Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PALAVRAS-CHAVE
Direção do desenvolvimento Prematuro Anorexia nervosa
Taxa de crescimento Peso de nascimento muito Bulimia nervosa
Entrelaçamento recíproco baixo (PNMB) Aptidão física
Prontidão Peso de nascimento baixo Força
Períodos sensíveis (PNB) Lei da inércia
Habilidades filogenéticas Young-for-date Lei da aceleração
Habilidades ontogenéticas Obesidade Lei da ação e reação
Laços Transtorno da compulsão
alimentar
“ ENEN
ficios minimos.
gração do uso dos olhos e dos movimentos das
mãos para realizar tarefas com coordenação
olho-mão, é essencial para o desenvolvimento
normal.
A diferenciação e a integração tendem a
A prontidão para o aprendizado depende da con-
vergência de fatores biológicos, ambientais e fisicos.
reverter-se quando a idade avança. Conforme a
pessoa envelhece e as capacidades de movimen- Em anos recentes, grande atenção foi de-
to começam a regredir, a interação coordenada dicada ao desenvolvimento da prontidão para
dos mecanismos sensoriais e motores frequen- a leitura, por meio de tipos apropriados de ex-
temente fica inibida. O grau de regressão das periências nos anos da pré-escola e do ensino
capacidades do movimento coordenado não é fundamental. Programas pedagógicos inteiros
mera função da idade, mas sofre grande influên- foram elaborados em torno da noção de que as
cia dos níveis de atividade e da atitude. crianças devem alcançar certo grau de desen-
Há pouca dúvida de que os processos de volvimento antes de estarem prontas a executar
distinção e integração operam de forma simul- tarefas intelectuais como ler e escrever (Bergen
tânea. As capacidades complexas do adulto não et al., 2001; Bredenkamp e Rosengrant, 1995) e
podem ser explicadas apenas como um processo realizar operagdes matemdticas (Kamii e Hous-
de integração de respostas mais simples. Em vez man, 2000), assim como tarefas de movimento
disso, o que ocorre é um constante entrelaça-
que envolvem locomogio, manipulagio e esta-
mento dos dois processos. bilidade (Gallahue e Cleland-Donnelly, 2003;
California Department of Education, 2010). O
Prontidão treinamento da prontiddo é parte da maioria
E. L. Thorndike (1913), “o avô” da teoria do dos programas pedagégicos das pré-escolas e
aprendizado, foi o primeiro a propor o concei- do ensino fundamental. Uma parte integrante
to de prontidão, principalmente em relação a desses programas de prontiddo tem sido o uso
respostas emocionais a ações ou ações espera- do movimento como meio de incrementar as
das. De acordo com esse conceito, a prontidão qualidades perceptivo-motoras. Embora não
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 87
tenha sido conclusivamente documentado que senvolvimento elaborada por Robert Havighurst
as experiências perceptivo-motoras têm efeito (como revisada no Capitulo 2) é uma hipótese
direto sobre a aquisição de habilidades de pron- de perfodos criticos, aplicada a partir da perspec-
tidão cognitiva específicas, é seguro afirmar que tiva da educação.
elas têm, no mínimo, influência indireta, pois A noção dos perfodos criticos do desenvol-
estimulam a autoestima da criança e uma abor- vimento tem penetrado tanto na educação que
dagem “sim, eu posso” positiva em relação ao um programa pedagdgico inteiro, financiado
aprendizado. pelo governo federal dos Estados Unidos, foi
O conceito de prontidão, seja para o apren- estabelecido com base nessa premissa. O Ope-
dizado de habilidades cognitivas ou motoras, ration Head Start, iniciado na década de 1960 e
provavelmente foi melhor resumido por Bruner vigente até hoje, considera o periodo etério de
(1965), na seguinte afirmação: “o fundamento 3 a5 anos de reforgo critico para o desenvol-
de qualquer tema pode ser ensinado a qualquer vimento intelectual da crianga. Foi levantada a
pessoa de qualquer idade em qualquer forma” (p. hipétese de que, se fosse dado um programa,
12). Em outras palavras, a carga de estar“pronto” em um ambiente cuidadosamente estruturado,
é muito mais a responsabilidade do instrutor de destinado a desenvolver habilidades orientadas
reconhecé-la do que do estudante. A prontidio, para a escola, a crianga carente teria condições
combinação entre o “estar maduro”, a abertura de entrar na escola quase no mesmo nivel dos
ambiental e a sensibilidade do cuidador, tem seus pares nao carentes. Os resultados desses
numerosas implicagdes nas oportunidades de programas não corroboram inteiramente a hi-
aprendizado ao longo da vida. pétese dos periodos criticos. É provavel que isso
se deva a existéncia de mais de um periodo cri-
Periodos de aprendizagem tico para o desenvolvimento intelectual. Além
disso, o periodo etério dos 3 aos 5 anos talvez
criticos e sensiveis
ndo seja tão fundamental quanto se supds. As
O conceito dos periodos de aprendizagem criticos visdes atuais sobre a hipétese do periodo critico
e sensíveis estd estritamente associado com a Tejeitam a noção de que o individuo deve de-
prontiddo e gira em torno da observação de que senvolver habilidades de movimento dentro de
"O RS
o individuo é mais sensivel a certos tipos de esti- periodos de tempo tão especificos.
mulação em determinadas épocas. O desenvol-
vimento normal em perfodos posteriores pode
ser prejudicado quando a crianga não recebe
estimulagdo adequada durante o periodo critico.
Ha periodos sensiveis amplamente definidos, duran-
Por exemplo, a nutrigio inadequada, o estresse te os quais os individuos podem aprender novas ta-
prolongado, a educagio inconsistente ou a fal- refas de modo mais eficiente e efetivo,
ta de experiéncias de aprendizado apropriadas
podem ter um impacto mais negativo sobre o É seguro pressupor, entretanto, que hd pe-
desenvolvimento quando ocorrem logo no ini- riodos sensiveis, ou estruturas de tempo am-
cio da vida do que em uma idade mais avanga- plas, no desenvolvimento. Os periodos criticos
da. O conceito de periodos criticos também tem ou sensiveis ndo devem ser definidos de modo
um lado positivo. Ele sugere que a intervengio muito restrito.A desconsideragio das diferencas
apropriada durante um perfodo especifico tende individuais e das circunstancias ambientais es-
a facilitar formas mais positivas de desenvolvi- peciais leva à conclusdo de que o periodo sen-
mento em estdgios posteriores do que a mesma sivel é um ponto universal no tempo. Em vez
intervenção em outro momento. disso, deve-se adotar a noção dos periodos sen-
E preciso reconhecer que a tendéncia da siveis como orientações amplas e gerais, susceti-
crianga de seguir um padrio no perfodo critico veis a mudangas. O aprendizado é um fendmeno
está estreitamente relacionada com a teoria das que continua ao longo da vida. Conforme apren-
tarefas desenvolvimentais e, em menor grau, dem mais sobre o envelhecimento do cérebro e
com as visdes dos marcos desenvolvimentais do sistema motor, os cientistas tém demonstra-
e das fases-estagios. A estrutura tedrica do de- do de forma continua esse importante conceito
88 — Gallahue, Ozmun & Goodway
(Hinton, 1992; Selkoe, 1992; Ward e Frackowiak, tal da crianga mais nova, quando vistas a par-
2003). Aprender é um processo para toda a vida, tir da perspectiva da maturagio, proposta por
e os efeitos do envelhecimento podem ser retar- Gesell (1954), são consideradas filogenéticas,
dados ou reduzidos por meio do uso contínuo ou seja, elas tendem a surgir automaticamente
do cérebro e do sistema motor. e em uma sequéncia previsivel na crianca em
maturagdo. As habilidades filogenéticas são
Diferenças individuais resistentes a influéncias ambientais externas.
A mudança varia de acordo com a criança. À Habilidades de movimento, como as tarefas de
tendência de exibir diferenças individuais é fun-
manipulagio rudimentares de alcangar, pegar e
damental. Cada pessoa é singular e possui o seu soltar objetos; tarefas de estabilidade para ad-
próprio cronograma de desenvolvimento, que quirir controle sobre a musculatura ampla do
é uma combinação entre a hereditariedade in-
corpo; e as capacidades locomotoras funda-
dividual e as influências ambientais. Embora a
mentais de caminhar, saltar e correr são exem-
sequência de surgimento das características de- plos do que é considerado habilidade filogené-
senvolvimentais seja previsível, o ritmo de surgi- tica. As habilidades ontogenéticas, por sua
mento sofre variações. Portanto, a adesão estrita
vez, dependem sobretudo do aprendizado e de
oportunidades ambientais. Habilidades como
a uma classificação cronológica não tem susten-
nadar, andar de bicicleta e patinar são consi-
O (I
tação nem justificativa.
deradas ontogenéticas, pois ndo surgem auto-
maticamente nos individuos, mas requerem um
periodo de prática e experiéncia e são influen-
ciadas pela cultura. Todo o conceito de filogenia
As variações interindividual e intraindividual são os e ontogenia precisa ser reavaliado, pois muitas
conceitos-chave nos quais se baseia a educação de- habilidades que até aqui eram consideradas fi-
senvolvimental logenéticas podem ser influenciadas pela inte-
ração com o ambiente.
As idades “médias” de aquisição de todo
tipo de tarefa desenvolvimental, desde apren-
der a andar (a principal tarefa desenvolvimen- ®® CoNnceITO
tal da crianca) até adquirir controle sobre o
intestino e a bexiga (com frequéncia, as primei- Vários tipos de padrões de movimento podem ter
ras restricdes impostas à crianca pela socieda- base na filogenia (biologia), mas condições ontoge-
de civilizada), tém sido rebatidas na literatura néticas (ambientais) formam a taxa e a extensão de
profissional e na conversa didria de pais e pro- aquisição dos padrões.
fessores ha anos. É preciso lembrar que essas Embora haja uma tendência biológica para
idades médias são apenas isso e nada mais —
o desenvolvimento de determinadas habilida-
meras aproximagdes que sio indicadores con- des em função de processos filogenéticos, seria
venientes de comportamentos apropriados em
simplista pressupor que, sozinha, a maturação
termos desenvolvimentais. É comum observar- é responsável pelo desenvolvimento motor. À
mos desvios da média de até seis meses a um extensão ou o nível de domínio de qualquer ha-
ano no surgimento das numerosas habilidades bilidade de movimento voluntário depende, em
de movimento. A tendéncia de exibir diferen- parte, da ontogenia, ou seja, do ambiente. Em
ças individuais está estreitamente relacionada
outras palavras, oportunidades de prática, es-
com o conceito da prontidão e ajuda a explicar tímulo e instrução, a ecologia ou condições do
por que alguns individuos encontram-se pron- ambiente contribuem significativamente para o
tos para aprender novas habilidades enquanto desenvolvimento das habilidades de movimento
outros nao.
ao longo da vida. Há pouca sustentação sólida
para a noção de Gesell de que“a ontogenia re-
Filogenia e ontogenia capitula a filogenia”, embora alguns comporta-
Muitas das habilidades rudimentares do bebé mentos filogenéticos possam estar presentes na
e das habilidades de movimento fundamen- humanidade.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 89
"O XS
fluencia o desenvolvimento posterior. Entre os maternais iniciais.
mais essenciais estão os efeitos da estimulação e
da carência ambiental e os laços surgidos entre
os pais e a criança durante os primeiros meses
após o nascimento. A interação reciproca entre os pais e o filho afeta
tanto o ritmo como a extensao do desenvolvimento.
Laços
Os lagos são uma forte ligagio emocional
O estudo da ligação, ou lagos, pais-bebê tem que perdura além do tempo, da distância, do
suas raízes nos primeiros estudos sobre imprin- sofrimento e da vontade. Esse lago emocional
ting, imitação, realizados por Lorenz (1966), Hess começa a desenvolver-se ao nascimento e pode
(1959) e outros, com base em pássaros, patos e ser estabelecido de modo incompleto quando
outros animais. Esses experimentos com animas
há uma separagio logo no inicio. Os principais
revelaram que o grau em que o recém-nascido fatores que contribuem para uma separagdo
copiava da mãe estava diretamente relacionado
com o seu tempo de contato. Os bebês huma-
precoce são a prematuridade e o baixo peso ao
nascimento, que resultam na incubagio do re-
nos não copiam, no sentido estrito da palavra,
cém-nascido e em problemas neonatais leves ou
como os animais, mas é comum a ideia de que
4 ST
há um amplo período “sensível”em que ocorre graves.
DILEMA DO DESENVOLVIMENTO
Os lagos desempenham um papel ainda não deter-
Laços com o bebê: a ipotese do período minado no processo do desenvolvimento humano.
crítico é válida?
A ligagao entre pai e filho logo no inicio pode in- Estimulagéo e privagao
fluenciar muitos aspectos do desenvolvimento, Grande quantidade de estudos tem sido feita
mas é justo questionar se esses lagos são essen- ao longo dos anos para determinar os efeitos
ciais a0 bem-estar da crianca. Gerações de criancas relativos da estimulagdo e da privagdo sobre o
adotadas podem testemunhar o êxito do préprio aprendizado de uma série de habilidades. Hou-
desenvolvimento ainda que os lagos com a “mãe” ve considerdvel controvérsia entre os que defen-
tenham chegado com atraso de semanas, meses dem a hereditariedade e os ambientalistas sobre
ou até mesmo anos. A interagao reciproca entre
pais e filhos cria uma relação mutuamente pra- esse tema nos últimos 100 anos. Numerosos
Zerosa e recompensadora, cuja importancia nao manuais registram debates da natureza versus
pode ser minimizada. Entretanto, é preciso tomar criagdo, mas pouco tem sido estabelecido na
cuidado para não definir o conceito de lacos de tentativa de classificar os efeitos de cada uma
modo muito restrito e para não superestimar a sua sobre o desenvolvimento. A tendéncia atual tem
importancia. Ainda são necessárias mais pesquisas sido respeitar a importancia singular tanto da
para determinar de forma clara a sua relação com natureza como da criagdo e reconhecer a com-
o processo do desenvolvimento e para resolver plexidade do entrelagamento das influéncias da
esse dilema do desenvolvimento.
maturagio e da experiéncia.
90 — Gallahue, Ozmun & Goodway
uso de drogas, tabaco, idade da mãe, ganho de Efeitos de longo prazo da prematuridade
peso excessivo e condições sociais e econômi- Os dados mostram claramente que, entre os
cas adversas. Até pouco tempo, o prognóstico bebés PNMB, a probabilidade de morte poucas
para bebês prematuros que eram pequenos ou semanas após o nascimento é maior do que en-
com peso normal ao nascer era desolador. As tre os bebés de peso normal. As classificação de
suas taxas de morbidade e de mortalidade eram PNB prematuro está em segundo lugar, depois
anormalmente elevadas em comparagao com os das anomalias congénitas, como principal cau-
bebés de termo normal. Bennett (1997) relatou sa de morte infantil nos Estados Unidos. Nesse
que quanto menor o tempo de gestagio, maior a pais, a mortalidade infantil é de 6,7 por 1.000
incidéncia de incapacitagio grave. nascidos vivos, o que faz dele o 30° colocado em
Além disso, o bebê pré-termo estd mais número de mortes de bebés na lista de paises
propenso a dificuldades de aprendizado, des- desenvolvidos. Com 1,8 mortes por 1.000 nasci-
vantagens na interagio linguistica e social e mentos, Hong Kong tem o indice de mortalida-
problemas de coordenagdo motora do que o de infantil mais baixo (McDorman e Matthews,
seus pares de prazo completo. Por alguma razão 2009). A Figura 4.1 mostra o risco estimado de
desconhecida, parece que os meninos são mais mortalidade feminina e masculina com base no
gravemente afetados do que as meninas. O tra- peso de nascimento e na idade gestacional. Ob-
tamento de bebés prematuros nascidos no hos- serve que, à proporção que a idade gestacional
pital é coloca-los em incubadoras esterilizadas, e o peso aumentam, a mortalidade diminui na
onde a temperatura, a umidade e o oxigénio medida correspondente.
sejam precisamente controlados. Foi sugerido Os efeitos de longo prazo do nascimento
que a auséncia da estimulagio normal da mãe e prematuro nio são tão claros quanto as conse-
o ambiente circundante contribuam para esses quéncias de curto prazo. Nos dltimos anos, as
déficits. unidades de tratamento intensivo neonatal fo-
Peso ao nascimento
1100 1100
gramas
FE
3
8
1.000
gramas 10%
900
gramas 10% gramas
800 800 30%
gramas gramas
700 30% 700 h, 50%
gramas gramas
600 — R2 60% 600
gramas
50 80% gramas
500
gramas | gramas
22 23 24 25 26 27 28 29 30 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Idade gestacional (em semanas) Idade gestacional (em semanas)
Figura 4.1
Risco estimado de mortalidade feminina e masculina com base no peso de nascimento e na idade gestacional.
‘Adaptada de: Lemons et al. (2001). Very low birth weight outcomes of the Neonatal Institute of Child Health and Human Development Neonatal
Research Network. Pediatrics, 107(1). On-line: www. pediatrcs org/cgi/contentfull 107/1/e1
94 — Gallahue, Ozmun & Goodway
ram implicadas nos problemas desenvolvimen- ção de obesidade (IMC > 30) e excesso de peso
tais de longo prazo de alguns bebês prematuros. (IMC de 25 a 29,9) ocorre em 33% das crianças
São estudados os efeitos do barulho, da luz e da (NASPE/AHA, 2010) e 68% dos adultos no país
auséncia de toque prazeroso sobre o desenvolvi- (NIDDK, 2010). Hoje, a obesidade é considerada
mento do sistema neurológico. a segunda principal causa de morte evitével (o
A notícia estimulante é que a maioria so- tabaco é o primeiro, com estimadas 435 mil mor-
brevive com pouca ou nenhuma incapacitação. tes por ano), com o número de 400 mil estadu-
Mas, quando a idade de viabilidade (i.e., a idade nidenses por ano (USDHHS, 2004). O aumento
gestacional mais baixa passível de sobrevivência) acentuado da obesidade é um problema global,
continua a decrescer em função dos avanços mé- que afeta criangas e adultos em muitos paises
dicos, e a taxa de sobrevivência dos bebês PNMB desenvolvidos e em desenvolvimento (Vincent
aumenta, há maior incidência de incapacitações et al., 2003; Stettler, 2004).
desenvolvimentais tanto menores como maiores A gordura tem uma série de fungdes cons-
(Lemans et al., 2001; Tommiska et al., 2001). trutivas. Ela é uma reserva de energia; é um
veiculo para vitaminas lipossolúveis; fornece
Transtornos da alimentação protecdo e sustentagdo para partes do corpo,
Os estadunidenses vivem em um mundo muito isolando-as do frio; e, na proporgio adequada,
diferente daquele dos seus ancestrais. O esfor- melhora a aparéncia corporal. Entretanto, para
ço físico vigoroso não é mais parte necessária que realize essas fungdes, a proporgio de gor-
do padrão de vida diária da maioria das pes- dura ideal em adultos deve ser de 15 a 18% para
soas. Hoje, a maioria dos exercícios, quando são homens e de 20 a 25% para mulheres.
feitos, é planejada e não é parte integrante da O bebé cujo prazo de gestagdo foi inte-
existência da pessoa. Além disso, muitos, ago- gral tem de 12 a 16% de gordura, sendo que a
ra, têm abundância de alimento. O indivíduo maior parte se desenvolve durante os últimos
pode consumir uma grande quantidade de ali- dois meses do periodo de gestagio. Em torno
mento e usar pouco da energia neles contida. A do sexto més após o nascimento, as porcenta-
manutengio do peso do corpo é relativamente gens de gordura corporal aumentam cerca de
simples. Ela requer a manutenção do equilibrio 25%, declinando posteriormente para, ao longo
entre a ingestdo e o gasto calórico. Se a pessoa de toda a infncia, 15 a 18%. Durante o periodo
consumir mais calorias do que queimar ao longo da pré-adolescéncia, os depdsitos de gordura au-
do tempo, a obesidade é o resultado final. En- mentam nas meninas, mas não nos meninos. Há
tretanto, se ela consumir menos calorias do que uma redução pequena, mas significativa, na por-
gasta, isso resulta em perda de peso ao longo do centagem de gordura corporal entre os homens
tempo. A perda de peso causada pela aversio (Fomon et al., 1982). De maneira ideal, a porcen-
prolongada à comida (anorexia nervosa) ou a tagem de gordura corporal em relagio ao peso
repetida compulsdo alimentar seguida de pur- corporal total muda pouco do final da adolescén-
gação (bulimia) é uma preocupagio crescente e cia até a idade adulta. Entretanto, a porcentagem
deve ser considerada em qualquer discussio so- de gordura corporal pode variar de baixa, em
O ENT
bre transtornos da alimentacéo. torno de 8% (tipica de corredores ectomdrficos
de longa distancia) a muito elevada, em torno de
50% (caracteristica dos muito obesos)
Milhdes de estadunidenses são obesos. Nos
Os transtornos da alimentação entre crianças, ado- Estados Unidos, a prevaléncia da obesidade em
lescentes e adultos afetam acentuadamente o seu adultos com 20 anos ou mais, em estimativas
crescimento e desenvolvimento motor. atuais, varia de um valor baixo, como 18,6% no
Colorado, até um valor elevado, como 34,4%
Obesidade no Mississipi. Além disso, em 2009, nove esta-
A obesidade, ou qualquer aumento excessivo dos registraram uma porcentagem de obesidade
na quantidade de gordura corporal armazenada, adulta acima de 30%, sendo que em 2000 não
é considerada a doença nutricional crônica mais havia nenhum estado nesse nivel. Além disso,
prevalente nos Estados Unidos. A combina- nenhum estado alcanga o objetivo da Healthy
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 95
People 2010 de menos de 15% de obesidade res, apresentam desempenho académico ruim,
(CDC/MMWR 2010, on-line em: http://www.cdc. tém autoimagem negativa e preocupam-se per-
govimmwr/pdf/wk/mm59e0803.pdf). De modo sistentemente com dietas.
similar, a obesidade infantil na faixa etária dos 2 As principais causas, baseadas no ambiente,
aos 19 anos tem apresentado aumento constante da obesidade de individuos com equilibrios hor-
desde 1971, quando a média era de meros 5%, monais normais são a ingestão alimentar exces-
com estimados 16,9% em 2008 (NCHS, 2009, on- siva e a falta de exercicios ou a combinagio de
line em: www.cdc.gov/nchs/data/hestat/obesity_ ambas. Maus habitos de alimentagao e exercicios
child_07_08/obesity_child_07_08.htm). Estima- são formados na infancia e perpetuados por toda
-se que as crianças obesas que não emagrecem a vida. A crianga que é obrigada a comer todo o
até os 14 anos correm 70% mais risco de perma- alimento servido em todas as refeicdes, mas nao
necerem obesas na vida adulta (AOA, 2000). é estimulada a praticar exercicios regularmente,
Nos Estados Unidos, a porcentagem de tem potencial para desenvolver graves proble-
massa corporal magra tende a diminuir com a mas de saúde.
idade. A porcentagem de gordura corporal é o Uma 4rea de interesse para muitos que es-
principal determinante da obesidade. O peso tudam a obesidade são os niveis de atividade
da pessoa é menos importante do que a pro- das criangas obesas (Treuth, Butte, Adolph e
porção entre a gordura e o tecido magro. À Puyau, 2004). A inatividade fisica parece contri-
composição corporal é um critério válido para buir para obesidade, como indicado por estudos
indicar a obesidade. Ela é determinada pelo cál- que relacionam o habito de assistir a televisao a
culo do índice da massa corporal (IMC). Para prevaléncia da obesidade na infancia. Bar-Or e
calcular esse índice, é usada a seguinte fórmula: Baranowski (1994) observaram, em um artigo
peso (em kg) + altura” (em m) = IMC. No mun- de revisdo da atividade fisica e obesidade entre
do inteiro, um IMC de 30 ou mais é considerado adolescentes, varios estudos que indicam cla-
indicação de obesidade. Um IMC de 25,0 a 29,9 ramente que a intensidade da atividade fisica
é considerado excesso de peso.Veja na Tabela 4.1 é significativamente menor em criangas e ado-
uma estimativa do IMC. lescentes obesos. Embora niveis crescentes de
Os indicios são claros: ha substancial au- atividade fisica, combinados com moderagio
mento na incidéncia de obesidade nos Estados na ingestdo caldrica, possam ser o segredo para
Unidos em todos os segmentos da populagdo. obter a redugdo da tendéncia de aumento da
Usando técnicas de amostragem randomizada gordura, Bar-Or e Baranowski conclufram que,
estratificada, é realizada a National Health and nos muitos programas de intervengao fisica es-
Nutrition Examination Survey (NHANES) desde tudados, havia apenas uma pequena redução (1
a década de 1970. As Tabelas 4.2 e 4.3 fornecem a 3% da gordura corporal) na adiposidade en-
uma visio reveladora do constante aumento na tre adolescentes. A adoção de dietas parece não
porcentagem de obesidade nos Estados Unidos ser a melhor solução ou a mais completa para
entre criangas e adultos, respectivamente, em a obesidade de base comportamental em crian-
especial na dltima década. Um crescente núme- ças. As vezes a sua ingestdo alimentar é normal,
ro de indicios tem apontado a obesidade como e a dieta pode causar graves deficiéncias de nu-
o principal fator contribuinte em uma ampla sé- trientes necessarios a um crescimento e saúde
Tie de resultados negativos para a saúde, varios adequados. A principal causa de obesidade entre
deles mostrados na Tabela 4.4. A obesidade im- as criangas é a falta de atividade, portanto, o au-
pde estresse adicional aos sistemas circulatério,
mento de longo prazo nessa drea pode ser a so-
respiratério e metabélico e pode causar, ou in- lução mais saudavel e melhor (USDHHS, 2001;
tensificar, disttirbios nesses sistemas. Os adultos
"O T
Dietz, 2004).
obesos correm maior risco, já bem estabelecido,
de morbidade e mortalidade cardiovascular in-
dependentemente de idade, nivel de colesterol,
pressio sanguinea, uso de tabaco e intolerancia
à glicose. Além disso, criangas e adultos obesos Fatores genéticos e ambientais contribuem para o
com frequéncia sio ridicularizados por seus pa- inicio e grau de obesidade.
96 — Gallahue, Ozmun & Goodway
Idade
(em NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES
anos) 1971-1974 1976-1980 1988-1994 1999-2000 2001-2002 2003-2004 2005-2006 2007-2008
Fonte: adaptada de Ogden, C. and Carroll, M. (2010). Prevalence of obesity among children and adolescents: United
States, trends 1963-1965 through 2007-2008. NCHS Health E-stat. On-line em: www.cdc.gov/nchs/data/hestat/obesi-
ty_child_07_08/obesity_child_07_08.htm
Tabela 4. Prevaléncia da obesidade entre grupos etérios de adultos dos Estados Unidos com
idade de 20 anos ou mais, classificados por sexo e raga/etnia, com base em dados das
NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey) de anos selecionados, a
partir de 1988-1994 até 2007-2008, em relação as estimativas de 2000, feitas pelo U.S.
Census Bureau
A etiologia da obesidade na maioria das -mexicanos do que nos seus pares brancos (veja
crianças é desconhecida, mas fatores genéticos, a Tab. 4.3). Estudos com gêmeos corroboram o
bem como ambientais, parecem estar envolvidos. conceito de que fatores genéticos desempenham
Parece que a obesidade é altamente familial, com um papel importante na obesidade (Stunkard et
uma base hereditária ou ambiental ou a combina- al., 1986, 1990). Além disso, a obesidade entre
ção das duas. A obesidade ocorre em taxas mais crianças após os 10 anos parece ser fortemente
elevadas entre os afro-americanos e americano- genética, com cerca de dois terços de variabilida-
98 — Gallahue, Ozmun & Goodway
Tabela 4. Sobrepeso e obesidade aumentam o risco de doengas graves e estão associados com
numerosas condições de saúde negativas
0 sobrepeso e a obesidade são conhecidos
fatores de risco de: 0 sobrepeso e a obesidade estão associados a:
Diabetes tipo 2 Colesterol elevado
Doença cardiaca Complicagdes durante a gravidez
AVC Irregularidades menstruais
Hipertensao Excesso de pelos no corpo e no rosto
Artrite reumatoide Defeitos de nascimento (defeitos no tubo neural)
Osteoartrite (especialmente dos joelhos, dos quadris, Sindrome do túnel do carpo
das costas e das mãos)
Apneia do sono Sonoléncia diurna
Algumas formas de cancer (de mama, de Gtero, dos Gota
rins, da vesicula biliar, colorretal)
Doenga da vesicula biliar Resposta imunolégica comprometida
Disturbios do coragao Função respiratéria comprometida
Fonte: CDC (2009). The health effects of obesity. On-line em: www.cdc.gov/healthyweight/effects/index htmi
National Heart Lung and Blood Institute (2009). What are the health risks of overweight and obesity? On-line em: www.
nhibi.nih gov/health/dci/Diseases/obe/obe_risks.html
PERSPECTIVAS INTERNACIONAIS
de no peso corporal atribuíveis a fatores genéticos que homens e em indivíduos obesos do que
(Malina, Bouchard e Bar-Or, 2004). Embora tanto naqueles não obesos (NIDDK, 2008). Embora
fatores hereditários como ambientais desempe- as causas ainda não sejam conhecidas, o trans-
nhem determinado papel, a atividade fisica regu- torno da compulsão alimentar inclui até 50%
lar e vigorosa pode ser a variável mais importante de história de depressão. Emoções negativas
na prevenção da obesidade. como raiva, ansiedade, tristeza e tédio podem
desencadear episódios de compulsão alimentar.
Transtorno da compulsão alimentar Os indivíduos com esse transtorno consomem
A compulsão alimentar é, provavelmente, o grandes quantidades de comida em surtos de
transtorno alimentar mais comum, ocorrendo compulsão, mas não se envolvem em purgação
em cerca de 3% da população adulta dos Esta- nem em jejuns típicos de indivíduos com buli-
dos Unidos. É mais comum entre mulheres do mia ou anorexia. O indivíduo com transtorno
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 99
Transtorno da compulsão
alimentar Anorexia nervosa Bulimia nervosa
1 Compulsão alimentar sem pur- 1 Identificação excessiva com 1 Compulsões alimentares se-
gação o programa de controle de guidas de purgação
2. Perda de peso irregular peso prescrito pelo médico Perda de peso irregular
3. Frequentemente obeso 2 Obsessão com dietas e con- Longos periodos no banheiro
4. Dificuldade em perder peso e versas sobre comida após as refeigoes
depois mantê-lo 3 Isolamento social acompa- Performance variavel
5. Obsessão com comida nhado de magreza e debili- Perda do esmalte dos dentes
6. Frequente em pessoas subme- dade (slimness), vida solitaria Medo de ganhar peso
tidas a um programa de con- — 4 Não participagdo no com- Exercicio prolongado/extremo
trole de peso supervisionado portamento cortejador dos Instabilidade e impulsividade
por médico colegas emocional
7. Insatisfação consigo mesmo 5 Súbito aumento do envolvi- Depressão e frequentes osci-
após o episódio de compulsão mento em exercicios fisicos, lações de humor
8. Frequente história de depressão em geral de natureza solitéria Problemas na garganta, esô-
9. Compulsões alimentares de- 6 Preocupagao excessiva em fago, estômago ou colo
sencadeadas por emocoes conquistar notas académicas
negativas extremas altas
7 Excesso de preocupação com
o peso
8 Nao ingestao de comida
9 Negação da fome
10 Obsessão com exercícios
nado com as exigências mecânicas da tarefa, afe- ponentes da aptidão física relacionada à saúde.
tam enormemente a nossa habilidade de movi- O grau de cada um desses fatores afeta as po-
mentação com controle, habilidade e segurança. tencialidades da performance do indivíduo em
AA Figura 4.2 ilustra esse importante conceito. termos de movimento. Por exemplo, a distância
A interação entre atividade física, genética que uma pessoa pode correr ou pedalar está re-
e nutrição sugere os limites máximo e mínimo lacionada com o seu nível de força muscular, re-
OT
da aptidão física que podem ser esperados de sistência muscular e resistência aeróbia.
um indivíduo. O estado nutricional pode inibir
ou incrementar muito o nível de funcionamen-
to físico (Meredith e Dwyer, 1991; Rickard et al.,
1996), e a estrutura genética determina o nível O nível pessoal de aptidão física relacionada à saúde
extremo de aptidão física que pode ser obtido e à performance afeta o desenvolvimento motor de
(Malina, Bouchard e Bar-Or, 2004). Portanto, vários modos.
para o propósito deste livro, aptidão física é
definida como a habilidade de realizar ativida- Aptidão física relacionada à performance
de física, combinada com a constituição genética A aptidão física relacionada à performance, tam-
do indivíduo e com a manutenção da adequação bém amplamente conhecida como aptidão física
nutricional. A aptidão física pode ser subdividida motora, é o aspecto da performance da aptidão
em componentes relativos à saúde e relativos à física. Em geral, pensamos na aptidão fisica como
performance. o nível de performance atual, de acordo com a in-
fluência de fatores como movimento, velocida-
Aptidão física relacionada à saúde de, agilidade, equilíbrio, coordenação e potência.
Força muscular, resistência muscular, resistên- A aptidão física tem um efeito definido sobre a
cia aeróbia, flexibilidade articular e composição performance de qualquer atividade de movimen-
corporal geralmente são consideradas os com- to que exija reações rápidas, velocidade de movi-
101
Compreendendo o Desenvolvimento Motor
2010UW OJUSWINOAUISIP OP Sase) se sepo) Wa OJUSWIAOW ap jeipuazod op OJUSWIAIOAUSSSP O Wejaje sodIUBDAW 3 SOIIS!J S3I0jey
Ty eanbyy
Jesodioo epezijeisadsa | [epezieoedse epezeoadse de
aseq ased| ese ogdealjoedy op eseg
Ieuswepuny | | reweswepuny Ieyuswepuny
opdeuspIooD osey ase| ese BPUBISIA ogdeisjEoy epepinei6
1eusuwipns 1eueuwipns 1eueuwipns ep euurm
epepinôy esed ase| esed sioyiadns eloIgU| epepinel6
epepicolen EXo|jol osed| | exejes ase Exejas ase| Bp Baly 8p oqueo
1010 oepnde [ eo1s/) oepnde “ogdeindiuew oEÓOUICOO| p 310} Waqaoai| “ediojoep | epepiligeisa
ep saioje ep selo1es p sapepilqeH| |op sepepinder anb saiopey enb sa.oje4 ap sa101e
soois saioçes — | O)uauWINOUW! 8p Sapep: soojuBoBW salojey
102 Gallahue, Ozmun & Goodway
Jre
principios do equilibrio são (1) centro de gravi- ela sai da base, há o desequilibrio. Quanto mais
dade, (2) linha de gravidade e (3) base de apoio. ampla for a base de apoio, maior serd a estabili-
Figura 4.3
0 centro de gravidade muda quando o corpo muda de posição.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 103
Figura 4.4
0 corpo permanece em equilíbrio quando o centro de gravidade e a linha de gravidade coincidem com a base
de apoio.
dade, como se pode ver quando estamos apoia- Toda a ciéncia da força baseia-se nas trés leis do
dos nos dois pés e não em apenas um. Quanto movimento formuladas por Newton, ou seja, as
mais perto do centro da gravidade estiver a base leis da inércia, da aceleração e da ação e reação.
de apoio, maior será a estabilidade. Uma pessoa A lei da inércia afirma que um corpo em
na posição ereta pode ser tirada da posição de Tepouso permanece em repouso e que um cor-
equilíbrio mais facilmente do que outra que está po em movimento permanecerd em movimento
na posição do lineman do futebol americano, em uma mesma velocidade, em linha reta, a não
com os pés separados e o corpo um pouco para ser que seja atingido por uma forga externa. Para
a frente. que o movimento ocorra, é preciso a atuação,
Quanto mais próximo do centro da base de sobre o corpo, de uma força suficiente para su-
apoio estiver o centro de gravidade, maior será perar a sua inércia. Se a força aplicada for menor
a estabilidade. A posição do pé, que permi- do que a resisténcia oferecida pelo objeto, não
te uma base de apoio mais larga na direção do ocorre movimento. Os músculos grandes podem
movimento, fornece estabilidade adicional. Esse produzir mais forga do que os pequenos. Assim
princípio é ilustrado pela posição dos pés de um que um objeto se põe em movimento, ele gasta
corredor que está tentando parar ou de alguém menos forga para manter a velocidade e a di-
que está tentando receber e controlarum objeto teção (ou seja, o momentum) do que para parar.
pesado. Isso pode ser prontamente observado no esqui
sobre a neve, no deslizamento na água ou no ro-
Aplicação de força lamento de uma bola. Quanto mais pesado for
A força é um dos conceitos básicos do movimen- o objeto e mais rapida a sua velocidade, maior
to e da mecânica corporal. A força é o instigador forca serd necessaria para superar a inércia do
de todo o movimento e definida como o esforço movimento ou absorver o momentum. É mais di
que uma massa exerce sobre outra. O resultado ficil pegar um objeto pesado em movimento do
pode ser (1) movimento, (2) cessação de movi- que um objeto leve
mento ou (3) resistência de um corpo contra o A lei da aceleração afirma que a mudanga
outro. Pode haver força sem movimento, como de velocidade de um objeto é diretamente pro-
observado em atividades isométricas, mas o mo- porcional à força que produz a velocidade e in-
vimento é impossivel sem a aplicação de algu- versamente proporcional à sua massa. Quanto
ma forma de força. Trés forgas relativas ao corpo mais pesado o objeto, mais força é necessaria
humano nos interessam aqui: (1) a força produ- para promover a sua aceleragio ou desacelera-
zida pelos músculos, (2) a forga produzida pela ção. Isso pode ser observado quando um objeto
atração gravitacional da Terra e (3) o momentum. pesado (arremesso de peso no atletismo) e um
104 Gallahue, Ozmun & Goodway
objeto leve (uma bola de softball) são lançados a zido na proporção do tamanho da superficie, e
determinada distância. O aumento na velocida- a probabilidade de lesdo diminui. Por exemplo,
de é proporcional à quantidade de força aplica- se tentarmos absorver o choque de uma queda
da. Quanto maior a quantidade de força atuante com as maos, mantendo os bragos estendidos,
sobre o objeto, maior a velocidade adquirida por isso provavelmente resultara em lesdo, porque a
ele. Se uma mesma quantidade de força for apli- pequena superficie da mão terd de receber todo
cada sobre dois corpos de massa diferente, terá o impacto. O melhor seria deixar a maior parte
maior aceleração aquele mais leve ou de menor do corpo possivel absorver o impacto.
massa. O objeto mais pesado, entretanto, terá A direção final de um objeto em movimento
um momentum maior após a superação da inércia depende da magnitude e da direção de todas as
e exercerá maior força do que o mais leve sobre forgas aplicadas. Portanto, sempre que chutamos
outro objeto que entre contato com ele. ou arremessamos um objeto, ou batemos nele,
A lei da ação e reação afirma que, para cada a precisio e a distancia vão depender das forgas
ação, há uma reação igual e oposta. Esse princí- atuantes. Ao executar um salto vertical, o indivi-
pio da força contrária é a base de toda a locomo- duo deve trabalhar de modo a somar forgas na
ção e fica evidente quando deixamos pegadas na direção vertical; entretanto, uma boa performan-
areia. Ele se aplica tanto a movimentos lineares ce no salto a distdncia requer a soma das forças
como a angulares. À sua aplicação requer a rea- horizontal e vertical, de modo que a decolagem
lização de ajustes pelo indivíduo para manter as seja feita no ângulo apropriado.
forças primárias em qualquer movimento. Por A explicação de cada um dos principios do
exemplo, o uso de obstáculo ao padrão de corri- equiltbrio, da forca fornecida e das forgas rece-
da contrapõe a ação de uma parte do corpo com bidas em separado não deve ser tomada como
a ação de outra. indicação de que eles são usados separadamen-
te. A maioria de nossos movimentos combina
Recepção de força os trés. O elemento do equilibrio está envolvido
Quando nós próprios paramos ou quando pa- em quase todos 0s nossos movimentos, e nós
ramos algum objeto, absorvemos força ao longo fornecemos e recebemos forga sempre que rea-
da maior distância possível e na maior área de lizamos qualquer movimento de locomoção ou
superfície possível. Quanto maior a distância manipulação. Uma ginasta, por exemplo, tem de
a0 longo da qual a força é absorvida, menor o manter o equilibrio quando realiza uma acro-
impacto sobre o objeto que recebe a força. Isso bacia, por exemplo, um front flip, e também tem
pode ser demonstrado quando pegamos uma de absorver a força do corpo (ao tocar o solo). O
bola com os braços estendidos à frente do cor- tenista tem de se movimentar prontamente (for-
po e quando pegamos essa mesma bola de novo necendo e recebendo forga do corpo) e manter o
com os braços flexionados. O mesmo pode ser equilibrio. Embora cada um dos padrões e habi-
observado quando saltamos e caímos com as lidades de movimento discutidos nos capitulos a
pernas flexionadas, em comparação com o mes- seguir envolva uma sequéncia especifica de mo-
mo movimento com as pernas estendidas. As vimentos, todos incorporam a mecanica básica
forças devem ser absorvidas ao longo da maior discutida aqui, pois esses principios mecanicos
area de superfície possível. O impacto é redu- são comuns a todas as situagdes de movimento.
Resumo
desenvolvimento motor é um aspecto do pro- progressio gradual de niveis relativamente simples de
cesso de desenvolvimento total. Ele estd estreita- funcionamento a niveis mais complexos. Fatores bio-
mente relacionado com os dominios cognitivo e afe- lógicos, da experiéncia e fisicos afetam o processo e os
tivo do comportamento humano, sendo influenciado produtos do desenvolvimento motor. Cada individuo
por uma série de fatores. A importancia do desenvolvi- é singular em seu desenvolvimento e progride a um
mento motor 6timo não pode ser minimizada ou con- ritmo determinado pelas circunstancias ambientais e
siderada como secundaria em relação a outras areas biolégicas, combinadas com as exigéncias especificas
desenvolvimentais. Emergem fatores comuns, que afe- da tarefa de movimento.
tam o desenvolvimento motor. Esses fatores ilustram a
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 105
LEITURA BÁSICA
CDC. (2010). U.S. Obesity Trends 1985-2009. Online 'VA: National Association for Sport and Physical
at: www.cde. gov/obesity/data/trends. html Education.
Dietz, W. H. (2004). The effects of physical activity on NIDDK. (2008). Binge Eating Disorder. Online at:
obesity. Quest, 56, 1-12. http://www.win.niddk.nih.gov/publications/binge.
Eyer, D. E. (1994). Infant Bonding: A Scientific Fiction. htm#howcommon
New Haven, CT: Yale University Press. NIDDK. (2010). Statistics Related to Overweight and
Irwin, C. C., Symons, C. W,, & Kerr, D. L. (2003). The Obesity. Online at: www:win.niddk.nih.gov/
dilemmas of obesity: How can physical educators. statistics/index htm#overweight
help? JOPERD, 74, 33-39. Stettler, N. (2004). The global epidemic of childhood
MacDorman, M. F., & Matthews, M. S. (2009, obesity. Obesity Reviews, 5,91-92.
November). Behind international rankings of infant Strohmeyer, H. S. (2004). Biomechanical concepts for
mortality: How the United States compares with the physical educator. JOPERD, 75, 17-21
Europe. NCHS Data Brief, Nº. 23, 1-8. Electronic Thomas, J. R. (2000). 1999 C. H. McCloy Research
text: www.cde.gov/nchs/ppt/nchs2009/44 Lecture: Children’s control, learning and
MacDorman. pdf performance of motor skills. Research Quarterly for
Martin, J. A. et al. (2010, August). Births: Final data for Exercise and Sport, 71,1-9.
2007. National Vital Statistics Reports, 58 (4), 1-125. Ward, N. S., & Frackowiak, R. 8. ]. (2003). Age-
Electronic text: www.cdc.gov/nchs/data/nvsr/ related changes in the neural correlates of motor
nvsr58/nvsr58_24.pdf performance. Brain, 126 (4), 873-888.
NASPE & AHA. (2010). Shape of the Nation Report:
Status of Physical Education in the USA. Reston,
RECURSOS NA WEB
aappublications.org/ www.anad.org/site/anadweb/
Homepage da American Academy of Pediatrics. As Homepage da National Association of Anorexia
informagdes fornecidas incluem a politica da AAP, Nervosa and Associated Disorders. A pagina
relatérios clinicos, relatérios técnicos, orientagdes fornece informagdes sobre transtornos alimentares,
clinicas práticas e paginas direcionadas aos pais, recursos, servigos/programas, tratamentos/
encaminhamentos e grupos de apoio focados na
www.nichd.nih.gov/ ajuda a individuos que sofrem de anorexia, bulimia
Homepage oficial do National Institute of Child e compulsão alimentar.
Health and Human Development. Contém a
missão do NICHD, componentes organizacionais, www.cde.govincedphp/dnpalobesity/
comunicados à imprensa, conferéncias, novas Informagdes do site dos Centers for Disease Control
politicas, oportunidades de financiamento e materiais and Prevention relativas obesidade nos Estados
de pesquisa. Unidos. O site define os termos sobrepeso e
106 Gallahue, Ozmun & Goodway