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CRESCIMENTO E

DESENVOLVIMENTO MOTOR
AULA 1

Profª Izabela de Gracia Yabe


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, abordaremos aspectos gerais e conceituais do crescimento e


do desenvolvimento motor. Inicialmente, serão apresentadas as diferenças entre
os termos crescimento e desenvolvimento e a influência da maturação e da
experiência no processo de evolução da espécie humana. Em seguida,
estudaremos a classificação do crescimento segundo as idades cronológica e
biológica. Serão explicitados, também, os modelos teóricos para explicar o
desenvolvimento motor, como as teorias maturacional, ambiental, do
processamento de informação, ecológica e da montanha. Por fim, será
apresentado o modelo da ampulheta.

TEMA 1 – CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

Os processos de crescimento e de desenvolvimento ocorrem


concomitantemente e sua velocidade é determinada pela maturação e pelas
experiências vivenciadas pelo indivíduo. Vale ressaltar que crescimento e
desenvolvimento, embora indissociáveis, são processos distintos. Segundo
Malina, Bouchard e Bar-Or (2009), crescimento refere-se ao aumento no
tamanho do corpo ou de partes específicas do corpo. As alterações no tamanho
do corpo decorrem de três processos: hiperplasia (aumento no número de
células, resultante da divisão celular chamada mitose), hipertrofia (aumento no
tamanho das células, em decorrência do aumento de substratos e de proteínas
em seu interior) e agregação (aumento ou acréscimo de substâncias
intercelulares que agrupam as células em redes complexas).
O estudo do crescimento envolve o acompanhamento de aspectos como
tamanho atingido em estatura, nível de gordura, tamanho da massa muscular,
peso corporal, entre outros. O crescimento ocorre de forma diferente conforme os
tecidos e os sistemas corporais envolvidos. Sabe-se que os sistemas muscular,
esquelético, respiratório, circulatório, digestório e urinário apresentam um rápido
crescimento no início da infância (0 a 6 anos), seguido de um crescimento
constante na segunda infância (6 a 12 anos), um crescimento rápido durante a
adolescência (12 a 18 anos) e um aumento lento com estagnação do crescimento
após a adolescência (18 a 20 anos). Contudo, o crescimento do cérebro, do
sistema nervoso e dos olhos, da parte superior da face e de partes do crânio
apresenta um grande aumento até os sete anos, com um ganho constante após

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essa idade. As características sexuais primárias (mulheres: ovários, tubas
uterinas, útero e vagina; homens: testículos, vesícula seminal, próstata e pênis) e
secundárias (seios nas meninas, pelos pubianos e axilares em ambos os sexos e
pelo facial e crescimento da laringe em homens) apresentam um crescimento
constante e pouco significativo até a pré-adolescência e, durante a adolescência,
há um crescimento rápido.
Segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o desenvolvimento é um
processo contínuo de alterações no nível de funcionamento do organismo do
indivíduo desde a concepção até a morte. Para Haywood e Getchell (2004), é
um processo contínuo de mudanças na capacidade funcional, está relacionado
à idade (sem dela depender) e envolve mudanças ordenadas e sequenciais, que
são resultados da interação entre as características do indivíduo e do ambiente.
Conforme explicam Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o
desenvolvimento envolve os aspectos biológicos, motores, afetivos, cognitivos e
sociais do comportamento humano. Trata-se de um conceito mais amplo,
podendo ser biológico (processo de diferenciação e especialização das células
de tecidos, órgãos e unidades funcionais) ou comportamental (aquisição e
refinamento de competências nos diferentes domínios: social, intelectual, moral,
emocional e motor conforme a criança interage com o meio).
O desenvolvimento depende da maturação e da experiência. A maturação
é o processo de tornar-se maduro. É uma ordem de progressão que ocorre em
todos os tecidos, órgãos e sistemas do corpo e afeta enzimas, composição
química e funções, pela qual todo indivíduo deve passar. No entanto, o ritmo de
aparecimento dessas características varia de indivíduo para indivíduo. A
maturação pode ser analisada por dois componentes: o timing (momento em que
ocorre determinado evento maturacional) e o tempo (ritmo com que esses
eventos se manifestam, o quão rápido ou lento uma pessoa passa do estágio
inicial de maturação para o estágio maduro).
Já a experiência diz respeito aos fatores externos que podem modificar a
manifestação de várias características predeterminadas geneticamente. Refere-
se ao que foi vivenciado pela criança e que pode afetar o aparecimento de certos
padrões de comportamento. Assim, diferentes oportunidades e estímulos
internos e externos que a criança vivencia contribuirão para sua melhor
capacidade de aprendizagem de determinado movimento.

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O desenvolvimento motor, segundo Haywood e Getchell (2004), pode ser
definido como as alterações de desenvolvimento no movimento contínuo
relacionadas à idade, bem como os fatores responsáveis por essas mudanças.
Como explicam Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o desenvolvimento motor
é a alteração ao longo da vida do comportamento motor. Essas modificações no
comportamento motor resultam da interação entre as características do indivíduo
(hereditárias, físicas e mentais), as influências do ambiente (fatores vivenciados
de experiência e aprendizagem) e as tarefas ou atividades motoras que induzem
essas mudanças.

TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO

Para classificar o desenvolvimento, geralmente, é utilizada a idade


cronológica. A idade em anos, meses ou dias é calculada com base na data de
nascimento do indivíduo e fornece uma estimativa aproximada de seu nível de
desenvolvimento. No entanto, o desenvolvimento também pode ser classificado
pela idade biológica, a qual registra o progresso em direção à maturidade, sendo
uma idade variável que se aproxima da idade cronológica. A idade biológica pode
ser determinada pelas idades morfológica, óssea, dental e sexual. Vejamos a
seguir cada uma delas.

2.1 Idade morfológica

A idade morfológica determina o peso e a altura atingidos pelo indivíduo


segundo padrões normativos. O tamanho normativo foi determinado por Wetzel,
em 1948, com base na análise da estatura e do peso de uma grande amostra de
crianças saudáveis, cujos resultados permitiram a criação de escalas de peso e
de estatura. Assim, o tamanho atingido por uma criança ou o tamanho médio de
um grupo de crianças é comparado com dados de referência, apresentados na
forma de diversas curvas de diferentes percentis, que permitem avaliar
individualmente o status de crescimento de crianças.

2.2 Idade óssea

É determinada analisando-se o esqueleto em desenvolvimento. Pé,


tornozelo, joelho e quadril também podem ser utilizados para a avaliação da
maturação esquelética, porém mão e punho ainda são mais comuns. Essa

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avaliação geralmente é utilizada em pesquisas laboratoriais em virtude do alto
custo e dos efeitos cumulativos da radiação. A maturidade esquelética é o melhor
método para a avaliação da idade biológica ou do status de maturidade. As
estimativas da maturação óssea baseiam-se no pressuposto de que todas as
crianças começam com um esqueleto pré-natal cartilaginoso e têm um esqueleto
totalmente desenvolvido no início da vida adulta. É analisado o progresso de um
osso a partir de sua ossificação inicial, que se calcifica e se remodela até adquirir
a morfologia adulta.

2.3 Idade dental

A idade dental fornece a mensuração da idade de erupção e da


calcificação dos dentes desde a aparição das pontas até o fechamento das
raízes. É realizado um mapeamento progressivo dos dentes, procedimento feito
por meio de raio X dos sete dentes em um quadrante da boca (dois incisivos, o
cúspide, dois pré-molares ou bicúspides e o primeiro e o segundo molares).
Demirjian, Goldstein e Tanner (1973) estabeleceram os critérios para a
avaliação da calcificação desses dentes, baseados nas suas características
comuns. Foram descritos estágios específicos para cada dente à medida que se
sucede o início da calcificação das pontas para a formação da raiz e ocorre o
consequente fechamento da raiz no ápice do dente. Uma pontuação é atribuída
a cada estágio e a soma dos pontos prevê uma indicação de maturidade dental,
que pode ser convertida em uma idade dentária.

2.4 Idade sexual

A idade sexual é determinada pela maturação sexual, um processo


contínuo que se inicia com a diferenciação sexual no período embrionário,
passando pela puberdade até a maturidade sexual completa e a fertilidade.
O professor de educação física, ao elaborar suas aulas ou montar o
treinamento de seus alunos, deve ponderar não somente a idade cronológica,
mas também observar em que fase do desenvolvimento eles estão para não
correr o risco de propor atividades que sejam complexas ou simples demais para
o público com o qual está trabalhando.

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TEMA 3 – HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO MOTOR

O estudo do desenvolvimento motor surgiu no início do século XX.


Especialistas desenvolvimentistas construíram modelos teóricos de
desenvolvimento motor que o analisam sob diferentes olhares e refletem o
conhecimento, os interesses e as tendências de cada autor. Segundo Haywood
e Getchell (2004), um modelo teórico auxilia a entender as mudanças no
desenvolvimento dos movimentos ao longo da vida, oferecendo uma estrutura
para a observação dessas alterações. As principais teorias são a maturacional,
a ambiental, a do processamento de informação, a ecológica, a da montanha e
a da ampulheta de Gallahue.

TEMA 4 – MODELOS TEÓRICOS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR

4.1 Teoria maturacional

Os primeiros estudos do desenvolvimento motor foram realizados por


Arnold Gesell, em 1928, e por Myrtle Mcgraw, em 1935. Essas análises eram
embasadas na perspectiva maturacional, que se baseava em uma abordagem
inatista, segundo a qual o desenvolvimento motor é resultado dos processos
biológicos inatos do indivíduo. De acordo com essa teoria, o desenvolvimento
motor infantil é decorrente das características genéticas e hereditárias adquiridas
pelo indivíduo desde o nascimento.
O foco na maturação propõe que as habilidades motoras básicas advêm
de forma automática, pois são definidas geneticamente. Dessa forma, o
treinamento e a experiência não alteram o surgimento de novas habilidades.
Para essa teoria, os seres humanos desenvolvem habilidades motoras de uma
forma invariável e sequencial predeterminada, independentemente da
diversidade dos ambientes.
De acordo com a teoria maturacional, são observadas faixas etárias
universais caracterizadas por comportamentos fixos ou invariáveis que ocorrem
em fases ou estágios. Cada fase envolve o período de um ano ou mais e pode
ser acompanhada por um ou mais estágios. Os estágios foram propostos para
várias tarefas motoras fundamentais, as quais consideram a maturação do
sistema nervoso um importante indicador do desenvolvimento dos aspectos
físicos, motores, emocionais e sociais do comportamento humano.

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4.2 Teoria ambiental

A teoria ambiental foi proposta por Robert Havighurst, em 1972, e


considerava o desenvolvimento uma interação entre fatores biológicos, sociais
e culturais. A teoria propõe uma série de tarefas que devem ser realizadas para
assegurar a progressão apropriada do desenvolvimento do indivíduo. Para
Havighurst, existem metas motoras específicas determinadas pela sociedade,
as quais têm um tempo ideal de execução em todas as etapas da vida do
indivíduo até a velhice. Considera-se que existem momentos adequados para
aprender determinado movimento, resultante da individualidade biológica de
cada um e da exigência da sociedade na conclusão bem-sucedida de
determinada tarefa.
De acordo com essa teoria, usa-se o conceito de tarefa
desenvolvimentista tanto para descrever quanto para prever o comportamento
desde o período neonatal até a adolescência, sendo possível antever o sucesso
e o fracasso com base no desempenho do indivíduo em um estágio mais
precoce. A realização de determinada tarefa em certo período de tempo é pré-
requisito para a progressão de novas tarefas.

4.3 Teoria do processamento de informação

Nas décadas de 1970 e 1980, Richard A. Schmidt e Craig A. Wrisberg


estudaram os processos causadores de alterações no comportamento motor ao
longo do tempo. Essa fase envolve a teoria do processamento de informação.
De acordo com essa perspectiva, o cérebro age como um computador muito
complexo, recebendo informação, processando e respondendo com movimento.
Assim, o ser humano é um processador de informações, semelhante a um
computador. A informação é recebida pelos receptores sensoriais, sendo
codificada, armazenada e utilizada na tomada de decisões. O processo de
aprendizagem e de desenvolvimento motor é resultante de um input (estímulo)
externo ou ambiental.
O ser humano é passivo na aprendizagem, ou seja, ele espera que algum
estímulo ocorra no ambiente para, então, responder a ele. Schmidt e Lee (2016)
observam que, de acordo com essa teoria, o indivíduo começa a processar o
estímulo ou a informação quando a recebe e, depois, produz uma resposta
(resultado do processamento de informação).

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O estímulo é algo apresentado para o indivíduo como uma bola lançada
em sua direção, ou um som que é produzido. Assim, o ser humano precisa sentir
a presença do estímulo e começar a processar a resposta a ele. Existem três
estágios do processamento de informação: a identificação do estímulo
(percepção sensorial), a seleção da resposta (decisão a ser tomada) e a
programação da resposta (ação).
O feedback é outro conceito bastante discutido nessa teoria. Segundo
Schmidt e Lee (2016) e Magill (2011), o feedback é uma informação sensorial ou
advinda de uma fonte externa que ajuda a pessoa a entender melhor o que está
fazendo de errado no desempenho de uma habilidade esportiva e o que precisa
aprender para melhorar seu desempenho. A teoria do processamento de
informação estuda aspectos da performance, como atenção, memória e efeitos
do feedback nas diferentes faixas etárias para identificar os processos que
controlam e modificam o movimento.

4.4 Teoria ecológica

A teoria ecológica surgiu entre as décadas de 1980 e 1990 e enfatiza a


inter-relação entre indivíduo, ambiente e tarefa para o desenvolvimento de uma
habilidade motora. Existem duas abordagens ecológicas populares: a teoria dos
sistemas dinâmicos e a teoria do ambiente comportamental.
A teoria dos sistemas dinâmicos é fundamentada no trabalho de 1967 do
fisiologista russo Nikolai Bernstein e foi expandida por Kugler, Kelso e Turvey em
1982. Segundo essa teoria, o desenvolvimento é um processo contínuo-
descontínuo. A dinâmica da alteração ocorre ao longo do tempo de forma
individual, sendo influenciada por inúmeros fatores intrínsecos ao sistema. Os
sistemas derivados da tarefa, do indivíduo e do ambiente operam
separadamente e em conjunto para determinar o nível, a sequência e a extensão
do desenvolvimento.
A coordenação e o controle do movimento são o resultado de vários
sistemas que interagem e trabalham de maneira cooperativa. Dessa forma, para
essa teoria, o comportamento coordenado não é rígido, mas construído de modo
flexível, em que o ambiente, a tarefa e o indivíduo agem em conjunto como uma
unidade funcional, o que permite adaptar o movimento a diversas situações. Se
houver alteração em qualquer um deles (ambiente, tarefa ou indivíduo), o
movimento pode mudar. Ao analisar as modificações da inter-relação entre
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ambiente, tarefa e indivíduo, a teoria dos sistemas dinâmicos estuda o que
resulta no produto observável do desenvolvimento motor.
Já a teoria do ambiente comportamental é baseada nos trabalhos
desenvolvidos por Kurt Lewin entre 1930 e 1940 e por Roger Barker entre 1950
e 1970. Lewin usou o termo espaço vital para se referir a tudo o que influencia o
comportamento de uma criança em determinado período de tempo. Para Barker,
o ambiente comportamental, definido como as condições ambientais específicas
do espaço vital da criança, responde por grande parte da variação individual
entre as crianças. De acordo com o autor, o meio determina as ações esperadas
das pessoas em um ambiente comportamental específico. Assim, o ambiente
físico e os limites de tempo de um ambiente comportamental são fundamentais
na formação do comportamento esperado.
O trabalho de Urie Bronfenbrenner nas décadas de 1970 e 1990 é uma
extensão do trabalho de Barker e destaca os fatores do ambiente como
fundamentais para o desenvolvimento. No entanto, de acordo com sua teoria,
não é o ambiente comportamental em si que prediz o comportamento, mas a
interpretação e o significado para o indivíduo sobre o ambiente tanto no tempo
quanto no espaço. Portanto, é a compreensão da criança em relação ao
ambiente que orienta o comportamento. O autor valoriza o que as pessoas estão
fazendo, os papéis assumidos pelo indivíduo (pai, mãe, professor etc.) na
sociedade, as maneiras pelas quais as pessoas tratam umas às outras e o que
dizem e fazem naquele ambiente.
Para Bronfenbrenner, o modo de ser do indivíduo se modifica de acordo
com o contexto social e histórico em que ele vive. O ambiente pode ser
compreendido como um conjunto de sistemas que se inter-relacionam e que
influenciam o desenvolvimento da criança. Assim, qualquer mudança no
ambiente pode modificar um indivíduo.
Partindo do mais próximo do indivíduo para o mais distante, são cinco os
sistemas propostos por Bronfenbrenner que influenciam o comportamento do ser
humano: microssistema (influência dos grupos que apresentam contato direto
com a criança); mesossistema (interação entre os grupos do microssistema);
exossistema (representa os ambientes sociais nos quais a criança desempenha
um papel ativo, mas pode ser afetada indiretamente); macrossistema (a cultura
na qual um indivíduo existe e que afeta todos os outros sistemas, pois determina

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como eles podem ser expressos); cronossistema (eventos histórico-sociais da
vida de um indivíduo; expressa o momento de vida em que ele se encontra).
Essa teoria visa compreender a dinâmica das relações entre o indivíduo
e a sociedade e se destaca por indicar a influência dos diferentes grupos sociais
na vida de uma criança, determinando o que ela será no futuro.

4.5 Teoria da montanha

A montanha do desenvolvimento motor, proposta por Clark e Metcalf em


2002, é reconhecida mais como uma metáfora da montanha do que como um
modelo teórico. Nessa metáfora, o desenvolvimento motor é comparado a
aprender a escalar uma montanha. O tempo necessário para compreender
muitos movimentos é comparado à árdua subida de uma montanha. Chegar ao
topo pode ser interpretado como a melhor realização de proficiência de um
movimento ou de uma habilidade de movimento altamente qualificada. A subida
inclui a passagem por seis períodos do desenvolvimento motor humano:

 período reflexivo: caracterizado pelo processo de aprender sobre o


mundo por meio dos reflexos. Compreende o último trimestre do estágio
pré-natal e as primeiras semanas após o nascimento.
 período pré-adaptado: os reflexos começam a desaparecer ou a se
tornar inibidos e surgem movimentos voluntários.
 período do padrão fundamental: é estabelecido um conjunto suficiente
de movimentos para permitir uma quantidade e qualidade de habilidades
de movimentos na vida adulta.
 período específico do contexto: surgem oportunidades para expandir o
repertório para movimentos mais variados e avançados.
 período habilidoso: requer experiência e prática e não é alcançado por
todos. É influenciado pelo período anterior e, nele, um fornecimento amplo
e bem desenvolvido de habilidades de movimentos específicos contribuirá
para o desenvolvimento de níveis mais altos de habilidades.
 período de compensação: refere-se a uma adaptação aos efeitos de
algum tipo de influência negativa no organismo do indivíduo. Há dois tipos
de compensação: a que evolui da lesão e a que evolui do declínio
provocado pelo envelhecimento do meio até o término da idade adulta.

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Cada período é presumido para contribuir com a aquisição de habilidades
necessárias para o próximo nível. Tendo em vista que o desenvolvimento motor
está relacionado à idade, mas não é estritamente dependente dela, o tempo
gasto em cada período de desenvolvimento varia para cada indivíduo, sendo
altamente dependente de fatores como quantidade de experiência ou instrução,
qualidade de instrução e qualidades inerentes do indivíduo (entre elas altura,
força e velocidade de movimento, que regem a aquisição de habilidades
motoras). O desenvolvimento é uma função de adaptações ao longo da vida à
medida que aprendemos a integrar nossa estrutura pessoal e estrutural às
características funcionais do nosso ambiente.

TEMA 5 – TEORIA DO MODELO DA AMPULHETA

Modelo teórico mais adotado na comunidade acadêmica e científica, a


ampulheta heurística foi proposta por Gallahue em 1982 para analisar o processo
de desenvolvimento motor. A ampulheta é preenchida com areia, que simboliza
a vida. A areia vem de dois recipientes: um representa a hereditariedade e o
outro, o ambiente. O recipiente da hereditariedade tem tampa, o que delimita a
quantidade de areia que entra na ampulheta, significando que a estrutura
genética do indivíduo é determinada no momento da concepção e não pode ser
modificada nem aumentada com o tempo.
O recipiente do ambiente simboliza as experiências e todos os fatores
externos que influenciam o movimento humano e, ao contrário do recipiente da
hereditariedade, não tem tampa, o que possibilita, a qualquer momento da vida,
acrescentar mais areia e promover cada vez mais experiências motoras ao
indivíduo, independentemente da fase em que ele se encontra. Assim, a vida é
decorrente tanto de fatores externos (ambiente) quanto de fatores internos
(hereditariedade).
O processo do desenvolvimento motor é variável desde o nascimento até
o fim da vida. A maioria das crianças não se desenvolverá somente por fatores
hereditários. Influências ambientais como oportunidades de prática,
encorajamento e instrução em um ambiente adequado ao aprendizado, além de
exigências mecânicas e físicas de cada tarefa, são fundamentais para a
aquisição de habilidades motoras. Podemos observar a partir desse modelo que
o desenvolvimento é um processo ordenado e contínuo. No entanto, um

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indivíduo pode estar em estágios diferentes dependendo da habilidade e
encontrar-se em estágios diferentes de desenvolvimento da mesma habilidade.
A ampulheta pode se inverter. A época desse acontecimento é bastante
variável e depende de diversos fatores sociais e culturais. Segundo Gallahue,
Ozmun e Goodway (2013), no início dos 20 anos, a ampulheta se inverte porque,
nessa fase, há mudanças de comportamento significativas, como ingresso no
mercado de trabalho e aumento das tarefas domésticas e das responsabilidades,
o que diminui o tempo destinado à prática de atividades físicas que conservem
ou aprimorem as habilidades motoras dominadas na infância.
Para os autores, o modelo da ampulheta busca analisar e explicar a
progressão da aquisição de habilidades motoras pelo indivíduo por meio de fases
e estágios. Entretanto, as faixas etárias indicadas para cada fase de
desenvolvimento motor devem ser consideradas como orientações gerais e
servem apenas como forma ilustrativa. Cada pessoa deve ser analisada
individualmente e de forma progressiva.

NA PRÁTICA

Imagine que você está fazendo estágio em uma escola infantil de


ginástica. Você precisa explicar para os pais de um de seus alunos que
determinados movimentos que eles gostariam que seu filho já estivesse
realizando não são adequados para a idade cronológica e para a idade biológica
dele. Como você explicaria esse assunto, com base nos aspectos do
crescimento e do desenvolvimento humano?

FINALIZANDO

Nesta aula, estudamos os conceitos de crescimento, desenvolvimento,


maturação, experiência e desenvolvimento motor. Esclarecemos que o
crescimento está associado ao aumento do tamanho do corpo, ao passo que o
desenvolvimento é o processo relacionado ao crescimento e à modificação de
um organismo ao longo de seu período de vida, podendo ser biológico ou
comportamental. O desenvolvimento motor é a alteração do comportamento
motor com o decorrer do tempo em virtude das influências do ambiente, da tarefa
e do indivíduo. A maturação é o processo de tornar-se maduro, e a experiência

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é o que foi vivenciado pela criança e os fatores que podem afetar o aparecimento
de características do comportamento motor de um indivíduo.
Verificamos que a idade cronológica somente representa faixas etárias,
não sendo a forma mais adequada de estudar e classificar o desenvolvimento
motor. Existem outras maneiras de classificá-lo e que levam em consideração o
processo de desenvolvimento biológico do indivíduo. Destacamos, ainda, que o
estudo do desenvolvimento motor surgiu no início do século XX e que vários
pesquisadores desenvolvimentistas estabeleceram teorias que o embasaram.
É imprescindível que os profissionais de educação física compreendam o
movimento humano, pois o seu objeto de estudo é o corpo em movimento. Por
isso, é importante entender as classificações e conseguir distinguir a idade e a
fase do desenvolvimento motor em que cada indivíduo se encontra. Ao conhecer
as diversas mudanças que ocorrem no corpo humano do indivíduo ao longo de sua
vida e compreender o processo de aquisição e melhoria das habilidades motoras,
o professor terá maior facilidade para planejar e elaborar suas aulas, tornando-as
adequadas às necessidades de cada momento do crescimento e do
desenvolvimento de seus alunos.

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REFERÊNCIAS

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GALLAHUE, D. L. Conceitos para maximizar o desenvolvimento da habilidade


de movimento especializado. R. da Educação Física, Maringá, v. 16, n. 2, p.
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GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento


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HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da


vida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo:


Edgard Blücher, 2011.

MALINA, R. M.; BOUCHARD, C.; BAR-OR, O. Crescimento, maturação e


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SCHMIDT, R. A.; LEE, T. D. Aprendizagem e performance motora: dos princípios


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