Você está na página 1de 53

Universidade do Estado do Pará – UEPA

Curso de Educação Física

Disciplina: Treinamento esportivo e escola

Fundamentos e princípios do treinamento


desportivo

Prof. Dr. Rodrigo Batalha Silva


Santarém, 04 de outubro de 2023
Princípios e fundamentos do treinamento esportivo
Nos dias de hoje, com toda a evolução tecnológica e científica, a ciência da Teoria e
Metodologia do Treinamento também evoluiu muito. Na atualidade, a Ciência do
Esporte tem um enorme embasamento científico e teórico sobre quais os melhores
meios de atingir o melhor rendimento.
Na área da iniciação esportiva e na formação de talentos não é diferente, são inúmeros
pesquisadores e/ou cientistas com grande diversidade de publicações sobre o
treinamento e o desenvolvimento de crianças e adolescentes. São diversos os campos
da ciência que envolvem o treinamento. Podemos citar a anatomia, fisiologia,
biomecânica, estatística, medicina esportiva, psicologia, aprendizagem motora, a
pedagogia e a nutrição, entre outros.
Princípios e fundamentos do treinamento esportivo
A teoria e metodologia do treinamento é uma área muito extensa e cabe ao professor
de Educação Física selecionar os melhores conteúdos que estarão diretamente
envolvidos com sua forma de trabalho.
Durante o treinamento, o atleta reage a vários estímulos, alguns dos quais podem ser
previstos com mais exatidão do que outros, com base na coleta de informações
fisiológicas, biomecânicas, psicológicas, sociais e metodológicas. Assim o treinador
precisa de um instrumento científico para garantir que o processo de treinamento seja
ancorado em avaliações objetivas que meçam a reação do atleta, a qualidade e a carga
dos exercícios, podendo-se assim planejar de modo apropriado os futuros programas
(BOMPA, 2002, p. 4).
Os fundamentos do treinamento esportivo
Para começar precisamos pensar no significado da palavra fundamento.
O que seria para você os fundamentos do treinamento esportivo?
No dicionário Priberam (2017) o significado da palavra fundamento é base principal,
prova, causa, motivo, fundação, alicerce. Desta forma, podemos pensar que
fundamento poderia estar ligado ao sentido de alicerce ou uma base sólida para
construir algo que se deseja que seja duradouro.
De outra forma então, podemos pensar que os fundamentos do treinamento seriam as
questões teórico/práticas que dariam um embasamento para a construção ou
planejamento de uma linha de trabalho, ou seja, um ponto de partida e uma rota de
destino clara e fixa para conduzir as aulas e o trabalho que se objetiva.
Em palavras mais teóricas, poderíamos dizer que é o conjunto de regras básicas de
organização e funcionamento ou o conjunto de princípios a partir dos quais se pode
fundar ou deduzir um sistema ou um conjunto de conhecimentos.
Os fundamentos do treinamento esportivo
Para pensarmos de maneira um pouco mais aprofundada sobre o assunto, vamos
começar considerando as questões relacionadas aos objetivos do treinamento.
Estes objetivos podem ser diversos e será preciso adaptar cada um deles a sua
realidade na prática profissional. Porém, de maneira geral, o quadro a seguir lista cada
um dos principais objetivos que estão ligados ao treinamento de acordo com Bompa
(2002).
Os fundamentos do treinamento esportivo
Vamos, a partir de agora, explorar um pouco mais detalhado cada um deles.
Desenvolvimento físico multilateral: Como o nome já propriamente refere, é
pensar no desenvolvimento do corpo como um todo, todas as habilidades necessárias
para uma boa execução esportiva. É uma base para o treinamento físico geral. A ideia
é aprimorar todas as qualidades físicas (por exemplo: resistência, força e velocidade)
de uma maneira harmoniosa para o melhor desenvolvimento corporal.
Os fundamentos do treinamento esportivo
Vamos, a partir de agora, explorar um pouco mais detalhado cada um deles.
Desenvolvimento físico específico: Neste caso, a ideia é desenvolver ou aprimorar
as qualidades físicas mais associadas ao desporto-alvo que será praticado. O
treinamento buscará desenvolver todas as qualidades físicas necessárias, mas o foco
será um melhor aprimoramento daquelas diretamente ligadas à execução de
movimento da modalidade praticada.
Os fundamentos do treinamento esportivo
Vamos, a partir de agora, explorar um pouco mais detalhado cada um deles.
Fatores técnicos: Buscam-se desenvolver as habilidades técnicas necessárias
do desporto, ou seja, o aprimoramento da melhor técnica, aquela com melhor
economia de movimento, o gesto motor mais eficiente e ideal para realização
de determinada tarefa.
• Fatores táticos: Bompa (2002) diz que os fatores táticos são a melhoria da
estratégia por meio do estudo da tática de futuros oponentes. Ampliar a
capacidade técnica e aperfeiçoar a estratégia desenvolve um modelo
estratégico. A tática é a estratégia em ação.
Os fundamentos do treinamento esportivo
Vamos, a partir de agora, explorar um pouco mais detalhado cada um deles.
Aspectos psicológicos: É preciso pensar que todo bom desportista, independente da
modalidade, vai precisar de um bom nível motivacional, força de vontade, confiança,
perseverança e disciplina para o desenvolvimento das habilidades necessárias.

Habilidade para o trabalho em equipe: Em alguns desportos, principalmente os


coletivos, este fator é de imprescindível importância para um bom aprendizado e
desenvolvimento das habilidades envolvidas. O aluno vai precisar ter um bom
desenvolvimento social e saber lidar com relações sociais. Nas aulas de educação física
o desenvolvimento do trabalho em equipe vai criar alunos conscientes, confiantes e
certos de seus direitos e deveres diante da sociedade.
Os fundamentos do treinamento esportivo
Vamos, a partir de agora, explorar um pouco mais detalhado cada um deles.
Fatores ligados à saúde: A recuperação adequada é tão importante quanto ao
estímulo que será dado. Essa é uma mensagem importante aos profissionais que
precisam planejar atividades físicas para os seus alunos. O aluno vai precisar sempre
estar saudável e recuperado para realizar de maneira correta as atividades esportivas,
o seu desenvolvimento e aprendizado também vai depender de uma saúde adequada,
por isso é importante que o professor crie estratégias de acompanhamento da
qualidade de vida dos seus alunos.
Prevenção de lesões: Aumentar o nível de flexibilidade, proporcionar aumentos da
força muscular, principalmente durante o treinamento com iniciantes são cuidados que
auxiliarão na prevenção de lesões (BOMPA, 2002). A realização de uma prática
esportiva tomando todos os cuidados de segurança também é um ponto a se observar.
Os fundamentos do treinamento esportivo
Vamos, a partir de agora, explorar um pouco mais detalhado cada um deles.
Conhecimento teórico: O aluno vai precisar de um bom nível de conhecimento dos
aspectos nutricionais, psicológicos, do funcionamento do organismo, da Fisiologia, do
planejamento do aumento sistemático da carga de treinamento e da necessidade de
uma boa recuperação. Estes aspectos o professor vai precisar saber transmitir da
melhor forma possível, sempre respeitando as características dos indivíduos que ele
está trabalhando, sua realidade e sua faixa etária.
O treinamento físico
O treinamento físico, ou um bom condicionamento físico, é um dos primeiros aspectos
que lembramos quando pensamos em atletas. O que vem a sua mente quando você
pensa no treinamento físico? Esforço, cansaço, fadiga, superação, gasto energético,
são vários os fatores que podemos elencar. Geralmente, as pessoas ligam o
treinamento a atletas, ou quando pensam em treinamento lembram-se do mais rápido,
do mais alto, do mais forte. Não era esse o lema grego?
O que podemos listar como componentes que fazem parte do treinamento físico?
O treinamento físico
Segundo Bompa (2002), o treinamento físico é em muitos dos casos o fator mais
importante para o rendimento esportivo. Dependendo da modalidade o treinamento
físico vai ser um fator que receberá mais ou menos ênfase, mas sempre muito
considerado. O objetivo deste é o desenvolvimento do potencial fisiológico e das
habilidades motoras. O treinamento físico é divido por muitos autores em
treinamento geral e treinamento específico.
O treinamento físico
Deve haver uma ordem lógica em um treinamento organizado e planejado, segundo
Bompa (2002), pode ser desenvolvido na seguinte sequência:
1. Treinamento físico geral.
2. Treinamento físico específico.
3. Aperfeiçoamento das capacidades biomotoras.
O treinamento físico
É sugerido que o desenvolvimento desta sequência ocorra durante o planejamento
anual, ou seja, aplicado com o objetivo de chegar ao final de uma temporada no
melhor rendimento. No caso do trabalho com crianças é sempre bom lembrar da
necessidade de respeitar as fases de desenvolvimento e crescimento (POWERS;
HOWLEY, 2005). Dessa forma, esta sequência também se aplica de maneira
longitudinal, ou seja, nos primeiros anos da infância a preocupação do professor vai
estar voltada ao desenvolvimento geral e global dos alunos, o desenvolvimento do
organismo como um todo a partir de atividades mais lúdicas.
O treinamento físico
Ao que, na adolescência, durante a fase da puberdade, pelo desejo de muitos pais e
pela própria vontade dos adolescentes, estes são encaminhados para alguma
modalidade específica. Nesse momento, o professor vai trabalhar com estes indivíduos
buscando o aperfeiçoamento físico específico da modalidade. Em outras palavras, o
aprimoramento fisiológico ideal para desempenhar tal desporto. A necessidade de
respeitar a sequência citada acima no decorrer de uma temporada permanece válida.
Com o final da puberdade, o jovem poderá começar o trabalho de desenvolvimento e
aperfeiçoamento das capacidades biomotoras específicas, buscar-se-á o
aprimoramento das qualidades físicas, como força, potência, resistência e velocidade
de maneira que o desporto seja praticado em um bom nível de rendimento.
O treinamento físico
Tenham em mente que a maioria dos livros que abordam a teoria do Treinamento
Desportivo dividem um planejamento anual ou uma temporada em períodos de
preparação. Os dois principais são o período preparatório, quando ocorrerá a
preparação física geral e específica e; o período competitivo em que ocorrerá o
aperfeiçoamento das capacidades biomotoras específicas. Ainda, você poderá
encontrar, na literatura, outras divisões de períodos, nomeadamente os períodos de
pré-temporada, de base, pré-competitivo, de transição, entre outros.
O treinamento físico
Segundo Powers e Howley (2005), existem muitas questões não esclarecidas
relacionadas às respostas fisiológicas de uma criança saudável a vários tipos de
exercício. Muito do que é realizado na prática do treinamento com crianças e
adolescentes ainda é de forma empírica e sem muito embasamento científico. Isto se
dá pela seguinte razão, por questões éticas óbvias muitas pesquisas e projetos não são
aplicados com crianças para salvaguardar o bem-estar físico do indivíduo. Dessa forma,
pouco se sabe sobre os efeitos da exposição ao calor ou ao frio extremo, ou outros
ambientes hostis, por exemplo.
Poucos cientistas fariam uma biópsia muscular em uma criança somente para saber os
efeitos de determinado treinamento. Assim, muito do que existe na teoria do
treinamento durante a infância e a adolescência está relacionado ao desenvolvimento
do sistema cardiopulmonar e do sistema musculoesquelético (MACARDLE et al., 2005).
Os processos de avaliação do treinamento desportivo

A ciência do treinamento esportivo é uma área muito ampla e complexa. Esta ciência
possui um grande número de variáveis intervenientes, ou seja, que vão influenciar em
maior ou menor grau e estão relacionadas entre si. Como foi listado anteriormente
sobre os fatores fundamentais do treinamento, essas variáveis serão de teor prático ou
teórico. Estas poderão estar relacionadas aos objetivos dos principais componentes do
treinamento esportivo, o aprimoramento físico, técnico, tático ou psicossocial.
Os processos de avaliação do treinamento desportivo

São diversas as ferramentas que poderão ser usadas para o acompanhamento e a


avaliação do rendimento esportivo de um aluno. Estas ferramentas poderão ser mais
complexas ou mais simples, poderão avaliar um ou mais componentes do treinamento,
poderão ser mais específicas ou gerais. Existe, ainda, outra divisão clara na literatura
que você acadêmico poderá encontrar em muitos livros que tratam do assunto,
avaliações laboratoriais ou testes de campo. Uma ferramenta de avaliação
poderá ser avaliada pela sua especificidade, reprodutibilidade e validade
(MATHEWS, 1980).
Os processos de avaliação do treinamento desportivo

Ao começar um novo trabalho, ou um novo ano de trabalho, uma das primeiras coisas
que você irá fazer é decidir seu plano de ensino, traçar suas metas e objetivos para
aquele período. Depois, você escolherá ou decidirá qual(ais) método(s) ou
metodologia(s) de avaliação do desenvolvimento dos seus alunos você usará, sejam
teóricos ou práticos, físicos ou de alguma habilidade ou capacidade específica.
Os processos de avaliação do treinamento desportivo

Independente da ferramenta que você utilizará para avaliar seus alunos ou do


componente que você quer avaliar, é preciso, primeiramente, ter certeza de que esse
instrumento foi cientificamente elaborado e que faz um trabalho acurado de medição
daquilo que foi designado a medir (MATHEWS, 1980).
Assim, vamos olhar um pouco mais detalhadamente quais seriam estes critérios:
Validade: uma ferramenta de avaliação pode ser considerada válida quando ela foi
cientificamente testada para avaliar o que ela se propõe a medir. Por exemplo, um
teste de habilidade para jogar basquete será válido se os praticantes que apresentarem
maiores escores no teste forem os melhores pontuadores durante um jogo ou um
torneio. Não adiantaria um teste com o objetivo de testar o mais habilidoso dos
jogadores, se este praticante não fosse realmente o que apresentasse um melhor
rendimento em uma situação real.
Os processos de avaliação do treinamento desportivo

Assim, vamos olhar um pouco mais detalhadamente quais seriam estes critérios:
Reprodutibilidade: o teste precisa ser reprodutível, ou seja, se for aplicado duas
vezes ou mais com o mesmo grupo de indivíduos na mesma situação terá que
apresentar resultados idênticos ou semelhantes (MATHEWS, 1980). No caso do
exemplo acima, o mesmo grupo de alunos apresentaria resultados muito parecidos no
teste de habilidade se fossem testados uma segunda vez sem a ocorrência de alguma
intervenção que pudesse melhorar o rendimento.
Especificidade: a avaliação do professor precisa ser específica à realidade da
modalidade que ele quer testar (MATHEWS, 1980). Utilizando-se do mesmo exemplo
citado, testar a habilidade dos alunos pedalar em uma bicicleta pouco responderia à
capacidade deles em jogar basquete.
Os processos de avaliação do treinamento desportivo

Concluindo esta parte, Mathews (1980) ainda ressalta que um dos critérios para
selecionar um teste é a sua aplicação educacional. Dessa forma, ao selecionar um
teste é preciso ver se ele se aplica ao programa escolar oferecido e, esse plano deve
ditar os tipos de testes que serão aplicados. Podemos ainda ressaltar a você, caro
acadêmico, que uma avaliação precisa ser bem planejada, clara, objetiva, estruturada,
direta e organizada.
A avaliação dos aspectos físicos

Um dos principais componentes que precisamos avaliar de nossos alunos durante


nossa atuação profissional é a avaliação dos aspectos físicos, ou seja, do
desenvolvimento das capacidades motoras e das qualidades físicas destes indivíduos.
São diversas qualidades físicas que um indivíduo precisa desenvolver. Podemos
classificá-las em três grandes grupos: força, resistência e velocidade. Dentro de
cada um desses grandes grupos haverá outras subdivisões. A força pode ser dividida
em estática, dinâmica e explosiva. A resistência em aeróbia, anaeróbia e
resistência muscular localizada. Enquanto que a velocidade poderá ser dividida em
de deslocamento, de membros e de reação (WEINECK, 2005).
A avaliação dos aspectos físicos

Veja a figura a seguir para gravar estas informações.


A avaliação dos aspectos físicos

Perceba que não podemos entender estas capacidades como isoladas e sem conexão
com as outras. É preciso ter o entendimento que elas estão conectadas e existem
inter-relações que ainda vão criar outras categorias. Observe que na figura as
conexões criam as categorias de resistência de força, resistência de velocidade e
a potência. Cada uma dessas qualidades poderá ser treinada ou desenvolvida em
menor ou maior grau, dependendo sempre do planejamento de ensino do professor e
dos objetivos traçados durante um determinado período de tempo.
A avaliação dos aspectos físicos

Assim, os instrumentos para avaliação, quando do objetivo de uma avaliação


física, devem estar direcionados para averiguar uma ou mais dessas qualidades
físicas. Os testes podem ser bem específicos para a avaliação de um destes
componentes físicos, por exemplo, um teste de sprint curto para avaliar a
velocidade de deslocamento, ou mais amplos e generalizados como um teste
que vise, por exemplo, avaliar ao mesmo tempo o desempenho técnico de
alguma tarefa e a exigência física do mesmo. Portanto, nesta parte deixamos
um exemplo de uma possibilidade de avaliação criada por nós para o futsal,
mas que pode ser adaptada para outras modalidades coletivas. Acreditamos
que poderá ser uma boa ferramenta para aulas de educação física por
exemplo.
A avaliação dos aspectos físicos

Desta forma, vamos focar principalmente nas ferramentas que poderão ser utilizadas
como avaliação do processo de treinamento. Como dito anteriormente, para a
avaliação física de uma (ou mais) determinada qualidade poderão ser utilizados testes
laboratoriais ou testes de campo. Como o nome propriamente já diz, o teste
laboratorial é aquele em que o indivíduo realiza uma avaliação neste tipo de ambiente.
Geralmente, este tipo de teste é mais válido e é chamado de padrão ouro para
avaliação de determinada qualidade física. Por outro lado, usualmente dependem de
materiais e equipamentos mais caros, não é tão específica a realidade das modalidades
realizadas de maneira individual.
A avaliação dos aspectos físicos

Nesse sentido, os testes de campo surgem buscando atender uma demanda de custo-
benefício para as avaliações físicas. Os testes de campo, historicamente, foram criados
como alternativas para a avaliação dos componentes físicos em um ambiente “fora do
laboratório”, na busca de acompanhar o desenvolvimento e rendimento esportivo no
ambiente em que é praticado, ou seja, o próprio local de prática. Dessa forma, este
tipo de teste geralmente ganha em especificidade e aplicação educacional, pois além
de serem de um custo-benefício melhor, permitem a avaliação de um grupo de
indivíduos simultaneamente e não dependem de equipamentos caros. Esta
possibilidade pode auxiliar o professor que visa acompanhar a evolução dos seus
alunos no próprio ambiente de ensino e prática (quadra esportiva por exemplo) de uma
maneira mais barata e acessível.
A avaliação dos aspectos físicos

Porém, apesar das avaliações realizadas em laboratório fornecerem dados valiosos


sobre a performance e as características fisiológicas de atletas, normalmente não
possuem validade ecológica, sendo incapazes de reproduzir os padrões de movimentos
específicos associados às modalidades intermitentes. Desse modo, para superar
algumas deficiências apontadas sobre os testes de laboratório, foram desenvolvidos
protocolos de campo mais específicos que possuem a finalidade de refletir de forma
mais apropriada o caráter intermitente dessas modalidades [...] os testes compostos
por multiestágios têm sido amplamente utilizados para estudar as respostas fisiológicas
do exercício intermitente que envolve mudanças de direção, como o futsal. Esses
protocolos objetivam reproduzir o padrão de movimento executados nos esportes
coletivos, permitindo a avaliação simultânea de um grande número de atletas por um
custo financeiro mínimo.
A avaliação dos aspectos físicos

Dessa forma, podemos observar que além de tudo que foi citado sobre os testes de
campo, eles podem avaliar também uma ou mais das qualidades físicas exigidas
durante a prática. Um dos mais famosos e utilizados em muitos lugares é o teste de
vai e vem de 20 metros. Inicialmente proposto por Léger e Lambert (1982), se
popularizou e ganhou espaço em muitos clubes, escolas e equipes, que utilizam o teste
para avaliação da resistência aeróbia.
O teste progressivo intermitente de campo de 20 metros (SHT20) de Léger et al. é um
teste incremental máximo, do tipo intermitente escalonado, composto de multiestágios
de 60 segundos de duração em sistema shuttle-run run, constituído de um número de
repetições variadas de corrida. O SHT20 fornece dados de potência (estimativa do
VO2max; PV) e capacidade (ponto de deflexão da FC (PDFC)) aeróbia (ARINS et al.,
2015, p. 759).
A avaliação dos aspectos físicos

Em relação às variáveis a que Arins et al. (2015) se referem, o PV (Pico de Velocidade)


é a máxima velocidade atingida durante o teste e é um indicador da máxima produção
aeróbia de energia. Enquanto o ponto de deflexão da frequência cardíaca (PDFC) é um
indicador de capacidade aeróbia, ou seja, um limite que pode indicar a capacidade do
indivíduo em realizar um esforço de longa duração.
A avaliação dos aspectos físicos

O teste de vai e vem é executado em um espaço delimitado por cones de 20 metros. É


necessária a utilização de um equipamento de som para emitir um sinal sonoro ‘beep’ que vai
dar o ritmo de corrida. A cada ‘beep’ o indivíduo deve atingir uma das marcas. A cada 60
segundos, a duração entre os sinais sonoros vai diminuindo e, em consequência aumentando a
velocidade. Se houver a possibilidade do uso de um monitor cardíaco é possível identificar
através do comportamento da frequência cardíaca o PDFC.
Vale ressaltar que o monitoramento da aptidão aeróbia é
de extrema importância e, nas fases da infância e
adolescência poderá auxiliar na prescrição das cargas de
treinamento para o desenvolvimento adequado do
praticante, bem como na detecção de talentos esportivos.
A avaliação dos aspectos físicos

Outro ponto que precisa ser destacado é a avaliação do desenvolvimento das


qualidades físicas relacionadas à força durante o processo de treinamento. Existem
algumas ferramentas que podem ser utilizadas para tal. O método que parece ser mais
confiável é a avaliação isocinética. A avaliação em aparelhos isocinéticos e/ou
dinamômetros, apesar de não possuir uma grande especificidade com a maioria dos
gestos motores das modalidades esportivas, trará valores bem apurados da força de
membros do avaliado. A maior dificuldade neste tipo de teste é o custo e o acesso a
este tipo de equipamento. Basicamente, os aparelhos trazem como resultado a
capacidade de aplicar em determinado movimento, por exemplo, a extensão de joelho
que poderia estar relacionada ao movimento do chute e/ou a flexão de cotovelo que
poderia estar relacionado a algum gesto do vôlei ou tênis.
A avaliação dos aspectos físicos
A avaliação dos aspectos físicos

O termo isocinético significa se mover numa velocidade constante. Dinamômetro


isocinético de resistência variada é um instrumento eletromecânico que mantém uma
velocidade movimento constante enquanto varia a resistência durante determinado
movimento. A resistência oferecida pelo instrumento é uma resistência de
acomodação, destinada a combinar com a força gerada pelo músculo. Um transdutor
de força no interior do instrumento monitora constantemente a força muscular gerada
e transmite a informação a um computador, que calcula a força média gerada em cada
período de tempo e o ângulo articular durante o movimento (POWERS; HOWLEY, 2005,
p. 419).
https://youtu.be/omW0KXOvoy0?si=oNUrJwtjSE54IyeU
A avaliação dos aspectos físicos

Existem outros tipos de testes para avaliar parâmetros de força com um custo mais
baixo. Entre eles, podemos destacar os que utilizam dinamômetros mais simples para
realizar o teste de força de membros inferiores e lombar ou força de preensão manual.
A avaliação dos aspectos físicos

Apesar deste tipo de testes não apresentar grande nível de especificidade, eles
apresentam boas relações com determinados esportes, ou pelo menos com testes mais
específicos de determinados esportes. O teste de preensão manual, por exemplo,
apresenta-se como uma boa ferramenta para avaliar tenistas ou praticantes de
esportes de raquete, visto da necessidade da força para realizar a empunhadura da
raquete (REID; SCHNEIKER, 2008). Neste sentido, Lemos (2015) ressalta a
importância de acompanhar variáveis relacionadas à força em adolescentes tenistas
para identificar possíveis desequilíbrios de força e, consequentemente, evitar o risco de
desenvolvimento de instabilidade e lesão na articulação do ombro. Esta citação
poderemos aplicar a outros tipos de esportes nos quais o movimento de membros
superiores é predominante, como o basquete, handebol e vôlei.
A avaliação dos aspectos físicos

Além disso, o desenvolvimento da força parece estar relacionado ao crescimento e à


maturação, bem como é influenciado pelo tipo de treinamento e a modalidade
praticada. Neste sentido, modalidades coletivas, por exemplo, podem desenvolver a
força de jovens e adolescentes de maneira diferente que modalidades individuais. Por
isso a importância de se analisar a ferramenta que poderá ser utilizada de maneira
mais adequada para atender aos objetivos do professor e do planejamento.
Durante esse período da puberdade, o aumento do torque muscular tem sido atribuído
a diferentes alterações nas características morfológicas, biomecânicas, neurais e
hormonais do sistema neuromuscular e neuroendócrino. Além disso, a participação em
programas de treinamento esportivo organizados também pode influenciar
positivamente o desenvolvimento do torque muscular. Os estudos realizados com
adolescentes jogadores de futebol têm apresentado resultados consistentes mostrando
que o torque muscular concêntrico e excêntrico dos extensores e flexores do joelho em
diferentes velocidades angulares aumenta progressivamente entre os 9-21 anos de
idade (TEIXEIRA, 2015, p. 24).
A avaliação dos aspectos físicos

Outro tipo de teste que é comumente utilizado para avaliar os aspectos de força e
potência muscular, principalmente de membros inferiores, são os testes de saltos
verticais. Acreditamos, caro acadêmico, que os mais utilizados são os saltos com
contramovimento (CMJ) e os saltos contínuos (CJ). A questão que mais implica
este tipo de avaliação é a necessidade de uma plataforma de força ou de um
equipamento similar. Porém, primeiramente queremos explicar rapidamente como este
tipo de teste funciona e depois vamos apresentar algumas evidências que mostram a
aplicação prática deles.
A avaliação dos aspectos físicos
A avaliação dos aspectos físicos

CMJ investiga os níveis de força explosiva exercida, a capacidade de recrutamento


neural e a reutilização da energia elástica (BOSCO, 1999). Neste salto ocorre
participação do ciclo alongamento-encurtamento, potencializando a ação muscular por
meio da energia elástica acumulada e aos reflexos de estiramento. O uso do salto CJ
possibilita os profissionais da área a diagnosticar os processos neuromusculares e
metabólicos em esforços de alta intensidade e curta duração. O teste CJ é importante
para avaliação de praticantes que participam de esportes onde a potência muscular é
um fator determinante para rendimento, como por exemplo o futebol ou o futsal,
considerando que, os mecanismos de força produzidos no CJ são muito sensíveis as
características dos sujeitos e as mudanças no treinamento (BOSCO, 1999).
A avaliação dos aspectos físicos

No protocolo do CMJ, o indivíduo realizará os saltos verticais a partir de uma posição


em pé, com as mãos na cintura, precedido por um contramovimento, o qual consiste
em uma aceleração para baixo do centro de gravidade, flexionando os joelhos até
próximo aos 90º. Durante o salto, o tronco deverá manter-se o mais vertical possível.
São realizadas três tentativas para o CMJ, sendo considerada para análise a média das
alturas obtidas. O teste do CJ consiste na execução de saltos com contramovimento,
de modo contínuo, por um período de 15 segundos. Como nos demais saltos, o sujeito
mantém o tronco o mais vertical possível e as mãos no quadril, com o ângulo do joelho
sempre próximo aos 90º ao final da fase de descida. No protocolo CJ realiza-se apenas
uma tentativa, tendo em vista ser um teste mais exaustivo. Assim, utiliza-se para
análise a altura média relativa de todos os saltos realizados em um período
determinado de tempo.
Princípios científicos do treinamento do exercício físico
Os princípios científicos são pré-requisitos na seleção e elaboração dos conteúdos que
serão programados na organização do treinamento. Para Gomes e Araújo Filho (1995),
os princípios científicos do treinamento desportivo são regras gerais extraídas de várias
ciências, em especial das ciências biológicas e pedagógicas.
Na teoria e prática do treino desportivo, tal como em outras áreas de atuação, que
lidam com os problemas relacionados com o ensino e, educação, dá-se grande
importância aos princípios teórico-metodológicos de início, quais devem refletir as leis,
a organização e o planejamento da respectiva esfera de atividade prática que, por sua
vez, serve de guia para ações seguintes.
Princípios científicos do treinamento do exercício físico
A teoria do treinamento desportivo defende que o conhecimento das leis, bem como a
sua observação podem, na prática, orientar o caminho para o sucesso. As regras
representam vínculos essenciais, objetivos, dependências e relações na esfera da
atividade desportiva.
❑ Princípio da individualidade biológica ou das diferenças individuais
Cada um nasce com uma carga genética (genótipo) que determinará fatores, tais como
composição corporal, somatótipo, aptidão, altura, entre outras coisas, que, somados à
experiência de vida após o nascimento (fenótipo), determinarão a real potencialidade
de cada um. Portanto, nos programas de treinamento, devemos respeitar este
princípio.
Princípios científicos do treinamento do exercício físico
❑ Princípio da sobrecarga
Princípio que estipula que as mudanças funcionais no corpo somente ocorrem quando
o estímulo é suficiente para causar uma ativação considerável de energia.
❑ Princípio da adaptação
Esse é mais que um princípio de treino, já que vale para a vida. O ser humano é capaz
de se adaptar a diversas situações. Nos treinamentos, isso vale, por exemplo, quando
um sedentário começa a praticar esportes e, nos primeiros dias, sente dores. Porém,
depois de acostumado àqueles estímulos, deixa de sofrer com esses incômodos.
Princípios científicos do treinamento do exercício físico
❑ Princípio da conscientização
Este princípio parte do pressuposto de que a atividade, quando realizada
conscientemente, ou seja, sabendo o porquê e para quê de sua realização, obtém-se
mais benefícios na medida em que o executante procura “canalizar” esforços para seu
real objetivo.
❑Princípio da multilateralidade
Este princípio tem como objetivo principal o desenvolvimento múltiplo de lateralidade,
que deve ser aplicado ao atleta, principalmente, nas fases sensíveis de preparação.
Princípios científicos do treinamento do exercício físico
❑ Princípio da continuidade
Como se sabe, o princípio da continuidade já é reconhecido como um dos mais
importantes na área do treinamento. O problema da continuidade do processo de
treino, destinado a assegurar a mudança progressiva da capacidade de trabalho dos
que praticam desporto, surge por causa do caráter transitório das mudanças
morfofuncionais ocorridas com a sessão de treinamento.
Na prática do exercício físico, de nada adiantaria tentar melhorar o nível físico em
qualquer atividade, mesmo respeitando as diferenças individuais, estando consciente
do que está se treinando e aumentando gradualmente a carga, se, por algum motivo,
o treinamento for interrompido.
Princípios científicos do treinamento do exercício físico
❑ Princípio da sobrecarga
Princípio que estipula que as mudanças funcionais no corpo somente ocorrem quando o
estímulo é suficiente para causar uma ativação considerável de energia.
❑ Princípio da durabilidade
Este princípio exige uma estrutura de treinamento que assegure a estabilidade das
capacidades adquiridas, da condição e da coordenação durante um longo tempo, sem
perder as suas qualidades. Portanto, está intimamente ligado aos outros princípios.
Somente por meio de repetições frequentes e prática sistemática de uma série de
movimentos rítmicos é que se pode atingir situações de adaptações estáveis no
sistema de preparação do atleta. O nível de aperfeiçoamento adquirido no processo de
treino, depois de um curto espaço de tempo e de intervalo, diminui em grande
velocidade.
Princípios científicos do treinamento do exercício físico
❑ Princípio da elevação progressiva das cargas
A reação do organismo ao estímulo é muito rápida. À medida que o praticante melhora seu
nível de performance, essa reação ao estímulo (carga) torna-se mais lenta. A aplicação de um
novo estímulo deve respeitar, portanto, os parâmetros fisiológicos.
❑ Princípio da especialização ou especificidade
Dentro do processo de preparação de muitos anos, discute-se a necessidade de criação dos
pressupostos morais, volitivos, psicológicos, fisiológicos e outros que venham dar estrutura ao
indivíduo, para suportar as cargas de treinamento e de competições em um nível bem elevado
de forma especifica.
O princípio da especificidade mostra que as adaptações em vários aspectos no esporte
ocorrem de forma específica, ou seja, melhoramos a força rápida quando a treinamos,
melhoramos a velocidade de reação quando a treinamos. Do contrário, a melhora deste nível é
baixa.
Princípios científicos do treinamento do exercício físico
❑ Princípio do destreinamento ou reversibilidade
Princípio segundo o qual as adaptações do treinamento declinarão gradualmente se os
sistemas ou órgãos adaptados não forem suficientemente estimulados com frequência.
Referência

SALVADOR, P. C. N.; SALVADOR, A. F.; TEIXEIRA, A. S. Treinamento


desportivo em educação física. 1ª ed. Indaial: Uniasselvi, 215 p.,
2017.
TEIXEIRA, M. Fundamentos do treinamento desportivo. 1ª ed.
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 228 p., 2017.

Você também pode gostar