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Instituto Politécnico de Beja

Escola Superior de Educação


Licenciatura em Desporto
U.C Desporto Infanto-Juvenil

Especialização Desportiva Precoce VS Preparação Desportiva Precoce

Elaborado por:
Débora Bento nº22434
Gonçalo Silva nº22806
Catarina Antunes nº22805
Sofia Mestre nº22804

Orientado por:
Docente, Paulo Paixão

de maio 2022, Beja


Índice
Introdução

O presente trabalho é sobre Especialização Precoce VS Preparação


Desportiva Precoce, trabalho esse consequente da unidade curricular da licenciatura
de desporto de Desporto Infanto-Juvenil.
O objetivo deste trabalho é perceber a diferença que há entre essas duas
temáticas, as razões, as consequências, as necessidades, os benefícios, os
malefícios, o papel dos treinadores.
A metodologia utilizada foi, a revisão da literatura
Especialização desportiva precoce

Antes de falarmos na temática a desenvolver, sobre especialização precoce e


preparação física precoce, fomos procurar com que idades se deve iniciar a prática
desportiva.
Segundo ALMEIDA, L. T. P. D. (2016). Iniciação Esportiva na escola: a
aprendizagem dos esportes coletivos, 2005.Silva et al. (2001), as contribuições da
prática desportiva para o desenvolvimento físico e psicossocial do ser humano é
pequeno o número de estudos na especificidade de treino nos mais jovens. No que se
refere às características psicomotoras da criança e do jovem, é ainda uma
compreensão um pouco frágil, sobretudo se for considerado as particularidades de
várias modalidades desportivas e os seus efeitos.
Silva et al. (2001) cita, em estudos mais recentes ainda existe duvidas sobre
quais são as idades em que as crianças e jovens estão preparados para iniciar a
prática desportiva de maneira sistemática e de que forma deve ser colocada em
prática essa situação.
Um treino de crianças e jovens tem diferenças de um treino em adultos,
particularmente por algumas consequências a nível de desenvolvimento físico,
psíquico e afetivo relacionado com aquilo que se chama os estágios de crescimento e
desenvolvimento.
Silva et al. (2001), considera que até a bem pouco tempo o treino dos jovens foi
uma reprodução ou em extremos uma simples adaptação aquilo que são os
procedimentos e organização do desporto de rendimento.
Pode entender-se assim que a especialização precoce é definida por uma
atividade desportiva e acima de tudo competitiva, com grande responsabilidade e
dedicação aos treinos antes da correta para a prática dessa tipologia de treinos
(Personne, 1983).
Segundo um estudo Barbieri et al. (2007) cita que a especialização precoce de
crianças e adolescentes no desporto é um assunto bastante questionada e discutido.
Alguns autores acham o tema benéfico por outro lado, outros autores acham
precisamente o contrário. No estudo em concreto, ajudo-nos a procurar na literatura
sobre os benefícios e malefícios da especialização precoce e ainda a razão de
acontecer nos treinos de iniciação desportiva.
Citando Ré et al. (2004), especialização precoce é utilizada como forma de
preparação para o futuro do atleta e para ganhar vantagem sobre as restantes equipas
nas competições. Ré et al. (2004), refere que na formação desportiva o desempenho
do jovem em competições está relacionado ao sucesso no futuro e afirma que o seu
desempenho é caracterizado por diversos fatores como, as capacidades físicas,
técnicas, táticas e psicológicas, e afirma que diferentes capacidades destes fatores,
pode ser resultado de desempenho, sendo que um fator pode influenciar o outro.
Com base na nossa primeira questão, qual a idade de iniciação á pratica
desportiva, Silva et al. (2001), Bompa (2002) e Sobral (1994) respondem, afirmando
que essa idade é em média entre os 11 e os 12 anos de idade, e que os treinos e a
competição têm menor importância do que os fatores de crescimento e
desenvolvimento.
Barbieri et al. (2007) refere que no futebol e futsal, exemplos dos desportos que
utilizaram no artigo, são desportos que se iniciam muito cedo, onde existem
campeonatos, a partir dos 4-5 anos de idade, e que os pais e professores querem logo
os melhores resultados ao invés de dar especial atenção a participação da criança. De
forma global, este tipo de competições está a medida de competições de faixas etárias
mais altas, o que não está correto, e gera um ambiente contrário durante as
competições infantis (Santana et al., 2006).
Não existe certezas quanto à hipótese de crianças e jovens que se destacam
no escalão de formação, o continuem a fazer em idade na adulta (Bompa, 1999; Brito
et al., 2004; Santana et al.; 2006).
Segundo Barbanti (2003), a especialização precoce é um término utilizado para
exprimir o processo ao qual as crianças se tornam especializadas isto é que
aprofundam os seus conhecimentos técnicos, táticos e físicos, em algum desporto
numa idade que não é considerada adequada. Pode ser também segundo Kunz
(1994), a participação das crianças num mínimo de 3 treinos por semana com um
objetivo acentuado do rendimento, sem ser apenas para a participação da modalidade,
sendo-lhe induzido antes da fase de puberdade um treino a longo prazo e planeado.
Podemos também afirmar que segundo Marques (1991), que a responsabilidade de
algo assim acontecer se deve a país, dirigentes e treinadores, que querem criar na
criança uma especialização na sua preparação desportiva precocemente, com o
objetivo de obter resultados rápidos e eficazes, esquecendo a sua idade e as suas
prioridades. Marques (1999), diz que este tipo de especialização é caracterizado por
cagas de treino muito intensas, que podem causar rápidos progressos na prestação
desportiva inicialmente, mas que levam a um cansaço demasiado cedo da capacidade
de rendimento, que podemos caracterizar como barreiras de desenvolvimento.
Contudo, especialização precoce é definida como a prática intensa, sistemática
e regular de crianças e jovens previamente às idades consideradas adequadas para a
prática.
Esta especialização existe porque acreditava-se que se se iniciasse a prática
demasiado cedo, aumentasse o rendimento e a carga de treinos, e as crianças que
quanto mais tempo de prática tivessem melhor iria existir uma grande qualidade na
modalidade (Marques & Oliveira, 2001).
Brito et al. (2004) discorre sobre o tema:
“Em alguns desportos existe mesmo a convicção de que a excelência só pode
ser alcançada quando, durante os escalões de formação, a aprendizagem de uma
modalidade, o treino e a competição são corretamente perspetivados e concretizados.
Sendo reconhecida a importância dos fatores genéticos e do envolvimento no
rendimento desportivo, é frequentemente sublinhado que um leque diversificado de
experiências desportivas, vividas durante o processo de crescimento e
desenvolvimento do praticante, parece relacionar-se positivamente com a obtenção de
altos rendimentos na idade adulta. Face a este quadro lógico-empírico, será razoável
pugnar para que o processo de formação e de treino em idades jovens procure
fomentar e proporcionar, em particular durante o estádio de treino de base, uma
grande diversidade de experiências motoras. Não obstante, é comum observar-se que
o treino nas etapas iniciais do processo de formação desportiva continua a ser
orientado à imagem do treino do atleta adulto, ou seja, perspetivado segundo a lógica
do rendimento e da obtenção de resultados significativos tão depressa quanto
possível. Obviamente que, no caso do desporto jovem, a opção por trajetos desta
natureza vai desaguar numa preparação precocemente especializada, levando, por
um lado, à redução da diversidade de experiências e, por outro, ao aumento
exagerado das cargas de treino. Se assim não fosse, a obtenção “imediata” de
resultados desportivos de qualidade por parte dos jovens ficaria comprometida” (p.
18).
A prática a iniciação desportiva deve ser iniciada o mais cedo possível, é
benéfico para a criança e proporciona variadas consequências positivas, logo
podemos dizer que iniciação precoce é um bom princípio, mas quando falamos em
especialização precoce já é diferente, a especialização deve respeitar as normas
pedagógicas, características, fases sensíveis, aquisição das habilidades motoras
especificas, o crescimento e o desenvolvimento da criança (Paes, 2006).
Para Moskotova (1997), as respostas motoras e psíquicas são vistas como
fenótipo, indica a característica e a evolução da especialização desportiva, contudo
abrange características corporais, bioquímicas, neurofisiológicas e psicofisiológicas de
um ser humano.
É necessário realizar testes para melhor analisar as capacidades, contudo
Moskotova (1997) averiguou que não existe nenhuma tecnologia moderna de treino
que ultrapasse a linha individual e geneticamente combinado das capacidades
funcionais de um atleta. Por conseguinte, não desvalorizando os efeitos esperados do
treino deve-se explorar a hereditariedade assim que se espera resultados significativos
(Nascimento, 2005).

Preparação Desportiva Precoce

A investigação sobre a preparação desportiva precoce vem desde já há algum


tempo. Segundo Almeida (2005), na década de 1970 existiam vários autores
estrangeiros a falar sobre o tema e, na década de 1980 começou a haver um interesse
nacional.
A preparação desportiva é o período onde a criança inicia a aprendizagem de
forma específica, da prática de um ou mais desportos. Mas Santana (2005) refere que
a preparação desportiva aponta para a prática regular e com um foco numa ou mais
modalidades desportivas, e tem como objetivo fornecer à criança um desenvolvimento
geral de forma continua.
Segundo estes autores podemos inferir que a preparação precoce é a altura
em que a criança começa a aprender, de uma maneira planeada e específica, a
prática desportiva. Todavia, é de extrema importância respeitar as características da
criança de modo a não a transformar num mini adulto.
Almeida (2005), é apologista de que a preparação precoce carece de ser
dividida em três etapas. A primeira etapa toca na preparação desportiva no seu
significado mais puro, dá-se entre os oito e os nove anos. Nesta etapa, o principal
objetivo do treino é a adquirir habilidades motoras e ganhar agilidade ou destreza
específica e generalizada, que se sucedem a partir de formas básicas de movimentos
e jogos pré-desportivos. Segundo o autor, nesta faixa etária, a criança apresenta-se
capacitada para aprender as bases dos desportos, apesar disso, ainda não está
preparada para o desportivo coletivo competitivo. Considera-se, então, que o desporto
coletivo competitivo cativa muito mais as crianças pelo lado do prazer do que pela
competição. Um profissional desportivo que entenda como se desenrola o
desenvolvimento motor e cognitivo de uma criança nesta faixa etária apresenta uma
vantagem pois pode planificar o seu trabalho de modo a torná-lo interessante e
motivador, tendo por base atividades lúdicas e recreativas, procurando, assim, uma
aprendizagem eficaz, objetiva e sem se tornar entediante. No fundo, é importante
fornecer um leque de oportunidades para proporcionar o desenvolvimento das
diversas habilidades à criança, operacionalizando-a com atividades motoras que
futuramente podem ser aplicadas em vários desportos coletivos.
A fase do aperfeiçoamento desportivo decorre nas idades compreendidas entre
os dez e os onze anos, pois é quando a criança experiência e participa em ações
baseadas na cooperação e colaboração. Nesta etapa, os jogos têm uma expressão
sócio desportiva, na qual as crianças se relacionam executando um papel definido que
deve ser cumprido. Esta fase tem como objetivo implementar os elementos técnicos
fundamentais, táticas gerais e regras utilizando estratégias, como por exemplo, jogos
educativos e atividades desportivas que careçam de regras. Este autor considera que
esta é a idade perfeita para a aprendizagem. Deste modo, as atividades físicas e
desportivas ao serem fornecidas nesta faixa etária precisam de ter o propósito de
aumentar o reportório de movimentos fundamentais primários dos variados desportos
e de operacionalizar as crianças com bases psicossociais que possibilitem a interação
social e cooperativa através de jogos e brincadeiras (Almeida, 2005).
Almeida (2005), caracterizou a terceira e última etapa com a de introdução ao
treino, é uma fase em que a criança, entre os seus 12 a 13 anos, atinge um
significativo desenvolvimento da capacidade física e intelectual. Deste modo, o
objetivo eminente desta etapa é o aprimoramento das técnicas individuais, dos
sistemas táticos e ainda a aquisição das qualidades físicas necessárias para a prática
do respetivo desporto. As ofertas das atividades físicas nestas faixas etárias devem ter
em contas as necessidades da criança e devem incidir sobre o aperfeiçoamento das
qualidades físicas, as técnicas individuais e as táticas, quer individuais quer coletivas
dos variados desportos, para tal acontecer os professores devem adotar estratégias,
como a realização da preparação física e da prática de jogos, de modo a desenvolver
a estrutura corporal e melhorar o desempenho individual destas crianças/jovens. O
professor tem ainda a responsabilidade de desenvolver atividades adequadas e
diversificadas, que motivem as crianças, de modo, a proporcionar uma aprendizagem
individual, ainda que estejam em grupo, o que lhes vai fornecer capacidades para gerir
e saber resolver possíveis conflitos enquanto grupo ou perante situações que se
encontrem várias pessoas.
Por outra perspetiva, Santana, 2005) sugerem que a preparação desportiva de
uma criança deve ter em conta duas etapas diferentes: geral e especializada. Na
primeira, defendem que é entre as idades compreendidas entre os dois e os doze
anos de idade, onde predomina a formação, a adaptação do organismo e esforços
futuros, desenvolver qualidades físicas básicas e o contacto com os fundamentos das
variadas modalidades. É importante não ter o principal foco na competição. Na outra
fase (12 a 14 anos) o jovem começa a ser dirigido para a especialização desportiva.
A preparação desportiva tem uma grande importância na vida das crianças e
jovens tendo em conta que marca a sua vida. Moreira (2003), defende que o primeiro
impacto com a modalidade é significativo, pois, como por exemplo, um simples
empurrão na piscina pode gerar vários traumas, o mesmo acontece no meio
desportivo. Ou seja, a base motora for construída desde que as crianças são
pequenas é muito propicio a elevar o nível de segurança. Contudo, para tal se
suceder, é imprescindível a fase de desenvolvimento da criança, considerando, assim,
a demanda de experiências para a maturação e ainda especial atenção aos possíveis
traumas ou impactos longitudinais nos membros da criança que se encontra em
desenvolvimento.
Moreira (2003), afirma que a preparação precoce desportiva em crianças e
jovens traz consigo diversos benefícios, apenas se for trabalhado de forma correta,
através de práticas de iniciação, pois o desporto não engloba só a parte física, mas
também parte educativa.

Diferença entre Especialização Precoce e Preparação Desportiva Precoce

A diferença começa, desde já, na etimologia e significados das palavras em si,


em que a palavra Especialização, derivada da palavra Especializar mais o sufixo -ção
que tem como significado: aprimorar; passar a possuir conhecimentos ou habilidades
em determinadas áreas. Já a palavra Preparação vinda do latim Praeparare, formada
por Prae, “antes”, mais parare, “deixar pronto”, ou seja, realizar uma ação no presente
para no futuro usufruir da mesma, deixa assim um pouco claro do tipo de divergências
que ambas as palavras podem apresentar, divergências essas que relacionado isto ao
contexto do assunto que estamos a desenvolver neste artigo fazem todo o sentido.
Uma vez que a Especialização Precoce em contexto desportivo apresenta
erros substanciais, visto que não se integra no termo iniciação e de encaminhamento
no desporto, pois trata-se de um modelo de preparação dirigida para o
aperfeiçoamento das capacidades competitivas em ciclos de médio e longo prazo.
Este processo, se não apresentar uma característica de desenvolvimento de trabalhos
multilaterais, em que o aprendizado técnico possa ocorrer acompanhando o
crescimento motor, ao invés de dar ênfase no aperfeiçoamento das capacidades
motoras (físicas), pode apresentar problemas futuros e não constitui a melhor forma de
se aumentar as cargas de treinamento durante a vida desportiva (Gomes, 2009).
A preparação desportiva precoce deve conter vários tipos de estímulos, tanto
no diz que respeito à diversidade de movimento como à diversidade de ambiente, o
que contrapõe a ideia de especialização desportiva precoce.
Muitos profissionais confundem preparação desportiva precoce com a
especialização desportiva precoce, a diferença é que a primeira é importante desde
que são muito novos e a segunda só é necessária mais para a frente. Logo, o futuro
de uma criança, a nível desportivo, está sujeito a esta diferenciação e entendimento
(Moreira, 2002).
Contudo, os pensamentos reducionistas e elementares que rodeiam a
preparação desportiva precoce devem ser postos de lado. Orientar a preparação
desportiva de uma criança acarreta consigo muita cautela e atenção, pois existem
muitos mais aspetos importantes do que os resultados, provocando assim o desprezo
pelos aspetos educativos. A prioridade da preparação desportiva precoce tem em
conta a dimensão dos possíveis e variadíssimos estímulos para o
desenvolvimento/crescimento físico, desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social,
pondo de parte as habilidades específicas (Capitanio, 2003).
Diversos autores opõem-se a estas ideias de racionalidade. Santana (2002)
defende que a educação do desporto na infância suporta uma prática pedagógica que
em suma dá origem a intervenções mais viradas para a produtividades e
racionalidade. Tendo isto em conta, o autor afirma que os professores de educação
física têm uma inclinação voltada para atitudes que confirmam estas afirmações:
apostam no desenvolvimento das capacidades físicas, no seu controlo e nas variáveis
antropométricas; apostam no aperfeiçoamento (precoce) das capacidades técnicas e
táticas; formam um modelo de atleta com o fim de ser o ideal pretendido; seleção de
crianças que correspondem às exigências desse modelo de atleta e que representem
as equipas de menor competição; participação em competições provocando o
desenvolvimento precoce do desporto profissional e promovem a competição como a
principal referência para avaliar as crianças.
Esta perspetiva estimula a crença de que o desporto segue um plano linear de
desenvolvimento, quer isto dizer, existe uma conceção onde há um ponto de partida
com vista num ponto específico de chegada, o tal ideal de atleta pretendido. O que
torna possível uma prévia definição das tarefas dos professores e das crianças
desportistas, ou seja, os primeiros apenas têm o trabalho de escolher as crianças e
estabelecer as tais metodologias pedagógicas que forneçam as capacidades
necessárias para das diferentes fases dos treinos e competições. E às crianças é
suficiente que se submetam às exigências que já estão estabelecidas em cada fase do
treino (Santana, 2002).
O autor refere ainda que não é necessário retirar, da preparação desportiva
precoce, as tarefas de conhecimento que tem como objetivo esclarecer as épocas de
desenvolvimento motor, os períodos favoráveis para desenvolver as diferentes
capacidades, a fase mais adequada para aprender habilidades motoras e os
encadeamentos maturacionais e fisiológicas. Nem quer dizer que se coloque “fora do
baralho” o aparecimento de crianças com grandes capacidades e talentosas nem
deixar de ter em conta que as equipas de base têm crianças prováveis de chegar ao
alto rendimento. O importante é ter noção e pôr em prática que não se pode descurar
o lado de ação educativa desportiva para favorecer estes fatores racionais.
Tibola (2001) reitera que nas diversas etapas do desenvolvimento, a
sociabilidade, a motricidade, a amizade e a inteligência decorrem alterações e têm
características desiguais em cada fase da vida. Estes aspetos não são iguais para
todas as pessoas pois cada um tem uma intensidade rítmica deste desenvolvimento
diferente. É facto que o desenvolvimento físico é significativo, mas o desenvolvimento
psicológico, social e cultural também o é, na medida em que o professor de educação
física deve ter em atenção todos estes aspetos para proporcionar uma boa preparação
desportiva, formando assim crianças aptas em todos os aspetos. Em suma, é
necessário existir um conhecimento do ser humano, a nível cognitivo, afetivo e motor,
ou seja, ter a perceção dos limites e possibilidades da sua área (Silva, 2004).
No que diz respeito ao domínio cognitivo, Alves (2004) defende a importância
das noções básicas de anatomia e fisiologia humanas e do desenvolvimento básico
das diversas aptidões físicas que permita a realização de atividades físicas de forma
segura e eficiente.
No que concerne ao domínio afetivo-social, Alves (2004) reitera que a
afetividade é o local indicado para as paixões, os sentimentos e as emoções, onde
percorrem também sofrimento, receio, diversão e interesse. O que significa que este
aspeto não pode ser negligenciado pois traduz se na expressão corporal.
Cada criança tem características, vivências e experiências diferentes, têm
maneiras diferentes de lidar perante diversificadas situações, e esse é o princípio para
o todo o processo de aprendizagem desportivo. As próprias maneiras de relacionar-se
com o próprio corpo, com o meio envolvente, com a presença de outras pessoas e de
novos estímulos tornam as crianças reais e não virtuais, com características únicas
que favorece uma aprendizagem mais facilitada seja a que nível for (Alves, 2004).
No domínio social, a preparação desportiva contribui para as facilidades em
estabelecer relações com outras crianças e jovens e com tudo o resto na generalidade
(Alves, 2004).
Logo a iniciação desportiva, ao ser feita respeitando a criança em sua
totalidade, ou seja, considerando suas limitações, desenvolvimento físico, psíquico e
social, proporcionará diversos benefícios ao praticante.
Entretanto, quando se negligencia estes fatores na infância, e este sujeito é
especializado precocemente, como um adulto em miniatura, sob pressões psicológicas
para realizar a técnica com perfeição e eficiência, impedindo-a de ter prazer e
compreensão da modalidade, basicamente não proporciona na criança uma sequência
didática que permita que a mesma absorva o desporto na sua formação integral
colaborando com o desenvolvimento motor, físico, cognitivo, afetivo e social
(Machado, 2008).

Razões de uma Especialização Precoce

Hahn (1988), conclui que a antecipação da idade de maior rendimento,


essencialmente em alguns deportos, advém de federações, clubes e treinadores que
tentam atingir o alto rendimento cada vez mais precocemente. Observou também que
outra das razões desde acontecimento, é o atual sistema desportivo, que é
basicamente só a competição e não está de acordo com as necessidades das
crianças, pois é simplesmente um sistema igual ao da ideologia do adulto, isto é,
tentam reproduzir o modelo adulto nas crianças.
Outras das razões para Hahn (1988), é a procura do êxito, das vitórias, das
medalhas, custe aquilo que custar para atingir tal veredito, isto motiva então os clubes,
as federações nacionais a estimular a iniciação prematura. Outro dos motivos aos
quais podemos atribuir um pouco desta iniciação e especialização precoce, é a atitude
de alguns pais que tentam compensar aquilo que eles não foram na sua infância e
tentam fazer com que a criança seja e vença aquilo que eles nunca conseguiram.
Contudo pode então observar-se que o interesse, a felicidade e as
necessidades da criança não estão acima referidos, e aqui aquilo que importa, é a
criança e a forma como ela se sente a praticar o desporto ou modalidade desportiva,
retirando dela o maior prazer, felicidade e divertimento.
A prática de Atividade Física regular e o desporto são fundamentais para o
bem-estar a saúde da criança. Alguns estudos apontam para o desporto como forma
de desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo e social, e é de grande importância
para promover um estilo de vida saudável na idade adulta (Fechio et al., 2011).
Enquanto isso, as crianças desde muito cedo, iniciam e querem realizar a prática
desportiva, ou até mesmo por responsabilidade dos pais para prática da mesma, são
levadas a desenvolver comportamentos e atitudes com a finalidade da vitória, o que
pode ser um mau princípio.
Citando Rubio et.al. (2000), os tipos de crianças acima referidas são inseridos
prematuramente na realidade do mundo de adultos, em que o tal prazer e felicidade da
prática, dá prioridade à competência, e à performance, e algo que era para ser de
divertimento e desenvolvimento passa a ser uma competição.
Alguns estudos apontam que são poucas as crianças que têm benefícios e
frutos por iniciarem precocemente treinos e competições, muitos deles não chegam a
alcançar o sucesso e a vitória (Gabarra et al., 2009), ainda assim cada vez acontece
mais a especialização precoce tendo como indício a competição cada vez mais cedo
(Coelho & Coelho, 1999).
Podemos caracterizar na especialização precoce, diferentes tipos de
razões/causas, elas podem ser fisiológicas, psicológicas, táticas e técnicas.

Consequências da Especialização Precoce

Schmidt e Wrisberg (2001) consideram que a etapa de especialização


apresenta diversas fases de aprendizagem, e que o trabalho desportivo especializado
deve acontecer após os 14 anos de idade. Nesta fase os movimentos relacionados
com as habilidades desportivas transitam do estado específico geral para o
especializado. E é desta forma, que se dá o aperfeiçoamento do que já foi aprendido
anteriormente, contudo com maior intensidade tanto nos treinos como nas
competições.
Segundo Astrand (1992), a especialização desportiva deve acontecer após o
pico de crescimento de altura, tendo como base a idade biológica da criança. O pico
de velocidade de altura difere entre rapazes e raparigas, para os primeiros é
aproximadamente entre os 14 e 15 anos, já nas raparigas acontece mais cedo, entre
os 13 e 14 anos. Devido a este fator é natural que o treinador encontre alguma
dificuldade em encontrar o momento certo para iniciar a especialização do atleta, ao
aplicar certos métodos de treino.
Gomes (1992) salienta a importância das características psicológicas e físicas
particulares/individuais e, por isso, não determina idades cronológicas específicas,
mas reforça a dependência destas características.
No que concerne à preparação física, Paes (1992) reitera que no começo da
especialização é mais relevante dar importância à preparação generalizada do que à
preparação específica, e por isso, não é necessário fazer corridas longas excessivas.
Por outro prisma deve-se associar nos treinos a prática de elementos físicos com a
junção dos técnico-táticos específicos.
É muito importante ter em atenção quando uma criança começa a sua
especialização, pois esta só deve ser introduzida quando existir um equilíbrio entre o
seu desenvolvimento muscular e o psíquico (Becker & Teloken, 2000).
Segundo Marques (1991), as crianças e jovens que possuem um défice de
estabilidade psicológica são influenciadas, pelo lado negativo, pela pressão existente
para alcançar o sucesso e pela excessiva valorização das competições.
Para Bento (2006), o rendimento de alto nível coloca o atleta numa posição de
objeto, onde este é manipulado para obter um desempenho máximo. Relata ainda que
o desporto de alto rendimento, cria muitas vezes atletas-objetos quando apenas os
treinadores se focam no fim e o desempenho toma um papel mais importante que o
próprio atleta.
Assim, o que acontece regularmente é que os responsáveis desportivos pelas
crianças e jovens acabam por se desleixar, no sentido em que colocam de parte a
formação do homem e focam-se no resultado, o que é um fator preocupante pois
poderá afetar a vida social e pessoal dos atletas. Samulski (2002), afirma que o
esforço e dedicação excessivo dos atletas de alto nível pode desenrolar-se
negativamente, isto é, pode influenciar o desenvolvimento da personalidade das
crianças e jovens, pode gerar uma autovalorizarão exagerada, uma obsessão pelo
rendimento, uma instabilidade emocional, temer o insucesso, estar num constante
stress psicológico.
Kunz (1994), afirma que um dos maiores problemas de um treino especializado
precoce provoca na vida da criança especialmente no seu futuro, após o termino da
carreira desportiva, a formação escolar deficiente, devido a grande exigência de
acompanhar com êxito a carreira desportiva, a uni laterização no desenvolvimento e a
redução da participação de atividades, jogos e brincadeiras na infância, que são
importantes para o desenvolvimento e personalidade da criança.
Outros dos riscos da especialização precoce segundo Santana (2006), são: O
stress que é vivido no mundo da competição, que se pode caracterizar como um
sentimento de medo e insegurança, causado principalmente por antagonismos de uma
prática excessivamente competitiva. A criança sente-se com medo de cometer erros,
sente insegurança e a sua autoestima é ameaçada, a excessiva prática desportiva
quando a criança tem sinais de desanimo, normalmente caracterizados por enjoos e
abnegação na continuação da prática desportiva. A criança tem essa sintomatologia
por causa da prática em excesso e quer abandoná-la, por fim as lesões que
acontecem pela prática excessiva e inadequada na faixa etária.
A problema da especialização precoce é do conhecimento de educadores,
dirigentes e pais, seja direta ou indiretamente, contudo a maioria deixa passar em
claro este problema pois valorizam mais os interesses pessoais, científicos e
profissionais. Marques (1991) afirma que num curto prazo esta perspetiva focada
numa única direção efetivamente traz resultados desportivos, mas também defende
que as crianças e jovens atletas, que são expostos a este processo, não chegam, nos
níveis superiores e nos desempenhos desportivos elevados, aos rendimentos
esperados; é inferior o tempo de atividade desportiva de alto rendimento e em muitos
caos os jovens não chegam a estas fases, pois a sua capacidade de prestação é
esgotada precocemente, influenciando o abandono dos treinos e até mesmo da
carreira desportiva.
Barbanti (1992) refere que as consequências da especialização precoce em
idades baixas são: pressão das competições, aumento das cargas de treino e excesso
de velocidade e disciplina no treino.
Alguns estudos sobre a especialização precoce em diversos países verificaram
que apenas umas pequenas percentagens de campeões, em idades jovens, têm a
capacidade de chegar aos níveis de alto rendimento. Segundo o autor Merhautova e
Velenky (1982) e Nadori, Platonov e Marques (1991) referem que a maioria dos atletas
abandona a sua modalidade por volta dos 15/17 anos, o que significa que desistem
antes de chegarem à fase das suas performances máximas.
Segundo Nascimento (2005), é importante também que a prática desportiva
não prejudique a escola nem lhes tire tempo para desenvolverem outras atividades
que as crianças e jovens tenham gosto em fazer, o importante é proporciona-lhes
momentos de brincadeira. Os pais precisam de perceber que o jogo, a diversão e a
interação com outras crianças revelam ser aspetos muito importantes para estas
crianças e jovens, contribuindo para um desenvolvimento da personalidade saudável
(Nascimento, 2005).
Nascimento (2005), refere ainda que é notável que durante a especialização
precoce desportiva, os jovens atletas que despendem a maioria dos seus esforços
para encontrar a perfeição desportiva e quando não aparece fruto dessa dedicação
verifica-se uma tendência de desistência da modalidade. É necessário ter consciência
que numa prática desportiva existem estímulos precoces, preparação precoce e
especialização precoce. Dito isto, é importante estimular na criança um trabalho
global, proporcionando diversas experiências, direcionadas para a modalidade, e
vivências amplas, e depois disso é que deve ser implementada a especialização
desportiva.
Marques (1991), explica que o rendimento se caracteriza como uma classe
centrada do desporto, cuja sociedade moderna participa. O autor considera que sem
especialização não é possível haver rendimento.
Para Marques (1991), a especialização precoce no desporto de alto
rendimento define-se como umas das intervenções da “moda” geral para a
especialização precoce em todas as atividades do ser humano.

A escassez de profissionais aptos classifica-se como um dos principais


problemas da especialização precoce, pois muitos dos profissionais são ex-atletas que
exercem como educadores. Estes ex-atletas não se encontram com a formação
suficiente para intervir nestas faixas etárias mais jovens, e o que se vê em maior parte
dos casos é o treino ser o reflexo da sua experiência enquanto atleta (Nascimento,
2005).

Nascimento (2005), questiona-se se esta adequação que deve acontecer no


treino com as crianças e jovens realmente acontece. A autora defende que quem
acredita que esta ideia é realmente colocada em prática é ingénua.

É habitual defrontarmo-nos com treinos de atletas adultos projetados em


crianças (Nascimento, 2005). O autor afirma que “O treino precoce acontece antes do
tempo próprio sendo uma forma prematura” (Marques, 1991).

O treino é um compromisso dos adultos, quer sejam técnicos, pais ou


dirigentes. É claro que as crianças não conseguem avaliar o que ocorre com elas
(Nascimento, 2005).

Os treinadores necessitam de ter uma formação mais aprofundada sobre a


especialização desportiva, sobre as particularidades biológicas, psicológicas e sociais
sobre o desenvolvimento da criança e ter o potencial de adequar estas capacidades à
preparação desportiva precoce (Nascimento, 2005).

Nascimento (2005), averiguou que a especialização desportiva traz consigo o


fenômeno de aceleração, estimulado por motivos ainda não considerados o suficiente
conhecidos, contudo suspeita-se que estão relacionados aspetos como: a
alimentação, os cuidados de saúde, a prática desportiva controlada, a melhoria da
higiene corporal e a melhoria das condições sociais das populações de hoje em dia.

Este fenómeno está relacionado com: o facto de que os jovens das gerações
recentes apresentam mais as condições para suportar as cargas de treino do que as
gerações passadas; a evolução científica fornece informações acerca da necessidade
de um começo de preparação mais cedo em certos desportos, ou seja, os mais
técnicos; o acolhimento de um sistema de competições no desporto infantil que é a
projeção das competições do alto rendimento (Nascimento, 2005).
Necessidades da Preparação Desportiva Precoce

Na procura de uma teoria de competição para jovens desportistas, Marques


(2004) define que o desporto para crianças e adolescentes deve ser pensado a fim de
estabelecer uma relação de continuidade e complementaridade entre treino e
competição. Entre os fatores que procuram ser contemplados nas propostas que
defendem a competição para crianças e adolescentes podem citar-se: objetivos ou
finalidades mais globais, que colaborem com a educação integral dos praticantes;
métodos mais ativos que envolvam os jovens com mais intensidade em relação aos
aspetos motores e cognitivos; inclusão dos valores educativos nos conteúdos
trabalhados; e introduzir uma competição que se adapte às necessidades reais das
crianças que iniciam a prática desportiva (Conde et al, 2010).
Martin et al. (2004) aponta que a ampliação dos programas de competição para
crianças e jovens é pouco apoiada por metodologias alternativas e adequada aos
mesmos na maioria das disciplinas desportivas. Este autor estabelece funções que as
competições devem contemplar para o contexto infantil e juvenil. Entre as funções
propostas podemos destacar a função formativa e a educativa. Na formativa as
competições têm como objetivo primordial a resolução das tarefas e não o rendimento
em tarefas específicas, como corre no modelo adulto, ou seja, funcionam como
incrementos na aprendizagem. Já a função educativa das competições se dá durante
o transcurso das mesmas, pois nelas ocorrem situações nas quais o carácter do
indivíduo é posto à prova. Facto este que faz das competições um momento ideal para
o correto desenvolvimento e avaliação de aspetos relacionados à conduta dos
desportistas infantojuvenis.
Marques (2004) menciona que o desporto e a competição são apenas
instrumentos para a educação e formação das crianças e jovens, os princípios e
valores associados à competição e a forma como esta é utilizada nas experiências
vividas são o que confere o valor educativo. A componente educativa do desporto não
reside na aprendizagem da técnica e tática e sequer nos benefícios físicos que a sua
prática traz, mas sim que as condições em que a prática é realizada permitam ao
desportista comprometer-se e mobilizar as suas capacidades de tal maneira que essa
experiência proporcione configurar o seu próprio eu e desenvolver a sua
autoestruturarão (Vargas, 1999).
Rossetto et al.(2009) resumem de forma bastante objetiva os principais
objetivos do desporto educacional, muitos dos quais já são citados anteriormente por
outros autores: o resgate dos valores humanos, como amizade, solidariedade e
respeito; a integração do atleta com o ambiente da prática; a construção de regras,
normas e atitudes positivas; a ampliação do desenvolvimento psicomotor, cognitivo e
sócio afetivo e a formação dos cidadãos críticos, participativos e cientes do seu papel
na sociedade.
Na preparação precoce há a necessidade de foco na multilateralidade e na
adequação do treino à idade biológica dos praticantes. Deve entender-se que a idade
biológica é diferente da idade cronológica e, por isso, é importante a existência de uma
avaliação maturacional para que se perceba as diferenças de indivíduo para indivíduo
e para que se possa aplicar os métodos de treino mais adequados para cada jovem
desportista (Castelo, 1998).
Segundo Castelo (1998), todas as componentes de carga (volume, frequência,
densidade, intensidade) devem aumentar gradualmente com a idade de preparação. É
importante construir-se uma base sólida para os rendimentos futuros através de um
adequado desenvolvimento das condições de cargabilidade geral durante as primeiras
fases de formação. Isto para que, mais tarde, seja possível elevar as cargas a níveis
que respondam por aumentos significativos da prestação e minimize o impacto dessas
cargas sobre as estruturas corporais.
Durante a preparação precoce é necessário equacionar um papel de maior
relevância da qualidade dos estímulos, por contraposição a uma tendência em que a
prioridade é atribuída à quantidade de treino. Deve substituir-se a quantidade pela
qualidade (Castelo, 1998).
No decorrer do crescimento do jovem desportista deve encontrar-se uma
consonância entre a carga aplicada e a recuperação, e deve considerar-se a carga
escola/treino (Castelo, 1998).
Antes da puberdade, as prioridades do treino devem voltar-se para a dimensão
informacional – cognitiva e coordenativa – e, após este período, pode então valorizar-
se mais a dimensão condicional – bioenergética e funcional – da atividade desportiva.
No processo de formação de jovens praticantes desportivos a lógica pedagógica deve
sobrepor-se à lógica funcional. Deve haver prioridade no desenvolvimento da
velocidade, das capacidades coordenativas e da mobilidade articular. Os ganhos de
velocidade resultam do desenvolvimento da coordenação motora, ou seja, do
aperfeiçoamento da coordenação entre músculos sinergistas e entre agonistas e
antagonistas. Basicamente, a velocidade é o resultado da melhoria da perceção dos
estímulos e do processamento da informação (Castelo, 1998).
De forma abstrata, as capacidades motoras são consideradas a base de uma
hipotética pirâmide composta por todas as componentes do rendimento e, é por isso,
que representam um papel fundamental no desenvolvimento e crescimento de um
jovem desportista (Castelo, 1998).

Benefícios vs Malefício

Como tudo na vida há um lado bom e um lado menos bom, a especialização


precoce não é exceção à regra. Ou seja, existem alguns pontos positivos e outros nem
tanto dentro deste processo, que em alguns aspetos se convergem.
De acordo com Bento (2006) a especialização precoce pode aumentar os
níveis de autoestima, de segurança e de sociabilidade da criança, afirmando de que os
exercícios físicos e o desporto são fundamentais na importância de um bom
desenvolvimento físico, psíquico e social.
Um outro ponto crucial é o comportamento dos pais que frequentemente
procuram um certo prazer, por meio dos filhos, das suas conquistas desportivas
(vitórias e títulos) que anteriormente os mesmos não obtiveram, por vezes devido à
falta de jeito, oportunidades ou outros motivos (Bento, 2006).
Na mesma linha de raciocínio segue Silva et al. (2001) afirmando que as
razões pelas quais se procura justificar a prática desportiva precoce envolvem as
características do atual sistema desportivo, que exige a procura de êxitos e vitórias
num curto espaço de tempo e as atitudes dos pais em relação ao envolvimento dos
filhos na prática desportiva. E a isto acresce a importância social do desporto, ao lado
de um acentuado aumento na oferta de competições num quadro desportivo cada vez
mais especializado, pois passou a haver novas exigências no que toca à preparação e
à necessidade de participações e especializações cada vez mais precoces.
Os membros da Sportive (1997) reforçam esta ideia ao afirmarem que o
desporto de competição deve ser visto de uma forma positiva, uma vez que
proporciona um desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança e do
adolescente, além de afirmar que a experiência no desporto pode desenvolver a
autoconfiança e estimular o comportamento social. No entanto, os próprios membros
entram em conflito quando afirmam que o treino intensificado com o objetivo de atingir
um desempenho de alto nível não tem justificativa fisiológica nem educacional, muito
pelo contrário, leva frequentemente a uma sobrecarga física e mental durante o treino
e a competição, que por consequência pode-se dar o efeito inverso, o abandono da
prática que dependendo da situação pode ser chamado de Burnout (saturação
desportiva) ou Drop-out (abandono precoce) e crianças com problemas psicológicos.
O Burnout é definido como “um estado de fadiga ou de frustração motivado
pela consagração a uma causa, a um modo de vida, ou a uma relação que não
correspondeu às expetativas” (Freudenberger, 1974).
Aquando surgiram estudos acerca deste acontecimento, como “um estado de
esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida Pessoal”
(Freudenberger, 1974). O autor sugere que o Burnout está diretamente relacionado
com a vida Pessoal, e pode surgir sobre forma de exaustão, quando o individuo
começa a sentir que as expetativas não correspondem à realidade, sendo estas
bastante elevadas para os resultados que está a ter, o que provoca um desconforto
inicial que sentido consecutivamente o leva a um sentimento de frustração, e
posteriormente esgotamento. “Este esgotamento físico e mental surge quando o
trabalhador sente que os seus recursos para lidar com o que cada situação laboral
exige se esgotaram” (Maslach & Schaufeli, 1993).
No contexto desportivo refere-se a uma panóplia de diversos aspetos,
relacionada por uma complexa interação entre vários fatores intensos, entre eles a
recuperação inadequada e frustrações de objetivos, muitas das vezes irrealistas, não
cumpridos. Que, por consequência, o atleta perde a motivação, o prazer, a satisfação,
o interesse pela prática, apresenta uma visão e atitudes no sentido de que o esforço
físico e mental solicitado nos treinos e nas competições não compensa os benefícios
eventualmente acumulados (Coakley, 1992).
Por isto pode-se dizer que o Burnout está diretamente relacionado com fatores
psicofisiológicos, uma vez que apresenta vários estágios de maneira continua sendo o
estádio mais avançado o de abandono (Drop-out). Por conseguinte, é importante
salientar que mesmo que o atleta não abandona a modalidade, o Burnout transgride
para estes uma sensação negativa no desempenho desportivo, psicológico e bem-
estar geral do atleta (Cremades, et al.,2008).
Segundo os autores Silva (2003) e Barros, Ribeiro, Loureiro e Gonçalves
(2006), há a existência de vários tipos de abandono desportivo: dro-pout voluntário:
que se refere à decisão do próprio praticante em não dar continuidade à sua
participação desportiva; drop-out relutante: que surge por fatores não controlados pelo
atleta, tais como a extinção do clube, a mudança da área de residência da família ou
uma lesão e drop-out resistente: que ocorre quando o jovem, desejando continuar a
prática desportiva, é excluído do grupo de atletas selecionados para prosseguir a
formação desportiva.
De acordo com as estatísticas de alguns estudos efetuados, o abandono da
prática desportiva pelos jovens, apesar de constante ao longo do crescimento dos
jovens, torna-se alarmante a partir dos 12 anos de idade (Silva, 2003; Costa, 2008).
Já Oliveira et al.(2007) citado por Santos (2008), estudaram o abandono na
natação e verificaram que 42% dos indivíduos abandonaram nos escalões mais jovens
(juvenis), em júnior 33% e 8% em seniores, prevalecendo o abandono até aos 16 anos
de idade. As motivações para esse abandono seriam: os resultados negativos, a falta
de apoio, as lesões, a falta de conciliação dos estudos com o desporto, a rotina dos
treinos e a falta de integração social (Santos, 2008).
Em relação aos problemas psicológicos que a especialização precoce pode
acarretar para os atletas, por exemplo o stress na competição, que provoca no atleta o
sentimento de medo, insegurança e nervosismo, devido a um ambiente conflituoso por
consequência de uma prática excessivamente competitiva que visa apenas as
conquistas (Santos, 2008).
De acordo com Kunz (1994) os atletas especializados precocemente tendem a
apresentar diminuição de rendimento por causa do excesso de competições
disputadas e para Brito et al. (2004) apenas um reduzido número de atletas que se
iniciam precocemente em competições esportivas conseguem chegar a um estágio
“profissional” da modalidade.
Juntamente com isso o risco de lesões por sobrecarga é maior, pois para uma
melhor obtenção de resultados a curto prazo saltam-se etapas do desenvolvimento
motor e fisiológico das crianças, estas lesões são o resultado de sobrecargas
regulares, que causam microtraumatismos aos tecidos dos membros superiores ou
inferiores, que são submetidos a grandes tensões.
Fisiologicamente as crianças estão mais propicias a lesões por sobrecarga do
que os adultos, uma vez que os tecidos estão em desenvolvimento e a placa de
crescimento, além que o próprio modo de crescimento pode produzir desequilíbrios na
musculatura em torno das articulações, aumentando assim o risco de lesões.
Os microtraumatismos de repetição são normalmente causados pela
sobrecarga e podem estar associados com a subcarga de treino. O aumento da
quantidade ou da intensidade do treino, métodos de treino incorretos e equipamento
inadequado. Técnicos experientes sabem que durante períodos de crescimento
rápido, a intensidade do treino deve ser reduzida e deve de haver uma programação
de exercícios específicos compensatórios a ser introduzidos, a fim da prevenção de
lesões e a meio também de compensar os desequilíbrios musculares. Resumindo o
que foi previamente descrito é que o crescimento por si só é um fator de risco para
lesões de sobrecarga e que há a necessidade de haver uma atenção especial ao
atleta pré-púbere e púbere.
Por vezes a formação escolar do atleta corre risco, uma vez que este se
entrega às exigências do treino especializado, deixando de lado os estudos ou até
mesmo interromper a formação antes do seu término. Marques (1999) discorre que “...
como apoiar os mais jovens no seu percurso para o alto rendimento sem comprometer
a sua educação, limitar a sua personalidade, hipotecar a sua saúde”
Já Bento (2006) indica que existem alguns casos diferenciados, onde a criança
e adolescentes se dedicam tão bem ao desporto assim como em seus estudos.
O desenvolvimento da unilateralização tem a ver com a especialização técnica
de determinadas habilidades específicas (fundamentos) em detrimento de um
desenvolvimento plural, que privilegie a diversificação de movimentos. O autor Gomes
(2002) cita que a especialização ignora o fundamental desenvolvimento multilateral,
contradizendo o desenvolvimento natural do organismo principalmente nas idades
infantis e juvenis. Marques (1999) afirma que a especialização precoce é caracterizada
pela orientação de uma preparação desportiva unilateral, prematura, forçando os
ritmos de desenvolvimento e permitido a sua alta e rápida obtenção de resultados
instantâneos, mas limita o seu progresso subsequente. Esta unilateralidade deveria
ser substituída por uma multilateralidade que trará resultados a longo prazo na
formação geral e educação multivariada do jovem atleta.
Vários investigadores de formação desportiva, ao longo dos anos, tem vindo a
criar propostas na formação desportiva de longo prazo, na qual não só se baseiam no
desenvolvimento das crianças, mas também em que altura existe períodos ótimos de
aprendizagem. Com isto diferentes autores começam a periodizar as diferentes fases
de aprendizagem no futebol: para Heddergot, 1976, Segui, 1981, Boulogne, 1981,
Ferreira e Queirós, 1982, Korcek, 1983, Mladenov, 1984, Ritschard, 1987, cit. Nunes,
2002 fazia mais sentido a iniciação ou preparação global ser desenvolvida entre os 9-
12 anos, a formação ou especialização do futebol entre os 12 e 16 anos e por fim o
alto rendimento a partir dos 18 anos, já para o autor Lima (1988) defende uma
formação desportiva dividida em três etapas: a iniciação dos 8 aos 12 anos de idade,
orientação dos 11 aos 16 e a especialização dos 17 aos 40 anos.
Bompa (2002, cit. Júnior e Korsakas, 2006), com uma ideia mais abrangente
nas idades inferiores apela ao desenvolvimento desportivo multilateral nas fases
iniciais, dividindo na mesma em três estádios: iniciação desportiva (6-10), formação
desportiva (11-14), especialização (15-18). Paes (2006) adianta, identicamente, com
um processo dividido em três fases fortemente interrelacionadas: período inicial,
período intermediário, especialização numa modalidade desportiva. Ainda podemos
constatar uma proposta designada “Formação do Atleta a Longo Prazo”, que divide o
processo em sete fases (Balyi, 2004). Em que podemos observar que a primeira etapa
se estende dos 0 aos 6 anos (Fig.1).
Etapa Idades compreendidas
Inicio ativo 0-6
Etapa dos fundamentos 6-9 (rapazes) / 6-8 (raparigas)
Etapa do aprender a treinar 9-12 (rapazes) / 8-11 (raparigas)
Etapa do treinar para formar 12-15 (rapazes) / 11-15 (raparigas
Etapa do treinar para competir 16-23 (rapazes) / 16-21 (raparigas
Etapa do treinar para ganhar +19 (rapazes) / +18 (raparigas
Vida activa Todas as idades
Figura 1- : Etapas do modelo de formação do atleta a longo prazo

Blázquez (1995, cit. Wein, 2003b), defende que nas primeiras fases de
iniciação desportiva a diversidade e o treino com múltiplos propósitos devem
prevalecer, de modo a proporcionar à criança a experimentação de situações
diferentes, e de ampliar a sua “bagagem motora”. Com isto, na fase percebida entre os
6 e os 12 anos, os atletas devem de ter a possibilidade de experimentar diferentes
jogos desportivos com o intuito de desenvolver habilidades motoras fundamentais
(como o correr, saltar, lançar e entre outras), enfatizando a diversão e a exaltação pelo
desporto. Entre os 13 e os 15 anos, aconselha que se centre numa ou duas
actividades desportivas específicas, provavelmente incitada por experiências positivas
com treinadores, pelo estímulo de colegas mais velhos, sucesso ou pelo simples
prazer. Após os 16 anos, ocorre o empenhamento por uma única actividade.
Os autores Greco e Benda (1998) referem um início da formação dirigido a
uma prática diferenciada em atividades lúdicas, prolongando e diversificando as
habilidades motoras e acionando o desenvolvimento das capacidades físicas de um
modo total. Na passagem para a segunda fase objetivam a prática variada de
diferentes modalidades desportiva, promovendo-se o ensino das técnicas, das táticas
e das regras dos desportos, ainda de um modo geral, baseando-se em jogos pré-
desportivos e formas simplificadas, evoluindo-se posteriormente para estruturas mais
formais. Só numa última fase, verifica-se a especialização numa única modalidade
desportiva, procurando-se o aperfeiçoamento técnico, táctico e físico.

O Papel dos Treinadores Durante a Preparação Desportiva Precoce

Além das funções que a competição deve exercer no contexto infantojuvenil, é


importante considerar as implicações que o exercício da atividade competitiva tem
sobre os seus participantes. Luta, antagonismo, vencer, perder, comparar
rendimentos, prazer, pressão e tensão são fatores oriundos de uma competição. O
equilíbrio entres esses fatores é o grande desafio para os atletas, mas principalmente
para os treinadores (Júnior, 2004). O treinador é o principal responsável pela iniciação,
orientação e especialização dos praticantes e a qualidade da sua intervenção contribui
decisivamente para a existência de uma correta atitude formativo-educativa no
contexto desportivo (Mesquita, 2000).
É importante considerar quais seriam os princípios orientadores da ação dos
técnicos, que são os responsáveis pela formação dos atletas, tanto nos treinos como
nas competições. Mesquita (2000) apresenta os seguintes princípios como
norteadores: os treinadores devem ser apologistas de ações corretas (senso de
justiça, imparcialidade, compreensão, serenidade, tolerância, paciência…); os
treinadores devem fazer com que os objetivos de formação (desenvolvimento de
comportamentos corretos, válidos e conscientes) do treino e da competição durante a
carreira desportiva se sobreponham aos objetivos de rendimento; o objetivo de
participar em competições, além da obtenção de resultados, deve ser contribuir para a
afirmação pessoal, autoafirmação e autossuperação e os praticantes só devem
participar em competições a partir do momento em que possuam habilidade para
responder aos problemas que emergem das mesmas.
Nessa perspetiva, Paccagnella (2003) acrescenta algumas sugestões de como
os treinadores devem tratar a derrota com os seus atletas: deve aprender-se lições a
partir dos erros cometidos nas competições, manter o foco nos motivos e objetivos que
levaram o atleta a competir; enfatizar com o atleta que se ele se esforçou para tentar
alcançar o objetivo ninguém poderá afirmar que ele não é um competidor de sucesso;
elaborar um mecanismo para lidar com situações menos agradáveis para que o
treinador e o atleta saibam como reagir e comportar-se nesses momentos; conhecer
bem os atletas e saber como eles gostam de ser tratados após o insucesso e procurar
garantir que os praticantes continuem determinados, mesmo após uma situação
desagradável.
O treinador desempenha um papel fundamental na preparação desportiva
precoce dos jovens desportistas. Este deve investir numa formação a longo prazo e
não numa formação intensiva, deve ser bastante paciente, e não deve ter como
preocupação os resultados das competições dos seus atletas. Durante a preparação
desportiva precoce o mais importante não são os resultados, mas sim o
desenvolvimento e o crescimento das crianças e jovens. O treinador deve ir
introduzindo a especialização progressivamente e deve manter o desenvolvimento
equilibrado dos seus atletas (Personne, 2001).
O mais importante é que os treinadores consigam inspirar as crianças a manter
a motivação para a prática desportiva e, desta forma, permitir que os seus atletas
mantenham uma autoestima positiva, vivenciem experiências agradáveis, criem
amizades e tenham uma atitude favorável para com um estilo de vida saudável
(Personne, 2001).
O treinador deve assegurar que o jovem mantenha o seu envolvimento na
prática desportiva por razões intrínsecas em vez de razões externas, como sentir-se
obrigado por outros para continuar (Personne, 2001). Para que isso aconteça, o
treinador deve assegurar a conjugação de ingredientes suficientes para motivar os
jovens para a prática desportiva, e, para isso, pode, por exemplo, providenciar
desafios ótimos, maximizar o apoio social ao seu envolvimento, assegurar-se que as
experiências desportivas são divertidas, criar um clima de motivação propício à
atividade e auxiliar os jovens a ajudarem-se a si próprios (Personne, 2001).
Podemos assim concluir que o treinador se revela como um agente decisivo
para um desenvolvimento positivo dos jovens através do desporto.

O Treino e as Suas Possibilidades

Marques & Oliveira (2001), defendem a especialização desportiva quanto a


idade pode ser discutida e vista dependendo das características do desporto que se
escolhe, dos fatores que afetam o desenvolvimento das crianças e jovens e ainda da
sua cultura desportiva dominante.
Apesar da importância da iniciação precoce, a idade ideal não pode ser
definida, devido as diferenças individuais. A participação inadequada de crianças que
apresentam um bom desempenho, mas que não tem capacidades psicológicas a nível
de competição, pode causar danos na sua formação (Ré et al., 2014).
Barbieri et al. (2007), recomenda que se inicie a especialização da criança e
adolescente em que exista uma estrutura na sua maturação psicológica bem
desenvolvida. Contudo não quer com isso dizer que as crianças não devam participar
em competições antes da especialização, mas deve diferir daquilo que são as
competições dos adultos, sendo vista a competição de acordo com que a pratica,
citando Bento (2016) sobre competições para crianças e jovens:
“As crianças precisam obviamente de segurança. Mas isso não substitui,
mesmo numa criança pequena, a sensação e os valores da experiência, da
descoberta e do desdobramento pessoais, associados a insegurança do risco, da
aventura, do desafio, da exigência, do confronto com o desconhecido, com as
barreiras, problemas e conflitos criados no desporto. Não se esqueça que o homem
não nasce livre, nem recebe a liberdade de presente. Conquista-a em muitas e
variadas crises de segurança e identidade, mediante esforço, desconforto e
intranquilidade pessoais”. (p.64)
Uma boa organização das competições destas fases não deve trazer para o
futuro, o resultado de um atleta altamente competitivo que não saiba lidar com as
derrotas por exemplo. Por isso é que as atividades desportivas na infância são
incentivadas, desde que sejam encaminhadas para o melhor aproveitamento das
mesmas, para haver estímulos favoráveis no desenvolvimento do organismo sem
resultados negativos. Assim o objetivo da competição não deve ser para que a criança
seja a melhor do mundo e sim para preparar uma boa capacidade física e psicológica
para quando chegar a fase da especialização desportiva, sempre com o objetivo de
incentivar e criar na criança uma consciência desportiva instituída pela continuação da
prática vivida no desporto (Barbieri et al., 2007).
A formação desportiva de crianças e adolescentes, deve ter como objetivo no
papel dos treinadores não só a parte atlética, mas também a educação (Marques,
2001). Ainda sobre o autor, ele afirma que a especialização precoce no desporto de
alto rendimento não influência nem por o lado negativo nem por o lado positivo, mas
tudo depende objetivo final e do treinador (Marques, 2001).
Segundo Barbieri et al. (2007), o início da prática de futebol e futsal, até
aproximadamente 12 e 13 anos, a iniciação deve ser feita no modo pré-desportivo, em
que o contexto seja a modalidade em si, mas que o iniciante tenha janelas de
oportunidade para desenvolver o seu conjunto de habilidades a nível motor e ganhe
ferramentas para a solução de problemas que possam surgir.
Segundo Paes (2006), na iniciação ao desporto o importante não é o jogo, mas
quem joga, o desporto não deve apenas ser valorizado apenas por os que vencem. O
jogo quando planeado deve ter em atenção características que visem a trabalhar as
capacidades, habilidades, situações psicológicas, emocionais e táticas desenvolvidas
para esse fim. O treino em crianças e jovens que são idênticos aos treinos dos
adultos, no qual se observa um objetivo exagerado no desempenho das suas
capacidades, não que seja errado para idades superiores aos 13 anos, mas em idades
menores que isso não é benéfico, limitando assim a aprendizagem dificultando ainda
assim as suas ações, tornado o movimento estereotipado não sendo desenvolvido as
habilidades por completo.
Segundo Barbieri et al. (2007), quando se fala por exemplo do futebol ou futsal,
após o período acima referido, se for de interesse do atleta já na idade da
adolescência, ter uma especialização na modalidade a nível de posições de jogo, o
atleta anteriormente já passou e adquiriu fases que para o seu futuro lhe vão permitir
garantir habilidades, e características psicológicas, para a sua posição futura.
No entanto os treinadores nas suas equipas terão mais jogadores polivalentes, que no
exemplo do futebol e futsal, no momento do jogo, quando as capacidades estão
adquiridas, os jogadores terão uma resposta para qualquer tipo de situação que possa
ocorrer em determinadas fases, e exercera-la eficazmente. As equipas que mais se
destacam nessas modalidades são aquelas que apresentam mais versatilidade nos
jogadores, não há um modelo sistematizado por apenas os atletas terem um leque de
capacidades mínimas e com essa diversidade nunca se sabe o que se pode esperar
dos jogadores.
Em suma, o método de jogos pré desportivos, e os métodos de aprendizagem
á prática da iniciação pode evitar a especialização precoce e simplifica conhecimentos
das ações motoras e interações psicológicas tendo o iniciante a aprendizagem como
mais duradora e eficaz, como consequência positiva não há um stress de competição
o que leva a não existir também stress nos treinos logo não existira uma quebra da
prática da atividade física.
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