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Formação

Psicomotricidade e a Educação Infantil


Módulo 1 – Desenvolvimento Infantil

Manual do formando

Formadora:
Sofia Gonçalves
DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O desenvolvimento infantil é compreendido como um processo de evolução


humana tendo em consideração os aspetos ontogenéticos e filogenéticos dos indivíduos.
Sendo que este pode ser compreendido como um processo incessante de evolução
(Almeida, 2013). O neurodesenvolvimento caracteriza-se por uma evolução do cérebro e
das aptidões. Este começa muito cedo e vai aumentando a complexidade e aperfeiçoando-
se (Leitão, 2019).
O desenvolvimento da criança está dependente de vários fatores, como as
experiências sociais proporcionadas pelos adultos, as situações mais ou menos
enriquecidas de estímulos, …. Uma vez que, é através destes fatores enunciados que a
criança integra multissensorialmente e a nível neurofuncional todas as aquisições e vai
organizando os aspetos desenvolvimentais (Almeida, 2013). O desenvolvimento é um
acontecimento sequencial e interligado, que tem como finalidade o alcance da autonomia
por parte da criança (Leitão, 2019).
O desenvolvimento infantil refere-se ao estudo científico da forma como as
crianças mudam e como permanecem iguais desde que nascem até à adolescência (Papila,
Olds & Feldman, 2001). As mudanças decorrentes do desenvolvimento são sistemáticas
e adaptativas e estas podem ter um caminho definido, contudo este pode ser desviado do
esperado ou não. O desenvolvimento infantil não pode ser observado seguindo
rigidamente os marcos do desenvolvimento, pois nem todas as crianças se desenvolvem
ao mesmo tempo e pelo mesmo método. As comparações de umas crianças com as outras
entre pais devem ser realizadas de forma cuidadosa, dado que todos somos diferentes e
nos desenvolvemos de forma diferente. Para tal, juntamente com a idade de aquisição dos
marcos existe definido um intervalo de tempo no qual é normal aquela aptidão ser
desenvolvida (Leitão, 2019).
As mudanças que ocorrem ao longo do desenvolvimento podem ser distinguidas
em dois tipos: qualitativas e quantitativas. Uma mudança qualitativa é caracterizada por
uma mudança no tipo, estrutura ou organização, como por exemplo: a passagem de uma
criança não-verbal para a compreensão de palavras e para a capacidade de comunicar
verbalmente. Já uma mudança quantitativa é caracterizada por uma mudança relativa ao
número ou quantidade, como é o caso do peso, da altura e até do vocabulário (Papila,
Olds & Feldman, 2001).
Os processos físicos e psicológicos do desenvolvimento infantil são iguais para
todas as crianças, no entanto, ocorre com ritmos distintos e pode ter um resultado
diferente consoante a criança em questão. Desta forma, vamos aprofundar o tema para
percebermos porque é que uma criança se distingue de outra em termos
desenvolvimentais. Contundo, sendo o desenvolvimento um processo complexo e sem
medida exata em alguns momentos, não conseguimos responder totalmente à questão
anterior (Papila, Olds & Feldman, 2001).
No desenvolvimento existem fatores que podemos considerar protetores (como é
o caso do leite materno) e fatores de risco (como por exemplo a mãe fumar durante a
gravidez. Estes aspetos têm de ser considerados quando observamos e avaliamos uma
criança (Leitão, 2019).
O desenvolvimento infantil é um processo complexo e continuo, deste modo a
vigilância do mesmo deve ser continua para que seja possível detetar e diagnosticar
desvios daquilo que é esperado. Os especialistas, aconselham que sejam feitos rastreios
aos 9 meses, aos 18 meses, aos 24 meses e aos 30 meses, além dos rastreios realizado
quando é notório que existe alguma discrepância desenvolvimental (Leitão, 2019).

Os acontecimentos que acontecem no desenvolvimento podem ser considerados


normativos e não-normativos.

DESENVOLVIMENTO TÍPICO

Normativos é quando o acontecimento/mudança ocorre de forma idêntica para a


generalidade das pessoas duma mesma faixa etária, como pode ser exemplo a puberdade
que ocorre de forma semelhante na generalidade dos adolescentes. Fazendo parte do
desenvolvimento típico (Papila, Olds & Feldman, 2001).

Exemplo: a criança alcance cada aspeto desenvolvimental na idade ou intervalo


de tempo esperado.

DESENVOLVIMENTO ATÍPICO

Os acontecimentos não-normativos caracterizam-se por ocorrências inusitadas


que impactam de forma importante as vidas de cada um e podem causar reações negativas
dada a sua inesperada ocorrência, neste tipo de acontecimentos podem ser consideradas
as mortes de alguém próximo à criança. Os acontecimentos não-normativos não se
referem apenas a momentos negativos. Fazendo parte do desenvolvimento atípico
(Papila, Olds & Feldman, 2001).

Exemplo:
- Negativo: a criança pode nascer sem problemática e devido a um acidente
desenvolve alguma patologia ou dificuldade ao nível da aprendizagem.
- Positivo: a criança tornou-se órfã, porém aos seis anos é adotada por uma família
que se preocupa com ela e a trata bem.

CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO

Ao longo da infância ocorrem várias mudanças, ou seja, ocorre desenvolvimento.


Dado os vários processos que ocorrem, o desenvolvimento é complexo e para o
percebermos é mais simples dividi-lo nas suas várias vertentes, embora todas elas estejam
interligadas. Assim, iremos falar de desenvolvimento físico, desenvolvimento cognitivo
e desenvolvimento psicossocial nas várias etapas da infância (Papila, Olds & Feldman,
2001).
O desenvolvimento físico engloba as capacidades sensoriais, as competências
motoras, a saúde e o crescimento cerebral e do corpo. Estas aptidões influenciam outros
aspetos desenvolvimentais, de tal forma podem prejudicar ou melhorar outros
desenvolvimentos.
O desenvolvimento cognitivo caracteriza-se pela evolução das aptidões mentais,
como a memória, o pensamento, o raciocínio lógico-prático e a criatividade. Estas
competências estão fortemente associadas aos aspetos físicos e emocionais.
O desenvolvimento psicossocial diz respeito ao desenvolvimento social e da
personalidade. O desenvolvimento social caracteriza-se pelas relações com os outros e o
desenvolvimento da personalidade é a evolução da forma como sentimos, reagimos e nos
comportamos face a uma situação (Papila, Olds & Feldman, 2001).
Todas estas vertentes do desenvolvimento podem ser influenciadas por fatores
como: hereditariedade, ambiente e maturação. A hereditariedade influencia através dos
genes herdados dos pais. O ambiente influencia de forma não genética tendo em conta o
meio envolvente. E a maturação é a manifestação das várias mudanças decorrentes do
desenvolvimento. Tanto o ambiente como a maturação são influencias do meio exterior.
No decorrer do desenvolvimento tanto as características hereditárias, como as
experiências de cada um são fulcrais para o desenvolvimento. Embora o desenvolvimento
tenha uma ordem e sequencia típica, o ritmo com que este ocorre difere de criança para
criança. Deste modo, não é viável comparar crianças, nem seguir à regra os marcos de
desenvolvimento, pois as crianças apresentam diversas diferenças individuais que são
normais. Os marcos do desenvolvimento servem de auxílio para fazermos o despiste se
uma criança está dentro do esperado para a idade ou não e percebermos de que forma as
podemos ajudar. Só quando uma criança se encontra muito desviada do padrão para a
idade é que há motivo para considerarmos um desenvolvimento avançado ou atrasado.
Neste seguimento, precisamos de compreender e analisar os fatores que
influenciam o desenvolvimento: fatores hereditários (características herdadas pela
criança) e fatores ambientais (contexto em que está inserida, a família, o nível
socioeconómico, a etnia e a cultura) (Papila, Olds & Feldman, 2001).

Fatores hereditários
 Características herdadas dos progenitores.

Fatores ambientais
 Família: as crianças até há alguns anos atrás, na sua maioria, crescia em
famílias bi-geracionais (famílias compostas pelos pais e pelos filhos
biológicos ou adotados). Atualmente, cada vez mais, se observa crianças
que crescem em famílias monoparentais que podem ser de três tipos: 1.
viver apenas com o pai ou mãe biológica; 2. viver com padrastos /
madrastas; 3. viver com pais / mães homossexuais. Além destes dois tipos
de famílias abordadas, as crianças podem ainda viver em famílias
alargadas (uma rede familiar multigeracional, ou seja, vivem com os avós,
tios, tias e primos).

 Nível socioeconómico: está relacionado com vários fatores, desde os


rendimentos familiares à profissão, passando pela educação. Embora não
seja o nível socioeconómico por si só que influencia o desenvolvimento
infantil, existem fatores associados a este que influenciam como é o caso
do tipo de família e da comunidade onde a criança está inserida, assim
como os cuidados de saúde e a escolaridade que recebe.

 Etnia: é um grupo unido pela ancestralidade, raça, religião, linguagem e/ou


origens nacionais, os quais colaboram para uma sensação de identidade
comum.

 Cultura: caracteriza-se pelo modo de vida de uma sociedade que inclui os


costumes, tradições, crenças, valores, linguagem e arte. Todos os saberes
são transmitidos dos adultos para as crianças.

Durante o desenvolvimento podem ocorrer períodos críticos, estes designam-se


por um tempo particularizado no desenvolvimento em que ocorre ou não determinado
acontecimento que tem impacto no desenvolvimento. Dependendo do momento em que
ocorre e da sua duração, o período crítico pode ter um impacto mais ou menos evidente
no desenvolvimento. Por exemplo, um período sensível para o desenvolvimento da
capacidade de focar os olhos é nos primeiros 3 anos. Neste período é essencial que as
crianças com estrabismos sejam detetadas e esta patologia seja corrigida, pois se for
detetada posteriormente, a visão binocular não será desenvolvida tão apropriadamente.
Os cinco primeiros anos de vida são essenciais para o desenvolvimento e
organização do cérebro, especialmente os três primeiros anos. Deste modo, todas as
vivências são importantes para que a criança consiga atingir aquilo de que é capaz. Nesta
fase, as crianças adquirem aptidões muito rapidamente e por este motivo, qualquer
acidente que ocorra nesta fase do desenvolvimento terá um impacto muito grande no
potencial e desenvolvimento da criança, sendo esta fase um período crítico do
desenvolvimento infantil. Existem ainda acontecimentos no período de gestação que
devem ter sidos em conta quando uma criança não se está a desenvolver como era
esperado, pois os hábitos da mãe também influenciam o desenvolvimento da criança
(Leitão, 2019).
Apesar de sermos alertados para os períodos críticos do desenvolvimento, este
conceito é polémico quando nos referimos ao desenvolvimento psicológico e cognitivo,
porque nestes existe uma maior plasticidade, ou seja, as aquisições são mais facilmente
modificadas e moldáveis (Papila, Olds & Feldman, 2001).
Neste seguimento, passo a apresentar o Modelo Ecológico de Brofenbrenner. Este
modelo defende que existem cinco níveis associados de influência dos contextos, desde
o mais próximo ao mais afastado. Os cinco níveis são respetivamente: microssitema,
mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema. Brofenbrenner desenvolveu
este modelo para perceber o desenvolvimento humano, e através dele afirma que a criança
deve ser observada nos vários contextos em que se insere (Papila, Olds & Feldman, 2001).
O microssistema caracteriza-se pelo ambiente próximo à criança, ou seja, família,
escola e vizinhos. O mesossistema é a interação entre os 3 microssistmas referidos
anteriormente. O exossistema é a ligação entre 2 ou mais contextos, sendo que a criança
não está inserida em pelo menos um, mas este influencia-a. O macrossistema são os
padrões culturais. E por último, o cronossistema consiste na dimensão temporal.
Esta abordagem ao desenvolvimento, revela as diversas influências relacionadas
com o desenvolvimento da criança. A atenção dirigida ao meio envolvente da criança
permite-nos perceber as diferentes formas de uma criança agir nos diversos contextos.
Por este motivo, quando analisamos o desenvolvimento duma criança também é
importante ponderar os contextos em que a criança está englobada e as inter-relações
entre contextos (Papila, Olds & Feldman, 2001).

O desenvolvimento infantil sempre existiu, contudo, o estudo científico do


mesmo, é relativamente recente. Foi após o século XVII, em algumas comunidades, que
as crianças começaram a ser encaradas como diferentes dos adultos, até este momento,
eram apenas vistas como seres mais pequenos, mais frágeis e menos inteligentes. O estudo
do desenvolvimento infantil começou através de dados pré-existentes como: biografias
de bebés e diários feitos para registar o desenvolvimento infantil individual. Com a
evolução do estudo do desenvolvimento infantil, este passou a incluir como objetivo a
descrição (determinar padrões para o desenvolvimento nas várias idades da infância), a
explicação (apurar os motivos do desenvolvimento), a predição (prever o
desenvolvimento seguinte) e a modificação de comportamentos (intervenção para
proporcionar o desenvolvimento harmonioso).
Dada a necessidade crescente de compreender o desenvolvimento infantil, foram
criadas teorias. Estas ajudam os cientistas a atingir os objetivos falados anteriormente. As
primeiras teorias que surgiram centravam-se mais nos objetivos descrição e explicação.
Já na década de 60 as teorias passaram a dar mais enfoque no objetivo predizer e na
modificação de comportamentos. Atualmente, as teorias do desenvolvimento focam-se
nas descrições e explicações. Contudo, apesar de existirem várias teorias para o
desenvolvimento infantil, nenhuma é aceite como universal, nem nenhuma explica 100%
o processo de desenvolvimento. Na atualidade, as teorias foram dando lugar a mini-
teorias que esclarecem fenómenos particulares como: a influencia socioeconómica na
família (Papila, Olds & Feldman, 2001).

Deste modo, vamos observar de seguida as cinco perspetivas relativas ao


desenvolvimento humano.

Perspetivas do desenvolvimento humano


Indivíduos
Técnicas Causas do
Perspetiva Teorias principais Crenças básicas Estádios ativos ou
usadas desenvolvimento
passivos
O comportamento é Fatores inatos
Teoria psicossexual controlado por Observação modificados pela
Sim Passivo
de Freud poderosos instintos clínica experiência
inconscientes.
A personalidade é Interação de
influenciada pela fatores inatos e da
Teoria psicossocial Observação
Psicanalítica sociedade e desenvolve- Sim experiência Ativo
de Erikson clínica
se através de uma série
de crises.
A personalidade Interação de
Teoria relacional de desenvolve-se no Observação fatores inatos e da
Não Ativo
Miller contexto de relações clínica experiência
emocionais.
Comportamentalismo As pessoas reagem; o Procedimentos Experiência
ou teoria da meio controla o científicos
Não Passivo
aprendizagem comportamento. rigorosos
clássica (experimentais)
As crianças aprendem Experiência
Aprendizagem
num contexto social Procedimentos modificada por
Aprendizagem social observando e imitando científicos fatores inatos Ativo e
Não
(social-cognitiva) os modelos; a pessoa rigorosos passivo
contribui ativamente (experimentais)
para a aprendizagem
Mudanças qualitativas Interação de
no pensamento ocorrem Entrevistas fatores inatos e da
Teoria cognitiva de entre a infância e a flexíveis: experiência
Sim Ativo
estádios de Piaget adolescência. A pessoa observação
inicia ativamente o cuidadosa
desenvolvimento.
Cognitiva
Os seres humanos são Investigação Interação de
processadores de laboratorial: fatores inatos e da
Teoria do
símbolos. monitorização experiência Ativo e
processamento de Não
tecnológica de passivo
informação
respostas
fisiológicas
Os seres humanos têm Interação de
Teoria da vinculação Observação Ativo e
os mecanismos fatores inatos e da
Etológica de Bowby e naturalista e Não passivo
adaptativos para experiência
Ainsworth laboratorial (dependente
sobreviver; salientam-se
os períodos críticos ou dos
sensíveis; as bases teóricos)
biológicas e
evolucionais do
comportamento e a
predisposição para a
aprendizagem são
importantes
O contexto sociocultural Investigação Experiência
tem um impacto transcultural:
importante no observação da
Teoria sociocultural desenvolvimento. interação da
Contextual Não Ativo
de Vygotsky criança com
uma pessoa
mais
competente.
Tabela retirada de Papila, Olds & Feldman, 2001.

Neste seguimento, existem 3 questões essenciais no que se refere ao


desenvolvimento, sendo que algumas teorias dão maior enfase à hereditariedade e outras
dão maior enfase ao meio e às experiências.

 É mais importante a hereditariedade ou o meio?


 O desenvolvimento é ativo ou passivo?
 O desenvolvimento ocorre em estádios?

1. É mais importante a hereditariedade ou o meio?


Esta questão pretende refletir qual o fator mais importante no decorrer do
desenvolvimento. Se observarmos uma criança individualiza, a pesquisa referente
a quase todas as particularidades mostra-nos uma mistura de fatores hereditários
e de fatores do meio. Ou seja, embora hajam aspetos que pertencem mais ao foro
hereditário, o desenvolvimento da criança estará igualmente condicionado pelos
fatores genéticos e pelo meio onde estão inseridos (Papila, Olds & Feldman,
2001). O desenvolvimento ocorre do gene para o comportamento, no entanto, as
vivências marcam as características genéticas. Por exemplo, dois gémeos com os
mesmos genes sendo separados e criados em meios diferentes a certa altura vão
manifestar características e aptidões diferentes, uma vez que o meio em que estão
inseridos e as vivências serão diferentes. (Leitão, 2019).
2. O desenvolvimento é ativo ou passivo?
John Locke sustentou que uma criança quando nasce é como um quadro
branco em que a sociedade escreve. Contrariamente, Jean Jacques Rousseau,
defende que as crianças se desenvolvem consoante as suas propensões inatas
positivas. Como podemos observar, estas duas premissas são extremistas. Desta
forma, surgiram dois modelos para explicar o desenvolvimento passivo e ativo,
estes modelos foram baseados nestas defesas. Sendo que o modelo mecanicista
baseou-se na perspetiva de John Locke, e o modelo organísmico sustentou-se na
defesa de Jean Jacques Rousseau.
O modelo mecanicista aborda as crianças como se fossem máquinas,
vendo assim o desenvolvimento como passivo. Neste modelo são realçados os
aspetos quantitativos do desenvolvimento e o ser humano é analisado por partes
de funcionamento e não como um todo.
O modelo organísmico encara o ser humano como organismo ativo que
estimula o próprio desenvolvimento. Considera que as experiências e influências
do meio não fazem acontecer o desenvolvimento, mas que o podem apressar ou
atrasar. O desenvolvimento é considerado ativo (Papila, Olds & Feldman, 2001).

3. O desenvolvimento ocorre em estádios?


No modelo mecanicista, o desenvolvimento é visto como algo contínuo, ou seja,
não ocorre por estádios. Já no modelo organísmico, o desenvolvimento é visto como algo
que ocorre por estádios, em que funciona como se fosse uma escada. Ou seja, cada estádio
é construído com base no anterior e prepara-nos para a aquisição do seguinte (Papila, Olds
& Feldman, 2001).

M ARCOS DO DESENVOLVIMENTO

Os marcos do desenvolvimento são as fases de aquisição das competências


fulcrais nos vários aspetos desenvolvimentais. As etapas do desenvolvimento variam
dentro do que é tido como normal, estas variações podem ser de carácter biológico, social,
cultural e até mesmo emocional (Leitão, 2019).
Primeiramente, a criança explora os brinquedos e os objetos que a rodeiam.
Seguidamente, já brinca ao faz de conta, fantasia, recria momentos que vivenciou. A partir
dos 3 anos, as brincadeiras começam a ser mais complexas, já fazem jogos de construção
(Leitão, 2019).

Idade
Desenvolvimento Motor Intervalo
Média
Levanta a cabeça momentaneamente 1 mês ½ a 2 meses
Levanta a cabeça a cerca de 30º 2 meses 1 a 3 meses
Movimentos menos rudes dos membros 2 meses ---------------
Consegue levantar a cabeça quando está de decúbito
2 meses ---------------
ventral
A cabeça e parte superior do tronco elevam-se com apoio
3 meses 2 a 5 meses
nos antebraços
Une as mãos a meio do corpo (integração da linha média) 4 meses ---------------
Toca com as mãos no tronco e joelhos 4 meses ---------------
Bom controlo cefálico 4 meses ---------------
Leva as mãos à boca 4 meses ---------------
Rola de decúbito ventral para decúbito dorsal 4 meses ----------------
Rola de decúbito dorsal para decúbito ventral 5 meses ----------------
Começa a proteger-se, esticando os braços para a frente
5 meses ----------------
quando inclina o tronco
Suporta o peso do corpo sobre os braços estendidos e as
6 meses 4 a 8 meses
palmas das mãos abertas
Rola em ambas as direções 6 meses ----------------
Senta-se sem apoio 6 meses ----------------
Usa os membros direitos e esquerdos de forma
6 meses ----------------
independente
Leva os pés à boca quando está em decúbito dorsal 6 meses ----------------
Transfere objetos de uma mão para a outra 6 meses ----------------
Alcança objetos com uma mão 6 meses ----------------
Suporta algum peso do corpo nos pés 7 meses 6 a 9 meses
Senta-se sem ajuda e com bom equilíbrio 7 meses 4 a 14 meses
Reage à queda lateral, protegendo-se com extensão dos
7 meses ----------------
braços
Adota a posição de gatinhar 8 meses 6 a 12 meses
Suporta a totalidade do peso do corpo nos pés 8 meses 6 a 12 meses
Rebola 8 meses 3 a 14 meses
Gatinha 8 meses 5 a 13 meses
Senta-se 8 meses 4 a 14 meses
Rebola (ou contorce-se) para se deslocar para a frente ou
8 meses 6 a 11 meses
para trás
Consegue manter-se de pé apoiado 9 meses 7 a 14 meses
Põe-se de pé (apoiando-se na mobília) 9 meses 5 a 15 meses
Gatinha (enquanto gatinha, deverá haver um movimento
coordenado de cada um dos braços com a perna oposta, 9 meses 7 a 13 meses
em simultâneo)
Senta-se sem ajuda 9 meses 5 a 14 meses
Senta-se 9 meses 5 a 14 meses
Começa os movimentos de pinça fina e a apontar 9 meses ---------------
Consegue pôr-se de pé 10 meses 8 a 12 meses
Anda quando lhe seguram as mãos 10 meses 8 a 12 meses
Anda agarrado à mobília 10 meses 8 a 13 meses
Fica de pé sozinho 11 meses 9 a 16 meses
Assume a posição sentada 11 meses 8 a 15 meses
Assume a posição sentada 11 meses 6 a 16 meses
Desloca-se sentado arrastando os pés 11 meses 6 a 18 meses
Rasteja 11 meses 6 a 19 meses
Assume a posição sentada 12 meses 6 a 19 meses
Em pé passa de cinco apoios para quatro, três e dois,
12 meses ----------------
sucessivamente, até à aquisição da marcha autónoma
Consegue dar passos sem ajuda 12 meses ----------------
Desenvolve destreza bimanual 12 meses ----------------
Executa o movimento de pinça fina, segura o lápis e tenta
12 meses ----------------
construir torres com 2 cubos
11 a 18
Anda sozinho 13 meses
meses
Põe-se de pé (apoiando-se na mobília) 13 meses 6 a 18 meses
Gatinha 13 meses 8 a 17 meses
12 a 19
Baixa-se e apanha objetos do chão 14 meses
meses
Sobe mobília 15 meses ----------------
Consegue andar com um brinquedo nas mãos 15 meses ----------------
Constrói torres com 3 a 4 cubos 15 meses ----------------
15 a 20
Corre 16 meses
meses
Consegue correr, saltar com pés juntos e dançar 18 meses ----------------
Senta-se numa cadeira adequada à sua altura 18 meses ----------------
Coloca-se de cócoras 18 meses ----------------
Baixa-se e levanta-se 18 meses ----------------
Sobe e desce escadas com auxílio de uma mão 18 meses ----------------
Puxa e empurra objetos 18 meses ----------------
10 a 24
Marcha autónoma 18 meses
meses
Come sozinho 18 meses ---------------
Faz torres com 4 cubos 18 meses ---------------
Copia de forma grosseira uma linha vertical 18 meses ---------------
Bebe por um copo 18 meses ---------------
Despe-se sozinho 18 meses ---------------
Segura o lápis e faz rabiscos 18 meses ---------------
10 a 30
Anda (10 passos sem ajuda) 20 meses
meses
Anda em bicos de pés 20 meses ---------------
Pontapeia a bola 24 meses ---------------
Sobe e desce escadas sem alternância dos passos 24 meses ----------------
Anda de triciclo 24 meses ----------------
Corre em bicos de pés 24 meses ----------------
Atira uma bola 24 meses ----------------
Trepa para cima de tudo 24 meses ----------------
Aperfeiçoa a marcha e os saltos 24 meses ----------------
Folheia uma página de cada vez 24 meses ----------------
Copia círculos 24 meses ----------------
Copia linhas horizontais 24 meses ----------------
Calça os sapatos 24 meses ----------------
Veste-se sozinho 24 meses ----------------
Salta de pé-coxinho 3 vezes (em cada um dos pés) 3 anos ----------------
Sustenta-se 3 segundos em apoio unipedal 3 anos ----------------
Pedala no triciclo 3 anos ----------------
Relaciona o corpo com o meio envolvente 3 anos ----------------
Sobe com alternância e desce escandas sem alternância 3 anos ----------------
Veste-se 3 anos ----------------
Sustém-se em apoio unipedal durante 4 a 8 segundos 4 anos ----------------
Corre e salta com ambos os pés no ar 4 anos ----------------
Antecipa os movimentos 4 anos ----------------
Tem uma maior consciência das dimensões corporais e
4 anos ----------------
dos objetos
Apanha uma bola 4 anos ----------------
Copia um quadrado 4 anos ----------------
Melhora as capacidades motoras globais 5 anos ----------------
Equilibra-se em apoio unipedal durante 8 segundos ou
5 anos ----------------
mais
Tem coordenação motora com objetos 5 anos ----------------
Desce escadas com alternância 5 anos ----------------
Anda e salta para trás 5 anos ----------------
Copia um triângulo 5 anos ----------------
Recorta 5 anos ----------------
Escreve o primeiro nome 5 anos ----------------
Atinge maturidade postural e motora 7 anos ----------------
Sofia Gonçalves (2020).
Idade
Desenvolvimento Cognitivo Intervalo
Média
Foca a atenção nos rostos 2 meses ---------------
Alcança brinquedos com uma mão 4 meses ---------------
Esboça coordenação entre os olhos e as mãos (olhar para
4 meses ---------------
um brinquedo e tentar alcança-lo)
É curioso e atento ao meio envolvente 6 meses ---------------
Coloca objetos na boca 6 meses ---------------
Observa o trajeto de um objeto a cair 9 meses ---------------
Procura com o olhar os objetos que são escondidos 9 meses ---------------
Aponta com o indicador 9 meses ---------------
Explora objetos de forma diferente, como abaná-los e
12 meses ---------------
atirá-los
Encontra facilmente objetos escondidos 12 meses ---------------
Copia gestos 12 meses ---------------
Começa a imitar atividades domésticas 18 meses ---------------
Consegue apontar partes do seu corpo 18 meses ---------------
Segue instruções simples 24 meses ---------------
Reconhece-se ao espelho 24 meses ---------------
Faz puzzles de três ou quatro peças 3 anos ---------------
Faz perguntas para obter informação 3 anos ---------------
Nomeia algumas cores e números 4 anos ---------------
Compreende a ideia da contagem 4 anos ---------------
Compreende alguns conceitos temporais 4 anos ---------------
Revela atenção mais focada e duradoura 5 anos ---------------
Percebe o conceito de opostos 5 anos ---------------
Tem maior capacidade de concentração 7 anos ---------------
Emerge o raciocínio abstrato 7 anos ---------------
Consegue adiar a recompensa 7 anos ---------------
Traça a leitura e visão de si próprio, dos outros e do meio
10 anos ---------------
envolvente
Revela aumento da capacidade de focar a atenção 10 anos ---------------
Discrimina entre o certo e o errado 12 anos ---------------
Demonstra pensamentos mais complexos 12 anos ---------------
Percebe a relação causa-efeito 15 anos ---------------
Matura o pensamento abstrato 15 anos ---------------
Pensamento abstrato estabelecido 18 anos ---------------
Revela capacidade de planeamento 18 anos ---------------
Sofia Gonçalves (2020).

Idade
Desenvolvimento Social e Emocional Intervalo
Média
Começa a sorrir 2 meses ---------------
Acalma-se colocando as mãos na boca 2 meses ---------------
Sorri espontaneamente, sobretudo na presença de pessoas 4 meses ---------------
Gosta de brincar com os outros e pode chorar quando
4 meses ---------------
param
Reconhece rostos familiares e diferencia-os de estranhos 6 meses ---------------
Gosta de brincar com os outros, sobretudo os pais 6 meses ---------------
Responde às emoções dos outros 6 meses ---------------
Gosta de se olhar ao espelho 6 meses ---------------
Pode ter medo de estranhos 9 meses ---------------
Tem brinquedos preferidos 9 meses ---------------
É tímido ou ansioso na presença de estranhos 12 meses ---------------
Chora quando o pai ou a mãe se afastam 12 meses ---------------
Tem objetos e pessoas preferidos 12 meses ---------------
Brinca ao faz de conta, como dar comida a uma boneca 18 meses ---------------
Aponta para partilhar interesses 18 meses ---------------
Imita os outros, sobretudo adultos e crianças mais velhas 24 meses ---------------
Fica muito entusiasmado por estar com outras crianças 24 meses ---------------
Pode revelar comportamento desafiante 24 meses ---------------
Copia adultos e amigos 3 anos ---------------
Expressa afeto pelos amigos 3 anos ---------------
Mostra preocupação quando os amigos choram 3 anos ---------------
Gosta de fazer coisas novas 4 anos ---------------
Cada vez mais criativo no faz de conta 4 anos ---------------
Fala sobre o que gosta e o que lhe interessa 4 anos ---------------
Discrimina entre o real e a fantasia 5 anos ---------------
Mostra preocupação e simpatia para com os outros 5 anos ---------------
Consegue trabalhar em equipa 7 anos ---------------
Revela maior independência em relação aos pais 7 anos ---------------
É influenciado pelos colegas e amigos 12 anos ---------------
Está mais centrado em si, oscila entre uma confiança
12 anos ---------------
elevada e baixa
Tem curiosidade em vivenciar novas experiências 15 anos ---------------
Adquire maior independência 15 anos ---------------
Demonstra valores morais e éticos 18 anos ---------------
É menos suscetível à influência de amigos e colegas 18 anos ---------------
Sofia Gonçalves (2020).

Desenvolvimento da Linguagem e Idade


Intervalo
Comunicação Média
Emite sons 2 meses ---------------
Vira a cabeça em direção à fonte de som 2 meses ---------------
Balbucia e copia sons que ouve 4 meses ---------------
Usa diferentes tipos de choro para diferentes necessidades 4 meses ---------------
Responde a sons, emitindo sons 6 meses ---------------
Revela intenção comunicativa 6 meses ---------------
Expressa-se por jargão (linguagem pouco compreensível) 9 meses ---------------
Dá respostas repetitivas, como adeus e palminhas 9 meses ---------------
Responde a ordens simples 12 meses ---------------
Usa gestos simples como abanar a cabeça para dizer não
12 meses ---------------
ou dizer adeus
Diz “mama”, “papa” e exclamações como “ohoh…” 12 meses ---------------
Diz várias palavras simples 18 meses ---------------
Compreende e cumpre ordens simples 18 meses ---------------
Junta duas palavras 24 meses ---------------
Aumenta o vocabulário 24 meses ---------------
Segue instruções simples de dois ou três passos 3 anos ---------------
Consegue nomear muitos objetos familiares 3 anos ---------------
Percebe palavras como “dentro”, “em cima”, “em baixo”,
diz o primeiro nome, idade e género, diz o nome de um
3 anos ---------------
amigo, diz palavras como “eu”, “nós”, “tu” e alguns
plurais “carros”, “cães”, “gatos”
Expressa-se na maioria das vezes em linguagem percetível 3 anos ---------------
Sabe algumas regras básicas de gramática, como usar
4 anos ---------------
corretamente “ele” ou “ela”
Consegue dizer o primeiro e o último nome 4 anos ---------------
Conta histórias 4 anos ---------------
Tem um discurso inteligível a 90/100% 5 anos ---------------
Usa o tempo futuro 5 anos ---------------
Diz o seu nome completo 5 anos ---------------
Define conceitos abstratos 7 anos ---------------
Mantém tópicos de conversa 7 anos ---------------
Expressa-se num discurso mais social e menos egocêntrico 10 anos ---------------
Fim da capacidade de ser bilingue 12 anos ---------------
Tem padrões próprios de fala 12 anos ---------------
Sofia Gonçalves (2020).

SINAIS DE ALARME

Há alterações do desenvolvimento que ocorrem numa idade importante, de tal


modo estas devem ser avaliadas duma forma minuciosa, com alterações do
desenvolvimento refiro-me a modificações face ao observado anteriormente. Também
pode haver perda de competências / aptidões adquiridas anteriormente, isto consiste num
sinal de alarme seja em que idade for.
Assim, apresento, seguidamente, um quadro sintetizador de sinais de alarme
importantes quando observamos uma criança. Estes sinais de alarme são exatamente
sinais para que os pais procurem uma avaliação médica de forma a saber como está o
desenvolvimento da sua criança.

Sinais de Alarme Idade


Não sorri 2 meses
Não leva as mãos à boca 2 meses
Não responde ao som 2 meses
Não segue objetos com o olhar 2 meses
Não sorri 4 meses
Não segue objetos com o olhar 4 meses
Não segura a cabeça 4 meses
Não emite sons 4 meses
Não leva objetos à boca 4 meses
Não responde a sons 6 meses
Não possui controlo cefálico 6 meses
Não eleva a cabeça nem os ombros quando está de decúbito ventral 6 meses
Não emite sons 6 meses
Não se interessa por alcançar objetos que estão ao seu alcance 6 meses
Hipertonia 6 meses
Hipotonia 6 meses
Não expressa vínculo afetivo com os cuidadores 6 meses
Não rola 6 meses
Não se ri 6 meses
Não se sustenta de pé com apoio 9 meses
Não se senta sem apoio 9 meses
Não palra 9 meses
Não responde ao nome 9 meses
Não parece reconhecer pessoas familiares 9 meses
Não olha para onde se aponta 9 meses
Não transfere objetos de uma mão para a outra 9 meses
Não se sustenta de pé com apoio 12 meses
Não procura objetos escondidos 12 meses
Não diz palavras simples como mamã 12 meses
Não aponta 12 meses
Não se segura de pé 18 meses
Não anda 18 meses
Não aponta para mostrar objetos a outras pessoas 18 meses
Não imita 18 meses
Não sabe reconhecer a função de objetos comuns, como a escova, garfo,
2 anos
colher…
Não imita 2 anos
Não cumpre ordens simples 2 anos
Marcha com desequilíbrio 2 anos
Não corre 2 anos
Não atira uma bola 2 anos
Não sobe nem desce escadas com apoio 2 anos
Dá quedas frequentes e não consegue subir e descer escadas 3 anos
Não pontapeia uma bola 3 anos
Expressa-se num discurso inteligível 3 anos
Não salta com os 2 pés juntos 3 anos
Desconhece o uso funcional de brinquedos 3 anos
Não brinca ao faz de conta 3 anos
Não cumpre ordens simples 3 anos
Evita o contacto ocular 3 anos
Não salta 4 anos
Não pedala no triciclo 4 anos
Não apanha, atira ou pontapeia uma bola 4 anos
Demonstra pouca interação social 4 anos
Não compreende conceitos de “igual” e “diferente” 4 anos
Usa a terceira pessoa em vez da primeira 4 anos
Coordenação motora pobre 5 anos
Tabela retirada de Leitão, 2019.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, A. (2013). Psicomotricidade – Jogos Facilitadores de Aprendizagem (1ª ed.,


pp. 13 – 51). Viseu: Psico & Soma.
Leitão, A. (2019). Desenvolvimento Normal. Sentidos (2ª edição, capítulo 2, 33-70).
Alfragide: Lua de Papel.
Papila, D. E., Olds, S. W., & Feldmand, R. D. (2001). O Mundo da Criança. McGraw-
Hill de Portugal, Lda.

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