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EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A.

Bizzo

cap. 6 - SEGURANÇA NA OPERAÇÃO DE GERADORES DE VAPOR

1 - FALHAS EM GERADORES DE VAPOR

Caldeiras de vapor são potencialmente perigosas na medida em que


guardam uma grande quantidade de vapor sob pressão, cuja liberação
repentina causa explosão desastrosa. A energia contida num gerador de
vapor depende da pressão de operação e do volume de água da caldeira.
Caldeiras flamotubulares acondicionam maiores volumes que caldeiras
aquatubulares, porém, as caldeiras flamotubulares estão limitadas em
capacidade de produção de vapor. Grandes caldeiras são geralmente
aquatubulares, porém, o volume que uma caldeira de grande porte
acondiciona em seus tubulões é da mesma ordem de grandeza que o volume de
uma pequena flamotubular. Isto significa que o potencial de perigo está
fundamentalmente na pressão de operação da caldeira.
O perigo de explosão no lado do vapor existe por três principais
motivos:
- excesso de pressão,
- falta de água na caldeira, ou
- excesso de incrustação interna.

1.1 Excesso de pressão

O excesso de pressão de vapor é


uma falha de operação. Existem
dispositivos automáticos que limitam a
pressão de operação da caldeira,
diminuindo ou bloqueando o fornecimento
de energia térmica, através do controle
do queimador ou da fornalha. Excedida
a pressão de projeto da caldeira, o
vaso pode explodir por exceder a tensão
de ruptura e escoamento dos materiais
que o compõe. Para evitar isto, as
caldeiras são obrigatoriamente
equipadas com válvulas de segurança,
que liberam o excesso de pressão por
abertura automática da válvula. A
atuação da válvula de segurança é
mecânica, a força proveniente da
pressão interna da caldeira força a
abertura do plug do obturador quando
esta força supera a força da mola, a
qual pode ser regulável. A falta de
manutenção ou limpeza das mesmas podem
ocasionar falha de funcionamento,
devido a emperramento do conjunto. As
válvulas de segurança devem ser

Figura 1 - Válvula de
segurança para caldeiras.
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reguladas para abertura na pressão 5% maior que a PMTP (Pressão Máxima de


Trabalho Permitida) e devem permitir a descarga de vapor a uma taxa maior
que a produção de vapor máxima da caldeira. A PMTP é estabelecida no
projeto da caldeira, sendo igual a pressão de projeto, ou pode ser
diminuída após algum tempo de operação, se uma inspeção por técnico
habilitado determinar sua necessidade, geralmente ocasionada por
processos normais de desgaste, tais como corrosão, ou falhas eeventuais
dos dispositivos de segurança. A figura 1 apresenta um esquema de uma
válvula de segurança.

1.2 - Falta de água na caldeira

A falta de água na
caldeira causa
superaquecimento
localizado do metal. O
calor da chama é
transferido por convecção
à água da caldeira. As
superfícies que recebem
calor diretamente por
radiação, ou mesmo por
convecção na zona de alta
temperatura tem que estar
obrigatoriamente inundadas
por água líquida. Os
coeficientes de convecção
do líquido saturado são
muito maiores que o do
vapor, de maneira que a
troca de calor com o
líquido mantém a
temperatura do metal em
valores próximos da
temperatura do líquido
saturado. A falta de água
causa aumento da
temperatura do metal,
Figura 3 - Elevação da temperatura média diminuindo assim sua
do tubo devido a presença de incrustação resistência mecânica,
interna. podendo atingir o limite
de escoamento na região
não refrigerada, com
consequente deformação e
ruptura. A ruptura é
sempre desastrosa,
causando geralmente propagação da fratura mesmo nas regiões não atingidas
pela falta de água, ocasionando explosões. As caldeiras modernas
gerlamente tem sensores do nível de água para contrôle automático da
alimentação e um sensor de segurança, o qual corta alimentação de calor
no caso de falta de água. Além disso, as caldeiras possuem um visor de
nível, o qual deve ser supervisionado pelo operador. Normas de segurança
determinam que sempre deve haver a presença do operador, mesmo que as
caldeiras possuam dispositivos automáticos de contrôle e segurança.

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A figura 2 apresenta um
esquema de um indicador
de nível, acoplado a uma
garrafa onde estão
instalados os sensores de
nível de água.

1.3 Incrustação interna

Uma terceira causa de


falha das caldeiras pode
ser o excesso de
incrustação interna. A
evaporação continua da
água na caldeira acumula
dentro da mesma os
sólidos em suspensão ou
dissolvidos. Íons de
Figura 2 - Indicador e contrôle de nível cálcio e magnésio,
para caldeiras. principalmente, e sílica
formam crostas aderentes
internamente aos tubos de
troca de calor. Tais
incrustações aumentam a
resistência térmica, pois tem condutividade térmica muito menor do que a
do metal. A consequência é o aumento localizado de temperatura do metal,
já não refrigerado pelo líquido saturado. Diferenças de temperatura
ocasionam trincas e vazamentos, e no limite, a falha total do tubo. A
figura 3 dá exemplo quantitativo da elevação de temperatura do metal pela
presença de incrustação.
Outra causa importante de falhas em caldeiras é a corrosão interna,
causada por má qualidade da água de alimentação. O principal desgaste
corrosivo é devido a presença de oxigênio e dióxido de carbono
dissolvidos. Oxigênio causa corrosão por oxidação do metal. Dióxido de
carbono, forma com oxigênio dissolvido, ácido carbonico, diminuindo o pH
da água da caldeira

2. TRATAMENTO DE ÁGUA DA ALIMENTAÇÃO

. O tratamento da água da caldeira é fator importante na sua


conservação. Os métodos de tratamento variam conforme a qualidade da
água de alimentação e o porte da instalação de vapor. Caldeiras de
pequeno porte tem a água geralmente tratada por introdução de produtos
químicos diretamente na água interna da caldeira. Tais produtos visam a
precipitação dos sólidos dissolvidos e em suspensão para posterior
eliminação por descargas de fundo periódicas da caldeira. A tabela 1
apresenta requisitos gerais para a qualidade da água da caldeira conforme
a pressão de trabalho.

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Tabela 1 - Condicionamento de água no interior de caldeiras.

Geradores de vapor de grande porte tem geralmente uma estação


de tratamento de água de alimentação da caldeira. Os processos de
tratamento variam com os requisitos e qualidade da água disponível para
alimentação. A figura 4 mostra um fluxograma de um sistema de tratamento
de água para caldeiras de média pressão. Caldeiras de alta pressão
exigem água de alimentação de alta pureza, o qual é obtido com processo
de desmineralização por resinas iônicas e catiônicas. Estas resinas
absorvem os íons anions e cátions em solução na água, produzindo água de
pureza comparável a água destilada. A figura 5 apresenta um fluxograma
de um sistema de produçãoo de vapor que se utiliza de água
desmineralizada. Os detalhes dos processos de tratamento de água não
fazem parte do escôpo
deste curso, e podem
ser encontrados na
literatura
especializada.
Importante
acessório de um
sistema de alimentação
de caldeiras de média
e alta pressão é o
desaerador, o qual
elimina o oxigênio e
outros gases
dissolvidos. A
solubilidade dos gases
na água diminui com o
aumento da
temperatura. O
desaerador aquece a
água de alimentação
através da injeção
direta de vapor, até
Figura 4 - Fluxograma de tratamento de água
para produção de vapor em média pressão.
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temperatura ligeiramente maior que 100 ºC. O ar dissolvido e outros


gases são eliminados pela purga contínua de gases e um pouco de vapor. A

Figura 5 - Fluxograma geral de produção de vapor de


alta pressão com sistema de desmineralização.

figura 6 apresenta um esquema de desaerador.

Figura 6 - Desaerador térmico.

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