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A Sociologia de Émile Durkheim

Neste artigo, vamos aprofundar os conceitos sociológicos do pensamento de Émile Durkheim,


autor clássico da Sociologia, que sempre aparece em questões do ENEM e de alguns concursos.

Também vamos analisar a possibilidade de utilizar suas reflexões na composição de uma


redação, por meio de um exemplo de uma redação considerada nota 1.000 no ENEM de 2014.

Quem foi Émile Durkheim?


Émile Durkheim (1858-1917) nasceu na Alsácia, território francês.
Foi um dos pensadores que mais contribuiu para a consolidação da
Sociologia como ciência empírica e para sua instauração enquanto
disciplina acadêmica. Tornou-se o primeiro professor universitário
de Sociologia.
Suas principais obras foram: Da Divisão do Trabalho Social, As
Regras do Método Sociológico, O Suicídio e As Formas
Elementares da Vida Religiosa.

Principais Influências no pensamento de


Durkheim
Émile Durkheim é considerado um dos precursores da Sociologia e
sofreu influência das ideias de Saint-Simon e de Auguste Comte.
Para estes, a humanidade avança no sentido de seu gradual
aperfeiçoamento, governada pela força da lei do progresso. Enxergavam a sociedade industrial
como uma fase avançada da sociedade, devido os avanços técnico-científicos.

Durkheim é considerado autor clássico da sociologia, assim como Karl Marx e Max Weber, já que
suas ideias têm grande impacto na construção do saber. Se você observar, vários assuntos
tratados no ENEM ou em concursos que cobra a disciplina de Sociologia como conteúdo, vão
aparecer as reflexões desses três autores.

Sociologia de Durkheim
A sociologia de Durkheim dá ênfase nas instituições sociais, seu surgimento e funcionamento. As
instituições, para ele, são instituídas pela coletividade que refletirá nas crenças e
comportamentos. Assim, a vida coletiva não é a soma dos indivíduos, mas um ser distinto, mais
complexo e irredutível às partes que o formam. Os fenômenos sociais (aquilo que aparece
socialmente) têm sua origem na coletividade e não em cada um dos seus participantes.

Sociologia de Émile Durkheim


Émile Durkheim buscou um método científico capaz de superar o senso comum e que fosse
objetivo. Embora adotasse critérios das ciências naturais, reconhecia que os objetos sociais
tinham suas particularidades e se distinguiam dos fenômenos da natureza. Os cientistas sociais
investigariam as relações de causa e efeito, as regularidades a fim de estabelecer leis e regras de
ação para o futuro.

O objeto da sociologia, para Durkheim, são os famosos fatos sociais, que iremos explicar
minuciosamente. Esses devem ser vistos pelo cientista social como “coisas”, facilitando o
afastamento de pré-noções e tratando os seus objetos de estudo de maneira objetiva.
Os fatos sociais compreendem tudo aquilo que é exterior ao indivíduo, isto é, que não depende
das consciências individuais para existir. Tem uma característica de generalidade, pois é
colocado a todos na vida social e tem característica de coerção. Portanto, um fato social é
constituído de exterioridade, generalidade e coercibilidade. Assim, o fato social é algo dotado de
vida própria, externo aos membros da sociedade e que exerce sobre os mesmos uma autoridade
que os leva agir, a pensar e a sentir sob determinadas maneiras.

São exemplos de fatos sociais a família, a escola, a religião, as Leis, o sistema financeiro,
vestimentas de um povo, a forma de organização cultural e política, etc.

Sociedade – objeto de
estudo de Émile Durkheim
O caráter externo desses fatos sociais que moldam as formas de pensar, sentir e agir dos
indivíduos são internalizados por meio do processo de socialização. Desde crianças somos
educados a determinadas formas de se comportar e de regras a serem obedecidas, desde de
seguir horários a tratar as demais pessoas. Essas regras, normas e valores de uma própria
sociedade são transmitidas por meio da aprendizagem nas diversas formas de instituição (família,
escola, religião, etc.), portanto, são externas ao indivíduo.

Um exemplo bem prático é você observar uma pessoa religiosa: a entonação da voz é diferente,
há vestimentas específicas, a forma de pensar e de expor suas ideias seguem um padrão; os
comportamentos e as falas são específicas para cada momento, etc. Ou seja, há uma
internalização de determinas maneiras de ser e agir do indivíduo ao ser exposto nesse tipo de
instituição que o difere dos demais.

O caráter de generalidade e coercibilidade podem ser vistos na medida em que alguém


desrespeita determina Lei, regra moral ou resiste a não usar, por exemplo, a moeda nacional ou a
língua materna, o que desencadeará constrangimentos, já que está diante de algo que não
depende da vontade individual e poderá ser excluído do grupo. Traduzindo, se alguém viola
determinada lei ou regra moral será punido (coerção). Se alguém resiste em falar o idioma de seu
país certamente estará excluído de exercer as condições de membro daquela sociedade.

Podemos nos perguntar: “então, se os fatos sociais são dados para todos, tem característica
exterior e exerce coerção, o indivíduo fica resumido a pressão dos fatos sociais?” Para Durkheim,
é possível apresentar comportamentos inovadores, e que as instituições são passíveis de
mudanças, mas, para isso, é necessária a combinação de vários indivíduos em realizar ações
que configurarão em um novo fato social. Assim, por exemplo, pode haver modificações no
sistema educativo para se adequar a uma nova realidade.
Preocupado com a coesão social e com a integração social na sociedade industrial, Durkheim vai
desenvolver o conceito de solidariedade mecânica e orgânica.

A primeira é um tipo de solidariedade pertencente as sociedades tradicionais, nas quais os


indivíduos se identificam por meio da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma
sociedade que tem coesão porque os indivíduos ainda não se diferenciaram e reconhecem os
mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a
uma coletividade.

Já a solidariedade orgânica surge nas sociedades mais complexas e modernas, nas quais
existem maior divisão do trabalho e uma maior individualidade, pois as pessoas criam autonomia
em relação à consciência coletiva. Por meio da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se
interdependentes, garantindo a união social, mas não pelos costumes e tradições. Assim, o efeito
mais importante da divisão do trabalho não é o aumento da produtividade, mas a solidariedade
que gera entre os homens.

Para garantir a solidariedade orgânica, advinda da divisão do trabalho social, devido as diversas
categorias profissionais existentes, é importante entender a importância dos fatos morais na
integração dos homens à vida coletiva.

Para ele, moral é tudo que promove a solidariedade, tudo que força o indivíduo a contar com o
seu próximo, sem se levar pelo seu egoísmo. É um sistema de normas de conduta que
prescrevem como o sujeito deve conduzir-se em determinadas circunstâncias. Portanto, quando
há conflitos na sociedade é devido a anomia, isto é, ausência de instituições capazes de
regularem valores, normas e regras capazes de manter a integração social.

Diferente de Marx, ao analisar os conflitos sociais do final do século XIX, devido à relação capital
e trabalho, vai defender que estes surgiram por causa da anomia, isto é, ausência de instituições
e normas integradoras que permitissem a integração da sociedade através da divisão social do
trabalho, que estava nascendo e se desenvolvendo. Ao estabelecer a solidariedade através das
regulamentações, os diversos atores envolvidos poderiam se expressar sem entrar em conflitos.

Apontava que Marx cometeu um grande equívoco ao achar que a economia era o que estruturava
a organização entre os homens. Na concepção durkheimiana, o Mercado não possui efeito
aglutinador das relações entre as pessoas.

Émile Durkheim vai fazer análises sobre várias instituições de relevância na sociedade
contemporânea como a família, a escola e a religião. Todas elas são fatos sociais e contribuem
com a coesão e a integração social, preparando o indivíduo para a vida coletiva, através de suas
normas, regras e valores. A educação ganha grande destaque em seu pensamento, porque ela
exerce o fator moralizador por excelência, libertando os indivíduos de visões egoístas e dos
interesses materiais. É através da educação, principalmente, que há a preparação dos indivíduos
para integrar o grupo e dizer o que a sociedade espera das crianças e jovens. Em resumo, é a
escola a principal transmissora dos valores, normas e regras sociais, a fim de estabelecer os
laços de solidariedade entre os homens.

É possível utilizar as reflexões de Durkheim na redação?


Com certeza! Veja o exemplo de uma redação considerada nota 1.000 no ano de 2014, cujo tema
foi “Publicidade Infantil”.

“De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, é na infância que os indivíduos passam pelo
processo de socialização, ou seja, adquirem os valores morais e éticos da sociedade em que se
encontram. Se, neste período, a criança for borbadeada por uma série de propagandas
ideológicas, ela pensará que a felicidade só pode ser alcançada ao lanchar em determinado
restaurante, ao adquirir determiado brinquedo ou ao vestir determinadas roupas. Há, portanto, a
necessidade de banir quaisquer tipos de publicidade que utilizem a ingenuidade infantil para a
obtenção de uma maior mercado consumidor”.

Fonte: Manual de Redação do ENEM, 2016, p.48. Redação do aluno Douglas Mansur Guerra.

Referente à citação, confira o comentário da banca examinadora da redação:

“O participante desenvolve o tema apresentado no enunciado da prova, lançando mão de


argumentação consistente, pautada por repertório sociocultural produtivo, haja vista a referência
adequada à Émile Durkheim […]”

Fonte: Manual de Redação do ENEM, 2016, p.49. Redação do aluno Douglas Mansur Guerra.

Exemplo de como o ENEM cobrou o conteúdo referente a


Durkheim
ENEM 2016:

A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas. Em vez de
assumir a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as
brilhantes generalidades em que todas as questões são levantadas sem que nenhuma seja
expressamente tratada. Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se
pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às
vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova.

DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir uma sociologia com base na
A vinculação coma filosofia como saber unificado.
B reunião de percepções intuitivas para demonstração.
C formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social.
D adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais.
E incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político.

Análise: Émile Durkheim, fundador da Sociologia como disciplina acadêmica sofreu influência do
positivismo de August Comte. Para eles, a Sociologia precisa descobrir leis explicativas para o
funcionamento da sociedade. Para isso, o método científico deveria ser semelhante àquele
adotado pelas ciências naturais. Portanto, a alternativa correta é a D.

[A] Durkheim propõe uma ciência própria para a Sociologia, com método específicos, portanto,
separada da Filosofia.

[B] Defendia métodos objetivos, semelhantes àqueles das Ciências Naturais, fundamentados em
observação rigorosa.

[C] Argumentava a objetividade da Sociologia, a partir da análise dos fatos sociais.

[E] Não faz parte do pensamento sociológico de Durkheim. O conhecimento não se dá a partir do
engajamento político, mas sim através do uso de método para conhecer a realidade social.

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