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ESPECIALIZAÇÃO DESPORTIVA PRECOCE

Conquistar medalhas ou conquistar habilidades


motoras abrangentes?

Será que, junto das crianças, os pais e treinadores devem...

- Fomentar, desde cedo, a ideia de se tornarem campeões no futuro?

- Aumentar a carga de treino para treinos diários ou bidiários, desde cedo?

- Impossibilitar que a criança pratique outros desportos para além daquele que ela mais gosta?

- Valorizar as vitórias e as derrotas desde o início?

Ou será que devem...

- Possibilitar um vasto leque de experiências fisicamente ativas?

- Focar-se no progresso em detrimento dos resultados?

- Olhar as vitórias e as derrotas de uma forma saudável?

- ou o aluno durante as competições? t Encorajar o esforço e motivar os jovens?

- Moderar a carga de treino tendo em conta as motivações e a fase de desenvolvimento de cada


criança?

- Passar a mensagem de que, em treino e em competições, a criança deve ter gosto por aquilo que
faz, valorizando a diversão sobretudo em crianças mais novas?

- Divertir-se a ver o filho ou o aluno a treinar e a competir?

O que é a especialização precoce?

Entende-se por treino intensivo precoce (especialização


desportiva) o período onde se adotam programas e métodos de treino
especializados. Nestes períodos, a criança pratica, sistematicamente,
um único tipo de desporto. Implica ainda uma participação em competições regulares,
aprimoramento técnico dos fundamentos, assim como do conhecimento tático e o desenvolvimento
das capacidades físicas direcionadas para o rendimento desportivo. Nesse tipo de treino, a criança é
pressionada a comportar-se como alguém que não é. A criança é um ser espontâneo, criativo e em
formação.

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Quais as consequências de uma especialização precoce?
Infelizmente, muitas são as crianças que iniciaram uma especialização em determinado desporto
demasiado cedo.

- Por um lado, muito provavelmente, acabam por desistir naturalmente do desporto que praticam, na
maior parte das vezes, por saturação e por um crescente desinteresse, noutras vezes, por lesões de
sobrecarga resultantes de uma carga excessiva de treino e/ou de uma falta de preparação física
adequada;

- Por outro, a especialização em determinado desporto pode muitas vezes impossibilitar um adequado
desenvolvimento de competências motoras base que, embora possam não ser muito relevantes em
determinado desporto, poderão comprometer a facilidade e motivação de uma participação
desportiva variada já em idade adulta.

Porque existe a especialização precoce?


Quando existe uma orientação voltada para a busca precoce de resultados imediatos está cada vez
mais distante uma iniciação desportiva adequada. O problema agrava-se quando sabemos que esta
busca pelos resultados, associada à especialização precoce, tende a encontrar muitos adeptos no meio
desportivo.

Porquê? Porque a especialização precoce permite resultados a curto prazo. Significa dizer que o
treinador, que incluir métodos de treino especializados, obterá melhores resultados (a curto prazo).
No entanto, os treinadores devem ver os escalões de formação como um período efetivo de formação
onde os jovens deverão ter experiências que lhes permitam aumentar o seu “dicionário motor”. Uma
adequada formação, e não os resultados desportivos, irão influenciar os resultados futuros, num
período de profissionalização, já em idade adulta. Desvincular o processo de iniciação do treino
precoce e da excessiva competitividade e carga de treino poderá significar não conquistar medalhas,
mas permitirá um desenvolvimento harmonioso da criança e dar-lhe-á as competências base
necessárias e adequadas para mais tarde ter a possibilidade de optar pela profissionalização
desportiva.

O importante conceito de prontidão desportiva


Existem períodos de maturação ideais para determinadas experiências onde o indivíduo estará mais
preparado, permitindo que as experiências fisicamente ativas tragam mais e melhores benefícios, do
ponto de vista do desenvolvimento de determinadas capacidades. O que define a prontidão
desportiva? Equilíbrio entre o nível de crescimento, de desenvolvimento e de maturação e o nível da
exigência competitiva. A criança não estará pronta para competir quando a exigência competitiva for
maior que as características individuais. É neste desequilíbrio que se pode encontrar o grande aspeto
negativo da competição infantojuvenil. Naturalmente, aparecem as consequências, quer de ordem
física, como o aparecimento de lesões que podem mesmo afetar o processo de crescimento e
desenvolvimento, quer de ordem psicológica. A prontidão competitiva inclui componentes físicas,
fisiológicas, psicológicas e sociais.

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É necessário repensar as metodologias de ensino, e adequá-las ao processo de desenvolvimento e
maturação da criança. É igualmente importante saber adequar os materiais e equipamentos
utilizados, tal como os modelos competitivos.

O desenvolvimento humano inicia logo desde quando o bebé já tem seus primeiros sentidos
"ativados". A partir desde momento vive numa constante evolução, onde é na fase da infância que
desenvolverá a sua consciência corporal de forma mais intensa. É nesta evolução da consciência
corporal onde entra o desporto na infância, sendo este um marco na vida de qualquer criança.

O desporto para a criança é normalmente uma relação entre jogos e lazer, entre os quais entra o
treinador que não deverá interferir no desenvolvimento corporal, intelectual e emocional da criança.

Neste contexto, acabam por ocorrer muitas inversões de objetivos quando ocorre a iniciação
desportiva. Muitas vezes acabam por ter como prioridade os objetivos dos treinadores, e por fim os
interesses das crianças, sendo esta realidade prejudicial à criança podendo surgir a especialização
precoce no desporto.

Então o que é a especialização precoce?

Se um atleta vê antecipado o processo de especialização numa qualquer modalidade, sendo levado a


fazer treinos mais duros, executar tarefas mais complexas para as quais não está preparado e fica
sujeito a pressão excessiva, está-se, muitas vezes, perante uma situação de especialização precoce.

Este fenómeno desportivo acaba por acontecer em alturas em que todos tentam ser melhores,
tornando-se num efeito bastante comum no desporto. Muitas vezes, são os próprios atletas que
aceleram o seu desenvolvimento para atingir certas conquistas. Mas isso pode ter várias
consequências.

Aspetos negativos

Há vários autores que defendem que esta especialização traz benefícios para a criança: proporciona o
desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança e desenvolve também a autoconfiança e o
comportamento social da mesma. Mas será que estes aspetos positivos superam os negativos?

Com a especialização precoce, o atleta vai ser sujeito a um aumento da exigência e complexidade do
treino que não está adequada à sua idade ou desenvolvimento dentro da modalidade. Isso colocará o
atleta num outro patamar em relação aos colegas, mas traz diversas consequências negativas, como:

• Lesões

• Desgaste físico, emocional e psicológico

• Incapacidade funcional e cognitiva

• Abandono escolar

• E abandono precoce da prática desportiva

PODE LEVAR AO ABANDONO DA MODALIDADE?

Depois de vários estudos efetuados comprovou-se que a especialização precoce é, muitas vezes,
relacionada ao abandono precoce da prática desportiva. Nestes casos, ou o atleta abandona a
modalidade, mas continua a praticar desporto numa modalidade diferente, ou acaba por abandonar
completamente o desporto e a atividade desportiva.

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O treinador assume muitas vezes um papel importante nesta questão. Ele deve respeitar as etapas de
formação dos atletas e fazer treinos adaptados ao seu nível, respeitando os seus limites físicos,
psicológicos e cognitivos.

Mas nem sempre a especialização precoce é responsabilidade apenas do treinador. Os pais, muitas
vezes na procura de resultados, incentivam os filhos a treinar em casa e ir além das suas capacidades.
Ou o próprio atleta tenta exceder-se fugindo aos limites impostos pelo treinador.

Para finalizar, acreditamos que o desporto de forma geral traz inúmeros benefícios para qualquer
indivíduo, contudo devem ser respeitadas as fases de evolução do mesmo, principalmente as crianças
que estão em processo de evolução corporal, intelectual e comportamental.

É necessário um cuidado acrescido para que não ocorra uma aprendizagem motora limitada, pois a
criança deve ter uma evolução corporal e cognitiva o mais ampla possível.

Uma vez que as crianças não possuem uma personalidade formada, cabe aos pais a sensibilidade de
não sobrecarregar as crianças (estas em processo de evolução), ensinando que muitas vezes os
fracassos se irão sobressair.

Concluímos que é importante haver cada vez mais estudos sobre este assunto, juntamente com a
sensibilização das pessoas envolvidas no desporto que a especialização precoce não é nem deverá ser
uma constante na prática desportiva. A partir deste momento acreditamos que o desporto trará mais
benefícios do que já traz para as crianças que o praticam.

Vídeo sobre especialização precoce

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