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Prematuridade no esporte relacionada a criação de atletas profissionais de alto rendimento

A iniciação prematura das crianças ao esporte de ‘’alto rendimento’’ pode trazer malefícios e
isto pode ser facilmente observado através do grande número de competições desportivas,
envolvendo crianças e adolescentes de diversas faixas etárias, quer a nível escolar, quer a nível
de federações ou clubes. A exacerbação da importância do rendimento, neste caso atlético,
tem contribuído para que, cada vez mais e com maior frequência, crianças e adolescentes
deixem de aproveitar os aspectos lúdico e saudável de uma prática desportiva regular
descompromissada, considerada por muitos como desperdício de tempo, e se voltem para
uma atividade que lhes traga algum retorno, como medalhas, reconhecimento, status etc.

E é essa necessidade de obtenção de retorno que faz com que as necessidades e limitações
dos jovens atletas sejam ignoradas, ante um trabalho planejado e sistemático de
desenvolvimento de suas melhores qualidades físicas e técnicas, favorecendo a especialização
esportiva precoce.

Na realidade, a especialização esportiva precoce nada mais é que a antecipação de etapas no


desenvolvimento da criança, e é reconhecidamente responsável por um de ocorrências
nefastas (ruins) à sua saúde física, social e mental, em virtude de sua busca por resultados
imediatos. Apesar de inúmeros estudos e pesquisas acerca deste assunto terem chegado à
esta conclusão, e não obstante o fato de ser veemente condenada e contraindicada a prática
esportiva por criança, o discurso teórico tem-se apresentado consideravelmente dissociado da
realidade da prática aonde pais e técnicos sobrecarregam as acrianças.

A especialização gestual e tática prematuras, há indícios de que parte dos pais e treinadores
cobrando desempenho atlético/resultados das crianças na participação em competições,
ressaltando que a participação de jovens sul-americanos em equipes menores de futebol é
estressante, pois significa enfrentar exigências de ser titular da equipe, ter que atuar bem
durante o período que integram a categoria e ter de vencer o campeonato. A especialização
esportiva precoce culmina, quase sempre, com o abandono prematuro da prática esportiva,
fenômeno conhecido como burnout ou esgotamento por exemplo, verificaram que a
intensidade nos treinamentos, a pressão dos pais para obter bons resultados e a cobrança
excessiva do técnico, entre outros fatores, constituem-se em possíveis motivos intervenientes
no abandono do futsal entre adolescentes.

Se, por um lado, o treinamento especializado precoce permite bons resultados na infância e
adolescência por outro lado reduziria as chances de se alcançar resultados na maturidade.
Reporta que jovens submetidos àquele tendem a não atingir, no alto rendimento, o
desempenho prognosticado; que o tempo de atividade esportiva nesse âmbito se torna menor
e que muitos, em função das exigências, sequer chegam a essa fase. Segundo essa linha de
raciocínio, o treinamento especializado precoce prejudicaria o rendimento futuro do
esportista.

Estudos mostram que 62,97% que jogadores profissionais iniciaram no treinamento da


modalidade a partir dos 10 anos de idade. Sabe-se que crianças a partir dos 10 anos se
encontrariam na melhor fase para aprender movimentos e teriam maior capacidade de
concentração é o período em que as habilidades motoras poderiam ser aplicadas num
contexto mais definido é quando a cooperação se encontraria crescente facilitando as trocas
sociais, elementares quando se trata de jogar coletivamente.
Embora 44, 32% dos atletas tenham se iniciado em competições federadas antes de uma idade
recomendada e pertençam ao esporte de alto rendimento, isso deveria preocupar pais,
treinadores e dirigentes, pois entre os possíveis efeitos indesejados da competição exacerbada
encontra-se o estresse competitivo (PERSONNE, 2005), que se origina em função de o sujeito
sentir-se ameaçado frente às exigências da tarefa a ser realizada. Portanto, o estresse não
estaria relacionado ao tipo de competição (se federada ou nãofederada), mas sim à
competência de quem joga para atender às demandas do ambiente. Significa dizer que pode
haver crianças que deem conta de atender às exigências técnicotáticas (gestualcognitivas) do
jogo de futsal. Porém, há outras demandas ambientais, como, por exemplo, as emocionais,
que têm como fontes o treinador e a família, para as quais as crianças não estejam preparadas.
Para este autor, as crianças reagem diferentemente na percepção das competições nas quais
se envolvem. As que reagem com alta intensidade parece ser especialmente sensíveis ao medo
de falhar nas ações esportivas. As mais ansiosas tendem a se preocupar com a avaliação de
pessoas significativas para elas, como treinadores, pais e colegas.

Crianças submetidas ao longo de temporadas à excessiva competitividade podem, em função


das críticas e cobranças exageradas, sentirem-se abaladas emocionalmente, inseguras e com
medo de errar. Constataram, entre crianças futebolistas de 11 e 12 anos, que a maior parte se
“sente mal” e “triste” quando é criticada pela torcida familiar em seus jogos, presenciados,
sobretudo, pelo pai. Também que, em alguns casos, sequer gostam que a torcida os assista,
pois ficam “gritando” e “falando muito”, apontam que a ênfase exagerada na vitória e o
excesso de pressões por parte dos pais e dos técnicos constituem-se fatores alegados por
crianças para o abandono da prática esportiva, fruto do esgotamento para o pensamento
abstrato, que é essencial para o aprendizado tático. Além disso, desde que as experiências
anteriores sejam suficientes.

Quando a criança atinge seus 10 anos de idade libertar-se da sua fase anárquica, pautada na
aglomeração dos jogadores em torno da bola, penetrando o nível descentrado, quando os
jogadores ocupam o espaço de forma mais racional.

Os dados do presente estudo podem contribuir para confrontar o mito sustentado por parte
dos pais de crianças praticantes dessa modalidade e dos treinadores de categorias menores,
de que apenas o início precoce no treino e em competições muito exigentes pode preparar
suficientemente bem os iniciantes e lhes garantir o acesso ao alto rendimento. Na prática,
constatou-se que a maior parte dos atletas investigados não participou das primeiras
categorias (sub07 e sub09) e não competiu em âmbito federado antes dos 12 anos de idade

Riscos musculoesqueléticos da prática esportiva em crianças

Uma vez que uma criança tenha atendidas as suas necessidades básicas de alimentação e
saúde, a atividade física regular constitui-se em importante aliado ao seu desenvolvimento e
crescimento. A atividade física provoca o rompimento do equilíbrio orgânico interno,
denominado homeostase, forçando-o a adaptar-se e produzindo, com isso, modificações,
perceptíveis ou não.

A prática da atividade física tem representado o maior e melhor meio de formação de crianças
e adolescentes, ressalvados os abusos que interferem nos processos de seu crescimento e
desenvolvimento em geral, por se constituírem em organismos que estão em transformação,
necessitam do movimento proporcionado pela atividade física ou pelo esporte, desde que
respeitadas suas características individuais.
A movimentação constante que envolve a prática de uma atividade física, ou desportiva, atua
diretamente sobre os sistemas muscular e esquelético. Sendo assim, há sempre que se
considerar a possibilidade de lesões, de maior ou menor gravidade, em decorrência de
choques ou traumatismos, essa mesma movimentação provoca o desenvolvimento dos grupos
musculares envolvidos na atividade praticada, podendo dar origem a desarmonias anatômicas
simétricas

Uma vez que o crescimento ósseo é maior antes da puberdade, após o que se segue o
crescimento muscular, devem ser evitadas atividades, ou exercícios, que possam causar
traumatismos que originarão micro hemorragias, com degeneração parcial do núcleo
epifisário, ou seja o osso, iniciando o processo de uma futura osteocondropatia; atividades ou
exercícios que provoquem o aumento de volume e tonicidade musculares, para não causar um
aumento na pressão sobre as cartilagens epifisárias e, com isso, causar obstáculos ao
alongamento normal dos ossos.

Deve-se respeitar o limite biológico individual e de intensidade das pressões a serem aplicadas
sobre as epífises, sob pena de, ao invés de estimular o crescimento. O crescimento muscular
que, por sua vez, costuma ocorrer após a puberdade, não é acompanhado pelo sistema
nervoso; daí o fato de se verificar uma descoordenação muscular, típica desta fase, traduzida
por imprecisão e lentidão de movimentos, que se tornam dirigidos e mais fatigantes. Esta e
outras alterações a que é submetido o jovem nesta fase, denotam a importância de se evitar
um trabalho físico intenso, até em consideração à instabilidade emocional por que passa nesta
etapa, o que acarretaria um dispêndio de energia, grande consumo e desgaste da estrutura
proteica, que poderia contribuir para influenciar negativamente seu desenvolvimento

Constata-se que as modalidades que exigem alto grau de automatização e perfeição em seus
movimentos são aquelas que apresentam maior incidência de problemas ósseos, articulares,
musculares e cardíacos. Isto decorre do alto número de repetições de gestos técnicos
necessários à prática desportiva em questão, da similitude dos gestos, e do impacto
decorrente de sua execução.

Mas os riscos não se limitam apenas à esfera ósteo-articular. Uma vez que a prática desportiva
competitiva implica em treinamentos físicos e técnicos relativos a cada modalidade, nem
sempre o respeito aos limites e necessidades fisiológicas da criança tem sido observado. Tais
treinamentos, frequentemente, tendem a enfatizar o trabalho anaeróbico lático, responsável
pela hipertrofia precoce da musculatura cardíaca na criança. Esta hipertrofia costuma ser
responsável por limitar o potencial físico máximo da criança, além de predispô-la a uma futura
hipertensão arterial

Quando observamos a musculatura da criança nesta fase se apresente um pouco


desenvolvida, suas possibilidades de força ainda são mínimas, principalmente em virtude da
grande maleabilidade óssea e a nível das cartilagens articulares, que se encontram em
processo de evolução. É uma fase em que se desaconselha qualquer tipo de atividade que
provoque hipertrofia muscular exagerada, sob o risco de se verificarem arrancamentos ósseos
(em virtude de contrações musculares mais pronunciadas)
Principais doenças relacionadas a atividades esportiva excessiva

Apofisites: Por força da sua imaturidade esquelética, em comparação com os adultos, os


atletas jovens podem apresentar lesões nas placas de crescimento (fises), epífises e apófises.
Esta última, em particular, constitui um tipo de lesão de sobrecarga característico dos
desportistas de elite que se encontram em fase de desenvolvimento musculoesquelético.

As apófises são locais de inserção dos tendões/músculos no osso em crescimento e que, nos
jovens atletas, formam um centro de ossificação secundária, constituído por fibrocartilagem. O
desfasamento entre o desenvolvimento do sistema esquelético e de sistema músculo
tendinoso, associado à relativa fragilidade destas inserções e ao constante impacto de forças
de tração, fazem das apófises um local comum de lesão.

Estes microtraumatismos são passíveis de provocar inflamação e irritação das mesmas,


originando as apofisites, que posteriormente poderão resultar em fraturas ósseas por avulsão.
As apofisites, em geral, são condições autolimitadas e que resolvem com a fusão do centro de
ossificação. Por isso, o tratamento é habitualmente conservador, com exceção dos casos mais
graves, em que pode ser necessário o recurso a cirurgia.

Os exemplos mais comummente observados deste tipo de lesões são a Doença de Osgood-
Schlatter, a Doença de Sinding-Larsen-Johansson e Doença de Sever.

Doença de Osgood-Schlatter: A Doença de Osgood-Schlatter é a lesão de sobrecarga mais


comum entre os jovens atletas. Consiste numa apofisite do tubérculo tibial resultante de
forças de tração provocadas pelas contrações repetitivas do músculo quadríceps.

Habitualmente surge entre os 11 e os 15 anos de idade, sendo mais comum entre os


praticantes masculinos de atividades desportivas que envolvem corrida, saltos, rápidas
mudanças de direção ou remates. Em 30% dos casos é bilateral. Clinicamente manifesta-se por
dor no joelho afetado, que pode ser intermitente ou constante, associada a edema da
tuberosidade.

O tratamento conservador, que inclui repouso e o possível uso de anti-inflamatórios não


esteroides é geralmente suficiente para a sua resolução. A cirurgia é reservada para os casos
refratários e graves.

Doença de Sinding-Larsen-Johansson: Também conhecido como Apofisite Inferior da Rótula,


trata-se de uma patologia que se desenvolve num processo semelhante ao da Doença de
Osgood-Schlatter, embora menos frequente. É resultado de forças excessivas exercidas pelo
tendão rotuliano sobre a zona inferior da própria rótula. Jovens atletas entre os 10 e os 14
anos são principalmente afetados, sobretudo quando envolvidos em desportos que impliquem
cargas resultantes do movimento extensor da perna. Os sintomas são também a dor e o
edema local, com elevado prejuízo funcional. Habitualmente é uma condição autolimitada,
com o método de tratamento semelhante à patologia anteriormente abordada.

Doença de Sever: A Doença de Sever ou Apofisite do Calcâneo é a segunda lesão de sobrecarga


mais comum e a principal causa de dor no calcanhar de jovens atletas de alta competição.
Origina-se a partir de microtraumatismos na inserção do tendão da Aquiles.

É mais comum em rapazes entre os 9 e os 12 anos, especialmente praticantes de modalidades


com frequente contração dos músculos gastrocnêmicos e solear, e envolve ambos os
calcâneos em cerca de 60% das situações. A apresentação típica é de dor e edema locais, com
comprometimento da marcha. Pausa desportiva, reabilitação e uso de anti-inflamatórios são
habitualmente suficientes para a resolução desta condição.

Fraturas de stress: As fraturas de stress representam uma fração importante das lesões de
sobrecarga entre os jovens atletas de elite. O sexo feminino é especialmente afetado, muito
pelos efeitos hormonais abordados anteriormente e que predispõem as atletas a estes danos.
Apesar do vasto leque de regiões anatómicas afetadas, a maior parte das fraturas de stress
surgem nos membros inferiores, particularmente na tíbia, tarsos e metatarsos.

A remodelação óssea surge em resposta à carga constante e repetitiva exercida. No entanto,


um desequilíbrio entre a reabsorção e a formação óssea propicia o aparecimento de
microfraturas que culminam em fraturas de stress.

Clinicamente manifestam-se por dor agravada pela atividade física e que pode persistir
durante o repouso, dor à palpação e edema. Alguns testes podem ser realizados para obter o
diagnóstico, mas a imagiologia tem um papel fundamental no mesmo. O diagnóstico precoce é
importante para o sucesso do tratamento. Habitualmente este é feito de modo conservador
com repouso e analgesia, sendo o regresso à atividade feito de uma forma progressiva. Há
especial atenção na adolescência devido ao sistema esquelético ainda imaturo, o que pode
resultar em alterações estruturais e progressão para fraturas completas.

Nos casos refratários ao tratamento conservador deve procurar-se uma abordagem cirúrgica.

Overtraining e Burnout

A síndrome de overtraining (SOT) e o burnout fazem parte de um espetro de problemas


resultantes do efeito deletério das pressões do desporto de alta competição. O SOT advém de
um desequilíbrio entre o desgaste suportado e a capacidade de recuperação, com depressão
da performance desportiva associada, ou não, a sinais e sintomas fisiológicos e psicológicos,
cuja recuperação pode durar meses. Embora exista uma grande relação com a sobrecarga
física e horária, esta condição não é o único fator desencadeante, reforçando a ideia de que se
trata de uma etiologia multifatorial e a importância da avaliação de outras condições passíveis
de fomentar a acumulação de stress e desgaste.

O burnout surge como o uma situação de resposta ao stress crónico. Define-se como uma
síndrome psicológica caracterizada pela exaustão emocional e física dos atletas, desvalorização
desportiva e sensação de não-realização. Há uma perda de motivação para a prática de uma
atividade outrora entusiasmante, e uma sensação de pressão e perda de controlo emocional,
resultantes de uma incapacidade de resposta, principalmente, às exigências mentais do
desporto de alta competição. (113) Algumas características pessoais são fatores que
contribuem para a maior incidência desta condição, entre elas a ansiedade e baixa autoestima,
o perfeccionismo ou a necessidade de agradar a outros.

Ambas as situações apresentam sinais e sintomas comuns, sendo a ansiedade, fadiga,


depressão, perda de apetite ou perturbações do sono, alguns dos exemplos. Para alguns
autores, o overtraining é considerado precursor do burnout. No entanto, outras abordagens
defendem que podem consideradas situações paralelas, com o SOT mais relacionado com
desequilíbrio stress/recuperação no seu componente físico, e o burnout com a componente
psicológica/emocional
Conclusão

O exercício físico e a atividade desportiva contribuem de forma fundamental para um saudável


crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes. A fronteira entre os benefícios e
os efeitos prejudiciais do desporto é determinada pela prática de atividade física de alta
competição e pela especialização desportiva precoce. A procura desmedida de sucesso, numa
sociedade que cada vez mais valoriza os feitos desportivos, leva a um aumento preocupante
deste tipo de prática em idades precoces.

Os atletas em idade pediátrica são particularmente suscetíveis às consequências do exercício


desmedido e desadequado ao seu desenvolvimento. As características do exercício de alta
intensidade, por si só, constituem fatores de risco para problemas ao nível físico e psicossocial.

A prática excessiva e repetitiva de movimentos específicos, em associação com outros fatores


extrínsecos e intrínsecos, está na base do surgimento de lesões de sobrecarga. As fraturas de
stress e as doenças musculoesqueléticas com alta incidência nesta faixa etária podem levar a
alterações irreversíveis da normal constituição motora.

O desporto promove a saudável interação social e a aquisição de valores e capacidades


importantes para o desenvolvimento psicossocial das crianças e adolescentes. No entanto, a
sobrecarga horária, o stress, a pressão e a ansiedade gerados em torno dos atletas, facilitam a
exaustão psicológica e o isolamento social. Além de contribuir para o abandono da prática

desportiva, há uma maior tendência para o surgimento de jovens atletas em estado de


burnout, com menos autonomia e independência, associados a atitudes e comportamentos
antissociais.

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