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Desenvolvimento Motor
Ana Cristina

Estudos epidemiológicos têm demostrado o aumento da incidência do


Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) nas últimas décadas, este aumento
está relacionado, principalmente, ao melhor conhecimento da condição e desta
forma ocorre o aumento da quantidade de pessoas diagnosticadas.
A grande parte dos estudos estão direcionados à epidemiologia na
infância, entretanto em paralelo a este fato, tem-se observado também um
aumento dos diagnósticos feitos em adultos, pois apesar da tendência para
uma melhoria global da sintomatologia na idade adulta, esta condição não tem
cura e assim acompanham o indivíduo ao longo do seu ciclo de vida (RAMOS
et al., 2012).
Segundo as novas estimativas, cerca de 75 mil adolescentes autistas se
tornarão adultos a cada ano, disse em nota à imprensa, confirmando que o
autismo é uma questão de saúde pública.
O diagnóstico TEA em adultos tem grande possibilidade de ser realizado
a partir de uma iniciativa dos próprios, sobretudo quando eles procuram ajuda
médica para seus filhos. Aspectos comportamentais podem dizer muito sobre a
existência do autismo nesses indivíduos que já alcançaram a maioridade. A
antiga impressão de uma suposta timidez tende a revelar algo mais sério e que
necessita de investigação aprofundada feita por especialistas.
Com base neste fator, devemos entender que para além dos
diagnósticos tardios realizado em adultos, a população crianças com TEA tão
discutida, investigada e acompanhada nos dias de hoje, irá envelhecer. E este
fato traz a importância de se debruçar para compreender o seu processo de
envelhecimento e suas demandas.
Desde o desenvolvimento fetal os seres humanos apresentam a
capacidade de interagir com o ambiente através dos movimentos, é justamente
através dessa movimentação que a gestante consegue perceber a
movimentação do bebê no ventre. A princípio a movimentação ocorre de forma
reflexa em resposta a um estímulo sofrido, ou seja, não intencional, e ao longo

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do tempo essas ações tornam-se cada vez mais complexas e com potencial de
variabilidade de acordo com a intencionalidade do indivíduo.
Para este movimento voluntário realizado de forma a atingir um objetivo
com a máxima precisão, com o mínimo custo energético e no menor espaço de
tempo, dá-se o nome de habilidade motora (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).
Entretanto para se atingir a habilidade motora numa tarefa é necessário
que o ato motor seja praticado de forma a se tornar mais organizado e
coordenado. Para tanto é necessário a integração e o sincronismo de todos os
sistemas orgânicos, em particular sistema nervoso e o sistema músculo
esquelético, que através de um processo de estímulo e resposta, serão
capazes de receber as informações do ambiente e da tarefa, processá-las e de
forma hábil planejar, executar e, se necessário, corrigir o movimento.
Ao longo de todo o ciclo de vida do indivíduo, a habilidade motora
sofrerá alterações próprias do processo fisiológico do envelhecimento e será
diferente para cada um, pois têm relação direta com às características próprias
do indivíduo, como fatores genéticos, relacionados ao crescimento, maturação
e capacidade intrínseca, bem como, aos fatores ambientais em que o indivíduo
está inserido, como espaços físicos e socioculturais, além da própria tarefa a
ser executada que irá variar de acordo com o objetivo, as regras e interface
para realização.
Desta forma, ao analisar as fases do desenvolvimento humano no ciclo
de vida, será possível compreender que o indivíduo adulto, fisiologicamente
tem um declínio natural e esperado de suas habilidades motoras, este declínio
muitas vezes acontece não apenas pelo processo natural do envelhecimento,
mas também em somatória à um evento patológico adquirido que, por vezes,
impactará ainda mais na redução das suas habilidades funcionais.
Como já ressaltado o desempenho motor de um adulto depende de um
conjunto de variáveis, algumas podem ser modificáveis, como estilo de vida,
enquanto outras são resistentes a manipulações. Entende-se que por ser um
fator extrínseco ao indivíduo a variável ambiente/tarefa pode em algumas
situações ser modificada, entretanto se sabe que na vida adulta algumas
tarefas motoras exigem altos níveis de precisão, outras exigem grande
velocidade, e em alguns casos a combinação de ambas.

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Assim sendo, tarefas que no período da adolescência e juventude eram
simples de realizar, a partir do declínio fisiológico do envelhecimento,
senescência, onde ocorrem diminuição significativa tanto da capacidade de
precisão, quanto na velocidade de execução motora, interferindo na habilidade
motora com o passar dos anos.
Por esta razão é importante entender que para além das questões
relacionadas ao envelhecimento, o desempenho motor na fase adulta será
influenciado por outros fatores como, estado de saúde dos sistemas do
organismo, presença de condições clínicas e transtornos prévios,
características psicológicas, estilo de vida, exigências do ambiente e da tarefa
e muitas vezes a associação entre estes fatores.
Assim sendo, considerando que a presença de transtorno prévio pode
impactar no declínio fisiológico da habilidade motora durante o processo de
envelhecimento, ao avaliar um indivíduo adulto com TEA podemos inferir que
esta condição pode ter interferido tanto no desenvolvimento durante as fases
iniciais da vida, como também poderá interferir no processo de senescência.
Essa relação pode estar presente uma vez que o TEA, de acordo com
os critérios diagnósticos, é um transtorno no desenvolvimento neurológico que
causa impacto nas habilidades de comunicação, verbal ou não verbal, sociais e
comportamentais com atitudes e interesses restritos e repetitivos. Mas que
também, por meio das mesmas razões neurobiológicas que fazem com que
este indivíduo apresente essas características citadas, observa-se em uma
análise mais abrangente que outro aspecto, tão importante quanto os demais,
pode apresentar comprometimento nos indivíduos com TEA: o comportamento
motor.
Na avaliação do comportamento motor no TEA é possível identificar que
para além da presença ou não de movimentos repetitivos e estereotipados de
braços e pernas existe, muitas vezes, desafios motores que se apresentam na
competência postural, no tônus muscular, na coordenação, no planejamento e
controle motor adequado, que acabam por interferir na habilidade em realizar
atos motores complexos como por exemplo, a marcha.
A explicação destas manifestações motoras pode estar relacionada às
alterações de estruturas neurais que impactam diretamente no comportamento

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motor, desde a recepção e processamento da informação sensorial até o
planejamento e monitorização da execução do movimento. Estas estruturas já
foram identificadas na literatura científica, com a presença de alterações
morfofuncionais em indivíduos com TEA, como tálamo, hipotálamo, córtex
sensorial e motor, cerebelo, núcleos da base, entre outras.
Vale ressaltar que as alterações no comportamento motor, assim como
qualquer outra característica presente no TEA podem variar dentro de um
espectro de gravidade, desde nenhuma manifestação motora até muito
comprometimento com impacto em sua qualidade de vida e independência
funcional ao longo da vida.
Uma outra questão deve ser considerada, o combate ao sedentarismo
desde a infância, devido sua insalubridade, e ao impacto negativo nas
habilidades motoras. Estudos apontam que, crianças e adultos com autismo
correm risco de ter um estilo de vida inativo e obesidade, devido à tendência ao
comportamento sedentário.
Isto porque, é comum pessoas no TEA enfrentarem desafios únicos à
aptidão física, considerando os problemas de socialização, comunicação e
comportamentais, além dos aspectos sensoriais que podem dificultar a
participação numa atividade física, jogo ou brincadeira.
Desta forma é possível perceber que independentemente do nível de
classificação do TEA, nível 1, 2 ou 3, estes indivíduos podem persistir com
algum grau de alteração no comportamento motor ao longo da vida adulta, bem
como terem um declínio funcional maior, devido suas condições motoras
prévias, no decorrer do processo de envelhecimento.

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Referências Bibliográficas

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Graduação em Ciências do Movimento Humano. Escola de Educação Física.
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RAMOS J., XAVIER S., MORINS M. Adult Autism Spectrum Disorders and
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Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE. Dez. 2012. Vol. 10. N.º 2.

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