Você está na página 1de 24

CAPÍTULO 4

Fatores que Afetam o


Desenvolvimento Motor

PALAVRAS-CHAVE
Direção do desenvolvimento Prematuro Anorexia nervosa
Taxa de crescimento Peso de nascimento muito Bulimia nervosa
Entrelaçamento recíproco baixo (PNMB) Aptidão física
Prontidão Peso de nascimento baixo Força
Períodos sensíveis (PNB) Lei da inércia
Habilidades filogenéticas Young-for-date Lei da aceleração
Habilidades ontogenéticas Obesidade Lei da ação e reação
Laços Transtorno da compulsão
alimentar

COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS NESTE CAPÍTULO


Ao finalizar este capítulo, você será capaz de:
* Identificar fatores genéticos e ambientais * Definir e discutir os conceitos dos
que influenciam o crescimento e a períodos crítico e sensível, das habilidades
maturação biológica filogenéticas e ontogenéticas e do controle
* Derivar os princípios do desenvolvimento de ambos os gêmeos
motor e aplicá-los a situações de ensino/ * Identificar e ordenar, da mais simples a
aprendizado em vários pontos do curso da mais complexa, as variáveis ambientais
vida que podem influenciar os níveis
* Descrever o crescimento compensatório e desenvolvimentais
os fatores que afetam esse fenômeno * Explicar as similaridades e diferenças entre
* Analisar as relações entre o crescimento, ligação e imprinting (imitação)
a maturação biológica e as mudanças * Elaborar hipóteses sobre o impacto do
fisiológicas no desenvolvimento das temperamento no processo interativo do
habilidades motoras desenvolvimento
* Discutir os efeitos da privação ambiental sobre o Descrever diferenças e similaridades
o desenvolvimento motor ao longo da vida implicadas nos termos“peso de nascimento
* Abordar os efeitos da riqueza do ambiente, baixo”e“prematuro”
da prática especial e do ensino sobre o
desenvolvimento motor ao longo da vida
84 — Gallahue, Ozmun & Goodway

te da maturação do sistema nervoso, como diz


CONCEITO-CHAVE a hipótese original de Gesell, mas que se deva,
em parte, a demandas da tarefa especifica. Por
Tanto o processo como os produtos do desenvol- exemplo, as demandas da tarefa de caminhar
vimento motor são influenciados por uma ampla
de modo independente são consideravelmente
variedade de fatores que operam isolada e conjun-
tamente. maiores do que as de arrastar-se ou engatinhar.
Hé menor margem de erro no caminhar inde-
pendente do que no engatinhar, e neste do que
no arrastar. Em outras palavras, é mecanica-
desenvolvimento e o refinamento dos
mente mais fácil se arrastar do que engatinhar,
padrdes e das habilidades de movimen-
e engatinhar do que andar. Portanto, a aparente
to são influenciados de modo complexo. Tanto o
progressão caudal do desenvolvimento pode ser
processo como os produtos do movimento tém fruto ndo apenas da maturagio do sistema ner-
suas raizes na singular hereditariedade e na ba- voso, mas também das demandas da performan-
gagem de experiéncias de cada um, combinadas ce da tarefa. Por isso, devemos tomar cuidado ao
com as demandas especificas da tarefa de mo- interpretar o conceito da diregdo do desenvolvi-
vimento. Qualquer estudo do desenvolvimento mento, em especial no caso do bebê.
seria incompleto sem a discussdo de varios des-
ses fatores atuantes. Este capitulo foca fatores do
individuo, do ambiente e da tarefa que influen- @@ Concerro 3.10
ciam o processo do desenvolvimento ao longo
de toda a vida. A maturação neuromotora pode ser responsével,
em parte, tanto pela sequéncia como pela taxa do
desenvolvimento motor ao longo do ciclo da vida.
FATORES DO INDIVIDUO
A heranga genética singular que responde por O aspecto cefalocaudal da direção desen-
volvimental refere-se, de forma especifica, a
nossa individualidade também pode ser respon- progressdo gradual do controle sobre a mus-
sével por nossa similaridade em muitos aspec- culatura, partindo da cabeca em diregdo aos
tos. A similaridade ¢ a tendéncia do desenvol-
vimento humano de ocorrer de modo ordenado
pés. Isso pode ser observado nos estágios pré-
-natais do desenvolvimento fetal, assim como
e previsivel. Uma série de fatores biolégicos que no desenvolvimento pés-natal posterior. No
afetam o desenvolvimento motor parece emergir
desse padrão previsivel. desenvolvimento do feto, por exemplo, a cabe-
ça forma-se primeiro, e os bragos formam-se
antes das pernas. De modo similar, os bebés
Direção do desenvolvimento exibem controle sequencial sobre a muscula-
O conceito de direção do desenvolvimento, tura da cabeca, do pescoço e do tronco antes
ou seja, a ideia do seu cardter cumulativo e d de adquirir controle sobre as pernas e os pés.
recionado, foi formulado pela primeira vez por As criangas mais jovens são muito desajeita-
Gesell (1954) como modo de explicar a crescente das e exibem um controle motor ruim sobre
coordenagdo e controle motor em função da ma- os membros inferiores. Talvez isso se deva ao
turação do sistema nervoso. Por meio de obser- desenvolvimento cefalocaudal incompleto e à
vagdes, Gesell notou uma sequéncia ordenada complexidade das demandas da tarefa da ca-
e previsivel do desenvolvimento fisico que ia da minhada independente.
cabega aos pés (cefalocaudal) e do centro do cor- O segundo aspecto da direção desenvol-
po às suas periferias (proximodistal). O conceito vimental, conhecido como desenvolvimento
da direção do desenvolvimento tem encontrado proximodistal, refere-se, especificamente, a pro-
criticas recentes e ndo deve ser visto como ope- gressão do controle exercido pela crianga sobre
racional em todos os niveis do desenvolvimento a musculatura, a partir do centro do corpo em
nem em todos os individuos. É possivel que a direção as partes mais distantes. Assim como
observação de tendéncias a diregdes desenvolvi- no desenvolvimento cefalocaudal, o conceito
mentais distintas ndo seja função exclusivamen- proximodistal aplica-se tanto aos processos do
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 85

crescimento como à aquisição das habilidades O processo autorregulado de crescimento


de movimento. Por exemplo, em relação ao compensa desvios relativamente menores no pa-
crescimento, o tronco e a cintura escapular cres- drão de crescimento, mas, com frequéncia, não é
cem antes dos braços e das pernas, que crescem capaz de ajustar desvios maiores, em especial no
antes dos dedos das mãos e dos pés. Na aquisi- bebé e na crianca. Por exemplo, bebés com peso
ção das habilidades, a criança mais nova é capaz de nascimento abaixo de 1,5 kg e criangas que
de controlar os músculos do tronco e da cintura sofrem deficiéncias nutricionais graves e prolon-
escapular antes dos punhos, das mãos e dos de- gadas muitas vezes apresentam déficits perma-
dos. Esse princípio do desenvolvimento é usado nentes no peso e na altura, assim como em seu
com frequência nos primeiros anos de escola, desenvolvimento cognitivo e motor.
quando são ensinados os elementos menos refi-
nados da escrita antes do ensino dos movimen-
tos mais refinados e complexos. Concerro 3.10
Os processos cefalocaudal e proximodistal A permanéncia do atraso no crescimento é parti-
permanecem em operação durante toda a vida cularmente devastadora durante os primeiros dois
e têm a tendência de fazer o caminho inverso anos de vida
quando a pessoa envelhece.As ações dos mem-
bros inferiores e da parte inferior do corpo são Repetidas vezes foi mostrado que a restrição
os primeiros a regredir. Entretanto, com certe- grave e prolongada das oportunidades de mo-
za, os indivíduos mais velhos podem prevenir e vimento e a caréncia de experiéncias interferem
reduzir essa regressão, permanecendo ativos a na capacidade das criangas de executar tarefas
vida toda. de movimento caracteristicas do seu nivel etdrio.
Os efeitos da caréncia de experiéncias sensoriais
Taxa de crescimento e motoras podem ser superados, às vezes, quan-
A taxa de crescimento dos indivíduos segue do são estabelecidas condigdes quase Gtimas
um padrão característico universal para todos para a criança. Entretanto, o ponto até o qual a
e é resistente à influência externa. A mínima crianga serd capaz de equiparar-se aos colegas
interrupção do ritmo normal de crescimento é depende da duração e da gravidade da caréncia,
compensada por um processo ainda inexplicado da sua idade e do seu potencial de crescimento
de flutuação autorreguladora (Gesell, 1954), que genético.
permite à criança alcançar os colegas da mesma
idade. Essa plasticidade desenvolvimental ocorre, Entrelacamento reciproco
por exemplo, quando uma doença grave limita O entrelagamento coordenado, progressivo e in-
os ganhos normais em termos de altura, peso trincado dos mecanismos neurais dos sistemas
e capacidade de movimento, mas, depois de musculares opostos em uma relação de matu-
recuperada, a criança tende a alcançar os cole- ridade crescente, chamado de entrelagamento
gas. O mesmo fenômeno é observado em bebês reciproco por Gesell (1954), é uma caracterfstica
com pouco peso de nascimento. Apesar do bai- do desenvolvimento do comportamento motor
X0 peso ao nascer, a maioria deles, em poucos da crianga. Portanto, a mudança desenvolvi:
anos, atinge as taxas de crescimento caracte-
mental em geral é vista como qualitativamente
rísticas de outros bebês da mesma idade. Para
isso, as condições relativas às causas do baixo diferenciada e sequencial por natureza. Dois
peso de nascimento, como nutrição inadequa-
processos diferentes, porém relacionados, são
da, devem deixar de existir. Tem de ser feita uma
associados com esse aumento da complexidade
funcional: a diferenciagdo e a integragao.
intervenção apropriada logo no infcio para que
o processo da plasticidade desenvolvimental se
manifeste inteiramente no bebé em crescimen- Concerro 3.10
to. Medigdes de altura, peso e desenvolvimento
motor feitas antes dos 2 anos geralmente não A maturação neuromotora é evidenciada pela cres-
servem para predição do crescimento e desen- cente capacidade de distinguir e integrar os meca-
volvimento posterior. nismos motores e sensoriais.
86 — Gallahue, Ozmun & Goodway

A diferenciação está associada à progressão dependia do modelo da maturação biológica,


gradual, a partir dos padrões de movimento glo- popular na virada do século. O conceito atual
bular amplo (geral) dos bebês até os movimen- de prontidão, entretanto, é muito mais amplo
tos mais refinados e funcionais da criança e do e refere-se à prontidão para o aprendizado. À
adolescente. Por exemplo, os comportamentos prontidão pode ser definida como a conver-
de manipulação do recém-nascido para alcan- gência das exigências da tarefa, da biologia do
çar, pegar e soltar um objeto são ruins; há pouco indivíduo e das condições do ambiente, tornan-
controle do movimento. Mas, à proporção que do apropriado o domínio de determinada ha-
a criança se desenvolve, o controle melhora. A bilidade. O conceito de prontidão, como usado
criança é capaz de distinguir os vários grupos atualmente, vai além da maturação biológica e
musculares e começa a estabelecer um controle. inclui a consideração de fatores que podem ser
O controle continua melhorando com a prática, modificados ou manipulados para estimular ou
até surgirem movimentos precisos de montar promover o aprendizado. Vários fatores relata-
blocos, cortar com tesoura, escrever com letra dos combinam-se para promover a prontidão.
cursiva ininterrupta e tocar violino. A maturação física e mental, a interação com
A integração refere-se a promover a intera- motivação, o aprendizado dos pré-requisitos e
ção coordenada dos vários músculos opostos e a riqueza do ambiente influenciam a prontidão.
dos sistemas sensoriais entre si. Por exemplo, a Até o presente momento, não somos capazes de
criança mais nova progride aos poucos, passan- detectar exatamente quando alguém está pron-
do de movimentos de apanhar mal definidos to para aprender uma nova habilidade de mo-
ao tentar segurar um objeto a comportamentos vimento. No entanto, pesquisas sugerem que a
de pegar e segurar mais maduros e visualmen- experiéncia inicial na atividade de movimento
te orientados. A distinção dos movimentos dos antes que o individuo esteja pronto tem bene-
braços, das mãos, dos dedos, seguida da inte-

“ ENEN
ficios minimos.
gração do uso dos olhos e dos movimentos das
mãos para realizar tarefas com coordenação
olho-mão, é essencial para o desenvolvimento
normal.
A diferenciação e a integração tendem a
A prontidão para o aprendizado depende da con-
vergência de fatores biológicos, ambientais e fisicos.
reverter-se quando a idade avança. Conforme a
pessoa envelhece e as capacidades de movimen- Em anos recentes, grande atenção foi de-
to começam a regredir, a interação coordenada dicada ao desenvolvimento da prontidão para
dos mecanismos sensoriais e motores frequen- a leitura, por meio de tipos apropriados de ex-
temente fica inibida. O grau de regressão das periências nos anos da pré-escola e do ensino
capacidades do movimento coordenado não é fundamental. Programas pedagógicos inteiros
mera função da idade, mas sofre grande influên- foram elaborados em torno da noção de que as
cia dos níveis de atividade e da atitude. crianças devem alcançar certo grau de desen-
Há pouca dúvida de que os processos de volvimento antes de estarem prontas a executar
distinção e integração operam de forma simul- tarefas intelectuais como ler e escrever (Bergen
tânea. As capacidades complexas do adulto não et al., 2001; Bredenkamp e Rosengrant, 1995) e
podem ser explicadas apenas como um processo realizar operagdes matemdticas (Kamii e Hous-
de integração de respostas mais simples. Em vez man, 2000), assim como tarefas de movimento
disso, o que ocorre é um constante entrelaça-
que envolvem locomogio, manipulagio e esta-
mento dos dois processos. bilidade (Gallahue e Cleland-Donnelly, 2003;
California Department of Education, 2010). O
Prontidão treinamento da prontiddo é parte da maioria
E. L. Thorndike (1913), “o avô” da teoria do dos programas pedagégicos das pré-escolas e
aprendizado, foi o primeiro a propor o concei- do ensino fundamental. Uma parte integrante
to de prontidão, principalmente em relação a desses programas de prontiddo tem sido o uso
respostas emocionais a ações ou ações espera- do movimento como meio de incrementar as
das. De acordo com esse conceito, a prontidão qualidades perceptivo-motoras. Embora não
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 87

tenha sido conclusivamente documentado que senvolvimento elaborada por Robert Havighurst
as experiências perceptivo-motoras têm efeito (como revisada no Capitulo 2) é uma hipótese
direto sobre a aquisição de habilidades de pron- de perfodos criticos, aplicada a partir da perspec-
tidão cognitiva específicas, é seguro afirmar que tiva da educação.
elas têm, no mínimo, influência indireta, pois A noção dos perfodos criticos do desenvol-
estimulam a autoestima da criança e uma abor- vimento tem penetrado tanto na educação que
dagem “sim, eu posso” positiva em relação ao um programa pedagdgico inteiro, financiado
aprendizado. pelo governo federal dos Estados Unidos, foi
O conceito de prontidão, seja para o apren- estabelecido com base nessa premissa. O Ope-
dizado de habilidades cognitivas ou motoras, ration Head Start, iniciado na década de 1960 e
provavelmente foi melhor resumido por Bruner vigente até hoje, considera o periodo etério de
(1965), na seguinte afirmação: “o fundamento 3 a5 anos de reforgo critico para o desenvol-
de qualquer tema pode ser ensinado a qualquer vimento intelectual da crianga. Foi levantada a
pessoa de qualquer idade em qualquer forma” (p. hipétese de que, se fosse dado um programa,
12). Em outras palavras, a carga de estar“pronto” em um ambiente cuidadosamente estruturado,
é muito mais a responsabilidade do instrutor de destinado a desenvolver habilidades orientadas
reconhecé-la do que do estudante. A prontidio, para a escola, a crianga carente teria condições
combinação entre o “estar maduro”, a abertura de entrar na escola quase no mesmo nivel dos
ambiental e a sensibilidade do cuidador, tem seus pares nao carentes. Os resultados desses
numerosas implicagdes nas oportunidades de programas não corroboram inteiramente a hi-
aprendizado ao longo da vida. pétese dos periodos criticos. É provavel que isso
se deva a existéncia de mais de um periodo cri-
Periodos de aprendizagem tico para o desenvolvimento intelectual. Além
disso, o periodo etério dos 3 aos 5 anos talvez
criticos e sensiveis
ndo seja tão fundamental quanto se supds. As
O conceito dos periodos de aprendizagem criticos visdes atuais sobre a hipétese do periodo critico
e sensíveis estd estritamente associado com a Tejeitam a noção de que o individuo deve de-
prontiddo e gira em torno da observação de que senvolver habilidades de movimento dentro de

"O RS
o individuo é mais sensivel a certos tipos de esti- periodos de tempo tão especificos.
mulação em determinadas épocas. O desenvol-
vimento normal em perfodos posteriores pode
ser prejudicado quando a crianga não recebe
estimulagdo adequada durante o periodo critico.
Ha periodos sensiveis amplamente definidos, duran-
Por exemplo, a nutrigio inadequada, o estresse te os quais os individuos podem aprender novas ta-
prolongado, a educagio inconsistente ou a fal- refas de modo mais eficiente e efetivo,
ta de experiéncias de aprendizado apropriadas
podem ter um impacto mais negativo sobre o É seguro pressupor, entretanto, que hd pe-
desenvolvimento quando ocorrem logo no ini- riodos sensiveis, ou estruturas de tempo am-
cio da vida do que em uma idade mais avanga- plas, no desenvolvimento. Os periodos criticos
da. O conceito de periodos criticos também tem ou sensiveis ndo devem ser definidos de modo
um lado positivo. Ele sugere que a intervengio muito restrito.A desconsideragio das diferencas
apropriada durante um perfodo especifico tende individuais e das circunstancias ambientais es-
a facilitar formas mais positivas de desenvolvi- peciais leva à conclusdo de que o periodo sen-
mento em estdgios posteriores do que a mesma sivel é um ponto universal no tempo. Em vez
intervenção em outro momento. disso, deve-se adotar a noção dos periodos sen-
E preciso reconhecer que a tendéncia da siveis como orientações amplas e gerais, susceti-
crianga de seguir um padrio no perfodo critico veis a mudangas. O aprendizado é um fendmeno
está estreitamente relacionada com a teoria das que continua ao longo da vida. Conforme apren-
tarefas desenvolvimentais e, em menor grau, dem mais sobre o envelhecimento do cérebro e
com as visdes dos marcos desenvolvimentais do sistema motor, os cientistas tém demonstra-
e das fases-estagios. A estrutura tedrica do de- do de forma continua esse importante conceito
88 — Gallahue, Ozmun & Goodway

(Hinton, 1992; Selkoe, 1992; Ward e Frackowiak, tal da crianga mais nova, quando vistas a par-
2003). Aprender é um processo para toda a vida, tir da perspectiva da maturagio, proposta por
e os efeitos do envelhecimento podem ser retar- Gesell (1954), são consideradas filogenéticas,
dados ou reduzidos por meio do uso contínuo ou seja, elas tendem a surgir automaticamente
do cérebro e do sistema motor. e em uma sequéncia previsivel na crianca em
maturagdo. As habilidades filogenéticas são
Diferenças individuais resistentes a influéncias ambientais externas.
A mudança varia de acordo com a criança. À Habilidades de movimento, como as tarefas de
tendência de exibir diferenças individuais é fun-
manipulagio rudimentares de alcangar, pegar e
damental. Cada pessoa é singular e possui o seu soltar objetos; tarefas de estabilidade para ad-
próprio cronograma de desenvolvimento, que quirir controle sobre a musculatura ampla do
é uma combinação entre a hereditariedade in-
corpo; e as capacidades locomotoras funda-
dividual e as influências ambientais. Embora a
mentais de caminhar, saltar e correr são exem-
sequência de surgimento das características de- plos do que é considerado habilidade filogené-
senvolvimentais seja previsível, o ritmo de surgi- tica. As habilidades ontogenéticas, por sua
mento sofre variações. Portanto, a adesão estrita
vez, dependem sobretudo do aprendizado e de
oportunidades ambientais. Habilidades como
a uma classificação cronológica não tem susten-
nadar, andar de bicicleta e patinar são consi-

O (I
tação nem justificativa.
deradas ontogenéticas, pois ndo surgem auto-
maticamente nos individuos, mas requerem um
periodo de prática e experiéncia e são influen-
ciadas pela cultura. Todo o conceito de filogenia
As variações interindividual e intraindividual são os e ontogenia precisa ser reavaliado, pois muitas
conceitos-chave nos quais se baseia a educação de- habilidades que até aqui eram consideradas fi-
senvolvimental logenéticas podem ser influenciadas pela inte-
ração com o ambiente.
As idades “médias” de aquisição de todo
tipo de tarefa desenvolvimental, desde apren-
der a andar (a principal tarefa desenvolvimen- ®® CoNnceITO
tal da crianca) até adquirir controle sobre o
intestino e a bexiga (com frequéncia, as primei- Vários tipos de padrões de movimento podem ter
ras restricdes impostas à crianca pela socieda- base na filogenia (biologia), mas condições ontoge-
de civilizada), tém sido rebatidas na literatura néticas (ambientais) formam a taxa e a extensão de
profissional e na conversa didria de pais e pro- aquisição dos padrões.
fessores ha anos. É preciso lembrar que essas Embora haja uma tendência biológica para
idades médias são apenas isso e nada mais —
o desenvolvimento de determinadas habilida-
meras aproximagdes que sio indicadores con- des em função de processos filogenéticos, seria
venientes de comportamentos apropriados em
simplista pressupor que, sozinha, a maturação
termos desenvolvimentais. É comum observar- é responsável pelo desenvolvimento motor. À
mos desvios da média de até seis meses a um extensão ou o nível de domínio de qualquer ha-
ano no surgimento das numerosas habilidades bilidade de movimento voluntário depende, em
de movimento. A tendéncia de exibir diferen- parte, da ontogenia, ou seja, do ambiente. Em
ças individuais está estreitamente relacionada
outras palavras, oportunidades de prática, es-
com o conceito da prontidão e ajuda a explicar tímulo e instrução, a ecologia ou condições do
por que alguns individuos encontram-se pron- ambiente contribuem significativamente para o
tos para aprender novas habilidades enquanto desenvolvimento das habilidades de movimento
outros nao.
ao longo da vida. Há pouca sustentação sólida
para a noção de Gesell de que“a ontogenia re-
Filogenia e ontogenia capitula a filogenia”, embora alguns comporta-
Muitas das habilidades rudimentares do bebé mentos filogenéticos possam estar presentes na
e das habilidades de movimento fundamen- humanidade.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 89

FATORES DO AMBIENTE a ligação pais-bebé, durante os primeiros meses


da vida pés-natal. A cultura popular tem espe-
Ao longo dos últimos anos, consideráveis es-
culado que, se esse perfodo sensivel for perdido,
peculações e pesquisas têm focado os efeitos
dos comportamentos dos pais sobre o bebê
pode haver auséncia de lagos entre pais e filho.
Indicios impositivos colocam a validade dessa
e a criança no início da infância, e como isso
influencia o funcionamento subsequente da
crenga em perigo (Eyer, 1994; Lewis, 1998). Ex-
periéncias como a morte de um parente, divér-
criança. Devido à extrema dependência dos be-
bês humanos em relação aos seus cuidadores e cio, acidentes e doenga grave e prolongada são
muito mais importantes no desenvolvimento de
considerando a duração desse período de de-
pendência, uma série de fatores da criação in-
longo prazo de criangas e jovens do que os lagos

"O XS
fluencia o desenvolvimento posterior. Entre os maternais iniciais.
mais essenciais estão os efeitos da estimulação e
da carência ambiental e os laços surgidos entre
os pais e a criança durante os primeiros meses
após o nascimento. A interação reciproca entre os pais e o filho afeta
tanto o ritmo como a extensao do desenvolvimento.
Laços
Os lagos são uma forte ligagio emocional
O estudo da ligação, ou lagos, pais-bebê tem que perdura além do tempo, da distância, do
suas raízes nos primeiros estudos sobre imprin- sofrimento e da vontade. Esse lago emocional
ting, imitação, realizados por Lorenz (1966), Hess começa a desenvolver-se ao nascimento e pode
(1959) e outros, com base em pássaros, patos e ser estabelecido de modo incompleto quando
outros animais. Esses experimentos com animas
há uma separagio logo no inicio. Os principais
revelaram que o grau em que o recém-nascido fatores que contribuem para uma separagdo
copiava da mãe estava diretamente relacionado
com o seu tempo de contato. Os bebês huma-
precoce são a prematuridade e o baixo peso ao
nascimento, que resultam na incubagio do re-
nos não copiam, no sentido estrito da palavra,
cém-nascido e em problemas neonatais leves ou
como os animais, mas é comum a ideia de que

4 ST
há um amplo período “sensível”em que ocorre graves.

DILEMA DO DESENVOLVIMENTO
Os lagos desempenham um papel ainda não deter-
Laços com o bebê: a ipotese do período minado no processo do desenvolvimento humano.
crítico é válida?
A ligagao entre pai e filho logo no inicio pode in- Estimulagéo e privagao
fluenciar muitos aspectos do desenvolvimento, Grande quantidade de estudos tem sido feita
mas é justo questionar se esses lagos são essen- ao longo dos anos para determinar os efeitos
ciais a0 bem-estar da crianca. Gerações de criancas relativos da estimulagdo e da privagdo sobre o
adotadas podem testemunhar o êxito do préprio aprendizado de uma série de habilidades. Hou-
desenvolvimento ainda que os lagos com a “mãe” ve considerdvel controvérsia entre os que defen-
tenham chegado com atraso de semanas, meses dem a hereditariedade e os ambientalistas sobre
ou até mesmo anos. A interagao reciproca entre
pais e filhos cria uma relação mutuamente pra- esse tema nos últimos 100 anos. Numerosos
Zerosa e recompensadora, cuja importancia nao manuais registram debates da natureza versus
pode ser minimizada. Entretanto, é preciso tomar criagdo, mas pouco tem sido estabelecido na
cuidado para não definir o conceito de lacos de tentativa de classificar os efeitos de cada uma
modo muito restrito e para não superestimar a sua sobre o desenvolvimento. A tendéncia atual tem
importancia. Ainda são necessárias mais pesquisas sido respeitar a importancia singular tanto da
para determinar de forma clara a sua relação com natureza como da criagdo e reconhecer a com-
o processo do desenvolvimento e para resolver plexidade do entrelagamento das influéncias da
esse dilema do desenvolvimento.
maturagio e da experiéncia.
90 — Gallahue, Ozmun & Goodway

e caracteristicas idénticas dos participantes da


©® CONCEITO 10 pesquisa.
A um gémeo são dadas oportunidades
de antemio para pratica, enquanto o outro sofre
Tanto a estimulagao como a privação de experiéncias restrigdes a pratica das mesmas habilidades ao
têm potencial para influenciar o ritmo do desenvol- longo de um tempo determinado. Os famosos
vimento.
estudos de Gesell e Thompson (1929), Hilgard
Pesquisadores do desenvolvimento motor (1932) e McGraw (1935, 1939) demostraram que
tém reconhecido a futilidade do debate dos mé- o treinamento inicial ndo incrementou o de-
ritos da maturagdo e da experiéncia e, em vez senvolvimento de modo aprecidvel. Entretanto,
disso, concentram-se na pesquisa de trés ques- estudos de acompanhamento dos experimentos
tões principais. A primeira delas trata das ida- do controle de gémeos, tanto de Gesell quan-
des aproximadas, em que as várias habilidades to de McGraw, mostraram que os participantes
podem ser aprendidas do modo mais efetivo. treinados exibiram maior seguranga e confianga
A pesquisa de Bayley (1935), Shirley (1931) e nas atividades em que tinham recebido treina-
Wellman (1937) representou a primeira tenta- mento especial. Em outras palavras, a atenção e
tiva séria de descrever a idade em que muitas o treinamento especial podem não influenciar os
das capacidades de movimento rudimentar e aspectos quantitativos das habilidades de movi-
fundamental aparecem. Cada um desses pes- mento aprendidas tanto quanto os seus aspectos
quisadores registrou um cronograma um tanto qualitativos. Mais uma vez, vemos a complexa
diferente da taxa de surgimento das numerosas inter-relagdo entre a maturagdo e a experiéncia.
habilidades de movimento rudimentar no bebé. Com o advento das unidades de tratamen-
Entretanto, eles apresentaram notavel consis- to intensivo de neonatos e bebés na década de
téncia na ordem sequencial de surgimento des- 1970, a taxa de sobrevivéncia de bebés nascidos
sas capacidades. Esse fator demonstra os efeitos antes do tempo e com peso de nascimento baixo
combinados tanto das influéncias intrinsecas, ou subiu drasticamente. Pais, médicos e pesquisa-
determinadas pela maturagio sobre a sequéncia dores comegaram a pensar a respeito dos efeitos
do desenvolvimento, como dos comportamen- dos programas de estimulagio de bebés sobre
tos extrinsecos, ou influenciados pelo ambiente, o desenvolvimento subsequente desses bebés
sobre o ritmo do desenvolvimento. Até épocas de alto risco. Ulrich (1984), em uma abrangente
recentes, pouco havia sido feito para determinar revisdo de pesquisas, concluiu: “Apesar das difi-
de forma mais clara as idades em que as habi- culdades de comparar estudos por causa da va-
lidades de movimento fundamental podem ser tiabilidade dos sujeitos usados, do tipo, da inten-
aprendidas com maior efetividade. O principio sidade e da duração do tratamento, hd indicios
da prontidão tem sido visto como a pedra an- evidentes de efeitos benéficos”(p. 68). Essa con-
gular de nosso sistema educacional, mas pouco clusão é estimulante e leva-nos a considerar o
mais do que apoio verbal tem sido dado a sua momento adequado e a duração do treinamento
importancia, particularmente em relação ao de- ou estimulagio especial. Há realmente um “pe-
senvolvimento das habilidades de movimento riodo sensivel”, além do qual os beneficios da
fundamental. Sabemos agora que as criancas estimulagdo são minimamente benéficos?
podem aprender muitas habilidades de movi- Da década de 1980 até agora, houve uma
mento logo no inicio da vida e que elas tém po- imensa onda de interesse por programas de es-
tencial desenvolvimental para alcangar o estagio timulação de bebés, criangas de 1 a 3 anos e pré-
maduro na maioria dos movimentos fundamen- -escolares. Programas estruturados de natação e
tais por volta dos 6 ou 7 anos. gindstica surgiram em toda a América do Norte
A segunda questdo trata dos efeitos do e além das suas fronteiras. Houve consideraveis
treinamento especial sobre o aprendizado das declaragdes a favor e contra os supostos benefi-
habilidades motoras. Uma série de estudos de cios desses programas.
controle de gémeos foi realizada para apurar a A terceira questdo está relacionada com o
influéncia da pratica especial sobre o aprendi- efeito da limitagdo ou restrição de oportunida-
zado inicial. O uso de gémeos idénticos permite des para pratica sobre a aquisição de habilida-
ao pesquisador garantir uma base hereditdria des motoras. Os estudos dessa natureza tém se
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 91

concentrado, geralmente, na privação ambiental como de crianças confinadas em suas primeiras


induzida em experiências com animais. Há re- semanas e meses da vida pós-natal, a unidades
gistro de apenas alguns poucos estudos em que de tratamento intensivo neonatais fica aquém
foram observadas crianças em ambientes onde do de seus pares nas medições padronizadas
existiam restrições incomuns de movimento ou do comportamento motor amplo e também no
experiência. comportamento em sala de aula (Hack et al.,
Uma pesquisa conduzida por Dennis (1960) 1994). Portanto, foi demonstrado que bebês com
examinou bebês mantidos em três instituições peso de nascimento muito baixo (< 1,5 kg), bem
diferentes no Irã. Foi observado que os bebês como criangas cegas, adquirem habilidades de
de duas das instituições tinha atraso grave no movimento rudimentar fora da sequéncia nor-
desenvolvimento motor. Na terceira, havia pou- malmente esperada.
co atraso motor. A discrepância levou Dennis a
investigar o estilo de vida das crianças em cada
Concerro 3.10
instituição. Os resultados levaram à conclusão
de que a falta de manipulação, a suavidade dos Condiges extremas de caréncia ambiental podem
arredores e a ausência geral de oportunidade romper tanto a sequéncia como o ritmo da aquisicao
ou experiência de movimento foram as causas das habilidades de movimento.
do atraso motor nas duas primeiras instituições.
Outras pesquisas, realizadas por Dennis e Na- Em resumo, tanto a maturagdo como o
jarian (1957), revelaram descobertas similares aprendizado desempenham papéis importan-
em um número menor de bebês de creches em tes na aquisição das habilidades de movimento.
Beirute, no Líbano. As duas pesquisas sustentam Embora parega que a experiéncia tem pouca in-
a hipótese de que o desenvolvimento compor- fluéncia sobre a sequéncia da emergéncia des-
tamental não pode ser atribuído inteiramente à sas habilidades, ela realmente afeta o momento
hipótese da maturação. em que surgem determinados movimentos e
Devido a adicionais culturais, virtudes hu- a extensdo do seu desenvolvimento. Uma das
manitárias de muitos pesquisadores e preo- grandes necessidades da crianga é a prética das
cupação dos pais, há poucos experimentos em habilidades no momento em que estão pron-
que as circunstâncias ambientais dos bebês ou tas, em termos desenvolvimentais, para tirar o
de crianças mais jovens são intencionalmen- maior beneficio delas. É duvidoso o beneficio da
te alteradas para determinar se isso resulta em pratica especial antes da prontiddo maturacio-
mau funcionamento grave ou em comporta- nal. A chave é ser capaz de avaliar com precisio
mento atípico. O consenso geral nas pesquisas o momento em que cada individuo esta“madu-
que foram realizadas é que restrições graves e a 10" para aprender e, em seguida, fornecer uma
falta de experiência atrasam o desenvolvimento série de experiéncias de movimento educacio-
normal. nalmente sélidas e efetivas. Entretanto, todas as
Para compreender a influência da expe- indicagdes apontam que as criangas mais jovens
riência sobre o desenvolvimento, é necessário costumam ser capazes de mais do que suspeita-
apenas olhar ao redor, para o pátio das escolas, mos, e muitos dos pontos de referéncia de pron-
e observar que muitas meninas pulam corda tidão tradicionais que temos usado podem ser
com excelência e muitos meninos arremessam incorretos.
e pegam bolas com grande habilidade. Entre-
tanto, quando invertemos as atividades, cada
Concerro 3.10
um desses dois grupos tende a retroceder para
padrões menos maduros de movimento. Infe- Ainda não sabemos até que ponto a estimulação
lizmente, fatores da nossa cultura com frequên- ambiental afeta o desenvolvimento.
cia predeterminam os tipos de experiências de
movimento que meninos e meninas devem
praticar (Gallahue et al., 1994). Além disso, foi FATORES DAS TAREFAS FiSICAS
demonstrado repetidas vezes que o desenvol- Uma série de fatores adicionais afeta o desem-
vimento motor amplo de crianças cegas, assim penho motor. A influéncia da etnia e da classe
92 — Gallahue, Ozmun & Goodway

social (Malina, Bouchard e Bar-Or, 2004), do gê-


nero (Branta et al., 1987) e da formação étnica e
cultural (Bril, 1985; Gallahue et al., 1996; Mali-
na, Bouchard e Bar-Or, 2004) tem impacto so-
o ENEN
A prematuridade coloca o recém-nascido em risco e,
com frequência, dificulta o processo de desenvolvi-
bre o crescimento e o desenvolvimento motor. mento motor.
O desenvolvimento motor não é um processo
estático. É não apenas um produto de fatores Peso de nascimento baixo
biológicos, mas também sofre influências das Os bebês com peso de nascimento baixo (PNB)
condições ambientais e das leis físicas. A intera- pesam menos do que o esperado para a sua
ção de fatores ambientais e biológicos modifica idade gestacional. Nos Estados Unidos, 8,2%
o curso do desenvolvimento motor em bebês, dos nascidos com vida são considerados PNB
na infância, adolescência e idade adulta. O nas- (Martin el al., 2010). Dois desvios-padrão abaixo
cimento prematuro, transtornos alimentares, da média para uma dada idade gestacional ge-
níveis de aptidão física e fatores biomecânicos, ralmente são aceitos como critério para o peso
assim como mudanças fisiológicas, associadas de nascimento baixo. Portanto, o bebê com PNB
com o envelhecimento e a escolha do estilo de pode ser aquele nascido no prazo (40 semanas)
vida, influenciam o processo do desenvolvi- ou antes do prazo (37 semanas ou menos). Os
mento motor ao longo de toda a vida de modo bebês de peso de nascimento baixo apresentam
importante. “atraso de crescimento intrauterino”e são cha-
mados de “pequenos para a idade”. Uma série
Prematuridade de fatores maternais pré-natais tem sido im-
O peso médio típico de nascimento de um bebê plicada, incluindo dieta, medicamentos, tabaco,
fica em torno de 3,3 kg. Antes, qualquer bebê infecções e doenças (Kopp e Kaler, 1989; Mali-
com menos de 2,5 kg era considerado prema- na, Bouchard e Bar-Or, 2004). Foi demonstrado
turo. Hoje, entretanto, usa-se como padrão a que outros fatores, como classe social, múltiplos
faixa entre 1,5 e 2,5 kg, a não ser que haja in- partos e localização geográfica, afetam o peso de
dícios de um período de gestação inferior a 37 nascimento (Mason, 1991). Os efeitos de longo
semanas. Considera-se que os bebês nascidos prazo do peso de nascimento baixo estão dire-
com menos de 1,5 kg têm peso de nascimento tamente relacionados com o grau de atraso de
muito baixo (PNMB) (D'Agostino e Clifford, crescimento intrauterino e com a idade gestacio-
1998). Os bebês nascidos com mais de 1,5 kg, nal da criança. Uma descoberta estimuladora em
mas abaixo de 2,5 kg, são considerados com estudos com bebês PNB é que a maioria sobre-
peso de nascimento baixo (PNB) (WHO, vive com pouca ou nenhuma incapacitação. No
2008). A prática de rotular o recém-nascido entanto, os bebês classificados como de PNMB
como prematuro, baseada no período de ges- apresentam uma incidência muito maior de in-
tação ou apenas no peso, não se encontra mais capacitação grave (D'Agostino e Clifford, 1998;
em uso por duas razões. Em primeiro lugar, Lemans et al., 2001). Nos Estados Unidos, a in-
com frequência é difícil determinar com preci- cidência de PNMB é de 1,5% dos nascidos vivos
são a idade gestacional do bebê e, em segundo (Martin et al., 2010).
lugar, as taxas mais elevadas de mortalidade
e morbidade estão entre os bebês de peso de Prematuros
nascimento muito baixo. Portanto, os termos As crianças nascidas com peso de nascimento
peso de nascimento baixo e prematuro surgiram esperado (menos de dois desvios-padrão abaixo
como indicadores mais precisos de prematuri- da média) para sua idade gestacional, mas antes
dade no verdadeiro sentido da palavra. A pre- do final do prazo (37 semanas ou menos) são
maturidade causa preocupação por estar estrei- chamados de prematuros ou bebês pré-termo.
tamente associada com o atraso físico e mental, Nos Estados Unidos, 13% dos nascidos vivos são
a hiperatividade e a morte infantil. A prevenção considerados pré-termo (Martin et al., 2010). Há
é considerada o fator mais importante para a pouco consenso a respeito das causas exatas do
melhoria da saúde e das chances de sobrevi- nascimento pré-termo, mas tem sido evidencia-
vência do bebê. do que uma série de fatores contribui, incluindo
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 93

uso de drogas, tabaco, idade da mãe, ganho de Efeitos de longo prazo da prematuridade
peso excessivo e condições sociais e econômi- Os dados mostram claramente que, entre os
cas adversas. Até pouco tempo, o prognóstico bebés PNMB, a probabilidade de morte poucas
para bebês prematuros que eram pequenos ou semanas após o nascimento é maior do que en-
com peso normal ao nascer era desolador. As tre os bebés de peso normal. As classificação de
suas taxas de morbidade e de mortalidade eram PNB prematuro está em segundo lugar, depois
anormalmente elevadas em comparagao com os das anomalias congénitas, como principal cau-
bebés de termo normal. Bennett (1997) relatou sa de morte infantil nos Estados Unidos. Nesse
que quanto menor o tempo de gestagio, maior a pais, a mortalidade infantil é de 6,7 por 1.000
incidéncia de incapacitagio grave. nascidos vivos, o que faz dele o 30° colocado em
Além disso, o bebê pré-termo estd mais número de mortes de bebés na lista de paises
propenso a dificuldades de aprendizado, des- desenvolvidos. Com 1,8 mortes por 1.000 nasci-
vantagens na interagio linguistica e social e mentos, Hong Kong tem o indice de mortalida-
problemas de coordenagdo motora do que o de infantil mais baixo (McDorman e Matthews,
seus pares de prazo completo. Por alguma razão 2009). A Figura 4.1 mostra o risco estimado de
desconhecida, parece que os meninos são mais mortalidade feminina e masculina com base no
gravemente afetados do que as meninas. O tra- peso de nascimento e na idade gestacional. Ob-
tamento de bebés prematuros nascidos no hos- serve que, à proporção que a idade gestacional
pital é coloca-los em incubadoras esterilizadas, e o peso aumentam, a mortalidade diminui na
onde a temperatura, a umidade e o oxigénio medida correspondente.
sejam precisamente controlados. Foi sugerido Os efeitos de longo prazo do nascimento
que a auséncia da estimulagio normal da mãe e prematuro nio são tão claros quanto as conse-
o ambiente circundante contribuam para esses quéncias de curto prazo. Nos dltimos anos, as
déficits. unidades de tratamento intensivo neonatal fo-

Risco de mortalidade neonatal


Feminina Masculina
1.500
gramas
1.400
gramas
1.300
gramas
1.200
gramas
Peso ao nascimento

Peso ao nascimento

1100 1100
gramas
FE
3
8

1.000
gramas 10%
900
gramas 10% gramas
800 800 30%
gramas gramas
700 30% 700 h, 50%
gramas gramas
600 — R2 60% 600
gramas
50 80% gramas
500
gramas | gramas
22 23 24 25 26 27 28 29 30 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Idade gestacional (em semanas) Idade gestacional (em semanas)
Figura 4.1
Risco estimado de mortalidade feminina e masculina com base no peso de nascimento e na idade gestacional.
‘Adaptada de: Lemons et al. (2001). Very low birth weight outcomes of the Neonatal Institute of Child Health and Human Development Neonatal
Research Network. Pediatrics, 107(1). On-line: www. pediatrcs org/cgi/contentfull 107/1/e1
94 — Gallahue, Ozmun & Goodway

ram implicadas nos problemas desenvolvimen- ção de obesidade (IMC > 30) e excesso de peso
tais de longo prazo de alguns bebês prematuros. (IMC de 25 a 29,9) ocorre em 33% das crianças
São estudados os efeitos do barulho, da luz e da (NASPE/AHA, 2010) e 68% dos adultos no país
auséncia de toque prazeroso sobre o desenvolvi- (NIDDK, 2010). Hoje, a obesidade é considerada
mento do sistema neurológico. a segunda principal causa de morte evitével (o
A notícia estimulante é que a maioria so- tabaco é o primeiro, com estimadas 435 mil mor-
brevive com pouca ou nenhuma incapacitação. tes por ano), com o número de 400 mil estadu-
Mas, quando a idade de viabilidade (i.e., a idade nidenses por ano (USDHHS, 2004). O aumento
gestacional mais baixa passível de sobrevivência) acentuado da obesidade é um problema global,
continua a decrescer em função dos avanços mé- que afeta criangas e adultos em muitos paises
dicos, e a taxa de sobrevivência dos bebês PNMB desenvolvidos e em desenvolvimento (Vincent
aumenta, há maior incidência de incapacitações et al., 2003; Stettler, 2004).
desenvolvimentais tanto menores como maiores A gordura tem uma série de fungdes cons-
(Lemans et al., 2001; Tommiska et al., 2001). trutivas. Ela é uma reserva de energia; é um
veiculo para vitaminas lipossolúveis; fornece
Transtornos da alimentação protecdo e sustentagdo para partes do corpo,
Os estadunidenses vivem em um mundo muito isolando-as do frio; e, na proporgio adequada,
diferente daquele dos seus ancestrais. O esfor- melhora a aparéncia corporal. Entretanto, para
ço físico vigoroso não é mais parte necessária que realize essas fungdes, a proporgio de gor-
do padrão de vida diária da maioria das pes- dura ideal em adultos deve ser de 15 a 18% para
soas. Hoje, a maioria dos exercícios, quando são homens e de 20 a 25% para mulheres.
feitos, é planejada e não é parte integrante da O bebé cujo prazo de gestagdo foi inte-
existência da pessoa. Além disso, muitos, ago- gral tem de 12 a 16% de gordura, sendo que a
ra, têm abundância de alimento. O indivíduo maior parte se desenvolve durante os últimos
pode consumir uma grande quantidade de ali- dois meses do periodo de gestagio. Em torno
mento e usar pouco da energia neles contida. A do sexto més após o nascimento, as porcenta-
manutengio do peso do corpo é relativamente gens de gordura corporal aumentam cerca de
simples. Ela requer a manutenção do equilibrio 25%, declinando posteriormente para, ao longo
entre a ingestdo e o gasto calórico. Se a pessoa de toda a infncia, 15 a 18%. Durante o periodo
consumir mais calorias do que queimar ao longo da pré-adolescéncia, os depdsitos de gordura au-
do tempo, a obesidade é o resultado final. En- mentam nas meninas, mas não nos meninos. Há
tretanto, se ela consumir menos calorias do que uma redução pequena, mas significativa, na por-
gasta, isso resulta em perda de peso ao longo do centagem de gordura corporal entre os homens
tempo. A perda de peso causada pela aversio (Fomon et al., 1982). De maneira ideal, a porcen-
prolongada à comida (anorexia nervosa) ou a tagem de gordura corporal em relagio ao peso
repetida compulsdo alimentar seguida de pur- corporal total muda pouco do final da adolescén-
gação (bulimia) é uma preocupagio crescente e cia até a idade adulta. Entretanto, a porcentagem
deve ser considerada em qualquer discussio so- de gordura corporal pode variar de baixa, em

O ENT
bre transtornos da alimentacéo. torno de 8% (tipica de corredores ectomdrficos
de longa distancia) a muito elevada, em torno de
50% (caracteristica dos muito obesos)
Milhdes de estadunidenses são obesos. Nos
Os transtornos da alimentação entre crianças, ado- Estados Unidos, a prevaléncia da obesidade em
lescentes e adultos afetam acentuadamente o seu adultos com 20 anos ou mais, em estimativas
crescimento e desenvolvimento motor. atuais, varia de um valor baixo, como 18,6% no
Colorado, até um valor elevado, como 34,4%
Obesidade no Mississipi. Além disso, em 2009, nove esta-
A obesidade, ou qualquer aumento excessivo dos registraram uma porcentagem de obesidade
na quantidade de gordura corporal armazenada, adulta acima de 30%, sendo que em 2000 não
é considerada a doença nutricional crônica mais havia nenhum estado nesse nivel. Além disso,
prevalente nos Estados Unidos. A combina- nenhum estado alcanga o objetivo da Healthy
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 95

People 2010 de menos de 15% de obesidade res, apresentam desempenho académico ruim,
(CDC/MMWR 2010, on-line em: http://www.cdc. tém autoimagem negativa e preocupam-se per-
govimmwr/pdf/wk/mm59e0803.pdf). De modo sistentemente com dietas.
similar, a obesidade infantil na faixa etária dos 2 As principais causas, baseadas no ambiente,
aos 19 anos tem apresentado aumento constante da obesidade de individuos com equilibrios hor-
desde 1971, quando a média era de meros 5%, monais normais são a ingestão alimentar exces-
com estimados 16,9% em 2008 (NCHS, 2009, on- siva e a falta de exercicios ou a combinagio de
line em: www.cdc.gov/nchs/data/hestat/obesity_ ambas. Maus habitos de alimentagao e exercicios
child_07_08/obesity_child_07_08.htm). Estima- são formados na infancia e perpetuados por toda
-se que as crianças obesas que não emagrecem a vida. A crianga que é obrigada a comer todo o
até os 14 anos correm 70% mais risco de perma- alimento servido em todas as refeicdes, mas nao
necerem obesas na vida adulta (AOA, 2000). é estimulada a praticar exercicios regularmente,
Nos Estados Unidos, a porcentagem de tem potencial para desenvolver graves proble-
massa corporal magra tende a diminuir com a mas de saúde.
idade. A porcentagem de gordura corporal é o Uma 4rea de interesse para muitos que es-
principal determinante da obesidade. O peso tudam a obesidade são os niveis de atividade
da pessoa é menos importante do que a pro- das criangas obesas (Treuth, Butte, Adolph e
porção entre a gordura e o tecido magro. À Puyau, 2004). A inatividade fisica parece contri-
composição corporal é um critério válido para buir para obesidade, como indicado por estudos
indicar a obesidade. Ela é determinada pelo cál- que relacionam o habito de assistir a televisao a
culo do índice da massa corporal (IMC). Para prevaléncia da obesidade na infancia. Bar-Or e
calcular esse índice, é usada a seguinte fórmula: Baranowski (1994) observaram, em um artigo
peso (em kg) + altura” (em m) = IMC. No mun- de revisdo da atividade fisica e obesidade entre
do inteiro, um IMC de 30 ou mais é considerado adolescentes, varios estudos que indicam cla-
indicação de obesidade. Um IMC de 25,0 a 29,9 ramente que a intensidade da atividade fisica
é considerado excesso de peso.Veja na Tabela 4.1 é significativamente menor em criangas e ado-
uma estimativa do IMC. lescentes obesos. Embora niveis crescentes de
Os indicios são claros: ha substancial au- atividade fisica, combinados com moderagio
mento na incidéncia de obesidade nos Estados na ingestdo caldrica, possam ser o segredo para
Unidos em todos os segmentos da populagdo. obter a redugdo da tendéncia de aumento da
Usando técnicas de amostragem randomizada gordura, Bar-Or e Baranowski conclufram que,
estratificada, é realizada a National Health and nos muitos programas de intervengao fisica es-
Nutrition Examination Survey (NHANES) desde tudados, havia apenas uma pequena redução (1
a década de 1970. As Tabelas 4.2 e 4.3 fornecem a 3% da gordura corporal) na adiposidade en-
uma visio reveladora do constante aumento na tre adolescentes. A adoção de dietas parece não
porcentagem de obesidade nos Estados Unidos ser a melhor solução ou a mais completa para
entre criangas e adultos, respectivamente, em a obesidade de base comportamental em crian-
especial na dltima década. Um crescente núme- ças. As vezes a sua ingestdo alimentar é normal,
ro de indicios tem apontado a obesidade como e a dieta pode causar graves deficiéncias de nu-
o principal fator contribuinte em uma ampla sé- trientes necessarios a um crescimento e saúde
Tie de resultados negativos para a saúde, varios adequados. A principal causa de obesidade entre
deles mostrados na Tabela 4.4. A obesidade im- as criangas é a falta de atividade, portanto, o au-
pde estresse adicional aos sistemas circulatério,
mento de longo prazo nessa drea pode ser a so-
respiratério e metabélico e pode causar, ou in- lução mais saudavel e melhor (USDHHS, 2001;
tensificar, disttirbios nesses sistemas. Os adultos

"O T
Dietz, 2004).
obesos correm maior risco, já bem estabelecido,
de morbidade e mortalidade cardiovascular in-
dependentemente de idade, nivel de colesterol,
pressio sanguinea, uso de tabaco e intolerancia
à glicose. Além disso, criangas e adultos obesos Fatores genéticos e ambientais contribuem para o
com frequéncia sio ridicularizados por seus pa- inicio e grau de obesidade.
96 — Gallahue, Ozmun & Goodway

Gráfico do índice de massa corporal


Massa Estatura (cm)
corporal (kg) | 124]130[135] 140[ 145[150[ 155 [160[ 165 170[ 175 [ 180 185 191 [196]/201 [205 | 211
300 1918 [ 16 [ 15|14 /Bl e e on a o s8 a 8/ 7|7
318 20 [19]18]16]/15 /14/13/13 / 12 /1 [10/10) 9 |9 /8 s8 s8|7
34,1 22 |20 [19 17 [ 16 [15[14[13[12[12[11[10[10[ 9 /9 /9 |88
359 23 |21 |20 [18] 17 |16 [ 15[ 1413121211 [11][10[ 909 |9 |8
38,1 24 |22 [ 21 [19] 18 [17 [ 16 [ 15[ 14 [13 [ 12 [12 [11[11[10[10[ 9| o
40,0 26 | 24 [ 22 |20 [19[18 [ 17 [16 [ 15 [14 13 [12 [12 [ 11 [11[10[1c| 9
1.8 27 |25 |23 [ 21 |20 [19 17 [16 [ 15 [ 15 [14 [ 13 [12[12 [ 11 [ 11 [10 10
44,0 28 | 26 |24 [22 |21 |20 |18 [17 [16 [ 15 [ 14|14 [13[12 [12 [ 11 [10[ 10
459 29 |27 [ 25 |23 | 22 [20 [19 |18 [17 |16 [ 15 [ 14 [13[13 [12 [ 12 [11] 10
48,1 31 |28 26 [24 | 23 [ 21 [20 [19] 18 | 17 [ 16 [ 15 [ 14|13 [ 13 [12 [11 |11
49,9 3230 27 [26 |24 |22 [21[20 [ 18 [ 17 [ 16 [15 [15 [ 14 [13 [13 [11 |11
51,8 33 |31 |29 | 27 |25 |23 (222019 18] 17 [16 [ 15[ 14[14[13[12]12
54,0 35 | 32 |30 28 [ 26 | 24 [22 [ 21 |20 [19] 18 [17 [16 [ 15 [14 [ 14 [13]12
55,8 36 | 33 | 31 [ 29 | 27 25[23[22 21 [19] 18] 17 [16[16[15[14[15]13
58,1 37 |34 | 32 |30 ] 28 | 26 | 24 [23 [ 21 |20 [ 1918 17 16|15 |15 [14] 13
59,9 38 | 36 | 33 |31 | 29 |27 |25 |23 |22 [21 20191817 [16[15[14]14
61,7 40 |37 |34 | 32 |29 | 28 |26 |24 [23 [21[20[ 19| 18] 17 [16[16] 1514
64,0 m138 |35 | 33 [30] 28 |27 |25 | 24 |22 |21 [20 [19]18 [17[16[15[15
65,8 42 |39 |36 | 34 | 31 |29 |27 [26] 24 |23 |22 |20 [19|/18]17/17[16]15
68,1 44| 40 |37 [ 35|32 [30] 28 [ 27 | 25 [ 24 [22 [ 21 |20 [ 19| 18 [ 17 | 16 [ 15
69,9 45 [21]38 | 36 [ 33 [ 31|29 [ 27 |26 |24 |23 [ 22 [20 [ 19|18 [ 18] 1716
717 46 | 43 | 40 |37 |34 [ 32 | 30 |28 |26 [ 25 ]|24|/22/21/20/19/18]17]/16
74,0 47 |44 [41] 38 | 35 |33 |31 |29 |27 [26 | 24 |23 [22 [ 20 [19 [19 ] 18 [17
75,8 49 [ 4542 | 39 [ 36 [ 34 [ 32 [30| 28 [ 26 [ 25 [23 [22 [ 21 [20 [19[ 1817
781 50 | 46 | 43 [40]37 [35 |32 [ 30| 29 [27 |25 /24[/23]/22[/21[20[18118
79,9 51 |47 |44 a41 38 |36 |33 |31 |29 |28 / 2625232221 [20[1c[18
81,7 52 |49 |45 [42 |39 [36 [34 |32 [30] 28 27 | 25 [ 24 |23 [ 22 [ 21 [20 |19
84,0 54 | 50 [ 46 [ 43|40 [37 [35[33[31[20 272625232221 [20]19
858 55 |51 |47 |44 [21]38[36 |34 |32 [30] 28|27 | 25 [ 24 [23 [ 22 [20]20
88,1 56 | 52 |48 |45 [ 42 [39 |37 |34 (32|30 |29 |27 [26 |24 (2322|2120
89.9 58 |53 |49 |46 | 43 | 40 |37 [ 35 [ 33 | 31| 29 | 28 | 26 | 25 |24 [ 23 [ 2120
91,7 59 |54 | 50 |47 |44 |41 38 |36 |34 |32 [30] 28 [ 27 [ 25 [24 |23 |22 [ 21
94,0 60 | 56| 52 |48 |45 [ 42|39 [37 [ 3533 31|29 27 [26] 25242221
958 61 |57 53 49 |46 [43| 40|38 35|33 [31[30] 282725 24[23]22
98,1 63 | 58 | 54 | 50 | 47 [ 44 [471] 3836 |34 [ 32 [30 29 |27 [26] 25 |23 |22
99,9 64 |59 | 55 | 51|48 [44 |42 |39 |37 [ 3533 31|29 28 26|25 2423
101,7 |65 |60 | 56 | 52 |49 [45 42 |40 |37 |35 [33 31 [30 2827262423
1040 |67 | 62 | 57| 5349 |46 [43 [@1] 38363432 302927262524
1058 |68 |63 |58 |54 (50|47 [44 | 41|39 |37 [35[33[31|20]28][27 2524
108,1 |69 |64 |59 | 55|51 |48 (45 42| 40 |37 [ 3533 |32 [30] 2827 [26] 24
1099 |70 | 65| 60 | 56 | 52 | 49 [ 46 [ 43 | 40 | 38 [ 36 | 34 | 32 [ 30 | 29 [ 28 | 26 | 25
111,7 |72 |66 | 61 | 57 |53 |50 [47 |44 [ 4139 [37 [35[33 |31 29282725
1140 |73 |67 |63 |58 |54 |51 (47 45 |42 39373533 [32[30]29 2726
1158 | 7469 |64 |59 |55 52 [48 |45 [ 43|40 [38[36 [34 |32 31202826
1180 | 76 |70 | 65|60 |56 |52 [ 49 |46 | 43 [41]39 |36 34 [ 3331 [30] 28 |27
1199 |77 | 71 | 66 | 61|57 | 53 [ 50 | 47 |44 |42 |39 [ 37 | 35|33 |32 30|26 |27
121,7 |78 |72 | 67 | 62 | 58 | 54 [ 51 |48 |45 |42 [ 40 [38 [ 36 |34 |32 312628
1239 |79 73|68 63 [59 |55 [52 |48 |46 |43 [40 38|36 |34 33[31[30] 28
1258 |81 75|69 | 6460|5652 |49 |46 |44 [41]39 37 35]33[32][30]29
1280 [ 8276 |70 | 65|61 |57 (535047 |44 |42 |/40 |37 /35]|34]32 |30 |29
129,8 |83 | 77 | 71 | 66 | 62 | 58 | 54 | 51 | 48 | 45 |42 |40 | 38 [ 36 |34 [33 [ 31] 29
131,7 |84 78|72 |67 63|59 55|52 |48 464341139 |3735][33[31]30
1339 |86 | 79 | 74 | 68 | 64 | 60 | 56 | 52 | 49 | 46 |44 |41 |39 [37 35343230
1358 |87 |80 | 75|69 | 65|60 |57 |53 |50]|47 44|42 |40 3836343231
1380 |88 8276|7066 6157|5451 |48[45] 43|40 3836353331
1398 |90 | 83 |77 | 71|67 | 62 | 58 |55 |51 |48 46|43 [41]39 37353332
141,7 |91 |84 |78 726863595552 |49 46 44|a1|39]37[36][34]32
Fonte: Expert Panel on the Identification, Evaluation, and Treatment of Overweight in Adults, 1998,
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 97

Prevalência da obesidade (definida como índice de massa corporal [IMC] igual ou


superior ao 95º percentil específico para a idade e o sexo de acordo com os gráficos
2000 CDC Growth Charts) entre crianças e adolescentes dos Estados Unidos na faixa
etária de 2 a 19, a partir de 1971-1974 até 2007-2008

Idade
(em NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES
anos) 1971-1974 1976-1980 1988-1994 1999-2000 2001-2002 2003-2004 2005-2006 2007-2008

Total 5,0% 5,5% 10,0% 13,9% 15,4% 17,1% 15,5% 16,9%


2-5 5,0% 5,0% 7,2% 10,3% 10,6% 13,9% 11,0% 10,4%
6-11 4,0% 6,5% 1.3% 15,1% 16,3% 18,8% 15,1% 19,6%
12-19 6,1% 5,0% 10,5% 14,8% 16,7% 17,4% 17,8% 181%

Fonte: adaptada de Ogden, C. and Carroll, M. (2010). Prevalence of obesity among children and adolescents: United
States, trends 1963-1965 through 2007-2008. NCHS Health E-stat. On-line em: www.cdc.gov/nchs/data/hestat/obesi-
ty_child_07_08/obesity_child_07_08.htm

Tabela 4. Prevaléncia da obesidade entre grupos etérios de adultos dos Estados Unidos com
idade de 20 anos ou mais, classificados por sexo e raga/etnia, com base em dados das
NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey) de anos selecionados, a
partir de 1988-1994 até 2007-2008, em relação as estimativas de 2000, feitas pelo U.S.
Census Bureau

NHANES — NHANES NHANES NHANES NHANES NHANES


Caracteristica 1988-1994 1999-2000 2 001-2002 2003-2004 2005-2006 2007-2008

Homens, total 202% 27,5% 27.8% 31,1% 333% 32,2%


Homens, brancos não 203% 27,3% 29,1% 31,1% 33,1% 31,9%
hispanicos
Homens, negros não 211% 281% 27,9% 34,0% 37,2% 37,3%
hispânicos
Homens, estaduniden- — 23,9% 28,9% 25,9% 31,6% 27,0% 35,9%
se-mexicanos
Mulheres', total 25,4% 33,4% 33,3% 33,2% 35,3% 35,5%
Mulheres', brancas não — 22,9% 30,1% 31,3% 30,2% 32,9% 33,0%
hispânicas
Mulheres', negras não 38,2% 49,7% 483% 53,9% 52,9% 49,6%
hispânicas
Mulheres', estaduni- 35,3% 39,7% 37,0% 42,3% 42,1% 45,1%
dense-mexicanas

1 Exclui mulheres grávidas


Fonte: adaptada de Ogden, C. L. and Carroll, M. D. Prevalence of Ovenweight, Obesity, and Extreme Obesity among Adults:
United States, Trends 1976-1980 through 2007-2008. NCHS Health E-Stat. On-line em: www.cde.gov/nchs/data/hestat/
obesity adult 07 08/obesity adult 07 08.htm.

A etiologia da obesidade na maioria das -mexicanos do que nos seus pares brancos (veja
crianças é desconhecida, mas fatores genéticos, a Tab. 4.3). Estudos com gêmeos corroboram o
bem como ambientais, parecem estar envolvidos. conceito de que fatores genéticos desempenham
Parece que a obesidade é altamente familial, com um papel importante na obesidade (Stunkard et
uma base hereditária ou ambiental ou a combina- al., 1986, 1990). Além disso, a obesidade entre
ção das duas. A obesidade ocorre em taxas mais crianças após os 10 anos parece ser fortemente
elevadas entre os afro-americanos e americano- genética, com cerca de dois terços de variabilida-
98 — Gallahue, Ozmun & Goodway

Tabela 4. Sobrepeso e obesidade aumentam o risco de doengas graves e estão associados com
numerosas condições de saúde negativas
0 sobrepeso e a obesidade são conhecidos
fatores de risco de: 0 sobrepeso e a obesidade estão associados a:
Diabetes tipo 2 Colesterol elevado
Doença cardiaca Complicagdes durante a gravidez
AVC Irregularidades menstruais
Hipertensao Excesso de pelos no corpo e no rosto
Artrite reumatoide Defeitos de nascimento (defeitos no tubo neural)
Osteoartrite (especialmente dos joelhos, dos quadris, Sindrome do túnel do carpo
das costas e das mãos)
Apneia do sono Sonoléncia diurna
Algumas formas de cancer (de mama, de Gtero, dos Gota
rins, da vesicula biliar, colorretal)
Doenga da vesicula biliar Resposta imunolégica comprometida
Disturbios do coragao Função respiratéria comprometida
Fonte: CDC (2009). The health effects of obesity. On-line em: www.cdc.gov/healthyweight/effects/index htmi
National Heart Lung and Blood Institute (2009). What are the health risks of overweight and obesity? On-line em: www.
nhibi.nih gov/health/dci/Diseases/obe/obe_risks.html

PERSPECTIVAS INTERNACIONAIS

Não estamos sós os seus cidadãos, mas os nossos vizinhos, México e


Ao longo dos últimos 20 anos, os Estados Unidos Canadá, não estão muito atrás. No mesmo caminho
testemunham uma tendência secular (mudança en- estão o Brasil, a Alemanha, a França e o Reino Uni-
tre gerações) na porcentagem de estadunidenses do. Além disso, um grande número de países tem
considerados obesos ou acima do peso. Hoje mais registrado aumentos ainda relativamente pequenos,
de dois terços dos adultos e um terço de todas as mas, de qualquer modo, inéditos, nas taxas de obe-
crianças são obesos ou estão acima do peso. As es- sidade nacional, entre eles a Austrália, a China e o
tatísticas alarmam por causa das consequências ne- Japão (Stettler, 2004).
gativas para a saúde associadas com a obesidade. Parece ter ocorrido uma mudança fundamental
Mas nós não estamos sós. A epidemia de obesidade no estilo de vida não apenas dos que vivem nos Esta-
é, atualmente, um fenômeno mundial. Na verdade, dos Unidos, mas também na maior parte do resto do
os Estados Unidos ocupam um suspeito primeiro lu- mundo. Bem-vindos à comunidade global.
gar na porcentagem de sobrepeso e obesidade entre

de no peso corporal atribuíveis a fatores genéticos que homens e em indivíduos obesos do que
(Malina, Bouchard e Bar-Or, 2004). Embora tanto naqueles não obesos (NIDDK, 2008). Embora
fatores hereditários como ambientais desempe- as causas ainda não sejam conhecidas, o trans-
nhem determinado papel, a atividade fisica regu- torno da compulsão alimentar inclui até 50%
lar e vigorosa pode ser a variável mais importante de história de depressão. Emoções negativas
na prevenção da obesidade. como raiva, ansiedade, tristeza e tédio podem
desencadear episódios de compulsão alimentar.
Transtorno da compulsão alimentar Os indivíduos com esse transtorno consomem
A compulsão alimentar é, provavelmente, o grandes quantidades de comida em surtos de
transtorno alimentar mais comum, ocorrendo compulsão, mas não se envolvem em purgação
em cerca de 3% da população adulta dos Esta- nem em jejuns típicos de indivíduos com buli-
dos Unidos. É mais comum entre mulheres do mia ou anorexia. O indivíduo com transtorno
Compreendendo o Desenvolvimento Motor — 99

da compulsão alimentar é caracterizado por


episódios recorrentes de compulsão (sem pur- Concerro 4.14
gação), em qualquer período de duas horas,
Anorexia nervosa e bulimia nervosa sao transtornos
pelo menos duas vezes por semana, ao longo emocionais que culminam em uma aversão à comida
de, no mínimo, seis meses. Além disso, os co- e em autoinanigdo que resultam em atrasos desen-
medores compulsivos comem com muito mais volvimentais e até morte.
rapidez do que o normal; comem até se senti-
rem inconfortavelmente cheios; comem grandes A anorexia e a bulimia são transtornos emo-
quantidades de comida quando não estão com cionais que culminam na aversdo por comida e
fome; comem sozinhos por causa do constran- na autoinanição, o que, por sua vez, resulta em
gimento da quantidade que ingerem; e sentem- atrasos desenvolvimentais e até em óbito. Os in-
-se culpados, deprimidos ou insatisfeitos con- dividuos com esses transtornos com frequéncia
sigo após a ingestão excessiva (NIDDK, 2008; buscam o seu objetivo de magreza não apenas
Spitzer et al., 1993). por meio da restrição alimentar, mas também
do exercicio extenuante. O exercicio torna-
Anorexia nervosa/bulimia nervosa -se uma forma de queimar calorias. Apesar da
Um problema tão surpreendente e potencial- fraqueza em função da perda extrema de peso,
mente perigoso quanto a obesidade é a anore- muitas pessoas com anorexia demonstram in-
xia nervosa, caracterizada pela aversão ao con- crivel energia. Quanto mais tempo o transtorno
sumo de comida e pela obsessão em ficar“gordo permanecer não diagnosticado, mais diffcil será
demais” mesmo quando a pessoa se encontra tratd-lo. Para ajudar as pessoas com transtornos
bastante abaixo do peso normal. Esses indivi- alimentares e questdes emocionais subjacentes,
duos que passam fome podem perder 25 a 50% recomenda-se psicoterapia. Com frequéncia, são
do seu peso corporal normal na busca pela ma- receitados medicamentos antidepressivos. Al-
greza. Eles começam a fazer dieta e, apesar de guns dos primeiros sinais de alerta do transtor-
emaciados, continuam a recusar comida, pois se no da compulsio alimentar, anorexia nervosa e
veem como gordos. A bulimia nervosa, outro bulimia nervosa estão listados na Tabela 4.5.
grave transtorno alimentar, é similar à anorexia A sociedade é parcialmente responsavel
em termos de resultados. As pessoas com bu- pelo aumento dos transtornos da alimentagao
limia tém a mesma “necessidade” de magreza, nos Estados Unidos. A forma esguia e magra é
mas usam um processo de compulsão-purgação. glorificada pela sociedade, que propaga a ideia
Com frequéncia, os individuos com bulimia co- de que ser magro simboliza a beleza, o ser dese-
mem grandes quantidades de alimento e depois jado e o autocontrole, sendo uma chave mégica
forgam o vômito. Estima-se que a anorexia e a para uma vida mais feliz. As vezes, os educado-
bulimia ocorrem em 3 a 4% da população fe- res são os primeiros a notar transtornos alimen-
minina, sendo que 90% de todos os casos são tares. Eles devem estar aptos a reconhecer os
apresentados por mulheres (NIMH, 2000, 2010). primeiros estdgios desses transtornos enquanto
Os dois transtornos tém consequéncias graves a eles ainda podem ser revertidos com alguma fa-
longo prazo sobre a satide e estão relacionados cilidade.
com amenorreia durante os anos férteis e osteo-
porose durante os anos pés-menopausa. Niveis de aptidéo fisica
Caracteristicamente, tanto na anorexia ner- Uma ampla variedade de fatores de todos os
vosa quanto na bulimia não há uma perda de trés dominios do comportamento humano (cog-
apetite real nem a sensagio de pontadas de nitivo, afetivo e psicomotor) afeta o desenvol-
fome correspondentes ao anseio do corpo por vimento, assim como fatores do individuo, do
comida. Alguns individuos incutem em si pró- ambiente e da tarefa. Os fatores da tarefa, no
prios a crenga de que sentir fome é bom. Em cer- dominio psicomotor, são chamados de fatores fi-
ca de 25% dos casos, a recusa em comer alterna- sicos e mecânicos. Esses fatores tém impacto pro-
-se com compulsdes alimentares seguidas de fundo sobre a aquisição, manutenção e redugio
vomito forcado e/ou uso de laxantes, enemas e das nossas habilidades de movimento ao longo
diuréticos (bulimia). da vida. O nosso nivel de aptidão fisica, combi.
100 Gallahue, Ozmun & Goodway

Tabela 4. Primeiros sinais de alerta de transtornos da alimentagéo

Transtorno da compulsão
alimentar Anorexia nervosa Bulimia nervosa

1 Compulsão alimentar sem pur- 1 Identificação excessiva com 1 Compulsões alimentares se-
gação o programa de controle de guidas de purgação
2. Perda de peso irregular peso prescrito pelo médico Perda de peso irregular
3. Frequentemente obeso 2 Obsessão com dietas e con- Longos periodos no banheiro
4. Dificuldade em perder peso e versas sobre comida após as refeigoes
depois mantê-lo 3 Isolamento social acompa- Performance variavel
5. Obsessão com comida nhado de magreza e debili- Perda do esmalte dos dentes
6. Frequente em pessoas subme- dade (slimness), vida solitaria Medo de ganhar peso
tidas a um programa de con- — 4 Não participagdo no com- Exercicio prolongado/extremo
trole de peso supervisionado portamento cortejador dos Instabilidade e impulsividade
por médico colegas emocional
7. Insatisfação consigo mesmo 5 Súbito aumento do envolvi- Depressão e frequentes osci-
após o episódio de compulsão mento em exercicios fisicos, lações de humor
8. Frequente história de depressão em geral de natureza solitéria Problemas na garganta, esô-
9. Compulsões alimentares de- 6 Preocupagao excessiva em fago, estômago ou colo
sencadeadas por emocoes conquistar notas académicas
negativas extremas altas
7 Excesso de preocupação com
o peso
8 Nao ingestao de comida
9 Negação da fome
10 Obsessão com exercícios

nado com as exigências mecânicas da tarefa, afe- ponentes da aptidão física relacionada à saúde.
tam enormemente a nossa habilidade de movi- O grau de cada um desses fatores afeta as po-
mentação com controle, habilidade e segurança. tencialidades da performance do indivíduo em
AA Figura 4.2 ilustra esse importante conceito. termos de movimento. Por exemplo, a distância
A interação entre atividade física, genética que uma pessoa pode correr ou pedalar está re-
e nutrição sugere os limites máximo e mínimo lacionada com o seu nível de força muscular, re-

OT
da aptidão física que podem ser esperados de sistência muscular e resistência aeróbia.
um indivíduo. O estado nutricional pode inibir
ou incrementar muito o nível de funcionamen-
to físico (Meredith e Dwyer, 1991; Rickard et al.,
1996), e a estrutura genética determina o nível O nível pessoal de aptidão física relacionada à saúde
extremo de aptidão física que pode ser obtido e à performance afeta o desenvolvimento motor de
(Malina, Bouchard e Bar-Or, 2004). Portanto, vários modos.
para o propósito deste livro, aptidão física é
definida como a habilidade de realizar ativida- Aptidão física relacionada à performance
de física, combinada com a constituição genética A aptidão física relacionada à performance, tam-
do indivíduo e com a manutenção da adequação bém amplamente conhecida como aptidão física
nutricional. A aptidão física pode ser subdividida motora, é o aspecto da performance da aptidão
em componentes relativos à saúde e relativos à física. Em geral, pensamos na aptidão fisica como
performance. o nível de performance atual, de acordo com a in-
fluência de fatores como movimento, velocida-
Aptidão física relacionada à saúde de, agilidade, equilíbrio, coordenação e potência.
Força muscular, resistência muscular, resistên- A aptidão física tem um efeito definido sobre a
cia aeróbia, flexibilidade articular e composição performance de qualquer atividade de movimen-
corporal geralmente são consideradas os com- to que exija reações rápidas, velocidade de movi-
101
Compreendendo o Desenvolvimento Motor

2010UW OJUSWINOAUISIP OP Sase) se sepo) Wa OJUSWIAOW ap jeipuazod op OJUSWIAIOAUSSSP O Wejaje sodIUBDAW 3 SOIIS!J S3I0jey
Ty eanbyy
Jesodioo epezijeisadsa | [epezieoedse epezeoadse de
aseq ased| ese ogdealjoedy op eseg
Ieuswepuny | | reweswepuny Ieyuswepuny
opdeuspIooD osey ase| ese BPUBISIA ogdeisjEoy epepinei6
1eusuwipns 1eueuwipns 1eueuwipns ep euurm
epepinôy esed ase| esed sioyiadns eloIgU| epepinel6
epepicolen EXo|jol osed| | exejes ase Exejas ase| Bp Baly 8p oqueo
1010 oepnde [ eo1s/) oepnde “ogdeindiuew oEÓOUICOO| p 310} Waqaoai| “ediojoep | epepiligeisa
ep saioje ep selo1es p sapepilqeH| |op sepepinder anb saiopey enb sa.oje4 ap sa101e
soois saioçes — | O)uauWINOUW! 8p Sapep: soojuBoBW salojey
102 Gallahue, Ozmun & Goodway

mento, agilidade e coordenação de movimento, Existe um centro de gravidade em todos os


potência explosiva e equilíbrio. objetos. Nas formas geométricas, ele se localiza
no centro exato do objeto. Em objetos assimétri-
Biomecânica cos (p. ex., no corpo humano), ele muda cons-
Antes de iniciarmos uma discussão detalhada
tantemente durante a movimentagdo. O centro
sobre o desenvolvimento motor, será útil revi-
de gravidade dos nossos corpos sempre muda
na direção do movimento ou do peso adicional
sar alguns princípios mecânicos do movimento
(Fig. 4.3). O centro de gravidade de uma criança
em sua relação com a estabilidade, a locomoção que estd na posicio ereta encontra-se, na parte
e a manipulação. O corpo humano é capaz de superior dos quadris, entre as partes da frente e
movimentar-se de numerosas formas. Aprender de trás do tronco. As atividades em que o cen-
todas as habilidades envolvidas na performance tro de gravidade permanece na posição estável,
das atividades infantis de jogos, esporte e dança por exemplo, quando a pessoa está apoiada em
pode parecer uma tarefa impossível. Entretanto,
apenas um pé ou na posição invertida, com o
um exame mais detalhado do espectro de movi- corpo apoiado na cabega, são conhecidas como
mento revela que leis mecânicas fundamentais atividades de equilibrio estético. Já quando o
afetam todo o movimento humano. Princípios centro de gravidade muda constantemente, por
mecânicos selecionados são considerados aqui exemplo, se a pessoa estiver pulando corda, ca-
para servirem de preparação básica para os ca- minhando ou dando uma cambalhota, as ativi-
pitulos seguintes. dades são movimentos de equilibrio dindmico.
A linha de gravidade é uma linha imaginária
©® Concerro 4.14 que se estende verticalmente do centro de gravi-
dade até o centro da Terra. A inter-relagéo entre
Todos os movimentos são regidos por leis mecanicas o centro de gravidade e a linha da gravidade com
fundamentais. abase de apoio determina o grau de estabilidade
do corpo (Fig. 4.4)
Equilibrio A base de apoio é a parte do corpo que en-
Todas as massas atraidas gravitacionalmente tra em contato com a superficie de sustentagao.
pela terra estio sujeitas à força da gravidade. Os Se a linha de gravidade coincide com a base de
trés principais fatores relevantes no estudo dos apoio, então o corpo fica em equilibrio. Quando

Jre
principios do equilibrio são (1) centro de gravi- ela sai da base, há o desequilibrio. Quanto mais
dade, (2) linha de gravidade e (3) base de apoio. ampla for a base de apoio, maior serd a estabili-

Figura 4.3
0 centro de gravidade muda quando o corpo muda de posição.
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 103

Figura 4.4
0 corpo permanece em equilíbrio quando o centro de gravidade e a linha de gravidade coincidem com a base
de apoio.

dade, como se pode ver quando estamos apoia- Toda a ciéncia da força baseia-se nas trés leis do
dos nos dois pés e não em apenas um. Quanto movimento formuladas por Newton, ou seja, as
mais perto do centro da gravidade estiver a base leis da inércia, da aceleração e da ação e reação.
de apoio, maior será a estabilidade. Uma pessoa A lei da inércia afirma que um corpo em
na posição ereta pode ser tirada da posição de Tepouso permanece em repouso e que um cor-
equilíbrio mais facilmente do que outra que está po em movimento permanecerd em movimento
na posição do lineman do futebol americano, em uma mesma velocidade, em linha reta, a não
com os pés separados e o corpo um pouco para ser que seja atingido por uma forga externa. Para
a frente. que o movimento ocorra, é preciso a atuação,
Quanto mais próximo do centro da base de sobre o corpo, de uma força suficiente para su-
apoio estiver o centro de gravidade, maior será perar a sua inércia. Se a força aplicada for menor
a estabilidade. A posição do pé, que permi- do que a resisténcia oferecida pelo objeto, não
te uma base de apoio mais larga na direção do ocorre movimento. Os músculos grandes podem
movimento, fornece estabilidade adicional. Esse produzir mais forga do que os pequenos. Assim
princípio é ilustrado pela posição dos pés de um que um objeto se põe em movimento, ele gasta
corredor que está tentando parar ou de alguém menos forga para manter a velocidade e a di-
que está tentando receber e controlarum objeto teção (ou seja, o momentum) do que para parar.
pesado. Isso pode ser prontamente observado no esqui
sobre a neve, no deslizamento na água ou no ro-
Aplicação de força lamento de uma bola. Quanto mais pesado for
A força é um dos conceitos básicos do movimen- o objeto e mais rapida a sua velocidade, maior
to e da mecânica corporal. A força é o instigador forca serd necessaria para superar a inércia do
de todo o movimento e definida como o esforço movimento ou absorver o momentum. É mais di
que uma massa exerce sobre outra. O resultado ficil pegar um objeto pesado em movimento do
pode ser (1) movimento, (2) cessação de movi- que um objeto leve
mento ou (3) resistência de um corpo contra o A lei da aceleração afirma que a mudanga
outro. Pode haver força sem movimento, como de velocidade de um objeto é diretamente pro-
observado em atividades isométricas, mas o mo- porcional à força que produz a velocidade e in-
vimento é impossivel sem a aplicação de algu- versamente proporcional à sua massa. Quanto
ma forma de força. Trés forgas relativas ao corpo mais pesado o objeto, mais força é necessaria
humano nos interessam aqui: (1) a força produ- para promover a sua aceleragio ou desacelera-
zida pelos músculos, (2) a forga produzida pela ção. Isso pode ser observado quando um objeto
atração gravitacional da Terra e (3) o momentum. pesado (arremesso de peso no atletismo) e um
104 Gallahue, Ozmun & Goodway

objeto leve (uma bola de softball) são lançados a zido na proporção do tamanho da superficie, e
determinada distância. O aumento na velocida- a probabilidade de lesdo diminui. Por exemplo,
de é proporcional à quantidade de força aplica- se tentarmos absorver o choque de uma queda
da. Quanto maior a quantidade de força atuante com as maos, mantendo os bragos estendidos,
sobre o objeto, maior a velocidade adquirida por isso provavelmente resultara em lesdo, porque a
ele. Se uma mesma quantidade de força for apli- pequena superficie da mão terd de receber todo
cada sobre dois corpos de massa diferente, terá o impacto. O melhor seria deixar a maior parte
maior aceleração aquele mais leve ou de menor do corpo possivel absorver o impacto.
massa. O objeto mais pesado, entretanto, terá A direção final de um objeto em movimento
um momentum maior após a superação da inércia depende da magnitude e da direção de todas as
e exercerá maior força do que o mais leve sobre forgas aplicadas. Portanto, sempre que chutamos
outro objeto que entre contato com ele. ou arremessamos um objeto, ou batemos nele,
A lei da ação e reação afirma que, para cada a precisio e a distancia vão depender das forgas
ação, há uma reação igual e oposta. Esse princí- atuantes. Ao executar um salto vertical, o indivi-
pio da força contrária é a base de toda a locomo- duo deve trabalhar de modo a somar forgas na
ção e fica evidente quando deixamos pegadas na direção vertical; entretanto, uma boa performan-
areia. Ele se aplica tanto a movimentos lineares ce no salto a distdncia requer a soma das forças
como a angulares. À sua aplicação requer a rea- horizontal e vertical, de modo que a decolagem
lização de ajustes pelo indivíduo para manter as seja feita no ângulo apropriado.
forças primárias em qualquer movimento. Por A explicação de cada um dos principios do
exemplo, o uso de obstáculo ao padrão de corri- equiltbrio, da forca fornecida e das forgas rece-
da contrapõe a ação de uma parte do corpo com bidas em separado não deve ser tomada como
a ação de outra. indicação de que eles são usados separadamen-
te. A maioria de nossos movimentos combina
Recepção de força os trés. O elemento do equilibrio está envolvido
Quando nós próprios paramos ou quando pa- em quase todos 0s nossos movimentos, e nós
ramos algum objeto, absorvemos força ao longo fornecemos e recebemos forga sempre que rea-
da maior distância possível e na maior área de lizamos qualquer movimento de locomoção ou
superfície possível. Quanto maior a distância manipulação. Uma ginasta, por exemplo, tem de
a0 longo da qual a força é absorvida, menor o manter o equilibrio quando realiza uma acro-
impacto sobre o objeto que recebe a força. Isso bacia, por exemplo, um front flip, e também tem
pode ser demonstrado quando pegamos uma de absorver a força do corpo (ao tocar o solo). O
bola com os braços estendidos à frente do cor- tenista tem de se movimentar prontamente (for-
po e quando pegamos essa mesma bola de novo necendo e recebendo forga do corpo) e manter o
com os braços flexionados. O mesmo pode ser equilibrio. Embora cada um dos padrões e habi-
observado quando saltamos e caímos com as lidades de movimento discutidos nos capitulos a
pernas flexionadas, em comparação com o mes- seguir envolva uma sequéncia especifica de mo-
mo movimento com as pernas estendidas. As vimentos, todos incorporam a mecanica básica
forças devem ser absorvidas ao longo da maior discutida aqui, pois esses principios mecanicos
area de superfície possível. O impacto é redu- são comuns a todas as situagdes de movimento.

Resumo
desenvolvimento motor é um aspecto do pro- progressio gradual de niveis relativamente simples de
cesso de desenvolvimento total. Ele estd estreita- funcionamento a niveis mais complexos. Fatores bio-
mente relacionado com os dominios cognitivo e afe- lógicos, da experiéncia e fisicos afetam o processo e os
tivo do comportamento humano, sendo influenciado produtos do desenvolvimento motor. Cada individuo
por uma série de fatores. A importancia do desenvolvi- é singular em seu desenvolvimento e progride a um
mento motor 6timo não pode ser minimizada ou con- ritmo determinado pelas circunstancias ambientais e
siderada como secundaria em relação a outras areas biolégicas, combinadas com as exigéncias especificas
desenvolvimentais. Emergem fatores comuns, que afe- da tarefa de movimento.
tam o desenvolvimento motor. Esses fatores ilustram a
Compreendendo o Desenvolvimento Motor 105

QUESTÕES PARA REFLEXÃO


1. A maturação neuromotora parece ser respon- 3. Em sua vida, como vocé administra a questão do
sável pela progressão desenvolvimental em excesso de peso e quais são as suas estratégias
bebês e crianças. O que podemos dizer do seu pessoais de longo prazo para combater o excesso
oposto: da regressão neuromotora, com fre- de peso e a obesidade e também outros transtor-
quência observada em indivíduos com danos nos alimentares?
cognitivos causados por doenças ou pelo enve- 4. Quais são as causas e consequéncias primdrias
lhecimento? do PNB e do PNMB e quais as melhores praticas
2. O problema da obesidade alcançou proporções para combater esse grave problema de satide?
“epidêmicas” nos Estados Unidos e em vários 5. Por que um conhecimento aplicével de biome-
outros países. A partir de uma perspectiva eco- canica é importante para a educagio fisica e os
lógica (veja o Capítulo 1), em sua opinião, quais educadores esportivos, assim como para fisiote-
são as causas primárias proximais? rapeutas e ortopedistas?

LEITURA BÁSICA
CDC. (2010). U.S. Obesity Trends 1985-2009. Online 'VA: National Association for Sport and Physical
at: www.cde. gov/obesity/data/trends. html Education.
Dietz, W. H. (2004). The effects of physical activity on NIDDK. (2008). Binge Eating Disorder. Online at:
obesity. Quest, 56, 1-12. http://www.win.niddk.nih.gov/publications/binge.
Eyer, D. E. (1994). Infant Bonding: A Scientific Fiction. htm#howcommon
New Haven, CT: Yale University Press. NIDDK. (2010). Statistics Related to Overweight and
Irwin, C. C., Symons, C. W,, & Kerr, D. L. (2003). The Obesity. Online at: www:win.niddk.nih.gov/
dilemmas of obesity: How can physical educators. statistics/index htm#overweight
help? JOPERD, 74, 33-39. Stettler, N. (2004). The global epidemic of childhood
MacDorman, M. F., & Matthews, M. S. (2009, obesity. Obesity Reviews, 5,91-92.
November). Behind international rankings of infant Strohmeyer, H. S. (2004). Biomechanical concepts for
mortality: How the United States compares with the physical educator. JOPERD, 75, 17-21
Europe. NCHS Data Brief, Nº. 23, 1-8. Electronic Thomas, J. R. (2000). 1999 C. H. McCloy Research
text: www.cde.gov/nchs/ppt/nchs2009/44 Lecture: Children’s control, learning and
MacDorman. pdf performance of motor skills. Research Quarterly for
Martin, J. A. et al. (2010, August). Births: Final data for Exercise and Sport, 71,1-9.
2007. National Vital Statistics Reports, 58 (4), 1-125. Ward, N. S., & Frackowiak, R. 8. ]. (2003). Age-
Electronic text: www.cdc.gov/nchs/data/nvsr/ related changes in the neural correlates of motor
nvsr58/nvsr58_24.pdf performance. Brain, 126 (4), 873-888.
NASPE & AHA. (2010). Shape of the Nation Report:
Status of Physical Education in the USA. Reston,

RECURSOS NA WEB
aappublications.org/ www.anad.org/site/anadweb/
Homepage da American Academy of Pediatrics. As Homepage da National Association of Anorexia
informagdes fornecidas incluem a politica da AAP, Nervosa and Associated Disorders. A pagina
relatérios clinicos, relatérios técnicos, orientagdes fornece informagdes sobre transtornos alimentares,
clinicas práticas e paginas direcionadas aos pais, recursos, servigos/programas, tratamentos/
encaminhamentos e grupos de apoio focados na
www.nichd.nih.gov/ ajuda a individuos que sofrem de anorexia, bulimia
Homepage oficial do National Institute of Child e compulsão alimentar.
Health and Human Development. Contém a
missão do NICHD, componentes organizacionais, www.cde.govincedphp/dnpalobesity/
comunicados à imprensa, conferéncias, novas Informagdes do site dos Centers for Disease Control
politicas, oportunidades de financiamento e materiais and Prevention relativas obesidade nos Estados
de pesquisa. Unidos. O site define os termos sobrepeso e
106 Gallahue, Ozmun & Goodway

obesidade e discute tendências, fatores envolvidos www.letsmove.gov/


€ as consequências das situações de sobrepeso e de Let's move é um programa criado pela primeira-dama
obesidade para a saúde e a economia. Inclui recursos, Michelle Obama, destinado a crianças e jovens.
assim como links para informações por estado da Levanta fundos para a educação de uma geração de
Federação dos Estados Unidos. criangas mais saudáveis.

Você também pode gostar