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DESPORTO INFANTOJUVENIL

Identificação e Selecção de Talentos

1. Atitude a tomar perante um jovem com Maturidade Precoce


«Imaginemos um jovem desportista de 13 anos de idade que tem um peso, uma estatura
e uma massa muscular muito acima da média, por apresentar uma maturidade precoce.
Este jovem tira vantagem dos seus parâmetros somáticos e da composição corporal
numa modalidade onde impera o contacto físico, como no futebol e andebol, sendo
facilmente seleccionado para integrar uma escola de formação destas modalidades num
dos grandes clubes. Sai da sua terra e do seu ambiente familiar e vai viver num centro
de estágio de um dos referidos clubes. Deixa de estudar ou permitem-lhe ter um mau
rendimento escolar. Garantem-lhe que irá obter sucesso desportivo através do
fornecimento de expectativas irrealistas. Em termos de objectivos de realização
assistimos a uma sobrevalorização da capacidade competitiva em detrimento do
domínio da tarefa. A idade avança e o crescimento desacelera no final da adolescência e
eis que o nosso jogador é afinal igual a tantos outros. A categoria de sénior aproxima-se,
as hipóteses de carreira profissional no futebol são escassas e o jovem não frequentou
qualquer tipo de formação profissional de modo a que se possam equacionar outras
saídas profissionais».

«Os modelos de identificação de talentos deverão servir sobretudo para prevenir


situações como a que acabámos de descrever. Neste caso teria sido fundamental uma
avaliação da maturidade biológica, para que o resultado dessa avaliação pudesse ser
considerado no processo de identificação de talentos. Aliás, no processo de selecção de
talentos é fundamental a avaliação frequente de uma série de indicadores (parâmetros
físicos, fisiológicos, psicológicos, sociais, técnico-táticos, etc), para que esse processo
possa ser constantemente monitorizado e adaptado consoante as vicissitudes surgidas ao
longo do tempo. O processo de identificação de talentos não deverá dessa forma se
cingir a um momento determinado do tempo, mas ser um processo a longo prazo e com
alguma flexibilidade, de modo a poder responder aos acidentes de percurso».
Peso e estatura acima dos valores normais para a idade;

Massa muscular acima dos valores médios e massa gorda dentro dos valores normais
para a idade;

Impulsão vertical muito acima dos valores médios;

Velocidade dentro dos valores médios;

Resistência dentro dos valores médios.

Num estudo longitudinal sobre o desenvolvimento maturacional de jovens desportistas,


pode constar alguns indicadores, que facilitam na avaliação da composição corporal, da
maturidade biológica e do rendimento desportivo, nomeadamente: idade, peso, estatura,
índice de massa corporal, massa gorda corporal, massa muscular corporal, idade óssea,
estádio de maturidade sexual, teste de força explosiva (impulsão vertical), teste de
velocidade e agilidade, teste de resistência (yo-yo test). Caso os valores destes
indicadores estiverem fora do padrão normal, podemos afirmar que o jovem atingiu a
maturidade precoce, estimando-se uma desaceleração do crescimento corporal e da
evolução dos parâmetros de desempenho físico, no período final da adolescência.

2. Atitude a tomar perante um jovem com maturidade tardia


Segundo Sobral, no processo de identificação e selecção de talentos deveremos ter uma
atitude específica em relação aos adolescentes com maturidade tardia. Se o jovem tem
algum talento, deveremos promover o treino visando a melhoria das capacidades
coordenativas, aprofundar a formação técnico-tática e aguardar a expressão plena da sua
maturidade biológica, de modo a podermos fazer mais tarde, uma selecção definitiva.
Reilly et al. referem que muitas vezes os sistemas de selecção e identificação de
talentos, ao sobrevalorizarem os parâmetros somáticos no processo de selecção, não
permitem que os jovens adolescentes com maturidade tardia, tenham oportunidade de
receber um treino adequado, pois não são seleccionados para jogarem em grandes
clubes onde existem os melhores treinadores.

Os treinadores ao sobrevalorizarem as características somáticas no processo de selecção


de novos talentos em detrimento de outras características que podem eventualmente
representar factores de predição do rendimento desportivo e do sucesso, estão muito
provavelmente a sofrer a influência de uma sociedade que está cada vez mais
interessada em obter o sucesso imediato, descurando o sucesso a médio e a longo prazo.

Essas pressões levam a que diversos agentes desportivos (treinadores, pais, dirigentes,
entre outros) tenham uma tendência para, directa ou indirectamente, seleccionarem
jogadores com maturidade precoce, que podem ajudar os clubes a obter bons resultados
a curto prazo, e excluírem jogadores com maturidade tardia, que tenham a
potencialidade de se tornarem grandes jogadores a médio ou longo prazo quando
terminarem o seu processo de maturação.

Estratégias de Intervenção nos jovens com Maturidade Tardia:


- Ser multidisciplinar, alicerçado em bases científicas sólidas, objectiva, económica,
fácil de realizar e do agrado dos agentes desportivos e da modalidade em causa.

- Ter uma aplicação longitudinal, num período mínimo de 4anos, coincidente com um
ciclo Olímpico e em diferentes níveis e categorias a nível nacional.
- Permitir uma avaliação contínua do jovem atleta no decurso dos diversos níveis de
formação, devendo ser realizados registos de todas as avaliações.

- Avaliar a maturidade biológica do jovem atleta para adaptar o planeamento de treino


ao estádio de maturidade e para interpretar a influência desta variável na predição do
rendimento desportivo.

- Permitir que o planeamento de treino abranja todas as capacidades condicionais,


coordenativas, técnicas e psicológicas necessárias à formação desportiva do jovem
atleta, não abusando do trabalho de intensidade e, ou de volume, como acontece com
alguns treinadores que buscam o êxito imediato não respeitando assim os períodos de
crescimento e desenvolvimento em que se encontra o jovem desportista.

- Impedir que o bem-estar físico, psíquico e social do jovem praticante seja posto em
causa, permitindo uma adequada nutrição, tempos de lazer e de recuperação e uma
integração do sistema com as actividades escolares e sociais.

Esta estratégia só poderá ser implementada através da intervenção de uma Equipa


Multidisciplinar, que integre profissionais de diversas áreas das Ciências do Desporto,
que possam contribuir para o estudo e controlo dos múltiplos factores que poderão estar
envolvidos num sistema de identificação e selecção de novos talentos.

A supracitada estratégia só pode no entanto resultar, se houver uma aliança entre


aqueles que trabalham no terreno, e por isso possuem a experiência oriunda da sua
prática quotidiana, e aqueles que produzem o conhecimento científico através da
implementação de conhecimento científico pela implementação de metodologias
investigacionais rigorosas, mas, pragmáticas. Neste âmbito, tanto o cientifismo,
exagerado de alguns académicos, como o conservantismo irredutível de alguns
treinadores, podem criar barreiras à evolução e ao progresso.

“Todas as profissões estão, de alguma maneira, rodeadas por uma zona de


ambiguidade. O mal da zona de ambiguidade não é ser terra de ninguém, mas, parecer
por vezes, terra de todos. Por vezes, isto leva a uma guerra não declarada entre os
ocupantes adjacentes” (Robert Menton)

O PROFESSOR,

Ulisses José Teixeira Barros


Referências Bibliográficas

Horta, L. Factores de Predição do Rendimento Desportivo em atletas Juvenis.

Sandoval, P. Deteccion de talentos desportivos e seguimento hacia el alto nível. In:


Olimpismo y Medicina Deportiva, problemas y soluciones del deporte infantil y juvenil,
159-171.

Reilly T., Bangsbo J. & Franks A. Anthropometric and physiological predispositions for
elite soccer. Journal of Sports Sciences, (18), 669-683.

Sobral F. Dados auxológicos e bio-sociais na prognose do rendimento do adolescente


atleta. In: O Adolescente atleta. Horizonte de Cultura Física. (3), 29-44.

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