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Instrumentos de Avaliação
Ana Cristina

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é definido pela presença de


comportamentos característicos desde a primeira infância com variação
individual de seus impactos, a condição se perpetua de forma vitalícia, mas
pode ter suas manifestações amenizadas com intervenção adequada,
principalmente quando esta intervenção se inicia de forma precoce.
Apesar do reconhecimento de que não existe cura para o TEA, ainda
existem poucos estudos abordam adultos e idosos, quando comparados aos
estudos em crianças.
Ao considerar a estimativa mais recente, feita pelo Centro de Controle
de Doenças (CDC) dos EUA, de uma prevalência de 1,5% das crianças estão
dentro do espectro do autismo, em associação ao fato real do envelhecimento
da população ocidental, se faz necessário um aumento dos estudos que
investiguem todos os aspectos do TEA na população de adultos e idosos, para
que seja possível uma abordagem especializada nas demandas destas fases
do ciclo de vida, uma vez que será uma questão crescente e importante de
saúde pública mundial.
Uma forma de se preparar para esse futuro próximo, está relacionado
aos estudos epidemiológicos que irão buscar da real prevalência destes
indivíduos na população em geral. Este levantamento populacional esbarra na
melhoria da identificação e avaliação destes indivíduos.
Quando se considera a avaliação da população adulta com TEA, é
necessário estabelecer o que precisa ser avaliado, quais comportamentos
estão impactando em sua funcionalidade e participação no atual ciclo de vida.
Isto se faz necessário pois existem diversas possibilidades para a busca de um
profissional, e isto depende muitas vezes de como foi a história deste adulto
até então.
Hoje existe uma grande demanda tanto para acompanhamento quanto
para diagnóstico de adultos. Em alguns casos, o que se encontra são aqueles
indivíduos que foram diagnosticados ainda na infância e que continuam sendo
acompanhados e precisam neste momento de ajustes para o atual ciclo de

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vida, na busca da melhora ou manutenção de autonomia e independência,
independentemente do nível de classificação para o TEA.
Entretanto, outros estão em busca do diagnóstico tardio, seja por
inadequado manejo na infância, ou por apresentarem comportamentos menos
impactantes do ponto de vista da sua funcionalidade e que se adaptaram até
então.
Neste contexto, fica evidente que existem vários desafios para o
diagnóstico de TEA no adulto. Considerando os casos dos adultos com história
pregressa de dificuldades sociais, educacionais e de comportamento, mas que
nunca procuraram se aprofundar na investigação ou até procuraram, mas o
diagnóstico não foi adequado.
Para estes indivíduos o diagnóstico torna-se difícil, principalmente
quando não se consegue apurar adequadamente a história do desenvolvimento
pessoal, limitações em relação à memória, identificação da presença de
sintomas precoces, correlato de familiares ou registros médicos. E pode se
tornar mais difícil ainda, quando as dificuldades na linguagem e comunicação
ou a deficiência intelectual está associada.
Em casos assim de maior dificuldade diagnóstica, não se deve privar o
indivíduo de uma avaliação global dos aspectos motores, de independência, de
autocuidado além das questões acadêmicas e profissionais, se for o caso.
Entretanto a questão da participação e funcionalidade do indivíduo deve ser o
ponto de partida, uma vez que o objetivo deve ser traçado em conjunto com ele
e/ou com o responsável.
As habilidades motoras devem ser avaliadas em relação a
independência de transferência, trocas posturais e locomoção, como também
no planejamento e execução das tarefas de vida diária que estão relacionadas
às habilidades de autocuidado, como se vestir, cuidar da higiene, se alimentar
de maneira independente.
O autocuidado precisa, além das questões motoras de planejamento e
execução, o julgamento em relação as escolhas, ao momento que deve ser
realizado e a autocrítica da qualidade do cuidado. Estas questões podem ser
avaliadas com instrumentos qualitativos que medem a funcionalidade, como

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também a partir de instrumentos de autoeficácia, onde o indivíduo se
autoavalia em relação a sua capacidade, desempenho e participação.
Quando este tipo de avaliação é proposto, é necessário se ter uma
maior compreensão da funcionalidade deste adulto. Qual seu nível de
independência, quais suas dificuldades, o que ele quer melhorar, o que se
espera dele, qual a trajetória que ele traçou até este momento, são questões
extremamente relevantes que irão direcionar a abordagem terapêutica.
Uma outra forma, muito comum e cada vez mais frequente, de acontecer
o diagnóstico de um adulto com TEA, quando este próprio indivíduo tem um
filho que recebe o diagnóstico de TEA ou de outro transtorno do
neurodesenvolvimento e existe uma semelhança e identificação própria das
manifestações clínicas com às que ele mesmo apresentou na infância.
Alguns comportamentos que podem apontar para o diagnóstico de TEA,
principalmente na idade adulta, estão relacionados a demandas sociais e de
comunicação interpessoal como: dificuldade de interação com outras pessoas
e manter relacionamentos, dificuldade na manutenção do contato visual,
inabilidade em compreender figuras de linguagem e sarcasmo, presença de
gestos repetitivos ou expressões verbais atípicas, apego a rotinas e/ou padrões
ritualizados de comportamento.
Questões relacionadas ao comportamento motor, a princípio, podem não
ser um problema para estes indivíduos com as características comportamentais
apontadas, entretanto não é irrelevante pesquisar e avaliar como estão suas
habilidades motoras, devido à tendencia ao isolamento social ao
comportamento sedentário.
Em casos assim, a demanda costuma ser de acompanhamento do
processo natural do envelhecimento, a orientação para a realização de
atividades físicas que o interessa, para prevenção de questões sensório
motoras que possam impactar em associação ao declínio funcional do
envelhecimento.
Uma vez que existem pessoas que tiveram o diagnóstico feito na
infância, independente do nível funcional do TEA e que estão precisando ou
buscando orientação por questões relacionadas à demanda das questões da
vida adulta. É possível que o indivíduo esteja enfrentando o declínio natural do

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envelhecimento e por esta razão necessite de ajuste sensório motor para esta
necessidade. E a avaliação necessária que deve acontecer neste momento
será direcionada à queixa principal do indivíduo.
Além destas questões que já estão mais documentadas na literatura, é
preciso lançar luz ao acompanhamento desta população de adultos e idosos,
para que se possa identificar como eles envelhecem, entender se as condições
clínicas de alta incidência no adulto, como o acidente vascular cerebral e a
Doença de Parkinson, se mantem com a mesma distribuição na população com
TEA quando comparada com a população em geral.
A despeito do nível de classificação do TEA é importante ressaltar que
os instrumentos de avaliação utilizados para identificar níveis de
funcionalidade, ou de incapacidade, não são específicos para esta população,
sendo necessário apontar esta limitação na interpretação dos resultados
padronizados.

Referências Bibliográficas

SATO P. F.; MERCADANTE M. T. A Clínica Psiquiátrica: Transtornos


Invasivos do Desenvolvimento, (1085- 1093), 2011.

BOSA C. A. Autismo: intervenções psicoeducacionais. Rev. Bras. Psiquiatr.


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MURPHY M. et al. Autism spectrum disorder in adults: diagnosis,


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LINKE A. et al. Impaired motor skills and atypical functional connectivity of the
sensorimotor system in 40-65 year old adults with Autism Spectrum Disorders.
Neurobiol Aging. Jan; 85: 104–112, 2020.

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