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avaliação de funcionalidade
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Miccas C et al.
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Autismo: avaliação de funcionalidade
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Miccas C et al.
mesma. Prontamente, a diretora marcou uma visita no referido grupo de alunos com Deficiência
com duas das pesquisadoras deste estudo; nesse Intelectual e, neste estudo que se apresenta,
encontro foi apresentado a ela o instrumento será aplicado em um grupo de alunos com TEA
(PAEDI) utilizado na avaliação da funcionalida- de uma escola de ensino fundamental especial
de dos alunos com TEA e esclarecido o intuito do município de São Paulo, com o objetivo de
da pesquisa. avaliar a funcionalidade destes utilizando-se o
Foi marcada, então, uma segunda visita das PAEDI, comparando os resultados apresentados
pesquisadoras à escola, numa data em que pro- pelos dois grupos.
fessoras estariam em reunião pedagógica para a
aplicação do instrumento pelas mesmas. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em seguida foi realizada leitura e assinatura A Tabela 1 apresenta em ordem cronológica
dos termos de consentimento livre esclarecido os alunos avaliados e os resultados obtidos pelos
da instituição e dos sujeitos participantes da mesmos, os números equivalem à pontuação
pesquisa. Foi utilizado instrumento descrito para total obtida por cada um deles por meio da ava-
avaliar a funcionalidade de alunos com TEA, liação de suas professoras.
onde foi solicitado aos participantes que o res- Estudo anterior 18 demonstrou que existe
pondessem. Os professores e auxiliares de classe pouca oscilação na pontuação entre sujeitos com
que participaram dessa etapa foram orientados comportamento típico, variando entre 99 a 104
a se agruparem de modo que respondessem pontos. Diferente do que podemos observar na
o PAEDI para cada dois alunos atendidos por Tabela 1, onde a variação da pontuação, entre
elas. Desse modo, foram avaliados 12 alunos esses sujeitos de comportamento atípico, por de-
diagnosticados com TEA. corrência do TEA, acontece entre 17 a 96 pontos.
O PAEDI11 foi elaborado com base teórica na Os alunos avaliados apresentaram desempe-
CIF, com foco na funcionalidade de aspectos con- nho ruim nas questões: 25 (Produzir desenhos
cernentes à atividade e participação de escolares com detalhes gráficos mais elaborados, dife-
com deficiência intelectual, contemplando as se- rentes de garatujas), acima de 70% dos alunos
guintes áreas: percepções sensoriais, aplicação não realizam essa atividade e também no item
do conhecimento, comunicação, concentração, 41 (Realizar cálculos simples) acima de 60%.
comportamento e socialização, coordenação mo Esses itens estão relacionados a conteúdos da
tora, tarefas e demandas do cotidiano.
Esse protocolo foi elaborado para ser utilizado
por professores do ensino regular e/ou especial Tabela 1 – Pontuação dos alunos com TEA.
e possui breve introdução com explanação sobre Sujeitos Idade Pontuação
como o instrumento deve ser preenchido, dados 1 8 82
de identificação do aluno, 52 itens no total sobre 2 9 38
Atividades e Participação, sendo que os itens 3 10 96
de 1 a 39 podem ser classificadas como não, às 4 10 82
vezes ou sim, e os itens de 40 a 52, não realiza, 5 10 56
realiza com ajuda e realiza independentemente. 6 10 17
Dessa forma, o professor ou aplicador escolhe a 7 12 42
classificação que melhor avalia o aluno em cada
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item. O instrumento possui, ainda, uma tabela de
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pontuação em que possível somar os pontos com
10 17 75
os diferentes classificadores, obtendo-se um es-
core ou pontuação final. Tal protocolo apresentou 11 21 95
evidências de validação quando de sua aplicação 12 22 73
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base na CIF, que tem como pressuposto avaliar a portamentais, em prol de melhorar o desenvol-
funcionalidade do indivíduo, ampliando seu foco vimento do público atendido.
para além da deficiência, conforme orientação Em relação à comunicação, os alunos desta
da OMS e segundo o Estatuto da Pessoa com amostra, avaliados com este instrumento, não
Deficiência20. apresentaram dificuldades, ao contrário do que
Os dados aqui apresentados são resultados demonstra a literatura, onde “anormalidades
da funcionalidade de crianças e jovens devida- qualitativas e quantitativas, embora muito abran
mente matriculados em uma escola de ensino gentes, afetam de forma mais evidente as áreas
fundamental/especial, isto é, frequentam um am- da interação social, da comunicação e do com-
biente escolar preparado, especificamente, para portamento”9. Devemos aqui considerar não só o
responder às demandas do público que atende, ambiente facilitador, mas também a variabilidade
em sua maioria, crianças e jovens com TEA. do grau de comprometimento das diferentes
Constatamos que os alunos com TEA dessa habilidades de uma pessoa acometida por TEA.
unidade escolar apresentam maiores habilidades A necessidade das avaliações realizadas com
nas áreas de percepção sensorial, coordenação o indivíduo com TEA deve enfatizar a frequen
motora e tarefas do cotidiano, áreas consideradas te variabilidade das habilidades, descartando,
de grande comprometimento pela literatura, em assim, qualquer interpretação global de resul-
pessoas com essa condição de saúde. tados referentes a habilidades21.
Em relação ao perfil da percepção sensorial Ao se refletir sobre a Educação Especial na
e motor, crianças com TEA demonstram hipo ou perspectiva da educação inclusiva em nosso
hipersensibilidade a diferentes estímulos senso- país, constata-se que muito tem sido discutido
riais e possíveis dificuldades motoras decorren- nas últimas décadas e que consideráveis avan-
tes de desordens voluntárias ou involuntárias21. ços legais em prol da garantia dos direitos à
Tais resultados nos levam a inferir que o educação das pessoas com deficiência foram
ambiente escolar é um facilitador para o desen conquistados, sobretudo após a Constituição
volvimento de tais habilidades, uma vez que Federal de 198823, estabelecendo o direito à
está preparado para acolher e estimular o desen- escolarização de toda e qualquer pessoa e a
volvimento de crianças e jovens com TEA, fato igualdade de condições para o acesso e para
que possibilita o controle de estímulos senso- a permanência na escola, bem como a garantia
riais. Vale aqui ressaltar ao menos um exemplo, de “atendimento educacional especializado aos
quanto aos estímulos auditivos, que podem ser portadores de deficiência, preferencialmente na
prejudiciais para o desenvolvimento de uma rede regular de ensino”. Nessa mesma direção, a
criança com TEA. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Alguns estudos demonstram que pessoas com de 199624 já havia estabelecido a oferta de serviço
TEA apresentam maior intolerância auditiva, público educacional às pessoas com deficiência.
apontando que a hipersensibilidade ao som é Com vista em tais resultados, inferimos que
a modalidade sensorial mais evidentemente um atendimento educacional desenvolvido es-
alterada no autismo22. pecificamente para responder às demandas dos
Considerando os participantes dessa pesqui- alunos com TEA dessa amostra traz considerá-
sa, concluímos que, para essa amostra, a unidade veis benefícios.
escolar especializada em atendimento de alunos Os alunos avaliados por esta pesquisa apre-
com TEA em que a pesquisa foi realizada está sentaram maior dificuldade em itens relaciona-
preparada para controlar possíveis estímulos dos a conteúdos da esfera escolar, o que nos faz
auditivos, oferecer ambiente confortável e es- refletir no papel da escola em relação a educação
timulador, reduzindo ao máximo os possíveis dos indivíduos com deficiência de um modo
estímulos que desencadeiam alterações com- geral e, nesse caso específico com autismo, até
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Autismo: avaliação de funcionalidade
que ponto deve a escola focar o atendimento no contra turno. Este estudo não pretende dis-
desse alunado apenas em tarefas e demandas do cutir os motivos pelos quais esses alunos estão
cotidiano? Têm esses alunos o direito de também matriculados na escola especial. Observamos que
terem acesso a conteúdos “escolares”, uma vez o ambiente está estruturado para o atendimento
que a lei garante a todos o acesso aos níveis mais dos alunos com TEA, uma vez que se apresenta
elevados do conhecimento? capaz de monitorar, controlar e até reduzir, se
Como previsto em lei, pessoas com deficiên- preciso for, possíveis estímulos que possam de-
cia devem estar, preferencialmente, matriculadas sencadear qualquer tipo de prejuízo no desen
em escolas regulares e a elas ser ofertado o AEE volvimento do público atendido.
SUMMARY
Assessment of functionality on activities and participation
of students with autism
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Miccas C et al.
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