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Este artigo tem por objetivo analisar como a literatura tem tratado os efeitos do
treinamento desportivo em crianças que estão em idade escolar. Por muito tempo
acreditou-se que o treinamento em crianças teria efeito precoce e que poderia afetar
negativamente o desenvolvimento fisiológico das mesmas em algumas modalidades
esportivas. Também era consenso que o treinamento desportivo com intuito de
rendimento no esporte seria prejudicial e menos prazeroso para a criança, causando
frustações futuramente. Para o presente estudo foram selecionados 16 artigos publicados
nos últimos cinco anos e presentes nas principais bases de dados da literatura científica:
Scielo e Google Acadêmico. A visão dos autores sobre o tema é consensual de que o
treinamento desportivo para crianças em idade escolar é benéfico desde que seja utilizada
uma abordagem pedagógica condizente com as fases de desenvolvimento das mesmas,
pois além de prepará-los para desafios futuros, o mesmo é capaz de melhorar indicativos
de saúde e manter o engajamento em esportes, por mais tempo, nas demais fases da vida.
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
GUIZZARDI, et. Al. (2021) conclui que é necessário atentar para as armadilhas
que o esporte de rendimento pode oferecer, como a exclusão dos menos habilidosos, ao
consumo de produtos esportivos de forma alienada ou somente o ensino da técnica.
Segundo o autor é importante ter uma melhor compreensão do papel do esporte.
“os professores devem compreender o papel do esporte não apenas na
execução técnica de movimentos, mas em questões importantes como
fatores emocionais, culturais, sociais, ou seja, o desenvolvimento
humano do indivíduo como um todo, bem como permitir a integração
entre alunos” (GUIZZARDI, et. Al., 2021, p. 204).
Nesta perspectiva, o autor demonstra estar alinhado com as ideias pedagógicas crítico
superadoras e alerta para a ideia do treinamento como ferramenta complementar e não
definitiva na iniciação esportiva.
Corroborando com o estudo anterior, SANTOS, et. Al. (2020) relata que as
reflexões e a prática sobre o esporte devem levar ao entendimento a vasta perspectiva
histórico - crítica, onde a busca dos gestos esportivos performáticos não sejam o essencial
na ação educativa. Pois, um elemento tão rico em significados, não deveria ser colocado
em um plano tão reduzido. Nesta perspectiva, o autor demonstra uma preocupação com
o modelo de iniciação esportiva e de treinamento em que o gesto motor é supervalorizado
em detrimento de outros quando se trata de uma ação educativa.
O mesmo defende que o esporte deve ser apresentado numa perspectiva
educacional em sua totalidade, uma vez que, “precisamos desenvolver os conteúdos – da
educação física - numa perspectiva educacional para a formação crítica do indivíduo,
como agente transformador do meio, e não apenas, um ser passivo, neutro, desprovido de
criticidade, incapaz de transformar o meio do qual está inserido”.
Em um estudo que em que os autores confrontam as percepções do profissional
de educação física com sua pesquisa bibliográfica de revisão, BAIRROS & ANTUNES
(2020, p. 21) relata que foi possível observar uma proximidade entre as ideias repassadas
pelo profissional entrevistado e as ideias apresentadas através da pesquisa bibliográfica
realizada. Nesta perspectiva,
“ficou claro que a iniciação esportiva deve ser tratada como um período
de formação da mentalidade crítica, do caráter e do desenvolvimento de
variados tipos de movimentos da criança ou adolescente, a fim de evitar
a especialização esportiva precoce e possíveis lesões que afetem o
amadurecimento do mesmo” (BAIRROS & ANTUNES, 2020, p. 21).
Para concluir o autor reforça a importância do papel dos pais no processo de
iniciação esportiva, uma vez que, fica evidente a importância dos pais durante esse
processo de desenvolvimento da criança que podem contribuir de forma positiva ou
negativa.
Em um estudo recente, NASCIMENTO & FERNANDES (2023) chama a atenção
para o problema da iniciação esportiva em crianças e aponta que existem malefícios
relacionados aos métodos empregados neste processo.
“A especialização esportiva precoce causa inúmeras
consequências negativas em crianças que são submetidas a esse tipo de
treinamento. Treinos excessivos, falta de variedades de métodos de
ensino-treino, vivência de apenas um esporte e busca exagerada pela
vitória são características da Especialização Esportiva Precoce e estão
presentes na vida de várias crianças que praticam esportes”
(NASCIMENTO & FERNANDES, 2023, p. 152).
O mesmo autor defende que esses malefícios estão relacionados com as
metodologias empregadas ao ensinar os esportes para as crianças e não à prática das
modalidades em si, pois como foi apresentado, o esporte bem orientado proporciona
diversos benefícios para esses indivíduos.
Para concluir o estudo, o autor aponta a necessidade de se levar em conta fatores
relacionados ao desenvolvimento da criança corroborando com os demais autores que
compartilham ideias da pedagogia crítico superadora e utilizam o esporte como
ferramenta educativa e não apenas um fim em si mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto este estudo de revisão que teve como base outros trabalhos de
revisão sobre o tema abordado considera que o treinamento desportivo e seus princípios
são evidentemente conhecidos e apreciados pelos profissionais, porém há algumas
controvérsias quando se trata da aplicabilidade para o público infantojuvenil. A maioria
dos estudos conferem uma necessidade de se levar em conta aspectos psicológicos
relacionados à aprendizagem das crianças.
Também fica evidente que muitos destes autores, dentro dos estudos apresentados,
tomam como base teorias de aprendizagem da educação que se baseiam em fases de
desenvolvimento humano para aplicação do conteúdo. Nesta perspectiva, o conteúdo
esporte aparece com uma problemática referente ao momento certo de ser direcionado à
criança e quais as consequências disto.
O que fica evidente é que há um consenso sobre a necessidade de se prezar pela
motivação da criança, que para os autores deve se distanciar da mera repetição do gesto
esportivo no treinamento, priorizando modelos que utilizem a ludicidade e assim
contribuindo para o desenvolvimento psicossocial da criança.
Há que se considerar que após a abordagem crítico-superadora na educação física
tomar forma, houve um contraponto ao modelo de treinamento há época e que ainda é
criticado e depreciado nos estudos mais recentes. Nesta perspectiva, nota-se uma aparente
resistência à mudanças de paradigma no que diz respeito à iniciação esportiva.
Faz se necessário estudos posteriores sobre o tema para entender como ocorre o
processo de iniciação esportiva atualmente e verificar como este processo tem sido
executado em termos de treinamento, atualmente.
REFERÊNCIAS
SANTOS, F., Et. Al. Riscos e benefícios da especialização esportiva precoce: um estudo
de revisão. 10.37885/211206875. (2022). Disponível em
https://downloads.editoracientifica.org/articles/211206875.pdf Último acesso: Junho
2023.
SANTOS, et. AL. A influência da instituição esportiva na educação física escolar: uma
revisão de literatura. ISSN: 2763-5724 Vol. 01 - n 05 - ano 2021 Editora Acadêmica
Periódicos. Disponível em: <
https://www.periodicojs.com.br/index.php/hs/article/view/489/356> Último acesso:
junho 2023.