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EDUCAÇÃO FÍSICA

ESPORTE ESCOLAR E SUAS CARACTERÍSTICAS


Kunz 1994 “assim como nas outras áreas da educação, a Educação Física (EFI) não deve ser
praticada de modo automatizado e, sim, criativo, que leve algo a mais do que resultado de vitórias ou
derrotas. Leve uma aprendizagem”.
Vago 2001 “sugere a problematização do esporte como fenômeno sociocultural, a partir do confronto
dos valores e códigos que o fazem excludente ou seletivo, com valores e códigos que privilegiem a
participação, o respeito, a corporeidade, o coletivo e o lúdico”. A escola é lugar para se resgatar
valores que privilegiam o fazer com o companheiro e não contra o adversário. Assim, o esporte da
escola tem um grande papel além da prática de atividades, ele é formador de valores.
A primeira vista parece que a melhor decisão é excluir a competição do processo pedagógico. Porém,
ignorar a competição e excluí-la do processo educativo constitui um grande erro pedagógico. Seria
muita ignorância excluir a competição numa sociedade que a mantém em sua mais dura face. Assim
como o esporte é um instrumento da EFI, a competição deve ser um instrumento do esporte, ou seja,
um recurso didático usado para um determinado fim. O professor deverá saber como dosar o
conteúdo, embasado no seu conhecimento e no vínculo que possuí com cada criança que educa.

ESPORTE DA ESCOLA OU NA ESCOLA?


Segundo Bracht, “a EFI tem seu papel no processo de socialização. E, socialização é uma forma de
controle social, pela adaptação do praticante aos valores e normas dominantes como condição
alegada para a funcionalidade e desenvolvimento da sociedade”. Percebe-se que, assim como as
outras disciplinas, a EFI tem seu papel na construção de valores e códigos que permeiam a
sociedade. Bracht ainda coloca que “... realmente o esporte educa. Mas, educação aqui, significa levar
o indivíduo a internalizar valores, normas de comportamento, que possibilitarão adaptar-se à
sociedade capitalista. Educação que leva ao comportamento e não ao conhecimento”. É com essa
afirmação que percebemos o que pode nos dizer essas duas terminologias: esporte na escola e
esporte da escola. O esporte da escola se caracteriza por um esporte de rendimento, de treinamento,
baseado no esporte olímpico, injetado na escola por uma cultura dominante, televisiva e
mercadológica. (Rita 2004). Como isso se dá na prática? Desenvolvem-se modalidades esportivas
mais conhecidas como futebol e, no máximo vôlei; privilegia como conhecimento de determinadas
modalidades esportivas, exclusivamente a execução técnica e tática dos seus fundamentos; reforça a
idéia de ascensão social através do esporte; “sobe essa característica cabe uma análise: vivemos em
um país de população predominantemente, na linha da pobreza e, por isso, com muitas dificuldades
de ascensão social pela educação. O esporte acaba sendo visto como uma possibilidade imediata
para se” dar bem na vida “tanto, filhos como a família”. Além dessas, outras características como
reforço do individualismo e privilégio das atividades repetitivas e mecânicas. Os PCNs para a área de
Educação Física escolar trazem três aspectos que evidenciam as característics básicas do esporte na
escola: o da inclusão, que sistematiza objetivos, conteúdos, processos de ensino-aprendizagem e de
avaliação com o intuito de inserir o aluno na cultura corporal de movimento; o da diversidade, mais
aplicado à construção dos processos de ensino e aprendizagem, assim como uma orientação da
escolha de objetivos e de conteúdos, visando a ampliar as relações entre os conhecimentos da cultura
corporal de movimento e os sujeitos da aprendizagem. Por último, as categorias de conteúdos
(conceitual, atitudinal e procedimental) (BRASIL, 1998).
Elenor Kunz: “É uma irresponsabilidade pedagógica trabalhar o esporte na escola que tem por
conseqüências provocar vivências de sucesso para uma minoria, e vivência de insucesso ou fracasso
para a maioria”.
Em contraposição, o esporte na escola privilegia a manifestação cultural e coletiva, própria de cada
comunidade e carrega a perspectiva da autonomia. Trabalha-se com os aspectos de cooperação e
coletivismo, onde nos sensibiliza para a percepção de que a sociedade é construída a partir dos
relacionamentos e dependências com os outros indivíduos que nela coexistem. E que isso, dar valor
ao outro, é atuar com inteligência e estratégia na construção de uma sociedade construtiva e pacífica.
Também encaminha as crianças para uma prática prazerosa sem se furtas às competições
pedagógicas. Pode-se aliar técnica, disciplina e estudo rigoroso sobre determinada atividade. A partir
daí, o esporte na escola contribui para se identificar os talentos às mais variadas modalidades e
encaminhá-la aos clubes de competição.
ENTRE O RENDIMENTO ESPORTIVO E O RENDIMENTO HUMANO

O esporte chamado de alto rendimento é um tipo de prática que pode se relacionar ao esporte
espetáculo, protagonizado pelo atleta profissional, ou ainda, a um tipo de atividade esportiva que não
é necessariamente remunerada, mas que exige do praticante dedicação e rendimento que superam
uma prática de tempo livre ou amadora.

É nesse contexto que a Psicologia do Esporte tem se apresentado com maior publicidade, levando-a a
ser confundida tão somente com essa perspectiva. Isso porque, em busca do rendimento máximo de
um atleta individualmente ou de uma equipe esportiva são procuradas as variáveis que podem
interferir em sua performance, permitindo que a vitória seja alcançada, objetivo final de toda e
qualquer equipe esportiva e comissão técnica.

Na busca desse objetivo estão implicados valores próprios da sociedade atual como o trabalho
alienante onde o corpo é usado e manipulado pelo próprio atleta e pela comissão técnica para
alcançar o rendimento máximo, em um curto espaço de tempo, atendendo aos interesses que
gravitam no entorno do espetáculo como a venda de produtos ou a imagem do patrocinador. Na
concretização desse intuito está implicada a realização integral do potencial físico e emocional do
protagonista do espetáculo esportivo, tendo aqui o psicólogo um papel determinante, uma vez que o
rendimento máximo pode estar associado às habilidades e características inerentes do atleta, ou em
outra direção na busca desse maximizador em componentes externos como o apoio social ou o uso
de substâncias proibidas.

Mas o praticante da atividade esportiva pode fazer outra opção, originalmente associada ao esporte,
que é a superação do próprio limite. Ao conceito que pautava essa prática era dado o nome de areté
equivalente ao latino virtus que representava hombridade, valor. No sentido cavalheiresco da palavra
estava expresso o conjunto de qualidades que fazem do homem um herói, e a vitória seria a
confirmação desse valor. A areté seria, portanto a afirmação da condição pessoal daquele que pratica
e vence um desafio, sua realização é a luta contra tudo que tente impedi-la. Essa busca não
representa um individualismo egoísta que cifra ideais de amor a si mesmo, senão na busca incessante
pelo absoluto da beleza e do valor. Daí a atitude de agradecimento do atleta vencedor de provas
atléticas a seus oponentes. Mais do que tê-los como inimigos, o atleta que praticava a areté via no
adversário o parâmetro para a realização do seu próprio limite e não alguém a ser superado, vencido e
humilhado. O outro era o referencial para a superação de si mesmo.

Ainda que esses valores tenham sido a referência para a reedição dos Jogos Olímpicos da Era
Moderna e para a institucionalização do esporte contemporâneo, parte deles foi perdido ao longo do
século XX ou substituído por apêndices incorporados às novas necessidades desse grande universo.
Entretanto, a perda do referencial humano para as instituições esportivas de uma maneira geral não
pode representar a tônica para a atuação do psicólogo nesse contexto.

Cagigal (1996) entendia que psicologia para o esporte significava a psicologia com todo o seu
universo de estudos, experimentos e práticas, postos a serviço desse fenômeno pessoal e social que
entendemos por esporte. A partir dessa perspectiva os estudos desenvolvidos buscariam enfocar o ser
humano para que quando ele praticasse esporte, rendesse mais. Muitas foram as investigações
produzidas nesse sentido que, aliás, andavam próximas de todos os sistemas psicológicos que tinham
por objetivo melhorar rendimentos humanos. Nessa linha de raciocínio humanista Cagigal (1996)
propunha a psicologia do esporte para o ser humano, cuja proposta era estudar o esporte como feito
humano. Ou seja, mais do que se preocupar com rendimento esportivo atendia a uma melhora do ser
humano por meio do esporte. E aqui o esporte seria um instrumento, um meio para o ser humano
descobrir e desenvolver suas potencialidades e habilidades. Na primeira concepção, onde o esporte
aparece como um fim imediato, a responsabilidade do técnico e outros profissionais seria buscar e
obter o maior rendimento.
ESCOLA MUNICIPAL ANITA CHACON
São Bento do Norte/RN, em de Maio de 2021.
DISCIPLINA: Educação Física 9° ANO
PROFESSOR: Flávio Martins
ALUNO (A): ________________________________ N°_____

Exercícios
Embasado pelo texto acima, responda os exercícios a seguir.

1. São características dos princípios e valores próprios do esporte de rendimento (ER) e do


esporte escolar (EE):
a) ER: Formação de atletas; regras ditadas pelas federações; exclusão de muitos e ênfase na
vitória. EE: Formação do aluno/cidadão; regras adaptadas pelos alunos; inclusão de todos e
ênfase no processo.
b) ER: Formação de atletas; regras adaptadas pelos alunos; exclusão de muitos e ênfase no
processo. EE: Formação do aluno/cidadão; regras ditadas pelas federações; inclusão de todos
e ênfase na vitória.
c) ER: Formação do aluno/cidadão; regras ditadas pelas federações; inclusão de todos e ênfase
no processo. EE: Formação de atleta; regras adaptadas pelos alunos; exclusão de muitos e
ênfase na vitória.
d) ER:Formação do aluno/cidadão; regras adaptadas pelos alunos; exclusão de muitos e ênfase
na vitória. EE: Formação de atletas; regras ditadas pelas federações; inclusão de todos e
ênfase no processo.
2. Qual a relação entre esporte escolar e esporte de rendimento?

3. Comente a cerca da influência do exercício físico e do esporte no rendimento escolar?

4. O esporte geralmente é selecionado como conteúdo nas aulas de Educação Física,


porque possibilita o exercício do alto rendimento e, por isso, as modalidades esportivas
selecionadas são geralmente as mais conhecidas e desfrutam de prestígio social no
contexto escolar no ensino médio. Sobre esta realidade é possível afirmar:
a) O esporte, nas aulas de Educação Física, deve ser o conteúdo principal a ser desenvolvido,
sendo contextualizado numa perspectiva crítica e participativa. Quanto mais diversificadas
forem as modalidades esportivas desenvolvidas na escola, maiores serão as possibilidades de
os estudantes participarem dos campeonatos esportivos.
b) O esporte na escola precisa ser uma cópia do esporte de rendimento, tal como predomina na
sociedade, contemplando, além dos aspectos lúdicos, momentos nos quais seja possível
apreender a leitura técnica e tática.
c) O esporte, nas aulas de Educação Física, deve ser tematizado de forma ampla e lúdica, sendo
contextualizado numa perspectiva crítica e participativa. Quanto mais diversificadas forem as
modalidades esportivas desenvolvidas na escola, maior será o número de alternativas voltadas
para os praticantes.
d) Nas aulas de Educação Física, o professor deve abordar pedagogicamente temas relacionados
ao esporte de rendimento, a fim de que o aluno faça uma leitura desse fenômeno sociocultural
de forma abrangente e experimente práticas da competitividade de forma exacerbada, com a
utilização de regras rígidas, movimentos padronizados, produtividade e vitória.
e) No ensino do esporte na escola, há que se apropriar da pedagogia do jogo, em que o professor
poderá utilizar como estratégia metodológica a adaptação das regras para que os alunos se
apropriem dos conhecimentos do esporte de rendimento no ato de jogar, de forma que todos
possam realmente ser incluídos e possam jogar.

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