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Capítulo 1

Como é o Processo de Desenvolvimento da Criança


nos Primeiros 2 Anos de Idade?

Luize Bueno de Araujo∗ e Vera Lúcia Israel

1. Introdução
Você já ouviu falar que os dois primeiros anos de uma criança são essenciais
para seu desenvolvimento? Mas e aı́? O que esperamos de uma criança
nesta faixa etária? O que é possı́vel fazer para otimizar esta fase crı́tica do
desenvolvimento?
Estas são dúvidas de muitas famı́lias e profissionais que trabalham com
a criança pequena. Muitas pessoas ainda acreditam que o recém-nascido
responde exclusivamente de forma reflexa e automática, porém é necessário
ter uma visão contextual sobre o desenvolvimento neuropsicomotor
(DNPM), entender que nesta fase a criança possui potenciais e que suas
capacidades e habilidades estão em amadurecimento. Para que esta
evolução aconteça de forma saudável e que o DNPM seja pleno, deve-se
lembrar de que esta criança recebe influências dos ambientes em que vive
e dos estı́mulos ofertados e vivenciados por ela.
Dessa forma, o objetivo deste capı́tulo é abordar o DNPM da criança
desde o seu nascimento até os dois anos de idade, destacando o que é
esperado no desenvolvimento tı́pico, bem como as formas de estimulação.

2. O Que é Desenvolvimento Neuropsicomotor?


Estudiosos utilizam diferentes denominações e conceitos teóricos sobre
o DNPM, como desenvolvimento motor normal, desenvolvimento
motor tı́pico, desenvolvimento neurossensoriomotor, desenvolvimento
neuropsicomotor, entre outras nomenclaturas (Castilho-Weinert & Forti-
Bellani, 2011). Neste capı́tulo será utilizado o termo desenvolvimento
neuropsicomotor tı́pico.
O DNPM é definido como um processo sequencial, contı́nuo e
relacionado à idade cronológica, porém não depende única e exclusivamente
dela. Com o passar dos meses e dos anos, por meio da estimulação
∗ Autor para contato: luizebueno@hotmail.com

Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.01 ISBN 978-85-64619-19-7
2 Araujo & Israel

da famı́lia e do ambiente, a criança adquire uma enorme quantidade de


habilidades motoras, que progridem de movimentos simples, denominados
de reflexos, até a execução de habilidades motoras altamente complexas,
que compreendem os movimentos voluntários que usa no dia-a-dia
(Haywood & Getchell, 2010).
Como exemplo, até os primeiros dois meses de idade, quando o bebê
é colocado em pé com apoio do tronco e se realiza uma flexão anterior
do tronco, ele vai responder reflexamente com alguns passos, é o chamado
reflexo da marcha automática, já por volta dos 12 aos 15 meses a criança
tı́pica tem um repertório motor mais complexo e condições neuro-músculo-
esqueléticas para adquirir a marcha independente.
É necessário destacar que o DNPM tem interação direta com a
neuroplasticidade do cérebro e com isto tem relações com os aspectos
motores, cognitivos, afetivos, sensoriais e socioambientais. A área motora
do cérebro da criança analisa a produção e regulação do movimento, a
área cognitiva estuda as implicações da estruturação do pensamento para
o movimento e a área afetiva procura compreender como as emoções
interferem nos movimentos (Israel & Bertoldi, 2000). A informação
sensorial é uma resposta enviada ao sistema nervoso do ser humano e serve
como feedback para moldar o movimento e planejar sua execução.
Porém se destaca que, apesar das áreas trabalharem em conjunto para
a execução dos movimentos, não quer dizer que uma criança que tem uma
deficiência fı́sico/motora tenha, por exemplo, uma deficiência auditiva,
ou que uma criança com dificuldade na linguagem tenha uma deficiência
intelectual. Portanto, a criança nunca deve ser subestimada por estar em
uma cadeira de rodas ou por ter alguma dificuldade de expressão, sempre
procure estimular seus potenciais neuromotores e cognitivo-afetivos.
Por exemplo, uma criança que nasceu com cegueira pode demorar mais
tempo para adquirir a marcha independente do que uma criança com visão
ı́ntegra, mesmo que seu sistema neuro-músculo-esquelético esteja intacto.
Isso acontece porque ela terá uma privação sensorial relacionada com o
sistema visual, assim, os outros sistemas do seu corpo irão sofrer ajustes
e adaptações para suprir esta necessidade da visão, portanto, esta criança
precisa de uma maior variedade de estı́mulos.
Atualmente o olhar para a saúde é mais complexo, explicado pelo
modelo contextual, também conhecido como ecológico ou sistêmico, ao
considerar o ser humano de modo biopsicossocial. Este é o modelo da
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)
(Organização Mundial da Saúde, 2015) que busca uma abordagem da saúde
integral, considerando desde a questão da condição de saúde, enquanto
aspectos funcionais e até mesmo espirituais.
Na Figura 1, observa-se que para integrar estes conceitos entre o
desenvolvimento infantil e a CIF se tem hoje a CIF – Crianças e Jovens
(CIF-CJ), a qual destaca que o DNPM depende de relações da criança com
O processo de desenvolvimento da criança 3

Figura 1. Modelo da Classificação Internacional de Funcionalidade,


Incapacidade e Saúde (CIF). Fonte: (Organização Mundial da Saúde,
2015, p. 20).

o meio ambiente e a influência dos estı́mulos oferecidos, ou seja, influências


contextuais e/ou ambientais (Silva et al., 2016).
A teoria dos sistemas dinâmicos (Newell et al., 2003), mais
aceita atualmente como parte do paradigma contextual, aponta que o
comportamento motor não é influenciado apenas pelo sistema nervoso
do ser humano, mas também por outros fatores, como os psicológicos
e os ambientais; assim, baseia-se na trı́ade indivı́duo, ambiente e
tarefa (Haywood & Getchell, 2010). Com esta perspectiva fica claro o
entendimento de quais são os fatores que influenciam o DNPM da criança.

3. Quais Fatores Influenciam no Desenvolvimento


Neuropsicomotor?
Até aqui foi possı́vel compreender o que é o DNPM em sua complexidade,
bem como a influência de diversos fatores durante os primeiros anos da
criança. Quando observamos o DNPM de uma criança, é necessário
identificar quais fatores prejudicam e quais fatores potencializam o seu
desenvolvimento.
Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM), pois é neste perı́odo que as crianças estão
propensas a sofrer influências de fatores protetores ou de risco para um
desenvolvimento pleno, que podem levar a repercussões futuras até a vida
adulta (Gannotti et al., 2014; Grantham-McGregor et al., 2007).
4 Araujo & Israel

De acordo com o Comitê Cientı́fico do Núcleo Ciência Pela Infância


(Núcleo Ciência pela Infância, 2014), um pleno potencial no futuro,
quando adultos, está relacionado com uma infância com cuidados de saúde
adequados, um ambiente familiar afetivo, seguro e estimulante, bem como
uma educação de qualidade.
Os fatores que prejudicam ou potencializam o desenvolvimento podem
ser decorrentes de fatores inerentes à criança, como aspectos biológicos e de
hereditariedade; ao ambiente, como o nı́vel socioeconômico e a escolaridade;
ou ainda, relacionados com a estimulação oferecida e experienciada (tarefa),
como brincadeiras, movimentos e vivências infantis (Resegue et al., 2008).
Diante disso, verifica-se que o estudo do desenvolvimento infantil
perpassa várias áreas de conhecimento com diferentes olhares e abordagens
teóricas e integra a compreensão das múltiplas dimensões nas quais a
criança está inserida. Neste processo devem ser considerados inúmeros
fatores associados que podem levar ao atraso no DNPM (Pilz & Schermann,
2007). Halpern & Figueiras (2004) afirmam que os resultados negativos no
desenvolvimento são oriundos da combinação de fatores de risco genéticos,
biológicos, psicológicos e ambientais e, geralmente, envolvem interações
complexas entre eles.
Além disso, um ambiente rico em estimulação favorece a aquisição
de uma maior variabilidade de movimentos para a criança pequena,
principalmente ambientes criativos, que estimulem ou demandem uma
variabilidade de estratégias para o controle postural ou para a aquisição
de novas habilidades neuromotoras (Silva et al., 2006). Mesmo que
uma criança tenha alguma restrição ou deficiência, é necessário que uma
grande variedade de estı́mulos e vivências seja ofertada para que ela adote
estratégias motoras e assim desenvolva seu repertório motor.
Para exemplificar uma prática que prejudica o DNPM, pode-se citar o
uso do andador (Figura 2), também conhecido como voador. Atualmente
sua venda é proibida, porém ainda se encontra em estabelecimentos
comerciais e também como tradição entre famı́lias, ao passar entre primos,
parentes e vizinhos. Normalmente o andador é utilizado pela famı́lia
como um momento de entretenimento para a criança, sem pensar nas
consequências do seu uso. Este dispositivo pula etapas do DNPM,
possibilitando que a criança vivencie a postura ortostática e a marcha
antes de explorar posturas mais baixas (arrastar e engatinhar) e antes
mesmo dos seus sistemas estarem preparados para tal. Além disso, quando
a criança está fazendo o uso destes equipamentos, pode alterar o equilı́brio
corporal e aumentar o número de quedas e o risco de acidentes, como o
traumatismo crânio encefálico, queimaduras e afogamentos. Esta vivência
da postura e marcha de forma precoce e errada pode trazer consequências
até a vida adulta, como alterações de equilı́brio e encurtamento musculares,
por exemplo.
O processo de desenvolvimento da criança 5

Figura 2. Criança fazendo uso do andador: errado.

Diante disso, independente do ambiente em que a criança está inserida,


seja seu lar, creche, Centro de Educação Infantil ou abrigo, é preciso manter
diariamente a atenção e o cuidado associado à estimulação. Os espaços da
casa ou da escola/creche devem estar adequados no sentido de proteção
e estimulação do processo de desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial,
emocional e social da criança.
Para saber mais sobre a influência da escola no DNPM, bem como a
interação com a famı́lia, veja o Capı́tulo 3 deste livro.

4. O Que Devemos Observar no Desenvolvimento


Neuropsicomotor da Criança Pequena?
Como foi discutido até aqui, a criança está em processo de desenvolvimento,
o qual é aperfeiçoado ao longo do tempo, porém com destaque aos
anos iniciais. Para conseguir acompanhar e verificar este processo de
desenvolvimento, bem como facilitar esta observação, existem alguns
pontos a serem avaliados que estão sistematizados por faixas etárias nas
Tabela 1.
Observe sua criança, ela é ativa e irá demonstrar se está gostando
da atividade ou se está cansada. Respeite a individualidade e vontade
da criança, ela também precisa de um tempo para descansar. Lembre que
cada criança é única, terá seu tempo e existirá uma variabilidade entre uma
criança e outra. Olhe e explore sempre o seu potencial, o que a criança faz
de mais avançado, e na dúvida, procure um profissional especializado.
6 Araujo & Israel

Tabela 1. Principais Marcos Motores. Fonte: Adaptado de Israel et al.


(2014, p.23-25).
Idade Marco Motor Dicas
Cronológica
Decúbito ventral (barriga para baixo):
permanece em flexão fisiológica, Mostre objetos
levanta pouco e por pouco tempo a coloridos e sonoros
cabeça e a gira para o lado. para que a criança
Decúbito dorsal (barriga para cima): busque estes objetos.
Recém- rola parcialmente para o lado.
nascido Não apresenta controle de cervical. Utilize objetos com
ao 1o Posição ortostática (em pé): reflexo de diferentes texturas e
mês marcha presente e suporta seu peso apresente-os para a
nos MMII com apoio do tronco. criança.
Acompanha objetos em movimento até
a linha média, deixa as mãos fechadas, Converse com a
tem movimentos reflexos, com e sem criança.
finalidade especı́fica.
Gira a cabeça para todos os lados e
chuta em decúbito dorsal. Coloque a criança
Decúbito ventral: leva a cabeça por em decúbito ventral
curto tempo a 90o , mantém parte do com auxı́lio de um
peso sobre os antebraços com o tórax rolo no tórax.
levemente levantado.
2o ao 3o
Sentado: com apoio total e sem Em decúbito dorsal
mês
controle total da cervical. ofereça objetos para
Posição ortostática: mantém quadris a criança manipular.
fletidos, suporta pouco peso.
Consegue ver objetos mais distantes e Conte estórias.
os segue com a cabeça a 180o , usa a
preensão palmar.
Com a criança em
Passa do decúbito dorsal para o lateral,
decúbito dorsal
brinca com os pés.
ofereça objetos nas
Decúbito ventral: mantém o peso nos
laterais para que ela
MMSS estendidos, arrasta-se.
inicie o rolar.
4o ao 5o Sentado: flexiona o pescoço para ir
mês para a posição sentada e nesta posição
Em decúbito ventral
permanece por poucos minutos.
coloque objetos a sua
Posição ortostática: sustenta o seu
frente para que ela
peso nos MMII, se apoiado.
inicie o deslocamento
Segura e solta brinquedos.
com o arrastar.
O processo de desenvolvimento da criança 7

Coloque a criança
sentada e ofereça o
cesto de tesouros,
Passa de decúbito dorsal para ventral, uma cesta na
se apoia em uma das mãos e pega qual você vai
brinquedos com a outra. colocar diversos
6o ao 7o Decúbito dorsal: levanta a cabeça. objetos para que a
mês Sentado: senta sozinho. criança explore-os.
Fica em pé, se apoiado. Engatinha Selecione os objetos
para trás, pega objetos e passa de uma com segurança e
mão para outra. adequados para a
idade. Fale os nomes
dos objetos para a
criança.
Coloque a criança
Prefere o decúbito ventral e fica na em ambiente seguro
posição de engatinhar. Passa da e com espaço
posição sentada para decúbito ventral. para ela iniciar
o deslocamento
8o ao 9o Fica em pé e anda se segurando
em móveis, senta-se e engatinha para engatinhando.
mês
frente. Esconda objetos
Manipula objetos, aponta, empurra e dentro de recipientes
pega objetos em recipientes. para que a criança
pegue-os e manipule-
os.
Coloque a criança
Fica em pé por pouco tempo. em pé com apoio em
Posição ortostática: nesta posição, locais seguro.
pega objetos do chão. Anda com apoio
10o ao nas duas mãos ou em uma. Utilize uma toalha
11o mês Engatinha. Faz Urso (coloca mãos e no tórax para
pés no chão). Faz pinça (pega objetos dar suporte e a
e une o polegar ao indicador), coloca criança iniciar o
objetos em potes. deslocamento em pé
com segurança.
Monte um circuito
Posição ortostática: anda rápido sem com obstáculos
apoio para frente, lado e trás, sobe (colchonetes,
12o ao escadas sentado. espumas) para
15o mês Sentado: consegue arremessar objetos. a criança adotar
Faz torres de 2 cubos, vira objetos, estratégias motoras
risca papel. e aperfeiçoar o
equilı́brio.
8 Araujo & Israel

Aprimore seu
circuito com mais
obstáculos.
Sobe e desce escadas apoiado em uma
mão com os dois pés. Agacha-se. Pega
Coloque papel e
objetos do chão, atira para frente.
16o ao giz para a criança
Impulsiona-se em brinquedos de roda.
24o mês desenhar.
Dobra papel, faz torre de 6 cubos,
segura lápis entre o polegar e os dedos,
Estimule a criança
copia linha horizontal e vertical.
a falar e não apenas
apontar o que ela
quer.
Elabore atividades
Corre, anda na ponta dos pés, anda de pular e ficar em
para trás, sobe e desce escadas um pé só.
alternando os pés, pula com um pé só. Utilize brinquedos
2o ano
Anda em triciclo, gira fechaduras, de encaixe.
abotoa, usa tesouras, monta quebra- Conte histórias e
cabeça simples, dobra papel. estimule a criança a
falar.

5. O Que é Intervenção Precoce?


Anteriormente estudamos que o DNPM sofre influência de vários fatores
e que devemos enfraquecer os fatores de risco e potencializar os fatores de
proteção.
A intervenção precoce é um conjunto de atividades e movimentos
destinado a proporcionar à criança um desenvolvimento neuromotor e
psicocognitivo completo, de forma a utilizar todo o seu potencial. Quanto
antes for feita a intervenção da estimulação precoce, preferencialmente
nos dois primeiros anos de idade, maiores as chances de prevenir e/ou
minimizar atrasos no DNPM, uma vez que é nesse perı́odo que ocorre com
maior velocidade e intensidade a capacidade do sistema nervoso de ampliar
e multiplicar suas conexões neurais devido à neuroplasticidade (Blauw-
Hospers & Hadders-Algra, 2005; Hallal et al., 2008).
A cada dia são mais fortes as evidências cientı́ficas de que os primeiros
anos de vida são particularmente formidáveis para o desenvolvimento
da criança e representam oportunidades significativas para o crescimento
adequado. Descobertas recentes têm demonstrado, convincentemente, que
os primeiros anos de vida, desde a gestação, é a fase mais crı́tica da pessoa
no que diz respeito ao seu desenvolvimento biológico, cognitivo, emocional
e social (UNICEF, 2001). Isto por que, de acordo com Resegue et al.
(2007), nos primeiros anos de vida a intensa neuroplasticidade do cérebro
humano é mais acentuada e suscetı́vel à estimulação.
O brincar, seja ao explorar objetos ou interagir com as pessoas, desde os
primeiros meses de vida, possibilita que a criança explore sensorialmente
O processo de desenvolvimento da criança 9

diferentes objetos, sua forma, interaja com o meio, compreenda ação e


reação, que mais tarde terão repercussões nas relações socioafetivas, como
na cooperação, autocontrole e negociação, além do estı́mulo à imaginação
e criatividade (Núcleo Ciência pela Infância, 2014)
Dessa forma, o tempo e o momento de aplicação da intervenção precoce
são fatores crı́ticos para o sucesso da estimulação, porém é necessário
lembrar que o olhar não deve ser apenas para a criança, mas também
para os contextos e ambientes em que a mesma está inserida, ou seja, deve
envolver a famı́lia, a escola, os profissionais da saúde e educação e todos os
envolvidos com a criança.

6. Dicas de Estimulação
Agora já sabemos a importância de estimular e brincar com a criança
pequena, mas de que forma podemos fazer isso nas fases iniciais do
desenvolvimento?
A seguir, apresentamos imagens e descrição de formas simples, de como
estimular a criança, que podem ser realizadas em qualquer ambiente e com
materiais simples disponı́veis no dia-a-dia. Use sua criatividade e ofereça
estı́mulos variados para a criança (Figuras 3 a 14).
O movimento serve como possibilidade de desenvolvimento e
aprendizagem, possibilite isto a criança de forma segura, supervisionada
e com qualidade. Para saber sobre o uso adequado de tecnologias, como
tabletes e computadores, leia o Capı́tulo 6 deste livro.
Diante desse capı́tulo espera-se que os profissionais da saúde e educação,
familiares e gestores observem a criança pequena como um ser ativo, em um
momento especial e crucial para sua vida futura e, dessa forma, consigam
promover uma estimulação adequada e com qualidade para que as crianças
cresçam e se desenvolvam da melhor maneira possı́vel e se tornem adultos
com o máximo potencial.

Figura 3. Coloque seu bebê


no colo, estimule a buscar o
brinquedo na linha média. Estará
desenvolvendo a coordenação
óculo-motora. Mantenha o
brinquedo de 20 a 30 cm de
distância. Utilize brinquedos
com luzes e som para estimular
os sistemas sensoriais. Aproveite
este momento para conversar
com a criança.
10 Araujo & Israel

Figura 4. Ao deslocar com


a criança no colo, carregue-a
virada para frente, assim
ela irá receber estı́mulos
variados do ambiente e
interagir com o mesmo.

Figura 5. Coloque o bebê em


prono (barriga para baixo) e coloque
brinquedos que chamem a atenção
para ele elevar a cabeça. Assim ele
irá fortalecer os músculos da cervical
e extensores do tronco. Inicialmente
pode fazer um rolo com toalha para
colocar abaixo do tórax.

Figura 6. Desafie a criança


a fazer trocas posturais
(mudanças de posturas).
Com brinquedos estimule-a
a buscar o objeto de forma
que realize o rolar. Ofereça
os estı́mulos para ambos os
lados.

Figura 7. Ainda em prono


(barriga para baixo) é
necessário que a criança
explore esta postura, pois
assim irá fortalecer os
músculos dos membros
superiores (braços). E terá
inı́cio do deslocamento com
o arrastar.
O processo de desenvolvimento da criança 11

Figura 8. É necessário deixar


a criança em ambiente livre e
seguro, no inı́cio ela começará
a se arrastar em busca do
brinquedo, e com o passar do
tempo iniciará o engatinhar.

Figura 9. Aos poucos a


criança vai se interessar
por posturas mais altas,
possibilite que a criança
passe do chão para em pé
com apoio. Aos poucos ela
estará mais segura para dar
alguns passos na lateral com
o apoio das mãos.

Figura 10. Após explorar


a postura em pé a criança
estará preparada para dar os
primeiros passos sem apoio.
Tudo conforme o seu tempo.

Figura 11. Para estimular a


criança a caminhar, utilize
uma toalha sobre o seu
tórax, assim ela estará
segura e ao mesmo tempo
livre para a execução do
andar.
12 Araujo & Israel

Figura 12. Utilize as


situações do dia-a-
dia para a criança se
desenvolver. Deixe-
a comer com as
mãos e tentar se
alimentar sozinha,
com uma colher. Essa
atividade desenvolverá
a coordenação manual e
possibilita a exploração
das texturas, formas,
temperatura.

Figura 13. A hora do banho


também é um momento rico para
a estimulação. Pode utilizar
brinquedos de ação e reação.
Utilize vários estı́mulos, porém
ofereça um brinquedo por vez
para manter a atenção da criança.
Converse e conte histórias para a
criança.

Figura 14. Deixe a criança


explorar diferentes texturas com
as mãos, pés ou outras partes
do corpo. Como exemplo,
espuma de barbear, massinha de
modelar, areia, entre outras, sob
a supervisão de um adulto.
O processo de desenvolvimento da criança 13

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