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DJAANY DE PAIVA

É notório o crescimento da demanda de crianças indo às clinicas


psicológicas, fonoaudiológica e psicopedagógicas, alunos com dificuldades
escolares, muitas dessas crianças após a consulta recebem um diagnóstico de
transtornos como: Dislexia, TDAH, TOD, transtornos de ansiedade e muitos
outros relacionados as áreas de cognição, linguagem e aprendizagem. São
queixas que condiz comos comportamentos, como a atenção e o aprendizado,
ou seja, alunos são encaminhados para as clinicas pelos comportamentos ditos
como fora dos padrões da normalidade.

Nesse sentido vamos falar sobre esses supostos transtornos e reais


transtornos. O controle social do comportamento infantil se dá por dois modos
o primeirona construção dos comportamentos inadequados como patologias e
o segundo a construção de um campo que justifique esse desvio. Torna assim
um rumo duvidoso para muitos pesquisadores, no entanto vemos que qualquer
comportamento considerado diferente já se dá por si só um suposto
diagnostico por parte de familiares e de instituições escolares, levados aos
diversos consultórios para que seja solucionado o problema de mal
comportamento da criança, ou da não aprendizagem na escola.Surge um
diagnostico por parte do especialista na área da saúde que se dá por um
suposto transtorno baseado em alguns exames e de coleta de dados histórico
da criança, e baseado no DSM.Nesse sentido a criança não necessita
estarsofrendo de uma enfermidade para ser considerada doente, basta que
tenha algum comportamento diferente do que se espera que teorias tomarão
aquele comportamento e darão sentido a ele no campo médico-científico. Nada
está definido com clareza os transtornos que se tentam justificar um
comportamento considerado anormal das crianças, o que se tem são
especulações genéticas, neurofisiológicas e neurobiológicas que não podem
ser comprovadas empiricamente nos testes que são realizados por tecnologias
de mapeamento cerebrale marcadores genéticos que expliquem a patologia, o
que realmente prevalece nas pesquisas é uma correlações estatísticas
baseados nos critérios propostos pelo DSM e a comparação com as
informações dos pais e dos professores em relação ao comportamento das
crianças.
Volto a ressaltar que diversas são as queixas por partes dos familiares e
das instituições de ensino relacionado ao comportamento das crianças, e são
encaminhadas para as clinicas especializadas. Diante desses fatos um numero
crescente de crianças tem sido diagnosticada com TDAH, TOD, transtornos
desviantes, transtornos emocionais entre outros, e com isso aumentando o
consumo de medicamentos. Algumas tendências teóricas tentam explicar o
TDAH como determinismo orgânico, alguns por ser um problema
neurobiológico de causas genéticas, mas nunca deixou comprovado
verdadeiramente a causa do TDAH, enfim váriassão as teorias e pesquisas
para que se explique comportamentos considerados inadequados para aquela
idade da criança ou para aquele convívio em sociedade. Nesse sentido,
precisamos analisar todo esse processo de diagnósticos e possíveis
transtornos que levam a medicalização das crianças no intuito de modelar o
comportamento que se deseja, e assim todos ficam felizes (menos a criança).

Como entender esse crescimento de diagnóstico e a medicalização das


crianças? Podemos começar por entender o que é Saúde, por milênios foi
entendido que saúde é questão de equilíbrio e harmonia, o seu contrário, o
desequilíbrio, seria a doença. A OMS (Organização Mundial da Saúde) após a
segunda guerra mundial ampliou o conceito de saúde para um estado de
completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de
doença. Com esta mudança conceitual mudou também algumas práticas na
medicina, se saúde é um estado completo de bem-estar em tese qualquer mal-
estar pode ser tratado pela medicina. Quando falamos de saúde mental, hoje
existe um dicionário médico que explica e classifica como transtorno grande
parte do mal-estar que experimentamos no cotidiano, nossos comportamentos
e sentimentos estão ali de alguma forma catalogados. Para a medicina sempre
existe um remédio para tudo.Controlar pela química nossas emoções tem sido
uma pratica cada vez mais comum, nossa cultura exige soluções imediatas.
Tudo isso resulta na medicalização da vida, transformando em patologias os
problemas naturais do dia-a-dia, uma verdadeira epidemia de transtornos
mentais.

Existe algunstranstornos que prejudicam o desenvolvimento em seu


curso normal, como: má formação congênita, síndromes genéticas deficiência
intelectual, problemas vasculares diversos, transtornos emocionais, e
transtornos do processo auditivo (TPA), porem em uma classificação diferente
desses supostos transtornos que estão sendo postos nas crianças como
argumento pelo seu fracasso escolar, na proporção que se estende os
diagnósticos existe finalidade de justificar um comportamento que para muitos
são comportamentos fora dos enquadres do que se chama padrão, a questão e
a preocupação não é pelo diagnostico de um transtorno e sim pelo modo que
eles são feitos e o desfecho com o paciente, ou seja, a criança.

O grande debate está como comprovar o suposto transtorno e a


construção de um campo que justifique esse desvio de comportamento. Existe
uma imensa heterogeneidade manifesta em comportamentos e atitudes que
dependem de diversos fatores incluindo o interacionais e o contextual. Se a
criança é desatenta em uma aula, lição ou discurso e por outro lado ela é
superatenta em um jogo de game, como dizer que ela possui falta de atenção?
Acreditamos então que nesse sentido não seja questão de falta de atenção,
mas sim de deslocamento do foco atentivo. Nesse sentido se a criança fosse
desatenta em algumas situações poderíamos supor que tal comportamento
atípico poderia imprimir efeitos no cérebro ou uma alteração cerebral.

Estudos comprovam que o cérebro é um órgão plástico, flexível e


dinâmico e que possíveis diferenças podem estar neste aspecto, pessoas
submetidas a eventos emocionais significativas podem ter alteração no
hipocampo e ativação anormal da amigdala, isso nos mostra que a
experiencias sociais faz parte do desenvolvimento cerebral conforme Vygotsky
(2004).

Muitos pesquisadores tentam explicar a causa dos transtornos que


julgam prejudicar as crianças em idade escolar, no entanto nada pode ser
comprovado com eficácia os comportamentos considerados fora da
“normalidade”, sendo de origem biológica, sendo nas estruturas cerebrais, pois
as pesquisas da área são incipientes para a explicação sobre possível base
neurobiológica do TDAH como também não pode ser comprovado como
caráter orgânico, pois são baseados em critérios vagos como afirma Moyses e
Collares (2011). A Dislexia, Discalculia. Disgrafia, Disortografia,Disastria,
Dislalia, também são supostos transtornos relacionados a escrita, matemática,
leitura e todo o processo de ensino aprendizagem onde não tem base de
sustentação para a sua comprovação efetiva e resulta em que muitas crianças
são diagnosticadas para justificar o não aprender e consequentemente
resultando no fracasso escolar, onde a culpa esta somente na criança.

Segundo Meira (2012) a medicalização da educação tem por motivo


justificar o fracasso escolar, desse modo estão atribuindo as dificuldades
escolares às características orgânicas/cerebrais e permitindo que se oculte os
condicionantes sociais, culturais, políticos, educacionais, afetivos e ideológicos
envolvidos nos supostos transtornos.

Tudo que os pais e professores querem é um diagnostico para poderem


assim se livrar da culpa do mal comportamento da criança, se livrarem da
responsabilidade de ter que trabalhar a questão em que aquela criança precisa
de ajuda e usar de muleta o suposto diagnostico como a desculpa de que o
problema não está em como eu educo ou como eu ensino e sim porque ele tem
um problema serio que foi diagnosticado e precisa de tratamento e
medicamentos, assim ganhando um rótulo, a criança medicada fica mansa
presta mais atenção começa a ser mais obediente e passiva. Neste conceito
todos ficam tranquilos de suas responsabilidades, muitos sai no lucro, a
professora que não tem mais obrigação de fazer muito porque o aluno é quem
tem o problema, a indústria farmacêutica ganha em vender seus
medicamentos, e os pais tiram de suas responsabilidades a culpa da criança se
comportar diferente, pois ele tem um problema psiquiátrico.

Torna-se importante e urgente termos um olhar diferenciado para os


comportamentos das crianças, levando em conta não apenas o comportamento
em si, mas o que está causando esse tipo de comportamento, qual o contexto
dessa criança? Qual a sua realidade dentro do grupo familiar? O que ela
realmente deseja se comportando assim? Quais são suas aflições? Como
posso ajuda-la?... muitas perguntas podem ser feitas e analisadas para se
obter resultados positivos, na busca do bom desenvolvimento da criança e
consequentemente na construção de uma sociedade justa e democrática.

Referencias:
Meira, M. E. M. (2012). Para uma crítica da medicalização na educação. Psicologia Escolar e
Educacional, 16(1), pp. 136-142.

MOYSÉS, Maria Aparecida Affonso; COLLARES, Cecília Azevedo Lima. Dislexia e TDAH: uma
análise a partir da ciência médica. In: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO
(Org.). Medicalização de crianças e adolescentes: conflitos silenciados pela redução de
questões sociais a doença de indivíduos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


_____. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. _____.
Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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