Você está na página 1de 38

Universidade do Estado do Pará – UEPA

Curso de Educação Física

Disciplina: Treinamento esportivo e escola

Treinamento esportivo na infância e


adolescência

Prof. Dr. Rodrigo Batalha Silva


Santarém, 18 de outubro de 2023
Treinamento esportivo na infância e adolescência
Muitas vezes, quando ouvimos falar em treinamento esportivo, logo pensamos em um
processo complexo e totalmente planejado, estruturado e sistemático para a melhoria
única e exclusiva da capacidade física de atletas de alto rendimento. Quando pensamos
em treinamento esportivo para crianças e adolescentes, naturalmente associamos isso
àqueles modelos de treinamento específicos aplicados em programas esportivos para o
desenvolvimento de jovens atletas de elite com capacidade para atuar
profissionalmente na vida adulta. No entanto, sabemos que o número de crianças e
adolescentes envolvidos em programas esportivos de alto rendimento é relativamente
baixo devido a sua característica seletiva.
Treinamento esportivo na infância e adolescência
Em comparação, podemos encontrar um número muito maior de crianças e
adolescentes que optam em praticar esportes em uma perspectiva apenas recreacional,
assim como podemos ter aqueles jovens que são extremamente sedentários e não
conseguem cumprir as recomendações diárias de prática de atividade física. Nesse
sentido, seria intuitivamente ingênuo negligenciar os potenciais benefícios dos modelos
de desenvolvimento físico em longo prazo como uma estratégia para melhorar diversos
fatores relacionados à saúde, aptidão física e capacidade esportiva de todas as crianças
e adolescentes, independentemente do nível de capacidade física (sedentário,
fisicamente ativo ou bem treinado).
Treinamento esportivo na infância e adolescência
O interesse pela saúde, aptidão física e bem-estar das crianças e dos adolescentes na
sociedade atual está em evidência em todo momento devido às constantes
preocupações com o aumento na prevalência de inatividade física, obesidade infantil e
sua associação com o desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas não
transmissíveis (DIETZ, 1998; OGDEN et al., 2014). Além dessas questões de saúde
pública, outras preocupações têm sido apontadas em consequência do baixo nível de
atividade física habitual das crianças e dos adolescentes, tais como maior
susceptibilidade à ocorrência de lesões relacionadas à atividade física ou ao esporte,
constante percepção de cansaço físico e desistências da prática esportiva na infância e
adolescência (DIFIORI et al., 2014; MATOS; WINSLEY; WILLIAMS, 2011).
Treinamento esportivo na infância e adolescência
Por essas razões, os modelos de treinamento físico para crianças e adolescentes têm
como grande desafio propor uma abordagem estruturada para evitar a inatividade
física e promover o amplo desenvolvimento de todas as capacidades físicas desde a
infância até a vida adulta. Contudo, professores/treinadores devem saber que melhorar
a aptidão física de crianças e adolescentes é uma questão complexa e dinâmica, devido
às diferentes interações de crescimento, maturação e treinamento (LLOYD et al.,
2014). Além disso, para garantir um desenvolvimento holístico durante a infância e
adolescência, os profissionais devem estar cientes dos fatores psicossociais,
educacionais e de estilo de vida que podem afetar o engajamento, a aderência e
adesão aos programas esportivos ou de atividade física, e a satisfação em geral na
prática do esporte nos diferentes contextos (alto rendimento, participação/lazer ou
educacional).
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas

Você já deve ter ouvido falar de períodos sensíveis para o treinamento


com crianças e adolescentes. Você já ouviu comentários sobre o termo
“janela de oportunidade”? Será que as adaptações induzidas pelo
treinamento esportivo estão relacionadas com os diferentes períodos
etários e com os estágios de desenvolvimento maturacional?
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas
Conceitualmente, esses períodos sensíveis para o treinamento das capacidades físicas,
também conhecidos como “janelas de oportunidade”, são caracterizados como períodos
de desenvolvimento ou adaptação acelerada dos componentes de aptidão física a partir
de um estímulo de treinamento adequado durante as diferentes fases de
desenvolvimento maturacional da criança e do adolescente (FORD et al., 2011a;
LLOYD; OLIVER, 2012). Em teoria, o período do estirão do crescimento adolescente,
no qual meninas e meninos passarão por diversas mudanças morfológicas,
metabólicas, moleculares, anatômicas e endócrinas, parece ser o momento ótimo para
a aplicação do treinamento, pois é quando vamos visualizar as maiores e principais
mudanças na maior parte das capacidades físicas e motoras (PHILIPPAERTS et al.,
2006).
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas
As informações disponíveis na área de fisiologia do exercício e treinamento físico para
populações pediátricas baseado em estudos de design longitudinal têm sugerido alguns
períodos sensíveis para o desenvolvimento dos principais componentes de aptidão
física (VIRU et al., 1999). Veremos agora de maneira resumida quais são esses
possíveis períodos considerados como sensíveis (“janelas de oportunidade”) para cada
qualidade física.
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas

➢Força: sugere-se que a “janela de oportunidade” para o desenvolvimento da força


em jovens ocorra, em média, 12-18 meses após o pico de velocidade em altura,
período que coincide com o pico de velocidade em peso corporal. A fundamentação por
trás dessa informação é que adolescentes passarão por períodos de ganhos rápidos de
massa muscular como resultado das concentrações aumentadas de hormônios
anabólicos circulantes.
➢Flexibilidade: recomenda-se que o momento ótimo para o desenvolvimento da
flexibilidade ocorre entre os 6 e 10 anos de idade (meio e final da infância) para ambos
os sexos. Embora pareça receber menor atenção em programas de treinamento
durante a infância e adolescência, a manutenção e desenvolvimento da flexibilidade
devem ser parte essencial de qualquer programa de treinamento com jovens,
especialmente para garantir que crianças e adolescentes sejam capazes de atingir
amplitudes de movimento adequadas em qualquer prática esportiva.
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas

➢Aptidão aeróbia (resistência): o período ótimo para o desenvolvimento da


aptidão aeróbia ocorre no momento que meninos e meninas atingem o pico de
velocidade em altura. Recomenda-se que a potência aeróbia seja progressivamente
introduzida após o pico de velocidade em altura, quando a taxa de velocidade do
crescimento começa a desacelerar.
➢Hipertrofia: sugere-se que a partir da idade de 14 anos para meninos e 12 anos
para as meninas, o treinamento para o desenvolvimento da hipertrofia muscular pode
ser enfatizado. Conforme mencionado anteriormente, essas fases de desenvolvimento
normalmente ocorrem após o pico de velocidade em altura, em um momento que os
níveis de testosterona e hormônio do crescimento circulante rapidamente aumentam
de acordo com o estirão do crescimento adolescente. Esses aumentos nas
concentrações séricas de testosterona, estradiol, progesterona tem sido diretamente
associada às vias de sinalização celular para a síntese proteica.
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas

➢Potência: Períodos de desenvolvimento rápido na potência muscular têm sido


estabelecidos em crianças pré-púberes entre as idades de 5 e 10 anos. Estes períodos
de desenvolvimento acelerado são em grande parte atribuíveis à coordenação
neuromuscular melhorada. Um segundo período de desenvolvimento acelerado tem
sido mostrado no início da puberdade em meninas entre 9 e 12 anos e em meninos
entre 12 e 14 anos, com desenvolvimento mais significativo da potência muscular de
membros inferiores nas idades de 14 e 15 anos. Esse segundo período de ganho
acelerado está relacionado a uma combinação de fatores hormonais, musculares e
mecânicos causados pelo início da puberdade (como visto com os outros componentes
da aptidão).
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas

➢Velocidade: Meninos e meninas mostram um similar desenvolvimento da


velocidade durante a primeira década de vida, com o primeiro período de adaptação
acelerada sugerido a ocorrer entre os 5 e 9 anos de idade em ambos os sexos. A partir
dos 12 anos de idade, a taxa de progressão de desenvolvimento da velocidade é
dramaticamente reduzida em meninas comparada aos meninos. Essa diferença entre
os sexos é atribuída às mudanças maturacionais em dimensão e composição corporal.
Por fim, um segundo período de adaptação acelerada ocorre entre os 12 e 15 anos de
idade nos meninos, enquanto para as meninas esse segundo período acontece por
volta dos 12 anos de idade.
➢Agilidade: Não existe um consenso em relação ao período de desenvolvimento
acelerado para a agilidade. Talvez, isso possa ser explicado pelas poucas evidências na
área de prescrição de treinamento para populações pediátricas tratando sobre os
períodos específicos para a melhoria da agilidade. Recentemente, tem sido sugerido
que a agilidade deve ser progressivamente desenvolvida a partir do meio da infância
até o início da vida adulta.
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas
Apesar do período da puberdade durante a adolescência ser a principal fase de
mudanças físicas e motoras relacionadas ao processo de maturação biológica
(BEUNEN; MALINA, 1988), devemos ter cautela na interpretação e aplicação desse
conceito de períodos sensíveis em relação à estruturação e prescrição de treinamento
físico para crianças e adolescentes. As evidências mais recentes recomendam que
tenhamos cuidado na interpretação do termo “janelas de oportunidade”, pois podemos
associar isso ao fato de que teremos somente esse período para o amplo
desenvolvimento dos componentes de aptidão física (FORD et al., 2011a; LLOYD;
OLIVER, 2012). Em outras palavras, isso significa que se não desenvolvermos
determinado componente de aptidão física entre o exato momento em que a janela
para essa aptidão física se abre até o momento final em que ela se fecha, perderemos
um período considerado chave e, como consequência o desenvolvimento de todo o
potencial atlético de nossa criança ou adolescente poderia ficar comprometido.
Períodos sensíveis para o desenvolvimento das capacidades físicas
Na verdade, as evidências recentes vêm tentando descontruir essa teoria e
pensamento que alguns treinadores/professores ainda aplicam na prática, e mostrando
que todos os componentes de aptidão física e sistemas biológicos são treináveis
durante todo o processo de crescimento e maturação biológica, isto é, desde a infância
até a vida adulta (FORD et al., 2011a; LLOYD; MEYERS; OLIVER, 2011; LLOYD et al.,
2013; OLIVER; LLOYD; RUMPF, 2013). Adicionalmente, essas recomendações recentes
mostram que não há razões para acreditarmos que exista um limiar maturacional para
as adaptações fisiológicas e de desempenho físico como previamente estabelecido, na
qual previa que somente após o período da infância ou da pré-puberdade que meninos
e meninas se favoreceriam de adaptações positivas induzidas pelo treinamento físico.
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Durante todo o processo de crescimento e desenvolvimento humano, a maior parte das
crianças e dos adolescentes é constantemente estimulada a se envolver em múltiplos
programas esportivos com o propósito de maximizar o desenvolvimento das suas
capacidades físicas e habilidades motoras (CAPRANICA; MILLARD-STAFFORD, 2011;
MAIA et al., 2010). Na prática, você, enquanto futuro professor/treinador, poderá
encontrar/aplicar abordagens distintas de modelos de treinamentos para jovens.
Geralmente, os programas de treinamento físico são planejados e estruturados
baseados em resultados em curto e longo prazo (BOMPA; CARRERA, 2015).
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Apesar do desenvolvimento das capacidades físicas de crianças e adolescentes ao
longo do processo de crescimento e maturação biológica com o intuito de maximizar o
sucesso atlético na vida adulta não ser um conceito relativamente novo, pesquisadores
e professores/treinadores ligados ao esporte têm mostrado cada vez mais interesse em
conhecer detalhadamente as características dos programas atuais de desenvolvimento
físico em longo prazo para os jovens (LLOYD; OLIVER, 2012). Esses mesmos
pesquisadores têm recomendado fortemente que crianças/adolescentes não sejam
tratadas como “adultos em miniatura”. Enquanto futuros professores/treinadores
devemos saber que crianças e adolescentes têm características fisiológicas, físicas e
psicológicas totalmente distintas daquelas apresentadas por adultos e, portanto, tais
diferenças precisam ser levadas em consideração durante a estruturação do programa
de treinamento.
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Historicamente, os modelos de treinamento físico de crianças e adolescentes têm sido
fundamentalmente baseados apenas na idade cronológica (CÔTÉ, 1999). A figura a seguir
ilustra de forma simples o processo sequencial para o desenvolvimento do componente físico
em longo prazo ao longo da infância e adolescência (BOMPA; CARRERA, 2015).
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Você notará que a base da pirâmide, que nós
podemos considerar o início de qualquer programa de
treinamento físico, consiste no desenvolvimento
múltiplo de habilidades multilaterais. Quando esse
desenvolvimento alcança um nível considerado
aceitável, os jovens atletas estão aptos a se
especializar em uma determinada modalidade
esportiva desejada. Após essa etapa, esse jovem
atleta é conduzido ao nível de alto rendimento ou à
prática de atividades esportivas relacionadas ao lazer.
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Essa proposta temporal do desenvolvimento atlético
em longo prazo, mostrado por Bompa e Carrera
(2015), estabelece que apesar das variações
interindividuais e da especificidade dos diferentes
tipos de esportes, o desenvolvimento dos
componentes físicos e habilidades motoras das
crianças e adolescentes deverão ser estruturados e
aplicados de forma progressiva. No entanto, essa
proposta, apresentada na figura, apresenta um
panorama mais simplista, especialmente por
estabelecer a progressão do treinamento físico para
crianças e adolescentes baseado apenas na idade
cronológica.
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Esses modelos estruturados dentro de uma
perspectiva apenas cronológica têm sido considerados
falhos e amplamente criticados na literatura (FORD et
al., 2011a). A partir desse contexto, novas
abordagens são necessárias e, de fato, alguns
modelos interessantes vêm propondo novos
direcionamentos de forma mais compreensiva para o
desenvolvimento das capacidades físicas em longo
prazo ao longo de toda infância e adolescência
(LLOYD; OLIVER, 2012).
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Recentemente, uma nova abordagem para o desenvolvimento físico em longo prazo
para jovens, conhecido em inglês como “Long-Term Athletic Development – LTAD”, tem
ganhado destaque na área de condicionamento e prescrição do treinamento físico para
crianças e adolescentes (FORD et al., 2011a; LLOYD; OLIVER, 2012). Esse modelo
LTAD tem proposto que o nível maturacional da criança e/ou adolescente seja levado
em consideração durante a organização e prescrição do treinamento, diferente
daquelas propostas que têm usado apenas a idade cronológica como referencial. Esse
modelo baseado na inter-relação entre crescimento, maturação e treinamento, que
respeita as fases do crescimento e o nível de desenvolvimento maturacional da
criança/adolescente, possibilita uma abordagem mais adequada e individualizada,
maximizando o desenvolvimento de todo potencial atlético desse jovem e minimizando
o risco de lesões ao longo do tempo, seja dentro do ambiente escolar ou contexto
esportivo (LLOYD; OLIVER, 2012).
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Na prática profissional, alguns professores/treinadores ainda se baseiam naquele
conceito que as adaptações induzidas pelo treinamento em jovens ficam restritas
somente ao período da adolescência, isto é, crianças pré-púberes não serão
responsivas aos sucessivos estímulos do treinamento durante a fase da infância/ pré-
adolescência. Esse novo modelo LTAD proposto por Lloyd e Oliver (2012) estabelece
novas perspectivas de treinamento para crianças e adolescentes para além daquela
abordagem que tem sido fundamentada na ideia que o treinamento dos diferentes
componentes de aptidão física deva ser enfatizado apenas naqueles períodos de
adaptação acelerada, conhecidos como “janelas de oportunidade”, na qual as
adaptações induzidas pelo treinamento parecem ser maximizadas (VIRU et al., 1999).
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Portanto, dentro de uma perspectiva mais prática, esse novo modelo LTAD procura
mostrar que não há apenas um único momento ideal para a aplicação de diferentes
regimes de treinamento visando ao aprimoramento das principais capacidades físicas
consideradas essenciais para a saúde das crianças e dos adolescentes, e para que
esses jovens consigam ter bons rendimentos durante a prática de programas
esportivos. Com isso, pensar que o treinamento das principais capacidades físicas deve
ficar exclusivamente restrito àquele período de rápido desenvolvimento natural que
cada uma das diferentes capacidades físicas e motoras apresenta pode ser uma
abordagem ultrapassada.
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Veremos a seguir, a partir de recomendações mais atualizadas, que as capacidades físicas
relacionadas ao desenvolvimento motor em sua maior parte, apesar da diferença na
magnitude das adaptações entre o período da infância e da adolescência, são treináveis e
devem estrategicamente ser estimuladas também ao longo de toda a infância (MORAN et al.,
2016), não se restringindo aos períodos sensíveis (“janelas de oportunidade”) específicos de
cada capacidade física comumente observada durante o período de estirão em crescimento da
adolescência.
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
A partir de uma perspectiva integrativa, esse novo modelo de LTAD tem estabelecido
uma proposta para o desenvolvimento físico de jovens desde o início da infância (2
anos de idade) até a vida adulta (21 + anos de idade). Os modelos de
desenvolvimento físico para meninos e meninas, nas figuras acima, podem ser
visualizados logo a seguir. Esse modelo mais completo e baseado em evidências atuais
fornecerá aos treinadores, professores e também aos pais uma base de informações
consistentes para maximizar o desenvolvimento físico global em longo prazo de
qualquer criança e adolescente envolvidas no esporte de rendimento, no esporte
participação/lazer ou no esporte educacional.
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
Veremos que dentro desse modelo teórico, a ênfase do treinamento ao longo da
infância e adolescência é destacada a partir do aumento no tamanho da fonte (ou seja,
quanto maior for o tamanho da fonte, mais importante é o treinamento para aquela
aptidão física em questão). Por exemplo, se trabalharmos com meninas entre 10 e 11
anos, o modelo mostra que devemos primeiramente focar o treinamento dessas
meninas para o desenvolvimento da agilidade, velocidade, força e potência muscular
juntamente com as habilidades específicas dos esportes (possivelmente mais de 1 ou
2), que elas praticam durante as aulas de Educação Física ou sessões de treino em
clubes esportivos. Por outro lado, treinamentos voltados para o ganho de massa
muscular (hipertrofia), potência e capacidade aeróbia (endurance) e condicionamento
metabólico devem ter um foco reduzido nesta faixa etária com meninas entre 10 e 11
anos de idade.
Modelos de desenvolvimento
• O tamanho da fonte refere-
se à importância no
desenvolvimento dessa
qualidade física;
•caixa azul clara refere-se ao
período da infância, caixa
azul escura refere-se ao
período da adolescência.
• HMS: habilidades motoras
fundamentais;
•HEE: habilidades específicas
ao esporte que pratica;
•PVA: pico de velocidade em
estatura.
Modelos de desenvolvimento
• O tamanho da fonte refere-
se à importância no
desenvolvimento dessa
qualidade física;
•caixa rosa clara refere-se ao
período da infância, caixa
rosa escura refere-se ao
período da adolescência
•HMS: habilidades motoras
fundamentais;
•HEE: habilidades específicas
ao esporte que pratica;
•PVA: pico de velocidade em
estatura.
Modelos de desenvolvimento físico em longo prazo para jovens
É importante lembrar que esse modelo teórico foi apresentado para nortear a
prescrição de treinamento em crianças e adolescentes levando em consideração os
diferentes eventos maturacionais que acontecem durante todo o processo de
crescimento humano. É importante deixar claro para você que os modelos
apresentados nas figuras acima consideram uma situação em que estamos trabalhando
com meninos e meninas que tem um ritmo maturacional normal (normomaturos), isto
é, que não são nem atrasados (tardio) nem adiantados (precoce) no nível de
maturidade biológica. No entanto, em um contexto prático de treinamento em
ambientes esportivos e escolares, você, enquanto futuro professor/treinador
encontrará jovens alunos/atletas de diferentes faixas maturacionais, idades, sexos e
experiência em treinamento. Portanto, nos próximos itens veremos como as diferenças
relacionadas à idade e à maturação biológica podem ser manipuladas para que a
prescrição se torne cada vez mais individualizada e apropriada para as características
dos seus jovens alunos/atletas.
Diferenças relacionadas ao sexo
Embora seja amplamente reconhecido que meninos se envolvem de maneira mais
regular em esportes jovens do que as meninas durante a juventude, houve um
aumento do número total de crianças e adolescentes que participam ativamente em
esportes juvenis organizados na última década. Ao trabalhar com jovens, qualquer
professor/treinador deve estar ciente das diferenças fisiológicas e maturacionais que
existem entre meninos e meninas. Dessa forma, os programas de treinamento devem
ser individualizados e específicos para meninos e meninas.
Diferenças relacionadas ao sexo
Durante os anos pré-púberes (meio e final da infância), meninos e meninas
basicamente seguirão taxas de desenvolvimento semelhantes em crescimento e
maturação, e apesar das consistentes diferenças relacionadas ao sexo, força,
velocidade, potência, aptidão aeróbia e coordenação irão se desenvolver em taxas
similares para ambos os sexos ao longo da infância (ARMSTRONG, 2007; MALINA;
BOUCHARD; BAR-OR, 2004). Consequentemente, considerando uma perspectiva
prática, tanto as meninas quanto os meninos podem seguir programas de treinamento
semelhantes durante os anos da pré-puberdade. O modelo LTAD preconiza que o foco
de treinamento para meninos e meninas seja direcionado ao desenvolvimento de
habilidades de movimentos fundamentais, força, velocidade e agilidade.
Diferenças relacionadas ao sexo
Após o início do estirão de crescimento adolescente, as diferenças de maturação são
aparentes para quase todos os componentes da aptidão física, com os meninos
melhorando a maioria das qualidades físicas mais que as meninas, com exceção da
flexibilidade (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004). Tipicamente, o início do estirão de
crescimento adolescente ocorre cerca de 2 anos antes em meninas (cerca de 10 anos
de idade) do que em meninos (aproximadamente 12 anos de idade) (IULIANO-BURNS;
MIRWALD; BAILEY, 2001), e na maioria dos casos, as meninas experimentam o pico de
velocidade em altura em uma idade mais cedo que meninos (12 anos versus 14 anos,
respectivamente) (BEUNEN; MALINA, 1988).
Diferenças relacionadas ao sexo
Durante o estirão de crescimento adolescente, as meninas passarão por processos
fisiológicos específicos do sexo que podem afetar o desempenho/rendimento físico:
aumento da massa gorda, taxas diferenciais de desenvolvimento da força
neuromuscular, da altura e do peso; início do ciclo menstrual, frouxidão articular
aumentada, aumento do ângulo valgo do joelho; e dependência aumentada no uso do
membro inferior dominante em situações de aterrisagem ao solo, todas associadas a
um risco aumentado de lesão do ligamento cruzado anterior sem contato (HEWETT;
MYER; FORD, 2004; HEWETT; ZAZULAK; MYER, 2007). Consequentemente, o modelo
LTAD sugere que estratégias de treinamento destinadas a reduzir o risco de lesões do
ligamento cruzado anterior sem contato, como treinamento pliométrico, fortalecimento
do core, treinamento de força e treinamento de equilíbrio, devam ser utilizadas nos
programas de treinamento físico de jovens meninas e mantidas até a idade adulta.
Treinamento para jovens: maturação tardia x precoce
Por causa da ampla variabilidade interindividual no timing de maturação, é necessário
que qualquer modelo de treinamento físico específico para crianças e adolescentes
contenha um grau de flexibilidade (LLOYD et al., 2012). Uma criança ou adolescente
com nível de maturidade biológica avançada (precoce) tem sido previamente definida
como uma menina ou menino que inicia seu estirão de crescimento adolescente
aproximadamente 1,5 ou 2 anos mais cedo que uma criança ou adolescente de ritmo
maturacional tardio (GASSER et al., 2001). No contexto prático, você enquanto futuro
professor/treinador de condicionamento físico deverá perceber que uma criança ou
adolescente de ritmo maturacional tardio ou precoce precisará ser tratado de forma um
pouco diferente comparado a uma criança ou adolescente classificado como
normomaturo (ritmo maturacional normal).
Treinamento para jovens: maturação tardia x precoce
Na prática, podemos pensar que se uma criança é classificada como adiantada no nível
de maturidade biológica (precoce), então os componentes do modelo para o
desenvolvimento físico em longo prazo precisarão ser movidos para a esquerda,
permitindo assim que a criança ou o adolescente inicie técnicas de treinamento mais
avançadas em uma idade cronológica anterior ou mais nova. Por outro lado, os
componentes do modelo LTAD devem ser direcionados para a direita no caso de
trabalhar com uma criança ou adolescente que é considerado como atrasado no
processo maturacional (tardio), introduzindo-os assim a um treinamento mais
avançado em uma idade cronológica posterior ou mais velha, momento em que eles
estarão fisiologicamente prontos para lidar com o aumento do estímulo de
treinamento. Em qualquer um destes casos, embora a prescrição de treinamento varie
de acordo com a idade cronológica, deve-se permitir maior consistência e maior
precisão em termos da idade biológica da criança e do adolescente.
Treinamento para jovens: maturação tardia x precoce
Existem algumas metodologias não invasivas que possibilitam estimar a idade do pico
de velocidade em altura ou a porcentagem da estatura adulta alcançada em um
determinado momento. A partir disso, podemos estruturar e aplicar diferentes
programas de treinamento e condicionamento físico para crianças e adolescentes de
acordo com o nível maturacional de cada um deles, respeitando, dessa forma, as
individualidades biológicas. Por exemplo, se trabalharmos com um grupo de meninos
ou meninas classificadas como Pré-PVA (> 1 ano antes do PVA) ou <85% da estatura
adulta predita alcançada, os programas de treinamento devem ser estruturados para
promover prioritariamente positivas adaptações neurais e, por consequência,
proporcionar ganhos de força, potência e velocidade.
Treinamento para jovens: maturação tardia x precoce
Agora, se trabalharmos com jovens entre 89% e 95% da estatura adulta predita
alcançada (meio e final da puberdade), os programas devem ser direcionados para
induzir tanto adaptações neurais quanto adaptações estruturais. Por fim, se trabalhar
com um grupo de jovens com 95% ou mais da estatura adulta predita alcançada,
caracterizando assim a pós-puberdade, a organização e aplicação dos programas de
treinamento deveriam ser fundamentalmente baseados em promover significantes
ganhos de força, potência e velocidade por meio do desenvolvimento da hipertrofia
muscular.
Referência

SALVADOR, P. C. N.; SALVADOR, A. F.; TEIXEIRA, A. S. Treinamento


desportivo em educação física. 1ª ed. Indaial: Uniasselvi, 215 p.,
2017.

Você também pode gostar