Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desenvolvimento
Humano
Crescimento e Desenvolvimento: Primeira Infância e Infância
Revisão Técnica:
Prof. Me. Danilo Cândido Bulgo
Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin
Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer as principais mudanças decorrentes do crescimento e do desenvolvimento do ser
na primeira infância e no início da infância;
• Compreender a importância da prática de atividade física nessas faixas etárias, relacionando-a
a uma possível intervenção profissional.
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Contextualização
A linguagem das crianças no cenário contemporâneo tem relação próxima com a
utilização da Tecnologia Digital, como celular, tablets, computador e jogos eletrônicos,
dentre outros.
Mas você, como futuro profissional do Campo da Saúde, reflita sobre a seguinte
questão: a utilização desses recursos é boa ou ruim para as crianças?
Convido você a assistir aos vídeos disponíveis nos links a seguir e refletir sobre a utiliza-
ção da Tecnologia e a infância. Posteriormente, leia atentamente o conteúdo da Disciplina.
Vamos lá?
8
Crescimento e Desenvolvimento Pós-natal
Se a vida pré-natalidade engloba as cerca de 40 semanas de formação do bebê den-
tro da barriga da mãe, ou seja, da concepção ao nascimento, a vida pós- natalidade ou,
porque não dizer logo, a vida pós-nascimento, leva em conta todo o decorrer da vida do
ser até sua morte.
Para o desenvolvimento, tal processo fica mais evidente, afinal, mesmo na vida adulta,
continuamos a modificar nosso repertório motor, acrescendo e refinando comporta-
mentos referentes ao domínio motor, isso, é claro, em menor quantidade, se comparada
à vida na infância e na adolescência.
Todos os seres vivos vão enfrentar pelo menos duas etapas do ciclo vital: o nascimento e a
morte. Desse modo, falando-se na vida humana, almeja-se passar por todas as etapas, que
vão desde o nascimento até a velhice.
A resposta para essa pergunta pode ser vista tanto como não quanto como sim.
Mas será que, ao longo da vid,a mudanças de tamanho do corpo não mais ocorrem?
Será que todos os processos de crescimento realmente se encerram?
9
9
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
10
Na Primeira Infância e em parte da infância, nós nos ateremos às fases ou aos perío-
dos desenvolvimentais denominados Período Reflexivo, Período Pré- adaptativo e Pe-
ríodo das Habilidades Motoras Fundamentais que, juntos, englobam do nascimento
até por volta dos sete anos de idade, e formam a base da torre desenvolvimental.
Feitas essas considerações iniciais, podemos, então, dar início ao estudo dos períodos
de idade, separadamente.
Primeira Infância
De acordo com nosso referencial, a Primeira Infância é classificada como do nasci-
mento até os 24 meses de idade.
Importante!
A primeira infância é considerada uma fase de rápido crescimento na maioria dos siste-
mas e consequente aumento das dimensões corporais, bem como de rápido desenvolvi-
mento do Sistema Neuromuscular.
Para melhor compreensão das mudanças que ocorrem nesses dois anos de vida,
abordaremos, primeiramente, mudanças de crescimento e maturação e, num segundo
momento, mudanças no desenvolvimento.
11
11
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Se, na barriga da mãe, o bebê era totalmente dependente de sua progenitora para sua
subsistência, agora, o organismo do bebê trabalha de forma acelerada para lhe dar condi-
ções de melhor interagir com o ambiente e poder, aos poucos, adquirir certa independência.
Nos primeiros meses de vida, há um ganho rápido de massa corporal pelos bebês.
Com cinco meses, o peso corporal praticamente dobra, e aos 24 meses chega a triplicar.
Esse é o período de maior aumento de peso de toda a vida, isso claro, impulsionado
por mudanças naturais inerentes ao componente biológico do ser, e não por uma ali-
mentação desenfreada que aumenta substancialmente o peso corporal de uma pessoa,
algo que pode acontecer em qualquer período da vida.
Para a estatura, também se observa um rápido ganho ao longo dos primeiros meses.
Para mais informações sobre as alterações de massa corporal e estatura, seja nesse ou em
outros períodos de idade, acesse as Tabelas Pôndero-estaturais.
12
Essas proporções nos ajudam a entender a dificuldade de as crianças pequenas equi-
librarem as partes de seu corpo (até pelo tamanho da cabeça) para a realização de habi-
lidades motoras, por exemplo, andar, correr, saltar etc.
Nos primeiros dois anos de vida, mudanças maturacionais já podem ser observadas.
Um bebê que mal conseguia segurar um pequeno objeto com as mãos, aos dois anos
de idade, já com uma melhora em seus níveis de força muscular e seu funcionamento neu-
romuscular, por conta da maturação dos Sistemas responsáveis (Sistema Ósseo, Muscular
e Nervoso), além de seus Sistemas Sensoriais mais evoluídos, consegue caminhar ou até
correr com passadas largas e desequilibradas, carregando um brinquedo nas mãos, como
um boneco ou um carrinho.
O bebê que só se expressava por meio do choro, quando sentia fome, sono, ou algum
tipo de incômodo relacionado ao seu estado de saúde, agora, já se expressa por meio de
algumas palavras ou até frases curtas já prontas (geralmente, ouvida dos pais).
Trocando Ideias...
Perceba que, para exemplificar maturação (e até crescimento) muitas vezes, falamos
do desenvolvimento dos diversos Sistemas do organismo e até dos comportamentos
que passam a ser incorporados pelo ser. Isso reflete, justamente, da contínua conexão
existente entre crescimento, maturação e desenvolvimento, bem como a relação desses
três processos com o ambiente em que está inserido. Sendo assim, cabe sempre certo
cuidado ao abordar os diferentes aspectos pertencentes a esses processos, de forma se-
parada ou isolada.
13
13
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Obviamente, o ambiente pode interferir, desde que condições drásticas sejam ofere-
cidas aos bebês, tais como desnutrição, obesidade, doenças infectocontagiosas, entre
outras anomalias.
Isso não significa que não haja aprendizagem, que os movimentos simplesmente “sur-
gem” no repertório motor das crianças, como afirmava A Teoria Neuromaturacional.
A relação pessoa e ambiente é importantíssima e, por isso, mais uma vez, destaca-se,
em condições ambientais normais, que as crianças adquirirão os movimentos por elas
mesmas e aprenderão sozinhas a partir de trocas com o ambiente em que estão inseridas.
Importante!
O princípio encéfalo-caudal explica que existe uma tendência de ganho no controle das
ações motoras na direção da cabeça para os pés.
A maioria das mudanças motoras observadas nos anos iniciais de vida decorre das
mudanças que ocorrem no organismo do ser em desenvolvimento (maturação e desen-
volvimento dos diversos Sistemas: Musculoesquelético, Sensorial, Neural etc.).
14
Importante!
O segundo princípio é denominado Próximo-distal, pois reflete uma tendência de ganho
no controle das ações motoras, a partir do centro do corpo, até as extremidades.
Dessa forma, fica evidente porque os bebês primeiro adquirem o controle da cabeça e do
pescoço, para só depois conseguirem sentar, engatinhar, ficar em pé e, finalmente, andar.
Um exemplo desse princípio é uma criança nos anos iniciais de Escolarização, quan-
do começa a manipular um lápis tentando desenhar as letras ou pintar um desenho,
percebe-se, nitidamente, um exagero no uso do tronco e no braço enquanto segura o
lápis, e maior dificuldade no uso das mãos e dos dedos, por exemplo, para percorrer
com precisão sobre linhas desenhadas no papel.
Outro exemplo é observado ao se pedir para uma criança pequena arremessar uma
bola o mais longe possível.
Ela, exageradamente, utiliza mais o tronco do que os segmentos mais distais (como
braço, antebraço, mãos e dedos), algo não observado em crianças mais velhas, que uti-
lizam muito mais os movimentos do cotovelo, do punho e dos dedos.
Isso explica porque primeiro adquirimos coordenação motora grossa (como ao ar-
remessar ou agarrar um objeto), e somente depois coordenação motora fina (como ao
escrever, desenhar, digitar etc.).
Bebês não precisam ser ensinados a alcançar, rolar, sentar, engatinhar, ficar em
pé ou até andar. Eles aprendem sozinhos por tentativa e erro, ou seja, explorando as
possibilidades de movimentos possíveis e selecionando aqueles que satisfaçam as suas
intenções e ou vontades. Resumindo: bebês aprendem se relacionando com o ambiente.
Afinal, se o bebê acabou de nascer, como ele já realiza certos movimentos se seus
sistemas neurais ainda estão se definindo?
Até parece que já nascemos com um “kit nascimento”. Como bebês já pressionam
objetos colocados em suas “mãozinhas”, ou até já simulam as passadas do andar, tudo
isso quase que imediatamente após o nascimento?
15
15
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Período Reflexivo
Iniciado após o nascimento e perdurando até as primeiras duas semanas de vida,
essa fase é caracterizada pore movimentos involuntários, de natureza espontânea ou
reflexiva, alguns trazidos ainda de sua gestação.
Logo, não são inerentes de comando cerebrais, advindos de intenção por parte do bebê.
16
• Reflexo primitivo de Preensão palmar e plantar: flexiona os dedos mediante
qualquer objeto que sinta na palma da mão e na planta do pé:
Importante!
Todo ser nasce com uma espécie de “kit nascimento” que, dentre outros aspectos, possui
duas funções principais: (1) Sobrevivência – Prepara o bebê para realizar as funções básicas
de alimentação e proteção; (2) Diálogo com o ambiente – Início do processo de adaptação
no qual o bebê poderá aprender o que pode fazer no ambiente em que está inserido.
Um exemplo clássico de movimento realizado pelo bebê para sua sobrevivência é o re-
flexo de sucção que é desencadeado a partir do contato de sua boca com a mama da mãe.
Já o movimento de agarrar, realizado pelo bebê, ao ter contato com o dedo de outra
pessoa, exemplifica um diálogo com o ambiente.
17
17
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Período Pré-adaptativo
A partir de agora, trataremos, rapidamente, das mudanças no desenvolvimento que
ocorrem no intervalo entre a segunda semana e o primeiro ano de vida, período que foi
chamado de pré-adaptativo.
Importante!
De certa forma, “parece” que o organismo do ser humano foi preparado ou pré-adaptado
para realizar mais facilmente alguns movimentos do que outros.
Tal denominação foi feita devido à predisposição que o organismo tem para realizar
determinadas ações.
Por exemplo, já parou para pensar por que nos locomovemos, preferencialmente,
andando e não saltando, rastejando, ou com quatro apoios, como alguns animais?
Por que a maioria das pessoas, quando bebês, realiza os mesmos marcos motores,
como, em especial, o engatinhar?
A resposta pode parecer um pouco óbvia: os diversos Sistemas do corpo humano não
estavam maturados o suficiente, de forma que fosse possível andar, ou seja, quando bebê fa-
zíamos o que conseguíamos no momento, com a estrutura física que tínhamos à disposição.
18
No período pré-adaptativo, realizamos movimentos até de certa forma desorganiza-
dos ritmicamente, mas que, dentro de nossas limitações físicas, são os melhores movi-
mentos que poderíamos fazer para atender nossos objetivos.
Por exemplo, suponha que um brinquedo, algo colorido ou um objeto qualquer di-
ferente e barulhento (como um molho de chaves) chame a atenção de um bebê, seja
tentando alcançar, rolando, se necessário for, sentando, engatinhando, ou até ficar em
pé apoiando na parede, esse bebê fará tudo que puder, de acordo com seu potencial,
para chegar até esse algo qualquer que lhe pareceu interessante.
Observe na Figura 9, a seguir: você, quando bebê, era até que, de certa forma, “de-
sajeitado”, mantinha-se predominantemente deitado, rolando de um lado para o outro e
fazendo movimentos “estranhos” e, com o tempo, depois de seus sistemas maturarem e
um incessante diálogo com o ambiente, tentando e tentando, você passa a conseguir se
sentar, engatinhar, ficar em pé e até a dar alguns passos, apoiando-se em algo e, depois
de um tempo, ficar em pé sem apoio e, finalmente, andar de forma independente.
Com a aquisição do andar independente, por volta dos 12 meses de idade, esse
diálogo com o ambiente é ainda mais intensificado, iniciando-se, assim, o período das
habilidades motoras fundamentais.
19
19
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Importante!
Parece ser um consenso entre pesquisadores da Área de Desenvolvimento a importân-
cia da aquisição e desenvolvimento dessas habilidades por parte das crianças. Também
conhecidas como habilidades motoras básicas, essas habilidades formarão a base para a
aquisição de formas mais complexas e especializadas de movimento a serem adquiridas
nos períodos posteriores.
Uma habilidade motora fundamental é definida por uma série de movimentos organizados,
envolvendo a combinação de padrões de movimento de dois ou mais segmentos corporais.
O nome “fundamental” não foi definido por acaso. Essa gama de habilidades moto-
ras são consideradas como alicerce para a realização de habilidades mais avançadas e
específicas, por exemplo, habilidades esportivas.
Correr, saltar, chutar, arremessar são todos exemplos dessas habilidades. Pode até
haver variações na aplicação de qualquer uma delas, por exemplo, na aplicação do chutar
no Futebol praticado no Brasil e no Futebol americano (tornando-se uma habilidade
específica). Entretanto, os movimentos básicos do chutar são os mesmos.
Nesse período, a criança explora e adquire diversas formas de manter sua configu-
ração corporal, desde ações motoras mais simples, como se orientar posturalmente,
ao ficar em diferentes bases de apoio até deslocar o corpo de uma localização a outra,
ou, ainda, ações que obriguem a criança a configurar seus membros e tronco de forma
específica ao manipular diferentes objetos no ambiente.
Essas habilidades são aquelas utilizadas para que o corpo seja mantido ou mudado
para uma determinada posição.
20
Essa categoria de movimentos constitui a base para todos os outros tipos de habilidades
motoras. Por exemplo, um bebê que já possui força nos músculos do pescoço, tronco e
membros inferiores aprende a equilibrar o peso da cabeça e dos outros segmentos, colocan-
do-se na posição em pé. Nesse caso, está realizando uma habilidade motora de equilíbrio.
Ao aprender a andar, que é uma habilidade motora de locomoção, ele precisa conti-
nuar mantendo a cabeça, o tronco e os demais segmentos em equilíbrio, ou seja, sem
aprender a ficar em pé, obviamente não aprenderia a andar.
Nesse caso, esses movimentos podem ser, ainda, subdivididos em movimentos mani-
pulativos finos e grossos, conforme as características do objeto e dos grupos musculares
envolvidos na realização da ação.
Habilidades Motoras
Fundamentais
21
21
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Dados os muitos segmentos corporais e músculos que podem ser ativados na rea-
lização das habilidades motoras fundamentais, a execução dessas habilidades podem
distinguir quanto ao seu estágio (nível) de desenvolvimento.
A seguir, são exemplificados esses três estágios de execução (inicial, elementar e ma-
duro) nas habilidades motoras fundamentais como correr, saltar e arremessar.
22
Figura 12 – Estágios de desenvolvimento do saltar
Fonte: Adaptada de GALLAHUE, 2003
23
23
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Até por volta dos dois anos de idade, nem todas as habilidades motoras fundamen-
tais foram adquiridas e, das que foram, a maioria ainda éexecutada em estágio inicial de
desenvolvimento.
A aquisição dos próximos níveis requer maior quantidade de prática dos movimen-
tos fundamentais.
Essas discussões serão retomadas mais adiante nesta Unidade. Feitas as considera-
ções mais relevantes a respeito de crescimento, maturação e desenvolvimento ao longo
da Primeira Infância, pode-se dar início às discussões mais importantes da próxima
etapa da vida do ser, a infância.
Infância
A partir do referencial proposto, a infância é classificada como dos 2 aos 10 anos de idade.
Já em termos de desenvolvimento motor, essa é uma das fases mais importantes para
a aquisição e o refinamento de habilidades motoras.
O desenvolvimento motor alcançado nesse período de idade pode refletir de forma de-
cisiva na oportunidade e no interesse de prática de atividade física, ao longo de toda a vida.
Justamente por se tratar de uma fase da vida muito importante (inclusive de ser es-
tudada), o estudo da infância será dividido em duas partes: uma levando em conta dos 2
aos 7 anos de idade, que será abordada ainda nesta unidade, e a outra parte dos 7 aos
10 anos de idade, que será estudada em outra Unidade.
Mais uma vez, buscando melhor compreensão das mudanças que ocorrem nesse período
de cinco anos de vida, primeiramente, discutiremos algumas das mudanças de crescimento e
de maturação e, em um segundo momento, mudanças no desenvolvimento.
24
Crescimento e Maturação na Infância
Acerca do crescimento, pouco aqui poderá ser tratado, vez que outros aspectos mais
importantes merecem ser destacados.
Apesar desse período de idade, dos 2 aos 7 anos idade, ainda ser marcado por um
crescimento razoavelmente rápido, como já destacado, se comparado à Primeira Infância,
percebe-se que, proporcionalmente, crescimento é mais lento nessa fase da vida.
Nessa faixa de idade, a massa corporal das crianças varia em torno de 12 a 25kg, a
estatura fica por volta de 84 a 125cm.
Algo importante que merece ser destacado, é que meninos e meninas apresentam
estrutura corporal muito semelhante.
Meninos são apenas ligeiramente mais pesados e mais altos do que meninas. Se você
observar, a partir de certa distância, uma criança nessa faixa de idade correndo com
a toca do agasalho na cabeça, você pode não conseguir identificar se está vendo um
menino ou uma menina.
Junto com isso, muitas mudanças são facilmente percebidas, podendo- se destacar:
• Aumento da força e da resistência muscular: crianças já conseguem carregar objetos
um pouco mais pesados;
• Aumento da capacidade cardiopulmonar: crianças brincam com mais intensidade,
demoram mais para se cansarem;
• Desenvolvimento da fala: crianças progridem de falas repetitivas e sem sentido,
para já uma formação limitada de frases e expressões próprias;
• Aquisição de certa independência: algumas crianças já comem, se vestem, tomam
banho e realizam algumas outras tarefas diárias, até certo ponto, por conta própria.
Entretanto, pode-se resumir, que essa fase de idade reflete a saída da quase total
dependência dos pais para um hábito de vida de maior independência por parte da
criança, com vontade própria e personalidade peculiar.
Não é à toa que, aos 6 anos de idade, já possam ingressar no ensino formal, pois já
têm potencial para diferentes aprendizagens.
Perceba, mais uma vez que, para falar de crescimento e de maturação, citamos de-
senvolvimento.
25
25
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Desenvolvimento na Infância
Até os períodos de idades anteriores, fatores externos (ambientais) não eram tão
importantes se comparados às influências internas inerentes do organismo do ser em
desenvolvimento.
A infância se inicia aos 2 anos de idade, podendo ser considerada um marco para
que a quantidade de influência do organismo e do ambiente comece a ser equiparada.
Uma vez que as principais definições e características das habilidades motoras funda-
mentais já foram discutidas anteriormente, a partir de agora, serão enfatizadas algumas
especificidades que ocorrem ao longo desse período desenvolvimental que vai até por
volta dos 7 anos de idade.
Essas habilidades servirão de base para os períodos subsequentes, como uma torre
construída com tijolos sobre tijolos, algo que não poderia ocorrer sem um alicerce ou
uma fundação sólida. Algumas vezes citamos coordenação motora, algo que todos pa-
recem saber, até que um dia seja questionado: o que vem a ser coordenação motora?
Importante!
Coordenação motora pode ser entendida como a interação entre o Sistema Nervoso e
o Sistema Musculoesquelético. Simplificadamente, refere-se a como os diversos seg-
mentos corporais são organizados para a realização de um determinado conjunto de
movimentos ou de determinada habilidade motora.
Essa pergunta parece fazer com que os profissionais que trabalham com o movimento
se atrapalhem, a ponto de que muitos, infelizmente, não conseguem responder.
26
A infância como um todo é tida como um período ideal para a aquisição de coorde-
nação motora básica.
Entretanto, por volta dos 6 ou 7 anos de idade, crianças já têm potencial para realizar
as habilidades motoras fundamentais com proficiência.
Vale ressaltar que o estágio maduro não é alcançado pela maioria da população, sen-
do que até mesmo adultos realizam essas habilidades motoras em um estágio elementar.
Isso expressa uma característica importante do período das habilidades motoras fun-
damentais, pois embora a aquisição da maior parte das habilidades desse período ocorra
naturalmente, ou seja, a partir delas, brincando por elas mesmas, o refinamento dessas ha-
bilidades motoras depende de uma interação mais específica das crianças com o ambiente.
Sendo assim, para alcançar proficiência, não basta qualquer prática, crianças preci-
sam vivenciar práticas desafiadoras, organizadas, inclusive acompanhadas de instrução
apropriada acerca de como realizar os movimentos, para que consigam, assim, executar
as habilidades motoras fundamentais de forma refinada.
Não muito tempo atrás, brincávamos na rua, com nossos vizinhos, no Campinho de
Futebol, nos grandes quintais de casa.
27
27
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Nos dias atuais, as crianças brincam utilizando muito mais os dedos e as mãos, seja
para pegar o controle remoto da televisão, seja para jogar no computador, videogames,
tablets, celular etc.
Um resultado relacionado às mudanças nos tipos de movimentos que estão mais pre-
sentes nas nossas ações motoras é o que temos observado (até que passivamente), como
o aumento do índice de obesidade e sobrepeso, sendo que, segundo o IBGE (CABRAL,
2020), metade dos brasileiros está acima do peso.
Essa situação é ainda mais grave se observarmos que uma em cada três crianças de
5 a 9 anos de idade já apresenta excesso de peso e, provavelmente, apresentarão pro-
blemas de saúde graves ao longo da vida.
Pensando no Desenvolvimento Infantil, o ambiente escolar, hoje, que cada vez inicia
mais cedo para algumas crianças que, desde pequeninas, já frequentam Creches e de-
pois o Ensino Infantil, para que, com 6 anos (em alguns casos, cinco anos e meio), algo
que antigamente só ocorria aos 7, já ingressem no Ensino Formal.
Um dos motivos é a vida dos “pais de hoje”. Antigamente, na maioria das famílias,
somente o pai trabalhava, a mãe ficava com os filhos e as crianças se relacionavam mais
com ela, e havia brincadeiras que envolviam movimentos como correr, saltar, rolar.
Mesmo com os pais trabalhando, nos fins de semana, eles tinham mais tempo para
brincar com seus filhos, nos parques, nas praças ou mesmo em casa.
Atualmente, com os pais mais tempo fora de casa, trabalhando mais, muitas crianças
ficam presas em seus apartamentos, passam seus dias em frente à TV, ou com video-
games, celulares, comendo desregradamente, não se lembram da existência dos movi-
mentos fundamentais, a lembrança parece só vir no momento das aulas de Educação
Física, por exemplo.
Diante do exposto, e baseado em uma visão dinâmica de restrições, cabe aos Pro-
fissionais de Saúde e Educação desempenhar um papel de manipulador de restrições,
especificamente, das restrições do ambiente e da tarefa.
Mesmo ainda na Primeira Infância, esses profissionais são capazes de propiciar con-
dições de movimentos variados às suas crianças, criando ambientes com estímulos va-
riados e abundantes que permitam às crianças vivenciarem as muitas possibilidades dos
movimentos fundamentais, por elas mesmas.
Cada profissional pode, em sua prática de atuação, inserir e criar atividades para que
as crianças explorem e selecionem movimentos em diálogo constante com o ambiente
e, que esse processo ocorra naturalmente, ou seja, por meio da tentativa e erro, descu-
bram seu potencial brincando. Portanto, um dos objetivos mais importante para quem
trabalha com crianças de até por volta os 6 anos de idade, deveria ser:
• Adquirir as habilidades motoras fundamentais (estabilizadoras, locomotoras e mani-
pulativas), realizando-as nas mais variadas condições possíveis.
28
Importante!
Conforme enfatizado, entre 6 e 7 anos de idade, éum período crítico e/ou sensível para
que crianças se tornem proficientes na realização das habilidades motoras fundamentais.
Caso as crianças não refinem as habilidades motoras fundamentais, elas podem ter
seu desenvolvimento prejudicado, principalmente, pela dificuldade que encontrarão para
adquirir novas e futuras habilidades.
29
29
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Revista Por Escrito: corpo em movimento
https://bit.ly/3gqXq40
Vídeos
PhD. David Gallahue na FSG - FSG Comunica 399 Edição
Entrevista ao professor doutor David Lee Gallahue, um dos mais importantes pesquisadores
sobre desenvolvimento motor, no 3º congresso internacional de motricidade da Serra Gaúcha.
https://youtu.be/1_R9-BBKyLM
Todo Seu – Tecnologia e Infância
Entrevista ao psicólogo especializado no atendimento infantil Tiago Tamborini no progra-
ma “Todo seu?”.
https://youtu.be/D7prk_QpqvY
Leitura
Desenvolvimento motor e crescimento somático de crianças com diferentes contextos no ensino infantil
https://bit.ly/3B4C30o
30
Referências
BARELA, J. Aquisição de habilidades motoras: do inexperiente ao habilidoso. Motriz,
Rio Claro, v. 5, n. 1, p. 53-57, 1999.
CABRAL, U. Um em cada quatro adultos do país estava obeso em 2019; Atenção Pri-
mária foi bem avaliada. IBGE, 21/10/2020. Disponível em: <https://agenciadenoticias.
ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29204-um-em-cada-
-quatro-adultos-do-pais-estava-obeso-em-2019>. Acesso em: 17/08/2021.
31
31