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Desenvolvimento

Motor, da Fala e
da Linguagem
1. Desenvolvimento Motor 4
O desenvolvimento motor na infância 7

2. Neuropsicologia - Cérebro, Comportamento, Cognição 11

3. A Participação do Cérebro na Aquisição da Linguagem 21


Aquisição da linguagem: fala e escrita 21
A audição, a leitura e a emoção na linguagem 25

4. Avaliação Neuropsicológica 31
Instrumentos utilizados no Brasil 36

5. Referências Bibliográficas 40

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DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

1. Desenvolvimento Motor

O movimento é precioso e está


presente em todos
momentos da nossa vida, da
os
também, a perda
comportamentos (SANTOS, 2002).
O desenvolvimento motor é
de

inabilidade para a habilidade e, considerado como um processo


novamente, para a inabilidade na sequencial, contínuo e relacionado à
idade avançada (Kretchmar, 2000), idade cronológica, pelo qual o ser
ainda que o significado de ficar em humano adquire uma enorme
pé pela primeira vez e a dificuldade quantidade de habilidades
em levantar-se no final da vida seja motoras, as quais progridem de
diferente. As mudanças do movimentos simples e
comportamento motor e o(s) desorganizados para a execução de
processo(s) que embasam essas habilidades motoras altamente
mudanças durante o ciclo vital são o organizadas e complexas
foco de estudo da sub-área (HAYWOOD; GETCHELL, 2004).
desenvolvimento motor (CLARK; Inicialmente, acreditava-se
WHITALL, 1989 apud SANTOS, que as mudanças no
DANTAS, OLIVEIRA, 2004). comportamento motor refletiam
Nesse sentido, mudança é uma diretamente as alterações
palavra-chave dentro do conceito de maturacionais do sistema nervoso
desenvolvimento, não apenas no central. Hoje, porém, sabe-se que o
que se refere ao surgimento, mas processo de desenvolvimento ocorre

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de maneira dinâmica e é suscetível a peso ao nascer, distúrbios


ser moldado a partir de inúmeros cardiovasculares, respiratórios e
estímulos externos. A interação neurológicos, infecções neonatais,
entre aspectos relativos ao desnutrição, baixas condições
indivíduo, como suas características socioeconômicas, nível educacional
físicas e estruturais, ao ambiente em precário dos pais e prematuridade.
que está inserido e à tarefa a ser Quanto maior o número de fatores
aprendida são determinantes na de risco atuantes, maior será a
aquisição e refinamento das possibilidade do comprometimento
diferentes habilidades motoras do desenvolvimento (EICKMANN;
(HAYWOOD; GETCHELL, 2004). DE LIRA; LIMA, 2002; HALPERN
Sabe-se que o surgimento de ET AL, 2000; WILLRICH,
movimentos e seu posterior controle AZEVEDO, FERNANDES (2008).
ocorrem em uma direção céfalo- O desenvolvimento motor
caudal e próximo-distal, porém este atípico não se vincula,
processo não se apresenta de forma obrigatoriamente, à presença de
linear, incluindo períodos de alterações neurológicas ou
equilíbrio e desequilíbrio. Apesar estruturais. Mesmo crianças que
disso, costuma cumprir uma não apresentam sequelas graves
sequência ordenada e até previsível podem apresentar
de acordo com a idade (BURNS; comprometimento em algumas
MCDONALDS, 1999; RATILIFFE, áreas de seu desenvolvimento
2000). neuropsicomotor. Estudos
Diversos fatores, porém, descrevem prejuízos mais
podem colocar em risco o curso comumente ligados à memória, à
normal do desenvolvimento de uma coordenação visuomotora e à
criança. Definem-se como fatores de linguagem (MANSUR; NETO,
risco uma série de condições 2006).
biológicas ou ambientais que O desenvolvimento motor na
aumentam a probabilidade de infância caracteriza-se pela
déficits no desenvolvimento aquisição de um amplo espectro de
neuropsicomotor da criança habilidades motoras, que possibilita
(MIRANDA; RESEGUE; a criança um amplo domínio do seu
FIGUEIRAS, 2003). corpo em diferentes posturas
Dentre as principais causas de (estáticas e dinâmicas), locomover-
atraso motor encontram-se: baixo se pelo meio ambiente de variadas

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formas (andar, correr, saltar, etc.) e para testar as suas hipóteses, é o


manipular objetos e instrumentos fato de que os momentos críticos
diversos (receber uma bola, do processo de desenvolvimento
arremessar uma pedra, chutar, são mais facilmente detectáveis
escrever, etc.). Essas habilidades durante a infância. Ou seja,
básicas são requeridas para a identificar os momentos de
condução de rotinas diárias em casa instabilidade e estabilidade no
e na escola, como também servem a comportamento motor e as
propósitos lúdicos, tão respectivas descontinuidades e
característicos na infância. A cultura continuidades de desenvolvimento
requer das crianças, já nos primeiros após a idade adulta, significa
anos de vida e particularmente no percorrer uma trajetória mais
início de seu processo de nebulosa, pois os longos intervalos
escolarização, o domínio de várias de tempo entre um determinado
habilidades. comportamento e o surgimento de
Não raro, essas habilidades outro, representam um obstáculo.
denominadas básicas são vistas Adicionalmente, a extensão de
como o alicerce para a aquisição de tempo entre a idade adulta e a morte
habilidades motoras especializadas e as infinitas possibilidades de
na dimensão artística, esportiva, interação com o meio ambiente,
ocupacional ou industrial (TANI ET resultam num aumento da
AL, 1988). Essa relação de variabilidade inter-indivíduos
interdependência entre as fases de (SANTOS, CORRÊA;
habilidades básicas e de habilidades FREUDENHEIM, 2003), na medida
especializadas denota a importância que o estilo de vida (incluindo a
das aquisições motoras iniciais da prática regular de atividade física,
criança, que atende não só as alimentação balanceada, etc.) exerce
necessidades imediatas na 1ª e 2ª forte influência no desenvolvimento
infância, como traz profundas motor dos indivíduos.
implicações para o sucesso com que Em suma, desenvolvimento
habilidades específicas são motor enfoca o estudo das
adquiridas posteriormente. mudanças qualitativas e
Um aspecto que parece ser quantitativas de ações motoras do
relevante para o pesquisador da área ser humano ao longo de sua vida.
de desenvolvimento motor, na O escopo das investigações
escolha das etapas iniciais da vida envolve predominantemente a

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análise de habilidades motoras com diversas áreas como pediatras,


forte componente genético e o psicólogos, pedagogos e
resultado da interação dos fatores profissionais de educação física têm-
endógenos e exógenos no processo se interessado pelo estudo do
de desenvolvimento de habilidades e desenvolvimento motor (CLARK,
capacidades motoras, não apenas WHITALL, 1989; WHITALL, 1995).
com a preocupação de observar e Dentre as razões que têm
descrever mudanças no levado o interesse crescente pelos
comportamento motor ao longo da conhecimentos acerca do
vida do ser humano, mas também desenvolvimento motor, destacam-
buscando hipóteses que possam se:
explicar ou predizer tais mudanças.  os paralelos existentes entre o
desenvolvimento motor e o
O desenvolvimento motor desenvolvimento neurológico,
com implicações para o
na infância diagnóstico do crescimento e
desenvolvimento da criança;
 o papel dos padrões motores
no curso de desenvolvimento
humano, com implicações
para a educação da criança
bem como para reabilitação de
indivíduos com atrasos ou
desvios de desenvolvimento;
 adequação e estruturação de
ambientes e tarefas motoras
aos estágios de
desenvolvimento, de forma a
facilitar e estimular esse
A capacidade de movimentar- processo.
se das crianças é essencial para que
ela possa interagir apropriadamente Na literatura internacional
com o meio ambiente em que vive e temos visto que o interesse dos
é sobre a infância que a maioria dos estudiosos tem sido pelo papel dos
estudos sobre desenvolvimento padrões motores no curso de
motor se concentram. desenvolvimento humano, o que,
Por se tratar de um momento particularmente, também pode ser
de grandes mudanças detectado pelas investigações
comportamentais, profissionais de realizadas no contexto nacional

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(GIMENEZ, 2001; MANOEL; observamos, mas desenvolvimento


PELLEGRINI, 1985; MARQUES, trás a noção de algo que já existe
1995, 2003; OLIVEIRA, 1997). implicitamente e que vem a tornar-
Entretanto, é preciso ressaltar se explícito.
que a adequação e estruturação de O termo mais correto seria
ambientes e tarefas motoras aos “fulguratio”, que representa
estágios de desenvolvimento é igualmente o desenvolvimento e
crucial para os profissionais de evolução, o processo criativo,
educação física, na medida que eles quando, por exemplo, dois sistemas
necessitam de informações para o independentes são acoplados
desenvolvimento do seu trabalho espacial e temporalmente no qual
(OLIVEIRA; MANOEL, 2004), em podem surgir características que os
particular, a partir da segunda sistemas em separado não possuíam
metade da segunda infância, quando antes.
se evidencia o início de um trabalho Ao mesmo tempo, o estudo de
sistemático com o objetivo de padrões não seria identificarmos
abordar a relação entre vários tipos movimentos que todos repetiriam
de restrições que a criança é de forma igual numa estrutura
submetida na sua vida diária. As rígida, como se estivesse numa linha
restrições da tarefa, do organismo e de produção industrial, mas sim,
do ambiente, são exemplos que estruturas comportamentais que
afetam o processo de representam características daquela
desenvolvimento de padrões fase do desenvolvimento a qual
fundamentais de movimento e que passa ser comum a todos.
se bem relacionadas favorecem o É importante ressaltar,
surgimento de novas formas de também, que várias concepções têm
execuções motoras das crianças. sido adotadas para estudar o
O termo desenvolvimento nos desenvolvimento da criança, seja do
remete a uma reflexão sobre os ponto de vista biológico, social,
muitos estudos já produzidos e as cultural, etc. A concepção
teorias empregadas para interpretar determinística, por exemplo,
este fenômeno. concebe o desenvolvimento como
Para Lorenz (1977) citado por sendo mudanças qualitativas cuja
Manoel (1998), este termo direção é controlada por um
desenvolvimento não representa mecanismo interno de
simplesmente o fenômeno que autorregulação.

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Do início até meados do século fortalecem o sucesso escolar e a


passado, muitos estudos sobre a motivação dos estudantes.
sequência do desenvolvimento
motor de bebês foram realizados
cujas evidências e observações são
consideradas até os dias atuais.
Posteriormente, alguns estudos
foram conduzidos com o propósito
de analisar e descrever padrões
fundamentais de movimentos de
pré-escolares e escolares. Este foi
um período marcado pela
abordagem orientada ao produto,
Consequentemente, removem
com somente a preocupação de
relações positivas entre colegas,
responder o que muda no
estimulando o envolvimento dos
comportamento, ou seja, mudanças
alunos nos processos de decisão e
eminentemente topológicas dos
organização escolar. Por outro lado,
padrões motores de escolares. Esses
ambientes de ensino que são
estudos contribuíram, de certa
centrados na figura do professor são
forma, para o entendimento fases,
percebidos pelos estudantes como
estágios e níveis de desenvolvimento
controladores, o que
(SANTOS, DANTAS E OLIVEIRA,
consequentemente têm um efeito
2004).
negativo na motivação e nas
Não podemos esquecer que o
percepções de competência,
ambiente é uma importante fonte de
portanto vale a pena pensar que tipo
informações sobre competências,
de ambiente e de estimulação
com as quais as crianças podem
estamos oportunizando para as
aprender a apreciar as experiências
crianças das escolas de educação
de aprendizagem do movimento,
infantil.
bem como podem se sentir melhor
consigo mesmas (WEISS, 1991,
1995).
Ambientes de ensino que
enfatizam o interesse dos alunos e
promovem aprendizagem
significativa e contextualizada

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2. Neuropsicologia - Cérebro, Comportamento, Cognição

J á vimos em outro momento que


a neuropsicologia é um campo
alterações no funcionamento do
SNC (CONSENZA, 2007).
do conhecimento interessado em A neuropsicologia, na
estabelecer as relações existentes atualidade, tem uma ampla gama de
entre e o funcionamento do sistema aplicações na prática de pesquisas e
nervoso central (SNC), por um lado, na área clínica, que são
e as funções cognitivas e o frequentemente de natureza
comportamento, por outro, tanto multiprofissional. O neuropsicólogo
nas condições normais quanto nas atua, principalmente, na avaliação
patológicas. Ela tem natureza (exame neuropsicológico) e no
multidisciplinar, apoiando-se em tratamento (reabilitação
fundamentos das neurociências e neuropsicológica) das
da psicologia, e visa ao tratamento consequências de disfunções do
dos distúrbios cognitivos e sistema nervoso.
comportamentais decorrentes de

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Essas disfunções, por sua vez, buscamos compreender como o


podem estar relacionadas ao sistema nervoso modula nossas
desenvolvimento anormal do funções cognitivas,
sistema nervoso (p. ex., transtorno comportamentais, motivacionais e
do déficit de emocionais.
atenção/hiperatividade, Embora atualmente pareça
esquizofrenia, dislexia) ou ser um truísmo a concepção de que,
adquiridas ao longo do curso da vida em nosso organismo, o sistema
(p. ex., traumatismo nervoso relaciona-se com
cranioencefálico, acidente vascular comportamento e processos
cerebral, demências). mentais, na verdade foram
As aplicações da necessários vários séculos para que
neuropsicologia têm aumentado essa ideia se tornasse sólida e
significativamente, à medida que aplicável à prática clínica.
progridem os conhecimentos nas Esclarecer como o corpo se
diversas disciplinas que lhe são relaciona com os processos mentais
caudatárias. e comportamentais é uma questão
Cada vez mais ela é chamada a que desperta interesse há milênios.
resolver problemas que se Na Antiguidade, em diferentes
apresentam na prática clínica de culturas, diversas teorias tentaram
neurologia, psicologia, psiquiatria, localizar a alma no corpo humano.
pedagogia, geriatria, Não se sabe precisamente quando a
fonoaudiologia, etc. Além disso, a associação entre a atividade cerebral
neuropsicologia tem expandido suas e a mente começou a ser feita. No
áreas de atuação e sua interface com entanto, achados paleontológicos de
outras áreas do conhecimento, como crânios pré-históricos trepanados
a filosofia e as ciências exatas ainda em vida indicam que o homem
(CONSENZA, 2007). das cavernas já procurava intervir
Conforme salientado por Kolb no cérebro, possivelmente na
e Wishaw (1995), mesmo sendo uma tentativa de liberar os maus
disciplina científica recente, o espíritos que o atormentavam.
desenvolvimento dos pilares da No Egito, embora vigorasse a
neuropsicologia ocorreu ao longo de ideia de que o coração era a sede da
vários séculos, partindo da busca alma e o órgão controlador dos
pela compreensão sobre a relação processos mentais, há uma das
entre o organismo e os processos primeiras evidências documentadas
mentais até o estágio atual, em que em favor da ideia de que o cérebro se

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relaciona aos processos mentais. No função de resfriar a temperatura


papiro de Edwin Smith, escrito há sanguínea.
cerca de 3 mil anos e atribuído ao Paralelamente às diferentes
médico Imhotep, encontram-se tendências filosóficas, as
diversos relatos clínicos, entre eles o observações clínicas como as de
de um paciente com alterações da Hipócrates (460-400 a.C.) e Galeno
linguagem decorrentes de ferimento (130-200 d.C.) foram determinantes
localizado no osso temporal. Uma para a solidificação da hipótese
segunda associação, provavelmente cerebral.
casual, também foi originada de Ao longo dos tratados médicos
uma civilização que acreditava ser o reunidos no Corpus Hipocraticus e
coração a sede da alma: a hebraica. nos relatos de Galeno, médico dos
Na Bíblia, no livro de Daniel, é centuriões romanos, as lesões
descrito um sonho do rei cerebrais são atribuídas alterações
Nabucodonosor em que ele se refere da personalidade, do
a imagens atemorizantes que comportamento e da capacidade de
vinham de sua cabeça. raciocínio. É bom lembrar que,
Cabe salientar que, na embora saibamos que o coração não
Antiguidade, muitos povos eram controla os processos mentais,
adeptos da hipótese cardíaca (como nossa cultura popular carrega ainda
é chamada a crença de que a mente hoje marcas desse dilema da
está associada ao coração). Na Antiguidade Clássica.
Grécia essa noção encontrou seus
primeiros opositores formais, entre
eles Alcmaeon de Crotona (500
a.C.), que formulou a hipótese de
que os processos mentais estariam
associados à atividade cerebral.
Essa ideia não era aceita
tranquilamente, e outro filósofo,
Aristóteles (384-322 a.C.), cuja obra
se tornou mais influente, era um
opositor veemente dessa ideia. Para
Aristóteles, no coração estaria a base
da mente, enquanto o cérebro seria
uma espécie de radiador, com a

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se nos ventrículos cerebrais. Dali


eles podiam viajar através dos
nervos, considerados como
estruturas ocas, provocando
movimentos e mediando sensações.
Essa concepção, chamada
hipótese ventricular, foi
amplamente aceita nos séculos
seguintes, obtendo a aprovação da
Igreja Católica. Durante a maior
parte desse período os ventrículos
são representados como sendo três,
em que o primeiro seria responsável
pelas sensações; o intermediário,
pela razão e pelo pensamento; e o
Além do dilema cérebro versus último cuidando da memória.
coração, registre-se, também, outra René Descartes (1596-1650),
fonte de confusão (CONSENZA, um dos expoentes da filosofia
2007). ocidental, também conferiu aos
Desde as primeiras espíritos circulantes nos ventrículos
observações anatômicas, era uma importância no processo de
evidente que o cérebro é composto controle comportamental. Para ele,
por tecido e por cavidades, os a mente seria adimensional e
ventrículos cerebrais. Os ventrículos imaterial, mas ela deveria interagir
chamavam muito a atenção dos com o corpo por meio de uma
primeiros anatomistas, pois o estrutura, a glândula pineal, que por
cérebro não fixado aparecia apenas sua vez poderia controlar os
como uma geleia amorfa. comportamentos, reflexos ou não,
Acreditava-se, então, que nos por meio de uma ação regulatória
ventrículos cerebrais circulavam sobre a circulação dos espíritos
fluidos, ou espíritos, que seriam animais.
importantes na regulação do As evidências sobre a
comportamento. importância do parênquima
Para Galeno, esses espíritos cerebral foram se acumulando aos
eram derivados do processamento poucos, tanto do ponto de vista
dos alimentos no fígado e na anatômico quanto clínico. O
corrente sanguínea e armazenavam- anatomista Andreas Vesalius (1514-

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1564), por exemplo, em seu tratado responsável por uma função mental
De humani corporis fabrica, e comportamental específica.
argumentou que o que diferenciava Entre os localizacionistas, vale
os humanos dos outros animais era mencionar a teoria elaborada por
o volume de tecido cerebral e não o Franz Joseph Gall (1757-1828) e
tamanho dos ventrículos cerebrais. muito difundida por seu aluno,
Posteriormente, Thomas Johann Gaspar Spurzheim (1776-
Willis (1621-1675), além de atribuir 1832). Essa teoria ficou conhecida
papel crucial ao tecido cerebral, como frenologia – embora tenha
propôs que a origem dos conceitos e sido denominada inicialmente
do movimento estaria no cérebro, organologia (Zola-Morgan, 1995) –
sugerindo que a imaginação estaria e tinha como pressupostos básicos
associada ao corpo caloso. Ao final as seguintes afirmações:
do século XVIII, as duas correntes 1. Cada região do cérebro
teóricas – ventricular e tecidual – constitui-se em um “órgão”
ainda conviviam lado a lado, e só o responsável por uma função
mental ou comportamental
desenvolvimento da ciência
específica;
moderna veio comprovar o acerto da 2. Cada região do cérebro se
segunda. desenvolve de forma a moldar
Tendo o cérebro se a superfície craniana;
consolidado como o órgão 3. Se uma região é bem
responsável pelos processos mentais desenvolvida, ela cresce em
e pelo comportamento, surgiu o volume, refletindo esse
crescimento no desenvolvi-
problema de saber se essas funções
mento do crânio.
poderiam ser decorrentes do
funcionamento de diferentes áreas A partir dessas hipóteses, Gall
da sua anatomia. e Spurzheim inferiram que, ao
Nascia o debate entre os analisar a superfície do crânio, seria
holistas e os localizacionistas. Para possível saber se uma função mental
os primeiros, não haveria é bem desenvolvida ou não.
especificidade regional no cérebro, Após estudarem centenas de
que controlaria o comportamento crânios, chegaram a um modelo em
atuando como um todo. Os que atribuíram ao cérebro,
segundos acreditavam que o cérebro diferentes “órgãos”. Dentre eles
atua de forma fragmentada, e cada estariam áreas compartilhadas
uma de suas regiões seria entre homens e outros animais,
como a área da coragem e do

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instinto carnívoro, além de outras apresentavam uma síndrome


áreas especificamente humanas, caracterizada por
como as relacionadas à sabedoria, ao comprometimento maciço na
senso de metafísica, à sátira, ao produção da fala e relativa
talento poético, etc. preservação da compreensão da
A frenologia acabou por ser linguagem. A síndrome foi nomeada
rechaçada na comunidade científica, afasia de Broca, e a área da lesão foi
por apresentar falhas em chamada área de Broca, passando a
praticamente todas as suas ser conhecida como o “centro
hipóteses constituintes. Nessa funcional da linguagem”.
mesma época, o fisiologista francês Posteriormente, o
Pierre Flourens (1794-1867), a partir neurologista alemão Carl Wernicke
de lesões provocadas em sujeitos e (1848-1904) descreveu pacientes
animais, concluiu que não que tinham um tipo de lesão
importaria a área da lesão, mas a diferente daqueles descritos por
quantidade de material cerebral Broca e que, por sua vez, também
lesionado. Para ele, qualquer área apresentavam comprometimento de
do cérebro poderia assumir, com ou suas habilidades linguísticas.
sem redução de sua eficiência, Esses pacientes tinham lesão
funções que estavam em uma outra no córtex temporal do hemisfério
área danificada. No início século XX, cerebral esquerdo e apresentavam
o psicólogo canadense Karl Lashley dificuldade na compreensão da
(1890- 1958) reforçou esses dois linguagem, quadro que passou a ser
princípios teóricos, dando a eles os nomeado como afasia de Wernicke.
nomes de principio da ação de Essa descrição de uma nova área
massa e equipotencialidade, relacionada à linguagem
respectivamente. impulsionou ainda mais a noção de
O pêndulo da história voltou a que o cérebro seria composto por
favorecer os localizacionistas em diversos centros funcionais, cada
meados do século XIX. Isso se deu um responsável por uma função
quando Paul Broca (1824-1880), mental específica. Além disso,
entre 1861 e 1863, apresentou à Wernicke chamou a atenção para o
Sociedade Parisiense de fato de que as funções cerebrais
Antropologia a descrição de cerca de poderiam também ser
nove pacientes, vítimas de lesões comprometidas pelas lesões nas
nos lobos frontais do hemisfério conexões entre regiões cerebrais
cerebral esquerdo, que diferentes. Assim, postulou a

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DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

existência de outro distúrbio da processamento das funções


linguagem, a afasia de condução, emocionais e sua integração com a
que seria originada por lesões no vida de relação. Nos anos 1950 o
fascículo arqueado, responsável pela neurocirurgião William Scoville
conexão entre a área de Broca e a de (1906- 1984) publicou o caso de
Wernicke. um paciente – amplamente
No início do século XX, conhecido na literatura
pesquisadores experimentais de neuropsicológica como paciente
renome, como Karl Lashley, após “H.M.” – submetido à remoção
estudos com animais, publicaram bilateral do hipocampo e das
dados desanimadores sobre a amígdalas para tratamento de um
possibilidade de localização de grave quadro epiléptico e que, após
funções, como a memória, em a cirurgia, desenvolveu uma
regiões cerebrais circunscritas. incapacidade maciça de aprender
No entanto, começaram a novas informações. Ficava claro que
surgir evidências e teorizações que processos mentais importantes,
iriam dar corpo à neuropsicologia como a aprendizagem e a memória,
que hoje conhecemos. dependiam da integridade de
Dentre essas, precisamos centros nervosos específicos e suas
destacar algumas que parecem mais conexões.
importantes. Nos últimos anos, o advento
No final dos anos de 1940, das técnicas de neuroimagem veio
Walter Hess (1881-1973) criticou a possibilitar a confirmação de fatos já
noção de “centro” nervoso e propôs conhecidos, bem como acrescentar
que as diferentes atividades novas evidências que ampliam
dependem de uma “organização” extraordinariamente as
cerebral. Atividades mais complexas possibilidades de correlação entre as
recrutariam, proporcionalmente, funções cognitivas e o
um maior número de estruturas, que funcionamento cerebral.
intervêm no processo.
Na mesma época, a partir dos
estudos de James Papez (1883-
1958) e Paul MacLean (1913-),
evoluía o conceito de “sistema
límbico”, um conjunto de estruturas
cerebrais interconectadas, que se
revelava importante para o

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DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

Para Luria, pode-se distinguir


no cérebro três grandes sistemas
funcionais.
 O primeiro regula a vigília e o
tônus cortical e depende de
estruturas como a formação
reticular e áreas do sistema
límbico.
 O segundo se encarrega de
receber, processar e
armazenar as informações que
O localizacionismo, no
chegam do mundo externo e
entanto, só viria a ser superado por interno e está situado em áreas
um novo conceito de função, algo do córtex cerebral localizadas
tentado por vários cientistas, entre posteriormente ao sulco
os quais se salienta o neuropsicólogo central. Ele organiza-se em
soviético Aleksander Luria (1902- áreas corticais primárias,
1977), cujo modelo é hoje secundárias e terciárias.
 Já o terceiro sistema regula e
amplamente reconhecido e aceito,
verifica as estratégias
embora já com modificações que comportamentais e a própria
precisam levar em conta, entre atividade mental, é
outros fatos, a assimetria da função constituído pelo córtex
cerebral, hoje mais profundamente cerebral situado nas regiões
compreendida. anteriores do cérebro e
Luria (1980) postula um novo organiza-se, também
hierarquicamente, em áreas
conceito de função, exercida por
corticais primária, secundária
“sistemas funcionais” que visam à e terciária.
execução de uma determinada
tarefa (a tarefa é constante, mas os O monumental trabalho de
mecanismos para executá-la podem Luria incluiu o desenvolvimento de
ser variáveis). Funções mais uma bateria completa para o exame
elementares poderiam ser neuropsicológico, que influencia
localizadas, mas os processos ainda hoje boa parte dos testes
mentais geralmente envolvem zonas usados na atividade cotidiana dos
ou sistemas que atuam em conjunto, neuropsicólogos. A bateria de Luria,
embora se situem, frequentemente, juntamente com a bateria
em áreas distintas e distantes do Halstead-Reitan, foi muito usada
cérebro. em meados do século XX, quando

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DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

se preconizava aquela abordagem


abrangente para o exame
neuropsicológico.
Da bateria de Luria derivam
outras, como a Luria-Nebraska e o
teste de Barcelona, capazes de trazer
uma ampla informação sobre o
funcionamento das funções
cognitivas e que têm ainda utilidade,
embora o arsenal de testes
neuropsicológicos tenha se tornado
mais específico e se multiplicado de
forma exponencial nos anos mais
recentes (CONSENZA, 2007).

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DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

3. A Participação do Cérebro na Aquisição da Linguagem

Aquisição da linguagem: um impacto no desenvolvimento


fala e escrita infantil, pois tal movimento se
converte numa ferramenta de
A linguagem é um claro análise e síntese que capacita a
exemplo de função superior do compreensão do seu entorno e a
cérebro cujo desenvolvimento se regulação de sua própria conduta
sustenta, por um lado, em uma (LURIA, 1985).
estrutura anatomo-funcional O desenvolvimento da
geneticamente determinada e, por linguagem depende, portanto, não
outro, no estímulo verbal dado pelo somente de uma reação percepto-
meio (FRANÇA ET AL, 2004). motora entre as percepções e as
Neurologicamente, o termo praxias, mas de um ato complexo
linguagem parece fundir-se com o que envolve a cognição (ROTTA,
próprio pensamento e, por vezes, 1988).
parece sê-lo. No momento em que se A linguagem é um sistema
adquire uma nova palavra ocorre finito de princípios e regras que

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DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

permitem ao falante codificar Conforme os autores, muitas


significados em sons e ao ouvinte abordagens tentam explicar a
decodificar sons em significado. aquisição da linguagem, são elas:
Contudo, esse sistema finito possui a  a comportamental (Skinner,
propriedade de ser infinitamente 1957) que defende a linguagem
criativo, no sentido de possibilitar como uma atividade
ao falante e ao ouvinte criar e programada e ensinada, logo
tratando-se de um
entender um conjunto infinito de
comportamento condicionado
sentenças gramaticais novas aprendido.
(GERBER, 1996). Hécaen e  Na abordagem inatista
Angelergues assinalam que a defendida por Chomsky, a
linguagem como instrumento de linguagem oral é
comunicação e elaboração do geneticamente determinada,
pensamento é adquirida num na qual o indivíduo aprende
esta forma de comportamento,
sistema arbitrário de sinais que
porque nasceu com um
representa a língua (FRANÇA ET equipamento básico (neural e
AL, 2004). Ao falar, se produz e estrutural) necessário para
articulam sons com significado, expressar a linguagem.
num veículo de expressão ideativa  Na abordagem biológica de
(SANVITO, 1991). Leneberg, o cérebro é o
Para Rocha (1999), a aquisição facilitador da aprendizagem
da linguagem auditivo - oral,
da linguagem foi um grande passo
ou seja, a linguagem trata-se
para a humanidade, pois a de uma atividade cerebral.
comunicação e a expressão cultural  Muitas outras linhas, como a
viabilizaram o surgimento de uma construtivista (Piaget), e a
sociedade racional, da forma como sociointeracionista
se constitui atualmente. (Vygotsky), acreditam que a
Boone e Plante (1998), linguagem ocorre por uma
afirmam que a comunicação é um predisposição genética, mas a
atividade cerebral por si só
processo de trocas de mensagens não basta para justificar um
entre um emissor e um receptor, que comportamento linguístico,
pode ser através de uma linguagem este resulta de um
verbal ou não verbal (expressões, desenvolvimento cognitivo e
gestos e vocalização sem conteúdo de um conteúdo cultural e
linguístico). social que é decisivo em seu
desenvolvimento.

22
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

Rocha (1999) afirma que, a acessório. Para o autor, os atos


linguagem é, antes de mais nada, motores de fonação são organizados
uma mímica motora a qual necessita pela área de Broca (córtex pré-
da produção do som para ser motor) que controla o córtex motor
vinculada a outros indivíduos. associado a musculatura dos órgão
Azcoaga et al (1981) fonoarticulatórios (OFAS).
preconizam que os elementos Portanto, o papel da área de Broca é
comunicativos da linguagem organizar os atos motores para
resultam de uma atividade produzir distintos fonemas que
biológica. Muitas dessas atividades constituem palavras de uma frase. O
podem ser ditas inatas, como a autor afirma que parte desta
mímica facial, por exemplo, sendo a informação é enviada, ao mesmo
maioria aprendida muito cedo e tempo em que é transmitida para os
outras mais tardiamente com o núcleos dos nervos cranianos
contato social intenso. anteriormente citados. O cerebelo é
responsável pela sequenciação dos
Fala movimentos na fala e pela
monitoração da fonação, ou seja, se
Jakubovicz e Cupello (1996) o ato motor foi executado da forma
preconizam que a fala pressupõe a anteriormente planejada.
elaboração de um pensamento pré- O ato da fonação depende
linguístico. As autoras afirmam, que também de circuitos neurais para a
para falar há primeiramente a movimentação automatizada da
seleção de signos linguísticos (a mandíbula, língua, músculos
palavra), as quais são capazes de toráxicos e diafragma. Para isso é
exprimir o pensamento. Posterior- necessário a participação dos
mente há a seleção de padrões núcleos de base (Globo Pálido,
sensório-motores correspondentes a Substância Negra, Núcleo Rubro,
articulação verbal. Núcleo caudado) que são estruturas
Segundo Rocha (1999), a sub-corticais que controlam o
principal área cortical responsável automatismo motor. Parte da
pelo controle da fonação é chamada programação fonética da área de
de Área de Broca. Conforme o autor, Broca é transmitida também ao
a motricidade dos músculos da face, córtex motor através desses núcleos
língua, faringe e laringe, é (ROCHA, 1999).
controlada pelos nervos cranianos
trigêmio, facial, hipoglosso e

23
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

Conforme o autor, o controle dificulta o reconhecimento dos


da fonação implica em vários fonemas produzidos pelo falante,
eventos como: realizado pelo córtex auditivo e
 Definir posições de verbal do ouvinte.
articulações de vários
fonemas, tempo de produção Escrita
e de emissão vocal;
 Calcular movimentos para a
produção dos fonemas;
 Modular a motricidade e de
introduzir prosódia na
emissão dos fonemas.

O autor preconiza que a área


de Broca é encarregada da
organização fonética da fala e esta
localizada, em geral no hemisfério
esquerdo. Com relação à
organização das áreas encarregadas
Com relação à escrita, Rocha
da organização da prosódia
(1999), afirma que, são envolvidos
(entonação, segmentação supra –
vários outros sistemas como o visual
fonética, modulação emocional e
e auditivo, assim como a
etc.) estão localizadas no córtex
motricidade da mão.
frontal direito. Esta afirmação
Jakubovicz e Cupello (1996),
remete a uma intensa troca de
descrevem que a escrita envolve o
informação entre os dois
polo receptivo visual, no caso da
hemisférios para integração entre a
cópia, e o polo auditivo no caso do
programação fonética e a prosódia.
ditado, sendo em ambos o
Para o autor, estas trocas inter-
movimento dos dedos e das mãos, o
hemisféricas são feitas através do
polo expressivo.
corpo caloso.
Segundo esses autores, há
A relação entre os dois
uma área pré-motora situada à
hemisférios cerebrais possibilita que
frente da área motora da mão que é
um mesmo fonema possa ser
responsável de organizar os atos
produzido de várias formas,
motores para a escrita nos processos
dependendo do contexto da frase e
de ditado, cópia e geração endógena
do conteúdo emotivo. O autor
(quando o indivíduo descreve seu
afirma que, esse é um processo que
pensamento). Esses processos

24
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

sofrem uma modulação das áreas medir frequência e amplitude de


parietais de integração variações energéticas carregadas de
polissensorial, que para a escrita, é o oscilações moleculares propagadas
giro angular, onde há uma pelo ar.
convergência dos sistemas visual e Segundo Santos e Russo
auditivo. Essa convergência tem o (1993), o ouvido humano está em
objetivo de facilitar o planejamento sua maior parte contido no osso
do controle da mão para a escrita, temporal, localizado no crânio,
tanto no caso de ditado e cópia. tendo como principais funções a
Rocha (1999) preconiza que a audição e o equilíbrio. O ouvido é
organização funcional para a escrita constituído pela orelha externa,
é muito variável entre um indivíduo média e interna, sendo esta última
e outro, dependendo de como é composta pelo labirinto e a cóclea,
realizada a alfabetização. O autor onde estão localizadas as células
cita o encorajamento da fonação sensoriais. Rocha (1999) menciona
durante a escrita um facilitador da que estas células funcionam como
formação de um mapeamento da receptores de frequências.
imagem motora de fonação na Cada fonema humano é
imagem motora de escrita. caracterizado por um conjunto
definido de frequências, que são
A audição, a leitura e a chamados de formantes. Carda
emoção na linguagem fonema estimula um grupo de
receptores distribuídos em várias
Audição regiões da cóclea, que são
peculiares a este fonema. Logo os
sons são decompostos em
frequências básicas na cóclea,
depois as relações significativas são
processadas entre as diversas
frequências em um complexo de
neurônios do sistema nervoso
central.
Neurônios distribuídos no
tronco cerebral, entre os núcleos
cocleares e os colículos superiores,
Segundo Rocha (1999), o
especializam-se em reconhecer
sistema auditivo se desenvolveu
características dos fonemas
como um sistema de receptores para

25
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

utilizados pelas línguas humanas. do córtex cerebral especialmente


Jourdaim (1998) afirma que a voltadas para a atenção, memória e
trajetória de uma música, por aprendizagem.
exemplo, abre caminho desde o
labirinto, indo de um núcleo para Leitura
o outro, em uma viagem da cóclea
para o córtex. O tronco cerebral
observa as relações entre os sons,
como frequência e intensidade. Na
cóclea, o som é cortado em pedaços
e cada um dos seus aspectos entra
em desvios, que conduzem aos
circuitos neurais próprios de cada
um.
Para Rocha (1999), os
neurônios do tronco cerebral são
Segundo Rocha (1999), o
ativados por características que são
hemisfério esquerdo especializa-se
particulares de cada fonema. No
no processamento das informações
núcleo geniculado medial são
verbais, seriais e temporais, na
recebidas informações do tronco
maioria das pessoas. O hemisfério
cerebral, no qual os fonemas foram
direito torna-se dominante nas
identificados para o reconhecimento
análises visuais, espaciais e
de radicais de palavras, prefixos
holísticas. Esta especialização
nominais, conjugações verbais, etc.
hemisférica determina as
Em sequência, os neurônios características do sistema neural
talâmicos transferem os resultados
envolvido na leitura.
do processamento realizado para o Conforme esse autor, as
córtex auditivo.
palavras encontradas no campo
Conforme Jourdaim (1998), a
visual esquerdo seriam identificadas
primeira tarefa do cérebro é ligar o
pelo hemisfério direito, sendo
que entra pelos dois ouvidos e testar
processadas no hemisfério
as diferenças nos sons que ouvem esquerdo. No entanto, a análise das
através dos corpos olivares.
relações espaciais partilhadas pelas
Toda esta estrutura existente diferentes palavras é melhor
no tronco cerebral se configura
analisada pelo hemisfério direito. O
como um sistema difuso ascendente resultado das análises deste
capaz de se comunicar com partes
processamento vai de um hemisfério

26
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

a outro através das porções essencialmente células de forma


posteriores do corpo caloso. piramidal cujas fibras arborizam
O autor afirma que é no extensamente no córtex oposto,
hemisfério esquerdo que a palavra onde exercem efeitos excitatórios
lida encontra o seu significado sobre neurônios-alvos de tipos
verbal. A identificação semântica da diversos.
informação verbal envolverá Para Lent, o corpo caloso
transações entre os sistemas sugere a existência de assimetrias
temporais esquerdo e direito, morfológicas e funcionais dos
através da chamada transferência hemisférios cerebrais e que a
inter-hemisférica, graças ao corpo linguagem é um exemplo típico
caloso. dessa assimetria.
Rocha (1999), afirma que, as Carpenter (1978) afirma que
informações visuais verbais são em relação à grande parte das
carregadas da retina para o córtex funções superiores, a dominância
pelo sistema magnocelular, que leva cerebral parece ser uma das mais
informações rápidas sobre baixo importantes. O autor preconiza que
contraste de luminância. Segundo o a dominância cerebral é mais
autor, a lesão de certos neurônios do completa em relação a aspectos
sistema magnocelular é um achado complexos e altamente evoluídos da
constante em pacientes disléxicos, linguagem. Segundo o autor,
em que essas lesões constituem existem um grupo de distúrbios
nódulos (ectopias) de crescimento relacionados a uma imperfeição da
anormal de neurônios que ocorrem dominância cerebral que se
por volta da décima sexta e vigésima manifestam na linguagem, como o
semana de gravidez. desenvolvimento inadequado da
As lesões corticais, por sua vez, leitura e da escrita (distúrbio de
induzem a lesões talâmicas, que leitura e escrita), da capacidade de
dependem da presença da desenhar e alterações espaço –
testosterona. Por esse motivo, a temporais.
dislexia afeta muito mais os homens
que as mulheres. A emoção na linguagem
Conforme Lent (1994), os
circuitos inter-hemisféricos são As palavras por si só não
capazes de veicular informações de bastam para dar significado ao que
um lado a outro do cérebro. Os se quer dizer, a maneira como se fala
neurônios calosos são muitas vezes pode mudar

27
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

completamente o significado das da mesma frase marcados por


palavras. Elas carregam de emoção a diferentes formas prosódicas,
mensagem e podem constituir o tipo sendo também incapazes de
de linguagem não verbal (ROCHA, produzir frases com diferentes
1999). entonações para expressar distintas
emoções.
Estudos do pesquisador norte
americano H. Sackheim revelaram
que a hemiface esquerda possui
maior carga emocional. Este fato é
em virtude do hemisfério direito do
cérebro, responsável pela questão
afetiva, conduzir o lado esquerdo
corporal. Portanto, afirma o
pesquisador, o hemisfério esquerdo
do corpo possui maior capacidade
de expressão emocional que o
direito (LENT, 1994).
Conforme Carpenter (1976), as
lesões unilaterais que afetam as
funções corticais podem resultar em
um distúrbio contralateralmente.
Este fato é observável no caso de
lesões do córtex parietal, as quais
podem ocasionar a estereognosia,
Para Rocha, o controle da isto é, incapacidade em reconhecer
emoção é uma atividade do forma, tamanho, textura e
hemisfério direito, sendo identificar objetos somente com o
atualmente considerado tato. Há evidências de que tais lesões
responsável por vários processos ocorrem mais frequentemente no
relacionados tanto ao hemisfério não dominante.
reconhecimento como à expressão A alteração da imagem
de diversos estados emocionais. Ele corporal é a consequência mais
preconiza que, pacientes portadores frequente desta síndrome, haja vista
de lesões hemisféricas têmporo- que o paciente: (1) não reconhece
parietais direitas são incapazes de parte de seu próprio corpo; (2) não
identificar os diferentes significados percebe a existência de uma

28
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

hemiparesia; e (3) se nega a lavar-se, O estudo da neurofisiologia da


barbear- se ou cobrir a parte do linguagem é de suma importância
hemisfério corporal afetado para profissionais que lidam de
(CRITCHLEY, 1953 apud forma direta e indireta com
CARPENTER, 1976). patologias da comunicação, como
Ao analisarmos a linguagem psicólogos, pedagogos, professores,
sob a ótica das neurociências, nos fonoaudiólogos, entre outros, pois
deparamos com um mundo possibilita compreender os
fascinante de conexões neuronais, processos neurais da constituição
de caminhos, áreas estratégicas de da linguagem e da
armazenamento e formação de comunicação, assim como seus
engramas através de experiências, distúrbios.
significados e significantes, que por
sua vez dá todo o sentido à nossa
vida social.
Neste jogo de influências
endógenas e exógenas sobre o
complexo organismo humano,
podemos afirmar que a experiência
muda o cérebro, pois de outra forma
não conseguiríamos explicar o fato
de que tenha levado dois mil anos
para a humanidade desenvolver um
código linguístico e uma criança
refazer este caminho de forma
aparentemente simples em
aproximadamente dois anos. Assim
como para a audição, que se
especializou ao ponto da música
fazer sentido para um ouvido e para
cérebro que se desenvolveram há
mais de 300 milhões de anos com
uma finalidade de detectar sons,
como mecanismo de proteção.

29
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

4. Avaliação Neuropsicológica

A avaliação neuropsicológica é
um método para se examinar o
encéfalo por meio do estudo de seu
distúrbios apresentados, visando à
“interpretação dos mecanismos a
eles subjacentes” (CAPOVILLA,
produto comportamental (Lezak, 1998, p. 38).
Howieson, Loring, 2004) e é Segundo Lezak et al. (2004), a
essencial não somente para a avaliação neuropsicológica pode ser
tomada de decisões diagnósticas, relevante para seis propósitos
mas também para o principais:
desenvolvimento de programas de a. diagnóstico;
reabilitação (ARDILA & b. cuidados com o indivíduo;
OSTROSKY-SOLÍS, 1996). Assim, c. identificação de tratamentos
necessários;
avaliação embasada na
d. avaliação dos efeitos de
neuropsicologia cognitiva busca tratamentos;
ultrapassar tanto a mera e. pesquisa e,questões forenses.
classificação do indivíduo em
relação a um grupo de referência, Em relação ao diagnóstico, o
quanto a mera descrição dos avanço das técnicas de

31
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

neuroimagem e dos exames de sua avaliação de bens e dinheiro,


laboratoriais diminuiu significativa- dentre outras.
mente a necessidade da avaliação Conhecer estes aspectos do
neuropsicológica para o diagnóstico paciente é fundamental para
da maior parte das lesões e estruturar o seu ambiente,
disfunções neurológicas. Porém, promovendo alterações se neces-
esta avaliação ainda é crucial em sário, de forma que ele tenha
determinados quadros, tais como as condições ótimas de reabilitar-se e
demências, traumatismos crânio- evitando possíveis problemas
encefálicos menores ou certas secundários, como atribuição
encefalopatias, visto que estes não exagerada de responsabilidade ou
são facilmente detectados nas de atividades que não estejam ao seu
técnicas usuais. alcance.
Além disso, mesmo quando Além de informações aos
exames de neuroimagem detectam a cuidadores, a avaliação neuropsico-
presença de lesões, a avaliação lógica pode auxiliar o direcionamen-
neuropsicológica é fundamental to da reabilitação, ao fornecer tanto
para esclarecer os seus correlatos dados sobre as áreas deficitárias do
comportamentais, sendo ainda indivíduo, quanto sobre as habili-
importante para o estabelecimento dades preservadas e o potencial para
do prognóstico dos pacientes em a reabilitação. A avaliação serve,
determinados quadros e para a ainda, para verificar as mudanças do
identificação precoce de certos indivíduo ao longo das intervenções
distúrbios que, em seu estágio realizadas, sejam elas cirúrgicas,
inicial, não apresentam alterações farmacológicas, psicológicas ou de
neurológicas óbvias. outra natureza. Identificar tais
Em relação aos cuidados com mudanças, que podem ser positivas
o indivíduo, a avaliação neuropsi- ou negativas, ajuda a rever as
cológica pode fornecer, aos intervenções, redirecionando-as
membros de seu convívio familiar e quando possível.
social, informações importantes Em relação à pesquisa, a
relativas às suas capacidades e avaliação neuropsicológica pode
limitações. Estas informações auxiliar a compreensão da atividade
incluem capacidade de auto- encefálica e da sua relação com o
cuidado, capacidade de seguir o comportamento, contribuindo para
tratamento proposto, reações às o estudo de diversos distúrbios. A
suas próprias limitações, adequação propósito, muitos dos testes

32
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

inicialmente desenvolvidos para psicossocial; e as individualidades


pesquisa têm se revelado úteis para neuroanatômicas e fisiológicas.
a prática clínica, tendo seu uso Para o estudo neuropsico-
ampliado na clínica para documen- lógico podem ser usados
tar o estado cognitivo dos indiví- procedimentos de comparação
duos. estandardizada ou não. Nos
Finalmente, em relação às procedimentos estandardizados, a
questões forenses, a avaliação avaliação do distúrbio é feita em
neuropsicológica tem sido relação a um padrão que pode ser
requisitada em casos sobre perda de normativo (ou seja, derivado de uma
funções legais ou danos corporais, população apropriada) ou individual
sendo útil para auxiliar decisões (derivado da história prévia do
sobre a presença de possíveis danos paciente e de suas características).
neurológicos e cognitivos que
estejam relacionados aos comporta-
mentos em questão (LEZAK et al.,
2004).
A avaliação neuropsicológica
envolve o estudo intensivo do
comportamento por meio de
entrevistas, questionários e testes
normatizados que permitam obter
desempenhos relativamente preci-
sos (LEZAK, 1995). O dano cerebral
é considerado um “fenômeno
multidimensional mensurável e que A avaliação neuropsicológica
requer uma abordagem de avaliação estandardizada tem sido
multidimensional” (LEZAK, 1995, p. grandemente influenciada pela
19). psicometria (GROTH-MARNAT,
Diversas condições que podem 2000; KRISTENSEN, ALMEIDA &
afetar as consequências de um dano GOMES, 2001; MÄDER, 1996).
cerebral devem ser consideradas, Conforme exemplificado por Wood,
tais como a natureza, extensão, Carvalho, Rothe-Neves e Haase
localização e duração da lesão; as (2001), os passos no
características físicas, de gênero e de desenvolvimento de um instrumen-
idade do paciente; sua história to de avaliação neuropsicológica
devem seguir os critérios para

33
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

desenvolvimento de instrumentos estabelecer com precisão em que


de avaliação psicológica em geral consistem os distúrbios que
(ALCHIERI, NORONHA, PRIMI, dificultam a realização de uma
2003), envolvendo a definição do prova, é necessário não se limitar à
construto psicológico a ser execução estandardizada da prova,
examinado, a operacionalização mas sim possibilitar a introdução de
deste construto de forma a mudanças específicas na aplicação
possibilitar a sua mensuração ao longo da avaliação (ARDILA &
experimental e/ou psicométrica, e a OSTROSKY-SOLÍS, 1996). Aliás, a
verificação das características flexibilidade na aplicação dos
psicométricas do instrumento de instrumentos é um aspecto central
avaliação neuropsicológica, que da avaliação neuropsicológica
poderá envolver a análise dos itens, (LEZAK, 1995).
análise da precisão e da validade do Na avaliação neuropsicológica
instrumento. formal são administradas provas
Assim, para conduzir de modo estandardizadas, mas, ao mesmo
apropriado a avaliação tempo, deve ser realizada uma
neuropsicológica e, especialmente, a observação detalhada das respostas
avaliação estandardizada gerais do paciente diante da prova e
normativa, é necessário dispor de da situação de avaliação (ARDILA &
instrumentos precisos, válidos e OSTROSKY-SOLÍS, 1996). Para
normatizados para uma tanto, paralelamente ao registro
determinada população. quantitativo das respostas, são feitos
É essencial, ainda, atentar às registros qualitativos da
habilidades que sofrem grande responsividade do paciente,
influência de nível de escolaridade reconhecimento de seus próprios
ou nível socioeconômico de modo a erros, respostas emocionais e
considerar, para comparação, o características de execução das
grupo específico ao qual o paciente tarefas, com ênfase no estudo
pertence. Em tais casos pode ser intensivo de casos individuais
preferível conduzir uma avaliação (CARAMAZZA & MARTIN, 1985;
estandardizada individual, e não KRISTENSEN ET AL., 2001).
normativa, para comparar as Para proceder à avaliação
habilidades atuais do paciente neuropsicológica, o examinador
neurológico com suas características deve planejar quais instrumentos
anteriores à lesão cerebral. usará em função de suas hipóteses
Além disso, a fim de sobre os distúrbios do paciente,

34
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

levantadas a partir de informações afetadas o mínimo possível


coletadas, por exemplo, na por fatores socioculturais e
entrevista inicial e nos educacionais;
3. ser aplicável com um mínimo
procedimentos diagnósticos de
de ajuda e instruções verbais,
outros profissionais. permitindo avaliação de
Usualmente, o examinador pacientes com severos
inicia a avaliação com uma bateria distúrbios de linguagem;
neuropsicológica básica que aborde 4. ter critérios de avaliação
as principais áreas do objetivos e bem definidos,
funcionamento cognitivo, possibilitando alguma
quantificação de forma a
permitindo posteriores decisões
permitir obter índices de
sobre a necessidade de usar validade e precisão;
instrumentos mais específicos e 5. requerer um mínimo de
refinados. As áreas usualmente recursos, aparatos e materiais
avaliadas nas baterias para a aplicação.
neuropsicológicas básicas são
atenção, processamento Segundo Golden (1991), os
visoespacial, memória, funções resultados de crianças submetidas à
linguísticas orais e escritas, cálculo, avaliação neuropsicológica devem
funções executivas, formação de ser analisados ainda com maior
conceitos habilidades motoras e cautela, considerando os fatores de
estado emocional (LEZAK, 1995). desenvolvimento e ambientais
Uma bateria básica não pretende ser envolvidos. Geralmente sua
exaustiva, devendo o examinador interpretação é mais complexa que a
decidir, posteriormente, sobre a interpretação de resultados de
introdução de outros instrumentos adultos com lesões cerebrais, mas
de avaliação. histórico de desenvolvimento
Segundo Ardila e Ostrosky- normal. Outros métodos, tais como
Solís (1996), uma bateria de a observação clínica e o diagnóstico
avaliação neuropsicológica deve ter médico, devem ser conjuntamente
as seguintes características: considerados para a interpretação
1. fundamento teórico sólido; dos resultados. São os objetivos
2. permitir explorar funções específicos de baterias de avaliação
básicas, isto é, formas neuropsicológica infantil:
fundamentais do a. auxiliar a identificação de
comportamento, resultantes lesão cerebral em crianças
da atividade do sistema com sintomas de etiologia
nervoso e, nesse sentido, incerta;

35
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

b. avaliar a extensão e a natureza bastante grave, a escassez de


de dificuldades em crianças instrumentos precisos, validados e
com lesões conhecidas de normatizados disponíveis para
modo a traçar procedimentos
pesquisa e diagnóstico, embora as
de intervenção;
c. avaliar os efeitos de estratégias pesquisas em neuropsicologia
de intervenção ou reabilitação tenham crescido e resultado em
sobre o funcionamento trabalhos valiosos. Nosso grupo de
neuropsicológico; pesquisa tem trabalhado nesta área,
d. analisar o efeito de diferentes com o desenvolvimento e a
tipos de lesões em diferentes validação de instrumentos de
populações; e
avaliação e de procedimentos de
e. testar suposições teóricas
sobre as relações entre intervenção (CAPOVILLA, 2007).
comportamento e sistema A seguir são apresentados, de
nervoso, a fim de confirmar, forma sumariada, alguns dos
expandir ou modificar instrumentos para avaliação
modelos atuais sobre o neuropsicológica que um grupo de
funcionamento cerebral em pesquisa coordenado por Capovila
crianças (GOLDEN, 1991).
tem desenvolvido no Brasil.
Como em qualquer outro Vários desses testes são
instrumento de avaliação informatizados, o que facilita o
psicológica, uma bateria de registro de parâmetros temporais
avaliação neuropsicológica infantil como tempo de reação e duração da
deve obedecer aos critérios de resposta. Alguns, inclusive, podem
precisão e validade (GOLDEN, ser aplicados de modo remoto via
1991). As normas de um Internet, possibilitando estudar
instrumento neuropsicológico para diferentes amostras espalhadas por
crianças podem ser traçadas para amplos territórios. Estudos
diferentes idades ou para diferentes buscando evidências de validade
níveis escolares (Lezak, 1995). destes testes têm sido conduzidos
com populações infantil e adulta,
Instrumentos utilizados no com e sem distúrbios
neuropsiquiátricos, incluindo
Brasil
dislexia, transtorno de déficit de
No Brasil, pesquisadores e atenção e hiperatividade, e
clínicos que trabalham com transtornos de ansiedade.
avaliação neuropsicológica ainda se Alguns instrumentos brasilei-
deparam com um problema ros destinam-se à avaliação de

36
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

diferentes habilidades de linguagem alta. Uma outra forma de avaliar


oral. Por exemplo, para avaliar o nomeação, desta feita em
vocabulário expressivo, isto é, quais conjunção com a habilidade de
palavras uma criança fala, está leitura, é por meio do Teste
disponível a Lista de Avaliação de Informatizado de Nomeação de
Vocabulário Expressivo, original- Figuras por Escolha (Capovilla ET
mente desenvolvida por Rescorla al, 2004), em que o examinando
(1989) e adaptada, validada e deve escolher, dentre quatro
normatizada para a população palavras escritas, a que melhor
paulista por Capovilla e Capovilla corresponde a uma figura.
(1998). Ela é destinada a crianças a Tem sido desenvolvidos,
partir de dois anos de idade, com o ainda, instrumentos para avaliar
objetivo de avaliar possíveis atrasos habilidades de metalinguagem, ou
de linguagem oral expressiva. seja, de reflexão intencional sobre
O vocabulário receptivo pode a linguagem. Dentre tais
ser avaliado por meio do Teste de instrumentos encontram-se a Prova
Vocabulário por Imagens Peabody, de Consciência Fonológica
que já foi traduzido e adaptado (Capovilla & Capovilla, 2004) e a
para o português, com a Prova de Consciência Sintática
disponibilização de dados de (Capovilla, Capovilla & Soares,
precisão, validade e normatização 2004).
para idade entre 2 e 14 anos Ainda em relação à linguagem
(Capovilla & Capovilla, 1998). oral, há o Teste de Repetição de
Contém 125 pranchas de teste, em Palavras e Pseudopalavras
que o examinando deve selecionar, (Capovilla, em preparação), com
dentre quatro figuras alternativas, a base no teste de Gathercole e
que melhor corresponde à palavra Baddley (1989). Para avaliar a
falada pelo examinador. fluência verbal, desenvolvemos uma
A nomeação de figuras pode versão informatizada do Teste de
ser avaliada por meio do Teste Fluência Verbal FAS, baseado em
Infantil de Nomeação (Capovilla, Benton e Hamsher (1989), que
Montiel, Macedo & Capovilla, no requer que o sujeito fale o maior
prelo), que possui as versões número possível de palavras
tradicional (em papel) e começadas com as letras F, A e S,
computadorizada. O examinando vê tendo um minuto para cada letra.
desenhos de linha e deve Em relação às habilidades de
pronunciar o seu nome em voz leitura, desenvolve-se o Teste de

37
DESENVOLVIMENTO MOTOR, DA FALA E DA LINGUAGEM

Competência de Leitura de Palavras estímulos relevantes. Está


- TCLP (Capovilla, Viggiano, disponível, ainda, o Teste de Stroop
Capovilla, Raphael, Mauricio & Computadorizado nas versões
Bidá, 2004), que avalia o uso neutra (Capovilla, Montiel, Macedo
diferencial das estratégias de leitura & Capovilla, 2005) e emocional
pelo examinando. (Montiel, Capovilla, Capovilla &
Paralelamente à avaliação do Macedo, no prelo).
reconhecimento de palavras, há o A avaliação das funções
Teste de Competência de Leitura de executivas pode ser feita por meio do
Sentenças (Capovilla ET al, 2004) Teste de Geração Semântica
que avalia as habilidades de (Capovilla, Cozza, Capovilla,
compreensão. Ambos os testes estão Macedo & Dias, 2006), também
disponíveis nas versões tradicional e informatizado, em que é solicitada a
computadorizada. A avaliação da geração de um verbo
escrita pode ser feita por meio da semanticamente associado a um
Prova de Escrita sob Ditado, que substantivo. Há, também, uma
apresenta itens com diferentes versão da Torre de Londres, que
características psicolingüísticas requer a transposição das três
(Capovilla & Capovilla, 2004). esferas que o sujeito deve rearranjar,
Para avaliar a atenção, o grupo uma a uma, a partir de uma posição
de pesquisa tem desenvolvido inicial fixa, de modo a alcançar
versões de alguns testes diferentes disposições finais
classicamente usados, tais como especificadas pelo aplicador.
testes de cancelamento, Teste de Para avaliar as habilidades
Trilhas e Teste de Stroop. O Teste de aritméticas, a Prova de Aritmética
Atenção por Cancelamento (Montiel (Capovilla, Montiel, Capovilla,
& Capovilla, 2006a) possui três 2006), que contém seis subtestes
partes que avaliam atenção seletiva para avaliar diferentes habilidades
e atenção alternada, sendo a tarefa relacionadas à matemática. Para
básica do examinando selecionar, avaliar o processamento
em uma matriz de estímulos, visoespacial, o Teste ImagéticaBaby
aqueles semelhantes ao estímulo- (Lopes ET al, 2006), um software
alvo. O Teste de Trilhas – Partes A e que apresenta pares de figuras
B (Montiel & Capovilla, 2006) bidimensionais para o julgamento
objetiva avaliar aspectos de de identidade, requerendo rotação
manutenção da atenção e mental para a solução da tarefa.
capacidade de alternar entre

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