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Crescimento e

Desenvolvimento
Humano
Crescimento e Desenvolvimento: Primeira Infância e Infância

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Eric Leal Avigo

Revisão Técnica:
Prof. Me. Danilo Cândido Bulgo

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin
Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

• Crescimento e Desenvolvimento Pós-natal;


• Infância;
• Atuação dos Profissionais de Saúde na Infância.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer as principais mudanças decorrentes do crescimento e do desenvolvimento do ser
na primeira infância e no início da infância;
• Compreender a importância da prática de atividade física nessas faixas etárias, relacionando-a
a uma possível intervenção profissional.
UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

Contextualização
A linguagem das crianças no cenário contemporâneo tem relação próxima com a
utilização da Tecnologia Digital, como celular, tablets, computador e jogos eletrônicos,
dentre outros.

Mas você, como futuro profissional do Campo da Saúde, reflita sobre a seguinte
questão: a utilização desses recursos é boa ou ruim para as crianças?

Convido você a assistir aos vídeos disponíveis nos links a seguir e refletir sobre a utiliza-
ção da Tecnologia e a infância. Posteriormente, leia atentamente o conteúdo da Disciplina.

Vamos lá?

• Criança em forma – Entrevista ao professor doutor em Educação Física Luciano Basso no


programa “Como será?”.
Disponível em: https://glo.bo/3DhnUPA
• Tecnologia e infância – entrevista ao psicólogo especializado no atendimento infantil Tiago
Tamborini no programa “Todo seu?”.
Disponível em: https://youtu.be/D7prk_QpqvY

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Crescimento e Desenvolvimento Pós-natal
Se a vida pré-natalidade engloba as cerca de 40 semanas de formação do bebê den-
tro da barriga da mãe, ou seja, da concepção ao nascimento, a vida pós- natalidade ou,
porque não dizer logo, a vida pós-nascimento, leva em conta todo o decorrer da vida do
ser até sua morte.

É bem verdade que as maiores mudanças em crescimento e em desenvolvimento ocor-


rem, principalmente, até a segunda década de vida. Não que depois disso não ocorram
mais mudanças, pelo contrário, o ser humano está em constante processo de mudança,
desde sua concepção até a morte.

Para o desenvolvimento, tal processo fica mais evidente, afinal, mesmo na vida adulta,
continuamos a modificar nosso repertório motor, acrescendo e refinando comporta-
mentos referentes ao domínio motor, isso, é claro, em menor quantidade, se comparada
à vida na infância e na adolescência.

Todos os seres vivos vão enfrentar pelo menos duas etapas do ciclo vital: o nascimento e a
morte. Desse modo, falando-se na vida humana, almeja-se passar por todas as etapas, que
vão desde o nascimento até a velhice.

E em termos de crescimento, não paramos de crescer após a segunda década de


vida? Então, após essa idade, não há mais mudanças nesses aspectos?

A resposta para essa pergunta pode ser vista tanto como não quanto como sim.

Pensando nas mudanças, no tamanho do corpo como um todo ou em partes espe-


cíficas (definição de crescimento), ao atingir a maturidade, alguns processos biológicos
são encerrados e, assim, paramos de crescer.

Mas será que, ao longo da vid,a mudanças de tamanho do corpo não mais ocorrem?
Será que todos os processos de crescimento realmente se encerram?

Os processos relacionados à maturação, sim, esses se encerram, mas outros pro-


cessos fisiológicos são iniciados com base nos comportamentos do ser no ambiente em
que está inserido. Por exemplo, a prática de atividade física desencadeia uma série de
mudanças nas estruturas corporais e, apesar de não mais aumentarmos em estatura,
nosso peso corporal está sujeito à constante mudança, não só pelo hábito da prática,
como, também, pelo que ingerimos em nossa alimentação.

Não podemos esquecer-nos de destacar algo que modifica continuamente as estrutu-


ras corporais, bem como o funcionamento dos diversos sistemas: o processo natural
de envelhecimento.

Para alguns pesquisadores, o processo natural de envelhecimento é iniciado imedia-


tamente após o encerramento do processo natural de crescimento.

Assim, se paramos de crescer, começamos a envelhecer. Perceba, então, que a vida


pós-natal é composta por mudanças biológicas e comportamentais do início ao fim, com
maior ênfase em alguns períodos de idades específicos.

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

No decorrer das nossas Unidades, vamos mapear pontos relevantes ao crescimento e


ao desenvolvimento para a futura atuação do Profissional de Saúde.

Para tanto, utilizaremos da classificação da idade cronológica, já apresentada em


outro momento, para agrupar, entre cada um dos períodos de idade, quais aspectos são
mais relevantes.

A seguir, a classificação adaptada de Gallahue e Ozmun (2003) é novamente apresen-


tada, lembrando-se de que a idade cronológica nos fornece apenas uma estimativa apro-
ximada do nível de crescimento e de desenvolvimento de um indivíduo, pois são períodos
ou faixas de idade nas quais algumas mudanças são comuns e esperadas de acontecerem.

Tabela 1 – Classificação da idade cronológica


Período Idade Aproximada
Vida pré-natal Concepção ao nascimento
Primeira Infância Nascimento aos 24 meses
Infância 2-10 anos
Adolescência 10-20 anos
Idade adulta jovem 20-40 anos
Meia-idade 40-60 anos
Terceira idade Acima de 60 anos
Fonte: Adaptada de GALLAHUE, 2003

Nesta Unidade, abordaremos sucintamente as mudanças que acontecem nos perío-


dos da Primeira Infância e parte do período da infância.

Para facilitar o entendimento das mudanças relacionadas ao desenvolvimento motor,


utilizaremos o modelo desenvolvimental de Avigo e Barela (2015), apresentado em mo-
mento anterior de nossos estudos.

A seguir, apresenta-se a torre desenvolvimental novamente:

Figura 1 – Modelo de desenvolvimento motor de Avigo e Barela


Fonte: Adaptada de AVIGO; BARELA, 2015

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Na Primeira Infância e em parte da infância, nós nos ateremos às fases ou aos perío-
dos desenvolvimentais denominados Período Reflexivo, Período Pré- adaptativo e Pe-
ríodo das Habilidades Motoras Fundamentais que, juntos, englobam do nascimento
até por volta dos sete anos de idade, e formam a base da torre desenvolvimental.

Feitas essas considerações iniciais, podemos, então, dar início ao estudo dos períodos
de idade, separadamente.

Primeira Infância
De acordo com nosso referencial, a Primeira Infância é classificada como do nasci-
mento até os 24 meses de idade.

Importante!
A primeira infância é considerada uma fase de rápido crescimento na maioria dos siste-
mas e consequente aumento das dimensões corporais, bem como de rápido desenvolvi-
mento do Sistema Neuromuscular.

Proporcionalmente, pensando no tamanho do bebê no nascimento e comparando


após dois anos de vida, pode-se dizer que é o período de idade no qual o ser humano
mais cresce.

Em termos de desenvolvimento motor, a maioria das mudanças decorrem, principal-


mente, de uma forte influência do organismo que está maturando.

Para melhor compreensão das mudanças que ocorrem nesses dois anos de vida,
abordaremos, primeiramente, mudanças de crescimento e maturação e, num segundo
momento, mudanças no desenvolvimento.

Figura 2 – Primeira Infância


Fonte: Getty Images

Crescimento e Maturação na Primeira Infância


A taxa de crescimento (percentual de mudanças no tamanho pelo fator tempo) é
acelerada, e quase constante na Primeira Infância.

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

Esse período é considerado um período de alterações dramáticas no crescimento


físico. Parece que, de alguma forma, o organismo do ser trabalha fortemente no intuito
de preparar o indivíduo em crescimento para melhor se relacionar com o ambiente no
qual está inserido.

Se, na barriga da mãe, o bebê era totalmente dependente de sua progenitora para sua
subsistência, agora, o organismo do bebê trabalha de forma acelerada para lhe dar condi-
ções de melhor interagir com o ambiente e poder, aos poucos, adquirir certa independência.

Nos primeiros meses de vida, há um ganho rápido de massa corporal pelos bebês.

Com cinco meses, o peso corporal praticamente dobra, e aos 24 meses chega a triplicar.

Esse é o período de maior aumento de peso de toda a vida, isso claro, impulsionado
por mudanças naturais inerentes ao componente biológico do ser, e não por uma ali-
mentação desenfreada que aumenta substancialmente o peso corporal de uma pessoa,
algo que pode acontecer em qualquer período da vida.

Para a estatura, também se observa um rápido ganho ao longo dos primeiros meses.

Para mais informações sobre as alterações de massa corporal e estatura, seja nesse ou em
outros períodos de idade, acesse as Tabelas Pôndero-estaturais.

Se, no nascimento, o bebê mede cerca de 48 a 53 cm de altura, com 2 anos, esse


valor quase dobra, ficando em torno dos 88 cm (podendo variar entre 81 a 94 cm).

A velocidade de aumento do corpo em comprimento ocorre de forma variada entre


as partes dele. Por exemplo, a cabeça, razoavelmente grande desde o nascimento (se
comparada proporcionalmente ao seu tamanho na vida adulta com o resto do corpo),
desacelera em seu crescimento ao longo dos primeiros meses, tendo um crescimento
lento, a partir do segundo ano de vida.

Já o tronco tem um crescimento moderado, principalmente, a partir do segundo ano


de vida. Em contrapartida, os membros, tais como os braços, as pernas, as mãos e os
pés, aumentam gradualmente sua taxa de crescimento, tendo um ganho razoavelmente
rápido ao redor dos 2 anos de idade.

Conforme já discutido durante nossa Disciplina, é evidente o aumento no tamanho


do corpo como um todo, e também em partes específicas, tais como, os órgãos e ou
tecidos (isto é, tecido muscular, adiposo, ósseo etc.), apesar de não serem diretamente
visíveis a olho nu.

A Figura 3, a seguir, exemplifica o aumento dos segmentos em proporção diferente.

Perceba como a cabeça que, proporcionalmente, no nascimento corresponde a quase


um terço do tamanho do nosso corpo, já aos 2 anos de idade diminui proporcionalmente
ao resto do corpo, sendo que, ao longo dos anos, essa proporção vai diminuindo ainda
mais, chegando na fase adulta com a cabeça tendo apenas um décimo do tamanho total
do corpo.

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Essas proporções nos ajudam a entender a dificuldade de as crianças pequenas equi-
librarem as partes de seu corpo (até pelo tamanho da cabeça) para a realização de habi-
lidades motoras, por exemplo, andar, correr, saltar etc.

Esse assunto será retomado no próximo tópico.

Figura 3 – Proporções de crescimento dos segmentos corporais ao longo da vida

Nos primeiros dois anos de vida, mudanças maturacionais já podem ser observadas.

Um bebê que mal conseguia segurar um pequeno objeto com as mãos, aos dois anos
de idade, já com uma melhora em seus níveis de força muscular e seu funcionamento neu-
romuscular, por conta da maturação dos Sistemas responsáveis (Sistema Ósseo, Muscular
e Nervoso), além de seus Sistemas Sensoriais mais evoluídos, consegue caminhar ou até
correr com passadas largas e desequilibradas, carregando um brinquedo nas mãos, como
um boneco ou um carrinho.

O bebê que só se expressava por meio do choro, quando sentia fome, sono, ou algum
tipo de incômodo relacionado ao seu estado de saúde, agora, já se expressa por meio de
algumas palavras ou até frases curtas já prontas (geralmente, ouvida dos pais).

Isso reflete a melhora de suas capacidades cognitivas, decorrente da maturação e do


desenvolvimento dos Sistemas Neurais.

Trocando Ideias...
Perceba que, para exemplificar maturação (e até crescimento) muitas vezes, falamos
do desenvolvimento dos diversos Sistemas do organismo e até dos comportamentos
que passam a ser incorporados pelo ser. Isso reflete, justamente, da contínua conexão
existente entre crescimento, maturação e desenvolvimento, bem como a relação desses
três processos com o ambiente em que está inserido. Sendo assim, cabe sempre certo
cuidado ao abordar os diferentes aspectos pertencentes a esses processos, de forma se-
parada ou isolada.

Após essa discussão básica, focando o crescimento e a maturação na Primeira Infân-


cia, podemos iniciar discussões um pouco mais aprofundadas acerca de desenvolvimen-
to e, em especial, do desenvolvimento motor.

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

Desenvolvimento na Primeira Infância


O desenvolvimento na Primeira Infância é resultado, predominantemente, da forte
influência das restrições do organismo.

Obviamente, o ambiente pode interferir, desde que condições drásticas sejam ofere-
cidas aos bebês, tais como desnutrição, obesidade, doenças infectocontagiosas, entre
outras anomalias.

Em condições normais de sobrevivência, todas as crianças apresentarão os mesmos


marcos motores, e na mesma ordem, assim como afirmados nos princípios da universa-
lidade e da intransitividade, respectivamente.

Isso não significa que não haja aprendizagem, que os movimentos simplesmente “sur-
gem” no repertório motor das crianças, como afirmava A Teoria Neuromaturacional.

A relação pessoa e ambiente é importantíssima e, por isso, mais uma vez, destaca-se,
em condições ambientais normais, que as crianças adquirirão os movimentos por elas
mesmas e aprenderão sozinhas a partir de trocas com o ambiente em que estão inseridas.

Importante!
O princípio encéfalo-caudal explica que existe uma tendência de ganho no controle das
ações motoras na direção da cabeça para os pés.

A maioria das mudanças motoras observadas nos anos iniciais de vida decorre das
mudanças que ocorrem no organismo do ser em desenvolvimento (maturação e desen-
volvimento dos diversos Sistemas: Musculoesquelético, Sensorial, Neural etc.).

Com o crescimento do corpo como um todo (aumento do peso corporal, mudanças


nas proporções dos segmentos), o aumento de força muscular, a melhora dos Sistemas
Sensoriais, o funcionamento neuromuscular e das capacidades cognitivas, os bebês pas-
sam a interagir cada vez com mais intensidade com o ambiente, realizando movimentos
diversos e percebendo, a consequência dos seus movimentos e, assim, passam, por
exemplo a conseguir sentar, ficar em pé, andar etc.

Figura 4 – Primeira infância e a interação com o ambiente


Fonte: Getty Images

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Importante!
O segundo princípio é denominado Próximo-distal, pois reflete uma tendência de ganho
no controle das ações motoras, a partir do centro do corpo, até as extremidades.

Dois princípios explicam o porquê da ordem e ou como as mudanças no desenvolvi-


mento motor são direcionadas pelo organismo do ser.

As conexões neurais mais próximas ao encéfalo (cérebro) maturam primeiro e, como


consequência, o controle da musculatura ao redor do pescoço também acontece pri-
meiro que o controle do tronco, este ainda controlado antes dos membros inferiores e,
sendo assim, por último, os pés (cauda).

Dessa forma, fica evidente porque os bebês primeiro adquirem o controle da cabeça e do
pescoço, para só depois conseguirem sentar, engatinhar, ficar em pé e, finalmente, andar.

Logo, primeiro a criança aprende a controlar seu tronco, na sequência, os ombros,


os braços, as mãos e, por último, os dedos.

Um exemplo desse princípio é uma criança nos anos iniciais de Escolarização, quan-
do começa a manipular um lápis tentando desenhar as letras ou pintar um desenho,
percebe-se, nitidamente, um exagero no uso do tronco e no braço enquanto segura o
lápis, e maior dificuldade no uso das mãos e dos dedos, por exemplo, para percorrer
com precisão sobre linhas desenhadas no papel.

Outro exemplo é observado ao se pedir para uma criança pequena arremessar uma
bola o mais longe possível.

Ela, exageradamente, utiliza mais o tronco do que os segmentos mais distais (como
braço, antebraço, mãos e dedos), algo não observado em crianças mais velhas, que uti-
lizam muito mais os movimentos do cotovelo, do punho e dos dedos.

Isso explica porque primeiro adquirimos coordenação motora grossa (como ao ar-
remessar ou agarrar um objeto), e somente depois coordenação motora fina (como ao
escrever, desenhar, digitar etc.).

Bebês não precisam ser ensinados a alcançar, rolar, sentar, engatinhar, ficar em
pé ou até andar. Eles aprendem sozinhos por tentativa e erro, ou seja, explorando as
possibilidades de movimentos possíveis e selecionando aqueles que satisfaçam as suas
intenções e ou vontades. Resumindo: bebês aprendem se relacionando com o ambiente.

E os movimentos reflexos, de onde surgem?

Afinal, se o bebê acabou de nascer, como ele já realiza certos movimentos se seus
sistemas neurais ainda estão se definindo?

Até parece que já nascemos com um “kit nascimento”. Como bebês já pressionam
objetos colocados em suas “mãozinhas”, ou até já simulam as passadas do andar, tudo
isso quase que imediatamente após o nascimento?

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

A partir de agora, utilizaremos os períodos e as explicações da torre desenvolvimen-


tal para auxiliar o entendimento tanto dos movimentos que são aprendidos (período
pré-adaptativo e início do período das habilidades motoras fundamentais) na Primeira
Infância quanto dos que não são aprendidos (período reflexivo).

Período Reflexivo
Iniciado após o nascimento e perdurando até as primeiras duas semanas de vida,
essa fase é caracterizada pore movimentos involuntários, de natureza espontânea ou
reflexiva, alguns trazidos ainda de sua gestação.

Ao nos atentarmos para a posição desse período na torre desenvolvimental, vemos


que ele é a base de todos os movimentos.

De certa forma, o organismo já vem preparado para responder a estímulos específi-


cos e essas respostas são reações involuntárias às várias formas de estímulos externos,
realizadas sem uma causa conhecida.

Logo, não são inerentes de comando cerebrais, advindos de intenção por parte do bebê.

Responder detalhadamente de onde surgem ou como tais movimentos foram progra-


mados no organismo não é algo tão simples, e nem faz parte do nosso foco de estudo.

Os movimentos reflexos podem ser agrupados em primitivos e posturais. A seguir,


alguns exemplos desses movimentos são apresentados.
• Reflexo primitivo de Sucção: suga tudo que é colocado na boca:

Figura 5 – Reflexo de Sucção


Fonte: Getty Images

• Reflexo primitivo de Moro ou Susto: quando perde sustentação, estendem-se as


pernas, braços, dedos, e a cabeça é jogada para trás:

Figura 6 – Reflexo de Noro


Fonte: Getty Images

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• Reflexo primitivo de Preensão palmar e plantar: flexiona os dedos mediante
qualquer objeto que sinta na palma da mão e na planta do pé:

Figura 7 – Reflexo de Preensão


Fonte: Getty Images

• Reflexo postural do andar: simula o andar quando os pés tocam o chão:

Figura 8 – Reflexo do Andar


Fonte: Getty Images

Importante!
Todo ser nasce com uma espécie de “kit nascimento” que, dentre outros aspectos, possui
duas funções principais: (1) Sobrevivência – Prepara o bebê para realizar as funções básicas
de alimentação e proteção; (2) Diálogo com o ambiente – Início do processo de adaptação
no qual o bebê poderá aprender o que pode fazer no ambiente em que está inserido.

Um exemplo clássico de movimento realizado pelo bebê para sua sobrevivência é o re-
flexo de sucção que é desencadeado a partir do contato de sua boca com a mama da mãe.

Já o movimento de agarrar, realizado pelo bebê, ao ter contato com o dedo de outra
pessoa, exemplifica um diálogo com o ambiente.

Esses movimentos permitem ao recém-nascido colher informações sensoriais decor-


rentes de suas ações motoras e, dessa forma, ele começa a se adaptar ao ambiente
diferente daquele ao qual estava acostumado na barriga da mãe.

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Primeira Infância e Infância

Acesse o vídeo disponível no link a seguir e acompanhe o processo de sucção.


Disponível em: https://youtu.be/jb9JPGU1J-w

Como o Sistema Nervoso Central gradativamente amadurece na Primeira Infância


e no início da infância, as funções inibidoras do córtex cerebral começam a operar e,
aos poucos, os movimentos reflexos diminuem e ou desaparecem, a maioria ainda no
primeiro ano de vida.

O controle voluntário do cérebro já pode ser iniciado a partir da segunda semana de


vida, obviamente, de forma ainda bem restrita, mas já suficiente para o bebê começar a
realizar movimentos inerentes de sua vontade e ou de intenção, dando início, assim, ao
período pré-adaptativo.

Período Pré-adaptativo
A partir de agora, trataremos, rapidamente, das mudanças no desenvolvimento que
ocorrem no intervalo entre a segunda semana e o primeiro ano de vida, período que foi
chamado de pré-adaptativo.

Importante!
De certa forma, “parece” que o organismo do ser humano foi preparado ou pré-adaptado
para realizar mais facilmente alguns movimentos do que outros.

Tal denominação foi feita devido à predisposição que o organismo tem para realizar
determinadas ações.

Por exemplo, já parou para pensar por que nos locomovemos, preferencialmente,
andando e não saltando, rastejando, ou com quatro apoios, como alguns animais?

Parece um pouco absurdo tal questionamento, porque estamos acostumados com


isso e seria ainda mais absurdo ver um ser humano se locomovendo dessa forma citada.

Serão necessárias mais algumas considerações para responder apropriadamente a essa.

Por que a maioria das pessoas, quando bebês, realiza os mesmos marcos motores,
como, em especial, o engatinhar?

A resposta pode parecer um pouco óbvia: os diversos Sistemas do corpo humano não
estavam maturados o suficiente, de forma que fosse possível andar, ou seja, quando bebê fa-
zíamos o que conseguíamos no momento, com a estrutura física que tínhamos à disposição.

Bem, isso já é suficiente para responder ao questionamento inicial: locomovemos-nos


andando porque é a forma mais confortável, dentro do potencial que nossa estrutura
física nos permite.

Até conseguiríamos realizar alguns saltos em sequência, mas se locomover dessa


forma exigiria certa estrutura física à qual não estamos predispostos a ter naturalmente.

Somos predispostos a andar!

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No período pré-adaptativo, realizamos movimentos até de certa forma desorganiza-
dos ritmicamente, mas que, dentro de nossas limitações físicas, são os melhores movi-
mentos que poderíamos fazer para atender nossos objetivos.

Por exemplo, suponha que um brinquedo, algo colorido ou um objeto qualquer di-
ferente e barulhento (como um molho de chaves) chame a atenção de um bebê, seja
tentando alcançar, rolando, se necessário for, sentando, engatinhando, ou até ficar em
pé apoiando na parede, esse bebê fará tudo que puder, de acordo com seu potencial,
para chegar até esse algo qualquer que lhe pareceu interessante.

Esse potencial, conforme já previamente discutido, reflete o que se consegue ou não


fazer, o que sua estrutura física lhe permite realizar (como força muscular suficiente para
se colocar em pé).

Observe na Figura 9, a seguir: você, quando bebê, era até que, de certa forma, “de-
sajeitado”, mantinha-se predominantemente deitado, rolando de um lado para o outro e
fazendo movimentos “estranhos” e, com o tempo, depois de seus sistemas maturarem e
um incessante diálogo com o ambiente, tentando e tentando, você passa a conseguir se
sentar, engatinhar, ficar em pé e até a dar alguns passos, apoiando-se em algo e, depois
de um tempo, ficar em pé sem apoio e, finalmente, andar de forma independente.

Figura 9 – Desenvolvimento dos marcos motores no primeiro ano de vida


Fonte: Adaptada de Getty Images

É importante que se entenda que pré-adaptativo é diferente de pré-determinado.

A Teoria Neuromaturacional utilizava os princípios da universalidade e da intransi-


tividade para explicar, indiretamente, que, independente das condições ambientais em
que estamos inseridos, realizaremos os principais marcos motores, e na mesma ordem.

Sim, realizaremos os mesmos marcos motores e na mesma sequência, entretanto, a


aquisição desses marcos motores não é determinada.

Podemos adquirir se as condições do organismo e do ambiente assim permitirem, se


as condições forem alteradas drasticamente, os marcos motores poderão não ocorrer.

Somos pré-adaptados para alguns movimentos, que serão manifestados à medida


que interagimos com o ambiente, ou seja, aprendemos esses movimentos desde que
exploremos o que podemos fazer (descoberta) em nosso ambiente natural.

Com a aquisição do andar independente, por volta dos 12 meses de idade, esse
diálogo com o ambiente é ainda mais intensificado, iniciando-se, assim, o período das
habilidades motoras fundamentais.

Período das Habilidades Motoras Fundamentais (Início)


A partir da aquisição do andar independente, que geralmente ocorre ao se completar
o primeiro ano de vida, inicia-se uma nova fase de desenvolvimento denominada período
das habilidades motoras fundamentais.

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

Importante!
Parece ser um consenso entre pesquisadores da Área de Desenvolvimento a importân-
cia da aquisição e desenvolvimento dessas habilidades por parte das crianças. Também
conhecidas como habilidades motoras básicas, essas habilidades formarão a base para a
aquisição de formas mais complexas e especializadas de movimento a serem adquiridas
nos períodos posteriores.

Conforme pode ser observado na torre desenvolvimental, esse período é estabelecido


cronologicamente do 1 aos 7 anos de idade.

Uma habilidade motora fundamental é definida por uma série de movimentos organizados,
envolvendo a combinação de padrões de movimento de dois ou mais segmentos corporais.

O nome “fundamental” não foi definido por acaso. Essa gama de habilidades moto-
ras são consideradas como alicerce para a realização de habilidades mais avançadas e
específicas, por exemplo, habilidades esportivas.

Em qualquer lugar do mundo em que se utilizar o termo habilidades motoras fun-


damentais, ou, ainda, habilidades motoras básicas, saberemos que habilidades estão
sendo mencionadas.

Correr, saltar, chutar, arremessar são todos exemplos dessas habilidades. Pode até
haver variações na aplicação de qualquer uma delas, por exemplo, na aplicação do chutar
no Futebol praticado no Brasil e no Futebol americano (tornando-se uma habilidade
específica). Entretanto, os movimentos básicos do chutar são os mesmos.

O Período das Habilidades Motoras Fundamentais é caracterizado pela aquisição das


formas básicas de movimento que envolve a estabilização (equilíbrio) e a locomoção do
corpo, bem como o controle de objetos no ambiente.

Nesse período, a criança explora e adquire diversas formas de manter sua configu-
ração corporal, desde ações motoras mais simples, como se orientar posturalmente,
ao ficar em diferentes bases de apoio até deslocar o corpo de uma localização a outra,
ou, ainda, ações que obriguem a criança a configurar seus membros e tronco de forma
específica ao manipular diferentes objetos no ambiente.

Sendo assim, é quando ocorre a aquisição de habilidades motoras relacionadas às


ações de três classes ou de categorias de movimentos: ações de equilíbrio, de locomoção
e de manipulação e ou de controle de objetos.

As habilidades motoras de equilíbrio, também conhecidas como estabilizadoras, estão


relacionadas à capacidade de manutenção do equilíbrio em determinada posição corporal
– na qual o corpo permanece no lugar, movendo-se apenas ao redor de seu eixo horizontal
ou vertical – em relação à atuação da força de gravidade e às demais forças que atuam
sobre o corpo, podendo ser divididas em equilíbrio estático (corpo parado) e equilíbrio
dinâmico (corpo em movimento).

Essas habilidades são aquelas utilizadas para que o corpo seja mantido ou mudado
para uma determinada posição.

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Essa categoria de movimentos constitui a base para todos os outros tipos de habilidades
motoras. Por exemplo, um bebê que já possui força nos músculos do pescoço, tronco e
membros inferiores aprende a equilibrar o peso da cabeça e dos outros segmentos, colocan-
do-se na posição em pé. Nesse caso, está realizando uma habilidade motora de equilíbrio.

Ao aprender a andar, que é uma habilidade motora de locomoção, ele precisa conti-
nuar mantendo a cabeça, o tronco e os demais segmentos em equilíbrio, ou seja, sem
aprender a ficar em pé, obviamente não aprenderia a andar.

As habilidades motoras de locomoção são aquelas nas quais o corpo é transportado


(podendo ser de diferentes formas), na direção vertical ou horizontal, de um ponto a
outro no ambiente.

Constituídas de movimentos que permitem nossa movimentação no ambiente, essas


habilidades garantem nossa independência de interagir com locais que poderiam estar
fora do nosso alcance.

Já as habilidades motoras de manipulação estão relacionadas à capacidade de manu-


sear e ou controlar objetos e ferramentas disponíveis no ambiente.

Nesse caso, esses movimentos podem ser, ainda, subdivididos em movimentos mani-
pulativos finos e grossos, conforme as características do objeto e dos grupos musculares
envolvidos na realização da ação.

As habilidades manipulativas finas envolvem o uso de pequenos grupos musculares,


como os do antebraço, mão e dedos ao escrever, digitar, apertar botões etc. São com-
postas de movimentos que requerem mais precisão e exatidão na execução.

Em contrapartida, as habilidades manipulativas grossas requerem o uso dos grandes


grupos musculares, pois envolvem movimentos com troca de força, como ao chutar ou
rebater uma bola.

Conforme expõe o princípio próximo-distal, as habilidades motoras grossas são ad-


quiridas antes das finas.

Na Figura 10 são apresentados alguns exemplos de habilidades motoras fundamen-


tais dentro dessas três categorias de movimentos.

Habilidades Motoras
Fundamentais

ESTABILIZADORAS LOCOMOTORAS MANIPULATIVAS

• Sentar; • Andar; • Lançar;


• Ficar em pé; • Correr; • Chutar;
• Curvar; • Saltar; • Receber;
• Virar; • Pular num pé só; • Rebater;
• Esquivar; • Galopar; • Driblar;
• Equilibrar; • Escorregar; • Rolar uma bola;
• Apoio invertido; • Deslizar; • Interceptar;
• Cair/parar. • Escalar. • Cabecear.

Figura 10 – Exemplos de habilidades motoras fundamentais distribuídas nas três


categorias: habilidades estabilizadoras (de equilíbrio), locomotoras e manipulativas

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

Dados os muitos segmentos corporais e músculos que podem ser ativados na rea-
lização das habilidades motoras fundamentais, a execução dessas habilidades podem
distinguir quanto ao seu estágio (nível) de desenvolvimento.

Os pesquisadores Gallahue e Ozmun (2003) classificam a execução das habilidades


motoras fundamentais em três estágios: inicial, elementar e maduro.

A execução de uma habilidade motora fundamental, caracterizada no estágio inicial,


apresenta movimentos dos segmentos corporais de forma não ritmicamente coordenada
e é caracterizada por movimentos desordenados e grosseiramente exagerados.

A transição da execução de uma habilidade motora fundamental de um estágio inicial


para um estágio maduro, caracterizado por uma execução refinada (proficiente) de mo-
vimento, perpassa pelo estágio elementar de movimento.

No estágio elementar, a habilidade motora fundamental é executada de forma mais


coordenada e rítmica dos segmentos envolvidos, entretanto, percebe-se nitidamente que
tal execução ainda não apresenta a eficiência na realização do movimento que caracte-
riza a execução da habilidade no estágio maduro de movimento.

Já o estágio maduro de uma habilidade motora fundamental é caracterizado por segmen-


tos sendo bem coordenados, realizados de forma considerada biomecanicamente correta.

A seguir, são exemplificados esses três estágios de execução (inicial, elementar e ma-
duro) nas habilidades motoras fundamentais como correr, saltar e arremessar.

Figura 11 – Estágios de desenvolvimento do correr


Fonte: Adaptada de GALLAHUE, 2003

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Figura 12 – Estágios de desenvolvimento do saltar
Fonte: Adaptada de GALLAHUE, 2003

Figura 13 – Estágios de desenvolvimento do arremessar


Fonte: Adaptada de GALLAHUE, 2003

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

Até por volta dos dois anos de idade, nem todas as habilidades motoras fundamen-
tais foram adquiridas e, das que foram, a maioria ainda éexecutada em estágio inicial de
desenvolvimento.

A aquisição dos próximos níveis requer maior quantidade de prática dos movimen-
tos fundamentais.

Especificamente, para alcançar um padrão maduro de desenvolvimento, não basta


somente qualquer prática.

É preciso participação em um prática estruturada e organizada para esse fim, inclu-


sive, acompanhada de instrução apropriada acerca dos movimentos a serem realizados.

Essas discussões serão retomadas mais adiante nesta Unidade. Feitas as considera-
ções mais relevantes a respeito de crescimento, maturação e desenvolvimento ao longo
da Primeira Infância, pode-se dar início às discussões mais importantes da próxima
etapa da vida do ser, a infância.

Infância
A partir do referencial proposto, a infância é classificada como dos 2 aos 10 anos de idade.

Diferente da Primeira Infância, que é marcada pelo rápido crescimento, na Infância, o


crescimento desacelera razoavelmente, tornando-se, aos poucos, predominantemente gradu-
al, algo que se alterará drasticamente somente com o estirão de crescimento na adolescência.

Já em termos de desenvolvimento motor, essa é uma das fases mais importantes para
a aquisição e o refinamento de habilidades motoras.

O desenvolvimento motor alcançado nesse período de idade pode refletir de forma de-
cisiva na oportunidade e no interesse de prática de atividade física, ao longo de toda a vida.

Justamente por se tratar de uma fase da vida muito importante (inclusive de ser es-
tudada), o estudo da infância será dividido em duas partes: uma levando em conta dos 2
aos 7 anos de idade, que será abordada ainda nesta unidade, e a outra parte dos 7 aos
10 anos de idade, que será estudada em outra Unidade.

Mais uma vez, buscando melhor compreensão das mudanças que ocorrem nesse período
de cinco anos de vida, primeiramente, discutiremos algumas das mudanças de crescimento e
de maturação e, em um segundo momento, mudanças no desenvolvimento.

Figura 14 – Infância e desenvolvimento humano


Fonte: Getty Images

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Crescimento e Maturação na Infância
Acerca do crescimento, pouco aqui poderá ser tratado, vez que outros aspectos mais
importantes merecem ser destacados.

Apesar desse período de idade, dos 2 aos 7 anos idade, ainda ser marcado por um
crescimento razoavelmente rápido, como já destacado, se comparado à Primeira Infância,
percebe-se que, proporcionalmente, crescimento é mais lento nessa fase da vida.

Nessa faixa de idade, a massa corporal das crianças varia em torno de 12 a 25kg, a
estatura fica por volta de 84 a 125cm.

Algo importante que merece ser destacado, é que meninos e meninas apresentam
estrutura corporal muito semelhante.

Meninos são apenas ligeiramente mais pesados e mais altos do que meninas. Se você
observar, a partir de certa distância, uma criança nessa faixa de idade correndo com
a toca do agasalho na cabeça, você pode não conseguir identificar se está vendo um
menino ou uma menina.

Em termos de crescimento, maturação e, também, porque não aproveitar para dizer, em


termos de desenvolvimento, meninos e meninas são muito parecidos nesse período de idade.

A maturação dos Sistemas Nervoso, Musculoesquelético e Cardiovascular (dentre outros


Sistemas importantes) avança até que, rapidamente, nessa primeira metade da infância.

Junto com isso, muitas mudanças são facilmente percebidas, podendo- se destacar:
• Aumento da força e da resistência muscular: crianças já conseguem carregar objetos
um pouco mais pesados;
• Aumento da capacidade cardiopulmonar: crianças brincam com mais intensidade,
demoram mais para se cansarem;
• Desenvolvimento da fala: crianças progridem de falas repetitivas e sem sentido,
para já uma formação limitada de frases e expressões próprias;
• Aquisição de certa independência: algumas crianças já comem, se vestem, tomam
banho e realizam algumas outras tarefas diárias, até certo ponto, por conta própria.

Muitos outros aspectos decorrentes do crescimento e da maturação dos diversos Sis-


temas poderiam ser destacados.

Entretanto, pode-se resumir, que essa fase de idade reflete a saída da quase total
dependência dos pais para um hábito de vida de maior independência por parte da
criança, com vontade própria e personalidade peculiar.

Não é à toa que, aos 6 anos de idade, já possam ingressar no ensino formal, pois já
têm potencial para diferentes aprendizagens.

Perceba, mais uma vez que, para falar de crescimento e de maturação, citamos de-
senvolvimento.

Chega o momento de conversarmos um pouco mais acerca desse fenômeno, o de-


senvolvimento, mais uma vez, com destaque maior sendo dado às mudanças no com-
portamento motor.

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

Desenvolvimento na Infância
Até os períodos de idades anteriores, fatores externos (ambientais) não eram tão
importantes se comparados às influências internas inerentes do organismo do ser em
desenvolvimento.

O ambiente parecia sempre estar em segundo plano. O componente biológico era


tido como principal fator a impulsionar mudanças no comportamento humano, por
exemplo, a aquisição de algumas habilidades motoras.

Entretanto, a partir de agora, esse quadro começará a se inverter. As restrições do


organismo do ser continuam sendo importantes, contudo, o grande propulsor desenvol-
vimental passará a ser o diálogo com o meio e ou o contexto de inserção da criança; o
desenvolvimento passa a ser impulsionado, principalmente, pelas influências externas,
já chamadas de restrições do ambiente e da tarefa.

Conforme discutido, a partir da aquisição do andar independente, por volta do pri-


meiro ano de idade, inicia-se o período das habilidades motoras fundamentais.

A infância se inicia aos 2 anos de idade, podendo ser considerada um marco para
que a quantidade de influência do organismo e do ambiente comece a ser equiparada.

Conforme pode ser observado na construção da torre desenvolvimental, feita por


tijolos coloridos que representam essas influências no desenvolvimento, por volta dos 3,
4 ou 5 anos de idade, o ambiente passa a sobressair, mantendo-se como o principal a
impulsionar desenvolvimento por quase toda a vida.

Uma vez que as principais definições e características das habilidades motoras funda-
mentais já foram discutidas anteriormente, a partir de agora, serão enfatizadas algumas
especificidades que ocorrem ao longo desse período desenvolvimental que vai até por
volta dos 7 anos de idade.

A infância é considerada um período propício para adquirir coordenação nas habili-


dades motoras fundamentais.

Essas habilidades servirão de base para os períodos subsequentes, como uma torre
construída com tijolos sobre tijolos, algo que não poderia ocorrer sem um alicerce ou
uma fundação sólida. Algumas vezes citamos coordenação motora, algo que todos pa-
recem saber, até que um dia seja questionado: o que vem a ser coordenação motora?

Importante!
Coordenação motora pode ser entendida como a interação entre o Sistema Nervoso e
o Sistema Musculoesquelético. Simplificadamente, refere-se a como os diversos seg-
mentos corporais são organizados para a realização de um determinado conjunto de
movimentos ou de determinada habilidade motora.

Essa pergunta parece fazer com que os profissionais que trabalham com o movimento
se atrapalhem, a ponto de que muitos, infelizmente, não conseguem responder.

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A infância como um todo é tida como um período ideal para a aquisição de coorde-
nação motora básica.

Entretanto, por volta dos 6 ou 7 anos de idade, crianças já têm potencial para realizar
as habilidades motoras fundamentais com proficiência.

Como citado anteriormente, para que um estágio de execução em um nível consi-


derado maduro possa ser alcançado nessas habilidades motoras fundamentais, exige-se
dedicação por parte do executante, combinada à oportunidade de prática estruturada.

Vale ressaltar que o estágio maduro não é alcançado pela maioria da população, sen-
do que até mesmo adultos realizam essas habilidades motoras em um estágio elementar.

Isso expressa uma característica importante do período das habilidades motoras fun-
damentais, pois embora a aquisição da maior parte das habilidades desse período ocorra
naturalmente, ou seja, a partir delas, brincando por elas mesmas, o refinamento dessas ha-
bilidades motoras depende de uma interação mais específica das crianças com o ambiente.

Sendo assim, para alcançar proficiência, não basta qualquer prática, crianças preci-
sam vivenciar práticas desafiadoras, organizadas, inclusive acompanhadas de instrução
apropriada acerca de como realizar os movimentos, para que consigam, assim, executar
as habilidades motoras fundamentais de forma refinada.

Atuação dos Profissionais


de Saúde na Infância
Muito já se falou a respeito da importância da prática para o desenvolvimento motor.
Vimos que, apesar do organismo ser o mais importante nos anos iniciais, o ambiente sem-
pre estará presente, podendo maximizar ou até mesmo prejudicar o desenvolvimento do ser.

Mesmo em idade mais tenra, estímulos ambientais específicos podem impulsionar as


crianças a alcançarem seus potenciais, prosseguindo com o desenvolvimento esperado
para suas idades.

A atuação de profissionais que atuam com crianças na Primeira Infância e na Infância,


propondo práticas que envolvam os movimentos fundamentais, pode ser decisiva para a
formação de uma criança ativa, tanto na infância e na adolescência quanto ao longo de
toda a vida adulta.

Na atualidade, vivenciamos uma alteração do que seria antigamente considerado um


ambiente natural, crianças quase não brincam mais em atividades que envolvam a reali-
zação de habilidades motoras grossas, vivemos em uma era tecnológica dos movimentos
finos e precisos.

Os hábitos decorrentes de uma “vida moderna” em muito têm alterado as nossas


experiências motoras.

Não muito tempo atrás, brincávamos na rua, com nossos vizinhos, no Campinho de
Futebol, nos grandes quintais de casa.

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UNIDADE Crescimento e Desenvolvimento:
Primeira Infância e Infância

Essas formas de movimentos e de brincadeiras que tínhamos, em muito se perderam


e não mais fazem parte das atividades de nossas crianças.

Nos dias atuais, as crianças brincam utilizando muito mais os dedos e as mãos, seja
para pegar o controle remoto da televisão, seja para jogar no computador, videogames,
tablets, celular etc.

Um resultado relacionado às mudanças nos tipos de movimentos que estão mais pre-
sentes nas nossas ações motoras é o que temos observado (até que passivamente), como
o aumento do índice de obesidade e sobrepeso, sendo que, segundo o IBGE (CABRAL,
2020), metade dos brasileiros está acima do peso.

Essa situação é ainda mais grave se observarmos que uma em cada três crianças de
5 a 9 anos de idade já apresenta excesso de peso e, provavelmente, apresentarão pro-
blemas de saúde graves ao longo da vida.

Pensando no Desenvolvimento Infantil, o ambiente escolar, hoje, que cada vez inicia
mais cedo para algumas crianças que, desde pequeninas, já frequentam Creches e de-
pois o Ensino Infantil, para que, com 6 anos (em alguns casos, cinco anos e meio), algo
que antigamente só ocorria aos 7, já ingressem no Ensino Formal.

Um dos motivos é a vida dos “pais de hoje”. Antigamente, na maioria das famílias,
somente o pai trabalhava, a mãe ficava com os filhos e as crianças se relacionavam mais
com ela, e havia brincadeiras que envolviam movimentos como correr, saltar, rolar.

Mesmo com os pais trabalhando, nos fins de semana, eles tinham mais tempo para
brincar com seus filhos, nos parques, nas praças ou mesmo em casa.

Atualmente, com os pais mais tempo fora de casa, trabalhando mais, muitas crianças
ficam presas em seus apartamentos, passam seus dias em frente à TV, ou com video-
games, celulares, comendo desregradamente, não se lembram da existência dos movi-
mentos fundamentais, a lembrança parece só vir no momento das aulas de Educação
Física, por exemplo.

Diante do exposto, e baseado em uma visão dinâmica de restrições, cabe aos Pro-
fissionais de Saúde e Educação desempenhar um papel de manipulador de restrições,
especificamente, das restrições do ambiente e da tarefa.

Mesmo ainda na Primeira Infância, esses profissionais são capazes de propiciar con-
dições de movimentos variados às suas crianças, criando ambientes com estímulos va-
riados e abundantes que permitam às crianças vivenciarem as muitas possibilidades dos
movimentos fundamentais, por elas mesmas.

Cada profissional pode, em sua prática de atuação, inserir e criar atividades para que
as crianças explorem e selecionem movimentos em diálogo constante com o ambiente
e, que esse processo ocorra naturalmente, ou seja, por meio da tentativa e erro, descu-
bram seu potencial brincando. Portanto, um dos objetivos mais importante para quem
trabalha com crianças de até por volta os 6 anos de idade, deveria ser:
• Adquirir as habilidades motoras fundamentais (estabilizadoras, locomotoras e mani-
pulativas), realizando-as nas mais variadas condições possíveis.

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Importante!
Conforme enfatizado, entre 6 e 7 anos de idade, éum período crítico e/ou sensível para
que crianças se tornem proficientes na realização das habilidades motoras fundamentais.

Sabe-se que as crianças até conseguem, a partir de vivências próprias, alcançar um


nível elementar de desenvolvimento na realização dessas habilidades.

Entretanto, somente com um ambiente estruturado que lhes ofereça oportunidades


de aprendizagem dos movimentos que compõem essas habilidades, torna-se possível
atingirem um desenvolvimento considerado maduro;
• Refinar as habilidades motoras fundamentais, tornando os alunos proficientes na
execução de habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas.

Caso as crianças não refinem as habilidades motoras fundamentais, elas podem ter
seu desenvolvimento prejudicado, principalmente, pela dificuldade que encontrarão para
adquirir novas e futuras habilidades.

Figura 15 – Potencialidades do desenvolvimento: o brincar


Fonte: Getty Images

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Primeira Infância e Infância

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Revista Por Escrito: corpo em movimento
https://bit.ly/3gqXq40

Vídeos
PhD. David Gallahue na FSG - FSG Comunica 399 Edição
Entrevista ao professor doutor David Lee Gallahue, um dos mais importantes pesquisadores
sobre desenvolvimento motor, no 3º congresso internacional de motricidade da Serra Gaúcha.
https://youtu.be/1_R9-BBKyLM
Todo Seu – Tecnologia e Infância
Entrevista ao psicólogo especializado no atendimento infantil Tiago Tamborini no progra-
ma “Todo seu?”.
https://youtu.be/D7prk_QpqvY

Leitura
Desenvolvimento motor e crescimento somático de crianças com diferentes contextos no ensino infantil
https://bit.ly/3B4C30o

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Referências
BARELA, J. Aquisição de habilidades motoras: do inexperiente ao habilidoso. Motriz,
Rio Claro, v. 5, n. 1, p. 53-57, 1999.

CABRAL, U. Um em cada quatro adultos do país estava obeso em 2019; Atenção Pri-
mária foi bem avaliada. IBGE, 21/10/2020. Disponível em: <https://agenciadenoticias.
ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29204-um-em-cada-
-quatro-adultos-do-pais-estava-obeso-em-2019>. Acesso em: 17/08/2021.

GALLAHUE, D. L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças,


adolescentes e adultos. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2003.

GALLAHUE, D. L.; DONNELLY, F. Educação física desenvolvimentista para todas


as crianças. 4. ed. São Paulo: Phorte, 2008.

MALINA, R. M.; BOUCHARD, C. Growth, maturation and physical activity. 2. ed.


Champaign: Human Kinetics, 2004.

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