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Resumo
Abstract
Autistic Spectrum Disorder (ASD), commonly called autism, is a neurodevelopmental disorder. The objective of
this work is to present the effects of physical activity programs on autistic children. To this end, a bibliographic
research was carried out to deepen the theme to be developed. It is concluded that the favorable results, in the care
of autistic people, are conditioned to the action of the professional, since it is necessary to acquire skills to assist
this public. The participation of autistic children in physical activity programs goes beyond physical issues and
influences the ability to establish relationships with others.
Resumen
El Trastorno del Espectro Autista (TEA), comúnmente denominado de autismo, es un disturbio del
neurodesarrollo. El objetivo de este trabajo es presentar los efectos de programas de actividad física en niños
autistas. Para ello, se realizó una investigación de carácter bibliográfico para profundizar en el tema a ser
desarrollado. Se concluye que los resultados favorables en la atención a los autistas están condicionados a la acción
del profesional, pues es necesario adquirir competencias para atender a ese público. La participación de niños
autistas en programas de actividad física va más allá de cuestiones de carácter físico pues incide, también, en la
capacidad de establecer relaciones con el otro.
1 Aluna do curso de Licenciatura em Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter. E-mail:
anacgomes28@gmail.com.
2 Professora do Centro Universitário Internacional Uninter. E-mail: alzattar@gmail.com.
3 Professor do Centro Universitário Internacional Uninter. E-mail: mruiz4@hotmail.com.
A Educação Física e crianças com Transtorno do Espectro Autista: um cenário
1 Introdução
motoras e que tende a aumentar com a idade.” (BRUININKS; BRUININKS, 2005; MORATO,
1986, apud MORATO; RODRIGUES, 2014, p. 10). Essa proficiência está associada
positivamente à atividade física e inversamente à atividade sedentária das crianças
(WROTNIAK; EPSTEIN; DORN; JONES; KONDILIS, 2006).
Apesar disso, para Walter e Almeida (2002), que interpretam o autista como um ser
‘‘voltado para si mesmo’’. Esta característica individual os afeta em relação à inclusão e sua
discriminação pelo público que o rodeia — sejam adultos ou até mesmo crianças influenciadas
a não se relacionar. Mesmo com leis em defesa do direito de as crianças com necessidades
especiais ocuparem a comunidade escolar, professores e monitores ainda consideram esta
possibilidade um fardo pesado devido à necessidade de dar maior atenção à individualidade
biológica destas crianças. Pesquisadores das causas biológicas dos autistas, como Stephen
Scherer – diretor do Centro McLaughlin na Universidade de Toronto, acreditam “que cada
criança com autismo é como um floco de neve; cada uma é única. ” (SCHERER, 2015, n.p.).
deitada na cama, foi encurtada; pela manhã, o estado emocional obteve melhoras e as
habilidades motoras trabalhadas durante a intervenção foram aperfeiçoadas.
Ricco (2017) cita, também, o trabalho de Sarol e Çimen (2015), onde 59 indivíduos, de
4 a 18 anos, participaram durante 8 semanas em um programa de atividades voltadas para a
recreação, duas vezes na semana, por duas horas. O programa objetivava a melhora de
habilidades motoras básicas. Atividades incluíam práticas de equilíbrio, saltos, arremessos,
escalada e “catching” (capturar algum objeto tipo bola). Essa intervenção contribuiu
positivamente para o desenvolvimento emocional e físico dos indivíduos com autismo,
reduzindo seus comportamentos estereotipados e melhorando sua qualidade de vida como, por
exemplo, na funcionalidade física e emocional do participante.
O estudo conduzido por Pan (2010) examinou o efeito da natação em crianças autistas.
A experiência contou com 16 meninos que, durante 21 semanas (10 semanas treinando, uma de
descanso, e depois mais 10 semanas de treinamento), executaram sessões de natação de 90
minutos cada, 2 vezes por semana. Os resultados mostraram que eles melhoraram suas
habilidades físicas e sociais, além de diminuir problemas de comportamento antissocial. Essa
mudança se deve, provavelmente, ao fato dos instrutores darem um feedback positivo e
instruções individualizadas, o que aumentou a motivação dos alunos. Alguns discentes ficaram
bem próximos de seus instrutores, o que também gerou um aumento da autoestima.
Destaca-se, também, os resultados da pesquisa de campo de Franzoni e Marinho (2020),
que teve como intuito analisar o papel do professor de Educação Física em um programa de
esportes e lazer direcionado ao autista. Em uma análise preliminar, o texto parece destacar a
relevância do profissional; porém, conforme os relatos dos familiares, notou-se uma grande
mudança nos indivíduos autistas, tanto físicas quanto emocionais. Neste estudo, destaca-se o
sentimento de segurança dos pais no momento em que as crianças estão envolvidas com o
profissional que desenvolve o programa.
Outro aspecto que merece destaque na pesquisa de Franzoni e Marinho (2020) foi
exposto pelos familiares dos autistas: o aumento da interação social e a diminuição dos
comportamentos estereotipados. No conceito de interação social, destaca-se a segurança do
indivíduo ser quem ele deseja, agir da maneira que ele quer e não seguir padrões — fazendo
quantas repetições desejar e imitando o parceiro ao lado sem este notá-lo.
Percebendo que está livre durante uma brincadeira ou atividade de recreação, o autista
pode exacerbar, então, suas emoções limitadas, o que libera uma quantidade suficiente de
euforia que neutraliza todos os espectros. Nesse artigo, Franzoni e Marinho (2020) destacam o
uso da interdisciplinaridade na execução das atividades físico-recreativas aos participantes. O
Sancionada em dezembro de 2012, a Lei nº. 12.764 — que institui a “Política Nacional
de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista” — prevê que as
pessoas com autismo sejam consideradas oficialmente pessoas com deficiência, tendo o direito
de usufruir as políticas de inclusão vigentes no país. A inclusão, é, então, o primeiro passo da
rota de planejamento de uma aula, independente da área de gestão em que o professor atua.
O professor de Educação Física possui a base de seu trabalho alinhada à cultura corporal
de movimento; é seu propósito criar atividades físicas voltadas às descobertas das aptidões dos
alunos, habilidades e agilidades. O profissional que atua nesta área deve ter subsídios
suficientes para saber como e qual a melhor maneira de realizar a sua intervenção junto àquele
aluno que tem uma cultura corporal de seus movimentos restritos, devido à falta de habilidade
ou estímulos (oportunidade) (DAOLIO, 2004).
A pesquisa de campo de Gonçalves et al. (2019) apontou que 90% dos pais de autistas
entrevistados relatavam que a falta de orientação de profissionais preparados era algo que
dificultava a participação dos alunos nas aulas de educação física. Portanto, é possível que o
profissional de Educação Física não tenha a dimensão de sua atuação com esse público, pois
ele fica preso em suas atividades, somente reproduzindo movimento.
Para Copetti (2012), a participação do aluno com TEA nas aulas de educação física
precisa considerar todo um processo de inclusão e adaptação. Na formação do profissional, é
necessário compreender esse processo de inclusão e, ainda, estimular o constante respeito às
limitações daqueles que realizam as atividades propostas; ou seja, a participação não passa
apenas pela vontade da criança com TEA, mas pela atuação conjunta entre professor, escola e
aluno.
Para Serra (2004), a inclusão no ensino regular estimula vários benefícios em relação ao
comportamento da criança autista. Os principais progressos percebidos foram no
relacionamento com os colegas, no atendimento às ordens, e no interesse por brincadeiras.
Gomes et al. (2010) enfatizaram que o sucesso da permanência de alunos com TEA na escola
tem relação com o suporte de auxiliares de vida escolar. A existência de um estagiário que pode
se dedicar integralmente ao autista tende a tranquilizar os pais que deixam seus filhos na escola.
Além do apoio dos monitores e dos estagiários, há também a necessidade de espaço e
ferramentas didáticas esportivas para a prática da inclusão. Na pesquisa de Gonçalves et. al.
(2019), foram mencionadas algumas barreiras para a prática de atividade física, como a
ausência de espaços disponíveis a falta de orientação de profissionais preparados. Estes
resultados sugerem que a carência de atividades físicas em diversos grupos sociais envolve uma
série de fenômenos — que podem, ou não, serem vistos como barreiras ou facilitadores. Esta
pesquisa demonstra a possibilidade de inclusão de crianças com TEA em práticas regulares de
atividade física. Permite, também, àqueles envolvidos socialmente neste campo o entendimento
sobre as barreiras e os facilitadores que influenciam as práticas, o que embasa as políticas
públicas e o comportamento de profissionais e responsáveis para o processo inclusivo
(GONÇALVES et al. 2019).
Recomenda-se que o professor compreenda que o processo de inclusão nas aulas de
Educação Física não é o simples ato de adaptar a disciplina, mas é necessário adotar uma
perspectiva educacional que valorize a diversidade e seja comprometida com a construção de
uma sociedade inclusiva (CHICON, 2005); ou seja, a inclusão da criança e do jovem autista no
mundo esportivo requer| um profundo entendimento das características cognitivas, sensoriais,
motoras, comunicativas e de linguagem de cada criança e jovem assim como o conhecimento
de suas necessidades afetivas e sociais (SCHLIEMANN, 2013).
Com relação ao tipo atividade física que deve ser orientada, Tomé (2007, p. 240) afirma que
crianças autistas “aprendem e entendem melhor vendo do que ouvindo” e acredita que a
“melhor forma de ensinar as crianças autistas é através da demonstração”. O autor também
afirma que o professor deve utilizar essa técnica até que o aluno consiga executar a atividade
sem ajuda; deve-se estimular o discente a “adquirir a independência mesmo que, após muitas
tentativas, ele não consiga no momento, pois a persistência e o amor pela criança são os grandes
aliados do ensino. ” (TOMÉ, 2007, p. 240).
Outra prática pedagógica importante é aquela que prioriza repetições e estratégias
adaptáveis ao tempo de aprendizagem da criança. É possível que as repetições proporcionem à
criança com TEA a possibilidade de desenvolver habilidades de coordenação e
condicionamento e, até mesmo, ter um momento de experimentação do próprio corpo — o que
garante uma prática prazerosa e saudável. A preleção, indicada por Schliemann (2013, p. 37),
é outra prática importante; nela, o foco é familiarizar cada criança com TEA antes da aula:
A ideia, de acordo com o autor, é familiarizar a criança tanto com a tarefa quanto com
o ambiente em que irá ocorrer a aula.
4 Considerações finais
Ortega (2009) identifica quatro possíveis causas para o autismo e a quarta causa seria a
neurodiversidade (1999). O termo foi cunhado pela socióloga Judy Singer, diagnosticada na
época com a síndrome de Asperger. O paradigma da neurodiversidade vê o autismo como uma
diversidade da natureza humana pelo desenvolvimento neurológico atípico, consistindo,
portanto, em uma questão de identidade que não precisa ser tratada. Dessa forma, reivindicou
o respeito à diferença, às posições políticas e aos direitos (AKHTAR; JASWAL, 2013;
JAARSMA; WELIN, 2012; ORTEGA, 2009).
Conclui-se que o fato de aceitar os indivíduos autistas, em um espaço comum que
respeite direito de todos, já o torna incluso. Dentro da aplicabilidade educacional de ensino
superior, os discentes foram instruídos a adaptar as atividades físicas a qualquer tipo de
indivíduo. Deve-se respeitar sua individualidade biológica e não restringir o aluno devido a
causas incomuns, pois é nosso dever compreender que cada pessoa possui seu próprio tempo
para alcançar recursos motores individuais que lapidem seus movimentos.
Neste estudo, foi possível corroborar as concepções acerca dos benefícios da atividade
física para além do campo físico. As expectativas em relação ao impacto positivo dos exercícios
físicos e recreativos podem ser superadas, independente de idade, sexo, gênero, condição social
ou configuração genética. Esse novo ser humano nos dá mais uma razão para irmos além de
pesquisas científicas.
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