de 29,8 kg·mol-1, encontra-se confinado em um
recipiente de 5 m3, sujeito a pressão de 9,8·104 Pa e temperatura de 20°C. Estime o número
de mols contido no recipiente e o volume molar do gás.

Diagrama de Fases: Gráfico que mostra as curvas de mudanças de fases e as regiões


monofásicas para uma substância pura.

Figura 2: Diagrama de fases.

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Os estados sólido, líquido e vapor estão representados nas regiões monofásicas do


gráfico. As transformações de uma fase para outra estão representadas nas seguintes linhas:
(i) Linha de fusão: onde coexiste sólido e líquido; (ii) Linha de sublimação: onde coexiste sólido
e vapor; (iii) Linha de vaporização: onde coexiste líquido e vapor.

Fluido na Condição de Saturação: Quando o fluido encontra-se na condição de


saturação, dizemos que o fluido contém vapor e líquido em equilíbrio, estando
portanto, na sua temperatura e na pressão de saturação.

Líquido Saturado: É o líquido que está nas condições de Ts e Ps, ou seja, está prestes
a vaporizar.

Vapor Saturado: É o vapor que está nas condições de Ts e Ps, ou seja, que está prestes
a condensar.

Líquido Comprimido: É o líquido que se encontra na Ts, mas com pressão superior a
de saturação.

Vapor Superaquecido: Vapor que se encontra na pressão Ps, porém com temperatura
superior a de saturação.

D. Transformações Intensivas e Extensivas

a) Isobárica: Transformação a pressão constante. O volume varia


proporcionalmente à temperatura. Para esta transformação segue-se a lei
de Gay-Lussac:

(Eq. 9)

b) Isotérmica: Transformação a temperatura constante. Desta forma, o volume


do gás varia inversamente com a pressão durante uma variação de estado.
Para esta transformação segue a lei de Boyle-Mariotte:

(Eq. 10)

c) Isométrica ou isocórica: Transformação a volume constante. Segue-se a 2ª


lei de Gay-Lussac:

(Eq. 11)

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d) Adiabática: Aquelas transformações que se processam sem transferência de


calor do sistema para o meio e vice-versa.

Exemplo 6) Em um dado sistema, tem-se um fluido a 27°C, confinado em um cilindro rígido de


1 m3. Calcule a temperatura final do sistema, após a pressão passar para o dobro da inicial.
Considere que o fluido comporta-se como gás ideal.

1.2 Energias: Trabalho e Calor

Trabalho: O trabalho é usualmente definido como uma força F, agindo através de um


deslocamento d entre uma situação inicial (1) e situação final (2), sendo o deslocamento na
direção da força. Isto é:

𝑊 = − ∫ 𝐹. 𝑑𝑥 (Eq. 12)

Esta relação permite determinar o trabalho necessário para elevar um peso, esticar um
fio ou mover uma partícula carregada através de um campo magnético.

Convenção: O trabalho realizado pelo sistema é considerado negativo.


O trabalho realizado sobre o sistema é considerado positivo.

Unidades de medida de trabalho: kJ, Kcal, BTU.

Existem várias maneiras pelas quais o trabalho pode ser realizado por ou sobre o sistema
(eixo rotativo, trabalho elétrico, movimento de fronteiras).

Na termodinâmica, muitas vezes analisaremos o trabalho realizado devido ao


movimento de fronteira de um sistema, utilizando sistemas termodinâmicos semelhantes ao
da Fig 1(a), onde gás é contido no interior de um cilindro com pesos sobre o pistão móvel. Se
retirarmos um dos pequenos pesos do pistão, provoca-se um movimento para cima,
percorrendo uma distância x. Para calcularmos o trabalho realizado neste processo,
utilizaremos a Eq. 12.

Através da relação com a pressão (P = F/A), isolando F e substituindo na Eq. 12, obtemos
uma outra forma muito usual para o cálculo do trabalho:

𝑊 = − ∫ 𝑃. 𝑑𝑉 (Eq. 13)

Desta forma, o trabalho realizado devido ao movimento de fronteiras pode ser


determinado conhecendo-se a relação entre os estado de P e V (pressão e volume do gás).

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Calor: É definido como sendo a forma de energia transferida de um sistema a outro


com temperatura inferior, em virtude da diferença de temperatura entre ambos.

O calor, assim como o trabalho, é uma forma de energia transitória, não podendo ser
acumulada. Não se pode dizer que um corpo contém calor, ele contém energia; só se pode
identificar o calor quando o mesmo atravessa as fronteiras do sistema. O calor que flui para
dentro de um sistema pode resultar num aumento da energia interna do sistema ou em
trabalho realizado pelo mesmo, entretanto após cruzar as fronteiras já não mais constitui
calor. Unidades de medida de calor: as mesmas de trabalho.

Convenção: O calor é positivo quando o sistema recebe calor.


O calor é negativo quando o sistema perde calor.

Calor Específico: Quantidade de calor que entra ou sai de uma unidade de massa ao
variar 1 grau de sua temperatura.

𝑑𝑄
𝑐= (Eq. 14)
𝑚. 𝑑𝑇

*cv = calor específico a volume constante ; cp = calor específico a pressão constante

Capacidade calorífica: Razão entre quantidade de calor e variação na temperatura.

𝑑𝑄
𝐶= (Eq. 15)
𝑑𝑇

Disto decorre que: 𝐶 = 𝑐. 𝑚

Através da integração da Eq. 14 para um processo 1→2, descobre-se o calor transferido


para uma variação específica na temperatura de uma certa quantidade de massa:

(Eq. 16)

(Eq. 17)

Exemplo 7) Uma pedra de gelo de 50 kg sujeita a uma pressão de 1 atm, inicialmente à


temperatura de -20°C, é levada até o ponto de fusão a 0°C. A partir desse estado, o gelo recebe
mais uma quantidade de calor e se transforma em líquido, e depois é levado até 100°C.
Partindo-se desse ponto, inicia-se sua vaporização. Terminada a vaporização, inicia-se um
processo de superaquecimento do vapor até 25°C acima da temperatura de ebulição. Calcular
a quantidade de calor necessária para cada etapa dessa transformação.
Dados: Calor sensível do gelo (Cs) = 0,5 kcal/(kg·°C)
Calor sensível da água líquida (Cs) = 1 kcal/(kg·°C)
Calor latente de fusão da água (CL) = 80 kcal/kg
Calor latente de vaporização da água (CL) = 540 kcal/kg
Calor sensível do vapor d’água (Cs) = 0,5 kcal/(kg·°C)

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1.3 Título e Umidade


Quando uma substância pura se encontra nas condições de saturação Ps e Ts, definimos:

1.3.1 Título (X)


É a relação entre massa de vapor e a massa total da mistura líquido e vapor.
𝑚𝑣
𝑋= (Eq. 18)
𝑚𝑇

Onde: 𝑚𝑣 é massa de vapor na mistura e 𝑚 𝑇 é massa total da mistura.

1.3.2 Umidade (U)


É a relação entre massa de líquido e a massa total da mistura líquido e vapor.
𝑚𝑙
𝑈= (Eq. 19)
𝑚𝑇

Onde: 𝑚𝑙 é massa de líquido na mistura e 𝑚 𝑇 é massa total da mistura.


Assim, sabendo que o volume total da mistura (V) é a soma do volume ocupado pelo
líquido e pelo vapor, fazemos:
𝑉 𝑉𝑙 + 𝑉𝑉
𝑣= ⇒
𝑚𝑇 𝑚𝑇

*Note que para representar o volume total utilizamos somente “v” ou somente “V”.

Sabendo-se que:
𝑉𝑙
𝑣𝑙 = ⇒ 𝑉𝑙 =
𝑚𝑙
𝑉𝑣
𝑣𝑣 = ⇒ 𝑉𝑣 =
𝑚𝑣
Substituindo na equação anterior, fica-se com:

𝑉𝑙 + 𝑉𝑉 𝑣𝑙 . 𝑚𝑙 𝑣𝑣 . 𝑚𝑣
𝑣= = + = 𝑣𝑙 . 𝑈 + 𝑣𝑣 . 𝑋
𝑚𝑇 𝑚𝑇 𝑚𝑇

Sabendo-se que U = X - 1, então:

𝑣 = 𝑣𝑙 + 𝑋. (𝑣𝑣 − 𝑣𝑙 ) (Eq. 20)

Analogamente:
(Eq. 21)
(Eq. 22)

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1.4 Reversibilidade e Irreversibilidade dos Processos

Um processo reversível para um sistema é aquele que tendo ocorrido, pode ser invertido
sem deixar vestígios no sistema e no meio. O processo para retomada das condições iniciais
deve percorrer o mesmo caminho. Todos os processos reais são irreversíveis.
Em um processo hipoteticamente reversível, não há perdas!!
Causas que tornam um processo irreversível ou, perdas:

 Atrito,
 Expansão não resistida,
 Troca de calor com diferença finita de temperatura,
 Misturas de duas substâncias diferentes,
 Perdas de energia em circuitos elétricos,
 Combustão.

1.5 Lei da Conservação da Energia

“Se um trabalho realizado sobre um corpo ao acelerá-lo ou elevá-lo puder ser


posteriormente recuperado, então o corpo, em função de sua velocidade ou elevação, possui
habilidade de realizar trabalho. Ou seja, o corpo possui energia.”

Sendo:

𝑚. 𝑐 2
𝑊 = ∆𝐸𝑐 = ∆ ( ) (Eq. 23)
2

𝑊 = ∆𝐸𝑝 = ∆(𝑚. 𝑔. 𝑧) (𝐸𝑞. 24)

Do enunciado da conservação, temos então que:

∆𝐸𝑝 + ∆𝐸𝑐 = 0 (𝐸𝑞. 25)

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Exemplo 8) Um dispositivo horizontal cilindro/êmbolo é colocado em um banho termostático.


O êmbolo desliza no cilindro com atrito desprezível, e uma força externa o mantém em
posição contra uma pressão inicial do gás de 14 bar. O volume inicial do gás é de 0,03 m3. A
força externa sobre o êmbolo é gradualmente reduzida (reversível), permitindo a expansão
isotérmica do gás até que o seu volume dobre. (a) Se o volume do gás estiver relacionado com
a sua pressão de tal forma que o produto PV seja constante, qual o trabalho realizado pelo
gás ao deslocar a forca externa? (b) Que quantidade de trabalho seria realizado, se a força
externa fosse subitamente reduzida (irreversível) a metade do seu valor inicial em vez de ser
gradualmente reduzida?

Respostas: a) -0,2911 bar·m3; b) -0,21 bar·m3

Exemplo 9) Um elevador com massa de 2.500 kg encontra-se em um nível 10 m acima da base


do poço do elevador. Ele é elevado a 100 m, onde de repente o cabo se rompe. O elevador cai
em queda livre até a base, onde colide com uma forte mola. A mola desacelera o elevador e
o mantém na posição de máxima compressão da mola. Considerando g = 9,8 m·s-2, calcule:
a) A energia potencial do elevador na posição inicial em relação à base;
b) O trabalho realizado para elevar o elevador;
c) A energia potencial do elevador na posição mais elevada em relação à base;
d) A velocidade e a energia cinética do elevador no instante imediatamente anterior à
sua colisão com a mola.

Respostas: a) 245.000 J b) 2.205.000 J c) 2.450.000 J d) 44, 27 m·s-1 e 2.450.000 J

Exemplo 10) Um recipiente com capacidade de 400 L, contém 2 kg de uma mistura de água
líquida e vapor em equilíbrio a 600 kPa. Calcule vl, ml, vv, mv.

Respostas: vl =0,001101 m3·kg-1 ; ml = 0,7356 kg ; vv = 0,3157 m3·kg-1 ; e mv = 1,2644 kg

Exemplo 11) Um vaso rígido contém vapor saturado de NH3 a 20°C, transfere-se calor para o
sistema até que a temperatura alcance 40°C. Qual a pressão final?

Resposta: P2 = 938,13 kPa

Exemplo 12) Encontre o título de uma mistura L+V onde vl é 0,0011 m3·kg-1 e vv é
0,00526 m3·kg-1 e a massa total mT é de 2 kg, ocupando um volume de 10 L. Expresse o título
em percentual.

Resposta: X = 93%

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2
.
1

Trecho retirado do livro de Smith et al. (2007)

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Exemplo 13) Água escoa em uma queda d’água com 10 m de altura. Considere 1 kg de água
como o sistema e considere que o sistema não troque nenhuma forma de energia com a
vizinhança. Calcule:
a) Qual a energia potencial da água no topo da queda d’água em relação a sua base?
b) Qual é a energia cinética da água no instante imediatamente anterior ao seu choque com
a base da queda d’água? Qual a velocidade nesse instante?
c) Após a massa de 1 kg de água entrar no curso do rio a jusante da queda, que modificação
ocorreu em suas propriedades? Quanto se alterou desta propriedade?

Respostas: a) 98,1 J; b) 98,1 J; c) temperatura, aumento de 0,0234°C.

Exemplo 14) Um gás encontra-se confinado em um cilindro por um embolo. Seu volume inicial
é de 0,10 m3. O equipamento encontra-se a uma pressão atmosférica padrão de 101,3 kPa.
Qual a variação na energia no equipamento quando o gás se expande para o dobro de seu
volume inicial? Admita que a taxa de transferência de calor entre o equipamento e o ar seja
muito lenta comparada à taxa no qual o processo ocorre.

Resposta: - 10,13 kJ

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UNIDADE 2. PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

2.1 Definição de Entalpia

Entalpia é a propriedade termodinâmica que representa as energias relacionadas com a


pressão, temperatura e volume de um sistema. Em outras palavras, a entalpia é a quantidade
de energia necessária para alteração destas três propriedades.

𝐻= (Eq. 26)

Aplicando a definição de entalpia à um sistema termodinâmico em transformação, de


uma situação 1 a situação 2, teremos:

∆𝐻 = (Eq. 27)

Dividindo por unidade de massa m:

∆ℎ = (Eq. 28)

2.2 Primeira Lei da Termodinâmica para Sistemas Fechados

Do enunciado da Primeira Lei, conforme exposto no trecho do livro de Smith et al.


(2007), temos então que:

(Eq. 29)

Substituindo:

(Eq. 30)

Dividindo por unidade de massa m:

(Eq. 31)

Esta é a equação da 1ª Lei da Termodinâmica, aplicável a qualquer sistema fechado.

2.2.1 Sistemas Fechados com Processo à Volume Constante

Com volume constante, então não há expansão ou contração do sistema (não há


movimento de fronteiras), logo:

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Reescrevendo a primeira lei da termodinâmica:

Considerando os sistemas fechados, onde não há variação na velocidade ou na altura


(∆𝐸𝑝 = ∆𝐸𝑐 = 0), então:

𝑄1→2 = ∆𝑈 (Eq. 32)

2.2.2 Sistemas Fechados com Processo à Pressão Constante

Da definição de entalpia (Eq. 27) e sabendo que Δ significa diferença entre situação final
(2) e inicial (1):

∆𝐻 = (Eq. 33)

Como a pressão é constante, então P2 = P1 = P e assim, isolando P:

∆𝐻 = (Eq. 34)

Reescrevendo:

∆𝐻 = (Eq. 35)

Dividindo por unidade de massa m:

∆ℎ = (Eq. 36)

Rescrevendo a 1ª Lei da Termodinâmica e considerando os sistemas onde não há


variação na velocidade ou na altura (∆𝐸𝑝 = ∆𝐸𝑐 = 0), então:

Substituindo a definição de trabalho (W), ficamos com:

Com P constante, resulta:

𝑄1→2 − 𝑃. ∆𝑉 = ∆𝑈 𝑜𝑢 𝑠𝑖𝑚𝑝𝑙𝑒𝑠𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒:

𝑄1→2 = (Eq. 37)

Comparando a Eq. 37 com a Eq. 35, concluímos que para um processo fechado à P
constante:

𝑄1→2 = ∆𝐻 (Eq. 38)

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2.3 Calor específico e capacidade calorífica para sistemas abertos ou fechados

 Aplicando a definição de capacidade calorífica (Eq. 15) para volume constante:


∆𝑄 ∆𝑈
𝐶= ⇒ 𝐶= (Eq. 39)
∆𝑇 ∆𝑇

Dividindo por unidade de massa m:


𝐶 ∆𝑈 ∆𝑢
= ⇒ 𝑐=
𝑚 𝑚. ∆𝑇 ∆𝑇

Ou simplesmente:

∆𝑢 = 𝑐𝑣 . ∆𝑇 (Eq. 40)

 Aplicando a definição de capacidade calorífica (Eq. 15) para pressão constante:


∆𝑄 ∆𝐻
𝐶= ⇒ 𝐶= (Eq. 41)
∆𝑇 ∆𝑇

Dividindo por unidade de massa m:


𝐶 ∆𝐻 ∆ℎ
= ⇒ 𝑐=
𝑚 𝑚. ∆𝑇 ∆𝑇

Ou simplesmente:

∆ℎ = 𝑐𝑝 . ∆𝑇 (Eq. 42)

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Exemplo 15) Calcule ∆𝐻 e ∆𝑈 para 1 kg de água, quando a mesma é vaporizada na


temperatura constante de 100°C e sob uma pressão constante de 101,33 kPa. Nessas
condições, os volumes específicos da água líquida e do vapor d’água são 0,00104 e
1,673 m3·kg-1, respectivamente. Para essa mudança, uma quantidade de 2.256,9 kJ de calor é
adicionado à água.

Respostas: ∆𝐻 = 2.256,9 kJ e ∆𝑈 = 2.087,48 kJ

Exemplo 16) Uma quantidade de 1 mol de ar a 1 bar de pressão e 298, 15 K, é comprimido até
5 bar e 298, 15 K, através de duas etapas mecanicamente reversíveis:
1ª etapa: resfriamento a pressão constante, seguido de:
2ª etapa: aquecimento a volume constante.
Calcule ∆𝐻, ∆𝑈, Q e W para cada trajetória, admitindo que o ar se comporte como um
gás ideal. Dados do ar: 𝑐𝑝 = 29,1 J·mol-1·K-1 ; 𝑐𝑣 = 20,78 J·mol-1·K-1 ; volume molar do ar a
298,15 K e 1 bar = 0,0248 m3·mol-1

Respostas:

Exemplo 17) Resolva o mesmo exemplo anterior (Exemplo 12) considerando que o processo
agora segue as seguintes etapas:
1ª etapa: aquecimento a volume constante, seguido de:
2ª etapa: resfriamento a pressão constante.
Calcule ∆𝐻, ∆𝑈, Q e W para cada trajetória, admitindo que o ar se comporte como um gás
ideal e utilizando os mesmo dados fornecidos.

Respostas:

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2.4 Primeira Lei da Termodinâmica para Sistemas Abertos

Sistemas abertos são caracterizados por possuírem correntes escoando, desta forma,
existirão quatro medidas de escoamento usuais:

a) Vazão mássica (𝑚̇) RELAÇÕES IMPORTANTES:


b) Vazão molar (𝑛̇ )
c) Vazão volumétrica (q)
d) Velocidade (c)

Onde:

Exemplo 18) Calcular quanto pesa (em kg), 167 mols de carbono, sabendo que a massa
molecular do C é 12 g/mol.

Resposta: 2 kg

Exemplo 19) Calcular o número de átomos de He que existem dentro de um balão que pesa
100 g (descontando a massa do balão) preenchido com He puro. A massa molecular do He é
4 g/mol.

Resposta: 150,5·1023 átomos

Para sistemas abertos, não existe mais a análise das situações inicial e final, mas sim
do pontos de entrada e saída. Para demonstrar, faremos uso de um volume de controle (vc),
delimitado por uma superfície de controle:

As vazões mássicas de entrada e saída serão dadas por:

𝑚̇1 = 𝜌1 . 𝑐1 . 𝐴1

𝑚̇2 = 𝜌2 . 𝑐2 . 𝐴2

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Para que não haja acúmulo nem consumo de massa dentro do vc, as vazões mássicas
devem se igualar:

𝜌1 . 𝑐1 . 𝐴1 = 𝜌2 . 𝑐2 . 𝐴2

No sistema aberto, cada unidade de massa corrente carrega consigo uma energia total
nas formas de energia interna, potencial e cinética (u + 1/2 c2 + zg).

E quando houver acúmulo ou consumo de energia no interior do vc, este estará


associado às formas de energia de calor e trabalho.
Desta forma, reescrevemos aqui a Eq. 31, utilizada para sistemas fechados e depois
multiplicaremos cada termo desta equação pela taxa mássica, ou seja, onde há entrada e
saída de massa (sistemas abertos):

Multiplicando por 𝑚̇ e agrupando os termos da saída (ponto 2) e da entrada (ponto 1),


resulta:

𝑄̇ + 𝑊̇ = (Eq. 43)

Onde:

Em sistemas abertos, o termo do trabalho se subdivide em várias outras formas, além


da já conhecida (movimento de fronteiras, ou contração-expansão do sistema). As novas
formas de trabalho que agora existem são: trabalho realizado ao movimentar a unidade de
massa através da entrada e saída, exercendo uma “pressão” sobre o volume de controle (WF);
trabalho de eixo motor (WE) e trabalho perdido (WP). O termo de trabalho total fica:

𝑊𝑇 = 𝑊𝐹 + 𝑊𝐸 + 𝑊𝑃 + 𝑊 (Eq. 44)

As formas de trabalho 𝑊𝐸 + 𝑊𝑃 estarão incluídas ao termo de trabalho representado


anteriormente por 𝑊. Entretanto, a forma de trabalho 𝑊𝐹 (chamado de trabalho de fluxo),
será explicitada na equação geral de energia. Esta forma de trabalho é dada por:

𝑊𝐹 = −∆(𝑃. 𝑉) ⇒ 𝑊̇𝐹 = −[∆(𝑃. 𝑉)] ∙ 𝑚̇

Substituindo na Eq. 43:

𝑄̇ + 𝑊̇ + 𝑊̇𝐹 =

Substituindo o 𝑊̇𝐹 :

Fazendo Δ = ponto 2 – ponto 1:

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A combinação dos termos de acordo com a definição de entalpia Δh = Δu +Δ(P.v)


resulta em:

𝑄̇ + 𝑊̇ = (Eq. 45)

Esta é a equação da 1ª Lei da Termodinâmica, aplicável a qualquer sistema aberto.

Abrindo os termos Δ, tem-se a equação no seu formato mais extenso:

𝑄̇ + 𝑊̇ = (Eq. 46)

Exemplo 20) Em um calorímetro de fluxo, conforme apresentado na Figura 3, os seguintes


dados foram obtidos usando água como fluido: T1 = 0°C, T2 = 300°C, 𝑄̇ = 12740 W; P2 = 3 bar
e 𝑚̇ = 4,15 g·s-1. A água é completamente vaporizada no processo. Calcule a entalpia do vapor
d’água (hv) a 300°C e 3 bar, com base na referência padrão, que estabelece que h = 0 para
água líquida a 0°C.

Figura 3. Calorímetro de fluxo.

Resposta: 3069 kJ·kg-1

Exemplo 21) Vapor d’água a 0,6 MPa e 200°C entra num bocal isolado termicamente com uma
velocidade de 50 m·s-1 e sai a 600 m·s-1 à pressão de 0,15 MPa. Determine no estado final, a
temperatura do vapor se estiver superaquecido ou o título, se estiver saturado.

Resposta: X = 99% (saturado)

Exemplo 22) A vazão em massa que alimenta uma turbina a vapor d’água é de 1,5 kg/s e o
calor transferido da turbina é 8,5 kW. Determine a potência fornecida pela turbina,
conhecendo-se os seguintes dados para o vapor d’água que entra e sai da turbina:

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Condições de entrada Condições de saída


Pressão 2,0 MPa 0,1 MPa
Temperatura 350 °C ?
Título ? 98 %
Velocidade 50 m/s 100 m/s
Cota em relação ao plano de 6m 3m
referência
Aceleração g 9,81 m/s2

Exemplo 23) O compressor centrífugo de uma turbina à gás recebe o ar ambiente (atmosfera)
onde a pressão é de 1 bar e a temperatura é de 300 K. Na saída do compressor a pressão é
4 bar, a temperatura é 480 K e a velocidade do ar é de 100 m·s-1. A vazão do ar é de 15 kg·s-1.
Determinar a potência necessária para acionar o compressor, sendo este isolado
termicamente.

Resposta: 2775 kW

Exemplo 24) Uma pessoa, em repouso, transfere cerca de 400 kJ/h de calor ao meio ambiente.
Suponha que a operação do sistema de ventilação de uma auditório que contém 100 pessoas
e apresenta volume interno de 1.500 m3, seja interrompido por problemas técnicos. Admita
que, inicialmente, a temperatura e a pressão do ar contido no auditório sejam iguais a 300 K
e 101,3 kPa. Supondo que todo o calor gerado pelas pessoas fosse absorvido pelo ar,
determine a taxa de aumento da temperatura do ar no auditório, em K/h, que seria detectada
após a falha no sistema de ventilação.
Dados: RAR = 0,287 kJ/(kg·K) ; cvAR = 0,7165 kJ/(kg·K) e ρAR = 1,29 kg/m3

Resposta: 28,85 K/h

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UNIDADE 3. PROPRIEDADES VOLUMÉTRICAS DE FLUIDOS PUROS

3.1 Comportamento Pv T de Substâncias Puras

Figura 4. Diagramas para Substâncias Puras.

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Nas regiões bifásicas (linhas no gráfico PT), uma das propriedades do sistema P, v ou T é
função de UMA das outras duas.
Ao contrário, nas regiões onde há uma única fase (regiões monofásicas nos gráficos P v
ou PT), uma equação de estado será resolvida para qualquer uma das três grandezas P, v ou
T, como uma função das outras DUAS. Para a região monofásica, se v for considerado uma
função de T e P, então v = f (T, P):

𝑑𝑣 = (Eq. 47)

Neste momento, introduzem-se duas novas propriedades:

I. Expansividade volumétrica: β =

II. Compressibilidade isotérmica: κ =

Desta forma, multiplicando a Eq. 47 por 1/v e substituindo β e κ, a combinação das


equações fornece:

𝑑𝑣
= (Eq. 48)
𝑣

Note que as isotermas para a fase líquida no lado esquerdo do diagrama P v são muito
𝜕𝑣 𝜕𝑣
inclinadas, logo 𝜕𝑃 e 𝜕𝑇 são pequenos, e β e κ também serão pequenos. Isto representa
líquidos pouco compressíveis, com variação desprezível no volume específico. Para líquidos,
β é quase sempre positivo (exceto para água entre 0 e 4°C) e κ é sempre positivo.

Em condições afastadas do ponto crítico, β e κ são funções pouco sensíveis em relação


à temperatura e à pressão. Assim, para pequenas variações em T e P, um pequeno erro é
introduzido se as considerarmos constantes. Então, considerando β e κ constantes, podemos
aplicar a seguinte integração da Eq. 48:

Obtendo:

𝑣2
𝑙𝑛 = (Eq. 49)
𝑣1

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Exemplo 25) Para acetona líquida a 20°C e 1 bar é dado: β =1,487·10-3 °C-1 , κ = 62·10-6 bar-1 e
v = 1,287 cm3·g-1. Determine:

𝜕𝑃
(a) O valor de (𝜕𝑇 ) a 20°C e 1 bar;
𝑣

(b) A pressão gerada no sistema pelo aquecimento à v constante, de 20°C e 1 bar até 30°C;
(c) A variação no volume (Δv) para uma variação de 20°C e 1 bar para 0°C e 10 bar.

3.2 Gases Reais

As equações que descrevem a relação entre P, v e T são equações de estado. A equação


de estado para gás ideal (Pv = RT) é a mais simples de ser utilizada, porém tem validade
aproximada somente nas regiões de baixas pressões, o que faz com que se procure por outras
equações que se apliquem à uma larga faixa de pressões.
Quando as condições de um sistema se distanciam das condições ambientais normais,
os fluidos passam a se comportar de maneira distinta ao comportamento ideal. Nessas
condições, (por exemplo, em altas pressões) as interações moleculares passam a ser
consideráveis e o comportamento deverá ser determinado usando equações de estado
adequadas ao estado REAL.
A seguir serão vistas equações que podem ser aplicadas para estados de gases reais,
obtendo-se valores mais aproximados do que se utilizássemos a equação de gás ideal.

3.2.1 Equação de Estado do Tipo Virial

A equação de Estado do Tipo Virial foi proposta para descrever o comportamento de


gases reais.
Porém esta equação é válida somente para o estado de vapor, uma vez que possui
formato de potência e apenas uma raiz, o que aparece na região de vapor nos diagramas da
Figura 4. A relação P 𝑣 em uma isoterma pode ser representada na forma:

𝑃𝑣 =

Fazendo: b = a·B’ e b = a·C’ , fica-se com:

𝑃𝑣 =

Colocando a em evidência:

𝑃𝑣= (Eq. 50)

Onde a, B’ e C’ são constantes para uma dada temperatura e uma dada espécie química.

Em especial: a = R.T
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A série 𝑃 𝑣 = a (1 + B’P + C’P2 +...) é uma série infinita, mas o truncamento após dois ou
três termos fornece resultados satisfatórios.
Neste momento, introduz-se mais uma nova propriedade termodinâmica importante:

𝑷𝒗
III. Fator de compressibilidade: 𝒁 =
𝑹𝑻

O fator de compressibilidade é adimensional e representa o quanto o fluido está


distante da idealidade. Quando a condição de idealidade é atingida, Z = 1.
Aplicando a definição de Z na Eq. 50 fica-se com:

𝑍= (Eq. 51)

Fazendo-se:

Resulta numa expressão alternativa para Z:

𝑍= (Eq. 52)

𝐵 𝐶
O termo ( 𝑣 ) surge em função das interações entre pares de moléculas; o termo (𝑣2 )
surge em função da interação entre três moléculas simultaneamente, e assim por diante.
Como as interações entre dois corpos são muito mais comuns do que as interações entre três
corpos e de três corpos muito mais comuns do que quatro e assim por diante, os termos
subsequentes da Eq. 52 tem contribuições cada vez mais desprezíveis no resultado final.
Uma forma mais comum dessa equação resulta da substituição de B’, ou seja, truncando
a equação em apenas dois termos:

𝑍= (Eq. 53)

Ou, truncando em três termos:

𝑍= (Eq. 54)

Exemplo 26) Valores tabelados para os coeficientes do tipo Virial do vapor de isopropanol a
200°C são dados:
𝑐𝑚3 𝑐𝑚6
𝐵 = −388 𝑒 𝐶 = −26 000
𝑚𝑜𝑙 𝑚𝑜𝑙 2
Calcule v e Z para o vapor de isopropanol, a 200°C e 10 bar através:
a) Da equação do gás ideal;
b) Da equação do Virial truncada em dois termos;
c) Da equação do Virial truncada em três termos.

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3.2.2 Equações de Estado Cúbicas


Para uma equação de estado representar o comportamento P 𝑣 T tanto de líquidos
como vapores, ela deve abranger uma larga faixa de temperatura e pressão. A primeira
equação de estado cúbica útil proposta foi a de Van der Waals.
As equações denominadas equações cúbicas são assim denominadas por apresentarem
3 raízes para o volume molar 𝑣. Das três raízes (3 valores encontrados para 𝑣), até duas podem
ser complexas e neste caso a terceira representará o volume do fluido.
Para ter significado físico, a raiz deverá ser um número real e positivo. Se caso as três
raízes forem reais e positivas, a menor raiz será o volume molar do líquido e a maior será o
volume do vapor; a raiz intermediária deverá ser descartada.

 A equação de estado de Van der Waals:

Termo relacionado à atração


entre as moléculas
𝑅𝑇 𝑎
𝑃= − 2 (Eq. 55)
𝑣−𝑏 𝑣
Termo relacionado ao
volume das moléculas

Onde: a e b são constantes positivas e dependentes da substância considerada.


Para a = b = 0, a equação se reduz à equação do gás ideal, pois para gás ideal considera-se que
as moléculas têm volume desprezível (b → 0) e interação molecular desprezível (a → 0). Logo,
P = RT/v.

 A equação de estado cúbica genérica (desta obtém-se todas as outras, inclusive a


de Van der Waals):

𝑅𝑇 𝑎(𝑇)
𝑃= − (Eq. 56)
𝑣 − 𝑏 (𝑣 + 𝜖𝑏)(𝑣 + 𝜎𝑏)

Onde:

Onde: 𝜖 e 𝜎 são constantes dadas para cada equação de estado proposta.


A dependência da temperatura de a(T) é específica para cada equação de estado.

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 Constantes das equações de estado cúbicas:

Equação 𝛼(𝑇𝑟 ) 𝜎 𝜖 Ω Ψ
Van der Waals 1 0 0 0,125 0,4219
1⁄
Redlich-Kwong 𝑇𝑟 − 2 1 0 0,0866 0,4275
Soave-Redlich-Kwong * 1 0 0,0866 0,4275

Peng-Robinson ** 1 + √2 1 − √2 0,0778 0,4572

Onde: 𝜔 = tabelado no Apêndice B para cada substância; é adimensional e representa a


relação entre pressão de saturação com a pressão crítica da substância.
Ainda:
𝑇 𝑃
𝑇𝑟 = 𝑒 𝑃𝑟 =
𝑇𝐶 𝑃𝐶
Onde 𝑇𝑟 e 𝑃𝑟 são adimensionais e relacionam a P e T considerada com a P e T crítica da
substância.

Exemplo 27) As equações de estado são utilizadas para descrever o comportamento de gases
quando submetidos a transformações termodinâmicas. Uma equação bastante utilizada é a
equação de van der Waals:
𝑅𝑇 𝑎
𝑃= − 2
𝑣−𝑏 𝑣

Em relação à equação de van der Waals, identifique se as afirmativas são verdadeiras ou falsas.
Nas afirmativas falsas (se houver), circule o termo errado e escreva o termo correto.
( ) A equação descreve o comportamento de gases reais, desconsiderando as interações
moleculares.
( ) A equação procura quantificar os efeitos da não-idealidade dos gases com o uso de três
constantes diferentes que dependem da substância considerada.
( ) A constante “a” representa a força de atração entre as moléculas e quanto maior seu
valor, menor a pressão P resultante.
( ) A constante “b” leva em conta o volume ocupado por cada molécula e portanto, quanto
maior seu valor, maior a pressão P resultante.
( ) As equações de estado cúbicas podem apresentar até 3 raízes, exceto a equação de Van
der Waals, que apresenta apenas 2 raízes reais.

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UNIDADE 4. SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA

4.1 Enunciados da 2ª Lei

A lei que estabelece a conservação de energia, 1ª lei da termodinâmica, não é suficiente


para explicar os fenômenos básicos que acontecem nos processos reais. Pela 1ª lei, podemos
matematicamente encontrar Q = W, admitindo-se nulos os demais ternos da equação.
X
Na prática, no entanto, a equivalência entre calor e trabalho só existe no sentido de
trabalho ser convertido em calor, e não o contrário:

W→Q Q→W
X
Desta observação, surgiram os enunciados da 2ª Lei.

Enunciado de Planck-Kelvin ≈ turbinas

“Uma máquina térmica recebe calor de uma fonte quente, transforma uma parte desse calor
em trabalho e cede uma parte restante para uma fonte fria.”

Figura 5. Máquina térmica.

O trabalho gasto com o bombeamento é representado por WB e o trabalho produzido


na turbina é WT (este trabalho da turbina é negativo, pois é trabalho realizado pelo sistema:
expansão).
O calor recebido pelo sistema para a geração de energia é o calor do vapor Q GV, vapor
este gerado na caldeira.
Fazendo o trabalho útil produzido na turbina igual a WS, então o rendimento da máquina
térmica será:
𝑊𝑆
𝜂= = (Eq. 57)
𝑄𝐺𝑉

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O rendimento da máquina térmica é sempre < 100%, que está em acordo com o
enunciado de Planck-Kelvin.
Podemos reescrever a equação do rendimento, fazendo um balanço de todas as
energias que entram e saem do sistema, teremos:

𝑄𝐺𝑉 + 𝑊𝐵 = |𝑄𝐶𝐷 | + |𝑊𝑇 | (Eq. 58)


Ou, rearranjando:

𝑄𝐺𝑉 − |𝑄𝐶𝐷 | = |𝑊𝑇 | − 𝑊𝐵

Lembrando que trabalho útil 𝑊𝑆 é:


𝑊𝑆 = |𝑊𝑇 | − 𝑊𝐵 ou seja: (Eq. 59)
Então podemos substituir na equação do rendimento, obtendo:

𝜂= (Eq. 60)

Lembrando que: 𝜂 < 1

Enunciado de Clausius ≈ refrigeradores


“É impossível uma bomba de calor transferir calor de uma fonte fria para uma fonte quente
sem necessitar de trabalho.”

Figura 6. Bomba de calor.

Chamando: o trabalho feito pelo compressor de WCP; o calor retirado do ambiente


interno (dos alimentos, por exemplo) de QFF; e o calor cedido para o ambiente exterior de QFQ,
podemos escrever um balanço das forças que entram e saem do sistema:

𝑄𝐹𝐹 + 𝑊𝐶𝑃 = 𝑄𝐹𝑄

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E o coeficiente de eficácia da bomba de calor será o cociente entre o calor retirado e o


trabalho gasto:
𝑄𝐹𝐹
𝛽=
𝑊𝐶𝑃
Este número β indica quanto calor se retira do interior de um refrigerador por unidade
de trabalho gasto para fazê-la funcionar.

*Neste momento, torna-se necessário o conhecimento de uma propriedade


termodinâmica fundamental para aplicação da 2ª Lei da Termodinâmica: ENTROPIA.

4.2 Entropia

A entropia (S) é uma propriedade do sistema, funcionalmente relacionada à quantidade


de energia que o sistema contém por unidade de sua temperatura. Sua unidade é dada em
kJ/K ou kcal/K. Já a entropia específica (s) é dada em kJ/kg.K ou kcal/kg.K.

Não há uma equação na termodinâmica para entropia, somente para variação da


entropia. Entretanto, com a equação da variação de entropia, será possível medir a entropia
que um sistema (ou fluido) contém. Para isso, considera-se como referência que a entropia da
água a 0°C e 1 atm é nula (s = 0).
A Figura abaixo mostra uma tubulação por onde escoa um fluido a uma temperatura T
(ex.: trocador de calor), onde calor é trocado com o meio ambiente.

Figura 7. Escoamento de fluido em uma tubulação.

Admitindo-se que o calor e a temperatura estejam relacionados por meio de alguma


função, podemos definir a variação de entropia como: o somatório de todo calor trocado
divido pela temperatura absoluta em que as trocas ocorrem. Este calor pode ser externo
(positivo ou negativo) ou gerado pelo atrito (sempre positivo). Aplicando esta definição
teremos, como variação de entropia:
2 2
𝛿𝑄 𝛿𝑄𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜
∆𝑆 = ∫ +∫ (Eq. 61)
1 𝑇 1 𝑇

Para facilitar o entendimento, lembramos que o símbolo 𝛿 representa variação, ou seja,


matematicamente: 𝛿𝑄 = 𝑑𝑄. Não utiliza-se 𝑑𝑄 pois não existe variação de calor e sim, troca
de calor.
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Quando não houver atrito pode-se desconsiderar a segunda integral.

Quando um processo não envolver trocas de calor (Q = 0), sua variação na entropia será
nula, e dizemos que o mesmo é um processo isoentrópico (além de adiabático).

Exemplo 28) Calcular a entropia de 2 kg de água em repouso, que se encontra na temperatura


de ebulição a 100°C, quando a pressão correspondente é de 1 atm (0,10135 MPa), agindo
sobre sua superfície livre. Neste caso, considera-se que não há atrito pois não há movimento
do fluido.
Dado: cp, água = 4,19 kJ/kg.K (calor específico).
Dica: utilizar a Eq. 16.

Exemplo 29) Calcular a variação na entropia de 1 kg de água a 1 atm (0,10135 MPa) de pressão,
que ocorre durante o processo de vaporização a 100°C, a partir do estado líquido saturado.
Admitir que a água se encontra no estado de repouso, não havendo, desta maneira, influência
do atrito no cálculo da variação de entropia.
Dado: cL, água = 2256,685 kJ/kg (calor latente de vaporização da água)

4.3 O Ciclo de Carnot ≈ o ciclo ideal

Já vimos como exemplo do segundo princípio da termodinâmica, um ciclo constituído


por uma caldeira, uma turbina, um condensador e uma bomba, ligados em série, com a
finalidade de transformar calor em trabalho. Suponhamos agora que a água que saia da
bomba e entre na caldeira esteja no estado saturado e que todos os processos desse ciclo
sejam reversíveis. Esses processos reversíveis (sem perdas) podem ser traçados em um
diagrama de T versus s:

Figura 8. Diagrama de T versus s para um ciclo de Carnot.

No diagrama da Figura 8, s representa a entropia específica e T representa temperatura.

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O processo que está sendo representado é o de uma máquina térmica (≈ turbinas).


Desta forma, o calor proveniente da caldeira é QGV (caldeira são geradores de vapor) e o calor
cedido no condensador é QCD.

Temos então um processo isotérmico na caldeira e no condensador, pois se trata de


evaporação e condensação a temperatura constante. Na bomba e na turbina o processo é
isoentrópico, porque não há troca de calor.

O ciclo assim constituído é denominado ciclo de Carnot, que é teórico, porque todos os
seus processos são reversíveis. Entretanto, a sua importância está na utilidade para resolução
de problemas reais.

Agora podemos aplicar o conhecimento de variação na entropia. Como visto, podemos


𝑑𝑄
escrever matematicamente, que: ∆𝑆 = ∫ , logo para uma temperatura constante fica-se
𝑇
com:
2
𝑑𝑄 1 2 𝑄
∆𝑆 = ∫ → ∆𝑆 = ∫ 𝑑𝑄 → ∆𝑆 = →
1 𝑇 𝑇 1 𝑇

∆𝑆 ∙ 𝑇 = 𝑄 (Eq. 62)

Podemos aplicar a relação ∆𝑆 ∙ 𝑇 = 𝑄, para o ciclo de Carnot, e desta forma, vemos que
a proporção entre os calores e temperatura é a mesma.
Logo temos que, o rendimento do ciclo de Carnot fica:

|𝑄𝐶𝐷 | 𝑇𝐶𝐷
𝜂𝐶 = 1 − =1− {T em Kelvin!} (Eq. 63)
𝑄𝐺𝑉 𝑇𝐺𝑉

4.4 Desigualdade de Clausius

Considerando o ciclo de Carnot representado no diagrama T versus s, notamos que calor


é perdido pelo sistema e calor é recebido pelo sistema. Na convenção de sinais, sabemos que
o calor perdido é sempre negativo e o calor recebido é sempre positivo.
Agora, aplicaremos o somatório das trocas de calor do sistema, divididas pelas
respectivas temperaturas para o ciclo de Carnot:
2 3 4 1
𝑄 𝛿𝑄 𝛿𝑄 𝛿𝑄 𝛿𝑄
∑ =∫ +∫ +∫ +∫ (Eq. 64)
𝑇 1 𝑇 2 𝑇 3 𝑇 4 𝑇

Como não há trocas de calor nos processos 1→2 e 3→4, cancelamos os dois termos
respectivos da equação acima. Além disso, vemos que o decréscimo de entropia que ocorre
de 2→3 é igual em módulo ao acréscimo de 4→1. Desta forma, fica-se com:
3 1
𝑄 𝛿𝑄 𝛿𝑄 𝑄 1 3 1 1
∑ =∫ +∫ → ∑ = ∫ 𝑑𝑄 + ∫ 𝑑𝑄
𝑇 2 𝑇 4 𝑇 𝑇 𝑇 2 𝑇 4

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𝑄 1 1
∑ = 𝑄2→3 + 𝑄
𝑇 𝑇𝐶𝐷 𝑇𝐺𝑉 4→1
Substituindo:

 𝑄2→3 por 𝑄𝐶𝐷 (que deve ser numericamente negativo)


 𝑄4→1 por 𝑄𝐺𝑉 , resulta:

𝑄 −|𝑄𝐶𝐷 | 𝑄𝐺𝑉 𝑄
∑ = + →∑ =0
𝑇 𝑇𝐶𝐷 𝑇𝐺𝑉 𝑇
Ao fazer este somatório, conclui-se que para um sistema reversível, como o de Carnot,
o somatório é nulo:
𝑄
∑ =0 (Eq. 65)
𝑇
E para sistemas irreversíveis (sistemas reais), teremos que:

𝑄𝐶𝐷,𝑟𝑒𝑎𝑙 > 𝑄𝐶𝐷,𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜

Consequentemente, como 𝑄𝐶𝐷 é um valor negativo, resulta para sistemas reversíveis:

𝑄
∑ <0
𝑇

Ou seja, para todos os sistemas:


𝑄
∑ ≤0 (Eq. 66)
𝑇

Esta equação é chamada de desigualdade de Clausius, e é aplicada para realizar a


análise da viabilidade de qualquer sistema (ou máquina) quando em sua fase de projeto.
Assim, Q na equação deve ser sempre em relação ao sistema em análise.

Exemplo 29) Considere uma máquina térmica funcionando de acordo com o ciclo de Carnot,
que apresenta uma fase de vaporização e uma fase de condensação, nas pressões de 1 MPa e
10 kPa, respectivamente. Conhecendo-se a potência da turbina 𝑊̇ 𝑇 = 11,03 𝑀𝑊, determine:

a) a vazão do vapor que percorre o ciclo, em kg/s;


b) a potência utilizada na compressão da mistura;
c) o fluxo de calor trocado na caldeira;
d) o fluxo de calor trocado no condensador;
e) o rendimento térmico da máquina.

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4.5 Enunciado Matemático da 2ª Lei da Termodinâmica

Já vimos pelo princípio da desigualdade de Clausius que:


𝑑𝑄
∫ ≤0
𝑇
Sendo a igualdade válida para sistemas reversíveis e a desigualdade para sistemas
irreversíveis.
Podemos agora, considerar dois reservatórios (dois sistemas), um reservatório quente à
Tq e o outro reservatório frio, à Tf, com Q sendo transferida do corpo mais quente através de
um processo irreversível. As variações de entropia em cada um dos reservatórios (ou corpos)
serão dadas por:

−|𝑄𝑞 | 𝑄𝑓
∆𝑆𝑞 = 𝑒 ∆𝑆𝑓 = (Eq. 67)
𝑇𝑞 𝑇𝑓

Onde 𝑄𝑞 é o calor que o corpo quente perde (negativo) e 𝑄𝑓 é o calor que (igual em
módulo) que o corpo frio ganha. Somando-se as duas parcelas, podemos calcular o ∆𝑆 total
do processo:

−|𝑄𝑞 | 𝑄𝑓
∆𝑆𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = + (Eq. 68)
𝑇𝑞 𝑇𝑓

Sabendo que |𝑄𝑞 | = |𝑄𝑓 | e supondo um valor genérico |𝑄| fica-se com:
−|𝑄| 𝑄
∆𝑆𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = +
𝑇𝑞 𝑇𝑓

Tirando o m.m.c da equação:

|𝑄|(𝑇𝑞 − 𝑇𝑓 )
∆𝑆𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 =
𝑇𝑞 ∙ 𝑇𝑓

Como 𝑇𝑞 > 𝑇𝑓 , essa última equação, se aplicada para processo irreversível (real),
sempre resultará em um valor positivo:
∆𝑆𝑢𝑛𝑖𝑣𝑒𝑟𝑠𝑜 > 0 (Eq. 69)

E para qualquer processo, reversível ou irreversível:


∆𝑆𝑢𝑛𝑖𝑣𝑒𝑟𝑠𝑜 ≥ 0 (Eq. 70)

Exemplo 30) Um molde de aço (cp = 0,5 kJ/kg.K) com 40 kg e uma temperatura de 450°C, é
resfriado por imersão em 150 kg de óleo (cp = 2,5 kJ/kg.K) a 250°C. Se não houver perdas
térmicas, qual será a variação de entropia (a) no molde? (b) no óleo? (c) no conjunto
óleo+molde?

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Exemplo 31) Um trocador de calor é constituído por dois tubos concêntricos, envolvidos por
um isolante térmico, que impede qualquer perda de calor para o ambiente. O tubo menor é
percorrido por vapor saturado, transferindo calor para a água que passa dentro do outro tubo.
A temperatura do vapor é de 179°C e a temperatura da água varia de 20 a 85°C. Conhecendo-
se a vazão de vapor igual a 1000 kg/h e admitindo-se que ocorre condensação total do vapor
e que este mantem-se na temperatura constante de 179°C durante o processo, calcular:
a) A capacidade de aquecimento de água do trocador de calor;
b) A variação de entropia da água e do vapor durante uma hora;
c) A variação de entropia do universo durante uma hora.

4.5.1 Trabalho Útil Produzido por uma Máquina Térmica

Sabendo-se que o trabalho útil produzido por uma máquina térmica é:


𝑊 = 𝑄𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑑𝑜 − |𝑄𝑐𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜 |
Onde: 𝑄𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑑𝑜 = 𝑄𝑞 e 𝑄𝑐𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜 = 𝑄𝑓

Voltamos então na Eq. 68 e isolamos 𝑄𝑓 , então substituímos o resultado de 𝑄𝑓 na


equação acima, obtendo:
𝑇𝑓
𝑊 = −𝑇𝑓 ∙ ∆𝑆 + 𝑄𝑞 (1 − ) (Eq. 71)
𝑇𝑞

Essa equação permite calcular o trabalho realizado por uma máquina térmica em um
processo com trocas de calor entre dois reservatórios. O trabalho máximo é obtido quando a
máquina é reversível, em cujo caso, ∆𝑆 = 0, e a equação se reduz à segunda parcela do lado
direito, ou seja, o trabalho de uma máquina de Carnot.

4.6 Balanço de Entropia para Sistemas Abertos

A lei que rege a entropia não é de conservação como a da energia; a lei que rege a
entropia é de que a entropia TOTAL associada a qualquer processo tem que ser POSITIVA, com
um valor limite de zero para processos reversíveis.
Desta forma, escreve-se o balanço de entropia para o sistema e a sua vizinhança,
considerados em conjunto, incluindo-se um termo de geração de entropia para levar em conta
as irreversibilidades do processo.
A geração de entropia é então igual à soma de três termos: um para a diferença na
entropia entre as correntes de entrada e saída, um para a variação de entropia no interior do
volume de controle, e um para a variação de entropia na vizinhança. Se o processo é reversível
a soma desses três termos é nula, fazendo ΔS = 0. Se o processo é irreversível a soma gera
uma quantidade positiva, o termo de geração de entropia.

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Consequentemente, o enunciado do balanço expresso em taxas é:

A equação do balanço matematicamente fica:


𝑑(𝑚𝑠)𝑣𝑐 𝑑𝑆𝑣𝑖𝑧
∆(𝑠𝑚̇)𝑐𝑒 + + = 𝑆𝐺̇ ≥ 0 (Eq. 72)
𝑑𝑡 𝑑𝑡
Onde 𝑆𝐺̇ é o termo de geração de entropia.
Essa equação é a forma geral do balanço de entropia em termos de taxa, aplicável em
qualquer instante e para qualquer sistema.
O primeiro termo é simplesmente a taxa líquida de ganho em entropia das correntes
em escoamento, isto é, a diferença entre a entropia total transportada para fora pelas
correntes que saem e a entropia total transportada para dentro pelas correntes que entram
no volume de controle.
Em relação ao terceiro termo, se 𝑄̇ representar a taxa de transferência de calor
associada a uma temperatura T da vizinhança, então a taxa de variação da entropia na
vizinhança resultante dessa transferência será: 𝑄̇ / T.
Colocaremos um sinal negativo para converter 𝑄̇ , definida em relação à vizinhança, para
uma taxa de calor em relação ao sistema.
Ou seja, quando o sistema perde calor, devemos colocar sinal negativo para Q e quando
ganha calor, colocamos sinal positivo.
Consequentemente, o terceiro termo na Eq. 72, que é a soma de todas essas
quantidades de calor trocadas com as vizinhanças, será escrito na forma:
𝑑𝑆𝑣𝑖𝑧 𝑄̇
= −∑ (Eq. 73)
𝑑𝑡 𝑇
A Eq. 72 passa então a ser escrita na forma:

𝑑(𝑚𝑠)𝑣𝑐 𝑄̇
∆(𝑠𝑚̇)𝑐𝑒 + − ∑ = 𝑆𝐺̇ ≥ 0 (Eq. 74)
𝑑𝑡 𝑇
O segundo termo da equação representa a geração de entropia para estado transiente.
Desta forma, se considerarmos um processo com escoamento em estado estacionário, a taxa
mássica a e taxa da entropia do fluido no volume de controle serão constantes e, portanto:
𝑑(𝑚𝑠)𝑣𝑐
= 0.
𝑑𝑡

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2016

Então a Eq. 72 resulta:

𝑄̇
∆(𝑠𝑚̇)𝑐𝑒 − ∑ = 𝑆𝐺̇ ≥ 0 (Eq. 75)
𝑇

Esta equação é aplicável para verificação da viabilidade de sistemas que possuam


correntes escoando.

4.7 Equações para o Cálculo de Entropia e Entalpia de Correntes Escoando

Vimos através do exemplo 28 que, para o cálculo da entropia de um sistema a uma T


constante sem mudança de fase, podemos utilizar o referencial à T = 0, onde s = 0 e assim,
obtemos as seguintes expressões:

Quando o sistema apresentar correntes escoando através do volume de controle, e


necessitarmos calcular a variação de entropia no sistema devido às correntes, faremos:

Da mesma forma, vimos no exemplo do calorímetro de fluxo, que à T = 0 também


estabelece-se o valor referencial: h = 0. Utilizando o referencial, podemos tornar possível o
cálculo da entalpia, através das seguintes equações:

Quando o sistema apresentar correntes escoando através do volume de controle, e


necessitarmos calcular a variação de entalpia (energia) do sistema devido ao escoamento das
correntes, faremos:

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Disciplina: Fundamentos da Termodinâmica
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2016

Exemplo 32) Em um processo com escoamento em estado estacionário, 1 mol·s-1 de ar a 600


K e 1 atm é continuamente misturado com 2 mol·s-1 de ar a 450 K e 1 atm. A corrente de
produto está a 400 K e 1 atm. uma representação esquemática d processo é mostrada na
figura abaixo. Determine a taxa de transferência de calor e a taxa de geração de entropia para
esse processo. Considere o ar um gás ideal com Cp = 7/2·R, a vizinhança a 300 K e as variações
nas energias cinética e potencial desprezíveis.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA NO PREPARO DA APOSTILA:

IENO, G.; NEGRO, L. Termodinâmica, 1ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.
SMITH, J. M.; VAN NESS, H.C.; ABBOTT, M.M. Introdução à Termodinâmica da Engenharia
Química, 7ª. ed. Rio de janeiro: LTC Editora S.A., 2007.

WYLEN, V.; JOHN, G. Fundamentos da Termodinâmica Clássica, Tradução da 4ª edição


americana, Zerbini, E. J.; Simões, R. S. E. São Paulo: Editora Blucher, 1995.

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