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CARACTERÍSTICAS E MANIFESTAÇÕES DO TDAH EM ADULTOS –


uma revisão de literatura

Soyanne Almeida Santana1

RESUMO- O TDAH – Transtorno de Deficit de Aprendizagem e Hiperatividade tem alta


prevalência em crianças do Ensino Fundamental e seus efeitos causam desajustes relevantes
na interação da criança com colegas e professores, familiares e pessoas da comunidade. Há
estudos que apontam a relação entre as dificuldades características do TDAH e o baixo
rendimento escolar. Esse transtorno afeta as crianças precocemente e se agrava na idade
escolar, com sintomatologia de dificuldades emocionais, de relacionamento com colegas,
ansiedade, inquietação, euforia e distração frequentes; é o seu nível de frequência que pode
significar que uma criança possa ser portadora dessa doença. O objetivo geral deste estudo é
investigar a prevalência de portadores de TDAH e em que idade é mais frequente. Associado
ao tratamento farmacológico sugerem-se terapias cognitivo-comportamentais, psicologia
positiva, afetividade nas relações de ensino/aprendizagem, treinamento dos pais e cuidadores.
O tratamento é polêmico, porque a doença gera confusões quanto aos sintomas, confundindo-
a com indisciplina e desmotivação. O TDAH só é estudado mais amplamente nos Estados
Unidos durante as décadas de 1980 e 1990 com o aumento de pesquisadores debruçados sobre
o assunto para compreender a onda de violência que na época assola o país. Conclui-se que a
Psicologia Positiva apresenta-se como uma alternativa bastante humanizada para o tratamento
das crianças e adolescentes com TDAH, resgatando nelas as competências e habilidades para
que os aspectos sadios sobreponham-se ao transtorno possibilitando uma melhor qualidade de
vida e maior integração na sociedade.

Palavras-chave: Comportamento. Desempenho Escolar. Escola. Família. TDAH.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo geral deste artigo é demonstrar como é a prevalência de adultos


portadores de TDAH e em que idade é mais frequente e os objetivos específicos são:
pesquisar sobre a história da TDAH; investigar sobre a forma de tratamento da doença;
pesquisar sobre as características dos sintomas manifestados na escola e na família.
Esse trabalho é o resultado de uma pesquisa bibliográfica em fontes diversas,
buscando informações sobre o TDAH (Transtorno de Deficit de Aprendizagem e
Hiperatividade), bem como dos portadores dessa doença no ambiente escolar e familiar.
O TDAH tem alta prevalência em crianças do Ensino Fundamental e seus efeitos
causam desajustes relevantes na interação da criança com colegas e professores, familiares e
pessoas da comunidade. Diante desta panorâmica, trabalhos de cunho preventivo são

1 Pós-graduanda do Curso de Especialização Lato sensu em Neuropsicologia com Ênfase em Reabilitação


Congnitiva pela FAMART – Cuiabá – MT. E-mail: soyannesantana@hotmail.com.
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importantes no sentido de diminuir a probabilidade de que as dificuldades apresentadas


evoluam tornando-se transtornos que tragam consequências em etapas posteriores do
desenvolvimento dessas crianças, como também venham a contribuir na diminuição do
fracasso acadêmico.
É importante ressaltar que o processo avaliativo na infância deve ser realizado
com uma cautela ainda maior que em outras etapas devido às suas especificidades, uma vez
que o limite entre uma conduta considerada inerente ao ciclo evolutivo e uma considerada de
risco ao desenvolvimento infantil é bastante tênue (ARAÚJO, 2002; DUMAS, 2011).
Frequência, intensidade e estabilidade destas condutas, assim como se estão trazendo prejuízo
ao funcionamento infantil, como concluir atividades cotidianas; problemas nas inter-relações
com pais, professores e colegas e/ou baixo rendimento escolar, são fatores que devem ser
avaliados, evitando assim “psicopatologizar os comportamentos infantis”.
Estudos como de Araújo (2002), Pastura, Mattos e Araújo (2005), D'abreu e
Marturano (2010) e Siqueira e Gurgel-Giannetti (2011) apontam a relação entre as
dificuldades características do TDAH e o baixo rendimento escolar, denotando a importância
de estudos que avaliem e intervenham de forma precoce, contribuindo assim à redução do
fracasso escolar.
Trata-se de um transtorno que afeta as crianças precocemente, mas se agrava na
idade escolar, manifestando-se como dificuldades emocionais e de relacionamento com
colegas, ansiedade, inquietação, euforia e distração frequentes; é o seu nível de frequência que
pode significar que uma criança possa ser portadora dessa doença.
Há controvérsias sobre o tratamento porque é uma doença que gera confusões
quanto aos seus sintomas, porque é confundida facilmente com mau comportamento e
indisciplina, mas a maioria dos especialistas entende que ela deve ser controlada como
produtos farmacológicos para prevenir violência ou danos físicos, tanto para com os outros
quanto para com o próprio paciente.
Alguns estudos mostram que o número de sintomas de desatenção tende a
aumentar conforme crianças portadoras de TDAH avançam nas séries pré-escolares,
provavelmente associado ao aumento das demandas acadêmicas. No entanto, os sintomas de
hiperatividade tendem a diminuir com o passar dos anos.
Tais estudos demonstram um risco que o diagnóstico TDAH pode incorrer, ou
seja, a semelhança nos sintomas leva algumas crianças a serem classificadas erroneamente
como portadora da doença, enquanto na verdade são hiperativas impulsivas, portanto, fica
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evidenciada significativa diminuição do número de indivíduos que atendem aos critérios para
TDAH.
Como problema de pesquisa, estabelecemos a seguinte questão: como o TDAH
causa problemas de entrosamento com outras pessoas?
O trabalho está dividido em quatro partes, pois após a introdução e o método,
apresentamos a definição de TDAH, o histórico sobre o interesse em TDAH; falamos sobre a
indisciplina no quadro sintomático de TDAH; a psicologia positiva e a terapia cognitivo-
comportamento em TDAH, e ainda descrevemos o desempenho escolar de indivíduos com
TDAH, antes de chegarmos às considerações finais.
Esta pesquisa pode ser classificada como descritiva de acordo com seus objetivos
por descrever as características de um objeto de estudo específico. É utilizado um método
bibliográfico para revisar as características de um dado grupo social com o intuito de
descobrir a existência de relações entre tais variáveis.
Para a produção desse trabalho foi realizado um estudo qualitativo, por meio de
revisão bibliográfica sistematizada, utilizando artigos publicados nacional e
internacionalmente, no período compreendido entre 2007 a 2022, abordando o tema
“características e manifestações do TDAH em adultos – uma revisão de literatura”. A
pesquisa foi realizada em plataformas digitais, tais como: Scielo; Google Academics, sendo
utilizados os seguintes descritores: “Comportamento”. “Desempenho Escolar”. “Escola”.
“Família”. “TDAH”. O levantamento foi realizado nos meses de janeiro a abril de 2023; os
critérios de inclusão foram coerência com o tema.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 DEFINIÇÃO DE TDAH

O TDAH – Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade é um distúrbio


neuropsiquiátrico com grande prevalência na infância e inclui-se entre as patologias que mais
se manifestam entre os estudantes. A diferença da prevalência dessa patologia entre os países
depende muito mais das metodologias e métricas utilizadas do que propriamente do número
de pessoas afetadas.
Segundo Rohde e Halpern (2004):
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A prevalência do transtorno tem sido pesquisada em inúmeros países em todos os


continentes. Diferenças encontradas nas taxas de prevalência refletem muito mais
diferenças metodológicas (tipo de amostra, delineamento, fonte de informação,
idade, critérios diagnósticos utilizados, ou a forma como eles são aplicados) do que
reais diferenças transculturais no constructo diagnóstico do transtorno. Assim,
estudos nacionais e internacionais que utilizam os critérios plenos do DSM-IV
tendem a encontrar prevalências ao redor de 3-6% em crianças em idade escolar.
(ROHDE; HALPERN, 2004, p. 63)

Normalmente, as pessoas do sexo masculino são mais afetadas por TDAH em


uma proporção de cerca de 2:1 quando os estudos são populacionais e podem alcançar a
proporção de 9:1 no âmbito de estudos clínicos. Com relação a essas distintas proporções,
explicam Rohde e Halpern (2004):

A diferença entre essas proporções provavelmente se deve ao fato de as meninas


apresentarem mais transtorno de Deficit de atenção/hiperatividade (TDAH) com
predomínio de desatenção e menos sintomas de conduta em comorbidade, causando
menos incômodo às famílias e à escola, e, portanto, serem menos encaminhadas a
tratamento. Estudos que avaliam a prevalência do transtorno de acordo com o nível
socioeconômico e em etnias que não a caucasiana são ainda escassos e não
permitem conclusões claras. (ROHDE; HALPERN, 2004, p. 65)

Quanto ao tratamento dos pacientes portadores de TDAH, Rohde et al. (2000)


observa que a abordagem deve ser múltipla com intervenções psicossociais e
psicofarmacológicas com indicações de medicamentos específicos. As intervenções
psicossociais incluem um apoio familiar com muita informação sobre a doença, que pode
incluir treinamento específico para os pais e cuidadores para conhecerem os sintomas do
transtorno e saibam tratar dele.

É importante que eles conheçam as melhores estratégias para o auxílio de seus filhos
na organização e no planejamento das atividades. Por exemplo, essas crianças
precisam de um ambiente silencioso, consistente e sem maiores estímulos visuais
para estudarem. (ROHDE et al, 2004, p. 128)

Facion (2004) sugere dois tipos de tratamento psicoterápico às pessoas com


TDAH: Psicoterapia e Medicina Comportamental e auto-instrução, onde se observa uma
tarefa realizada pelo professor; executa a tarefa e a verbaliza e/ou diminui a intensidade da
voz para alcançar o nível racional apenas.
As pesquisas científicas, ao longo dos anos, demonstram que os comportamentos
dos indivíduos com TDAH não se associam a uma mera falta de limites no padrão relacional
dos sujeitos, pois ele vai além por ser um distúrbio neurobiológico que traz consequências
relevantes para a interação. Em grande parte dos casos, observa-se desatenção, impulsividade,
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excesso de atividade, emoções descontroladas, baixa tolerância à frustração, que impõem


restrições à vida escolar, profissional e social dos portadores da doença. (SILVA, 2006)
TDAH é um distúrbio neurobiológico que influi na capacidade de interação do
indivíduo no âmbito familiar, escolar, social em geral; notam-se dificuldades acadêmicas,
profissionais e sociais devido à desatenção, impulsividade, hiperatividade, dificuldade em
controlar as emoções e em tolerar a frustração. (CAMARGOS; HOUNIE, 2005)
Estudos mostram que ainda há bastante desconhecimento sobre o TDAH
(GRAEFF; VAZ, 2008), mesmo entre membros da classe médica, da educação e da
psicologia e outros estudos demonstram a ocorrência de confusões quanto ao diagnóstico, pois
há comportamentos ou outras doenças com sintomas semelhantes.
Conjuntamente à falta de conhecimento de profissionais e pais acerca do TDAH, a
literatura aponta a existência de relação entre os comportamentos característicos deste
transtorno e o baixo rendimento escolar (CABALLO; SIMÓN, 2007).
O Transtorno por Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma
problemática bastante relatada por pais e professores no ambiente escolar. Trata-se de um
transtorno caracterizado por padrões persistentes de comportamentos de desatenção e/ou
hiperatividade/impulsividade. Entretanto, crianças que têm um temperamento mais ativo que
as demais têm sido rotuladas de hiperativas por professores e pais. Isto se dá, devido à falta de
conhecimento dos mesmos sobre o TDAH, chegando muitas vezes a confundi-lo com
indisciplina ou falta de limites ou vice-versa (LIMA, 2012).
A falta de conhecimento de pais e professores acerca das dificuldades
apresentadas por estas crianças contribui para que tenham uma percepção equivocada das
mesmas, rotulando-as como portadoras de TDAH, sem necessariamente o serem.

2.2 HISTÓRICO SOBRE O INTERESSE EM TDAH

Há um crescente interesse, a partir da década de 70, entre os pesquisadores na


investigação da hiperatividade e do problema da desatenção por meio da utilização de
medidas psicofisiológicas. O grupo de McGill, entre tantos outros, destaca-se pelo fato de ter
exercido um papel relevante na constituição do “novo olhar molecular e neurofisiológico que
redefinia a forma de identificar, definir e tratar os então considerados deficits atentivos e as
manifestações da hiperatividade infantil”. (CALIMAN, 2009, p. 138)
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No entanto, segundo Camargos e Hounie (2005), a primeira referência à doença data


de meados do século XIX com uma obra de Hoffmann, escritor alemão:

A história do TDA/H, na Psiquiatria, geralmente é descrita como tendo começado


com Heinrich Hoffmann (1809-1894), psiquiatra alemão, famoso por escrever
contos e poemas para crianças. Em 1845, ele publicou um livro que logo se tornou
um best-seller, “Der Struwwelpeter”, equivalendo em português a “Pedro, o
agitado”. Numa série de textos, ele descreve as péssimas maneiras de um garoto que
apresenta muitas características do que hoje é descrito como TDA/H. Seus textos
eram didáticos e baseados no que se denominava “pedagogia negra”, ou seja, educar
pelo medo, já que as punições para comportamentos inadequados eram muito
rigorosas e suas consequências, frequentemente, trágicas. (CAMARGOS; HOUNIE,
2005, p. 55)

No início do século XX, o TDAH é estudado mais sistematicamente e damos


realce às afirmações de Still em 1902, que destaca as seguintes características presentes no
grupo de crianças estudado, segundo Oliveira e Albuquerque (2009): “Agressividade,
ausência de regras, desatenção, impulsividade e excessiva atividade, salientando as
semelhanças comportamentais entre essas crianças e pacientes com lesão do lobo frontal”.
(OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009, p. 93)
Na década de 80, nos EUA, destacamos as novas perspectivas e promessas para o
olhar psiquiátrico que se fortalece; damos relevância ao espaço conquistado pelos estudiosos
que passam a utilizar em suas pesquisas a neuroimagem do “cérebro TDAH”. Dentre as
técnicas mais conhecidas realçamos as de imagem estrutural que investigam a existência de
anomalias em determinadas estruturas cerebrais com recurso à TC (Tomografia
Computadorizada). Segundo Caliman (2009):

As de imagem funcional, como a “Eletroencefalografia Quantitativa (qEEG),


analisavam a atividade cerebral durante a realização de determinadas tarefas. Mas
foi somente no decorrer da década de 90 que a psicofisiologia e a neurociência
inspiraram a construção de um novo modelo interpretativo para o TDAH.
(CALIMAN, 2009, p. 139)

Nesse âmbito, a prioridade passou a ser a compreensão dos mecanismos cerebrais


e causais do transtorno, com relevância ao trabalho de Russell Barkley, que realiza estudos na
área da genética, incluindo estudos neuroquímicos dos sistemas neurotransmissores, sistema
inibitório cerebral e passa a investigar animais em laboratório, alavancando a pesquisa
científica ligada ao TDAH. (CALIMAN, 2009)
Em 1999 Mary Eberstadt publica um artigo na Heritage Foundation no qual
descreve o “cenário TDAH” na década de 90, pois de acordo com a autora, há um interesse
grande da mídia desde o final da década de 80 e durante todos os anos 90; estava a ocorrer
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uma explosão publicitária sobre o TDAH e a Ritalina - medicamento mais conhecido na


utilização no tratamento do transtorno. Na literatura, alguns títulos tornam-se best-sellers, a
exemplo da obra de autoria Hallowell e Ratey denominada “Tendência à Distração” publicada
em 1994 e traduzida para o português em 1999. (HALLOWELL; RATEY, 1999)
Nos anos 80 é bastante comum nos EUA a ocorrência de crimes de agressão e
impulsividade que as autoridades criminais da época tendiam a classificá-los como
relacionados à incapacidade de autocontrole, tornando-se uma preocupação pública.
Mediante essa onda de agressividades, os especialistas optam pela via
farmacológica para prevenir contra os riscos da violência, o que desperta o interesse dos
órgãos de saúde públicos dos EUA pela identificação e tratamento do TDAH.
Pastura, Mattos e Araújo (2005) desenvolvem um estudo com o intuito de
fornecer aos especialistas em desenvolvimento infantil de distintas áreas (pediatria,
neurologia) informações que procuram mostrar as relações existentes entre TDAH e
desempenho escolar. O TDAH tem ampla repercussão negativa na vida do paciente, porque
influencia a sociabilidade, o desempenho acadêmico, o relacionamento familiar.
Possa, Spanemberg e Guardiola (2000) afirmam que o TDAH é bastante comum
na fase infantil e responde a uma série de prejuízos no âmbito social e médico, que
repercutem no baixo desempenho escolar.
Em 2004 os Estados Unidos reconhecem oficialmente o Transtorno do Deficit de
Atenção e Hiperatividade através da Resolução 370 (U.S. Senate, 2004), classificado como
um dos mais graves problemas conhecidos para a saúde pública americana; e não exageram,
pois nas estimativas publicadas nesta resolução, o TDAH abrange de 3 a 7% das crianças e
adolescentes americanos em idade escolar (2.000.000) e 4 % dos adultos (8.000.000). Junto
com essa resolução, o TDAH entra para as datas oficiais do país, quando passa a ser lembrado
no dia 7 de setembro como o Dia da Consciência Nacional sobre O TDAH. (RICHTER,
2012).
Segundo Kaippert, Depoli e Mussel (2002), de 30% a 70% dos indivíduos que
sofrem de TDAH devem tomar medicamentos durante toda sua vida, porque tanto as causas
quanto os efeitos são de difícil diagnóstico forçando o tratamento não ser voltado à cura
médica, mas sim para a remissão.
Normalmente, as características do TDAH surgem logo cedo para a maioria das
pessoas, ainda na primeira infância; é um distúrbio caracterizado por comportamentos
crônicos que têm a duração de pelo menos seis meses e depois se instalam definitivamente
antes da criança atingir os 7 anos.
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Segundo De Luca e Ciulik (2009) é necessário verificar a frequência dos sintomas


de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade quando se inicia a investigação para o
diagnóstico de um quadro de TDAH, pois são sintomas que vão ocorrer nos vários ambientes
que a criança convive, inclusive casa e escola e tendem a manter-se ao longo do período
avaliado. O clínico que acompanha o paciente é informado sobre a ocorrência e onde ela se
manifesta, seja na escola ou em na casa, ou só na escola para descartar qualquer possibilidade
de ser causado por alguma desestruturação familiar ou inadequação no método de ensino, pois
meras flutuações de características não podem ser consideradas como portadora de TDAH.
Atualmente, conforme Kaippert, Depoli e Mussel (2002) há quatro subtipos de
TDAH que foram classificados como: TDAH - Tipo desatento, TDAH - Tipo hiperativo/
impulsivo, TDAH - Tipo combinado e TDAH - Tipo não específico.
A pessoa apresenta algumas dificuldades, mas em número insuficiente de
sintomas para chegar a um diagnóstico completo. Esses sintomas, no entanto, desequilibram a
vida diária. (KAIPPERT; DEPOLI; MUSSEL, 2002, p. 4)

2.3 INDISCIPLINA NO QUADRO SINTOMÁTICO DA CRIANÇA TDAH

Segundo Kaippert, Depoli e Mussel (2002, p. 4), o transtorno de TDAH é um


“problema de saúde mental”, que afeta cerca de 3 a 6% da população de crianças entre 7 e 14
anos e é uma doença precoce que, normalmente é detectada mais tarde, pois enquanto a
criança não entra na escola, os pais conseguem contorná-la até a idade escolar, e nessa fase
ela confunde-se um pouco com indisciplina e os sintomas são mais percetíveis.
Também na escola, os seus sintomas podem ser confundidos com indisciplina.
O TDAH acarreta problemas de controle da atenção, da atividade, da
impulsividade, da obediência às regras e do rendimento escolar; curioso é saber que a
transmissão do TDAH é genética, em famílias nas quais aproximadamente 35% dos pais e
17% das mães das crianças hiperativas são também hiperativos (DE LUCA; CIULIK, 2009).
E o risco de prevalência de TDAH é maior em famílias de baixa renda 2; em
crianças com mães que possuem psicopatologia ou conflitos familiares; “a somatória de
fatores adversos com a ausência de fatores de proteção e não a presença de um único fator,
que favorece o desenvolvimento do TDAH. (ROCHA, 2009, p. 16)

2 Embora seja comum a crença de que o mau desempenho escolar esteja relacionado a pior nível
socioeconômico, estudos que procuram utilizar amostras representativas demonstram que não há relação entre
estas duas variáveis (MCCALL apud PASTURA; MATTOS; ARAÚJO, 2005, p. 326).
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As características detectadas em indivíduos TDAH são as seguintes:

falta de persistência nas atividades cognitivas, (b) falta de atenção, (c) falta de
concentração, (d) estar no “mundo da lua”, (e) tendência de ficar mudando de
atividades sem acabá-las, (f) agitação excessiva, (g) desorganização, (h) dispersão,
(i) imprudência, (j) ficar remexendo as mãos e pés quando sentado, (k) não parar
quieto, (l) responder perguntas antes de terem sido finalizadas, (m) intromissão
descabida, (n) perder as coisas com facilidade. Ainda e conforme Spencer e
Biederman (2007), tem relacionamento com perdas de habilidades sociais,
problemas no sono, uso de drogas, tiques e prejuízos no desempenho escolar.
(KAIPPERT; DEPOLI; MUSSEL, 2002, p. 6)

Segundo Gomes et al. (2007) o TDAH pode ser reconhecido por meio de algumas
características observadas pelos que convivem com a pessoa que sofre desse transtorno, ao
perceber que ela:

Pode ser muito agitada: por exemplo, mexe muito as mãos, os pés, não pára sentada,
está sempre a mil por hora; pode ter um comportamento agressivo e mudar muito
rápido de humor; pode ser desatenta e esquecida, por exemplo, costuma tirar notas
baixas por não conseguir prestar atenção na aula, nem fazer as tarefas que são
passadas pelo professor; pode-se distrair com facilidade e esquecer o que tinha que
fazer. (GOMES et al., 2007, p. 96)

Polanczik (2008) realiza um amplo estudo sobre O Transtorno de Deficit de


Atenção/Hiperatividade (TDAH) e argumenta que é caracterizado por sintomas de
desatenção, hiperatividade e impulsividade; os sintomas têm início na infância e podem
persistir até a idade adulta.

Grande número de estudos investigou a prevalência do TDAH entre crianças e


adolescentes em diversos países, inclusive no Brasil. Os estudos geraram dados
conflitantes, permanecendo dúvidas quanto à influência de características
demográficas e metodológicas sobre a variabilidade das estimativas. Entre adultos,
há dados escassos sobre a prevalência do TDAH em todo o mundo e inexistem
estudos realizados em nosso meio. Este cenário é reforçado por incertezas sobre a
validade dos critérios diagnósticos e instrumentos de avaliação do TDAH nesta
etapa do desenvolvimento. (POLANCZYK, 2008, p. 3)

Coutinho; Mattos; Araújo (2007) realizam um estudo sobre prevalência de TDAH


em escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro e chegam aos seguintes resultados:

A prevalência de TDAH foi maior no sexo masculino que no sexo feminino,


corroborando achados de outros estudos (Gomes et al., 2005; Poeta e Neto, 2004;
Vasconcelos et al., 2003; Biederman et al., 2005; Chhabildas et al., 2001). A
distribuição por tipos revelou maior prevalência do tipo combinado, contrapondo-se
a alguns estudos (Chhabildas et al., 2001; Gomes et al., 2005; Poeta e Neto, 2004;
Vasconcelos et al., 2003), porém encontrando respaldo em outros estudos também
com amostras não-clínicas. (COUTINHO; MATTOS; ARAÚJO, 2007, p. 16)
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A preocupação é crescente no sentido de estabelecer critérios para diagnosticar


sujeitos com TDAH e, nesse sentido, em 2002, a Dra Edyleine Belline Peroni Benczik lança
pela Editora Casa do Psicólogo, o Manual da Escala de Transtorno de Deficit de
Atenção/Hiperatividade voltado para professores, porque como já foi dito anteriormente, os
sintomas do TDAH são mais explícitos na fase de entrada da criança no Ensino Fundamental,
quando seus comportamentos destoam das demais. (BENCZIK, 2002) Acerca desse manual,
tem-se a seguinte apresentação da própria autora:

É um instrumento que avalia sintomas comportamentais do TDAH, em situação


escolar, tendo o professor como fonte de informação. Tem a finalidade de subsidiar
a avaliação psicológica e o processo psicodiagnóstico: avaliar a desatenção e a
hiperatividade (sintomas primários); avaliar problemas de aprendizagem e
comportamento antissocial (sintomas secundários); monitorar os efeitos das
intervenções (psicológica, psicopedagógica e medicamentosa) na escola. Faixa
etária: de 6 a 17 anos. (BENCZIK, 2002, p. 01)

No item seguinte, destacamos as habilidades das crianças portadoras de TDAH no


âmbito da Psicologia Positiva que realça os aspectos sadios do paciente para que ele possa
trabalhar melhor com suas deficiências e integrar-se com mais facilidade nos seus grupos de
convivência.

2.3 HABILIDADES DE CRIANÇAS PORTADORAS DE TDAH

Rocha (2009) propõe, em sua tese de doutorado denominada “Programa de


Habilidades sociais com pais: Efeitos sobre Desempenho Social e Acadêmico de filhos com
TDAH”, um programa de preparação dos pais de crianças portadoras de TDAH para suprir os
prejuízos que a doença causa, tais como problemas de interação social, causadores de prejuízo
social, emocional e acadêmico. O estudo de Rocha (2009) utiliza como sujeitos de pesquisa
16 mães de crianças portadoras de TDAH entre 7 e 12 anos, cursando o Ensino Fundamental e
utilizadoras de medicação específica para o tratamento de TDAH.
Um estudo realizado por Bellé et al. (2008) analisa o estresse e a adaptação
psicossocial de um grupo de mães de crianças portadoras de TDAH demonstra que essas mães
apresentam níveis de estresse maiores que as mães de crianças com desenvolvimento típico,
porque as crianças com TDAH apresentam normalmente mais impaciência, desatenção, são
mais impulsivas. Tais atitudes demandam maior atenção e assistência de suas mães, que
podem conduzí-las ao estresse. (BELLÉ et al., 2008)
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao questionarmos como o O TDAH (Transtorno de Deficit de Aprendizagem e


Hiperatividade) causa problemas de desempenho escolar nas crianças portadoras da doença,
entendemos que nesta pesquisa apresentamos alguns posicionamentos de autores que
demonstram a dificuldade encontrada pelas famílias e pela escola no enfrentamento de alunos
com TDAH.
O TDAH é estudado mais amplamente nos Estados Unidos durante as décadas de
80 e 90 do século passado, época em que há um número crescente de pesquisadores
interessados no assunto, devido a manifestações frequentes de um fenômeno de violência
ocorrido naquele país, com a ocorrência de crimes de agressão e impulsividade que as
autoridades criminais da época tendem a classificá-los como relacionados à incapacidade de
autocontrole, tornando-se uma preocupação pública.
Mediante essa onda de agressividades, os especialistas optam pela via
farmacológica para prevenir contra os riscos da violência, o que desperta o interesse dos
órgãos de saúde públicos dos EUA pela identificação e tratamento do TDAH.
Atualmente, associado ao tratamento farmacológico, sugerem-se terapias
cognitivo-comportamentais, psicologia positiva, afetividade nas relações de
ensino/aprendizagem, treinamento dos pais e cuidadores.
Na lógica do risco, o TDAH é classificado como uma patologia caracterizada pela
impulsividade, hiperatividade e desatenção e pode gerar o desenvolvimento de futuros
problemas médicos, sociais e econômicos. Vimos que não só as crianças apresentam essa
doença, mas também manifesta-se em adultos, no entanto quando as crianças são portadoras
de TDAH, há grande probabilidade de ter sido genético.
Estudos mostram que ainda há bastante desconhecimento sobre o TDAH, mesmo
entre membros da classe médica, da educação e da psicologia e outros estudos demonstram a
ocorrência de confusões quanto ao diagnóstico, pois há comportamentos ou outras doenças
com sintomas semelhantes.
A Psicologia Positiva apresenta-se como uma alternativa bastante humanizada
para o tratamento das crianças e adolescentes com TDAH, resgatando nelas as competências e
habilidades para que os aspectos sadios sobreponham-se ao transtorno possibilitando uma
melhor qualidade de vida e maior integração na sociedade.
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REFERÊNCIAS

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CALIMAN, Luciana Vieira. A Constituição Sócio-Médica do “Fato TDAH”. Psicologia &


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DE LUCA, Marcelo Alexandre Siqueira; CIULIK, Fabiana. A indisciplina da criança em


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