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Orientações para as famílias

ADRIANA AUZIER LOUREIRO BARBOSA FERREIRA


CARLOS YAGOR SILVA NASCIMENTO
NATHALIA CAROLINE VASCONCELOS J. DE SALES
A ideia da elaboração do manual Transtorno de Espectro Autista (TEA) - Orientações
para as famílias surgiu da necessidade de esclarecer as dúvidas e responder aos
questionamentos das famílias sobre diversas situações do dia a dia enfrentadas junto aos seus
filhos com TEA, durante os atendimentos no ambulatório de pediatria do desenvolvimento.

O quadro clínico do TEA e a sua evolução, as dificuldades na higiene pessoal, os


desafios na alimentação e no sono, as medidas de segurança e a falta de informação sobre as
leis e os direitos da pessoa com deficiência foram as principais dúvidas assinaladas em um

questionário objetivo, elaborado pelos residentes de Pediatria da Universidade Federal do

Amazonas-UFAM, que foi aplicado aos pais e/ou cuidadores dos pacientes que realizam
acompanhamento médico e seguimento terapêutico no Espaço Municipal do Autismo na

cidade de Manaus-Amazonas.
A análise das respostas obtidas na pesquisa acadêmica serviu de base para a
elaboração do manual, que visa capacitar os pais e cuidadores a trabalhar com a criança no

âmbito domiciliar. Existem diversos estudos que comprovam a eficácia do treinamento


parental.
Esse manual fornece em linguagem simples estratégias factíveis para melhorar a
qualidade de vida em diferentes contextos e ensina a dirigir competências para autonomia das

crianças e jovens com TEA.


Adriana Auzier Loureiro Barbosa Ferreira
CRM-AM 2877 RQE1137

Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Amazonas


Residência Médica em Pediatria pelo Hospital Universitário Getúlio Vargas.
Pós graduação em Neonatologia pela Universidade Gama Filho
Pós graduação em Psiquiatria e Saúde Mental da Infância e Adolescência pelo
Centro Universitário Celso Lisboa /CBI of Miami
Membro do Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Pediatria de
Comportamento e Desenvolvimento
Preceptora residência de Pediatria da Universidade Federal do Amazonas e
Universidade do Estado do Amazonas
Pediatra do ambulatório de autismo do Espaço Municipal de Atendimento ao Autista
Amigo Ruy (EAMAAR)

Carlos Yagor Silva Nascimento


CRM 233528SP/ 12201AM

Graduação em Medicina, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho


Pós graduado em medicina de Urgências e Emergências Hospital Israelita Albert
Eistein.
Médico residente de Pediatria pelo Hospital Universitário Getúlio Vargas/ Universidade
Federal do Amazonas/ EBSERH
Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (Projeto Médico-Residente)

Nathalia Caroline Vasconcelos J. de Sales


CRM AM 11025

Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Amazonas;


Curso de Especialização em Saúde da Família pela Fundação Oswaldo Cruz / Fiocruz Mato
Grosso do Sul;
Médica Residente de Pediatria no Hospital Universitário Getúlio Vargas / Universidade Federal
do Amazonas / EBSERH
Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (Projeto Médico-Residente)

Participação/Ilustrações
Vinicius Castilho Bezerra
17 anos, diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista
O que é Autismo? 1
Como é feito o diagnóstico? 1
O Autismo tem cura? Tem tratamento? 2
Quando desconfiar que a criança tem TEA? 3
Sinais de Alerta! 3
Atenção aos sinais sugestivos de TEA 4
Estratégias para diminuir a seletividade alimentar 5
Sinais que a criança com TEA pode apresentar 5
Ensinando habilidades de alimentação 6
Estratégias não medicamentosas para melhora do sono 7
Estratégias para reduzir o tempo de tela 8
Segurança contra acidentes domésticos 9
Treinando a criança para o desfralde 10
Treinando a criança para cortar o cabelo 12
Cuidados com a higiene pessoal 13
Quais são as leis e direitos da pessoa com Autismo? 15
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do desenvolvimento
neurológico, caracterizado por dificuldades de comunicação, interação social e pela presença de
comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos.
O TEA tem origem nos primeiros anos de vida, mas sua trajetória inicial não é uniforme.
Em algumas crianças, os sintomas são aparentes logo após o nascimento. Na maioria dos
casos, no entanto, os sintomas do TEA só são consistentemente identificados entre os 12 e 24
meses de idade.
O autismo se manifesta em indivíduos de diversas etnias ou raças e em todos os grupos
socioeconômicos. Sua prevalência é de 1 caso para cada 36 crianças de 8 anos, segundo o
Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do governo dos Estados Unidos em 2020,
afetando mais meninos que meninas na proporção de 3,8 para 1 respectivamente. A causa do
autismo ainda é desconhecida, sendo relacionada a vários fatores, envolvendo fatores
genéticos e ambientais.

O diagnóstico é clínico, feito por profissionais especializados, utilizando


técnicas próprias baseadas em entrevistas correlacionadas com a
observação do comportamento da criança. A colaboração dos pais e/ou
responsáveis é fundamental durante esse processo diagnóstico. Não
existem exames específicos para confirmação diagnóstica, no entanto,
alguns exames podem ser necessários no processo de investigação para
descartar outros problemas como: exames auditivos (de ouvido), visuais
(de vista), metabólicos e genéticos (de sangue).
A utilização da Caderneta de Saúde da Criança, através do
Instrumento de Vigilância do Desenvolvimento, do Modified
Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT R/F) - questionário
de triagem exclusivo para sinais precoces de autismo e de
outros instrumentos para a avaliação do comportamento e
desenvolvimento infantil são parte dos métodos
diagnósticos para os transtornos do
neurodesenvolvimento (M-CHAT R em anexo).

Ilustração: Vinicius Castilho Bezerra, 17 anos


Diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista 1
O AUTISMO tem cura?
tem tratamento?
O autismo não tem cura e não é considerado uma doença, e sim um transtorno do
desenvolvimento neurológico. Quanto antes for realizado o diagnóstico e o tratamento especializado,
melhor o prognóstico, isto é, melhor será o desenvolvimento da criança.
O tratamento padrão-ouro é a intervenção precoce, que deve ser iniciada tão logo haja
suspeita ou imediatamente após o diagnóstico por uma equipe multidisciplinar.
Consiste em um conjunto de modalidades terapêuticas que visam aumentar o potencial do
desenvolvimento social e de comunicação da criança, proteger o funcionamento intelectual reduzindo
danos, melhorar a qualidade de vida e dirigir competências para autonomia, além de diminuir as
angústias da família e os gastos com terapias sem bases de evidência científicas.
Cada criança com TEA apresentam necessidades individualizadas, que estão de acordo com a
sua funcionalidade, sua dinâmica familiar e a quantidade de recursos que a comunidade oferece e,
portanto, necessita de uma avaliação terapêutica personalizada que permita o estabelecimento de um
plano individualizado de intervenção.
O indivíduo com autismo necessita de muito amor, carinho, compreensão e atenção. Ele deve
ser respeitado, incluído no meio social (família, escola e comunidade) e estimulado a acreditar em seu
potencial.

2
ACOMPANHE OS MARCOS DO DESENVOLVIMENTO DO SEU FILHO(A):

^
1 mes Observa o rosto humano;
2 meses Tem sorriso social, ampliação do campo visual, segue objetos com o olhar,
reage a estímulos sonoros, fica de bruços levantando cabeça, abre a mão e
emite algum som que não é choro;
4 meses Agarra objetos com a mão voluntariamente, busca estímulos sonoros e senta
com apoio;
6 meses Vira o rosto em direção a estímulos sonoros, tenta buscar um brinquedo com a
mão e rola na cama;
6-9 meses Senta sem apoio, engatinha, apresenta reações a pessoas estranhas;
9 meses Transmite objetos de uma mão para outra, balbucia, estranha pessoas fora do
seu convívio, brinca de “esconde achou” e faz movimento de pinça rudimentar;
12 meses Começa a andar, bate palmas, acena, combina sílabas e faz pinça completa;
18 meses Fala palavras, anda, rabisca, obedece a ordens, nomeia objetos, usa talher e
constrói torre com 3 cubos;
2-3 anos Diz o próprio nome, reconhece-se no espelho, brinca de faz de conta, sobe
escadas, corre, formula frases simples, retira peça de roupa, brinca com bola e
brinca com outras crianças.

TEA – MANUAL SBP 2019

6 meses Poucas expressões faciais, baixo contato ocular, ausência de sorriso social e
pouco engajamento comunicativo.
9 meses Não faz troca de turno comunicativa, não balbucia “mamã”/papa”, não olha
quando chamado, não olha pra onde o adulto aponta, imitação pouca ou
ausente.
12 meses Ausência de balbucios, não apresenta gestos convencionais (abanar para dar
tchau, por exemplo), não fala “mamãe/papai”, ausência de atenção
compartilhada.

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AOS SINAIS SUGESTIVOS DE

RESPONDA AS QUESTÕES:

A criança evita contato visual?


A linguagem parece diferente?
Não responde quando é chamado? Parece ser surdo?
Faz movimentos repetitivos, sem motivo aparente?
Costuma mexer com os dedos e mãos de forma peculiar?
Repete frases e outros conteúdos que ouviu em filmes ou desenhos animados?
Costuma emitir sons e palavras repetidas, fora do assunto?
Isola-se dos colegas sem motivo?
Confunde-se com frases de sentido figurado e leva tudo ao pé da letra?
Comunica-se melhor apenas quando fala de temas de seu interesse?
Brinca com os objetos e brinquedos de maneira inusitada?
Reage excessivamente a barulhos altos ou a contato físico?
Tem pouca noção de situações perigosas?
Parece ter reduzida capacidade de abstração, ou seja, imaginar?
Apresenta interesse exagerado em assuntos muito específicos?
Segue rotinas próprias muito rígidas? Incomoda-se quando foge da rotina?

Se a criança não atingiu os marcos do desenvolvimento para a idade e/ou a grande maioria das questões
acima foram positivas (SIM), torna-se fundamental a avaliação clínica por um profissional especializado,
com o objetivo de identificar atrasos e desvios do desenvolvimento de forma precoce e assim iniciar o
tratamento específico.

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Crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam dificuldades
em relação à escolha dos alimentos e à dinâmica dos momentos de refeição. Estima-se que estes
problemas afetem de 45% a 75% delas. Elas apresentam dificuldades alimentares, especialmente
em relação à aparência, textura e cheiro dos alimentos. Existem também associações frequentes
(até 91%) de sintomas gastrointestinais, como constipação e diarreia. Além de manifestações
alérgicas (respiratórias ou alimentares) e autoimunes.
Alguns casos são extremamente graves que levam a uma restrição alimentar significativa.
Dependendo da gravidade da seletividade alimentar torna-se extremamente importante uma
avaliação por profissionais especializados (gastroenterologista, terapeuta ocupacional,
nutricionista, psicólogo, fonoaudiólogo).

Menor repertório de alimentos;


Seletividade alimentar;
Fixação em determinados utensílios, marcas e
embalagens;
Dificuldade em permanecer sentado à mesa e em
comer com a família;
Alterações de motricidade oral, dificuldades com a
ingestão de remédios e a retenção de alimentos na
boca por períodos prolongados.

Problemas relacionados à socialização dificultam o ato de comer em grupo e tornam


o aprendizado por imitação mais difícil. Problemas alimentares podem conduzir a um
prognóstico ruim sob o ponto de vista nutricional, causando déficits, excesso de peso
e até obesidade em alguns casos.

Ilustração: Vinicius Castilho Bezerra, 17 anos


Diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista 5
A introdução de alimentos exige uma parceria boa da família e muita tranquilidade no
processo, pois existem crianças que aceitam o contato com os alimentos, embora não os comam
e existem crianças que se recusam a ter contato com os alimentos, apresentando reações, como
náuseas e problemas graves de comportamento.
A maneira como os cuidadores apresentam os alimentos, como lidam com as recusas e
preferências da criança, a rotina da alimentação (horários e locais), os modelos que a criança tem
(o que os familiares e cuidadores comem) e as questões sensoriais como a maneira que a criança
reage a algumas aparências, texturas, cores, cheiros e sabores são importantes nesse processo.
As questões sensoriais e comportamentais se misturam no contexto da alimentação e o
cuidador deve estar atento a ambos.

ESTRATÉGIAS
QUE PODEM AUXILIAR NAS QUESTÕES COMPORTAMENTAIS E SENSORIAIS:

Organize os intervalos da alimentação e evite oferecer alimentos nos intervalos;


Comece a introduzir alimentos novos que tenham características em comum com os alimentos que a
criança já está acostumada a comer;
Comece variando a marca do item que a criança gosta de comer;
Tenha a rotina de apresentar novos alimentos;
Apresente os alimentos gradativamente e não obrigue ou force a criança a comer;
Valorize o interesse e o esforço da criança;
Misture alimentos que a criança já consome com alimentos novos;
Quando a criança tiver alguma reação, como retirar o alimento da boca, cuspir, ter náuseas ou
vomitar, não se assuste e espere para ver como a criança irá administrar essa situação;
Os alimentos novos devem fazer parte da rotina alimentar, porém não oferecer em excesso, pois pode
deixar a criança enjoada do alimento fazendo com que pare de comê-lo;
Não se preocupe com a quantidade de alimentos, o objetivo inicial não é garantir a quantidade de
alimentos novos e sim a variedade;
Para que a criança aprenda a comer alimentos variados, é importante que a família e os cuidadores
deem o modelo, por exemplo, família que não come frutas, legumes e verduras, é pouco provável que
a criança comece a comer esses alimentos;
Recompense a criança pela “coragem” de comer alimentos novos. Abuse dos elogios e trocas;
Incentive a criança a comer alimentos variados em ambientes diferentes (casa de familiar, restaurante
e escola);
Conte sempre com a ajuda de profissionais especializados para lhe auxiliar.

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Distúrbios do sono são queixas frequentes entre crianças com diagnóstico de Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA), com estimativas apontando até cerca de 85% de indivíduos com
sintomas de algum distúrbio do sono. Enquanto crianças com desenvolvimento típico, os
distúrbios do sono tendem a se resolver com a idade, o mesmo não ocorre com a mesma
frequência entre indivíduos com TEA.
O sono de má qualidade pode contribuir para a piora dos sintomas comportamentais
diurnos, favorecendo sintomas de desregulação do humor, do comportamento e da cognição,
assim como sintomas desatentos e hiperativos, bem como podendo contribuir para sintomas de
estresse na família.
A presença de hipersensibilidade a estímulos ambientais – ruídos do ambiente, odores e
texturas de tecidos da roupa de cama, mudanças estruturais ou na organização do ambiente do
sono – pode influenciar a qualidade de sono nesses indivíduos.

ESTRATÉGIAS
NÃO-MEDICAMENTOSAS UTILIZADAS NA ORIENTAÇÃO DE HIGIENE DO SONO EM TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS

Crie um ambiente confortável de sono;


Faça mudanças no ambiente se necessário;
Tenha uma rotina estruturada antecedendo o horário de sono. Quanto mais regular a rotina todas as
noites, mais fácil será para o seu filho. É importante que os responsáveis sigam a mesma rotina
específica;
Evite atividades que despertem a criança próximo ao horário de adormecer como programas de
televisão empolgantes, filmes, jogos eletrônicos, música alta ou luzes brilhantes;
O horário das refeições ajuda a criar uma rotina;
Estimule comportamentos que promovam o sono (alimentos, atividades físicas);
Faça reforço positivo de comportamentos adequados (com suporte visual, quadro de adesivos
reforçando o comportamento adequado);
Restrição planejada de sono (reduzir o tempo total de sono visando aumentar a sonolência em horários
mais adequados ao adormecimento, evitando o adormecer tardio);
Redução de estímulos (distanciamento físico gradual e planejado do cuidador, até que a criança consiga
adormecer por conta própria);
Despertares programados (requer despertar a criança antes do horário
habitual de despertar noturno visando minimizar o medo
possivelmente associado a despertares noturnos).

Ilustração: Vinicius Castilho Bezerra, 17 anos


Diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista 7
Pacientes autistas tendem a ter um tempo de tela maior que o habitual, o que acaba
tornando-se prejudicial ao desenvolvimento de habilidades comunicativas e sociais, alterando e
dificultando o comportamento dos mesmos. A relação entre o TEA e o uso de dispositivos tem
aumentado a falta de estimulação de habilidades, e a introdução ao contato social.

Segundo a SBP é recomendado:

Evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, mesmo que passivamente;
Limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, sempre com supervisão para
crianças com idades entre dois e cinco anos;
Limitar o tempo de telas ao máximo de uma ou duas horas por dia, sempre com supervisão
para crianças com idades entre seis e 10 anos;
Limitar o tempo de telas e jogos de videogames a duas ou três horas por dia, sempre com
supervisão; nunca “virar a noite” jogando para adolescentes com idades entre 11 e 18
anos;
Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar uma a duas horas
antes de dormir;
Oferecer como alternativas: atividades esportivas, exercícios ao ar livre ou em contato
direto com a natureza, sempre com supervisão responsável;
Criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras
de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família, incluindo momentos de
desconexão e mais convivência familiar.

8
Um grande desafio em pacientes autistas é a
prevenção e a segurança contra acidentes domésticos,
pois muitos pais se sentem inseguros e despreparados
para agir em determinadas situações de risco. O transtorno
do espectro autista além de comprometer relações sociais,
cognitivas e comportamentais, faz com que grande parte dos
pacientes diagnosticados não tenham noção do perigo em
situações que requerem cuidado e atenção. Muitos são os
questionamentos do que se pode realizar para prevenir acidentes
que coloquem em risco a saúde dos pacientes.
A atenção e o cuidado devem estar presentes tanto dentro
de casa quanto fora, pois a “curiosidade” e também alguns
comportamentos agressivos acabam os expondo a situações de
perigo. As crianças tendem a colocar objetos na boca, e a
descobrir as coisas através do tato e do paladar, o que requer
atenção nos nossos pequenos, além de sempre serem curiosos ao
Ilustração: Vinicius Castilho Bezerra, 17 anos
ponto de se exporem em situações que podem colocar em risco a Diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista

saúde e a vida.

COMO PODEMOS PREVENIR?

Evitar utensílios pontiagudos e perfurocortantes de fácil acesso (como facas, garfos);


Evitar contato com fogo (afastar as crianças de contato com fogão, panelas, água quente);
Evitar contato com substâncias, medicamentos (de preferências guardar em locais de difícil
acesso, pelo alto risco de intoxicação);
Cuidado com piscinas, praias, reservatórios com elevado conteúdo de água (alto risco de
afogamento);
Cuidado ao interagir com animais, muitos podem ser agressivos e venenosos;
Cuidado ao atravessar a rua;
Cuidado ao interagir com pessoas estranhas (risco de abuso sexual, sequestro, violência física
ou psicológica).

Atenção !!! Procure imediatamente a emergência mais próxima em qualquer situação


de perigo que coloque em risco a saúde do seu filho.
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O treinamento para usar o banheiro pode ser desafiador para crianças TEA.
Cada criança com TEA é diferente, mas alguns problemas em comum podem dificultar o
uso do banheiro, como por exemplo a dificuldade de entender e utilizar a linguagem, a dificuldade
para retirar a roupa, o medo de sentar-se no vaso sanitário ou do barulho da descarga e algumas
crianças com TEA podem não ter consciência de que precisam ir ao banheiro, ou de que as suas
roupas estão molhadas ou sujas. Saber sobre esses problemas pode ajudar você a pensar em
diversas maneiras de atender às necessidades do seu filho.

Algumas ações que os pais podem realizar que ajudam o desfralde no autismo:

Tenha uma rotina: Torne as idas ao banheiro parte da sua rotina. Mantenha os mesmos horários no dia. Uma
dica seria fazer um quadro, onde esteja incluso pausas entre as atividades para ir ao banheiro. Isso ajuda a criança a
se organizar.

Use um cronograma visual: Imagens mostrando cada passo da rotina de uso do banheiro podem ajudar
o seu filho a aprender a rotina e saber o que vai acontecer. Tire fotos de itens no seu banheiro (Ex: papel higiênico e
vaso sanitário). Coloque as imagens em ordem em um pedaço de papel para mostrar ao seu filho cada passo da ida
ao banheiro e caso seu filho ainda não entenda imagens, você pode mostrar para ele objetos reais (Ex: rolo de papel
higiênico) para cada passo.

Se comunique com a criança: Use palavras simples, sinais ou imagens em cada ida ao banheiro. Isso
ajuda a criança a aprender a linguagem do banheiro.

Sanar medos e aversões: Quando a criança tem medo de sentar no vaso sanitário ou de ir ao banheiro,
é preciso treinar com a criança e levá-la ao banheiro somente para ficar sentado no vaso, como uma brincadeira. No
início, as idas serão curtas, algumas mais longas. Programar um alarme pode ser uma maneira útil de informar ao seu
filho de que aquele momento de sentar no vaso no banheiro terminou. Meninos devem aprender a sentar no banheiro
para fazer xixi até que aprendam a fazer cocô regularmente no banheiro. Quando for trocar a fralda, por exemplo,
levá-lo até o vaso, para ele sentar e depois colocar a fralda. Quando sentar no vaso já for tranquilo para a criança,
pode se iniciar o desfralde.

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Considere as necessidades sensoriais do seu filho: Se o seu filho não
gosta de determinados sons, cheiros, ou coisas que toca no banheiro mude essas coisas conforme
possível.

Certifique-se de que as idas ao banheiro sejam confortáveis: O seu filho deve se


sentar confortavelmente no vaso. Use um assento menor de pinico e/ou coloque um banquinho para apoiar os pés.

Faça pequenas mudanças em hábitos diários: Vista o seu filho em roupas fáceis de remover.
Troque o seu filho assim que estiver molhado ou sujo com xixi ou cocô. Troque a fralda em local próximo do banheiro
ou no banheiro. Envolva o seu filho no processo de limpeza.

Faça com que jogue o conteúdo da fralda suja no vaso quando possível: Isso
também ajudará o seu filho a entender que a sujeira deve ser jogada no vaso sanitário. Faça com que o seu filho dê
a descarga e lave as mãos após cada troca de fralda.

Fralda para dormir: A noite o ideal é colocar a fralda depois que a criança dormir, pois ela
ainda vai precisar usar fralda noturna por um tempo. Dessa forma, o desfralde começa tirando primeiro
a fralda durante o dia e depois à noite.

Pratique em banheiros diferentes: Usar banheiros diferentes


ajuda o seu filho a saber que pode usar banheiros diferentes em lugares diferentes.

Escapes: É importante não brigar com a criança. Isso porque o fato de dar uma bronca pode ser
entendido pela criança que aquele fato fez com que ele recebesse atenção dos pais. Então, sempre que
isso acontecer, os pais devem dar atenção, trocar e limpar, simplesmente. Por outro lado comemorar toda
vez que fazer xixi e cocô no vaso.

Documente a rotina do seu filho: Monitore quanto tempo decorre entre o momento em que o seu filho
toma algo e quando faz xixi. Checar a fralda do seu filho frequentemente para verificar a umidade o ajudará a decidir
quando planejar as idas ao banheiro.

Continue tentando: Seja encorajador. Use uma linguagem motivadora sempre que estiver falando com
crianças sobre o uso do banheiro. Use palavras positivas se estiverem por perto. Elogie os esforços do seu filho e sua
colaboração independentemente de quão grandes ou pequenos forem. Seja calmo e direto em sua abordagem ao
treinamento para usar o banheiro.

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O corte dos cabelos pode ser um desafio para as crianças com TEA, por isso a
importância do treinamento e dos suportes visuais.

O QUE PODE SER FEITO?

Converse com o dono do estabelecimento sobre aproximar-se da criança, para que ele possa ir
familiarizando-se com o ambiente;
Agendar um horário durante o período em que o salão não está tão lotado, havendo menos
distrações para seu filho;
Conversar antes com o cabeleireiro sobre qualquer sensibilidade específica que a criança possa ter;
Identificar estímulos ou itens preferenciais da criança. Para algumas crianças trata-se de um livro ou
brinquedo favorito;
É importante que a criança ganhe uma recompensa no final da sessão. Desta forma, a experiência
pode ser lembrada de forma positiva;
Tirar uma foto do estímulo ou do prêmio, para lembrar a criança o que ela ganhou.

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CUIDADOS COM A
HIGIENE PESSOAL
A higiene é fundamental e requer regras como em qualquer situação para cuidados com a
saúde e prevenção de doenças. A pessoa com TEA possui dificuldades em realização tarefas,
principalmente aquelas que exigem demanda e rotina gerando estresse e crises de ansiedade. Ter
uma rotina, criação de regras, educação visual, encorajamento e motivação são formas
estratégicas de melhorar a higiene e a qualidade de vida das pessoas com TEA.

HIGIENE BUCAL
Muitos pacientes com TEA possuem alterações sensoriais significativas dificultando a
realização da higiene bucal e a adaptação à rotina de acompanhamento odontológico. O
odontologista especializado é o profissional fundamental nesse processo, agindo não só na
prevenção (orientação da escovação e escolha da escova de dentes e do creme dental), como
também no tratamento cirúrgico das doenças da boca e dos dentes. Geralmente pessoas com
TEA levam um determinado tempo para adquirir coordenação motora, sendo necessário a
presença de apoio para realização da escovação, aos poucos esse apoio irá diminuindo e o
paciente poderá adquirir autonomia e independência para a atividade.

COMO ENSINAR A CRIANÇA AUTISTA A ESCOVAR OS DENTES?

Respeite o espaço e a individualidade do seu filho;


No início os pais ou os responsáveis devem auxiliar na escovação ajudando no
processo de adaptação e dessensibilização;
Deve-se visitar ao dentista a cada 6 meses e realizar a escovação 3 vezes ao dia;
A escovação dental deve ser realizada em um ambiente tranquilo e apropriado
(banheiro ou área de escovação) de preferência em frente a um espelho;
Estimular e elogiar é uma forma de facilitar que os bons hábitos se repitam.

13
BANHO
COMO ENSINAR A CRIANÇA AUTISTA A TOMAR BANHO?

Organize o ambiente e os objetos que serão utilizados; - Retire objetos que


possam distrair;
Mantenha os objetos a serem utilizados sempre no mesmo lugar para ajudar a
criança a se lembrar dos passos durante o banho;
Pode ser feito uma sequência visual de passo-a-passo do que será feito durante
o banho;
Mostre o shampoo para a criança. Deixe-a cheirar e sentir com as mãos tanto o
shampoo quanto o condicionador, caso você use;
Torne o banho um momento mais rápido e divertido. Deixe a criança ter um
brinquedo para esse momento e brincar a vontade;
Utilize um pente de dentes largos para criar menos tensão e tornar essa prática
mais agradável para a criança;
Se você for aplicar um produto diferente do usual, repita o processo de mostrar e
deixar seu filho cheirar e sentir com as mãos esse novo produto antes de aplicá-lo;
Ter paciência, estimular e elogiar em cada passo, é fundamental.

Ilustração: Vinicius Castilho Bezerra, 17 anos


Diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista 14
Em dezembro de 2012, foi sancionada a Lei 12.764/2012 (Lei Berenice Piana), que institui
a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, que
reconhece que as pessoas com autismo são, para todos os efeitos legais, pessoas com
deficiência.
A Lei 13.977, de 08 de Janeiro de 2020 (Lei Romeu Mion) cria a Carteira de Identificação
da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA), de expedição gratuita, com vistas a
garantir atenção integral, pronto atendimento e prioridades no atendimento e acesso aos serviços
públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social. Também
institui a utilização do símbolo mundial da conscientização do TEA (fita com quebra-cabeça), para
identificar a prioridade das pessoas com Transtorno do Espectro Autista.
Além dos direitos previstos na Constituição Federal de 1988, que são garantidos a todas as
pessoas, crianças e adolescentes com autismo também possuem todos os direitos previstos pelo
Estatuto da Criança e Adolescente (lei 8.069/90) e quando idosos, têm os direitos do Estatuto do
Idoso (Lei 10.741/2003).
O Direito à Educação também é assegurada pela Lei 8069/90 – ECA (Art.54) e pela Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – MEC/2008.
No caso de pessoas com autismo, cabe ao estado a obrigação de garantir Atendimento
Educacional Especializado (AEE), entendido como o conjunto de atividades, recursos de
acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, a serem prestados de forma
complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular, preferencialmente na
rede regular de ensino.
Porém, não são todas as crianças e adolescentes com autismo que se beneficiam do
ensino em salas comuns de escolas regulares. Dependendo das características individuais de
cada um, do momento de desenvolvimento no qual se encontram, algumas crianças e
adolescentes com autismo, geralmente com outras deficiências associadas, se adaptam melhor
às escolas especiais. Essas unidades visam integração e o desenvolvimento com apoio
especializado.

15
Promovendo acessibilidade, e atendendo às necessidades educacionais, é possível
efetivar o direito das pessoas com deficiência à educação e garantir o processo de inclusão
escolar.
O Direito à Saúde está previsto no art.196 da Constituição Federal, sendo direito de todos
e dever do estado. As pessoas com autismo contam também com a proteção especial da Lei
7.853/89, que garante o tratamento adequado em estabelecimentos de saúde públicos e privados
específicos para a patologia que possuem.
A instituição da Lei Municipal de Manaus - AM 2.411/2019 viabilizou a obrigatoriedade da
aplicação do questionário Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT R/F) de triagem
exclusivo para sinais precoces de autismo em todas as unidades de saúde e creches municipais.
As pessoas com autismo e suas famílias podem se beneficiar de tudo que a assistência
social tem a oferecer no município onde residem. As informações sobre os benefícios, programas,
serviços e projetos existentes e como acessá-los podem ser obtidas no Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) do seu bairro ou área de abrangência ou na Secretaria de Assistência
Social.
O benefício socioassistencial de maior importância, regulamentado pela Lei Orgânica da
Assistência Social – LOAS (Lei 8.742/93), é o Benefício de Prestação Continuada – BPC.

PRINCIPAIS DIREITOS DA PESSOA AUTISTA

Carteirinha de identificação com atendimento prioritário;


Fornecimento de medicação;
Passe Livre– transporte (Lei Federal 8,899/94);
Vaga especial em estacionamento;
Fila preferencial;
O desconto na compra de passagens aéreas para acompanhantes de pessoas
com autismo (Lei 12.764/2012);
Direito a estudar no ensino público ou privado;
Tratamento médico e terapêutico.

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Por favor, responda estas perguntass obre sua criança. Lembre-sed e como sua criança se comporta habitualmente. Se você
observou o comportamento algumas vezes (por exemplo, uma ou duas vezes), mas sua criança não o faz habitualmente, então
por favor responda "Não". Por favor, responda Sim ou Não para cada questão. Muito obrigado.

1. Se você apontar para qualquer coisa do outro lado do cômodo, sua criança olha para o que você está
apontando? (Por exemplo: se você apontar para um brinquedoo ou um animal, sua criança olha para o
brinquedo ou animal?)
2. Alguma vez você já se perguntou se sua criança poderia ser surda?
3. Sua criança brinca de faz-de-conta? (Por exemplo, finge que está bebendo em um copo vazio ou
falando ao telefone, ou finge que dá comida a uma boneca ou a um bicho de pelúcia?)
4. Sua criança gosta de subir nas coisas? (Por exemplo: móveis, brinquedos de parque ou escadas)
5. Sua criança faz movimentos incomuns com os dedos perto dos olhos? (Por exemplo, abana os dedos
perto dos olhos?)
6. Sua criança aponta com o dedo para pedir algo ou para conseguir ajuda? (Por exemplo, aponta para
um alimento ou brinquedo que está fora do seu alcance?)
7. Sua criança aponta com o dedo para lhe mostrar algo interessante? (Por exemplo, aponta para um
avião no céu ou um caminhão grande na estrada?)
8. Sua criança interessa-se por outras crianças? (Por exemplo, sua criança observa outras crianças, sorri
para elas ou aproxima-se delas?
9. Sua criança mostra-lhe coisas, trazendo-as ou segurando-as para que você as veja - não para obter
ajuda, mas apenas para compartilhar com você? (Por exemplo, mostra uma flor, um bicho de pelúcia ou
um caminhão de brinquedo?)
10. Sua criança responde quando você a chama pelo nome? (Por exemplo, olha, fala ou balbucia ou para
o que está fazendo, quando você a chama pelo nome?)
11. Quando você sorri para sua criança, ela sorri de volta para você?
12. Sua criança fica incomodada com os ruídos do dia a dia? (Por exemplo, sua criança grita ou chora
com barulhos como o do aspirador ou de música alta?)
13. Sua criança já anda?
14. Sua criança olha você nos olhos quando você fala com ela, brinca com ela ou veste-a?
15. Sua criança tenta imitar aquilo que você faz? (Por exemplo, dá tchau, bate palmas ou faz sons
engraçados quando você os faz?)
16. Se você virar a sua cabeça para olhar para alguma coisa, sua criança olha em volta para ver o que é
que você está olhando?
17. Sua criança busca que você preste atenção nela? (Por exemplo, sua criança olha para você para
receber um elogio ou lhe diz "olha" ou "olha para mim"?)
18. Sua criança compreende quando você lhe diz para fazer alguma coisa? (Por exemplo, se você não
apontar, ela consegue compreender "ponha o livro na cadeira" ou "traga o cobertor"?)
19. Quando alguma coisa nova acontece, sua criança olha para o seu rosto para ver sua reação? (Por
exemplo, se ela ouve um barulho estranho ou engraçado, ou vê um brinquedo novo, ela olha para o seu
rosto?)
20. Sua criança gosta de atividades com movimento? (Por exemplo, ser balançada ou pular nos seus
joelhos?)

©2009 Diane Robins, Deborah fein & Marianne Barton Traduzidos por Rosa Miranda Resegue
ARANTES, L.;MRAD FLAVIA C.; et al. Treinamento esfincteriano. 2019.http://eferpaulofreire.recif
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Tratado de Pediatria, Sociedade Brasileira de Pediatria. 5ª edição. Manole, 2022

Autismo Realidade;contato@autismoerealidade.org.br; 16 de Janeiro de 2024;

Ensino de habilidades de autocuidados para pessoas com autismo: Manual para intervenção
comportamental intensiva – 1.ed. Belo Horizonte:CEI Desenvolvimento Humano, 2019.

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