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Mini review

Benefícios Da Prática De Atividade Física Para O Desenvolvimento De


Crianças Autistas
Ellen Aniszewski1*; Hellen Almeida2; Aline Alvernaz3
1Dpto Teoria e Planejamento de Ensino, Doctoral Student, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro-UFRRJ, Brasil.
2Doctoral Student, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro-UFRRJ, Brasil.
3Physical Education Teacher.
*Corresponding author: Ellen Aniszewski, Dpto Teoria e Planejamento de Ensino, UFRRJ, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil,
+5521964894029.

RESUMO
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado pela dificuldade em estabelecer
relações sociais e um amplo conjunto de alterações na aquisição e uso da linguagem e no comportamento
motor. Atualmente não há uma cura consolidada para o autismo e a prática de atividade física tem sido
um recuso utilizado para minimizar seus déficits. O objetivo desse texto foi apresentar os benefícios da
prática de atividade física no desenvolvimento global de crianças autistas encontrados na literatura,
elencando as atividades utilizadas em pesquisas. Observou-se a predominância de atividades aeróbicas e
os principais benefícios foram as melhorias no comportamento motor, psicomotor e na interação social.
Conclui-se que prática de atividade física que causa um impacto positivo nas atividades essenciais e
cotidianas da criança com autismo.
Palavras-chave: Autismo; Atividade Física; Benefícios.

Introdução
O autismo, ou transtorno do espectro do autismo (TEA), é definido pelo Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-V1 como um transtorno do neurodesenvolvimento,
caracterizado por déficits persistentes na comunicação e interação social, além de movimentos repetitivos
e estereotipados. Atualmente não existe uma cura consolidada, no entanto, existem ações que objetivam
atenuar os desdobramentos do TEA, sendo as mais comuns o tratamento medicamentoso, a adesão de
atividades terapêuticas, atividades físicas e atendimento educacional especializado nas escolas.
Segundo dados do Center of Deseases Control and Prevention (CDC), existe atualmente um caso de
autismo em cada 59 indivíduos. Este dado mostra o número crescente de diagnósticos, o que pode estar
relacionado à identificação antecipada das características, antes mesmo dos três anos de idade, segundo
a Associação de Amigos do Autista (AMA). Congruentemente com esta demanda, nota-se a inserção destes
indivíduos nos espaços escolares, principalmente na educação básica e nos espaços terapêuticos e
esportivos como alternativa na condução do TEA. Aponta-se que o tratamento envolve uma equipe
multidisciplinar, formada por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas e educadores físicos
(dentre outros profissionais), que avaliam e desenvolvem um programa de intervenção personalizado, já
que nenhuma pessoa com autismo é igual a outra.
Indivíduos com autismo normalmente apresentam baixos índices de participação em atividades
físicas, incidindo em um estilo de vida pouco ativo e aumentando risco do desenvolvimento de obesidade
e doenças decorrentes.2 O risco de sobrepeso é estimado em 30,4% das crianças com TEA, valor superior
em relação às crianças sem TEA que é de 23,6%. 3 Ademais, esse afastamento das atividades corporais,
acaba agravando a dificuldade na interação social característica desse transtorno.
Benefícios da prática de atividade física
Os benefícios da prática regular de atividades físicas levam à ampla recomendação por médicos e
especialistas, para indivíduos de todas as faixas etárias, pessoas com alguma deficiência ou não, visto que
raras são as contra indicações absolutas à prática de atividade física. A OMS (Organização Mundial da
Saúde) vem tentando sensibilizar diferentes países quanto a prática regular de atividades físicas e a
necessidade emergencial de modificar o estilo de vida sedentário que se torna cada dia mais comum em
grande parte das sociedades. É importante salientar que os benefícios obtidos vão além da esfera física,
abrangendo a socialização, a expectativa e qualidade de vida, o controle de ansiedade e depressão.
A prática regular de atividades físicas contribui de forma positiva na redução de riscos
cardiovasculares, incidência de diabetes, da pressão arterial e ainda contribui para melhoria da densidade
óssea. Esses aspectos contribuem positivamente na melhoria da qualidade de vida. Percebe-se que quanto
mais precoce a atividade física for inserida na vida das crianças, mais benefícios ela desencadeará em seu
desenvolvimento, já que a primeira e segunda infância são os períodos em que a criança se encontra em
constante desenvolvimento para construção e evolução motora plena.4
A prática de atividade física por crianças autistas
Apesar de limitações no desempenho motor não serem necessariamente déficits decorrentes do
TEA, 79% dos autistas enfrentam dificuldades nesse sentido, comprometendo a capacidade de realização
das funções diárias.5,6 Quanto mais cedo estes estímulos motores e psicomotores forem trabalhados,
melhor será o desenvolvimento pleno, dando-lhes possibilidades motoras, cognitivas, melhorias em seu
desenvolvimento afetivo e social.4
Em indivíduos autistas, além dos benefícios citados anteriormente, a prática regular de atividade
física pode contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento da coordenação motora,
consciência corporal, interação social, independência cotidiana e capacidade cognitiva.3 A diversificação
de estímulos no que se refere a ampliação das possibilidades e vivências práticas, acarretará diferentes
efeitos em seus praticantes, ressaltando a importância de um plano de intervenção individualizado capaz
de focar nas áreas e atividades mais necessárias para o desenvolvimento global do autista.
Nesse interim, a atividade física direcionada, favorece o desenvolvimento das habilidades
motoras através dos jogos e atividades desportivas, proporcionando o desenvolvimento das suas
capacidades físicas, cognitivas e sensoriais. Permite ainda, a exploração do meio físico, a melhoria na
condição física, orientação espacial, autonomia e independência para a realização das atividades da vida
diária.7 Nota-se então a relevância da prática de atividades que objetivam os processos de integração e
estabelecimento de rotinas cotidianas a fim de contribuir em aspectos físicos e sociais da criança autista.
Nesse cenário, o professor de Educação Física exerce um papel fundamental na construção educativa do
autista, já que os programas de intervenção elaborados não devem visar apenas o desenvolvimento das
atividades propostas, mas também a melhoria das habilidades específicas em déficit nos indivíduos com
TEA. Assim, as melhorias obtidas se refletem para além dos locais de treinamento, estimulando a
autonomia para realizar tarefas simples do cotidiano.
Atividades em foco
A literatura direciona a prática de determinadas atividades físicas por indivíduos autistas através
de pesquisas com resultados positivos em relação aos benefícios para esse grupo específico. Dentre essas
atividades estão a corrida2, minitrampolim2,8, atividades aquáticas9, equitação7, patinação5, além de planos
de intervenção de atividades físicas mais diversificados10,11. Nesses estudos, há uma predominância das
atividades aeróbicas o que aumenta o gasto energético da criança e favorece a mudança de foco das
estereotipias e autolesões, pois demanda maior envolvimento corporal e atenção para a execução da
atividade.
É relevante frisar que não existe um plano de exercícios ideal para pessoas com autismo, e que a
mesma atividade pode gerar resultados diferentes em cada participante, por isso é importante avaliar as
caraterísticas individuais e os objetivos pretendidos. No entanto, sugere-se a prevalência de atividades
coletivas com vistas a atenuar a tendência ao isolamento e favorecer a integração e melhoria do
comportamento social.
Considerações Finais
A partir do presente texto, é possível afirmar que a prática de atividade física regular se mostra
benéfica para crianças diagnosticadas com o transtorno do espectro do autismo, influenciando
positivamente seu desenvolvimento psicomotor, sua coordenação motora, agilidade, velocidade, força,
além de reduzir comportamentos estereotipados e contribuir nas habilidades sociais e em seu
engajamento em atividades.
Conflicts of interest
Authors declare that there is no conflict of interest.
Funding
None.
Referências
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edição. 2013.
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