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Atividade sobre a teoria de Durkheim – Sociologia

Anna Luiza Barretto De Castro e Emerson Jesus Santos Silva

10/10/2023

PUC-SP

a. Primeiramente, Émile Durkheim definiu um Fato Social como algo que transcende o indivíduo
e é externo a ele, e por isto só é internalizado pelo processo de socialização (que é de certa
forma "coercivo"). Além do mais, Durkheim argumentava que os estudos dos fatos sociais
eram fundamentais para entender a sociedade e a vida em comunidade, uma vez que os fatos
representam a realidade social que molda o comportamento humano e a coesão social.
Ainda, o autor caracteriza os fatos sociais:
- Exterioridade: Os fatos sociais existem fora do indivíduo (ou seja, antes do seu
nascimento), não são de sua criação e, portanto, independem da vontade ou adesão. Quer
dizer, eles são moldados pela sociedade e exercem influência sobre as ações dos
indivíduos.
- Coercitividade: Os fatos sociais exercem controle e coerção sobre os indivíduos. Logo, eles
moldam os comportamentos das pessoas através das normas, regras e valores sociais
(caso não o sujeito não siga as determinações, existem sanções)
- Generalidade: Ora, os fatos sociais são generalizados e aplicam-se a um grande número
de indivíduos em uma sociedade (não são limitados a casos individuais). Assim, a
generalidade diz respeito ao grau de difusão das crenças e tendências pertencerem ao
conjunto da Sociedade (como algo coletivo).

Ademais, Durkheim enfatizava que os fatos sociais (que como mencionado, independem do uso que
cada indivíduo faca dele e de qualquer motivação individual) deveriam ser tratados como coisas, já
que a inteligência não consegue penetrar, bem como, classificados por categorias e cuja relação (entre
eles) deveria também ser observada. Basicamente, qualquer observação e experimentação deveria
passar o mais exterior e acessível aos menos visíveis e mais profundos.

Exemplos: Sistemas jurídicos, dogmas religiosos, deveres sociais e de cidadania, sistemas financeiros,
correntes sociais, a língua utilizada, entre outros.

Não obstante, se fazem presentes na teoria de Émile Durkheim, os comportamentos inovadores. Isto
é, para o autor os comportamentos inovadores poderiam ocorrer quando os indivíduos desafiam ou
tentam modificar os fatos sociais já existentes, o que seria inevitável na sociedade:

- Anomia: Durkheim introduziu tal conceito (o de "anomia") para descrever, não só um estado
de desordem, mas também a falta de normas sociais claras. Dessa forma, quando os fatos
sociais não fornecem orientação adequada aos indivíduos, isso pode levar a comportamentos
inovadores.
- Mudança social: A inovação pode desencadear mudanças sociais. Por exemplo, a introdução
de novas tecnologias pode desafiar as normas existentes e levar a mudanças na sociedade.
- Exemplos: Um exemplo de comportamento inovador pode ser a introdução de novas práticas
religiosas em uma sociedade que segue uma religião já estabalecida; outro exemplo seria a
inovação tecnológica, como o uso dos smartphones, que impactou diretamente os padrões
de comunicação e interação social.

b. Émile Durkheim discutiu (em algumas de suas obras, como em "Da Divisão do Trabalho Social)
a ideia de três tipos de consciência: A consciência coletiva; a consciência individual; a
consciência social especializada:
- Consciência coletiva: A consciência coletiva é a "soma" das normas, crenças e valores
compartilhados por membros de uma sociedade (é comum à média). Quer dizer, ela
representa a mentalidade coletiva que conecta os indivíduos à sua comunidade ("o todo
prevalece sobre as partes"). Portanto, a consciência coletiva é a mais proeminente em
sociedades tradicionais e homogêneas, onde as normas são consideravelmente
compartilhadas. Ora, a modificação dos valores impostos em determinada sociedade é
muito difícil, só se dará com poder ou movimentação contrária e de origem social (Força
Social).
- Consciência individual: A consciência individual refere-se à perspectiva, crenças e valores
exclusivos de cada personalidade. Assim, é o que diferencia os pensamentos e
sentimentos de uma pessoa em relação às outras. Logo, essa dimensão da consciência
está presente em todos os seres humanos e é mais pronunciada em sociedades modernas
e complexas.
- Consciência social especializada: Ainda, Durkheim discute a consciência social
especializada, que é uma forma intermediária entre a consciência coletiva e a individual.
Além disso, ela emerge em sociedades mais complexas, onde existem grupos
especializados, como profissionais, que compartilham normas e valores específicos
relacionados ao seu trabalho.

Nesse sentido, Durkheim considerava a consciência coletiva como mais preponderante em sociedades
tradicionais, onde a solidariedade era mecânica e baseada na semelhança entre os indivíduos. Por
outro lado, em sociedades modernas, caracterizadas por uma divisão mais complexa do trabalho, o
autor via a consciência social especializada como mais significativa. Isso porque, a solidariedade nas
sociedades modernas depende mais da interdependência funcional e da cooperação entre os
diferentes grupos especializados.

Resumindo, Émile Durkheim via a importância relativa dessas formas de consciência como variando
de acordo com o tipo de sociedade e o grau de complexidade social.

c. Émile Durkheim estudou o conceito de solidariedade como um elemento fundamental na


coesão social e na integração das sociedades. Nesse sentido, o autor identificou dois tipos
principais de solidariedade:
- Solidariedade mecânica: Esta forma de solidariedade é característica de sociedades
tradicionais e simplificadas. Ora, ela se baseia na semelhança e na homogeneidade entre os
indivíduos. Em sociedades com solidariedade mecânica, as pessoas compartilham valores,
normas e crenças semelhantes, o que as une. A coesão social é alcançada pela semelhança e
pela conformidade com a consciência coletiva. A punição para desvios é (muitas vezes)
repressiva.
- Solidariedade orgânica: Típica de sociedades modernas e complexas, esta forma de
solidariedades evidencia que, aqui a coesão social não se baseia na semelhança, mas na
interdependência e na divisão do trabalho. Ou seja, as pessoas têm papéis muito bem
estabelecidos e especializados na sociedade, e a solidariedade então surge da necessidade
mútua de serviços e recursos uns dos outros. A punição para desvios tende a ser mais
"restauradora", visando a correção e a reintegração do indivíduo à sociedade.

Isto posto, Durkheim propôs medir a presença dessas formas de solidariedade em uma sociedade
através da taxa de suicídio. Ele argumentava que taxas mais altas de suicídio indicavam uma falta de
integração social, enquanto taxas mais baixas indicavam uma integração mais forte.

Ademais, para o autor, toda sociedade possuía alguma combinação de solidariedades mecânica e
orgânica, mas a ênfase e uma delas variava de acordo com o tipo de sociedade. Ou seja, sociedades
tradicionais tendiam a ter uma solidariedade mecânica predominante, enquanto sociedades
modernas e industrializadas tinham uma solidariedade orgânica proeminente devido à complexidade
das relações sociais e à divisão do trabalho.

d. Como explicado anteriormente, o Fato Social transcende o indivíduo e influencia de forma


positiva ou negativa as ações dos agentes sociais, que são levados a agir e pensar de acordo
com normas pré-estabelecidas aos membros da sociedade. Nesse sentido, as dinâmicas de
integração social impactam nas decisões individuais e coletivas de uma sociedade, seja ela
caracterizada pela solidariedade mecânica, na qual os indivíduos possuem forte consciência
coletiva, ou pela solidariedade orgânica, definida como complexa, individualista, mas
interdependente entre os indivíduos que a compõe. Dito isso, para Durkheim o suicídio era
visto como uma anomalia no tecido social e não uma mera decisão individual, visto que as
decisões do agentes sociais são influenciadas pelo Fato Social. Com isso, é possível explicitar
a relação entre suicídio e o fenômeno desenvolvido por Durkheim: o suicídio está presente
em todas as sociedades, portanto, a taxa de suicídio em uma sociedade indica o nível de
anomia social; a anomia social, ou nível de desgaste da sociedade, está diretamente
relacionada ao Fato Social, visto que tal fenômeno exerce influência nas decisões coletivas e
impacta a dinâmica das relações no corpo social; com isso, conclui-se que o suicídio é um fato
social porque há implicações exteriores que influenciam na decisão individual de acabar com
a própria vida, como a família, o emprego, as relações sociais etc. É coercitiva porque nem
sempre o agente social é capaz de seguir as normas impostas pela sociedade. E é geral pois se
caracteriza como um fenômeno presente na sociedade que vai além da ação individual. Nesse
contexto, o fortalecimento do organismo social e das dinâmicas dos fatos sociais influenciam
na taxa de suicídio de uma sociedade. Além disso, Durkheim apresentou categorias específicas
para classificar os tipos de suicídio:
- Suicídio anômico: acontece em situações de anomia social, na qual o caos, desencadeado por
um grande evento, como uma grande crise econômica ou uma fase turbulenta na vida do
indivíduo, os deixem perdidos e sem esperança e tais forças desagregadoras influenciam no
suicídio.
- Suicídio Altruísta: ocorre quando os indivíduos submetem a própria vida à expectativas
coletivas, como movimentos políticos, religiosos etc, que influenciam a decisão de acabar com
a própria vida. Um exemplo são ataques terroristas no qual o indivíduo decide tirar a própria
vida por uma causa maior.
- Suicídio egoísta: nesse tipo de suicídio, o indivíduo decide acabar com a vida por não se
identificar mais com as instituições sociais, como a família, emprego, amigos e outras
obrigações sociais. É muito comum em pessoas que sofreram perdas de entes queridos, crises
financeiras após uma demissão, ou até mesmo idosos que costumam perder muitos desses
laços ao longo da vida.

Portanto, Durkheim conseguiu definir o suicídio como parte do Fato Social e com isso pensar em
mecanismo para oferecer subsídios que façam a sociedade agir e evitar tais acontecimentos, visto que
o ato do suicídio era entendido por ele como uma ação individual, mas as suas causas e implicações
eram coletivas.

e. Ora, a anomia social, conceito desenvolvido por Émile Durkheim, refere-se ao abandono ou
questionamento de normas e valores- em períodos de transformações rápidas na sociedade-
que leva à falta de direção e orientação para os indivíduos, o que pode ser perigoso. Ou
melhor, para o autor, a anomia é um estado em que as regras e normas socioculturais que
regem a sociedade estão incertas ou em desacordo (e as consequências disso são o aumento
das taxas de suicídio e crime). Nesse sentido, a mesma (anomia social) surge quando há uma
desintegração social, como em tempos de mudança rápida (isso por incluir coisas como
industrialização, globalização ou urbanização, por exemplo) ou desigualdade extrema
f. (quando há uma grande disparidade de riqueza/poder a sensação pode ser de que as normas
vigentes são injustas ou desproporcionais, fazendo com que os indivíduos possivelmente se
sintam desconectados daquela sociedade). Ainda, Durkheim argumentou que para combatê-
la, é necessário fortalecer os laços sociais e reafirmar normas e valores compartilhados por
meio da educação, coesão social e solidariedade.

"Se a divisão do trabalho não produz a solidariedade é que as relações dos órgãos não são
regulamentadas, é que elas estão num estado de anomia." Durkheim

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