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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO – UCB

UNIDADE 1: A EDUCAÇÃO E AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS CLÁSSICAS

SOCIEDADE, SOLIDARIEDADE E EDUCAÇÃO: O PONTO DE VISTA DE DURKHEIM

- Relação entre indivíduo e sociedade: consciência coletiva (meio moral vigente na sociedade;
tipo psíquico da sociedade; exterior, coercitiva e geral; fatos sociais têm existência própria e são
independentes daquilo que faz e pensa cada indivíduo em particular); a consciência humana nada
mais é do que a consciência coletiva; Peter Berger: “segundo a perspectiva durkheimiana, viver
em sociedade significa existir sob a dominação da lógica da sociedade (...)”.
- Consciência coletiva > diferentes funções esperadas para os indivíduos > cooperação > divisão
social do trabalho (condição para que a sociedade tenha prosseguimento). De acordo com o meio
moral, essa diferença/similaridade de funções pode ser maior ou menor, variando desde a
solidariedade mecânica (sociedade tribal; solidariedade baseada na semelhança) à solidariedade
orgânica (sociedade industrial; solidariedade baseada na diferença).
- Entretanto, positivista que era, Durkheim acreditava que (...) todo o progresso desencadeado
pelo capitalismo, traria um aumento generalizado da divisão do trabalho social e, por conseguinte,
da solidariedade orgânica, a ponto de fazer com que a sociedade [capitalista] chegasse a um
estágio sem conflitos e problemas sociais. A ausência de conflitos exigiria a manutenção da
consciência coletiva numa sociedade tão diferenciada, o que seria possível por meio da
EDUCAÇÃO. Esta mantém crenças e valores básicos indispensáveis à manutenção da
sociedade.
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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO – PEDAGOGIA UERJ

Aula 1 – A Sociologia e a sociedade contemporânea (Rogério Mendes de Lima)

Principais teóricos da Sociologia da Educação/ Relação não-gratuita entre Sociologia e realidade


(existe interdependência: realidade/explicação da realidade ↔ reflexão sociológica/sociologia)/ 1)
A sociedade contemporânea e suas características: 1.1) A revolução industrial e o surgimento
de um novo padrão econômico: revolução industrial não foi apenas uma revolução da técnica;
trabalhadores em condições críticas dentro e fora das fábricas; ostentação da burguesia
industrial; médicos são os primeiros a denunciar o quadro ; impasse (“questão social”): situação
dos operários ia de encontro aos próprios princípios da burguesia (homens livres) e sem
privilégios + posse de propriedade aumentava a desigualdade + movimentos sociais, partidos e
greves + violência urbana + cólera; criação de uma ciência da sociedade é uma das alternativas
(Comte [fundador formal da Sociologia, que deveria trazer um remédio para a desordem que
impedia o progresso]; Marx [Materialismo Histórico; transcende o socialismo utópico; superação
do capitalismo]); surgem teses para explicar a desigualdade e como superá-las. 1.1.1) Karl Marx:
desigualdade econômica é produzida nas relações de produção; “a história das sociedades é a
história da luta de classes” (Marx e Engels, in O Manifesto Comunista); classe social;
desigualdade social não é resultado da vontade individual; solução é a transformação do sistema
econômico capitalista com a extinção da propriedade privada dos meios de produção. 1.1.2) Alex
de Tocqueville: essência da sociedade democrática é a igualdade social como igualdade de
oportunidades; defende o Estado Democrático e uma correta e construtiva cidadania política.
1.1.3) Émile Durkheim: sistematiza a reflexão sociológica (organização da sociologia como
disciplina); definiu o objeto da Sociologia e o método de aplicação dessa ciência num caso real;
fato social: normas e regras coletivas que orientam e condicionam as ações individuais; fatos
sociais são exteriores (não provêm da vontade individual), coercitivos (punição pelo
descumprimento pressiona para o cumprimento) e gerais (destinados/aceitos pela maioria); dessa
maneira, a sociedade determina a conduta individual; minhas preferências resultam de minhas
experiências sociais; a percepção de que algo é exclusivamente individual é resultado de um
processo de introjeção das normas e regras coletivas de minha sociedade ou grupo social. É
resultado do processo de socialização. Para Durkheim, a sociedade é uma entidade moral;
economia não é o centro de tudo, mas os fatos sociais; desigualdade social não deve ser
explicada pela existência do capitalismo; divisão do trabalho é apenas resultado das diferenças e,
portanto, interdependência entre os indivíduos, e mantém a própria coesão social; nesse sentido,
é parte do cimento social; é solidariedade social; nesse contexto, um indivíduo eleito pela
sociedade como um valor coletivo acima de qualquer outro pode gerar problemas (pode haver
uma predominância de interesses individuais sobre os coletivos, rompendo a coesão social) e o
liberalismo clássico como uma economia sem regras coletivas (ausência do Estado) pode gerar
desigualdades (gerando reivindicações pelos sindicatos); conceitos importantes: socialização
(aprender a cultura; define se haverá integração ou não à sociedade), solidariedade mecânica e
solidariedade orgânica (ambas geram coesão social). 1.1.4) Max Weber: percepção científica x
não-científica: não existe unicausalidade + a conclusão sobre um fenômeno social sempre vem
de determinada perspectiva que deve ser apontada > não cabe às ciências sociais produzirem
leis gerais que dêem conta da totalidade. Mas explicar cada um a partir de seu próprio contexto;
unidade mínima de análise é o indivíduo (diferencia-se de Marx e Durkhéim, que acreditam que o
comportamento individual é determinado pelo grupo [classe social; fato social]); objeto de
investigação sociológica deve ser a conduta humana dotada de sentido, ou seja, com uma
justificativa subjetivamente elaborada; ação social: toda a ação realizada pelo indivíduo levando
em consideração a ação de outros atores sociais; há 4 tipos: ação tradicional (hábito/ tradição),
ação afetiva (motivada pela emoção ou afeto), racional com relação a valores (motivada por um
valor percebido como essencial, independentemente da consequência) e racional com relação a
fins (determinada pelo cálculo racinal de estratégias para alcançar objetivos); exemplos de cada
tipo (escovar os dentes; xingar juiz de futebol; jurar perante a Bíblia que não mentirá enquanto
réu; seguir estratégias traçadas para a aprovação num concurso); Para Weber, a desigualdade
não é causada apenas pela esfera econômica; além da economia, a religião também estimulou o
surgimento do capitalismo (livro “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”); a história não
tem um curso previamente definido (logo, o capitalismo e a questão da desigualdade social
podem não resultar no socialismo/ burocratização, ação política etc. podem levar a outro
caminho); A sociedade, a estrutura social e suas regras são produto das conseqüências não
intencionais das ações dos indivíduos; Entretanto, deve se ressaltar que em nenhum momento
Weber afirma que o individuo faz o que quiser, que não sofre influência da sociedade. Em outras
palavras, a tese de Weber não pode ser confundida como uma defesa do individualismo, como às
vezes é relacionada. A teoria sociológica weberiana é uma percepção interacionista da
sociedade9. É fundamental na compreensão de fenômenos não oficiais ou não vistos pela
maioria da sociedade como positivos e aceitáveis. “Segundo o Interacionismo, A vida social
somente é possível na medida em que as pessoas atribuem significados subjetivos às coisas e
aos contextos sociais em que estão inseridos.”/ 2) A aplicação das teorias sociológicas na
construção da sociedade contemporânea: 2.1.1) As Teorias Sociológicas e a evolução
histórica da compreensão e tratamento da desigualdade: com a incorporação das abordagens
sociológicas à prática social, houve ações do Estado para resolver a questão social (exemplo:
construção do sistema público de educação); atenção: a escola pode ser instrumento de
reprodução do status quo (conteúdos a serem aprendidos são determinados pela classe
dominante); não pode se negar, no entanto, o papel que em diversos países o sistema
educacional teve na redução das desigualdades sociais e na abertura de possibilidades menos
limitadas para a ascensão social das classes trabalhadoras. Previdência social, saúde e obras
também foram áreas de atuação do Estado; criação de um Estado Socialista também foi uma das
alternativas de combate à desigualdade social; falhas desse modelo podem estar associadas à
ausência de uma teoria do Estado na obra de Marx; nem tudo é desigualdade econômica (há
desigualdade cultural, social etc.); cidadania política/sociedade democrática também resulta de
teorias sociológicas (Alexis de Tocqueville); ampliação da participação democrática reduz a
desigualdade social, cultural, étnica e religiosa. Em nossos dias, os movimentos sociais em suas
diferentes manifestações e aspectos, as organizações não governamentais, a existência de
partidos fora da esfera das classes dominantes e a extensão do direito de voto a todos os
cidadãos sem distinção, é um exemplo de como a assimilação das teses das ciências sociais
foram importantes para a consolidação da sociedade em que vivemos.
Glossário: opulento; porquanto (explicação; por que); conquanto (concessão; apesar de; embora).

Aula 1 – PowerPoint

Filme “Germinal”: baseado na obra “Germinal” (Émile Zola).


Sociologia – o que é: estudo sistemático do comportamento humano em seu contexto social, de
modo a desnaturalizar/estranhar explicações corriqueiras e desvendar/criticar explicações
nebulosas ou alienantes sobre os fenômenos sociais, independentemente de quem as
estabelece.
Karl Marx: a desigualdade é inerente ao sistema capitalista. A desigualdade econômica produzida
nas relações de produção, explica todas as demais desigualdades observadas nas sociedades
humanas. Ela explica a evolução histórica de qualquer sociedade e ao mesmo tempo sua
superação no âmbito econômico é a única forma de encerrar a exploração do homem pelo
homem.
Émile Durkheim: a desigualdade é resultante da divisão do trabalho; uma sociedade de desiguais
interdependentes torna a todos moralmente iguais, posto que igualmente dependentes. Nesse
sentido, os problemas relativos à desigualdade são resultado da falta de ordem econômica da
sociedade industrial. Necessita-se então da criação de regras que regulem o sistema econômico,
evitando que ele dependa da vontade individual das partes envolvidas. Assim, ao invés de
conflito, a divisão do trabalho trará Solidariedade Social, ou seja, uma integração de todos ao
corpo social. Obra fundamental: “As regras do método sociológico”.
Max Weber: a desigualdade existe, mas pode ser explicada por múltiplos fatores que são
específicos de cada sociedade. Em algumas sua origem pode ser econômica, em outras moral.

Aula 2 – Vídeos Clássicos: Marx, Durkheim e Weber

Sociologia da Educação – Aula 1 – Clássicos da Sociologia – Marx:


- Do que se trata a Sociologia da Educação?: como a educação perpetua a sociedade/ sociedade
escolarizada (centralidade da escola no processo de socialização das novas gerações)/ é um
campo que vai além da escola, pois são inúmeros os mecanismos pelos quais a sociedade
transmite saberes considerados indispensáveis à sua reprodução/ outras situações educativas e
práticas socializadoras: família, movimentos sociais, mídia, relação com os pares etc.
- Autores Clássicos da Sociologia: Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Não existe uma
ordem específica para os dois últimos.
- Marx (1818-1833/ Alemanha) – visão de sociedade: uma sociedade se identifica pelos meios de
produção/ Filme Tempos Modernos (Charles Chaplin, 1936)/ Marx e a educação: Marx e Engels
não trataram especificamente do tema, mas defendiam um desenvolvimento do indivíduo que não
fosse subjugado ao domínio do capital; viam a educação contemporânea como instrumento de
reprodução do status quo; Marx defendia a humanização na educação (não significa ser
“bonzinho”; formação do homem novo, consciente de suas potencialidades históricas; educação
ligada à práxis social [é mais do que participar da sociedade; é atuar de forma crítica])
- Referências bibliográficas: A educação na perspectiva marxista: uma abordagem baseada em
Marx e Gramsci (FERREIRA; BITTAR, 2008)/ Uma perspectiva não-escolar no estudo sociológico
da escola (SPOSITO, 2003).

Sociologia da Educação – Aula 2 – Clássicos da Sociologia - Educação como processo


socializador - Durkheim:

- Durkheim (1858-1917/ França) – visão de sociedade: fatos sociais; sociedade é um todo


harmônico e organizado (para isso, regras coletivas são necessárias).
- Durkheim e a escola: escola é socializadora, transmitindo as regras e condutas (escola as
interioriza); obs: Durkheim não era contra a democracia, mas tinha uma visão severa que
defendia a submissão dos jovens às regras da sociedade; para Durkheim, a moral é um conjunto
de regras e essas regras são definidas para determinar a conduta do ser humano na sociedade;
um indivíduo normal gosta da regularidade; moral é essencialmente uma disciplina; a moral deve
ser explicada e ensinada pelas escolas (substituindo as regras ditadas pelas instituições
religiosas)/ A família também tem papel na educação moral, mas o ensino é limitado pela
intensidade das relações afetivas, enquanto na escola o processo é impessoal, predominando a
disciplina/ Escola é fundamental para o aprendizado social.
- Referências bibliográficas: Sintoma social dominante e moralização infantil (FERNANDES,
1994)/ Uma perspectiva não-escolar no estudo sociológico da escola (SPOSITO, 2003).

Sociologia da Educação - Aula 3 – Clássicos da Sociologia – Weber:

- Weber (1864-1920/ Alemanha) – visão de sociedade: sociedade é um sistema de poder em


todos os níveis (família, trabalho etc.)/ Sociologia é uma ciência das ações sociais do indivíduo;
quando o indivíduo age em relação a outro tem-se uma relação social/ Ação social (Weber; algo
individual) x Fato Social (Durkheim; algo coletivo)/ Ação social foi descrita na obra “Economia e
sociedade”/ Burocracia é própria do capitalismo moderno; é uma forma do Estado se organizar; é
um modo de manifestação da racionalização (preparação para as ações sociais).
- Weber e a educação: há 3 tipos de educação: carismático (despertar o carisma, ou seja,
qualidades heróicas ou dons mágicos; corresponde à dominação carismática; sociedades pré-
capitalistas), tradicional (formar um homem culto; preparação para uma conduta de vida [religiosa
ou mundana]; dependente do ideal de cultura do respectivo estamento] e burocrático (treinamento
e transmissão de conhecimento especializado; corresponde à dominação burocrática; treinar o
aluno para finalidades práticas)/ Para Weber, a educação era essencial para a formação de um
indivíduo autônomo e, ao mesmo tempo, ligado politicamente à sua nação.
- Qual a importância de um autor clássico? Permite-nos enxergar o mundo com uma determinada
perspectiva a partir da qual poderemos formular novas perguntas.
- Referência bibliográfica: Tipos de educação e educação burocrática (VIANA, 2004).

ARTIGO EXTRA: EDUCAÇÃO, SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO E TEORIAS SOCIOLÓGICAS


CLÁSSICAS: MARX, DURKHEIM E WEBER (PAULA CRISTINA LOPES)

1. A educação em Karl Marx: materialismo histórico - dialético (Os homens fazem sua própria
história, mas não a fazem como querem, e sim limitados pelas condições materiais e históricas de
sua existência; essa realidade resulta da contradição na sociedade, ou seja, contradição entre as
classes (tese; antítese; síntese; quem produz não desfruta da produção; quem não produz,
desfruta da produção); é um método de interpretação da realidade; é uma teoria desenvolvida por
Marx e Engels; O materialismo dialético é, então, o entendimento de que há uma disputa
de classes sociais histórica desde os primórdios da humanidade e que ela está condicionada à
produção material (trabalho e resultado do trabalho) da sociedade. A concepção marxista de
educação tem também por base o materialismo histórico. /// Infra-estrutura (ou estrutura ou base):
são os meios e relações de produção (matéria-prima, maquinário, processos industriais, direitos
de propriedade); Supra-estrutura: estrutura jurídico-política e estrutura ideológica (Estado,
religião, artes, meios de comunicação etc.). A superestrutura justificava a existência da
infraestrutura (esta é resultante das relações de produção, onde há dominantes e dominados). E
esta determina a superestrutura. No modelo marxista infraestrutural-supraestrutural as escolas
fazem parte da superestrutura, atuando como reprodutora do status quo. Marx defendia uma
educação gratuita e para todas as crianças (educação intelectual, corporal/física e
tecnológica/profissional). O trabalho é, em Marx, um princípio educativo. “Por um lado, é preciso
uma mudança das circunstâncias sociais para criar um adequado sistema de educação; por outro
lado, é preciso um sistema de educação adequado para poder mudar as circunstâncias sociais”.
A educação tem por missão (histórica) a emancipação do homem, a sua libertação (praxis
libertadora) que levará à construção de uma nova ordem social. O processo educativo deve ser
entendido como o processo pelo qual os indivíduos produzem a sua existência (homem-cidadão,
sujeito produtor do seu próprio processo histórico), numa perspectiva abrangente (em vários
sentidos) e como meio de combate a uma alienação crescente, típica das sociedades capitalistas.

2. A educação em Émile Durkheim: solução científica para decifrar o mundo é a sociologia


estruturalista – funcionalista – sistêmica, da objetificação social, da coisificação das relações
sociais, do consenso, da ordem. Tudo é fundamentado no fato social. Marx está para as relações
de poder assim como Durkheim está para as relações de coesão social. Durkheim foi o primeiro
autor clássico a afirmar a educação como processo social, como fenômeno social, capaz de ser
descrito, analisado e explicado sociologicamente. Fundou a sociologia da educação e sua teoria
define a educação como ‘bem’ social

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