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DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
“Que [a filosofia] não é uma ciência prática, é evidente pelos que primeiro
filosofaram. Pois os homens começam e começaram sempre a filosofar
movidos pelo espanto (to thaumázein) [...]. De sorte que, se filosofaram para
fugir da ignorância, é claro que buscavam o saber em vista do conhecimento, e
não em vista de alguma utilidade”.
“De fato, como lemos no final do trecho da Metafísica acima citado, o espanto
admirativo nos faz reconhecer nossa ignorância e desejar fugir dela.”
“[...]embora o desejo de conhecer seja uma tendência natural dos humanos, a
abertura da Metafísica também afirma que a filosofia, nascida do espanto, não é
um impulso espontâneo, mas nasce de uma pressão sobre nossa alma, causada
por uma aporia, isto é, por uma dificuldade que nos parece insolúvel.”
“Assim, o espanto faz com que, de aporia em aporia, os filósofos não cessem 330
de dialogar com o mundo e com as coisas”.
“Encontramos no espanto admirativo, isto é, na aporia e na história das aporias, 331
a primeira razão para que a obra aristotélica se realize como investigação e
exposição de todos os saberes: onde houver uma aporia, há filosofia e por isso
a filosofia concerne à totalidade dos saberes.
A segunda razão para que a filosofia, com Aristóteles, surja como pluralidade e
totalidade dos conhecimentos decorre de sua ideia do que seja o objeto
filosófico por excelência: o ser. Ora, escreve ele no Livro IV da Metafisica: "O
ser se diz de muitas maneiras", isto é, possui muitos sentidos e muitas maneiras
de ser, cabendo à filosofia conhecer todas elas.”
“[...] Por três motivos principais: em primeiro lugar porque o homem tem uma
vontade deliberativa para escolher a ação; em segundo, porque a escolha se
refere ao futuro e este é meramente possível e não necessário; e, em terceiro,
sobretudo, porque o homem é um ser misto, pois é, por natureza, tanto um ser
dotado de vontade racional como um ser que possui apetites, inclinações e
tendências irracionais, podendo por isso haver contrariedade e mesmo
contradição entre o que a vontade quer e o que o apetite incita ou excita, sem
que se possa determinar de antemão qual deles será mais forte e qual será o
efeito da ação.”
O que é o desejo (órexis, se movido por algo exterior; hormé, se impulsionado 444
do interior)? É nossa inclinação natural para buscar o prazer e fugir da dor,
[....], o desejo é a marca de nossa passividade, realizando movimentos internos
à nossa alma e movimentos internos e externos ao nosso corpo para obter o que
causa prazer e afastar o que causa dor. É a paixão, o páthos*. [...] A paixão é
um acidente, pois as categorias se dividem em dois grandes grupos: a
substância e os acidentes ou predicados atribuídos a ela, entre os quais se
encontram a paixão e a ação. Ora, uma paixão é um acidente ou um predicado
que tem a peculiaridade de ser sempre contingente.”
“A presença da paixão como um elemento essencial da ação moral faz com que
a tarefa da ética seja educar nosso desejo para que não se tome vício e colabore
com a ação feita por meio da virtude. Em outras palavras, Aristóteles não
expulsa a afetividade, mas busca os meios pelos quais o desejo passional se
torne desejo virtuoso.”
“O desejo é uma inclinação natural, uma propensão interna de nosso ser. [...] 445
Caráter ou índole, em grego, se diz éthos* e por isso a ética se refere ao estudo
do caráter para determinar como pode tornar-se virtuoso.”
“Além disso, explica Aristóteles, não deliberamos sobre os fins, mas sobre os
meios, isto é, deliberamos em vista do fim e não sobre o fim, pois este é o
objeto do desejo que o concebe como um bem.”
“A escolha é um desejo deliberado sobre o que está em nosso poder, e não um 450
desejo passional, que busca o impossível ou segue a necessidade natural.”
“O silogismo prático permite introduzir um conceito a que ainda não nos 451
havíamos referido, o de akrasía, a incontinência ou a impotência para governar
-se a si mesmo, a fraqueza da vontade e a força do apetite.”
“Como Aristóteles a explica? A akrasía é o poder do páthos sobre a vontade. 452
Estamos agora em condições de distinguir páthos e areté, paixão e virtude. A
paixão se move na contingência; é por ela que somos postos diante dos
contrários e é por ela que somos colocados diante de possíveis sobre os quais
ela não tem poder nenhum. [...] A razão é uma paixão refletida, contida,
subordinada a um fim pensado" (M. Meyer, "Posface", 1989, pp. 150-1). A
paixão exprime a diferença no interior do sujeito, dividindo-o em inclinações
contrárias, enquanto a virtude exprime sua identidade, sua natureza íntegra e
sua excelência. Por isso mesmo, a classificação aristotélica das virtudes
consiste em apanhar uma paixão, situar seus extremos contrários e definir a
medida racional que está conforme à natureza do agente, pois este é, antes de
tudo e sobretudo, um ser racional.”
“Quanto à prudência, poderíamos apreender [o que ela é] considerando quais 454
homens qualificamos de prudentes. É nossa opinião que é prudente aquele que
é capaz de bem deliberar sobre as coisas boas e úteis para si, [...]A prudência
não é nem ciência nem arte. Não é uma ciência porque o objeto do agir pode
ser diferentemente do que ele é; não é uma arte porque agir e fabricar são
diferentes quanto ao gênero. A prudência é uma disposição prática, estável e
razoável concernente às coisas boas e más para o homem.”
“Ora, há uma virtude ética que diz respeito diretamente à lei: a justiça. "O justo
é o que é conforme à lei e respeita a equidade; o injusto é o que viola a lei e a
falta à equidade"