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RELAÇÃO ENTRE A SAÚDE MENTAL DE CUIDADORES E CRIANÇAS COM

TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO: INTERVENÇÃO EM SAÚDE MENTAL


EM CLÍNICA MULTIDISCIPLINAR - PESQUISA-AÇÃO

Beatriz Costa Ferreira*, Ana Clara Magalhães Eleutério**, João Henrique Fernandes de
Souza Amorim***, Iraide Pita****

RESUMO Métodos: Trata-se de uma pesquisa de


natureza exploratória de abordagem
Introdução: Os Transtornos do qualitativa, do tipo pesquisa-ação, baseada
Neurodesenvolvimento são em coleta de entrevistas e observações
desorganizações neurológicas comumente participantes. Possui formato de estudo de
manifestadas no início do desenvolvimento caso único com funcionárias de uma clínica
humano, caracterizadas por déficits em multiprofissional que realizam atendimento
áreas de cognição, socialização, de crianças com transtornos do
comunicação e motora. Cuidadores de neurodesenvolvimento, a qual utiliza a
crianças neurodivergentes possuem maior ciência ABA como forma de intervenção.
risco de desenvolver psicopatologias Durante 8 semanas, foram realizadas
devido a diversos fatores relacionados ao entrevistas com os funcionários da clínica,
diagnóstico, como luto de um filho acompanhamentos de atendimentos
idealizado, aceitação do diagnóstico, terapêuticos e supervisões, com foco em
depressão, isolamento, diferentes níveis de realizar um diagnóstico e propor um projeto
gravidade de transtorno, falta de apoio de intervenção em saúde mental. Com isso,
social e estratégias de enfrentamento, e a intervenção proposta consistiu em realizar
ansiedade. A participação dos pais nos uma roda de conversa com os cuidadores,
cuidados e educação destas crianças são com o objetivo de acolher, ouvir suas
dificultadas pela exaustão física e principais queixas e demandas e reforçar a
emocional, o que pode acarretar perda importância do autocuidado. Resultados:
significativa nos comportamentos parentais Foi possível observar que o engajamento
necessários para melhoria no dos cuidadores das crianças e adolescentes
desenvolvimento, gerando um ciclo em que é crucial para um resultado mais efetivo e
ambos, pais e filhos, sofrem prejuízos. que a forma como os pais estão se sentindo
Objetivo: Realizar um levantamento, afeta diretamente a forma como as crianças
através de entrevistas, da relação entre a estão no dia a dia. Foi relatado por diversos
saúde mental de cuidadores e crianças com profissionais, que esta participação não era
transtornos do neurodesenvolvimento e satisfatória na maior parte dos casos,
propor uma intervenção psicossocial. principalmente em relação aos pais das

___________________________________________________________________________________________

*
Graduanda em Psicologia pela Universidade São Judas Tadeu – USJT, São Paulo, SP. E-mail: bia2406@gmail.com

**
Graduanda em Psicologia pela Universidade São Judas Tadeu – USJT, São Paulo, SP. E-mail:
anaclara.eleuterio@hotmail.com
***
Graduando em Psicologia pela Universidade São Judas Tadeu – USJT, São Paulo, SP. E-mail:
joaoh.fernandesa@gmail.com
**** Psicóloga
crianças. Durante a roda de conversa, foi dificuldade em iniciar, manter e
possível perceber o quanto há essa compreender relacionamentos. Além disso,
necessidade de acolhimento como demanda também há presença de padrões
reprimida e a sobrecarga que existe em estereotipados e repetitivos de
relação às mães, que no primeiro momento comportamento, que podem vir
apresentaram dificuldades em falar apenas acompanhados de interesses ou atividades
de si próprias. Em um segundo momento, com prejuízos no funcionamento
houve a reflexão sobre a importância do adaptativo.
autocuidado, do resgate de sua própria O diagnóstico de TEA impacta
individualidade, e as consequências significativamente a dinâmica familiar,
positivas disto na evolução do processo exigindo uma reestruturação diante das
terapêutico de seus filhos. demandas diferenciadas de cuidados. A
compreensão do autismo como um
Palavras-chave: Neurodivergência; espectro, influenciado por fatores genéticos
Autismo; Roda de Conversa; Sobrecarga e ambientais, destaca a importância de
Parental; Autocuidado. estratégias adaptativas e intervenções
precoces para promover uma melhor
INTRODUÇÃO qualidade de vida (Silva et al., 2023).
O uso de especificadores se faz
Os Transtornos do importante para um diagnóstico individual
Neurodesenvolvimento são e descritivo, visto que a ocorrência
desorganizações neurológicas comumente concomitante de transtornos do
manifestadas no início do desenvolvimento neurodesenvolvimento é frequentemente
humano, caracterizadas por déficits em verificada (Havdahl & Bishop, 2019); por
áreas de cognição, socialização, exemplo, indivíduos com TEA geralmente
comunicação e motora, podendo impactar possuem o Transtorno do Desenvolvimento
consideravelmente a qualidade de vida dos Intelectual (DI). A Associação Americana
indivíduos. (Buratti et al., 2021). de Deficiências Intelectuais e de
Existem sete subgrupos dos Desenvolvimento (AAIDD) define o termo
Transtornos do Neurodesenvolvimento de “deficiência intelectual e do
acordo com o Manual Diagnóstico e desenvolvimento” (DDI) para identificar a
Estatístico de Transtornos Mentais comorbidade do DI com um ou mais
(DSM-V-TR), incluindo as Deficiências distúrbios do desenvolvimento, assim
Intelectuais, os Transtornos de como não são raros os casos de existência
Comunicação, Transtorno do Espectro do TEA associado à Transtornos da
Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Comunicação (American Psychiatric
Atenção/Hiperatividade, Transtorno Association [APA], 2022).
Específico de Aprendizagem, Distúrbios O diagnóstico diferencial
Motores e outros Transtornos (American substanciado pela análise do contexto
Psychiatric Association, 2014). histórico e familiar é primordial para uma
Ainda de acordo com o DSM-V proposta terapêutica multidisciplinar, que
(American Psychiatric Association, 2014), busca a integralidade no cuidado do
o TEA é um Transtorno do indivíduo como ser biopsicossocial. Nesta
neurodesenvolvimento caracterizado por perspectiva, entender o contexto social de
déficits persistentes na comunicação e pacientes de qualquer área é de suma
interação social em diferentes contextos importância para o desenvolvimento de um
como, por exemplo, limitação na trabalho de assistência à saúde adequado e
reciprocidade socioemocional, déficits nos a construção de um plano terapêutico
comportamentos de comunicação não singular (Guimarães et. al., 2023).
verbal, utilizados para a interação social e
Tongue et al. (2006) destaca em seu desenvolvimento atípico. Dessa maneira,
estudo, onde comparou grupos de educação entender o contexto familiar também se
e aconselhamento a pais de crianças com mostra como parte do processo terapêutico
autismo, que a participação parental ativa (Rodrigues et al., 2021).
em tratamentos de crianças com transtornos É possível observar que cuidadores
do neurodesenvolvimento se mostra de crianças neurodivergentes possuem
essencial no processo de intervenção maior risco de desenvolver psicopatologias
precoce e fortalecimento das estratégias devido a diversos fatores relacionados ao
multidisciplinares. diagnóstico. Eles enfrentam um processo
Segundo Ferreira et al. (2022), a desde a descoberta, até a adaptação a essa
ciência Análise Aplicada do nova informação. Constantinidis e Pinto
Comportamento (ABA) possui importantes (2019) falam sobre as expectativas que os
contribuições científicas em relação ao pais enfrentam durante a gestação,
comportamento humano, com maior relacionadas à aparência do bebê, ao seu
relevância na área do TEA, adotado como desenvolvimento intelectual e por fim, a
método interventivo. É uma ferramenta que idealização sobre o futuro de seu filho.
envolve a identificação de comportamentos Dessa forma, o diagnóstico aparece como
e habilidades em defasagem ou que uma quebra de expectativa, fazendo com
necessitam de melhorias, seleção e que essa família passe por um processo de
descrição dos objetivos e delineamento de luto.
uma intervenção que envolve estratégias Como citado por Hilário et al.
comprovadamente efetivas para (2021), é preciso que haja um
modificação do comportamento (Sousa et remanejamento na estrutura familiar para
al., 2020). que a adaptação aconteça, caracterizada por
Uma das formas de ensino de um cuidado em tempo integral dos pais
repertórios não verbais (imitação motora, com aquela criança. A figura materna sofre
seguir instruções, seleção de estímulos não um impacto ainda mais intenso nesses
verbais, como figuras a partir de escolha de casos, visto que as mães veem a
acordo com o modelo) e repertórios verbais necessidade de conciliar os cuidados com o
(tato, intraverbal) é denominado de Treino filho, mas também com o ambiente
de Tentativas Discretas (DTT). Consiste em doméstico e com os demais familiares,
um arranjo de contingências onde é gerando um esgotamento físico, além de
fornecido um estímulo discriminativo, a uma sobrecarga emocional maior (Di
resposta e a consequência (Ávila & Matos, Renzo et al., 2021).
2023). Dessa forma, é importante que haja A gravidade da deficiência e uma
a generalização dos treinos da clínica para menor renda familiar são fatores associados
os ambientes do cotidiano da criança, como a níveis mais elevados de sintomas de
o ambiente escolar e domiciliar. depressão nos cuidadores de crianças com
Procedimentos que aproximem deficiência intelectual e de
estes responsáveis aos tratamentos das desenvolvimento (DDI) e há uma maior
crianças, como orientações, estratégias prevalência da deficiência nos países de
educacionais e acolhimento, tem resultado baixa e média renda por diversos fatores de
em maiores eficácias quando observado o riscos, como desnutrição perinatal e
desenvolvimento comportamental e social infecção. Além disso, os sintomas são 80%
de crianças atípicas (Benedetti et al., 2020). mais frequentes em mães quando
Essa dinâmica de integralidade do comparados aos pais. (Scherer et al., 2019)
indivíduo traz questões peculiares e de Ramos e Madeira (2023), em sua pesquisa
grande necessidade de observação sobre o com 34 pais e tutores de crianças com o
reflexo da participação familiar no contexto Transtorno do Espectro Autista, traz que
de indivíduos que apresentam 91,2% são mães, 5,9% são pais e 2,9% são
outras pessoas. As mulheres possuem uma frequente dessas famílias (Sobreira et al.,
sobrecarga maior na sociedade, sendo um 2023)
grande alvo a níveis elevados de estresse. O isolamento é um dos principais
A qualidade de vida de pais de fatores associados ao desenvolvimento de
crianças com autismo está associada ansiedade e depressão, pois além da
diretamente com o diagnóstico, que ausência de uma rede de apoio, também há
impacta os âmbitos sociais, econômicos, uma tendência aos pais desenvolverem uma
físicos e psicológicos. Dias et al (2021) dependência em seus filhos, acreditando
mostraram em sua pesquisa com 55 pais que precisam protegê-los do mundo, assim
que responderam ao questionário de esquecem de si. A qualidade do
avaliação da qualidade de vida, de questões desenvolvimento de uma criança com DDI
sociodemográficas e do perfil comunicativo está diretamente ligada à saúde física e
da criança, que o nível de estresse de pais mental de seu cuidador, pois existe uma
de crianças autistas é maior do que pais de relação entre depressão parental e
crianças com desenvolvimento típico. comportamento parental desinteressado,
Os principais fatores mais citados visto que sintomas depressivos incluem
como influenciadores da qualidade de vida desânimo, cansaço, entre outros (Mak et al.,
de cuidadores de crianças com TEA são: 2020).
aceitação do diagnóstico, depressão, Os impactos psicossociais no
isolamento, diferentes níveis de gravidade cotidiano dos pais de crianças com TEA,
de transtorno, falta de apoio social e acabam desencadeando outros sentimentos
estratégias de enfrentamento, e ansiedade. como: insegurança, medo do futuro, culpa,
(Lopes, 2020). Outros diagnósticos como o ansiedade, e em alguns casos, podendo
burnout, também são identificados em pais chegar a depressão. Por conta disso, o
de crianças com doenças crônicas e tratamento do filho acaba sendo
intelectuais, apesar de os estudos do negligenciado e colocado em segundo
burnout parental ainda serem escassos plano, já que em primeiro, encontra-se as
(Ardic, 2020). dificuldades encontradas diante o
A síndrome de burnout é um desafio diagnóstico (Lima et al., 2022).
prevalente entre cuidadores de crianças e Além disso, pais de crianças
adolescentes com Transtorno do Espectro atípicas apresentam maiores índices de
Autista, atingindo 95,7% dos casos. O prejuízos na saúde mental devido à
desgaste físico e emocional é evidente, sobrecarga. Os cuidados necessários são
especialmente entre mães que muitas vezes comumente acompanhados de desafios e
abrem mão de suas carreiras para se obstáculos que acarretam em considerável
dedicarem integralmente aos cuidados. aumento de casos de estresse, ansiedade e
Essa realidade destaca a importância depressão em comparação com pais de
crucial da saúde mental e física dos crianças com desenvolvimento típico.
cuidadores nesse contexto (Sales et al., (Lodder et al., 2020).
2022). Por este motivo, a participação dos
As crianças neurodivergentes pais nos cuidados e educação destas
normalmente possuem dificuldade em lidar crianças são dificultadas pela exaustão
com a frustração e apresentam física e emocional, o que pode acarretar
comportamentos conhecidos pela sociedade perda significativa nos comportamentos
como “birra”, fazendo com que seu parentais necessários para melhoria no
cuidador seja mal visto. Esse é apenas um desenvolvimento, gerando um ciclo em que
dos diversos preconceitos que ainda estão ambos, pais e filhos, sofrem prejuízos
incrustados na população, dificultando o (Scibelli et al., 2021).
processo de aceitação do diagnóstico e Em Gomes (2022), foi possível
refletindo em um isolamento social observar, no contexto brasileiro, que em
diversas pesquisas e estudos realizados o pacientes atendidos pela clínica atualmente
transtorno ainda é interpretado de forma possuem o Transtorno do Espectro Autista,
isolada e individual, na medida em que, optou-se por direcionar a este foco o
apesar dos filhos receberem terapia ou uso escopo desta pesquisa e intervenção. Dessa
de medicamentos, os cuidadores quase em maneira, seria possível um maior
sua totalidade, não recebem nenhum aprofundamento a fim de compreender, de
suporte ou apoio terapêutico, evidenciando forma mais adequada, as nuances
a necessidade de serem acolhidos e relacionadas a este transtorno.
incluídos em atendimentos que não O estudo teve duração de 8 semanas
objetivam apenas as demandas de seus e foi realizado na clínica em questão, que
filhos. permitiu condições aos pesquisadores de
Dada esta sobrecarga, é evidente o investigarem as principais demandas e
aumento de estresse e interferência direta dificuldades encontradas na relação entre
na qualidade de vida dos cuidadores, os cuidadores de crianças neurodivergentes
sobretudo das mães. É fundamental a e os impactos dos mesmos no
criação e estabelecimento de uma rede de desenvolvimento dos pacientes,
apoio psicológico e direcionamento colaborando para compreensão e estudo de
familiar como forma de empoderamento e possíveis estratégias às problemáticas
suporte emocional. Além disso, algumas apresentadas.
técnicas de modificação do comportamento Foram incluídas na pesquisa seis
se mostraram eficazes na redução, como a funcionárias da clínica, e buscou-se
aplicada em programas de Treinamento dos priorizar a entrevista de psicólogas,
Pais, ou Treino de Controle do Estresse objetivando compreender a relação da
(TCS), a fim de melhorar a resiliência e saúde mental dos cuidadores nos programas
bem estar dos cuidadores. (Lopes, 2020). com os pacientes, mas delineando a
Diante dos problemas supracitados, compreensão do sistema multidisciplinar,
o objetivo desse estudo foi realizar um também foram selecionadas funcionárias de
levantamento, através de entrevistas, da áreas distintas. Sendo assim, após o
relação entre a saúde mental de cuidadores consentimento na participação, foram
e crianças com transtornos do entrevistadas três psicólogas, uma diretora
neurodesenvolvimento e propor uma clínica e psicopedagoga, uma terapeuta
intervenção psicossocial. ocupacional e uma psicomotricista, que
serão aqui representadas da seguinte forma:
METODOLOGIA Psicóloga Entrevistada 01 (E1); Psicóloga
Entrevistada 02 (E2); Psicóloga
Trata-se de uma pesquisa de Entrevistada 03 (E3); Diretora Clínica
natureza exploratória de abordagem Entrevistada (E4); Terapeuta Ocupacional
qualitativa, do tipo pesquisa-ação, baseada Entrevistada (E5); Psicomotricista
em coleta de entrevistas e observações Entrevistada (E6).
participantes (Gil & Antonio, 2008). Possui Visando facilitar a contribuição e
formato de estudo de caso único com não interferir na rotina, as entrevistas foram
funcionárias de uma clínica realizadas presencialmente no ambiente
multiprofissional que realizam atendimento clínico, em horários em que as participantes
de crianças com transtornos do não teriam atendimentos. Todas as
neurodesenvolvimento, a qual utiliza a entrevistas foram com dois pesquisadores e
ciência ABA como forma de intervenção. uma entrevistada, com duração de
O local de pesquisa foi indicado por um dos aproximadamente 1 hora, o mesmo
pesquisadores e determinado por fornecer questionário (ANEXO I) foi aplicado em
os requisitos apropriados para exploração todos os casos, abrangendo perguntas sobre
do objeto de estudo. Como 87% dos o funcionamento geral da clínica, métodos
e estratégias utilizadas e a relação dos as sextas-feiras na clínica, em que toda
cuidadores com os terapeutas e pacientes. equipe multiprofissional destaca questões
Buscando uma forma mais didática sobre um determinado paciente, visando
de relacionar o questionário com a pensar em estratégias conjuntas para
literatura exposta, ele foi segmentado melhorias no trabalho terapêutico realizado.
seguindo os principais tópicos abaixo:
1. Entendimento biopsicossocial no RESULTADOS E DISCUSSÃO
tratamento;
2. Contexto/desdobramento familiar As análises apontam relação entre a
após a descoberta do diagnóstico; saúde mental dos cuidadores com o
3. Saúde mental dos pais e processo de desenvolvimento dos pacientes
cuidadores; da clínica e destacam as dificuldades
4. Participação dos familiares no pós-diagnóstico, sobrecarga e perda de
tratamento dos filhos e autocuidado; individualidade dos pais e responsáveis das
5. Mecanismos e formas de crianças neurodivergentes. Apontam ainda
melhorar o bem estar dos cuidadores. a necessidade dos acolhimentos dos
Além disso, durante o decorrer do mesmos concomitantemente ao tratamento
estudo foi verificada a necessidade de, em dos pacientes para maiores resultados nos
conjunto com as entrevistas (ANEXO II), tratamentos, visto que o engajamento
realizar acompanhamentos aos parental é essencial para evolução das
atendimentos para entendimento crianças.
aprofundado dos métodos de atuação na Dessa forma, para especificar os
clínica. Estes acompanhamentos foram pontos importantes, organizamos a
divididos entre atendimentos individuais e apresentação dos resultados em duas partes:
em grupo: 1 - Acompanhamento de a primeira refere-se à visita técnica
atendimento em grupo com foco na (ANEXO III) e às entrevistas realizadas
integração sensorial e social dos pacientes; com os profissionais da clínica
2 - Acompanhamento de atendimento em correlacionadas à literatura, subdivido em
grupo contemplando 3 crianças com foco cinco temas: estrutura do ambiente,
em integração social e brincar lúdico; 3 - entendimento biopsicossocial;
Acompanhamento de profissional em desdobramento familiar após o diagnóstico;
psicologia em atendimento à criança com participação dos cuidadores no tratamento e
TEA; 4 - Acompanhamento de profissional saúde mental dos cuidadores e o seu
em Terapia Ocupacional em atendimento à impacto na saúde mental das crianças. Já a
criança com Síndrome de Down; 5 - segunda parte diz respeito à intervenção
Acompanhamento de atendimento com (ANEXO IV) realizada na clínica com os
profissional em psicologia à paciente com pais e responsáveis, feita por meio de uma
TEA; 6 - Acompanhamento de profissional roda de conversa e folder informativo.
em psicologia em atendimento à criança
com TEA. Estrutura do ambiente
Foram ainda realizados dois
acompanhamentos de reuniões de equipe, O primeiro resultado obtido foi por
sendo o primeiro acompanhamento (A1) meio da visita técnica, onde foi possível
uma reunião após palestra que houve para observar que o espaço no qual a clínica se
as mães de pacientes com temática sobre o instaurou possui alguns pontos a serem
câncer de mama, realizada na clínica, com melhorados. As salas de atendimento e a
foco na saúde mental, autocuidado e recepção possuem uma estrutura pequena,
doenças psicossomáticas destas cuidadoras. além de não ter uma climatização eficiente,
O segundo acompanhamento (A2) foi em tornando o espaço abafado, o que faz com
reunião de estudo de caso, realizada todas que tanto os profissionais, quanto os
pacientes e até mesmo seus responsáveis familiar do convívio em sociedade, com
que aguardam na recepção, possivelmente intuito de se dedicar exclusivamente à vida
se sintam desconfortáveis com esse do filho (Oliveira et al., 2020).
ambiente.
Como dito por Rocha (2021), é
“A maior dificuldade aqui são os
imprescindível que o local designado para
pais mesmo [...] A gente percebe
cuidar da saúde física e mental, seja bem
planejado e estruturado, pois dessa forma, é que a saúde mental dos pais é
possível que o bem-estar dos indivíduos muito defasada, a ponto de que
seja garantido e consequentemente, tem alguns pais que você vai
promova uma evolução de forma mais conversar e eles não falam sobre a
acelerada. Além disso, um ambiente criança, trazem muitas questões
organizado traz melhores eficiências na sobre eles, alguns choram, pois
atuação dos profissionais da clínica, já que estão no limite.” (E1)
o local de trabalho se torna mais produtivo
por fornecer qualidades relacionadas às “Percebo muita carência dos pais
suas características térmicas, acústicas e em relação a nós, eles procuram
ergonômicas. trazer tudo [...] então eu percebo
que eles são bem carentes assim
Entendimento biopsicossocial em conversar.” (E6)

A influência dos impactos “[...] Ela falou que demorou muito


biopsicossociais nas famílias de crianças para identificar o câncer porque
diagnosticadas com o Transtorno do não se preocupava com a própria
Espectro Autista se encontra presente nas saúde, nunca nem ia no médico,
diferentes alterações da dinâmica familiar estava sempre atrás das coisas do
após esse diagnóstico, que afeta filho e que só o autismo dele
importava [...] e ela sentiu o
diretamente a saúde física e mental dos
caroço porque o filho começou a
cuidadores (Calheiros & Oliveira, 2022).
mexer muito no peito dela, parecia
que sentia alguma coisa [...] foi
“Alguns quando recebem o um processo muito difícil e ela
diagnóstico já tem aquela como mãe solo, praticamente,
resistência né? Da aceitação...e precisou passar por tudo sozinha,
depois mesmo que passem pela ai câncer veio acompanhado da
aceitação tem toda a dificuldade, depressão e da culpa por não
pois são crianças atípicas, então estar se dedicando tanto ao filho,
acho que a nossa dificuldade ela chegou a pensar no suicídio
maior tem sido isso.” (E1) mas, segundo ela, não teve
coragem de deixar o filho sozinho
É comum que as famílias sintam-se neste mundo [...]” (E2 em
desamparadas no processo de descoberta acompanhamento de palestra
desse novo transtorno do sobre câncer de mama: A1)
neurodesenvolvimento e após o mesmo,
que vêm acompanhado também do Spinazola et al. (2018), em sua
sentimento de culpa, aumento de estresse e pesquisa com 60 mães de crianças com
com ele, a sobrecarga emocional, visto que deficiência física, síndrome de Down e
a partir do diagnóstico, há um afastamento autismo, sendo 20 as mães de crianças
autistas, identificou uma correlação entre o maior habilidade social e qualidade de vida
nível socioeconômico e a necessidade de para seus filhos. (Gaiato et al., 2022)
suporte das famílias, já que o nível
socioeconômico baixo pode interferir no “Uma necessidade assim, grande,
contexto familiar, bem como em um é os cuidadores terem confiança
desenvolvimento saudável dos filhos e na gente. A gente precisa que eles
também dos pais. tenham confiança, porque se não
tiver confiança, a gente não
consegue dar andamento [...] A
“A gente nunca pode falar uma
gente sempre explica que,
coisa que a gente quer porque a
principalmente no autismo, as
gente tem que ver o
crianças, independente da idade
socioeconômico dos pais, porque
cronológica, a gente tem avanços,
vai...é um desejo meu que meu
mas também as crianças podem
paciente coma de garfo e faca, só
regredir, ou podem não avançar e
que o pai não tem uma condição
nem regredir, isso vai de cada
de ter um garfo e faca, ele só tem
criança né, das suas limitações. E
colher na casa dele, como que eu
aí o que acontece às vezes é uma
vou cobrar um pai que quero que
falta de confiança por que a
ele faça isso sendo que isso não
criança não está evoluindo” [...]
tem na rotina?” (E5)
O que tem que ter é isso,
confiança na gente e paciência,
Desdobramento familiar após o saber que, calma, é um passinho
diagnóstico de cada vez, é um passinho de
formiguinha” (E4)
Culturalmente, as mulheres são
preparadas desde cedo para serem mães e “Muitos pais são bem ansiosos
constroem uma grande expectativa em então eles procuram “ah mas está
relação à família que terão. Imaginam que a evoluindo, não está evoluindo?”
criança será perfeita, dentro dos padrões Aí a gente sempre pontua isso, que
estabelecidos na sociedade. Dessa forma, é um trabalho de formiguinha.
Tem pacientes que uma semana ele
quando o filho recebe o diagnóstico de uma
está fazendo bonitinho, na outra
neurodivergência, passam por um luto
ele pode perder tudo. Tem paciente
simbólico de uma idealização (Lima et al., que convulsiona, então quando
2021). eles convulsionam eles perdem
No pós diagnóstico, as famílias todo o desenvolvimento motor,
enfrentam uma grande mudança em seu dia então o que eu já tinha
a dia, é necessário um tratamento conseguido, ele perde tudo, então
multidisciplinar e alterações na rotina para a gente vai começar tudo de novo
melhor atender as necessidades da criança. e tem pais muito ansiosos, eles
Para isso, é necessária uma comunicação e cobram muito isso da gente “ah
confiança fortalecida entre a clínica e os mas ele perdeu e agora?” [...] e a
gente fala “olha pode ser que
cuidadores. Juntos, podem desenvolver um
daqui a dois anos ele consiga”
manejo domiciliar onde aconteça a
mas não entra na cabeça deles,
generalização dos treinamentos aprendidos eles pensam que daqui a um mês
durante o seu tratamento, dando assim uma
ele já vai fazer, tem pais que são “[...] Às vezes a mãe faz os treinos
leigos que não entendem muito, em casa, mas o resto da família
então a gente sempre tem que não faz, pois acha que é bobagem,
estar conversando” (E6) que a criança não tem nada, e não
entendem porque a mãe está
Participação dos cuidadores no fazendo aquilo” (E1)
tratamento
“[...] Eu tenho muito contato com
as mães, os pais é raro por conta
A efetividade da participação dos
da rotina, eu acho que os pais
cuidadores no tratamento de crianças
trabalham fora e as mães ficam
neurodivergentes está diretamente ligada pra cuidar, então desde a
com a sua saúde mental e aceitação do anamnese, devolutiva…são só com
diagnóstico. Os responsáveis podem as mães. As minhas são bem
apresentar resistência em procurar presentes, na anamnese eles
tratamento adequado para a criança, além relatam isso que eu falei, os pais
de culpa, vergonha e medo (Mapelli et al., trabalham fora elas fica o dia todo
2018). É importante ressaltar uma com a criança, traz para terapia,
participação muito mais presente nas mães volta pra casa. Nas devolutivas
das crianças. Ramos e Madeira (2023), em também são só as mães que vem e
já chegou de mães me relatar que
sua pesquisa com 34 pais e tutores de
os pais não auxiliam muito, são
crianças com o Transtorno do Espectro
mais elas mesmo.” (E6)
Autista, traz que 91,2% são mães, 5,9% são
pais e 2,9% são outras pessoas. O número Para neurodivergências o tratamento
dessa pesquisa é bastante expressivo e é realizado por uma equipe
decorre de uma sobrecarga cultural multiprofissional, cada especialista vai
colocada nas mulheres a respeito da criação atuar conforme a sua área, de acordo com
dos filhos. Muitas, são mães solos e outras, as necessidades individuais de cada
possuem a responsabilidade de cuidar dos paciente. Ainda que a multidisciplinaridade
filhos e realizar os serviços domésticos seja essencial para o desenvolvimento dos
sozinhas, mesmo quando trabalham. Dessa indivíduos, o papel da família pode exercer
forma, quando se fala em saúde mental nos e promover grande influência no
pais e cuidadores, ser mulher é um tratamento, através de seus estímulos no dia
agravante. (Silva et al., 2020) a dia. (Braga, 2020)

“Eu percebo, mas, infelizmente, eu “Tem algumas mães que tudo o


percebo uma participação maior que a gente solicita elas ajudam,
das mães do que dos pais, essa é auxiliam em casa, e isso a gente
uma realidade muito grande que a percebe. Outras tem um
gente vem…né. Lógico que tem pouquinho mais de recusa nessa
pais que vem, traz a criança, vem colaboração e a gente também
em reunião, participa, mas a percebe, sim, por que quando a
grande maioria aqui, é a mãe, é a criança generaliza o
mãe que tá aqui” (E4) comportamento aprendido na
clínica, então quer dizer que tá
fazendo em casa, ta fazendo na
escola. Agora, quando a gente sugeridos pelos cuidadores, ou específicos
percebe que só faz aqui e não faz para seus filhos. Uma das psicólogas da
em casa, a gente nota que os pais clínica acredita muito que a saúde mental
não tão colaborando, e é nítido dos cuidadores impacta as crianças e por
assim, é muito nítido, tem criança
conta disso, tentou algumas estratégias para
que a gente vê que poderia evoluir
ouvir esses indivíduos. Ela relata que não
muito mais se os pais ajudassem,
então a gente fica um pouquinho
teve muito sucesso na participação e
limitado aí.” (E4) percebe que quando está explícito que a
conversa será sobre o diagnóstico de seus
“[...] Percebo muita dificuldade, filhos, os pais têm mais resistência em
acho que mais nos pais, às vezes, participar. Acredita que a melhor forma de
acho que nem tanto nas crianças favorecer a adesão é trazer o assunto para o
[...] eles não tem nada assim de lúdico.
rejeição, eles não vem com
valores, com nada assim já “Muitos tem que querer, por que
imposto. Acho que o mais difícil é às vezes a gente tem estratégias,
o pai mesmo, o pai, a mãe, acho eu mesma abri meu consultório,
que eles têm uma dificuldade de fazendo encontros, mas muitos não
aceitar” (E3) vão. [...] Pra chamar a atenção
deles eu ainda não consegui a
"A nossa maior dificuldade são os resposta [...]. Aqui mesmo, único
pais, a maioria não participa. A dia que teve o engajamento, assim,
gente faz a devolutiva e ensina maior, foi em uma festa junina que
“olha quando ele quiser alguma a gente fez um bingo com os pais,
coisa precisa ensinar ele a pedir” uma brincadeira, e aí eles
[...] Precisa muito da ajuda dos participaram, então talvez algo
pais, porém, não é o que a gente mais lúdico com os pais dê certo.”
vê, e é notório, a gente percebe (E3)
pela evolução da criança quando
isso está sendo trabalhado em “Tem uma psicóloga que ela tem
casa ou não. A gente faz a um consultório e ela se ofereceu
devolutiva e ensina, o que é o para entender os pais em uma
mando, o que é o tempo de espera, clínica particular, mas no caso
o contato visual, mas a gente não não é individual, é em grupo. A
tem muito retorno, às vezes é pelo gente não teve muito retorno pois
tempo, e pelo desgaste deles foram 2 ou 3 pais, nenhum
também que a gente não tem esse engajamento, envolvimento zero.”
retorno” (E1) (E1)

Stadler (2023) realizou uma revisão Saúde mental dos cuidadores e o seu
dos modelos de orientação e treino parental impacto na saúde mental das crianças
propostos na literatura
analítico-comportamental em sua pesquisa Com todas as mudanças vivenciadas
de mestrado, encontrou que para uma maior por uma família após a descoberta de um
adesão é necessário uma seleção de diagnóstico, os cuidadores apresentam um
objetivos de intervenção validados ou grande risco de desenvolver
psicopatologias. Eles enfrentam o luto de atender a criança para falar deles
um filho idealizado, estigmas sociais, mesmos, pais que já pensaram em
preconceitos, mudanças na rotina, negação desistir de tudo, estando em um
do diagnóstico, entre outras coisas. Com nível bem grave, aí a gente vê o
tanto que eles precisam.” (E1)
isso, apresentam isolamento social,
superproteção, dependência, e se sentem na
Johansson et al. (2020) relata o
obrigação de sempre estarem 100% atentos
quanto a depressão parental, se não tratada,
em seus filhos, não conseguindo ter a sua
impacta a relação familiar, pois a saúde
individualidade e autocuidado. Assim,
mental dos pais tem um impacto
muitos responsáveis adoecem e não
significativo na relação pai-filho e no
conseguem buscar ajuda (Duarte, 2019).
desenvolvimento da criança. Quando o
“Eu até tô sempre aconselhando
bem-estar do responsável está
elas a fazerem alguma coisa por comprometido, pode haver uma negligência
elas também. [...] Muitas vezes, em relação ao tratamento por não ter
elas ficam preocupadas também e disposição para a dedicação necessária. Da
quando elas não estão bem, isso mesma forma, isso acontece quando eles
afeta muito neles, muito. A gente negam o diagnóstico, acreditando que a
percebe, eles chegam mais criança não necessita de nenhum
agitados, mais irritados, né. [...] acompanhamento. (Souza & Souza, 2021)
Quando a família não vai bem, a
criança não vai bem. [...] Eu tenho “Os pais, quando não entendem as
vontade de mais pra frente, ter um questões, acham que é frescura,
dia pra dança e várias outras que é…acabam julgando muito
atividades para fazer, para cuidar essa criança, na verdade, e essa
delas” (E4) criança quando chega pra gente
[...] é muito prejudicada, quando
“Encontros de grupos, online, esses cuidadores não dão atenção
presencial, eu ainda acredito adequada” (E2)
muito nisso, tentar fazer essas
conversas e mesmo o tempo que a “[...] Às vezes a gente tenta
gente tem vago ir lá conversar trabalhar com a criança, mas se
com um pai, uma mãe, falar “você os pais não estão bem, não vai
tá bem?" Aí você escuta, você refletir na criança” (E1)
ouve. Eu acho que todas as
clínicas deveriam investir um
Sales et al. (2022) relata que, de
pouquinho nos pais de alguma
forma” (E3)
acordo com os resultados de sua pesquisa, a
maioria das mães de crianças com TEA
“Temos vontade de deixar apresentam sintomas comuns da Síndrome
futuramente um psicólogo só para de Burnout, como sobrecarga psíquica,
atender os pais individualmente, física e falta de realização pessoal, pois
pois vemos essa necessidade deles. encontram dificuldades em manter práticas
Às vezes olhar para eles, eles voltadas para vida particular, como
conseguindo melhorar a saúde desenvolvimento de relações sociais e
mental, o retorno vai ser melhor. atividades de lazer, devido à sobrecarga de
Tem pais que tivemos que parar de
deveres atribuídos aos filhos, acarretando Intervenção
em sentimento de isolamento e
despersonalização. A intervenção foi desenvolvida em
2 etapas: 1 - Entrega de folder educativo
“[...] ela comentou sobre algo que (ANEXO V) sobre a importância de cuidar
a gente sempre observava aqui na da saúde mental, que foi dado aos
clínica, ela chegava e deixava o participantes da roda de conversa e
filho solto na recepção, mesmo também, deixado na clínica para os
familiares que não participaram; 2 - Roda
quando tinha comportamentos
de conversa com os cuidadores que inclui
inadequados. Mas então ela disse
dinâmica, denominada “4 x 4” pelos
uma coisa, assim, muito
integrantes do grupo, por acontecer em
interessante: eu passo o dia todo quatro rodadas de quatro minutos.
com meu filho, todos os dias desde Foram utilizados os materiais de
que ele nasceu, o único momento estudo encontrados em artigos, livros e
que eu tenho para relaxar são revistas científicas para elaboração de um
essas quatro horas que ele fica na roteiro, com intuito de orientar os
clínica, então eu deixo ele a pesquisadores na roda de conversa com os
vontade já que eu sei que aqui as pais, cuidadores e familiares dos pacientes
pessoas entendem ele e que vão da clínica, já que de acordo com
saber o que fazer quando ele se Nascimento e Baduy (2021), dinâmicas
jogar no chão, gritar, fazer como roda de conversa priorizam o
birra…em nenhum outro lugar eu pensamento crítico de forma descontraída
tenho essa paz, e eu mereço isso por meio da troca de diálogos do cotidiano.
também.” (E2 em Além disso, a fim de auxiliar as famílias a
acompanhamento de palestra lidarem de forma saudável com suas
sobre câncer de mama: A1) demandas pessoais, bem como fornecer
suporte informacional (Weissheimer et al.,
2023), também foi realizado um folder
“[...] ela disse que pra ocupar o
educativo, com uma linguagem acessível
tempo que fica aqui esperando as
aos cuidadores e apresentação gráfica
terapias, começou a ir na
simples, a fim de que estes possam refletir
academia, mas não conseguia nem sobre o conteúdo da roda de conversa e
fazer 30 minutos de esteira que já reconhecer a importância do autocuidado
chorava, e ela nem sabe direito o (ANEXO V).
por quê disso, ela só sentia que Os pesquisadores fizeram papel de
tinha que ficar aqui sentada mediadores, direcionando a conversa para o
esperando o filho [...]” (E2 em foco dos objetivos da pesquisa. Em
acompanhamento de reunião de segundo momento, conforme citado acima,
estudo de caso: A2) foi realizada a dinâmica “4 x 4”, onde
duplas de participantes conversaram
durante quatro minutos. As rodadas se
Com base na literatura e inspirados repetiram quatro vezes, havendo um rodízio
na experiência e ideias da psicóloga entre os participantes para não acontecer
repetição dos pares. Assim, se
entrevistada 03 (E3), optamos por realizar
apresentaram, responderam e fizeram
uma intervenção lúdica, realizando uma perguntas sobre assuntos distintos, focando
roda de conversa com uma dinâmica no resgate da individualidade (Pinto, 2019).
divertida e acolhedora. Na intervenção realizada,
encontrou-se a situação colocada pela E3,
visto que houve uma dificuldade na do cuidado com a autoestima e da
participação dos familiares. As individualidade (Fischer et al., 2022).
participantes, em sua totalidade, foram 6 Durante a dinâmica, conversamos
mães e 1 avó, que já estavam na clínica sobre diversos assuntos e descobrimos
enquanto as crianças realizavam o coisas sobre as mães, que nem elas
tratamento. Assim, percebe-se que, neste lembravam. Uma contou que participou de
dia, apenas mulheres as acompanhavam, uma banda de rock e que não se reconhece
evidenciando a sobrecarga que carregam mais como aquela pessoa, outra contou que
perante a sociedade (Almeida, 2023). Além trabalhou na rádio. Falaram sobre seus
disso, esse foi um assunto colocado por elas hobbies, crochê, dança, academia, entre
durante a intervenção. Falaram sobre outros. E no final, evidenciaram o quão
precisar estar 100% do tempo com os benéfico foi resgatar essas lembranças e
filhos, a falta de atividades de lazer e a falta falar de si mesmas, sem citar seus filhos.
de rede de apoio, principalmente dos pais Também percebemos que, no início,
(Faro et al., 2019). algumas apresentaram dificuldades em não
Ribeiro (2012) aborda sobre a culpa falar sobre as crianças, mas no final,
que cuidadores sentem em seu dia a dia, conseguiram conversar apenas sobre elas.
assunto muito evidenciado durante a Ressaltamos o quanto o autocuidado
conversa. Uma das mães contou que e a saúde mental delas reflete de forma
sentia-se muito culpada quando conseguia positiva em seus filhos (Portela et al.,
2023). As mães concordaram e comentaram
ter um tempo para si mesma, sempre
que as crianças percebem quando estão
pensando como a sua filha estava e estressadas e ficam mais nervosas. Por fim,
sentindo-se mal por não estar perto. Outra, ressaltamos a importância da psicoterapia e
relata que apenas agora, após 9 anos do algumas relataram que fazem ou já fizeram
nascimento de seu filho, está conseguindo e compartilharam suas boas experiências.
praticar o autocuidado sem se sentir Visto que programas de orientação
insuficiente. Esse sentimento está parental em grupo, focados na
psicoeducação e acolhimento são
diretamente ligado com o adoecimento de
estratégias favoráveis para maior
muitos pais e cuidadores, por isso a engajamento e cuidado com a saúde mental
importância de falar sobre o assunto. parental (Benedetti et al., 2020),
Quando a dinâmica foi explicada às recomenda-se que os profissionais da
participantes, ressaltamos a importância de clínica, e outras instituições trabalhem esse
o bate papo, em cada rodada, ser sobre elas, olhar de cuidado para os cuidadores dos
para trabalharmos a individualidade. Neste pacientes, para que dessa forma ocorra a
manutenção da saúde e do amparo.
momento, trouxemos o questionamento de
quem são elas, além de mães e avós. Muitas
expressaram o quanto seria difícil pensar no
que gostam e quem são e uma delas
respondeu, em meio a risadas, que seria
“uma zé ninguém”, causando uma
descontração no grupo. Apesar de dizer de
forma descontraída, a sua fala traz um peso
carregado por muitas pessoas com essas
responsabilidades e reforça a importância
CONSIDERAÇÕES FINAIS 2. O estudo não passou pelo Comitê de
Ética da Instituição por ser um
Este estudo explorou a dinâmica de estágio básico de intervenção em
uma clínica multidisciplinar voltada para saúde mental, já proposto pela
crianças com transtornos do Universidade São Judas Tadeu. A
neurodesenvolvimento, com maior supervisora assume a
prevalência no Transtorno do Espectro responsabilidade quanto às questões
Autista, centrando-se em analisar as éticas no âmbito da prática
perspectivas dos profissionais e propondo profissional do psicólogo.
uma intervenção em saúde mental para os
cuidadores com base na literatura estudada. REFERÊNCIAS
As entrevistas demonstraram
relação com os estudos realizados pelos Almeida, B. C. [UNIFESP. (2023). Sobrecarga
materna: um olhar para as cuidadoras das
pesquisadores, as quais revelaram a pessoas com Transtorno do Espectro
complexidade dos desafios enfrentados Autista (TEA). Repositorio.unifesp.br.
pelos cuidadores, destacando a sobrecarga https://repositorio.unifesp.br/11600/68709
emocional e a importância da participação
ativa dos pais nos processos terapêuticos. ‌American Psychiatric Association. (2014). Manual
diagnóstico e estatístico de transtornos
A proposta de intervenção desta
mentais: DSM-5 (5a ed.; M. I. C.
pesquisa teve resultados significativos, Nascimento, Trad.). Porto Alegre, RS:
como por exemplo uma resposta receptiva Artmed.
das mães na participação da dinâmica e a
percepção delas na questão do autocuidado, American Psychiatric Association. (2022).
as quais compartilharam sentimentos de Neurodevelopmental disorders. In
Diagnostic and statistical manual of mental
culpa e sobrecarga, além do esquecimento disorders (5th ed., text rev.)
dos próprios interesses. Entretanto,
percebeu-se uma limitação no estudo Ardic, A. (2020). Relationship between Parental
proposto, já que apesar da divulgação, Burnout Level and Perceived Social
houve pouco engajamento dos cuidadores Support Levels of Parents of Children with
Autism Spectrum Disorder. International
em relação às divergências dos horários em Journal of Educational Methodology, 6(3),
que estariam presentes na clínica, com o 533–543.
horário que ocorreu a dinâmica. https://doi.org/10.12973/ijem.6.3.533
Este estudo proporciona valiosas
perspectivas que podem orientar Ávila, E. M. de M., & Matos, D. C. de. (2023).
Efeitos do Treino de Habilidades
pesquisadores e psicólogos na concepção Comportamentais Remoto em Familiares
de intervenções direcionadas ao bem-estar de Criança com Transtorno do Espectro
dos cuidadores em ambientes semelhantes. Autista. Perspectivas em Análise do
Compartilhar essas experiências visa Comportamento, 14(2), 001–021.
enriquecer práticas clínicas, inspirar futuras https://doi.org/10.18761/paca098cda23459
investigações e promover abordagens mais Benedetti, T. B., Rebess, I. P., & Neufeld, C. B.
esclarecedoras e empáticas no âmbito da (2020). Group parental guidance programs:
psicologia. A systematic review. Psicologia - Teoria E
Prática, 22(1).
NOTAS https://doi.org/10.5935/1980-6906/psicolog
ia.v22n1p399-430
1. Além dos três primeiros autores, Braga, V. L. C. D. A. (2020). Autismo: compreender
outros dois estagiários participaram e acolher as famílias.
do trabalho: João Paulo Tytko e Repositorio.pucgoias.edu.br.
Juliana Spinola Torres, a quem os https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/ha
ndle/123456789/1064
autores agradecem a colaboração.
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Souza, R. F. A., & de Souza, J. C. P. (2021). Os
desafios vivenciados por famílias de

ANEXO I

QUESTIONÁRIO

1. Informações iniciais
● Data da entrevista
● Nome do entrevistador
● Nome do entrevistado
● Cargo
● Tempo de atuação
● Tempo de atuação nesta instituição

2. Avaliação da Situação
● Quais os principais desafios em termos de saúde mental observado nos
pacientes\clientes atendidos?
● Você sente que os resultados na evolução da qualidade de vida e saúde mental dos
pacientes são satisfatórios?
● Você identifica participação ativa dos cuidadores nas estratégias adotadas para o
tratamento multidisciplinar voltado para essa melhora na qualidade de vida e saúde
mental dos pacientes?
● Você recebe feedback dos cuidadores sobre a melhora da saúde mental dos
pacientes?

3. Abordagem e Intervenções
● Quais são as principais estratégias adotadas para promover a saúde mental dos
pacientes?
● Como a multidisciplinaridade afeta a saúde mental dos pacientes?
● A instituição oferece treinamentos para situações específicas? (contenção, manejo,
adaptação).
● As metodologias utilizadas na instituição, como a ABA, são informadas aos
cuidadores?

4. Avaliação de necessidade e metas


● Como a instituição identifica as necessidades individuais de saúde mental dos
pacientes?
● Como são definidas as metas da instituição relacionadas à saúde mental a médio e
longo prazo dos pacientes?
● Como são avaliadas e discutidas as devolutivas aos cuidadores?

5. Colaboração Interdisciplinar
● Como vocês lidam com situações em que são necessários apoios de outras áreas da
saúde?
● Como é o funcionamento entre as diferentes áreas no tratamento da saúde mental
dos pacientes?

6. Desafios e ética
● Quais são os desafios enfrentados pelos profissionais que trabalham com saúde
mental?
● Como a instituição garante a ética profissional nos cuidados à saúde mental durante
os atendimentos e como essas garantias são informadas aos cuidadores?
● Como a instituição aborda questões de confidencialidade relacionadas à saúde
mental?

7. Perguntas finais
● Como é a relação dos profissionais com os cuidadores e como esta relação influencia
na saúde mental dos pacientes?
● Você acredita que a saúde mental dos cuidadores têm impacto considerável na
saúde mental dos pacientes?
● O que você identifica ser a maior necessidade para uma participação colaborativa e
eficiente dos cuidadores para evolução da saúde mental dos pacientes?
● Você tem algum conselho importante aos estudantes sobre intervenções em saúde
mental?

ANEXO II

RESUMO DAS ENTREVISTAS

Para otimização e para deixar os entrevistados mais confortáveis, optamos por nos dividir em
duplas. Assim, uma das primeiras entrevistas foi realizada com a diretora da clínica, Cláudia,
que primeiramente falou sobre a sua formação. Ela trabalha na área da educação desde 2013 e
em 2018 foi para a área da saúde. Formou-se em pedagogia, psicopedagogia e
psicomotricidade. Hoje, ela trabalha apenas na área administrativa, mas no início realizava
atendimentos. A clínica abriu em março, começando com apenas um paciente. Agora, em
outubro, está com trinta e oito. Possui diversas áreas disciplinares que são elas, psicologia,
psicopedagogia, psicomotricidade, terapia ocupacional, fisioterapia e fonoaudiologia.
O maior público está dentro do espectro autista e a Cláudia enxerga que o comportamento
social e a fala são as maiores dificuldades dentro da saúde mental dos pacientes, por não
conseguirem comunicar seus sentimentos e possuírem uma sensibilidade com a frustração,
mudança de rotina, acompanhamento dentro da escola por conta da falta de estrutura,
variação de humor e comunicação não verbal.
Ela acredita muito em um estímulo reforçador para maior adesão das crianças, fazendo
treinos individuais, focando nas especificidades da vida dessa criança e no seu dia a dia. A
equipe observa o comportamento para verificar as avaliações a serem aplicadas para
identificar as necessidades individuais, junto com o olhar clínico, refeitas a cada 6 meses para
constatar aquisição de habilidades ou retrocessos. Ressalta a importância dos relatórios para
se comunicar com outras áreas, realizando encaminhamentos sempre que necessário e a
importância, também, da equipe multidisciplinar, que quando trabalhada em conjunto
apresenta resultados positivos. Dessa forma, toda sexta feira, fazem reunião de equipe, que
possuem capacitações e conversas para que as áreas se comuniquem.
E, em relação à visão dessa equipe para a saúde mental do paciente, relata que, no início, são
muitas demandas diferentes em um dia só, então pode ser exaustivo pela exigência de
esforços. Porém, aos poucos vão se acostumando e sentindo a necessidade de estar na clínica.
Segundo ela, existe uma participação ativa dos cuidadores, sendo a sua grande maioria mães.
Alguns possuem dificuldades com o diagnóstico e com a generalização dos treinos dentro de
casa. É importante ressaltar a presença da diretora e de todos os profissionais dentro da
clínica e em contato com as mães, estando sempre abertos para feedbacks e acolhimentos.
Para comunicação mais efetiva, utilizam uma agenda para cada paciente e se preocupam em,
aos poucos, ir explicando sobre a ABA, os treinos de mando e tato e sobre as outras
atividades que as crianças realizam. Por estar no início, a clínica ainda não oferece os
treinamentos específicos, como contenção, manejo e adaptação, mas estão no processo de
colocar em andamento.
Em relação à saúde mental dos profissionais, a diretora acredita ser de extrema importância
que todos façam psicoterapia, exercícios físicos e outras coisas para cuidarem de si mesmo,
pois lidam diretamente com problemas. Relata essa mesma preocupação com as mães dos
pacientes, que muitas vezes, esquecem de cuidar de si mesmas por conta do diagnóstico.
Segunda ela, esse acontecimento não só as afeta, como as crianças também, que muitas vezes
sentem diretamente a carga emocional que a mãe está enfrentando. Assim, a clínica tem sido
um espaço de acolhimento para essas famílias, não só por conta dos profissionais, mas
também, por conta da relação que elas têm formado entre si, fazendo atividades juntas e
conversando sobre as dificuldades com cada filho.

A outra dupla realizou a sua primeira entrevista com Carla Caroline, atualmente estagiária de
psicologia atuando na clínica Speranza há 7 meses como AT (Acompanhante Terapêutica), e
estudante de psicologia estando em seu último semestre de graduação, responsável por
montar e aplicar os testes necessários durante o processo terapêutico e acompanhar a
devolutiva juntamente com a profissional que a supervisiona.
Carla aponta que o principal desafio enfrentado em seu trabalho relacionado à saúde mental
dos pacientes é a dificuldade de trabalhar a socialização e comunicação das crianças, porém,
relatou que apesar de ser um trabalho que pode demorar dependendo da complexidade, já
conseguiu observar a generalização e melhora em diversos casos.
Vale ressaltar que, segundo ela, a maior parte dos cuidadores acabam não participando
ativamente do processo terapêutico, por exemplo, realizando as atividades em casa com seus
filhos, apesar da clínica ter implantado o protocolo de conduta da criança para auxiliar os
cuidadores. Além disso, há também a entrevista devolutiva bimensalmente para orientar e
explicar sobre os procedimentos corretos, como, por exemplo, ensinar sobre como reforçar
comportamentos adequados e não reforçar comportamentos inadequados. Porém, dos casos
em que há uma participação ativa dos cuidadores, é notória a diferença da evolução e avanço
nos resultados das crianças, e os profissionais acabam recebendo feedbacks positivos durante
as entrevistas devolutivas e utilizando as informações dos pais como insumos no próprio
tratamento.
O principal mecanismo utilizado durante o processo terapêutico, segundo ela, é o mecanismo
de reforço, inicialmente diferenciando qual é o estímulo que cada criança identifica como
reforço, e, em seguida, reforçando comportamentos conforme a resposta esperada para cada
aprendizado. De forma mais simplificada, através destes reforços, a profissional consegue
moldar os comportamentos para que se tornem mais funcionais. E, principalmente, atentar-se
para não reforçar comportamentos inadequados.
A multidisciplinariedade é citada pela Carla como crucial para a realização e sucesso no
tratamento, pois deve ser um trabalho em conjunto e nunca em apenas um fator isolado. Ela
exemplificou trazendo o caso de que mesmo que a psicóloga trabalhe o comportamento e
socialização, se a criança não consegue realizar movimentos físicos ou apresenta muita
dificuldade na fala, e isso não é tratado de forma conjunta, a criança terá muito mais
dificuldade de progredir e melhorar seus resultados. Estas discussões de caso em conjunto
com diversos profissionais são realizadas às sextas-feiras justamente para terem um
diagnóstico e tratamento conjunto multidisciplinar. Estas reuniões iniciaram há 3 meses na
clínica por conta de feedbacks recebidos e têm surtido muito efeito prático nos pacientes.
Por fim, a Carla cita a importância de a clínica desenvolver mais projetos direcionados aos
cuidadores, pois há muita demanda reprimida, na medida em que, quando há algum espaço
mais reservado, diversas mães desabafam sobre sua saúde mental buscando apoio e
acolhimento. É preciso reconhecer também a dificuldade enfrentada pelos cuidadores e
oferecer um serviço que supra essa necessidade, pois “a saúde dos pais acaba refletindo
diretamente na saúde mental dos seus filhos”.

Para nossa entrevista do dia 17 de outubro, solicitamos a presença da psicóloga Márcia


Santos. Seu tempo de atuação na área de Psicologia é de 2 anos e na Clínica Speranza há 9
meses como aplicadora e supervisora de alguns casos de acompanhantes terapêuticos.
Alguns desafios em relação à saúde mental dos pacientes relatados por Márcia, se dá por
outras comorbidades além do Transtorno de Espectro do Autismo, mas, principalmente, pelo
ambiente em que vivem e pela saúde mental dos próprios pais e da família, que normalmente
são fragilizados.
Além disso, ela percebe uma evolução nítida em diversos de seus pacientes, essencialmente
pela parceria que alguns pais apresentam com os terapeutas, pois essa parceria promove uma
evolução ainda mais rápida e eficiente das crianças.
Uma das principais estratégias para promover a saúde mental dos pacientes é a conversa e a
devolutiva que ocorre entre os pais e os terapeutas, nos momentos de chegada e saída das
crianças e também em reuniões, visto que de acordo com o relato de Márcia, a maioria dos
pais chegam na clínica demonstrando um pouco de resistência e com um sentimento de luto
após receber o diagnóstico, portanto o trabalho para que o pai entenda e confie no trabalho
dos terapeutas, é um trabalho que exige uma conversa diária.
Márcia aponta que entre a multidisciplinaridade das equipes, um diálogo claro, em que todos
consigam enxergar as necessidades dos pacientes e respeitar a individualidade de cada
criança, é essencial para que a evolução aconteça e a saúde mental delas seja preservada.
Ela relata que os pais possuem muita autonomia e liberdade para marcarem reuniões com os
terapeutas, para tirar dúvidas ou para conversar, tanto sobre as crianças, quanto sobre eles
mesmos, pois a conversa, na maioria das vezes, acaba se desencadeando em um desabafo.
Em relação às questões éticas e de confidencialidade sobre a saúde mental dos pacientes,
Márcia diz que na ABA, a conversa com os cuidadores das crianças é necessária, pois os
atendimentos normalmente são voltados para crianças que estão na primeira fase do
desenvolvimento, portanto os protocolos de Ética são mantidos através do monitoramento de
câmeras na sala, para garantir da melhor forma o cuidado e o direito dos mais jovens.
A relação dos profissionais com os cuidadores só se estabiliza através do vínculo com o
paciente, mas também com a família, para que haja uma relação de confiança entre todos.
Ademais, ela nos mostrou o quanto a saúde mental desses pais impacta na saúde mental das
crianças, já que muitas vezes eles podem julgar seus filhos como incapazes ou não dão a
atenção adequada que eles necessitam.
Nós finalizamos com uma pergunta crucial para o nosso projeto sobre a participação dos
cuidadores na saúde mental e na evolução dos pacientes, que foi respondida pela Márcia
como sendo muito importante ajudar os pais na compreensão sobre o que é Autismo e nas
questões do desenvolvimento da criança através da ABA, pois dessa forma, eles se
mostraram interessados em saber mais e também em compartilhar suas histórias e suas
angústias.

Para a nossa entrevista realizada no dia 17 de outubro, solicitamos a participação da Alana.


Alana concluiu sua formação há dois anos e trabalha na clínica há sete meses, após uma
experiência de oito meses em uma casa de repouso. Na clínica, ela se depara frequentemente
com crianças que chegam sem habilidades básicas, como subir escadas sem ajuda. Alana
concentra seus esforços em desenvolver e auxiliar os movimentos dos pacientes, promovendo
assim uma vida mais autônoma e um desenvolvimento corporal saudável. Atualmente, está se
especializando em lidar com casos de autismo.
Os principais desafios para Alana envolvem o comportamento das crianças, especialmente
aquelas com autismo, que frequentemente apresentam comportamentos opositores. As
atividades precisam ser lúdicas, evitando reforçar comportamentos inadequados.
Alana testemunhou notáveis avanços nas crianças da clínica, especialmente através de
atividades com a bola.
Ela mantém contato frequente com as mães, que são ativamente envolvidas e enviam vídeos
documentando a evolução de seus filhos. Algumas mães relataram falta de ajuda por parte
dos pais em casa. A clínica implementa protocolos de conduta, orientando os pais sobre como
estimular e apoiar o desenvolvimento de seus filhos em casa.
Alana segue os marcos motores das crianças em diferentes faixas etárias e adapta sua
abordagem às necessidades individuais de cada criança. Ela compreende a importância das
atividades para promover a autonomia, contribuindo para uma saúde mental dos pacientes.
Infelizmente, algumas crianças acabam sendo excluídas de atividades escolares devido a
limitações, o que afeta negativamente sua saúde mental. Pais superprotetores podem
prejudicar o desenvolvimento da criança também.
A abordagem multidisciplinar é fundamental na clínica, com profissionais colaborando e
compartilhando informações entre as sessões dos pacientes, além de realizar reuniões
regulares nas sextas-feiras para discutir casos.
A clínica adota a metodologia ABA para avaliar as crianças, observando marcos motores,
identificando possíveis malformações e encaminhando para tratamento médico, se necessário.
A devolutiva individual aos pais ocorre a cada três meses, com orientações contínuas.
Alguns pais enfrentam ansiedade ao aguardar a evolução de seus filhos, especialmente
quando ocorrem contratempos, como convulsões. Alana destaca a importância de
compreender o processo, sendo um desafio lidar com a ansiedade e as expectativas dos pais.
Avaliações são realizadas mensalmente, com relatórios compartilhados entre os pais e a
clínica, e a próxima devolutiva ocorre após três meses.

A entrevista do dia 23 de outubro foi realizada com a Giovana, que é estagiária em Terapia
Ocupacional (TO) desde a abertura da clínica. Trabalha a integração sensorial e as atividades
da vida diária, sendo feita uma avaliação, desde a parte motora até a cognitiva, verificando
para quais áreas o paciente será encaminhado. A maior dificuldade em relação à saúde mental
dos pacientes, para a entrevistada, é que, muitas vezes, o Transtorno do Espectro Autista
(TEA) vem acompanhado de outros transtornos de mais difícil diagnóstico e que dificultam o
quadro.
Giovana relata que, na Terapia Ocupacional, os resultados são muito variáveis, podendo
demorar dois anos para um avanço. Porém, para ela um pequeno avanço já é uma grande
vitória, principalmente na qualidade de vida do dia a dia desses pacientes. Mesmo muitas
pessoas achando pouca coisa uma criança aprender a abrir uma porta ou abaixar uma calça,
para eles, a aquisição da autonomia é muito importante. Acredita que a participação dos
cuidadores é muito variável, pois muitos pais ainda não aceitam o laudo, dificultando o
trabalho da equipe. Mesmo com algumas dificuldades, recebe bastante feedback que indicam
a melhora ou piora, pois existem pacientes que apresentam poda neural e podem retroceder. A
estagiária diz estar sempre em contato com os pais para entender melhor o contexto
socioeconômico e quais as expectativas em relação à TO, além de realizar reuniões para ter
essas trocas. Essa relação traz confiança e cria um vínculo, afetando positivamente a saúde
mental dos pacientes, pois acredita que o comportamento dos pais afeta diretamente os filhos.
Ou seja, se os pais estão tensos, os filhos sentem e demonstram isso nas consultas. Ela reforça
que esse impacto vem dos pais e também dos profissionais, por isso devemos estar sempre
com a psicoterapia em dia.
Relata que a ABA é uma troca e inserindo atividades que o paciente gosta nas sessões,
consegue uma maior participação. Assim, a equipe multidisciplinar estando alinhada e em
contato entre si e com as necessidades do paciente, evolui muito seu tratamento.

Por fim, no dia 08 de novembro, entrevistamos a psicóloga Carla Patrícia, que se formou em
2007 e está na clínica desde fevereiro. Ela fala bastante sobre a dificuldade dos pais em
aceitar o diagnóstico dos filhos e colocar os treinos em prática no dia a dia, por valores já
impostos e por questões relacionadas à saúde mental. Acredita que a melhor estratégia para
melhorar a saúde mental é a atuação da equipe multidisciplinar como um todo, para não
acontecer divergências na parte comportamental ou da fala, por exemplo.
Relata, também, a importância da equipe estar alinhada para que todas as crianças recebam
um acompanhamento integrado, assim, cita as reuniões de equipe que acontecem às
sextas-feiras. Toda a forma que trabalham é informada aos cuidadores, que estão sempre em
contato com toda a equipe e ao entrarem, realizam uma avaliação para verificar as
necessidades dessa criança e conforme um certo tempo, de caso para caso, são reavaliados.
Na reunião com os pais, mostram toda a evolução dos treinos por gráficos, normalmente a
cada dois meses, mas dependendo da necessidade, podem se reunir mais vezes.
A psicóloga aborda sobre a dificuldade de se comunicar com alguns médicos, que, muitas
vezes, questionam o trabalho dos profissionais da clínica, deixando os pais confusos.
Para finalizar, fala sobre a necessidade de olhar para a saúde mental dos cuidados, visto que
descobrir um diagnóstico nas crianças traz muita sobrecarga. Ela conta que tentou realizar
intervenções com os pais para ajudá-los quanto a isso, mas encontrou muita dificuldade em
relação à participação. Assim, nos diz que acredita que uma forma de trazer os pais mais para
perto, seria trazer atividades lúdicas, que não especifique muito o assunto em neuro
divergências.

ANEXO III

RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA

1. Informações gerais:
- Local: Clínica Speranza.
- Data: 11 de outubro de 2023.
- Duração: 3 Horas.
- Clínica localizada no centro da cidade de Diadema-SP.
2. Profissional Responsável:
- João Henrique Fernandes; Estagiário em Psicologia.

3. Natureza da Visita Técnica:


- Universidade São Judas Tadeu; Polo Jabaquara; Curso Psicologia.
- Estágio básico Intervenções em saúde mental.
- Professora Responsável: Iraide Pita.
- Integrantes: Ana Clara Magalhães Eleutério; Beatriz Costa Ferreira; João Henrique
Fernandes de Souza Amorim; João Paulo Tytko; Juliana Spinola Torres.

4. Objetivos Didáticos:
- Colher dados iniciais para desenvolvimento de proposta de projeto de intervenção
em promoção da saúde mental.

VISI DAT DESCRIÇÃO DAS AVALIAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SUGESTÕES E AVALIAÇÕES


TA A ATIVIDADES VISITA PARA FORMAÇÃO TÉCNICAS
PROFISSIONAL
1. 11/10 - Fomos bem acolhidos no - Local muito - Com cada profissional da - Espaço do local: A clínica possui uma sala de
local; organizado e clínica tivemos uma troca de recepção com um espaço adequado e diversas
- Profissionais acolhedoras e acolhedor; conhecimento, ficamos mais poltronas para que os cuidadores e
empaticas; - Profissionais muito interessados nas atividades e profissionais se sintam à vontade, sendo que da
- As atividades feitas na dedicadas; como cada profissional acesso direto à sala da dona da Clínica, que se
clínica com os pacientes conseguia ver a evolução de mostrou bem transparente e acessível
foram muito bem explicadas cada paciente; - Logo na entrada há um mural com diversas
por cada profissional, - Com muita paciência, amor fotos das crianças e terapeutas, trazendo um
fazendo com que tivéssemos e empatia viam evolução tom bem acolhedor e reforçando a importância
mais conhecimento de cada com os pacientes; do acompanhamento
função de cada profissional - Aprendemos a enxergar - O local é dividido por diversas salas a maior
na clínica; não só o paciente mas a parte com um tamanho mais reduzido, e todas
- Tivemos contato com cada família do paciente também; equipadas com diversas ferramentas que são
profissional: psicóloga, utilizadas ao longo do processo terapêutico
fonoaudióloga, (bambolês, brinquedos funcionais, balanços,
psicopedagoga...; etc). Também possui uma área mais aberta
- Conhecemos todo o local; como um quintal em que são realizadas
atividades em grupo, e um refeitório em que as
crianças podem se alimentar caso seja
necessário.

2. 17/10 - Nos dividimos em grupos - Fomos muito bem - Cada profissional nos - As salas são um pouco pequenas, então em
para realizar entrevistas com recebidos e acolhidos apontou seu ponto de vista alguns locais não tinham cadeiras adequadas
4 profissionais, sendo estas por todos. As sobre a saúde mental dos para sentarmos, ou ficamos bem apertados,
Cláudia, dona da clínica e profissionais pais e dos pacientes, mas nada que impedisse a fluidez da conversa.
psicopedagoga, Márcia, contribuíram muito contribuindo fortemente - A clínica realiza alguns eventos integrativos
psicóloga, Alana, com a nossa para reflexões dos membros para que tanto os cuidadores quanto as
psicomotricista e Carla entrevista e do grupo e para pensarmos crianças participem, e como a clínica é aberta e
Caroline, estudante de responderam às em estratégias para nossa possui uma sala de entrada grande, as mães se
psicologia. perguntas de maneira proposta de intervenção. sentem à vontade para entrar e conversar com
adequada, fazendo - Conseguimos perceber a os profissionais e diretoras após levarem e
fluir uma conversa importância da buscarem as crianças. Além disso, há os
entre todos. interdisciplinaridade no encontros com os cuidadores nas entrevistas
atendimento terapêutico. devolutivas que acontecem com diferentes
Por exemplo, a periodicidades a depender da categoria da
psicomotricista trouxe a profissional.
importância de realizar - Uma profissional da clínica realiza um
alguns movimentos e o atendimento psicoterápico em grupo para os
quanto o fato da criança não cuidadores em uma clínica particular própria,
conseguir realizar gera porém, custeada pelo próprio reembolso dos
frustrações e atrapalha o planos de saúde dos pacientes da clínica. Foi
convívio social relatado que houve pouca adesão (apenas 3 ou
- Em boa parte das vezes foi 4 mães compareceram), mas parece ser uma
relatado o quanto a frente que a clínica pretende priorizar nos
participação dos cuidadores próximos meses
influencia diretamente no
resultado e tratamento das
crianças.

3. 23/10 - Realizamos uma atividade - A visita foi muito - Foi possível identificar que - Em relação ao local, notamos que poucas
em grupo com foco na bem vista por todos cada criança possui sua salas possuem ventilador e nenhuma possui ar
integração em conjunto com integrantes do grupo, particularidade e é condicionado. Em tempos com calor excessivo
as crianças e profissionais da pois pudemos necessário uma atenção pode ser um fator que contribua para um
clínica. A atividade consistia interagir com diversas específica para cada caso possível estresse da criança atrapalhando o
em brincadeiras em grupo crianças e (exemplo: dificuldade avanço da sessão terapêutica
com massinhas de modelar e profissionais da clínica motora, ou na fala, ou na
bolinhas de sabão para que e conseguimos sociabilidade)
fosse exercida a parte absorver um pouco da - Conseguimos entender
sensorial e integrativa das prática de como como a profissional de
crianças. funciona uma psicologia organiza e pratica
- Acompanhamentos de uma atividade em grupo e as atividades com as crianças
atividade em grupo um atendimento com e a importância da aplicação
contemplando 3 crianças que foco em crianças com correta da metodologia ABA
já fazem atendimento na espectro autista no tratamento
clínica. A atividade consistia - Identificamos também
em um jogo de andar as como a parte sensorial para
pecinhas conforme fossem as crianças autistas é um
respondendo as perguntas fator bem relevante e
ou realizando os desafios diferente das crianças que
propostos (verdade ou não possuem esse espectro,
desafio). devendo ser levada sempre
- Em seguida, o grupo se em consideração em todos
dividiu para que os contextos
conseguíssemos realizar mais
2 entrevistas e um
acompanhamento prático
terapêutico com uma
psicóloga, em que pudemos
tangibilizar como é o
procedimento com um dos
pacientes e as técnicas
utilizadas pela terapeuta na
condução da sessão

4. 25/10 - Participação em reunião de - Discussões de - O acompanhamento foi rico - Os únicos pontos identificados para possíveis
equipe com foco em saúde grande importância e de informações sobre saúde melhorias foram sobre o ambiente em que
mental da população e empatia para tratar de mães de crianças atípicas, ocorreu a reunião, que apresentou falhas
discussão a respeito de uma de temas delicados. o quanto questões do técnicas nos conteúdos projetados e a
palestra sobre câncer de cansaço mental, o necessidade de se sentar no chão, visto que a
mama, saúde física e mental sentimento de luto após clínica não tem um ambiente adequado para
e doenças psicossomáticas diagnóstico e solidão este tipo de ocasião.
em mães de crianças durante o tratamento e
neurodivergentes. criação dos filhos afetam o
corpo, mente e relações
interpessoais.

5. 08/11 - Ao chegarmos na clínica, - Como sempre, - A visita contribuiu - O que pudemos observar já foi comentado em
acompanhamos o fomos muito bem fortemente para o nosso outras visitas que fizemos, como a temperatura
atendimento de uma das recebidas no local. conhecimento, visto que das salas e adequação de cadeiras para todos.
estagiárias em Terapia Todos os profissionais pudemos tirar diversas Portanto, no geral, não houve novas
Ocupacional, a Tauane, a se mostraram muito dúvidas com a terapeuta intercorrências a serem avaliadas.
qual estava realizando uma solícitos para a ocupacional durante o seu
integração sensorial em um contribuição do nosso atendimento e aprender a
paciente com síndrome de projeto, pois prática da sua terapia.
down, fazendo massagem conseguimos absorver - Conseguimos ainda, uma
em sua mão e braços, para um pouco do enorme contribuição da
que ele se regulasse. funcionamento da psicóloga para nossa
- Em seguida, fizemos uma prática da terapia, proposta de intervenção, que
entrevista com uma das bem como conversar apontou o quanto é
psicólogas formadas, Carla com uma das importante cuidar da saúde
Patrícia. psicólogas que nos mental dos pais dessas
ajudou muito com crianças, para que haja uma
suas respostas para a evolução no tratamento
entrevista que delas e também, nos deu
fizemos. algumas dicas de como
podemos engajar esses pais
na nossa proposta, como por
exemplo realizando
dinâmicas que proporcionem
um momento de
descontração para que eles
se sintam à vontade em
compartilhar suas angústias.

6. 10/11 - Participação da supervisão A avaliação foi bem - A reunião com diversos - A discussão do caso foi super rica, porém,
da clínica às sextas-feiras em positiva pois profissionais da clínica sentimos falta de algum material ou alguma
que ocorre discussão de um conseguimos ter uma (psicólogas, psicopedagogas, metodologia ou script para que pudessem
caso de algum paciente da visão 360 de um dos fonoaudióloga, etc) explorar todos os âmbitos necessários e
clínica. Esta discussão é casos da clínica, além aconteceu em uma das salas também anotar todos os pontos do plano de
multiprofissional em que de entender a da clínica que suportava uma trabalho que serão seguidos a partir deste
todos buscam entender importância do quantidade maior de momento. Ou seja, a conversa foi mais “livre”.
melhor o caso e traçar um tratamento pessoas - Percebemos a falta de suporte de treinamento
plano de tratamento de multiprofissional, e o - Cada profissional abordou para os profissionais em relação a primeiros
acordo com as características quanto o âmbito da através da sua temática o socorros e casos de contenção para pacientes
psicossociais específicas de família e da escola são caso proposto buscando com alto grau de suporte, poucos profissionais
cada caso. Além disso, foi relevantes para um trazer pontos relevantes de possuem estas habilidades
possível realizar mais dois tratamento bem atraso ou avanço no
acompanhamentos de sucedido. Além disso, desenvolvimento do
pacientes da clínica conseguimos paciente
realizados pela Carla e Thais, acompanhar um caso - Foi relatado de forma mais
ambas psicólogas. de um paciente que profunda o quanto o âmbito
possui um alto grau familiar afeta no
de necessidade de desenvolvimento da criança,
suporte. seja através negligências,
seja por conta de excesso de
proteção dos cuidadores
impedindo que o paciente
tenha um convívio social
saudável
- A dinâmica da escola
também foi citada em
diversos momentos,
ressaltando a importância de
um acompanhamento
também neste âmbito

ANEXO IV

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Neste estágio nós estudamos sobre crianças neurodivergentes, especialmente com transtorno
do espectro autista, e a saúde mental de seus cuidadores e entrevistamos funcionários da
clínica multidisciplinar Speranza para entender melhor essa realidade. A proposta de
intervenção consiste na aplicação do conteúdo estudado e será aplicada por meio de uma roda
de conversas com os cuidadores juntamente com a distribuição de uma cartilha informativa.
A cartilha conterá um resumo dos principais pontos abordados durante a reunião, onde
faremos um aprofundamento do tema e daremos espaço para os cuidadores compartilharem
suas ideias e experiências.

Folder informativo:

- Introdução;
- Saúde mental;
- Saúde mental dos cuidadores:
● Individualidade;
● Psicoterapia individual;
● Autocuidado;
● Lazer.
- Espaço acolhedor com ideias de atividades;
- Impacto positivo na saúde mental das crianças.

Roda de conversa:

Após pesquisas e por meio das entrevistas, verificamos que falar sobre o diagnóstico dos
pacientes não seria o ideal, pois esse assunto já está extremamente presente no dia a dia dos
participantes. Por conta disso, o nosso objetivo será focar totalmente nos cuidadores.
Iniciaremos a nossa roda de conversa nos apresentando e introduzindo o assunto de forma
leve e conjunta, revezando as falas entre os 5 integrantes do nosso trabalho, para que os
participantes percebam o funcionamento da conversação. Faremos uma breve introdução e
iniciaremos uma dinâmica para todos nós falarmos uma coisa em que somos bons e porquê e
depois uma que denominamos "4x4", serão 4 conversas com diferentes pessoas, por 4
minutos. Assim, criaremos um ambiente descontraído e reforçaremos a importância de se ver
como um ser humano único e independente, trabalhando a autoestima e a individualidade dos
participantes. Após a dinâmica, realizaremos um bate papo explicando o objetivo dela e
iniciaremos os tópicos exclusivos sobre a saúde mental e por fim, ofereceremos um espaço de
escuta, acolhimento e troca de experiências. Para finalização da proposta, iremos enfatizar o
quanto a saúde mental dos cuidadores têm um impacto positivo na vida de suas crianças,
mostrando de forma reforçadora os benefícios do autocuidado.

- Apresentação do grupo, da universidade e do estágio;


- Dinâmica;
- Bate papo sobre a dinâmica - explicação do objetivo;
- Saúde mental;
- Saúde mental dos cuidadores:
● Individualidade;
● Psicoterapia individual;
● Autocuidado;
● Lazer.
- Espaço de escuta, acolhimento e troca de experiências;
- Finalização sobre o impacto positivo na saúde mental das crianças.
ANEXO V

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