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Criança e Exercício

Físico
Autor(a): Noler Heyden Flausinho.
1ª Edição – 2011

Criança e Exercício Físico

Todos os direitos desta edição são reservados a Cresça Brasil Editora S/A.
É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios, sem autorização escrita da Editora.

ISBN: 978-85-65110-71-6

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Sumário
Capítulo 1 – Fases do crescimento

1.1 O Desenvolvimento humano


1.2 Crescimento, desenvolvimento e maturação: idade cronológica X
idade biológica
1.3 O crescimento e o desenvolvimento dos tecidos
1.4 Características determinantes durante o processo de crescimento
1.5 Crescimento e aparelho motor ativo – sistema muscular
1.6 As funções fisiológicas e as qualidades físicas na criança

Capítulo 2 – Desenvolvimento motor

2.1 O Desenvolvimento Motor ao longo da vida


2.2 Componentes cognitivos e motores e a performance das
habilidades motoras/desportivas
2.3 A Cultura corporal

Capítulo 3 - As funções fisiológicas e as qualidades físicas na


criança

3.1 Adaptações à prescrição de exercício


3.2 Treinamento de força na infância
3.3 O rendimento anaeróbico na criança e no adolescente
3.4 A aptidão aeróbia na criança
3.5 Métodos e programas de treinamento de força na criança
3.6 Hipertrofia muscular
3.7 Tolerância ao exercício
3.8 O jogo e a criança
3.9 Metodologia e estratégias
Apresentação
Olá, seja bem-vindo (a) ao universo da criança!
No decorrer deste livro teremos noções fisiológicas e psicológicas para
prescrição de exercícios físicos para crianças e adolescentes.
Lembrando que é importante respeitar as limitações de cada fase!
Capítulo 1
Fases do crescimento
Neste capítulo veremos que a criança passa por várias mudanças ao
longo da vida e veremos também o amadurecimento e aquisição de novas
fases. Dentro desse ciclo encontramos o crescimento, o desenvolvimento e a
maturação.

1.1 O desenvolvimento humano

As alterações físicas, psicológicas e emocionais ao longo da vida podem


ser chamadas de desenvolvimento humano e, como ser social, o ser humano
desenvolve uma série de habilidades para a construção e formação da
dimensão social.
Para a prescrição de exercícios físicos torna-se fundamental o
entendimento das mudanças e dos fatores envolvidos para prática de
exercícios físicos por crianças. Veja a seguir algumas definições.

• Crescimento: refere-se ao aumento, em tamanho, do corpo ou de


qualquer uma de suas partes.
• Desenvolvimento: refere-se às mudanças funcionais que ocorrem com
o crescimento.
• Maturação: refere-se ao processo de aquisição da forma adulta e torna-
se totalmente funcional (GALLAHUE, 1989).

Ao longo do desenvolvimento humano encontramos várias modificações


e para melhor entendê-las dividimos nas seguintes fases:

• Lactante – até um ano;


• Bebê - de 1 a 3 anos;
• Pré-escolar – de 3 a 6/7 anos;
• Primeira infância escolar – 6/7 a 10 anos;
• Infância escolar tardia – aproximadamente 10 anos;
• Pubescência - entre 11 a 14 anos para meninas e entre 12 a 15 anos
para meninos;
• Adolescência – entre 13 a 18 anos para meninas e entre 14 a 19 anos
para meninos.

O entendimento e definição das fases do crescimento tornam-se


necessários a partir do momento que surgem essas modificações. O nosso
foco é a criança até o princípio da adolescência, assim vamos trabalhar o
aprimoramento das fases pré-escolar 3 a 6/7 anos, primeira infância 6/7 a 10
anos e infância escolar tardia, aproximadamente 10 a 12 anos, o que
demonstra o conhecimento e aprimoramento de certos princípios fisiológicos,
psicológicos e sociais.

1.1.1 Idade de 3 a 6/7 anos

Na idade pré-escolar a criança apresenta um acentuado aumento de


movimentos e prontidão para o aprendizado, portanto, deve-se possibilitar
diversidade de movimentos que estimulem, de forma fantasiosa e variável, o
correr, saltar, subir, balançar, empurrar, etc (Gallahue 1989).
Nesta fase a criança gosta de desenvolver habilidades cotidianas, ou
seja, gosta de atividades que são pertinentes ao seu repertório motor, que ela
já traz em seu histórico de movimento, fazendo com que desenvolva ainda
mais suas habilidades motoras.
Neste período, a criança se estimulada aprende com muita facilidade e
desenvolve a sua percepção cinestésica motora. O número de conexões
sinápticas e o aprimoramento de habilidades simples acontece todos os dias
em todos os momentos e também é neste período que a relação social se
aprimora, pois começam a existir o entrelaçamento com outras crianças da
mesma faixa etária e o ciclo social passa da família para um universo um
pouco maior, a escola.
Assim para o aprimoramento motor torna-se fundamental a criança ir
para a escola e começar a desenvolver, pois até então a relação existente é
que somente ela existe e o mundo gira em torno dela. Depois desse período
ela começa a deixar de ser egocêntrica e passa a entender melhor a sua
função social.

1.1.2 Primeira infância escolar – 6/7 a 10 anos

As condições psicofísicas são extremantes favoráveis para


aquisição de habilidades motoras, sendo assim, deveriam ser
utilizadas no sentido de aprender um grande número de
técnicas básicas da coordenação grosseira, para que sejam
depois aperfeiçoadas. (GALLAHUE 1989)
Com a procura pela prática esportiva, devemos compreender
sobre o condicionamento físico da criança e do seu
desenvolvimento motor ao longo dessas idades. O
crescimento e desenvolvimento de seus ossos, músculos,
nervos e órgãos ditam, em grande parte, as suas capacidades
fisiológicas e de desempenho.

1.1.3 Infância escolar tardia – aproximadamente 10 a 12


anos

A infância escolar tardia é a melhor idade para


aprender, deve-se então, utilizá-la para uma
aprendizagem motora exata.
Nessa fase a criança se encontra mais evoluída do
ponto de vista social, psicológico e motor. Assim ela
já entende e aprende com mais facilidade e é capaz
de começar a criar diante de tais tarefas. A função
do esporte é começar a trabalhar a obtenção e
aprimoramento de habilidades já existentes, além, é
claro, de trabalhar capacidades físicas para o desenvolvimento da aptidão
específica no futuro.
Os métodos e programas de prescrição de exercícios devem ser
orientados para adaptar-se às atividades naturais da criança. Nem tudo o que é
consagrado num programa é adequado para um programa infantil. O objetivo
nessa fase é obter sempre alegria na atividade exercida. Isto só é possível se
houver tempo suficiente para recuperação do estímulo contínuo.
A associação de um programa de exercícios com outras atividades ajuda
a motivar e consequentemente aumenta a resistência ao cansaço psicológico e
físico. Tornam-se necessárias brincadeiras objetivas e o estímulo à competição
sadia, como brincadeiras que estimulem a percepção e inclusão do aluno.

1.2 Crescimento, desenvolvimento e maturação: idade


cronológica X idade biológica

Com o passar dos anos, são vários os degraus alcançados pelo homem,
resumindo as funções básicas inerentes ao desenvolvimento em: o
crescimento, o desenvolvimento e a maturação.

1- O crescimento é definido como sendo a transformação quantitativa,


ou seja, no que diz respeito ao aspecto biológico, cronológico (anos) e
antropométricos (altura, peso, etc). Ou seja, o crescimento é o aumento na
estrutura física realizada pela multiplicação de células.

2- O desenvolvimento é o aprimoramento de alguns componentes,


sendo físico, mental, emocional, social, motor, ou seja, aprimorando o que era
simples para um estágio mais evoluído.

3- A maturação se refere às transformações que capacitam o organismo


alçar novos níveis de funcionamento. Com a maturação, cada dia que passa,
estamos mais preparados para executar novas tarefas.

4- A maturação biológica alcança níveis intensos de modificação durante


a puberdade, em nosso caso, trabalhamos somente com crianças. A
maturação biológica pode ser definida como; todas as mudanças morfológicas
e fisiológicas que acontecem durante o processo de crescimento devido às
transformações físicas, psíquicas e sociais, estabelecendo um elo entre a
infância e o final da vida adulta (velhice). Com a criança vemos algumas
transformações, mas este estado se torna mais visível na puberdade.

5- A aplicação de tais conceitos é de fundamental importância para a


distinção de padrões maduros em determinada faixa etária. Por exemplo: a
menina e um menino. A menina tem um desenvolvimento mais rápido do que o
menino em determinadas fases do crescimento.

6- Dessas situações, podemos tirar alguns aspectos importantes. Apesar


de idades semelhantes o grau de desenvolvimento é diferente e assim
chegamos à idade biológica e cronológica.
7- A idade cronológica é a idade determinada pela diferença entre um
determinado dia e o dia do nascimento do indivíduo. Gallahue (1989) apresenta
a seguinte classificação para a idade cronológica:
• vida pré-natal (concepção a oito semanas de nascimento);
• primeira infância (um mês a 24 meses do nascimento);
• segunda infância (24 meses a 10 anos);
• adolescência (10-11 anos a 20 anos);
• adulto jovem (20 a 40 anos);
• adulto de meia idade (40 a 60 anos);
• adulto mais velho (acima de 60 anos).

8- A idade biológica, por outro lado, corresponde à idade determinada


pelo nível de maturação dos diversos órgãos que compõem o homem. A
determinação da idade biológica, fator importante nos estudos sobre aptidão
física, treinamento desportivo, crescimento e desenvolvimento, pode ser
efetuada por meio da avaliação das idades mental, óssea, morfológica,
neurológica, dental e sexual, o que possibilita que se formem, basicamente,
três grupos: pré-púbere, púbere e pós-púbere (Araújo, 1985).

9- Para Malina (1988), os indicadores mais comumente usados para


determinar a maturação biológica nos estudos de crianças e jovens são a
maturação esquelética e o desenvolvimento das características sexuais
secundárias, ou seja, a maturação sexual.

1.3 O crescimento e o desenvolvimento dos tecidos

Neste momento veremos com mais detalhes como acontecem as


alterações que acompanham o crescimento e desenvolvimento do ser humano.
Muita atenção aos itens que serão apresentados!

Peso e altura

São duas variáveis úteis quando examinamos suas taxas de


alteração no processo de crescimento. A alteração da altura é
avaliada em termos de centímetros por ano e a alteração do
peso, em termos de quilogramas por ano. De fato a criança atinge
50% da estatura do adulto em torno dos 2 anos de idade. Após
isso, a altura aumenta numa velocidade progressivamente mais
lenta durante a infância.
Um pouco antes da puberdade, a taxa de alteração da altura
aumenta acentuadamente, seguida por uma diminuição exponencial até a
altura total ser atingida numa idade média de aproximadamente 16,5 anos para
as meninas e 18 anos para os meninos. A taxa máxima de aumento da altura
ocorre aproximadamente aos 12 anos para as meninas e aos 14 anos para os
meninos. (WILMORE E COSTILL, 2001)
Segundo Malina (1991) a altura aumenta rapidamente durante os
primeiros dois anos de vida. Do segundo ano em diante, o crescimento já é
mais lento e progressivo, com um novo aumento na fase de pré-puberdade,
seguido de um decréscimo até que a altura total é adquirida por volta dos
dezoito anos para os meninos e dezesseis - dezoito para as meninas.
O peso e a altura são mais alterados por volta de doze - treze anos para
as meninas e quatorze para os meninos. A maioria dos ossos começa a se
desenvolver no começo do desenvolvimento fetal, a partir da cartilagem hilíaca.
Durante o período fetal e também por toda a fase de crescimento, membranas
e cartilagens são transformadas em osso, através da ossificação. Quando
crescemos aumentamos a quantidade de ossos devido ao processo acima e
com a prática de exercícios físicos também.

Ossos

Os ossos, as articulações, as cartilagens e os ligamentos


formam o suporte estrutural do corpo. Os ossos fornecem
pontos de fixação para os músculos, protegem tecidos
delicados e atuam com reservatórios de cálcio e de fósforo.
Além disso, alguns estão envolvidos na formação de células
do sangue. No início do desenvolvimento fetal, os ossos
começam a se desenvolver a partir das cartilagens.
Alguns ossos chatos, como os do crânio, desenvolvem-se a
partir de membranas fibrosas, mas a grande maioria dos
ossos desenvolve-se a partir das cartilagens hialinas. Durante
o desenvolvimento fetal, assim como durante o período da
adolescência, as membranas e as cartilagens são
transformadas em ossos por meio do processo de ossificação
ou formação do osso. (WILMORE E COSTILL, 2001)

O processo de ossificação

O contorno geral da cartilagem durante o desenvolvimento embrionário


assemelha-se à futura forma do osso maduro. A haste central de um osso
longo é denominada diáfise e cada extremidade é denominada epífise. A
cartilagem que será transformada é recoberta por uma membrana fibrosa, o
pericôndrio.
A ossificação tem início quando essa membrana é penetrada por vasos
sanguíneos. Ao se tornar vascularizado, o pericôndrio passa a ser denominado
periósteo e os condrócitos (células formadoras de cartilagem) transformam-se
em osteoblastos (células formadoras de osso). Os osteoblastos secretam
substâncias que formam um anel ou colar de osso em torno da diáfise.
(WILMORE E COSTILL, 2001)

Músculos

Do nascimento até a adolescência, a massa muscular


corporal aumenta constantemente, junto com o ganho de
peso da criança. No sexo masculino, a massa muscular
total aumenta de 25% do peso corporal ao nascimento para
aproximadamente 50% ou mais na vida adulta.
Muito desse ganho ocorre quando a taxa de
desenvolvimento muscular atinge seu máximo na puberdade. Esse pico
corresponde a um aumento súbito de quase 10 vezes na produção de
testosterona. As meninas não apresentam essa aceleração rápida do
crescimento muscular na puberdade, mas a sua massa muscular continua a
aumentar, embora muito mais lentamente do que nos meninos, até atingir
aproximadamente 40% do seu peso corporal na vida adulta. Essa taxa é
atribuída a diferenças hormonais. (WILMORE E COSTILL 2001)
Os aumentos da massa muscular com a idade parecem ser resultantes,
sobretudo, da hipertrofia (aumento de tamanho) das fibras existentes, com
pouco ou nenhuma hiperplasia (aumento no número de células). No sexo
feminino, a massa muscular atinge seu máximo entre os 16 e 20 anos de idade
e no sexo masculino, entre 18 e 25 anos.
A cartilagem articular é imatura, tem a aparência um pouco diferente do
tecido adulto. Ela apresenta coloração diferente e é comparativamente mais
espessa. Além das diferenças morfológicas, há uma diferença bioquímica, o
conteúdo de água na cartilagem articular imatura é maior do que no adulto e a
concentração de colágeno aumenta com a maturidade.
Os tendões têm suas propriedades mecânicas e sua composição muito
influenciada pela idade. Antes da maturidade do esqueleto, os tendões e
ligamentos são mais viscosos e mais complacentes (MALINA, 1991).
O tipo de fibra muscular típica no feto é uma fibra de contração rápida e
primitiva. Depois do primeiro ano de vida há uma distribuição específica e
individual de fibras de contração rápida e fibras de contração lenta. Desde o
nascimento até a adolescência, o tecido muscular está em contínuo aumento.
A fase de pico do desenvolvimento muscular é a puberdade.
As meninas não têm a mesma aceleração no desenvolvimento muscular
na puberdade porque apresentam secreção hormonal menor que os meninos.
Mas elas continuam desenvolvendo massa muscular progressivamente e por
volta dos dezesseis – vinte anos atingem o ápice da massa muscular enquanto
os meninos atingem o ápice um pouco mais tarde, aos dezoito – vinte e cinco
anos.
O aumento da massa muscular com a idade é devido ao aumento dos
miofilamentos e miofibrilas. O aumento do comprimento do músculo é resultado
do aumento no número de sarcômeros e aumento do comprimento dos
sarcômeros já existentes. (WILMORE E COSTILL, 2001)

Gordura

A deposição de gordura nas células adiposas começa no


desenvolvimento fetal. Cada célula adiposa pode aumentar
em tamanho – hipertrofia - e também em número de células
adiposas – hiperplasia. Se uma criança é obesa, ela está
mais suscetível a ser obesa na fase adulta, por possuir mais
células adiposas que uma pessoa adulta, que não teve
hiperplasia na infância. (GUEDES E GUEDES, 1995; 2002; 2006)
A quantidade de gordura que é acumulada durante o crescimento e
idade depende de três fatores principais: dieta alimentar; prática de exercícios;
e hereditariedade. O desenvolvimento do sistema nervoso proporciona, durante
as fases do crescimento da criança, o desenvolvimento de várias qualidades
físicas, como a coordenação, equilíbrio e agilidade.
Portanto, o completo desenvolvimento de uma habilidade só acontece
depois de completa maturação do sistema nervoso. O sistema nervoso
endócrino apresenta uma estreita relação com o crescimento, o desempenho
motor e também com a composição corporal.
Os três grupos principais de hormônios que participam destas funções
são os hormônios adrenais; hormônios tireoideanos e hormônios gonadais.
Estes grupos de hormônios administram o crescimento e desenvolvimento por
estímulos de anabolismos proteicos, o que resulta na retenção de substâncias
necessárias à construção dos tecidos. (WILMORE E COSTILL, 2001; GUEDES
E GUEDES, 1995; 2002; 2006)
As células adiposas são formadas e dos depósitos de gordura têm início,
nessas células, o começo do desenvolvimento fetal e esse processo continua
indefinidamente. Cada célula adiposa pode aumentar de tamanho a qualquer
momento e isso vai do nascimento à morte.
Estudos iniciais sobre a célula adiposa e o desenvolvimento da massa
gorda sugerem que a quantidade de células adiposas torna-se constante no
início da vida. Isso levou cientistas a acreditar que a manutenção de um
conteúdo baixo de gordura corporal total durante o período inicial do
desenvolvimento reduziria a quantidade total de células adiposas que se
desenvolveriam reduzindo a possibilidade de obesidade na vida adulta.
No entanto, evidências mais recentes sugerem que a quantidade de
células adiposas pode continuar a aumentar durante a vida. Evidências atuais
sugerem que, como a gordura é adicionada ao corpo, as células adiposas
existentes continuam a se encherem de gordura até certo volume crítico. Uma
vez atingido esse ponto, novas células são formadas. Diante dessa evidência,
é importante manter bons hábitos alimentares e exercícios físicos durante a
vida. (WILMORE E COSTILL, 2001)
Quando do nascimento, 10 a 12% do peso corporal total são de gordura.
No homem adulto, o conteúdo de gordura atinge aproximadamente 15% do
peso corporal total e nas mulheres aproximadamente 25%. Essa diferença
sexual, como aquela observada no crescimento muscular, é primária em razão
das diferenças hormonais. Quando as meninas atingem a puberdade, as suas
concentrações de estrógenos aumentam, promovendo a deposição de gordura
corporal. (WILMORE E COSTILL, 2001)

Hormônios

O expressivo crescimento longitudinal durante a puberdade engloba três


distintos fenômenos, que se revelam sequencialmente. São eles:

1- o estirão do crescimento com duração aproximada de dois a três


anos, caracterizado por velocidade de crescimento reduzida durante a fase pré-
puberal.

2- crescimento com velocidade acelerada, conhecido como pico máximo


de velocidade de crescimento e uma fase de cessação do crescimento, os
quais contribuem com mais de 20% na estatura final adulta.

3- a rápida aquisição de conteúdo mineral ósseo, reconhecida como pico


de massa óssea, em que o processo de formação sobrepuja o de reabsorção
óssea e que se apresenta como um incremento linear durante a infância e
exponencial na segunda década de vida, com maior intensidade entre 13 e 17
anos, sendo assinalados como anos críticos para o evento aqueles
compreendidos entre 14 e 15 anos de idade. Esse processo de maturação
esquelética que se encerra com o fechamento epifisário.

4- Nesse período de intenso crescimento a amplitude na secreção de


GH é fortemente influenciada pela idade e pelo desenvolvimento puberal.

5- No período pré-puberal sua secreção está diminuída, não havendo


diferenças entre os sexos, apresentando as maiores concentrações no final da
puberdade, aproximadamente dos 15 aos 19 anos e declinando após os 20
anos de idade.

1.4 Características determinantes durante o processo de


crescimento

A velocidade de crescimento reduz-se a partir do


nascimento até a idade adulta. Contudo, durante a
puberdade, há uma aceleração do crescimento. O problema no crescimento de
crianças e jovens é que ele não se dá de modo contínuo, mas em saltos.
Assim, verifica-se que segmentos isolados do esqueleto sofrem surtos de
crescimento em diversas faixas etárias. (WEINECK, 1999)
O início da puberdade consiste em um período de desenvolvimento
psicofísico, que com suas grandes alterações não tem uma fase equivalente na
vida adulta. Um problema para o treinamento em grupos de jovens é obter um
grupo de pessoas que se encontrem dentro da mesma faixa de crescimento da
puberdade.
Em crianças com desenvolvimento normal há uma coincidência entre
idade biológica e física, em crianças precoces o desenvolvimento físico
precede o biológico; e em crianças de crescimento tardio ocorre o contrário, o
crescimento biológico precede o físico. Contudo, nestes três tipos de
desenvolvimento há um crescimento harmônico do ponto de vista de
desempenho, funcionamento orgânico e esquelético. (WILMORE E COSTILL,
2001)
A idade esquelética influencia nitidamente na estatura. Os jovens que
apresentam desenvolvimento acelerado atingem maior estatura do que aqueles
com desenvolvimento normal; e estes superam os jovens de desenvolvimento
tardio. E da mesma forma acontece com a massa corporal. (WEINECK, 1999)
A resistência, a força, a estatura e o peso estão intimamente
correlacionados com a idade biológica. Considerando que jovens precoces, em
função de sua estatura e peso, apresentam maior potencial para o
desempenho em todas as áreas do condicionamento e permite a intensificação
do treinamento, a idade física não é o melhor parâmetro para a divisão de
equipes jovens.
O estágio de transição da infância / juventude para a idade adulta
apresenta uma série de características de grande importância na definição de
um treinamento.
Metabolismo: Em razão do intenso processo de crescimento e diferenciação,
crianças apresentam um metabolismo basal de 20 a 30% maior do que o de
adultos. Uma estimulação adicional aumenta ainda mais esta demanda.

1.5 Crescimento e aparelho motor ativo – sistema


muscular

Até o início da puberdade meninos e meninas pouco diferem


quanto à força muscular e sistema hormonal. Após a primeira
fase puberal eleva-se o nível de testosterona aproximadamente
10 vezes nos meninos e em meninas uma discreta elevação,
acarretando um dimorfismo sexual. (WEINECK, 1999)
Nos meninos o ganho de massa muscular é visível e melhora da
capacidade muscular sob anaerobiose. Em crianças pequenas e lactantes a
capacidade para atividade anaeróbica é muito restrita, por isso estímulos que
promovam uma grande descarga de lactato não devem ser enfatizados durante
a infância.
Em oposição, as crianças apresentam uma grande capacidade para o
metabolismo oxidativo, possibilitando a utilização dos ácidos graxos livres mais
rapidamente, poupando suas reservas de glicose.
De acordo com OLIVEIRA (1999) o trabalho com crianças requer
paciência, incentivo, motivação e criatividade constante, pois se sabe que
existe uma preferência por esportes com bola e coletivos, sendo que o trabalho
do personal trainer é individualizado.
Portanto, a seguir fique atento (a) a cada detalhe de como deve ser feito
este trabalho!

Avaliação física:
_ exame médico;
_ avaliação e orientação nutricional caso a criança seja obesa;
_ avaliação dos hábitos de saúde e do condicionamento atlético, medidas de
circunferência, diâmetros, índices esqueléticos, condição postural,
acompanhamento de estatura, peso e testes físicos específicos.

Frequência semanal: de 2 a 3 vezes por semana, dependendo das outras


atividades físicas que já faz.

Duração do treinamento: de 45 a 60 minutos diários.

Intensidade: leve a moderada de treinamento.

Modalidade de atividades: após ter detectado a fase de aprendizagem motora


na qual a criança se encontra, determinar quais serão as atividades mais
recomendadas.

De maneira geral temos que descobrir quais as atividades físicas que a


criança mais gosta e, se for obesa, tentar junto com os pais reduzir as
atividades sedentárias que realiza, trabalhar a autoestima e a imagem corporal:

_ 6 a 10 anos: atividades que envolvam as qualidades físicas básicas –


coordenação, equilíbrio, agilidade e ritmo;

_ 11 a 14 anos: experiência e iniciação com várias modalidades esportivas;

_ acima de 15 anos: atividades esportivas, musculação, trabalhos


cardiovasculares, exercícios corretivos, alongamentos, atividades na piscina.
Reavaliação física:
_ dependerá do objetivo principal. Deve-se reavaliar todas as variáveis
bimestralmente;
_ avaliar a assiduidade do aluno.

1.6 As funções fisiológicas e as qualidades físicas na


criança

Segundo Campos (2000) as funções de praticamente todos os sistemas


fisiológicos e a maioria das qualidades físicas melhoram até o completo
amadurecimento, depois disso permanecem estáveis por um período de tempo
e começam a declinar com o avanço da idade.
A habilidade motora: aumenta com a idade atingindo um platô na
puberdade e está relacionada a fatores endócrinos, neuromusculares e
também pelo aumento das atividades da criança. (CAMPOS-2000)
A força: A força muscular aumenta conforme o aumento da massa
muscular e adaptação do sistema nervoso. Altos níveis de força são
impossíveis antes do sistema nervoso amadurecer.
Durante a infância, o tamanho do corpo e composição corporal são
modestamente relacionados com a força muscular. No entanto, na puberdade a
força está relacionada ao tamanho corporal, à massa muscular e ao
somatótipo. Nas crianças a taxa de ganho de força durante a maturação varia
muito e a força medida na infância não é um bom indicador de força na fase
adulta. (CAMPOS, 2000)
A capacidade anaeróbica: De acordo com Campos (2000) embora a
capacidade anaeróbica aumente através de toda a infância ela é muito menor e
limitada na criança em comparação com o adulto. Weineck (1999) ressalta que
durante a execução de um treinamento de resistência durante a infância os
métodos e programas bem como a dosagem da intensidade e duração do
estímulo devem se adequar às condições fisiológicas desta idade.
A capacidade aeróbica: Crianças e jovens apresentam, sob o ponto de
vista metabólico e cardiopulmonar, grande capacidade de resposta a estímulos
da resistência com mobilização aeróbica de energia (WEINECK, 1999).
Segundo Campos (2000) a capacidade máxima de consumo de oxigênio (VO2
Max.) é muito menor na criança que no adulto e aumenta proporcionalmente
com o crescimento.
Weineck (1999) coloca que a proporção do aumento do VO2 Max e com isto da
capacidade de resistência aeróbica relaciona-se igualmente ao crescimento e
ao treinamento.
A resposta termorregulatória ao exercício: Crianças produzem mais
calor metabólico durante o exercício do que os adultos e têm uma precária
habilidade de remover este calor via suor. Isto faz com que a criança seja
menos tolerante a exercícios prolongados, principalmente em ambientes
quentes, pois isso também requer um maior período de tempo para
aclimatação quando pratica exercícios em lugares quentes. (CAMPOS, 2000)
A flexibilidade: segundo Campos (2000) tende a diminuir no período de
seis a oito anos e depois volta a aumentar até os dezoito anos. O exercício
afeta positivamente os níveis de flexibilidade, mantendo-os ou até aumentando-
os. A musculação, quando bem programada e orientada para as crianças,
ajuda a manter e até mesmo aumentar esta qualidade física imprescindível
para a eficiência dos movimentos, para a diminuição dos riscos de lesões e
para melhoria de postura articular.
O Nível de atividade física diminui continuamente durante a infância e
adolescência e as meninas tendem a ser fisicamente menos ativas do que os
meninos. O comportamento de atividade física em crianças e jovens é
associado a complexos fatores demográficos, ambientais, fisiológicos e
psicológicos.
O sexo e a idade estão entre os mais fortes determinantes da
participação em atividades físicas. A atividade física em que as crianças
experimentam a melhoria da autoeficácia sobre o exercício parece ser as mais
produtivas e procuradas durante o período de crescimento.

É hora de recapitular!

Neste capítulo vimos que o desenvolvimento humano se caracteriza por


uma série de mudanças. Aprendemos que ter noções das fases de crescimento
fisiológico e saber as idades correspondentes a cada etapa do crescimento e
desenvolvimento da criança é importante para a prescrição de exercícios
físicos.
Capítulo 2
Desenvolvimento motor
Neste capítulo teremos noções sobre o desenvolvimento motor e a
aquisição de novos movimentos pelas crianças ao longo da infância.

2.1 O Desenvolvimento Motor ao longo da vida

O Desenvolvimento Motor é um componente do


desenvolvimento geral do ser humano. É comumente
definido como as alterações no comportamento motor
através do ciclo da vida. Segundo Gabbard (1993),
Desenvolvimento Motor é o processo de alterações no movimento humano
como resultado da interação entre componentes genéticos e culturais.
É importante mencionar que desenvolvimento nesse
contexto refere-se a alterações motoras progressivas, isto é,
o ser humano apresenta uma melhoria linear na
performance motora e isso acontece toda vez que se torna
necessário o aprimoramento de tais habilidades, mas com o
passar dos anos, ou seja, com o processo de envelhecimento, essa
performance se deteriora na velhice.
Assim podemos dizer que: definir Desenvolvimento Motor como sendo o
estudo das características do comportamento motor e de como estas
características mudam ao longo do tempo como resultado da maturação e
experiência.
O enfoque no estudo da criança nos primeiros anos de vida, geralmente
acontece por ser este um período considerado crítico no desenvolvimento
motor do ser humano, pois será neste período associado ao desenvolvimento
fisiológico que a criança acumulará movimentos.
O movimento reflexivo é a fase inicial do desenvolvimento motor. O
recém-nascido apresenta reflexos que provem uma fundamentação para
movimentos voluntários que são adquiridos nas fases subsequentes.
A fase dos movimentos rudimentares se inicia assim que o córtex motor
se estabelece no controle de movimentos, mesmo que alguns movimentos
reflexivos ainda estejam presentes. Levantar a cabeça, engatinhar e segurar
objetos são exemplos de movimentos rudimentares.
A fase seguinte, Padrões Motores Fundamentais é caracterizada pelo
surgimento de movimentos genéricos que serão a base para os movimentos
especializados (esportivos). Andar, correr, saltar, galopar, arremessar e
receber são exemplos de alguns dos movimentos fundamentais.
A fase dos movimentos especializados envolve a interação de um ou
mais movimentos fundamentais na execução de movimentos complexos. Por
exemplo, saltar e arremessar trará a fundamentação para o complexo
movimento de “cortada” no voleibol. É importante mencionar o período de
transição entre as fases dos Padrões Motores Fundamentais e a Fase de
Movimentos Especializados.
A criança que não domina os padrões motores básicos apresentará
dificuldade na especialização dos mesmos, isto é, terá dificuldade em integrar
os Padrões Motores Fundamentais em movimentos específicos.
É importante ressaltar que a classificação por faixa etária não deve ser
vista de uma maneira rígida, na verdade, o desenvolvimento motor deve ser
analisado levando-se em consideração a individualidade da criança que é em
função da interação entre fatores genéticos e ambientais.
Por exemplo: a criança que nasce na cidade grande e tem seu
desenvolvimento feito em apartamentos terá uma aquisição de movimento mais
lenta devido ao seu contato com outras crianças e a hipocinesia, falta de
movimento.
Já a criança que tem seu desenvolvimento na cidade menor, tem o
acesso a brincadeiras de rua e outras brincadeiras que requeiram um maior
número de movimento e essa criança vai se aprimorar muito mais rápido no
que diz respeito ao movimento e com isso terá um repertório motor muito mais
aprimorado.
Os padrões motores básicos compreendem faixa etária
de 1 a 7 anos de idade, obedecendo a uma sequência
de grau de dificuldade. Alguns padrões se desenvolvem
através do processo natural de desenvolvimento, como
por exemplo, andar, correr e saltar, entre outros, são
dependentes de uma oportunização satisfatória para
que possam alcançar níveis maduros de aprendizagem,
como é o caso das habilidades motoras fundamentais
que envolvem manipulação de objetos (receber e arremessar uma bola).
Os padrões motores básicos são considerados também habilidades
motoras fundamentais porque não possuem características de especificidade e,
portanto, formam a base para a performance das habilidades motoras
especializadas ou esportivas. A aquisição das habilidades motoras
fundamentais, de maneira diversificada, permitirá que a criança tenha uma
transição adequada às habilidades motoras esportivas.
Nessa perspectiva, a criança poderá experimentar com facilidade todas
as habilidades motoras esportivas, escolhendo praticar as que lhe interessam.
Sendo assim, as atividades práticas para o desenvolvimento das habilidades
motoras fundamentais deverão ser planejadas respeitando a individualidade,
criatividade e expressividade de cada criança. A idade cronológica deverá ser
utilizada como padrão de referência.
A aquisição e performance das habilidades motoras fundamentais serão
facilitadas por capacidades motoras e físicas, apresentadas pelo indivíduo
desde o seu nascimento, por exemplo: grau de coordenação motora; tempo de
reação; flexibilidade; agilidade, etc.
É importante mencionar que estas capacidades possuem características
genéticas, sendo uma característica individual de cada criança. Portanto,
utilizando essa perspectiva desenvolvimentista, os programas de iniciação
desportiva devem ser utilizados para promover na criança uma competente
condição física e motora, contribuindo para a integração harmoniosa dos
domínios psicomotora, cognitiva e afetiva, uma vez que essa se interage com o
grupo.
O ensino de crianças neste período deverá ser direcionado para que a
mesma adquira de forma diversificada as habilidades motoras do esporte em
questão e o professor deve selecionar e organizar as atividades desportivas da
criança de acordo com as suas necessidades, interesses e potencialidades.

2.2 Componentes cognitivos e motores e a performance


das habilidades motoras/desportivas

Estudos introduziram o termo base de conhecimento a fim de


identificar os processos referentes à memória de longo prazo
e sua influência sobre o desempenho de habilidades
desportivas. Thomas, French E Humphries (1986), Campos
(1993), Campos, Ladewig E Gallagher (1996) sugerem um
aumento na capacidade de desempenho esportivo em função de um
aprimoramento da base de conhecimento.
A base de conhecimento, representada pela informação armazenada na
memória de longo prazo, caracteriza-se pela capacidade de possibilitar
relações entre informações já existentes e as vivenciadas no momento. Esta
base é constituída por dois tipos de conhecimento: o declarativo, que é o
conhecimento de fatos, isto é, a identificação de estruturas estabelecidas; e o
de procedimento, entendido como o conhecimento de padrões de ação que se
aplicam a um determinado domínio.
As evidências para a representação da base de conhecimento foram
obtidas através da comparação de indivíduos com grande nível de
conhecimento em determinado assunto (experientes) e indivíduos com pouco
conhecimento nesse assunto (novatos).
Chi e Glaser (1980) consideram a estrutura da base de conhecimento de
indivíduos experientes como sendo uma densa rede de informação contendo
muitos conceitos inter-relacionados (conhecimento declarativo). Experientes
sabem mais que novatos. Isto significa que tal rede de informação contém mais
conceitos centrais, mais características para cada conceito e uma relação
ampla entre os conceitos.
Os autores afirmam ainda que a base de conhecimento de indivíduos
experientes é representada em termos de procedimento para se fazer ou
executar algo (conhecimento de procedimento). Desta forma, o indivíduo
experiente tem uma distinta vantagem, pois tem acesso a mais informações
devido a estas estarem agrupadas, altamente organizadas e fortemente inter-
relacionadas, facilitando o desempenho.
Crianças geralmente apresentam uma falta de conhecimento declarativo
e de procedimento em vários domínios e podem ser comparadas a novatos
devido ao fato de que suas experiências passadas não são tão extensas
quanto as dos adultos. Os adultos, pela vivência generalizada em diversos
domínios, têm maior capacidade de realizar transferências, o que lhes favorece
em termos de desempenho, já a criança não.
Assim podemos dizer que o aprimoramento do domínio cognitivo é feito
a todo o momento, sendo que este deve ser estimulado pelo profissional que
está executando tal tarefa.
Quando falamos de exercícios físicos para crianças, temos que ir
aumentando o grau de dificuldade. A velha história de simples para o
complexo, para o aprimoramento de novas habilidades físicas e cognitivas,
torna-se necessária para aquisição de um novo padrão motor.
ATENÇÃO! A criança que faz exercício e é sempre estimulada, aprende
a todo o momento e é exposta a novas conexões nervosas, fazendo com que
seja aprimorada a habilidade anterior. Deixando para trás um padrão simples
de movimento para um padrão mais aprimorado, fazendo com que a criança
deixe mais claro e de forma declarativa aquilo que já aprendeu.

2.3 A cultura corporal

O corpo é a essência do ser humano e desta forma, a cultura


corporal adquirida tende a ser socialmente partilhada, quer como
prática ativa ou simples. Tal valorização social das práticas
corporais de movimento legitima a identidade da criança,
adolescente e do adulto.
Essa situação gera sempre muitos questionamentos, mas enquanto
aprimoramento de habilidades a cultura corporal deve ser respeitada e
aprimorada com estímulos corretos.
A responsabilidade de formar um cidadão passa pela prescrição de
exercícios e a capacidade de se posicionar criticamente diante das novas
formas da cultura corporal de movimento, desde o esporte/espetáculo, dos
meios de comunicação, às atividades de academia e as práticas alternativas.
É hora de recapitular!

Neste capítulo você pôde observar as noções de prescrição de


exercícios e o bom senso para tal prescrição, respeitando sempre as fases de
desenvolvimento motor da criança e o domínio cognitivo e a cultura corporal.
Capítulo 3
As funções fisiológicas e as
qualidades físicas na criança
Neste capítulo veremos que as funções fisiológicas ao longo do
desenvolvimento da criança e do adolescente são fundamentais para o
desempenho das qualidades físicas que compreendem: a força, flexibilidade,
potência, entre outros.

3.1 Adaptações à prescrição de exercício

Crianças e jovens estão muito mais suscetíveis aos possíveis danos


causados por um treinamento muito intenso do que os adultos. Por esta razão
deve-se estar atento, pois a tolerância a estímulos é muito variável entre
crianças de mesma idade cronológica e biológica, por isto, um mesmo estímulo
pode ter efeitos positivos ou negativos.
Em razão da contínua sedimentação, os ossos não são compactos, mas
muito sensíveis. Os tendões e ligamentos não se apresentam suficientemente
tensos. O tecido cartilaginoso, pouco calcificado e em elevada taxa de
multiplicação, é muito suscetível a lesões por excesso de pressão ou força.
O aparelho motor passivo requer um longo período de adaptação
precisando, por isso, de uma progressão lenta dos estímulos, para que haja
tempo suficiente para adaptação e para evitar uma carga excessiva dentro do
treinamento. (WILMORE E COSTILL, 2001)
O período de recuperação do aparelho passivo é mais longo, portanto,
um estímulo muito alto no início do treinamento pode resultar em uma
recuperação incompleta, deixando este aparelho mais suscetível a lesões.
Sob o ponto de vista ortopédico deve-se atentar para os seguintes
cuidados:

Tempo de recuperação suficiente após um treinamento intenso;

Não submeter o organismo a mudanças muito fortes de estímulos;

Evitar exercícios com halteres durante a puberdade para não causar danos
à coluna;

O organismo não deve se submeter a esforços unilaterais para não lesar o


aparelho motor;
Evitar estimulação estática prolongada para não comprometer a irrigação
das estruturas trabalhadas.

3.2 Treinamento de força na infância

A ideia de exercício de força para criança é bem antiga, pois


existia o mito que quanto mais cedo começar, melhor. Mas
atualmente existe um aprimoramento em estudos com essa faixa
etária, o que permite explicar melhor essa relação. O exercício de
força é importante para criança, mas com alguns cuidados previamente
estabelecidos.
O treinamento de força desempenha um importante papel na formação
corporal geral e específica de crianças e jovens. Segundo alguns estudos, de
50 a 65% dos estudantes de primeiro grau apresentam deficiência posturais.
Seria necessário um treinamento de forças adequado à idade no sentido de
proporcionar uma profilaxia postural.
Outra importância do treinamento de força em crianças é a
complementação do treinamento esportivo, já que pode haver um desequilíbrio
funcional prejudicando o desempenho e ocasionando lesões musculares em
um treinamento esportivo muito específico.
Paralelamente ao aumento do nível de força, com um bom programa de
força para crianças, há uma melhoria da movimentação em todas as
modalidades esportivas. O aumento da força torna o movimento mais dinâmico,
fluente e preciso.
Campos (2000) cita inúmeros benefícios de um programa adequado a
crianças, supervisionado por um profissional competente e com uso correto de
técnicas de execução, a saber:

Aumento da força muscular que não só melhora a capacidade funcional da


criança como também protege as articulações pelas quais estes músculos
passam protegendo-os de lesões.

Aumento da resistência muscular.

Diminuição das lesões relacionadas com o esporte e atividades recreacionais.

Melhoria da performance no esporte e atividades recreacionais.

Melhoria da coordenação muscular.

Manutenção de aumento da flexibilidade.


Melhor controle postural.

Aumento da densidade óssea.

Aumento do condicionamento físico.

Melhoria da composição corporal.

Aumento das condições bioquímicas.

A maioria dos problemas está ligada à técnica precária de execução dos


exercícios e a intensidade dos exercícios, incompatível com a idade da criança
e a falta de orientação e acompanhamento de um profissional competente,
entre outros.
As lesões mais comuns relacionadas à musculação são as seguintes:
Fraturas no disco epifisário: esta fratura é comum acontecer quando excede a
carga de treino;
Fraturas ósseas: quando a criança não está sendo orientada e a carga está
inadequada para a mesma;
Distensões musculares: quando não realizado um aquecimento prévio
para o treinamento;
Lesões causadas por desequilíbrio muscular: os músculos precisam ser
desenvolvidos de forma igual. O desequilíbrio muscular acontece quando não
existe um programa específico, ou seja, que trabalha todos os músculos de
forma padronizada.
Um programa de musculação equilibrado, com a mesma proporção de
estímulos entre os músculos antagônicos e agônicos e a execução de
alongamentos é a melhor maneira de evitar o problema.
Com relação a traumas um programa de força bem
planejado é fundamental para saúde e desenvolvimento
da criança e adolescente, mas quando for mal planejado
expõe à criança risco de desequilíbrios musculares, o que
num futuro poderá ocasionar problemas de saúde, traumas e problemas
posturais.

3.3 O rendimento anaeróbio na criança e no adolescente

Ultimamente existe uma gama de estudos e métodos


para fornecer um suporte e evidências no que diz
respeito a mudanças no metabolismo anaeróbio lático.
Em relação à criança, ainda existem muitas coisas a
serem respondidas, mas abordaremos alguns fatores
que são fundamentais termos noção para prescrição de exercícios.
No que diz respeito à criança, a capacidade para realizar atividades do
tipo anaeróbias é significativamente inferior a dos adolescentes e adultos (Bar-
Or, 1983).
A “performance” anaeróbia progride com a idade e este padrão é
contrário ao que é descrito para o consumo de oxigênio por quilograma de
peso corporal, o qual, em indivíduos do sexo masculino, permanece
virtualmente sem modificações da infância à fase adulta.
A relação de causa e efeito da ``performance`` inferior das crianças em
provas de potência anaeróbia se deve a uma pequena estocagem de creatina
fosfato, que irá interagir em uma reação química e será em um primeiro
momento a fonte fornecedora de ATP. Este sistema ATP-CP se formará na
adolescência e dará início a uma mudança metabólica/fisiológica preparando a
criança para tarefas de curta duração e altíssima intensidade.
Em comparação ao adulto, a criança é deficitária no que diz respeito a
sua capacidade anaeróbia e tal situação permite demonstrar que a criança não
tem força para exercer por muito tempo uma atividade do qual o subproduto é
lactato.
A concentração de lactato sanguíneo pode ser afetada pela taxa de
formação e acúmulo durante o exercício. Este fluxo tem um aumento no
músculo e com o excesso tende a ir para o sangue, perfazendo uma
concentração elevada e levando o indivíduo à fadiga geral ou localizada.
Embora nenhum dado esteja disponível para a taxa de fluxo e consumo
de lactato em crianças, há algumas sugestões a respeito do déficit de oxigênio
e perfil metabólico muscular em crianças, as quais indicam menos formação e
acúmulo de lactato para a mesma carga de trabalho relativo quando
comparado com adultos (Tanaka & Shindo, 1985).
Quando falamos da musculatura, a atividade da enzima succinato-
desidrogenarse (SDH) na musculatura esquelética, sabe-se que essa é um
tanto mais alta quando comparadas com adultos destreinados. Outra
explicação para o comportamento dos níveis de lactato baseia-se na hipótese
de uma relação entre o estado da maturação e a lactacidemia. Esta hipótese
decorre de experimentação animal, tendo sido verificada uma associação direta
entre a taxa de produção de lactato e a testosterona circulante.
A capacidade anaeróbia significativamente inferior das crianças em
relação aos adolescentes e adultos está ligada a menores estoques de
creatina-fosfato (CP) e glicogênio muscular, menor atividade das enzimas
fosforilase, fosfofrutoquinase (PFK) e lactato-desidrogenase (LDH) e a níveis
mais baixos de testosterona.
3.4 A aptidão aeróbia na criança

A aptidão física é composta por força, resistência de força, flexibilidade,


capacidade cardiovascular e composição corporal. Agora, ao longo do
desenvolvimento humano existem outros componentes que serão utilizados no
que diz respeito ao esforço físico como: potência aeróbia, potência anaeróbia e
componente lento. Em nosso caso, como nosso trabalho será só de crianças,
falaremos das três (força, resistência de força, flexibilidade, capacidade
cardiovascular e composição corporal).

3.5 Métodos e programas de treinamento de força na


criança

Weineck (1999) utiliza uma separação por faixa etária no


programa de treinamento de força na infância.

Idade pré-escolar _ nesta fase do treinamento de força empregado é diferente


do comumente utilizado. Basta a compulsão das crianças se movimentarem
todo o tempo para que haja um desenvolvimento do aparelho motor ativo e
passivo e para que haja estímulo suficiente para o crescimento ósseo e
desenvolvimento muscular.

Primeira idade escolar _ nesta fase utiliza-se o treinamento dinâmico, em


função da baixa capacidade anaeróbia apresentada pelo organismo infantil e
das condições desfavoráveis destes organismos para o trabalho estático. Em
primeiro plano deve estar o treinamento para força rápida.

Idade escolar tardia _ nesta fase há um fortalecimento de diversos grupos


musculares através de exercícios com cargas que superam o peso do próprio
corpo.

Pubescência _ devido a um grande crescimento longitudinal seguido de uma


fase desarmônica das proporções corporais, nesta fase, a possibilidade de
executar exercícios de alavanca é sempre desproporcional ao potencial de
desempenho da musculatura. Nesta faixa etária, a força geral deve ser
paralelamente desenvolvida com a força específica e os seus requisitos
próprios do condicionamento. Sendo que a força básica geral é treinada
através de circuitos, de lutar, de empurrar e puxar e de exercícios com bola,
corda, etc.
Adolescência _ esta é a fase de maior resposta ao treinamento de força onde
se observam os maiores aumentos de força. De acordo com Júnior (1998) a
montagem de um programa de musculação para crianças deve ter os seguintes
aspectos: na montagem da série deve-se optar por exercícios globais,
evitando-se exercícios unilaterais, respeitando intervalos e períodos de
recuperação mais prolongados do que para os adultos. O tipo de força a ser
treinado é resistência muscular localizada.

Um programa básico de exercício para criança deve durar em torno de


20 a 60 minutos, no máximo 3 vezes por semana. Conforme a criança fica mais
velha, é interessante desenvolver outros componentes da aptidão física,
escolhendo um equilíbrio nos exercícios, respeitando a individualidade
biológica e cognitiva.
Segundo Campos (2000) as características gerais do programa de
musculação para crianças são:

Os exercícios devem ser escolhidos de acordo com a faixa etária da criança,


com o nível de condicionamento, de conhecimento e coordenação, assim como
a experiência prévia.

Programa
O programa deve conter alongamentos e exercícios de aquecimento no
começo da sessão. Na parte principal da aula os exercícios que envolvem
grandes grupos musculares devem preceder os que envolvem menores
músculos. Ao final da aula, exercícios de volta à calma.

Sobrecarga
A sobrecarga após o processo de adaptação deve ser tal que permita a criança
realizar uma média de 10 a 15 repetições por série.

Frequência
A frequência deve ser em média de 3 a 4 vezes por semana para ganhos
gerais de condicionamento.

Número de séries
O número de séries pode variar entre 1 e 2 na fase de adaptação e entre 2 e 3
nas crianças já adaptadas.

Número de repetições
O número de repetições é em média de 15 a 20 repetições na fase de
adaptação e de 10 a 15 em crianças mais adaptadas.

Período de descanso
O descanso entre as séries não precisa ser muito grande, em torno de 30
segundos a 1 minuto.

Amplitude
A amplitude deve ser a máxima que a articulação permita, sem diminuir a
segurança do exercício.
Devem ter exercícios aeróbicos como complementos do programa de
musculação.
De acordo com CAMPOS (2000) a periodização é uma boa forma de
efetivar os benefícios de treinamento resistido e evitar o excesso de
treinamento. Nas crianças, além da alternância de volume e intensidade, a
periodização deveria incluir mudanças também de exercícios.
Para se periodizar um programa de musculação, CAMPOS (2000)
sugere várias maneiras:

Alterar a sobrecarga

Alterar o número de séries

Alterar o número de repetições

Alterar os exercícios utilizados

Alterar a ordem dos exercícios

Alterar o intervalo entre as séries

Alterar as técnicas de treinamento

Alterar o número de exercícios para determinado grupo muscular.

3.6 Hipertrofia muscular

Por meio dos programas de treinamento de força as crianças


conseguem ganhos na força muscular, entretanto, a hipertrofia é mais difícil de
se alcançar em crianças do que em adultos. (FLECK & KRAEMER, 1999).
Parece que o crescimento acentuado do músculo em resposta ao
treinamento de força pode começar depois da adolescência.
Pesquisas feitas com estudantes de 1ª, 3ª e 5ª séries submetidos a
treinamento de força mostraram um aumento significativo na sessão transversa
de músculos e ossos. Outro estudo, porém, mostrou ganhos no tamanho do
músculo em crianças mais novas.
Embora os aumentos na quantidade de músculos, isto é, hipertrofia,
possam não ocorrer em crianças de todas as idades, muitas outras mudanças
nos músculos, nervos e tecidos conjuntivos sugerem um aumento na qualidade
do tecido muscular e da unidade neuromuscular.

3.7 Tolerância ao exercício

De acordo com Fleck & Kraemer (1999) para favorecer o crescimento e


o desenvolvimento adequado, a importância da capacidade da criança em
tolerar
o estresse do exercício não pode ser superenfatizada. O treinamento tem que
usar o bom senso e providenciar variações de exercícios, períodos de
recuperação ativos e descanso do treinamento.
As crianças devem começar com um programa que seja individualmente
tolerável, mas que se torne mais agressivo conforme elas ficam mais velhas. É
importante não superestimar a capacidade da criança de tolerar um programa
de exercícios ou esporte.
As necessidades de cada criança são individuais. Elas precisam
desenvolver condicionamento cardiovascular, flexibilidade e habilidades
motoras assim como força, portanto, o treinamento de força não deve consumir
tanto tempo que chegue a ignorar estes outros aspectos de condicionamento
no desenvolvimento de uma criança e interferir com o seu tempo de brincar. As
determinações individuais de objetivos, aceitabilidade e tolerância física e
psicológica são componentes essenciais do programa de treinamento.

3.8 O jogo e a criança

Quando pensamos em uma situação real de jogo, podemos observar


diversos processos e interações complexas ocorrendo. Num jogo infantil,
verificamos em um primeiro momento a organização inicial do grupo e esta
configuração vai se modificando e se compondo à medida que as
necessidades individuais e do grupo vão aparecendo.
A palavra "jogo" não é um conceito científico "stricto sensu". É possível
que por isso mesmo alguns pesquisadores procurassem encontrar algo de
comum entre as ações mais diversas e de diferentes aspectos denominadas
com a palavra jogo.
Huizinga (1980) enxerga o jogo como elemento da cultura humana.
Aliás, levando esta visão ao extremo, ele propõe que o jogo é anterior à cultura,
visto que esta pressupõe a existência da sociedade humana, enquanto que os
jogos são praticados mesmo por animais.
“A existência do jogo não está ligada a qualquer grau determinado de
civilização ou a qualquer concepção do universo”. (HUIZINGA, 1980).
Algumas regras são colocadas e as crianças têm a necessidade de se
organizarem de acordo com elas, mas isto não irá determinar especificamente
a disposição das crianças dentro da quadra e assim o grupo interage através
de um processo de aprendizagem.
Com o decorrer da brincadeira, entretanto, alguma ordem poderá ser
estabelecida. Os participantes procuram a melhor maneira de organizar a sua
equipe para conseguir vencer o jogo. O estudo do jogo tem sido abordado por
diversas áreas. Teóricos da psicologia e educação física procuram cada vez
mais utilizar o jogo para observar as mudanças no comportamento de crianças.
A análise do jogo comporta vários níveis: biomecânico, fisiológico, social,
cultural, afetivo e cognitivo. Devido à sua complexidade devemos analisar o
jogo por diferentes prismas.
De acordo com Debrun (1996), se partirmos de um organismo humano,
que visa consciente ou inconscientemente a se reestruturar para enfrentar
desafios, ou seja, passar de determinado nível de complexidade (corporal,
intelectual, existencial) para um nível de complexidade maior, poderemos
observar processos de aprendizagem auto-organizada.
A auto-organização é, portanto, uma propriedade importante a ser
explorada dentro deste novo paradigma, desde que estamos falando em
sistemas complexos, em constante mudança.
É na própria fascinação, na intensidade e paixão que residem as
características fundamentais do jogo. Aparentemente descartável, torna-se
necessidade imperativa quando o prazer por ele provocado cria essa
necessidade. Com elementos estéticos a ele relacionados.
As maneiras como as crianças se organizam durante um jogo e
estabelecem relações podem representar, de fato, um fenômeno de
aprendizagem não dirigida. O objetivo deste estudo foi o de analisar o processo
de auto-organização, emergente em um grupo de crianças durante o jogo da
queimada.
Dessa forma, sendo elemento de cultura, retransmissor e ao mesmo
tempo recriador desta e principalmente, encerrando em si mesmo sua
significação, Huizinga coloca o jogo acima do racional e mensurável; coloca-o
como função da cultura, do mais primitivo ao mais sofisticado grau.
As atividades lúdicas são fundamentais para o desenvolvimento da
criança de forma social e emocional. A construção do jogo e a função clara de
cada um nele faz com que a criança ou adolescente se sinta incluído em um
grupo, fazendo que este melhore a autoestima e confiança no desenvolvimento
de habilidades, respeitando sempre os limites individuais.
Introduzir e integrar o aluno às atividades lúdicas possibilitará uma
integração que possibilitará o usufruto da cultura corporal de movimento que
deve ser plena, além de afetiva, social, cognitiva e motora. Para isso, não basta
aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas,
aprendizagem esta necessária, mas não suficiente.
Se o aluno aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte
coletivo, precisa também aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo,
precisa compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível,
aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo,
pois sem ele não há competição esportiva.
Preparar a criança para a prática de atividades lúdicas e esportivas é
muito complexo, pois é necessário despertar uma visão crítica do sistema
esportivo profissional. É necessário fornecer informações políticas, históricas e
sociais para que ele possa analisar criticamente a violência, o doping, os
interesses políticos e econômicos no esporte.
É preciso preparar o cidadão que vai aderir aos programas de
exercícios. Num processo de longo prazo devem ser despertados motivos e
sentidos para práticas corporais, favorecer o desenvolvimento de atitudes
positivas para com elas, levar à aprendizagem de comportamentos adequados
à sua prática, levar ao conhecimento, compreensão e análise de seu intelecto
os dados científicos e filosóficos relacionados à cultura corporal de movimento.
É preciso levar em conta que atividade corporal é um elemento
fundamental da vida e que uma adequada e diversificada estimulação
psicomotora guarda estreitas relações com o desenvolvimento cognitivo,
afetivo e social da criança.

3.9 Metodologia e estratégias

Existem várias maneiras de desenvolver um programa para crianças,


mas citaremos apenas algumas metodologias a seguir.

Jogos de competição e cooperação;

Sequências pedagógicas de movimento;

Grandes jogos;

Descobrimento;

Resolução de problemas;

Jogos de mímica;

Expressão corporal;
Brincadeiras infantis;

Brincadeiras relacionadas à cultura corporal;

Jogos simbólicos;

Jogos rítmicos;

Exercícios em dupla, trios, etc;

Cabo de guerra;

Aulas com música;

Jogos pré-desportivos;

Gincanas;

Festivais.

Agora, para complementar este estudo, vamos ver os exemplos de


princípios metodológicos.

Princípio da inclusão: os conteúdos e estratégias escolhidos devem


sempre incluir todos os alunos.

Princípio da diversidade: a escolha dos conteúdos deve, tanto quanto


possível, incidir sobre a totalidade da cultura corporal de movimento incluindo
jogos, esporte, atividades rítmicas, dança, lutas, artes, ginásticas, etc.

Princípio da complexidade: os conteúdos devem adquirir


complexidade com o decorrer das idades.

Princípio da adequação do aluno: em todas as fases do processo de


ensino deve-se levar em conta as características, capacidades e interesses dos
alunos nas perspectivas motora, afetiva, social e cognitiva.

É hora de recapitular!

Neste capítulo compreendemos que as funções fisiológicas ao longo do


desenvolvimento da criança são fundamentais para o desempenho de suas
qualidades físicas.
Chegamos ao final deste livro, caso tenha alguma dúvida, volte ao
conteúdo e releia os pontos importantes.

Boa sorte e Sucesso!

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