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Émile Durkheim em busca de atribuir à Sociologia uma reputação científica

O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1971), inspirado, em alguma medida, na ciência positivista de

Auguste Comte, avança no desenvolvimento de uma ciência social e busca atribuir à Sociologia uma

reputação científica. Quando ocorre a publicação de “As regras do método sociológico” em 1895, Émile

Durkheim inaugura uma discussão sobre a metodologia própria da Sociologia.

Em busca de analisar a sociedade como um organismo, tal qual as ciências naturais, Durkheim observa

que, independente da vontade individual, a humanidade é regida por causas exteriores e, portanto,

sociais. Uma das grandes preocupações de Durkheim é centrar o estudo da vida social como uma

realidade objetiva. O autor defendia que os acontecimentos sociais deveriam ser estudados como coisas

ou objetos.

Portanto, o sociólogo deveria desenvolver a capacidade de realizar uma observação neutra, racional e

livre de preconceitos e concepções predefinidas. O método para estabelecer essa relação com um objeto

de estudo na Sociologia, segundo Durkheim, seria por meio do estudo do fato social, o objeto de estudo

da Sociologia, constituído pelos acontecimentos sociais que ocorrem independentemente das

manifestações individuais.

Para Durkheim (1971), os fatos sociais podem ser divididos em três categorias:

coercitivo

O fato social é uma imposição coletiva sobre o indivíduo, que se configura como uma obrigação a seguir

um determinado comportamento estabelecido pela sociedade por meio de grupos sociais e instituições,

por exemplo, religião, moda e crença;

b) exterior ao indivíduo

O fato social ocorre independentemente da vontade do indivíduo, sendo imposto por determinações

externas, ou seja, o fato social não se expressa no comportamento de uma só pessoa, e sim na adesão

de uma maioria de pessoas envolvidas na determinação coercitiva de um comportamento, padronizando

as maneiras de agir, ser e pensar em sociedade;

c) coletivo/geral

O fato social é comum a todos os indivíduos da sociedade. Além de ser externo às nossas vontades

individuais e nos coagir a seguir padrões de comportamento, o fato social é ditado pelo meio social em

que convivemos.
REFLITA - O Fato Social

“É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção

exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência

própria, independente das manifestações individuais que possa ter.” Fonte: Durkheim (1971, p. 11)

O fato social, constituído como o objeto de estudo de Durkheim (1971), torna o autor o primeiro sociólogo

a desenvolver uma metodologia própria para a Sociologia, ou seja, não é apenas uma réplica de métodos

e técnicas das ciências naturais, como pretendeu a física social de Comte, é uma metodologia sociológica

pensada especificamente para o estudo da sociedade. Pode-se resumir as propostas de teoria

sociológica de Durkheim por meio das seguintes características:

OBSERVAÇÃO EMPÍRICA - a análise por experiência, detida aos sentidos, e o contato direto com sujeito

e o objeto de estudo;

NEUTRALIDADE CIENTÍFICA - apenas o que se pode comprovar e analisar cientificamente,

distanciando-se de prenoções e posicionamentos predeterminados

MÉTODO COMPARATIVO - a comparação do fato social em diferentes situações, considerando a


diversidade de condições sociais existentes e, até mesmo, em outras formas de organização social;

DIAGNÓSTICO DE
FUNÇÃO E CAUSA SOCIAL

a procura pela explicação das causas que tornaram possível a existência do fato social e a busca pela
função do fato social em sua sociedade de origem;

INDUÇÃO

o resultado da análise de um fato social específico deve servir para a compreensão de uma lei geral

O objetivo de atribuir uma reputação científica à Sociologia se deu quando Durkheim conseguiu, por meio

das premissas citadas anteriormente, denotar um rigor metodológico ao estudo da sociedade, de maneira

a estabelecer conceitos objetivos de investigação científica.

Destaca-se que, além de ter contribuído para o projeto de ciência social, Émile Durkheim colaborou para

que uma lógica de pensamento importante se colocasse nos estudos sobre a sociedade. O autor definiu

seu método científico de modo a considerar as imposições sociais sobre os nossos hábitos e modos de

ser, agir e pensar, em um movimento que determina uma relação do geral para o particular, ou seja, do

social para o individual.

CONECTE-SE - O padrão de beleza como um fato social

Os padrões de beleza no decorrer da história são um bom exemplo de fato social, no que se refere à

imposição exterior de modelos de comportamento. No artigo indicado a seguir, é possível perceber que os
nossos gostos e as nossas preferências estéticas são construídos socialmente e não possuem relações

com laços genéticos e determinações biológicas. O padrão de corpo considerado bonito pela sociedade

sofre modificações de acordo com o nosso contexto histórico e reflete em como a maioria dos indivíduos

lidará com os padrões de beleza de seu tempo. - Fonte: Elaborado pelas autoras.

Para refletir sobre as interferências que a sociedade impõe sobre a nossa trajetória, Durkheim criou dois

conceitos importantes: consciência coletiva e consciência individual. Segundo o sociólogo, a primeira se

trata do que é:

[...] comum a todo nosso grupo e, por conseguinte, não é a gente mesmo, mas a sociedade vivendo e
agindo em nós; a outra, ao contrário, representa apenas nós mesmo, naquilo que temos de pessoal e
distinto, naquilo que faz de nós um indivíduo. (DURKHEIM, 2008, p. 27-28).

Ao dimensionar esses dois tipos de consciência, Durkheim inaugura uma série de discussões sobre como

lidamos coletivamente com nossos gostos, nossas maneiras de ser, nossos pensamentos e nossas

ações. Assim, reconhece-se uma dimensão individual, proveniente da personalidade que possuímos, a

qual é vinculada a preferências como: cor favorita, tipo de comida preferida, entre outros aspectos muito

particulares. No entanto, demonstra-se uma atenção a como nossas ações, também, estão condicionadas

a fatores externos. Por exemplo, quando um indivíduo que vai a um casamento pensa que deve vestir um

terno, o dever, nesse caso, não é porque há uma preferência por usar ternos, e sim porque, nesses

espaços, esse é o tipo adequado de vestimenta, estabelecido por imposições coletivas.

Destacar as características que constituem o fato social como um objeto de estudo e os conceitos de

consciência individual e coletiva é essencial para aprender a teoria Durkheimiana, principalmente, no que

se refere à interpretação de Durkheim sobre uma sociedade que nos molda coletivamente como um

organismo funcional.

Divisão Social do Trabalho

Agora que compreendemos, de maneira geral, as premissas do pensamento de Durkheim, convém

avaliar uma de suas obras que apresenta uma análise prática da realidade moderna. Em 1893, Durkheim

publicou sua tese de doutoramento “A divisão social do trabalho”, que analisa a sociedade moderna e as

relações de produção do sistema capitalista. Para Durkheim:

[...] a divisão do trabalho não é específica do mundo econômico: podemos observar sua influência
crescente nas regiões mais diferentes da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias
especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as funções artísticas e científicas. Estamos longe
do tempo em que filosofia era a ciência única; ela fragmentou-se numa multidão de disciplinas especiais,
cada uma das quais tem seu objeto, seu método, seu espírito. (DURKHEIM, 1999, p. 2).

O sociólogo compreende que a divisão social do trabalho possuía a função de estabelecer coesão social

e vínculos de solidariedade social, “[...] fenômeno totalmente moral e que não pode haver uma
observação exata.” (DURKHEIM, 1999, p. 13). A coesão social se refere ao compartilhamento de ideais,

valores, crenças e modos de agir e pensar em uma sociedade, quanto mais coeso é o funcionamento de

uma sociedade, melhor a sua organização social.

“Para Durkheim, o progresso é o progresso da divisão social do trabalho que se impõe pelo crescimento

do volume e densidade moral das sociedades, pela intensificação dos contatos e das relações sociais.”

(MARTINS, 2008, p. 3). Assim como vimos anteriormente, a imposição de valores sociais e morais

impacta significativamente a vida das pessoas. A coletividade é determinante em muitas instâncias da

vida social, a qual depende do estabelecimento de vínculos de solidariedade social para atingir uma

melhor coesão em sociedade. Considerando esse contexto, para o autor, existem dois tipos de

solidariedade social: a mecânica e a orgânica.

Solidariedade Mecânica

As sociedades com solidariedade mecânica são aquelas baseadas na divisão social do trabalho simples,

em que todos os seus membros reconhecem todos os processos de produção. Esse tipo de organização

advém de sociedades mais elementares, em que há um forte senso de coletividade e não há muitos

níveis de individualidade.

Segundo Durkheim (2008): - As moléculas sociais cuja a coesão se dê dessa forma singular, só poderão

agir em conjunto se não tiverem movimentos próprios, como as moléculas de corpos inorgânicos. Por isso

nos propomos chamar esta espécie de solidariedade mecânica. Com essa expressão não queremos dizer

que ela seja produzida por meios mecânicos artificialmente. Chamamo-la assim apenas por analogia com

a coesão que une entre si os elementos dos corpos brutos, em oposição àquela que dá unidade aos

corpos vivos. O que completa a justificação de tal denominação é que o laço que une os indivíduos à

sociedade é análogo ao que liga a coisa à pessoa. (DURKHEIM, 2008, p. 28).

É comum perceber alusões a nomenclaturas das ciências naturais nas obras de Durkheim,

principalmente, em suas primeiras produções, dado a tentativa do autor de adaptar os métodos desse

campo de estudos para a investigação sociológica. Na citação anterior, o autor justifica o uso da

expressão solidariedade mecânica, para nos mostrar que a sua definição se trata da relação dependente

da coletividade em sociedades que possuem esse tipo de divisão social do trabalho.

SAIBA MAIS - Povos caçadores e coletores são sociedades de solidariedade mecânica?

Considera-se que as sociedades de solidariedade mecânica são constituídas por modelos de produção

com processos simples, como a economia e a alimentação, que são baseadas em caça, coleta, pesca e

agricultura complementar, assim como vivem o povo Kaingang, uma das maiores populações indígenas
brasileiras. Para saber mais sobre o tema e compreender melhor a dinâmica de solidariedade mecânica,
acesse o link a seguir. - Fonte: Elaborado pelas autoras. - ACESSAR

Sociedades de solidariedade mecânica são aquelas em que o senso de coletividade é maior do que o de

individualidade ou, até mesmo, se impõe à individualidade, sufocando-a.

Solidariedade orgânica

As sociedades de solidariedade orgânica constituem-se nos processos de produção da modernidade, ou

seja, no sistema capitalista. Esse tipo de divisão social do trabalho se baseia no alto grau de

especialização e no individualismo. Em uma sociedade de solidariedade orgânica, os indivíduos possuem

muita dependência uns dos outros, complexificando o sistema de relações sociais nos mais diversos

âmbitos, em instituições econômicas, políticas e culturais.

A solidariedade do tipo orgânica é um desenvolvimento do tipo mecânico, segundo Durkheim:

[...] a passagem da sociedade de solidariedade mecânica para a sociedade de solidariedade orgânica


como uma lei histórica. Assim, quando a maneira como os homens são solidários se modifica, a estrutura
das sociedades acaba mudando também. A forma de um corpo se transforma necessariamente quando
as afinidades moleculares não são mais as mesmas. Por conseguinte, se a proposição precedente é
exata, deve haver dois tipos sociais que correspondem a essas duas sortes de solidariedade.
(DURKHEIM, 1999, p. 17).

Portanto, para Durkheim, quando a sociedade muda, os indivíduos dependem uns dos outros,

devido à especialização de funções ou mesmo à divisão do trabalho social. Na realidade, o que

causa interação entre as pessoas é o progresso dos meios da especialização das funções que os

indivíduos exercem entre si (DURKHEIM, 1999).

Logo, os indivíduos acabam se tornando independentes das atividades em diferentes setores da vida

social. Portanto, Durkheim postula que a divisão social do trabalho não deve se reduzir ao seu papel

econômico: “Ao contrário, a divisão do trabalho social tem antes de tudo uma função moral, no

sentido de que ela passa a ser o elemento-chave para a integração dos indivíduos na sociedade.”

(SELL, 2001, p. 144).

Sob essa perspectiva, Durkheim demonstra uma preocupação com a constituição dos valores morais em

sociedade, pois, para o sociólogo, nossas fragilidades estão na perda, ou na falta de adesão, dessa

dimensão coletiva de compartilhamento de ideias, normas e valores, responsável por orientar as condutas

dos indivíduos.

O nível de consciência individual é maior nesse tipo de sociedade, na qual a divisão social do trabalho

impele que os indivíduos sejam diferentes entre si:


Já com a solidariedade que a divisão social do trabalho produz [de solidariedade orgânica], é tudo muito
diferente. Enquanto a precedente [de solidariedade mecânica] implica que os indivíduos se pareçam, esta
supõe que que eles sejam diferentes entre si. A primeira só é possível na medida que a personalidade
individual é absorvida pela personalidade coletiva; a segunda só é possível se cada um tem a esfera de
ação que lhe é própria - uma personalidade, por conseguinte. É necessário, então, que a consciência
coletiva deixe uma parte da consciência individual descoberta, para que aí se estabeleçam as funções
especiais que ela não pode regulamentar; e quanto mais essa região se estende, mais forte é a coesão
que resulta dessa solidariedade. (DURKHEIM, 2008, p. 28).

Isso significa que, quanto maior forem o nível de interdependência entre cada indivíduo na

sociedade, a diversidade de funções a serem exercidas socialmente e o grau de especialização

nos processos de produção, melhor será o nível de coesão social. Quando essa coesão se perde e

o nível de solidariedade social diminui, em razão da não adesão, pelos indivíduos, de regras e

valores coletivos, nossa sociedade entra no que o Durkheim chama de anomia social. (M)

O olhar de Max Weber para entender o sistema Capitalista

O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) propõe uma Sociologia que busca compreender e interpretar

as relações entre indivíduos, isto é, a ação social. Para Weber, a ação, sem seu sentido social, é puro

fruto do comportamento humano, já a ação social possui, como referência, o comportamento entre

indivíduos, uns com relação aos outros, constituindo o que chamamos de vida em sociedade.

Segundo Cruz (2004), a pesquisa histórica é, para Weber, essencial para a (MÔN) compreensão das

sociedades. A investigação sociológica deve se basear no esforço interpretativo de avaliar as diferentes

expressões de relações sociais.

REFLITA - A Ação Social para Max Weber

“A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações de outros, que podem ser

passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques anteriores, replica a ataques

presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os ‘outros’ podem ser individualmente

desconhecidos ou então uma pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos

(o ‘dinheiro’, por exemplo, significa um bem – de troca – que o agente admite no comércio porque sua

ação está orientada pela expectativa de que outros muitos, embora indeterminados e desconhecidos,

estarão dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura).” Fonte: Weber (2008, p. 117)

Diferentemente de Durkheim, Weber não defende que há leis gerais ou exteriores que se impõem sobre

os seres humanos, pelo contrário, para Weber, todo fenômeno social tem uma causa, um comportamento

individual que o precede. Portanto, leis universais que influenciam o comportamento humano e o

desenvolvimento histórico são inexistentes, o que mantém o construto coletivo dado pelas relações

sociais estabelecidas no cotidiano.


Sob a perspectiva de Weber, deve-se compreender a realidade parcialmente, em suas particularidades

individuais, em um movimento do particular para o geral, do indivíduo para a sua relação com a

sociedade. O aspecto compreensivo significa, segundo Cruz (2004):

[...] apreensão interpretativa do sentido ou contexto de sentido: a) realmente visando no caso particular (à
luz da apreciação histórica) ou b) em média e aproximativamente visando (à luz da apreciação
sociológica de massas) ou c) a construir cientificamente para o tipo puro (tipo ideal) de um fenômeno
frequente (sentido ou conexão de sentido “ideal” típico). (CRUZ, 2004, p. 588).

A análise sociológica proposta por Weber, diante da ação social como seu objeto de estudo, presume um

método que busca compreender as motivações individuais que impulsionam determinadas ações

sociais.

A ação social, como toda ação, pode ser:

Racional com relação a fins:

determinada por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros

homens, e utilizando essas expectativas como “condições” ou “meios” para o alcance de fins próprios

racionalmente avaliados e perseguidos;

Racional com relação a valores:

determinada pela crença consciente no valor interpretável como ético, estético, religioso ou de qualquer

outra forma - próprio e absoluto de uma determinada conduta, considerada de per si e independente de

êxito;

Afetiva: - especialmente emotiva, determinada por afetos e estados sentimentais atuais;

Tradicional: - determinada por um costume arraigado. (WEBER, 2008, p. 118, grifo do autor).

As ações sociais, que possuem diferentes formas de expressão no cotidiano, segundo Weber, são:

[...] como tipos conceituais puros, construídos para fins de pesquisa sociológica, com relação aos quais a
ação real se aproxima mais ou menos ou, o que é mais frequente, de cuja mescla se compõe. Somente
os resultados que com eles se obtenham é que podem nos dar a medida de sua conveniência. (WEBER,
2008, p. 119).

Ao mobilizar o conceito de ação social como objeto de estudo, podemos dimensionar sociologicamente as

ações, como nos seguintes casos: 1) um político que busca ocupar uma posição de poder sob a

finalidade de, supostamente, cumprir promessas de campanha eleitoral (ação social do tipo racional com

relação a fins); 2) a ida a cultos religiosos, que só se justifica quando se acredita nos valores ali pregados

(ação social do tipo racional com relação a valores); 3) atitudes passionais, movidas por afeição a outro,

crises de ciúmes, declarações de amor etc. (ação social do tipo afetiva); 4) hábitos culturais e festas

tradicionais, como o Carnaval, a Folia de Reis, a festa do boi-bumbá e as festas juninas que acontecem

aqui no Brasil, podem ser pensados pela ação da tradição (ação social do tipo tradicional).
Weber defende que a compreensão da sociedade se dá pelo olhar atento às relações entre os indivíduos

que a compõem e pelas ações efetivas desses indivíduos entre si. Isso significa que, se quisermos

entender como a instituição escola funciona, por exemplo, devemos olhar para os indivíduos que fazem

parte dela (alunos, professores etc.) e verificar o modo como essas pessoas agem em relação umas às

outras, ou seja, a interação social; assim, esse processo é denominado pelo autor como relação social.

A relação social é a reciprocamente dotada de sentido na ação, sentido esse que é modificado por uma

pluralidade de agentes que se orientam por essa referência de reciprocidade.

A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

Ao centrar sua atenção na ação social dos indivíduos, Max Weber defendia a possibilidade de

afirmar que a base inicial do sistema capitalista foi a ação social dos indivíduos que seguiam a

ética protestante calvinista, vertente do movimento de Reforma Protestante iniciado no século XVI.

Sobre essa temática, o sociólogo publicou, em 1904, a primeira versão da obra “A Ética Protestante e o

Espírito do Capitalismo”, na qual defendia que haveria um tipo de conduta religiosa que contribuiu para o

desenvolvimento do capitalismo moderno. Weber classifica essa conduta por um conceito que ele chama

de tipo ideal, constituído como um instrumento metodológico que possibilita ao cientista social a

investigação de fenômenos particulares.

Segundo Weber, a ética de vida dos calvinistas era fortemente voltada ao trabalho e com

disciplinas rígidas, porque estes acreditavam que o trabalho, além de servir como forma de

glorificação divina, garantiria, também, a salvação. Em algum momento de sua vida, você, caro(a)

aluno(a), já deve ter ouvido a expressão “o trabalho dignifica o homem”; é nesse sentido que a

lógica calvinista colaborou para a formação do espírito do capitalismo, criando uma condição

humana divina para a realização do trabalho, de forma que estaríamos, portanto, predestinados ao

trabalho.

REFLITA - Meritocracia

A lógica de pensamento protestante, que difundia um valor de dignidade e recompensa celestial aos

trabalhadores dedicados, colaborou para que, na atualidade, nossa sociedade desenvolvesse a

meritocracia. De acordo com a definição de Johnson, a “[...] meritocracia é um sistema social no qual o

sucesso do indivíduo depende principalmente de seu mérito - de seus talentos, habilidades e esforço.”

(JOHNSON, 1997, p. 146). A crença na conquista meritocrática é uma mentira que nosso sistema

capitalista moderno criou para significar o esforço desmedido de trabalhadores e apaziguar as

discrepâncias que suas desigualdades sociais promovem, como uma espécie de justificativa para

a manutenção do poder nas mãos de pequenos grupos sociais. (não concordo – ver o ESPETO)

Fonte: Adaptado de Johnson (1997)


Com o passar do tempo, essa ideia de predestinação foi deixada de lado, mas o trabalho disciplinado e a

busca por sucesso (acúmulo do capital) continuaram a existir na teoria exposta no livro em questão. Isso,

para Weber, resultou no aparecimento dos primeiros capitalistas.

Na Idade Média, a religião motivava a vida das pessoas e dava sentido às suas ações. Com o

pensamento científico ganhando espaço na Europa Ocidental, a cultura religiosa foi confrontada, porém,

para Weber, a ciência não poderia ocupar, por completo, o lugar que a religião tinha ao desenvolver

concepções de mundo. Nesse sentido, na concepção de Weber, a Reforma Protestante contribuiu para a

consolidação do sistema capitalista, pois surgiu como forma de ressignificar a leitura religiosa sobre a

sociedade. A extrema racionalização dos processos sociais seria, segundo o autor, um elemento

conflituoso, que causaria uma fragilidade no sistema capitalista. Weber acreditava que os indivíduos,

quando agem por meio de uma racionalização extrema, conduzem-se a um desencantamento do

mundo, que torna as pessoas mais calculistas e frias. Esse processo de racionalização causaria

uma burocratização da vida, que aprisionaria a humanidade em sua própria organização social.

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Karl Marx e seu pensamento crítico sobre a Sociedade Capitalista

Karl Marx (1818-1883) é considerado um dos pensadores mais revolucionários da Sociologia, pois, além

de um método científico, o autor propôs um projeto político de atuação e organização social. Os estudos

de Marx buscaram analisar a sociedade capitalista em seu processo de consolidação e discutiram sobre

as características do trabalho nesse sistema e como as relações de produção que estavam se

estabelecendo influenciam na estrutura social e na determinação de desigualdades sociais.

Karl Marx e Engels (1998) entendiam que a burguesia, classe de proprietários, comerciantes e industriais

donos dos meios de produção, adquiriu poder econômico e político durante a Revolução Industrial e a

Revolução Francesa. Sob posse de um maior poder econômico, a burguesia criou leis e regras sociais

que visam proteger a propriedade privada de seus bens e, assim, proporcionar a manutenção de sua

classe no poder. Em posição de exploração e subjugados à classe burguesa, a classe proletária,

composta por trabalhadores sem posses, era responsável pelo processo de produção, por meio da venda

de sua força de trabalho (mão de obra).

Dessa forma, Marx e Engels (1998) demonstram que a sociedade capitalista se constituiu pela divisão

social do trabalho baseada em duas principais classes sociais: a dos capitalistas (burgueses), que detêm

a posse dos meios de produção (as máquinas, as matérias-primas, as terras e as fábricas); e a dos

proletários (operariado/trabalhadores), cuja única posse é a força de trabalho que seria vendida à classe

dominante, os burgueses.
REFLITA - A Sociedade de Classes

Em seu texto político do mundo moderno e contemporâneo, “O manifesto comunista”, publicado em 1848,

Karl Marx explica que “[...] a sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal,

não aboliu os antagonismos das classes. Estabeleceu novas classes, novas condições de opressão,

novas formas de luta no lugar das antigas.” (MARX; ENGELS, 2001, p. 9). - Fonte: Adaptado de Marx e

Engels (2001)

Para Karl Marx, a exploração da classe de trabalhadores possui, como principal objetivo, a acumulação

de capital. Dessa forma, o capital seria o acúmulo de bens e lucros provenientes da exploração da mão

de obra barata pela classe burguesa. Em sua obra mais significativa, “O capital: crítica da economia

política”, publicada em 1867, o autor descreve os processos de produção capitalista e aponta a forma

com que esse modelo aprofundava as desigualdades na sociedade que se consolidava e mantinha uma

parcela da população em condição de exploração.

Sobre a divisão de classes sociais, segundo Marx e Engels (2001):

Na mesma medida em que a burguesia – isto é, o capital - se desenvolve, também o proletariado se


desenvolve. A classe trabalhadora moderna desenvolve-se: uma classe de trabalhadores, que vive
somente enquanto encontra trabalho e que só encontra trabalho enquanto o labor aumenta o capital.
Estes trabalhadores, que precisam vender a si próprios aos poucos, são uma mercadoria, como qualquer
outro artigo de comércio e são, por consequência, expostos a todas vicissitudes da competição, a todas
flutuações do mercado. (MARX; ENGELS, 2001, p. 19).

Na teoria de Marx, os meios de produção é que transformam as relações de produção e as formas de

organização social, acarretando desigualdades sociais profundas, que propiciam a luta de classes.

A luta de classes se trata dos embates políticos entre trabalhadores e burgueses. Segundo o sociólogo

alemão, é por meio do movimento de organização social de questionamento à ordem dominante que a

emancipação humana total seria possível, bem como o fim da exploração do trabalho, o advento da

revolução operária e a derrocada do sistema capitalista.

O Materialismo Histórico Dialético

Embora Marx estivesse muito mais preocupado em construir um projeto político de sociedade, o sociólogo

também desenvolveu uma metodologia científica que direciona uma longa tradição de estudos marxistas

na Sociologia, o método do materialismo histórico dialético. Para Marx, são as condições materiais que

determinam a sociedade, e não o contrário, portanto, devemos compreender, primeiramente, o âmbito

material, as estruturas e as relações efetivas que formam a sociedade, o que é denominado, pelo autor,

de materialismo:

[...] não partimos do que os homens dizem, imaginam ou representam, tampouco do que eles são nas
palavras, nos pensamentos, na imaginação e na representação dos outros, para depois se chegarmos
aos homens de carne e osso; mas partimos dos homens em sua atividade real [...]. Assim, a moral, a
religião, a metafísica e todo o restante da ideologia, bem como as formas de consciência a ela
correspondentes, perdem logo toda a sua autonomia. Não tem história, não tem desenvolvimento [...]
(MARX; ENGELS, 1998, p. 19).

Para o pensamento materialista de Karl Marx, a essência do indivíduo é o centro das relações sociais; por

isso, ele compreende que o indivíduo não é um ser isolado, e sim que sua existência é proveniente dos

processos sociais em curso. Nesse sentido, a pesquisa materialista histórico dialética é realizada por

meio da análise dos contextos históricos e processos sociais que solidificam as relações sociais

materialmente, em sua aplicabilidade prática da vida em sociedade. O movimento de pensamento

dialético se dá na contraposição do campo das ideias com a realidade efetiva. Essa contraposição

possibilita a junção desses dois elementos, constituindo, assim, uma concepção única, que é a análise da

realidade.

Em síntese: o materialismo histórico dialético de Marx (MARX; ENGELS, 1998) concebe a realidade

social da seguinte maneira:

a) interação universal – todos os elementos da vida em sociedade estão relacionados. Os fatos não

podem ser considerados isoladamente;

b) a realidade em movimento universal – toda a realidade social está em constante movimento, ou seja,

as transformações sociais e as mudanças nas relações estão em constante conflito e desenvolvimento;

c) unidade dos contraditórios – o ser social é construído com relação ao outro em suas contradições e

conflitos, o que significa que nossa existência está condicionada ao nosso constante desenvolvimento

social.

Sob essa perspectiva, é possível afirmar que a existência de uma sociedade se dá com relação à

materialidade da vida. Assim, nossas relações são reguladas por processos históricos, econômicos e

sociais, principalmente, no que se refere às relações de produção, pois, à medida que elas se

transformam, a sociedade também se modifica.

Trabalho, Alienação e Sociedade Capitalista

Todo o método de análise de Karl Marx é baseado na preocupação em compreender os processos de

produção, mais especificamente, a nova concepção de trabalho que se instaura na sociedade capitalista.

Segundo o sociólogo, antes da modernização e da exploração de classes, a dimensão humana do

trabalho se constituía no processo de transformação da natureza para a satisfação de nossas

necessidades básicas. Com a instituição da sociedade capitalista, o que se colocou foi uma espécie de

trabalho alienado, em que o trabalhador perde sua dimensão criativa e consciente de produção

intelectual.
Para Karl Marx: “[...] o processo histórico de alienação distancia o ser humano do objeto que ele produz.

Assim, a alienação do trabalho significa que o operário não percebe que seu trabalho lhe pertence.”

(MARX; ENGELS, 2001, p. 29). Esse processo transforma o trabalhador em simples mercadoria,

tornando-o um ser alienado, que não possui intervenção criativa no produto do seu trabalho.

em relação às coisas / em relação a si mesmo / em


Aspectos da alienação:

relação ao trabalho

o indivíduo fica alienado ao mundo externo e ao produto de seu trabalho;


Em uma sociedade capitalista, regida pela produção de mercadorias, segundo Marx e Engels (2001), o

trabalhador e as suas possibilidades humanas só existem em função do capital. O indivíduo que não tem

trabalho fica sem salário e por isso torna-se inexistente e dispensável para o sistema capitalista. Marx

exemplifica: “Tão logo o trabalhador é explorado pelo fabricante e, no fim, recebe seu salário, ele é

atacado pelas outras porções da burguesia, o senhorio, o lojista, o penhorista etc” (MARX; ENGELS,

2001, p. 21).

O trabalho é uma forma de sobrevivência, assim, o operário não se reconhece no produto que criou.

Dessa forma, o trabalhador torna-se uma extensão da máquina, que tem operações simples e fáceis, e

pode ser facilmente substituído por outro trabalhador. Pelo caráter descartável denotado aos

trabalhadores, o valor da sua força de trabalho é mínimo, o suficiente para a sua sobrevivência. Sobre o

salário, Marx explica:

O preço médio do trabalho assalariado é o salário mínimo, ou seja, a quantia do meio de subsistência que
é requisito absoluto para manter o trabalhador na existência simples como um trabalhador. O que o
trabalhador adquire por meio de sua atividade é, pois, o mínimo necessário para a conservação e a
reprodução de vida humilde. [...] o trabalhador vive, meramente para aumentar capital e permitir-lhe viver
somente o quanto o interesse da classe governante requer. (MARX; ENGELS, 2001, p. 32-33).

Entende-se, assim, que, ao manter o trabalhador em condições de alienação, o sistema capitalista

mantém o crescimento da riqueza dos donos dos meios de produção, ou seja, da classe burguesa de

industriais, proprietários e comerciantes.

Comunismo

Como destacamos anteriormente, o intuito de Karl Marx não era apenas desenvolver um método

científico, o sociólogo alemão propunha um projeto político, o comunismo, um sistema social que

superaria o capitalismo e acabaria com as desigualdades sociais da divisão de classes. Considerada, por

Marx, como a fase final da sociedade humana, alcançada somente a partir de uma revolução proletária,

ele tinha a ideia utópica de uma sociedade igualitária, que seria a socialista (QUINTANEIRO; BARBOSA;

OLIVEIRA, 2002). Assim, Marx trabalhava com a temática de progresso das sociedades – lei de

desenvolvimento das sociedades.


Na perspectiva de Marx, a organização social desenvolve todas as forças produtivas que possui. Quando

a necessidade de expansão das forças produtivas de uma sociedade choca-se com as estruturas

econômicas, sociais e políticas, gera conflitos sociais, o que dá início à sua desintegração e cria um

terreno fértil para uma revolução. Desse modo, Marx vê o desenvolvimento da sociedade capitalista de

seu tempo da seguinte forma:

Como o desenvolvimento do antagonismo de classe acompanha o desenvolvimento da indústria, a


situação econômica, como se encontram, ainda não lhes oferece as condições materiais para
emancipação do proletariado. Eles buscam, portanto, uma nova ciência social, novas leis sociais que
criarão tais condições.
A ação histórica irá conduzir à ação pessoal inventiva; condições de emancipação historicamente criadas
conduzirão a condições fantásticas; e a organização de classe gradual e espontânea do proletariado
conduzirá a uma organização da sociedade especialmente planejada por estes inventores. A história
futura resolve-se, aos olhos deles, na propaganda e na realização práticas de seus planos sociais.
(MARX; ENGELS, 2001, p. 57-58).

É possível afirmar, portanto, que, para que ocorra a passagem para uma organização social mais
avançada, com um novo modo de produção, ou seja, uma sociedade comunista, a classe emergente deve

se impor à decadente, ultrapassando-a e substituindo-a por outra mais apropriada a seu interesse e a seu

domínio. Assim, os trabalhadores tomariam as instâncias de poder e provocariam a decaída da classe

burguesa.

Dessa forma, compreende-se que, pela ótica de Marx, o modo de produção capitalista é uma evolução do

modelo de produção da sociedade feudal. Porém, a partir do desenvolvimento das forças produtivas do

capitalismo e de suas relações sociais, será favorecida a criação de uma nova estrutura superior, e isso

conduzirá a um processo revolucionário, isto é, uma revolução comunista.

Contribuições Metodológicas
Durkheim, Weber e Marx

Em linhas gerais, podemos afirmar que, devido às diferentes perspectivas dos pensadores pioneiros da

Sociologia, é possível perceber que o esforço para a consolidação da disciplina como um conhecimento

científico possuía um norteador em comum para todos os autores citados até aqui, buscava-se

compreender as novas configurações da sociedade moderna e as suas contradições e padronizações,

assim como as características das relações da humanidade com o meio social emergente. Nesse sentido,

Durkheim, Weber e Marx colaboraram significativamente para o desenvolvimento de uma ciência social

comprometida com uma leitura orientada sobre a sociedade em que vivemos.

A teoria funcionalista de Durkheim, denominada assim devido ao objetivo do autor de avaliar a função

social que os fatos sociais exercem na organização da sociedade, contribuiu para estabelecer uma

perspectiva metodológica clara para a ciência sociológica. Da mesma forma que Weber, ao instituir a
ação social como objeto de estudo, criou uma metodologia específica da disciplina; ou seja, essas

metodologias não seriam mais apenas reproduções dos métodos e das técnicas das ciências naturais,

assim como anunciou Comte.

Embora Durkheim tenha se inspirado fortemente no positivismo e, até mesmo, tratado a sociedade tal

qual um organismo vivo, o funcionalismo durkheimiano inovou ao denotar uma reputação científica à

Sociologia. Weber construiu um caminho parecido ao de Durkheim no que se refere ao rigor

metodológico, no entanto, sob outra perspectiva de análise, considerando não as interferências exteriores

da sociedade sobre os indivíduos, e sim as interferências das ações individuais sobre a sociedade.

Apesar de muitos colocarem o pensamento de Karl Marx como muito distante das configurações teóricas

de seus companheiros precursores, é possível considerar que o mesmo objetivo, o de interpretar a

sociedade moderna, era perseguido pelo sociólogo alemão, que utilizou, porém, a sua ciência para intervir

politicamente nas lutas de classes provenientes dos conflitos causados por essa sociedade.

Em suma, o que buscamos demonstrar no decorrer desta unidade é o mesmo que afirmou o sociólogo

brasileiro Florestan Fernandes:

Todo fenômeno social é, por sua natureza, dinâmico e pelo menos relativamente instável, apresentando-
se à percepção e à observação sistemática do investigador, portanto, nessa condição, qualquer método
de interpretação sociológica, para ser útil e produtivo, deve, pois, compreender e representar os
fenômenos sociais em sua própria natureza, como fenômenos fundamentais e dinâmicos. (FERNANDES,
1962, p. 197.

Considera-se, nesse sentido, que a apreensão de diferentes métodos e técnicas de pesquisa é

essencial para que se possa estabelecer uma boa leitura sobre a sociedade em que vivemos, pois

conhecer diversas concepções de mundo e interpretações da vida social nos proporciona um

olhar mais atento sobre as circunstâncias que devemos enfrentar em nosso cotidiano. (CIENCIA

DA RELIGIÃO)

sociólogo brasileiro Florestan Fernandes:- PESQUISAR E LER LIVROS

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TEXTO DO VÍDEO: DIFERENTES PERSPECTIVAS DE INVESTIGAÇÃO SOCIOLÓGICA

Dos que foram os precursores da SOCIOLOGIA

Quando a sociologia começou a se consolidar como conhecimento científico, muitas mudanças

aconteciam na sociedade moderna, e com isso muitas problemáticas surgiam sob as lentes dos
estudiosos dedicados a investigação dos fenômenos sociais na época. A principal questão era: Como a

sociedade influencia nossas vidas cotidianas?

Para Auguste Comte, a vida em sociedade poderia ser harmoniosa e ordeira, conforme fóssemos

conhecendo ela completamente. O autor criador da Ciência Positiva, que considera a ciência como um

conhecimento superior a todos os outros, acreditava que se investigássemos os fenômenos sociais com o

mesmo rigor das ciências naturais, reproduzindo seus métodos e técnicas, teríamos o total domínio dos

processos sociais. “Compreender a ordem para atingir o progresso” – essa era uma premissa do

positivismo de Auguste Comte. Segundo essa perspectiva, se conhecemos a ordem em que regem

nossas vidas, podemos prever como lidarmos com os problemas sociais e solucioná-los. Atualmente

sabemos que a vida em sociedade não é previsível, tampouco controlável. No entanto, para o contexto

em que essa nova ciência se constituía, seguir os passos das ciências naturais era um caminho

considerado acertado para um cientista que pretendia reputação científica.

Seguindo os passos de seu precedente, Émile Durkheim buscou atribuir à sociologia a legitimidade

científica tão almejada por Comte. E assim o fez:

Na publicação da obra “As regras dos métodos sociológico” em 1895, Durkheim inaugurou uma

metodologia de pesquisa própria da sociologia. Em analogia ao estudo de organismos vivos das ciências

naturais, também conhecida como biologia, Durkheim trata a sociedade como um corpo que possui

órgãos que funcionam interdependentes. Para o sociólogo, cada instituição social possui uma função. O

conjunto de instituições sociais impõem sobre os indivíduos de sua sociedade de origem, maneiras de

ser, agir e pensar que são padronizadas pela adesão e compartilhamento de regras e valores sociais

definidos de fora, independentemente das vontades individuais de cada. São exemplos de imposições

sociais: os padrões de beleza, as regras de etiqueta, hábitos culturais entre outros comportamentos que

são coletivos, adotados pela maioria. Enquanto Durkheim via na coletividade uma força superior aos

indivíduos,

Max Weber defendia que a vida em sociedade era organizada e construída pelas relações sociais

cotidianas (adesão e compartilhamento de regra e valores sociais). A teoria de Marx Weber vê nas ações

individuais o elemento que estabelece as configurações do nosso sistema social. Para o autor, toda e

qualquer ação que temos em sociedade é movida em relação ao que se espera do outro. Esse

movimento é o que estabelece vínculos e nos organiza coletivamente. O trabalho assalariado, por

exemplo, é o que Marx Weber chamaria de ação social do tipo racional com relação a fins: nós

acordamos todos os dias úteis do mesmo mês, no mesmo horário e vamos até o mesmo local realizar as

tarefas pelas quais fomos contratados. Agimos dessa maneira, pois esperamos que no fim do mês

receberemos um salário que servirá para satisfazer as nossas necessidades básicas. Perceba: a ação de

trabalhar em nossa sociedade é motivada pela ação de quem nos emprega e paga o nosso salário.
Trabalhar é uma escolha individual que está relacionada com a escolha de outro indivíduo do mesmo

meio social.

Em contrapartida, para o sociólogo alemão karl Marx, não há uma imposição entre a individualidade e a

coletividade. Ou vice-versa. As duas instâncias estão relacionadas e em constante movimento. Na

perspectiva de Karl Marx, a vida em sociedade é fundamentada em contradições e conflitos. O

processo histórico institui uma série de transformações sociais recorrentes, e nós somos resultado delas

na mesma medida em que cooperamos para que essas transformações aconteçam. O objeto de estudo

principal de Karl Marx foram as relações de produção da sociedade capitalista. Segundo o autor, as

desigualdades sociais desse sistema são resultado de um curso histórico que dividiu a sociedade em

classes sociais em que proprietários e donos do poder econômico submetem trabalhadores à exploração

do trabalho. Para Karl Marx compreender a estrutura econômica e política da sociedade capitalista nos

permite estabelecer parâmetros de superação de um sistema que torna a vida em sociedade desigual.

Conclusão - Unidade 2

Caro(a) aluno(a), finalizamos esta unidade que apresenta os precursores da Sociologia e as suas

concepções metodológicas e teóricas. Buscamos destacar as contribuições de Auguste Comte, Émile

Durkheim, Max Weber e Karl Marx para a consolidação da disciplina.

Foi possível aferir que a Sociologia é uma ciência plural, com diversidade de perspectivas teóricas e

metodológicas desde o seu surgimento. O positivismo e a concepção de progresso social de Auguste

Comte colaboraram para que houvesse a possibilidade de um estudo social. O funcionalismo de Émile

Durkheim demonstrou que a sociedade possui influência sobre as nossas maneiras de agir, ser e pensar.
A sociologia compreensiva de Max Weber contribuiu para a consolidação da disciplina, na medida em que

destacou que as nossas ações cotidianas e decisões individuais também podem intervir no meio social. A

perspectiva de Karl Marx, que considera as contradições do mundo moderno, nos ajuda a compreender

que a vida em sociedade produz desigualdades sociais profundas e que precisam ser superadas.

Todas as concepções teóricas e metodológicas apresentadas nesta unidade cooperaram para a

consolidação da Sociologia e dos fundamentos do pensamento intelectual no ocidente moderno. Esse

processo de constituição das ciências sociais norteia a atuação de cientistas sociais no mundo todo até a

atualidade; por isso, destacamos a importância de retomar a leitura dos clássicos da Sociologia.

Esperamos que as discussões propostas até o momento possam colaborar para a elaboração de boas

percepções sobre a realidade social em que você, caro(a) aluno(a), atuará profissionalmente em breve.

Bons estudos!
A Ciência sociológica no Brasil

Introdução

Estimado(a) estudante, nesta unidade, conheceremos os caminhos da implantação da Sociologia no

Brasil e as suas principais teorias e autores.

Veremos que, inicialmente, mesmo havendo uma preocupação em entender a formação da sociedade

brasileira, os primeiros intelectuais que representavam esse movimento de consolidação de um

pensamento social brasileiro desenvolviam um trabalho não muito além de um relato histórico, e seus

estudos resultaram em algo mais próximo da literatura do que da ciência.

No entanto, as leituras sobre a sociedade brasileira se desenvolveram com pesquisas de campo

significativas sobre o período colonial e a pós-colonização, revelando características importantes da

formação social e cultural do Brasil. Essas pesquisas produziram trabalhos com o intuito de elaborar uma

visão sobre o sujeito nacional, isto é, o brasileiro, evidenciando uma percepção da identidade da nossa

nação.

Por fim, veremos que, a partir de 1930, uma geração de sociólogos, institucionalizados nas universidades

brasileiras, consolida a Sociologia como disciplina acadêmica, ou seja, uma Sociologia científica que visa

pensar sobre a realidade da sociedade brasileira diante de múltiplas perspectivas teóricas e

metodológicas, que resultaram em importantes estudos nas mais diversas áreas e que permitiram o

entendimento da população brasileira.

Você está preparado(a) para conhecer como a sociedade brasileira é retratada pela Sociologia? Vamos

lá!

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Texto do vídeo.

A democracia racional: existe mesmo no Brasil? Democracia é

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A Implantação da Sociologia no Brasil: interpretando a realidade brasileira

Dedicada a construir concepções de mundo e a investigar a vida em coletividade, a Sociologia também

possuiu uma grande repercussão no território nacional. Um pouco diferente dos clássicos da disciplina, no

Brasil, as relações de produção e de trabalho na sociedade industrial não eram o nosso objeto de estudo

principal, pelo menos, não inicialmente. Dado a condição de colônia, o Brasil possui outras bases no

processo de modernização do país, dentre elas, as principais seriam a escravização e a inferiorização

étnica de povos africanos e indígenas. Por isso, a miscigenação foi um tema tão importante para os

precursores da Sociologia no Brasil.

Como apresentaremos no decorrer desta unidade, a maneira com que construímos as estruturas de

poder da sociedade brasileira interfere significativamente em como lidamos com a nossa vida social e em

como nos constituímos culturalmente. Para compreender como os teóricos brasileiros abordaram esses

processos, teremos que localizar o contexto de consolidação da Sociologia no Brasil.

Pode-se perceber, ao analisar o histórico do surgimento da Sociologia como um conhecimento científico,

que esta é uma ciência que emerge da modernização durante sua consolidação na Europa, e no Brasil

não foi diferente. A implantação da Sociologia brasileira ocorreu quando, no início dos séculos XIX e XX,

as transformações sociais rumo à civilização se intensificaram em nosso país, e uma ciência dedicada ao

estudo social se tornou possível.

Consideramos, portanto, que:

[...] o saber racional floresce em sociedades estruturalmente diferenciadas e estratificadas, nas quais a
divisão social do trabalho e a especialização dos papéis de produção intelectual concentram nas mãos de
alguns indivíduos toda a atividade criadora na explicação da origem e da composição do mundo
(FERNANDES, 1958, p. 179).

O saber racional, científico e orientado pela investigação sistematizada só é possível quando há

condições sociais e culturais que fornecem um suporte favorável de desenvolvimento. No Brasil,

essas condições se consolidaram na decaída do poder colonial.

“A ordem social escravocrata e senhorial foi, porém, solapada e desintegrada pela própria força de sua

expansão” (FERNANDES, 1958, p. 183). A partir disso, novas concepções de mundo foram impelidas, e a
necessidade de interpretar a sociedade brasileira se difundiu entre os intelectuais do país .

Segundo o cientista social Octavio Ianni (2000), o Brasil tem, como peculiaridade de seu pensamento

social, a preocupação contínua e constante de avaliar os momentos de rupturas históricas no país. É daí

que surgem as interpretações que podem priorizar determinados setores da sociedade e formular

concepções sobre a sociedade brasileira, buscando compreender as bases do desenvolvimento social e

histórico nacional.
Sob a perspectiva de Ianni (2000), o pensamento social brasileiro se consolida ao pensar as

configurações de sua sociedade e cultura, que criam e recriam a complexidade da realidade social.

Assim, os intérpretes da realidade brasileira podem ser definidos a partir dos temas que os tocam ou por

meio de seu pioneirismo e inovação nos processos de análise e investigação.

Diante disso, poderíamos destacar que existem três diferentes fases na implantação da Sociologia no

Brasil: a primeira é representada por intelectuais que conduzem uma leitura histórica sobre a realidade

brasileira, compondo uma produção considerável na literatura; a segunda fase se constitui de trabalhos

que valorizam a pesquisa de campo; por fim, a terceira caracteriza-se por uma Sociologia em sua

consolidação institucional como disciplina acadêmica, sendo composta por uma geração de sociólogos,

pertencentes a diversas universidades, inaugurando estilos e tendências propriamente brasileiros.

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Pensando a Sociedade Brasileira antes da Sociologia Científica

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