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O MUNDO SENSORIAL DO

AUTISMO
AULA 2

Profª Lilian Wellen S. dos Santos


CONVERSA INICIAL

O desenvolvimento leva à maturação do sistema nervoso, para que possa


desempenhar habilidades cada vez mais complexas, além de novos
comportamentos. O desenvolvimento se dá, especialmente, na primeira infância,
sendo primordial para o desempenho nas demais fases da vida (Caminha, 2008).
Nesta etapa, vamos estudar os aspectos da primeira infância, trazendo
considerações a respeito das etapas de desenvolvimento físico e cognitivo e
identificando os marcos do desenvolvimento típico. Também vamos identificar
os distúrbios motores e psicomotores na primeira infância, reconhecendo a
importância do desenvolvimento global da criança. Por fim, vamos estudar os
parâmetros de observação do crescimento típico da criança, reconhecendo
estratégias metodológicas para o seu desenvolvimento neurocognitivo.

TEMA 1 – PRIMEIRA INFÂNCIA

Crianças de zero a seis anos de idade fazem parte da faixa etária


considerada como primeira infância. É a fase em que acontecem processos de
desenvolvimentos intensos, ricos em experiências sensoriais, sociais e motoras.
É um período muito importante para o desenvolvimento da criança. As
experiências desse período serão relevantes para toda a vida do indivíduo
(Nepomuceno et al., 2019).
Neste período, os pais e a comunidade apresentam responsabilidades de
importância fundamental, pois em nenhuma outra fase do desenvolvimento
encontramos experimentações do desenvolvimento tão intensas quanto na
primeira infância.
Durante a primeira infância, são desenvolvidas as habilidades
emocionais, físicas e cognitivas, principalmente nos três primeiros anos de vida,
quando áreas fundamentais do cérebro são desenvolvidas (Bee; Boyd, 2011).
Todos os aspectos do desenvolvimento da criança sofrem a influência dos
eixos estruturantes que a cerca: cuidado e criação; saúde, alimentação e
nutrição; educação inicial; recreação; exercício da cidadania e participação.
Bee e Boyd (2011) afirmam que crianças com desenvolvimento integral
saudável durante os primeiros anos de vida têm maior facilidade de adaptação
a diferentes ambientes e de adquirir novos conhecimentos. Assim, essa etapa
impacta significativamente na vida escolar. Precisamos considerar também que

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essa fase é uma via de mão dupla, uma vez que a escola faz parte do
desenvolvimento pleno e integrado da criança.
Desse modo, considerando fatores e condições que podem afetar o
desenvolvimento pleno na primeira infância, vamos refletir sobre o
desenvolvimento integrado na primeira infância, elucidando os distúrbios
motores e psicomotores na primeira infância e suas consequências no
desenvolvimento global do sujeito, para que seja possível auxiliar os
profissionais, no contexto da educação infantil, com a identificação precoce de
atrasos no desenvolvimento. Assim, eles poderão atuar em promoção da saúde
e prevenção, buscando aumentar a qualidade de vida da criança.

1.1 Desenvolvimento integrado na primeira infância

Com o avanço da neurociência, diversos estudos sobre desenvolvimento


infantil comprovam que cuidados iniciais com o período gestacional, condições
ambientais e estímulos ofertados à criança, desde a gestação e durante a
infância, são determinantes para o seu desenvolvimento. Afinal, quando a
criança nasce, o seu sistema nervoso central ainda não está completamente
desenvolvido (Bee; Boyd, 2011).
Embora as mudanças evolutivas durante a formação da criança
caracterizem o seu padrão particular de desenvolvimento, existem
características comuns que são esperadas durante cada fase de sua vida.
Essa é uma etapa fundamental para o desenvolvimento humano. Bee e
Boyd (2011) definem que, para que essa fase se desenvolva de forma integral e
saudável, para que a criança alcance o seu potencial pleno no futuro, ela precisa
ter um alicerce integrado. Ou seja, deve receber nutrição e cuidados de saúde
adequados, em um ambiente familiar afetivo, seguro e incentivador, recebendo
educação de qualidade.

Crédito: GoodStudio/Shutterstock.

Essas mudanças podem ser chamadas de desenvolvimento infantil.


Trata-se do processo de transformação pelo qual a criança passa, desde o
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nascimento, adquirindo capacidades de se comunicar, engatinhar, andar etc.
Piaget distingui, didaticamente, quatro fases do desenvolvimento: sensório-
motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. A partir da
compreensão dessas fases, podemos identificar atrasos no desenvolvimento da
criança. Vamos definir as fases de Piaget (citado por Calderoni, 2013):

• Fase 1: sensório-motor (nascimento até cerca de 2 anos). O bebê


começa a ter consciência do próprio corpo, de seus sentimentos e
movimentos. Começa a perceber que há um mundo exterior a ele.
Chegam as primeiras conquistas: andar, falar, sorrir, comer etc.
• Fase 2: pré-operatório (2 a 7 anos de idade). Tem início o “faz de conta”
e os “porquês”. A comunicação fica mais clara, embora o real ainda se
confunda com a sua própria interpretação. O egocentrismo ainda
prevalece.
• Fase 3: operatório concreto (7 a 11 anos). A criança começa a agir com
mais empatia, dando fim ao egocentrismo que antes prevalecia. Já
começa a compreender melhor o “certo” e o “errado” e as normas sociais.
Também é nessa fase que começa o desenvolvimento do raciocínio
lógico, com aumento de suas possibilidades de resolução de problemas.
• Fase 4: operatório formal (a partir de 11 anos). Última fase do
desenvolvimento. Nessa fase, a criança começa a se valer de deduções,
hipóteses e pensamentos críticos. Começa também a formar opiniões
sobre diferentes assuntos.

TEMA 2 – DISTÚRBIOS MOTORES E PSICOMOTORES NA PRIMEIRA


INFÂNCIA

O desenvolvimento motor e psicomotor é um processo sequencial,


contínuo e relacionado à idade cronológica, ao longo do qual são construídas
habilidades motoras simples, que progridem para as mais complexas (Willrich,
et al., 2009)
Atualmente, a ciência define que o comportamento motor é a soma da
maturidade do sistema nervoso central com fatores ligados a estímulos externos.
Desse modo, alterações ou inadequações nesses fatores podem resultar em um
distúrbio motor; quanto maior o número de riscos, maior a probabilidade de
distúrbios motores (Morais, 2013).

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Segundo a literatura, a prematuridade está ligada a uma maior frequência
de distúrbios de desenvolvimento, principalmente quando a criança apresenta
baixo peso. Distúrbios cardiovasculares, respiratórios e neurológicos, infecções
neonatais, desnutrição, baixas condições socioeconômicas e nível educacional
precário dos pais também estão entre as principais causas (Willrich et al., 2009).
Em específico, a desnutrição está entre os principais influenciadores do
atraso no desenvolvimento infantil, mesmo em crianças com sequelas menos
graves. Acaba resultando em alterações no desenvolvimento neuropsicomotor,
o que prejudica o desenvolvimento intelectual e influencia na linguagem e na
sociabilidade (Cardoso; Magalhães; Barbosa, 2011).
O desvio no desenvolvimento motor e psicomotor pode ser o primeiro sinal
de outros distúrbios do desenvolvimento, considerando que atrasos em marcos
motores (como sustentar a cabeça, sentar-se, andar, falar) podem ser um sinal
de outras alterações, como deficiências mentais (Morais, 2013).
Vale ressaltar a importância da intervenção precoce e dos avanços nos
cuidados neonatais, para que os distúrbios sejam amenizados nas ocupações
do sujeito. Nesse contexto, é preciso considerar os fatores de risco modificáveis
relacionados a causas pré-natais, que incluem: desnutrição materna; má
assistência à gestante; doenças infecciosas (sífilis, rubéola, toxoplasmose);
fatores tóxicos (alcoolismo, consumo de drogas, efeitos colaterais de
medicamentos teratogênicos); poluição alimentar; e tabagismo (Cardoso;
Magalhães; Barbosa, 2011).

TEMA 3 – DESENVOLVIMENTO GLOBAL

O desenvolvimento global é um conjunto de habilidades responsável pela


autonomia da criança. É um processo que engloba aspectos neurológicos,
físicos, comportamentais, cognitivos, afetivos e sociais (Braga, 2017).
As habilidades do desenvolvimento global se iniciam na vida intrauterina
e amadurecem no decorrer da vida, especialmente nos primeiros anos da
infância, permitindo a aquisição de novas habilidades e aumentando a sua
complexidade.
Para garantir um desenvolvimento global integral e pleno, é importante
que diversos fatores estejam presentes em harmonia, como contexto social,
nutrição e afeto dentro de casa e na escola. É necessário considerar também
que a principal função da criança é brincar, sendo necessário, portanto, estimular
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a brincadeira em todas as fases de desenvolvimento, de maneira integrada e
plena.
Erros ou deficiências durante qualquer fase da maturação da criança
podem acarretar consequências negativas para o desenvolvimento infantil.
Quando alguma das habilidades é disfuncional, temos o Transtorno
Global do Desenvolvimento (TDG), uma categoria em que estão agrupados os
transtornos que afetam diferentes funções do desenvolvimento humano (Braga,
2017).
Não existe uma causa única para o atraso do desenvolvimento global, ou
seja, ele é multifatorial. No entanto, pesquisas elencam como principais
influenciadores as causas etiológicas e genéticas.
O DSM IV (citado por Braga, 2017) elenca cinco tipos de Transtorno do
Desenvolvimento Global:

• 0: Autismo infantil
• 1: Autismo atípico
• 2: Transtorno de Rett
• 3: Transtorno Desintegrativo da Infância
• 4:Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e movimentos
estereotipados
• 5: Transtorno de Asperger (ou síndrome de Asperger)

Embora exista confusão entre o TEA e o TDG, o TEA é um dos tipos de


TDG. Desse modo, podemos dizer que qualquer nível de TEA apresenta TDG.
Sabemos que a maioria das crianças com diagnóstico precoce de
transtornos do desenvolvimento global experimenta, ao longo dos anos,
resolução ou atenuação em alguns sintomas cognitivos. As crianças tendem a
continuar com problemas emocionais e de aprendizagem que exigiram apoio
especializado nos primeiros anos escolares. Muitas vezes, as consequências do
atraso serão notadas somente na fase escolar. Por conta disso, é importante que
o educador esteja atento ao desenvolvimento global infantil (Braga, 2017).

TEMA 4 – MARCOS DO DESENVOLVIMENTO TÍPICO

Quando o bebê nasce, imediatamente passa a receber estímulos


externos. A luz, por exemplo, é um estímulo completamente novo para o recém-
nascido, de modo que o nascimento é um fator naturalmente estressor. Nesse

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contexto, calor, voz, colo da mãe, temperatura, amamentação e outros fatores
combinados podem ajudar a trazer a criança ao mundo de forma mais agradável
(Bee; Boyd, 2011).
Cada um desses estímulos, considerando como a criança é cuidada,
impacta em seu desenvolvimento. Aqui, veremos os marcos motores, de acordo
com Bee e Boyd (2011), que estão presentes em cada fase da criança, com o
intuito de facilitar a identificação precoce de atrasos. Isso pode mudar o futuro
da criança.
De modo geral, a partir de seus 2 meses e 3 meses, o bebê começa a
explorar as mãozinhas, de modo que muitas vezes leva a mão à boca; começa
também a sorrir para as pessoas; consegue se acalmar rapidamente; tenta olhar
para os pais; começa a fazer barulhos; passa a virar a cabeça em direção aos
sons; consegue manter a cabeça elevada; começa a erguer o tronco quando
está de bruços; faz movimentos mais suaves com os braços e as pernas; dá
atenção a rostos; começa a seguir objetos com os olhos; reconhece as pessoas
de longe; e começa a ficar entediado (chora, fica inquieto) se a atividade não
muda.

Crédito: Natalia Zelenina/Shutterstock.

Nessa fase, é importante estimular o bebê a realizar o tummy time, termo


em inglês para a prática de deixar a criança em decúbito ventral, ou seja, de
barriga para baixo. Essa postura é importante porque favorece o movimento de
levantar a cabeça, fortalecendo o tronco.

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Dos 4 aos 6 meses, o bebê é capaz de fazer a “esfinge”, quando se deita
com as mãos juntas, levantando a cabeça. Começa também a estabilizar seu
sono; rolar; reconhecer sons; balbuciar; imitar os sons que ouve; chorar de
maneira diferente para mostrar fome, dor ou cansaço; sorrir de forma
espontânea; brincar com as pessoas e chorar se a brincadeira acaba; imitar
alguns movimentos e expressões faciais; responder a afeto; tentar pegar um
brinquedo com uma mão; usar as mãos e os olhos juntos; seguir as coisas em
movimento com os olhos de um lado para observar os rostos atentamente;
reconhecer pessoas e coisas familiares de longe; manter a cabeça erguida
firmemente, sem apoio; empurrar as pernas quando os pés estão encostados
em uma superfície dura; rolar de barriga para cima quando está de bruços;
segurar um brinquedo e chacoalhá-lo; balançar brinquedos pendurados; levar as
mãos à boca; apoiar-se sobre os cotovelos quando está de bruços.
Nessa fase, é importante deixar a criança no chão, em um tapetinho, com
brinquedos ao redor.
Aos 6 meses, tem início a vida alimentar da criança. Assim, é importante
que a criança consiga experimentar cheiros, cores e texturas.

Crédito: Viktoria Sokolova/Shutterstock.

Além disso, espera-se que o bebê seja capaz de: responder aos sons
emitindo outros sons; unir as vogais ao balbuciar; responder ao próprio nome;

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emitir sons para mostrar alegria e descontentamento; começar a falar sons
consoantes; reconhecer rostos familiares e começar a perceber se alguém é
estranho; gostar de brincar com outros, especialmente os pais; responder a
emoções alheias, normalmente parecendo feliz; gostar de se ver no espelho;
observar as coisas ao seu redor; levar objetos à boca; mostrar curiosidade sobre
as coisas; buscar objetos que estão fora do alcance; passar as coisas de uma
mão para a outra; rolar em ambas as direções; começar a sentar-se sem apoio;
quando está de pé, apoiar o peso sobre as pernas (pode tentar saltar); balançar
para frente e para trás, às vezes engatinhando para trás antes de seguir para
frente.
A criança começa a esboçar o engatinhar entre os 7 e 8 meses. Nessa
fase, começa a reconhecer melhor os pais e os estranhos. O contato visual, mais
desenvolvido, é muito forte com o mundo externo.
Aos 9 meses, a criança já começa a responder o próprio nome.
Compreende “não”; emite muitos sons diferentes, como “mamamama” e
”bababababa”; imita sons e gestos dos outros; usa os dedos para apontar as
coisas; pode ter medo de estranhos; pode ser grudado nos adultos familiares;
apresenta brinquedos favoritos; observa o caminho de alguma coisa quando ela
cai; procura objetos que percebe que você escondeu; brinca de esconder e achar
o rosto; coloca objetos na boca; movimenta objetos facilmente de uma mão para
a outra; pega coisas, como cereais, entre o dedão e o dedo indicador; fica de pé
apoiado em algo; consegue se sentar sem apoio; puxa para levantar; engatinha.
Dos 10 aos 12 meses, começa a dar tchau, mandar beijo, sentar-se
sozinha por longos minutos e entender as dinâmicas externas. Começa a se
interessar por outras crianças. O mundo externo passa a ser cada vez mais
interessante.
Com 12 meses, a criança já sabe que ela é um “ser” e começa a
compreender melhor as coisas. Por volta de 15 meses, dá tchau, joga beijo, faz
careta. Espera-se que consiga falar em torno de 10 a 20 palavras; é tímida ou
nervosa com estranhos; chora quando a mãe ou o pai vão embora; tem pessoas
e objetos preferidos; demonstra medo em algumas situações; entrega um livro
para você quando quer ouvir uma história; repete sons ou reações para
conseguir atenção; levanta os braços e as pernas para ajudar na hora de se
vestir; brinca de “esconder e achar o rosto” e de “ciranda”; responde a pedidos
verbais simples; usa gestos simples, como balançar a cabeça para sinalizar

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“não”; emite sons com alterações no tom (soa mais parecido com a fala); diz
“mama” e “papa” e exclamações como “uh-oh!”; tenta dizer as palavras que você
fala; explora as coisas de formas diferentes, como chacoalhando, batendo ou
arremessando; acha objetos escondidos com facilidade; olha para uma imagem
ou objeto certo quando dizemos o nome do objeto; imita gestos; começa a usar
as coisas corretamente – por exemplo, bebe de um copo, escova o cabelo; bate
dois objetos um contra o outro; coloca os objetos em uma caixa, tira os objetos
de uma caixa; solta as coisas sem ajuda; cutuca com o dedo indicador; segue
instruções simples, como “pegue o brinquedo”.
Aos 18 meses, fala em torno de 30 a 50 palavras, aponta partes do corpo,
continua algumas músicas, gosta de outras crianças e copia alguns
comportamentos. Também fala diversas palavras simples; diz “não” balançando
a cabeça; aponta para mostrar a alguém o que deseja; mostra afeto para as
pessoas com quem está familiarizado; brinca de faz de conta simples, como
alimentar uma boneca; mostra interesse em uma boneca ou animal de pelúcia,
fingindo alimentá-los; aponta para uma parte do corpo; faz rabiscos sozinho;
anda sozinho; pode conseguir subir degraus e correr; puxa brinquedos enquanto
anda; ajuda a se despir; bebe de um copo; come com uma colher.
Aos 24 meses, compõe pequenas frases, olha nos olhos, sabe o nome
dos familiares, consegue andar de triciclo, correr, pular com dois pés; fala de 100
a 200 palavras; repete palavras que ouviu em uma conversa; aponta para coisas
em um livro; mostra cada vez mais independência; mostra um comportamento
desafiador (faz o que pediram para não fazer); brinca principalmente ao lado de
certas crianças, mas começa a incluir outras crianças, como em brincadeiras de
pega-pega; encontra objetos mesmo quando escondidos debaixo de duas ou
três camadas; começa a separar formas e cores; pode começar a usar uma mão
mais do que a outra; constrói torres de quatro ou mais blocos; segue instruções
de dois passos; nomeia itens em um livro de imagens, como gato ou pássaro;
fica na ponta do pé; chuta uma bola; começa a correr.

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Crédito: Natchapohn/Shutterstock.

Por volta dos 30 meses, sobe escadas, escala móveis e consegue descer
com facilidade; o brincar imaginário está desenvolvido; cria brincadeiras;
consegue brincar de esconde-esconde e pega-pega; demostra sentimentos;
apresenta expressão corporal mais aprimorada; sabe demostrar quando está
triste; sabe o seu nome; espera-se que fale de 300 a 500 palavras.
Com 3 anos, a criança fala aproximadamente 1000 palavras; consegue
formular frases longas e complexas; é capaz de desenvolver diálogos;
compreende sentimentos; se comunica com clareza; reconhece cores, letras e
números; reveza em brincadeiras; mostra preocupação por um amigo que está
chorando; entende a ideia de “meu”, “seu” ou “sua”; separa-se com facilidade da
mãe e do pai; pode ficar aborrecido com mudanças grandes na rotina; entende
palavras como “dentro”, “em cima” e “embaixo”; fala o primeiro nome, a idade e
o sexo; fala bem o suficiente para que as pessoas estranhas entendam o que diz
na maior parte do tempo; pode manusear brinquedos com botões, alavancas e
partes móveis; monta quebra-cabeças com 3 ou 4 peças; constrói torres de mais
de 6 blocos.
Com 4 anos, consegue pular corda; pular de um pé só; fantasiar com
maior frequência; consegue usar tesoura com destreza; utilizar o lápis de forma
adequada; desenhar esboço de pessoas, sol, nuvem; consegue contar como foi
a escola e narrar rotinas; gosta de fazer coisas novas; brinca de “mamãe” e
“papai”; coopera com outras crianças; com frequência não consegue separar o

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real do imaginário; fala sobre o que gosta e sobre o que está interessada; conta
histórias; consegue dizer nome e sobrenome; lembra-se de partes de uma
história; entende a ideia de “igual” e “diferente”; desenha uma pessoa com 2 a 4
partes do corpo; usa tesouras; começa a copiar algumas letras de forma; brinca
de jogos de tabuleiro ou de cartas.

Crédito: Colorfuel Studio/Shutterstock.

Com 5 anos, sabe distinguir fantasia e realidade; sabe separar tamanhos


diferentes; consegue separar itens de cada local; pode começar a aprender a ler
e escrever; se expressa com clareza; apresenta capacidade de atenção
melhorada; executa ordens diretas; se mostra mais propensa a cumprir as
regras; gosta de cantar, dançar e atuar; consegue separar o real do imaginário;
conta uma história simples usando frases completas; consegue escrever
algumas letras ou números; copia um triângulo e outras formas geométricas;
consegue dar cambalhota; brinca de balança e escala; usa tesouras com mais
segurança; consegue pegar uma bola quicando na maior parte das vezes.

TEMA 5 – DESENVOLVIMENTO NEUROCOGNITIVO

Aspectos socioafetivos apresentam ligações diretas com a cognição e as


emoções, com influência direta no processo de aprendizagem. Assim, a relação

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afetiva (que antes era vista como papel apenas da família) passou a ser inserida
no ambiente escolar. Sobre o tema, Silva (2016) complementa:

Os profissionais da educação ao lidarem diretamente com indivíduos


em formação necessitam mais do que conhecimentos e
responsabilidades, precisam de um compromisso pessoal e
envolvimento emocional para promover o desenvolvimento cognitivo e
afetivo dos alunos, pois, o uso de estratégias que possibilitem a
promoção de diferentes valores e emoções é fundamental.

O professor, como mediador do conhecimento, coordena o processo de


aprendizagem da criança que chega aos seus cuidados. Desse modo, é
necessário que tenha conhecimento de estratégias para incentivar o
desenvolvimento das crianças (Nepomuceno, 2019).
Nos primeiros anos de vida, de acordo com Silva (2016), a criança passa
pelo período de maior plasticidade neural. Ou seja, o cérebro está na fase de
maior capacidade para reorganizar neurônios e se adaptar a mudanças. Por
conta disso, as atividades realizadas nesse período serão responsáveis por fazer
conexões e favorecer a integração das fontes sensoriais. Ou seja, no primeiro
ano de vida a criança está em sua fase primordial de conhecimento das
sensações. Sabemos, ainda, que a aprendizagem sensorial é fundamental para
o desenvolvimento do cérebro.
O brincar é a principal ocupação da criança. A maneira como a criança
brinca, aprende, fala, age e se movimenta traz indicações importantes sobre o
seu desenvolvimento. É através do brincar que o desenvolvimento acontece
(Bundy; Lane, 2020).
Considerando esse contexto, uma das estratégias que devem ser
utilizadas com a criança é criar oportunidades de exploração de novos materiais,
através do brincar e de estímulos sensoriais diferentes. Assim, auxiliamos a
criança na formação de novas sinapses, o que acarreta um melhor desempenho
neurocognitivo.

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Crédito: Olga Belyaevskay/Shutterstock.

Além disso, é importante: oferecer um ambiente seguro e acolhedor, ser


consistente e previsível; elogiar comportamentos bons mais do que punir os
maus comportamentos; incentivar a brincadeira de faz de conta e as brincadeiras
adequadas para cada idade (Silva, 2016).
Estudos mostram que usar frases simples e claras auxilia a compreensão.
Também é recomendável: limitar a atenção perante um comportamento
desafiador; trabalhar com a criança para resolver um problema quando ela
estiver aborrecida; ler diariamente para a criança; levar a criança brincar ao ar
livre sempre que possível; permitir que aprenda através da vivência; durante os
momentos de brincadeira conjunta, deixar que as crianças resolvam os seus
próprios problemas com os amigos, ficando perto para ajudá-la se necessário;
nomear, repetidas vezes, cores, objetos e formas, para que a criança internalize
a informação e assim aprenda; oferecer música, que auxilia no desenvolvimento
neurocognitivo da criança; tornar o ambiente mais divertido e atrativo; brincar
com brinquedos que incentivem a criança a montar as coisas e desenvolver o
imaginário.

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NA PRÁTICA

Crédito: White Bear Studio/Shutterstock.

Constatamos, nesta etapa, a importância do desenvolvimento adequado


e integral para a criança na primeira infância. Analisamos também a importância
de um olhar atento e da prática do educador para melhorar o desempenho da
criança. No entanto, como podemos facilitar o olhar observador durante a prática
em sala de aula?
Sugiro a criação de um “Diário do desenvolvimento global” para cada
criança. Após identificar e ofertar os estímulos necessários para cada fase da
criança, você vai observar e registrar o comportamento de cada criança durante
o período escolar. Ao final do semestre, poderá analisar cada um deles e orientar
os pais quanto aos ajustes necessários, considerando ainda encaminhamentos
necessários para profissionais especializados em desenvolvimento infantil,
oferecendo os registros de desenvolvimento para os pais.

FINALIZANDO

Nesta etapa, estudamos o desenvolvimento humano, avaliando o


processo de transformação e aprendizagem por que a criança passa desde o
nascimento.

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Falamos a respeito da primeira infância, uma fase crucial para o
desenvolvimento, pois é fase de maior aprendizado das crianças.
Em seguida, conhecemos alguns distúrbios motores e psicomotores na
primeira infância, descrevendo como eles se desenvolvem. Descreveremos as
principais causas de distúrbios motores e psicomotores, sublinhando que atrasos
motores acarretam prejuízos que podem se estender até a fase adulta.
Na sequência, estudamos o desenvolvimento global e os marcos motores,
com o intuito de conhecer o desenvolvimento típico, o que facilita a identificação
precoce de atrasos, influenciando o futuro da criança de forma significativa.
Por fim, discutimos o desenvolvimento neurocognitivo, buscando
conhecer estratégias metodológicas para o desenvolvimento neurocognitivo da
criança.
Vale ressaltar, ainda, que a afetividade deve ser usada pelos professores
como recurso de aprendizagem, nas relações acadêmicas, pois terá influência
significativa, de acordo com a literatura, na capacidade de aprendizagem e no
desenvolvimento integrado da criança. Nota-se também a importância da
ampliação de olhares sobre a criança. É necessário considerá-la como um ser
humano global e em desenvolvimento, em sua relação com aqueles que estão
próximos e que acompanham o seu desenvolvimento de forma íntima. A ideia é
acompanhar o desenvolvimento da criança de forma integral.

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REFERÊNCIAS

BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento 12. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2011.

BRAGA, A. R. C. Transtornos Globais de Desenvolvimento e Altas


Habilidades. 1. ed. Curitiba: IESDE Brasil, 2017.

BUNDY, A. C.; LANE S. J. Sensory Integration: Theory and Practice.


Philadelphia: F. A. Davis, 2020.

CALDERONI, E. Piaget: fases do desenvolvimento. Rio Grande: Universidade


Federal do Rio Grande, 2013.

CAMINHA, R. C. Autismo: um transtorno de natureza sensorial? Dissertação


(Mestrado) – PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://ppg.psi.puc-
rio.br/uploads/uploads/1969-12-
31/2008_61d166a244c37e45ba47bac616b1a845.pdf>. Acesso em: 1 mar. 2023.

CARDOSO, A. A.; MAGALHÃES, L. C.; BARBOSA, V. M. Desenvolvimento


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MORAIS, R. L. S. Desenvolvimento cognitivo e motor de crianças nos


primeiros anos de vida e qualidade do contexto ambiental: uma análise
relacional. Tese (Doutorado) – UFMG, Belo Horizonte, 2013.

NEPOMUCENO, R. et al. Terapia Ocupacional em Educação Inclusiva:


Contextos de atuação da Terapia Ocupacional na escola. 1. ed. Chapecó, SC:
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SILVA, D. R. da. Estratégias de ensino e a promoção do desenvolvimento


cognitivo e afetivo. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em
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WILLRICH, A. et. al. Desenvolvimento motor na infância - influência dos fatores


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mar. 2023.

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