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A ARTE COMO TÉCNICA SOCIAL PARA A HUMANIZAÇÃO:

OBJETO CULTURAL MEDIADOR PARA O DESENVOLVIMENTO


E TRANSFORMAÇÃO DAS FUNÇÕES PSÍQUICAS SUPERIORES
(SENTIMENTO E EMOÇÃO)
ART AS A SOCIAL TECHNIQUE FOR HUMANIZATION: A CULTURAL MEDIATOR OBJECT FOR
THE DEVELOPMENT AND TRANSFORMATION OF HIGHER PSYCHIC FUNCTIONS (FEELING
AND EMOTION)

Camila Mendes1
Cristina Felipe Frison2
Tatiane Superti3

MENDES, C.; FRISON. C. F.; SUPERTI, T. A arte como técnica


social para a humanização: objeto cultural mediador para o de-
senvolvimento e transformação das funções psíquicas superio-
res (sentimento e emoção). Akrópolis Umuarama, v. 25, n. 2, p.
139-151, jul./dez. 2017.

DOI: 10.25110/akropolis.v25i2.6415

Resumo: A presente pesquisa resulta de investigação bibliográfica e


¹Discente do curso de Psicologia pela Uni- tem como foco a utilização da arte como uma técnica social, como
versidade Paranaense – campus Cascavel. apresentado por L. S. Vigotski em Psicologia da Arte (2001), podendo
Email: camilamendes2110@gmail.com. En-
dereço: Rua Alfeneiros, 77, Cascavel – PR.
esta ser um objeto cultural mediador para a reflexão dos sentimentos,
CEP: 85807-690. o desenvolvimento psíquico e a própria humanização por meio da arte,
considerando a compreensão de homem da Psicologia Histórico-Cul-
²Discente do curso de Psicologia pela Uni- tural. Conclui-se que, compreendendo a arte como uma produção ar-
versidade Paranaense – campus Cascavel.
Email: crisffrison@hotmail.com. Endereço:
tística humana, que abrange as relações sociais, a cultura e a histori-
Rua Uruguai, 1251, apto 4, Cascavel – PR. cidade de uma sociedade, que objetiva as características humanas e
CEP: 85805-010. apreende a relação dialética entre forma e conteúdo, a arte é um ins-
trumento que possibilita a objetivação das funções psicológicas supe-
³Docente do curso de Psicologia na Univer-
sidade Paranaense – campus Cascavel.
riores, e serve como um mediador para desenvolver o psiquismo além
Psicóloga pela Universidade Federal de Mato de ter poderio para entrar em contato diretamente com as emoções e
Grosso do Sul (2008). Especialista em Teoria os sentimentos.
Histórico Cultural pela Universidade Estadual de Palavras-chave: Arte; Funções psicológicas superiores; Psicologia da
Maringá (2012). Mestre em Psicologia pelo Pro-
grama de Pós Graduação em Psicologia da Uni-
arte; Psicologia histórico-cultural; Sentimentos; Técnica social; Vigots-
versidade Estadual de Maringá (2013). Email: ta- ki.
tianesuperti@prof.unipar.br. Endereço: Rua
Fortaleza, 1740, apto 241, Cascavel – PR. Abstract: This research results from bibliographical research and fo-
CEP: 85810-051.
cuses on the use of art as a social technique, as presented by L. S.
Vygotsky in Psychology of Art (2001). This technique may be a cultural
object that can mediate the reflexing of the feelings, the psychic deve-
lopment, and the humanization through art. This would considerate the
human comprehension of the Historical-Cultural Psychology. In con-
clusion, comprehending art as a human artistic production that encom-
passes social relations, culture, and history of a society, and aims at
human characteristics seizing the dialectical relationship between form
and content; the art is a tool that enables objectification of the higher
psychological functions, and works as a mediator to develop the psy-
che. Besides, it has the ability to contact emotions and feeling directly.
Keywords: Art; Feelings; Higher psychological functions; Historical-cul-
tural psychology; Psychology of art; Social technique; Vygotsky.
Recebido em novembro de 2017.
Aceito em dezembro de 2017.

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 25, n. 2, p. 139-151, jun./dez. 2017 139


MENDES, C.; FRISON. C. F.; SUPERTI, T.

DAS RAÍZES DO MATERIALISMO HISTÓRICO za, a humanidade cria novas possibilidades e


DIALÉTICO À PSICOLOGIA HISTÓRICO-CUL- necessidades objetivas. Isso significa que são
TURAL as novas condições de existência objetivas que
determinarão o desenvolvimento da consciên-
Na tentativa de explicar o homem cons- cia” (LESSA; TONET, 2008, p. 34). É a partir
truíram-se várias teorias que problematizavam a dessa descoberta do trabalho como produto que
relação do homem com a natureza e a relação constitui o ser social que Marx supera o idea-
entre ideia e matéria. Sendo que o Idealismo, o lismo proposto por Hegel, contudo mantém sua
Materialismo Mecanicista e o Materialismo His- principal descoberta: “a história é um processo
tórico-Dialético foram as principais tendências feito pelos homens” (LESSA; TONET, 2008, p.
filosóficas. A primeira, uma concepção idealista, 35). Como exemplo cabe aqui ressaltar a luta de
considerava que a ideia antecede a matéria, ou classes, pois esta não existe na natureza em si,
seja “o pressuposto do idealismo é o reconhe- porém, sem o trabalho como transformador da
cimento do papel ativo, decisivo, das ideias e natureza nas matérias que são indispensáveis
da consciência humana na história” (LESSA; à reprodução social, as classes sociais, então,
TONET, 2008, p. 40), não excluindo a matéria, nem poderiam existir (LESSA; TONET, 2008).
mas compreende que a relação entre homem e “Essa dupla articulação e distinção com a na-
natureza é manifestada através da consciência tureza, descoberta por Marx, é o que escapava
constituída por meio do movimento das ideias. aos idealistas e materialistas e os fazia tentar
Já o materialismo mecanicista ignora as ideias explicar o ser social da forma como o fizeram”
e sua influência na construção da história, em (LESSA; TONET, 2008, p. 35).
que “as leis da sociedade seriam as mesmas leis
da natureza […] imutáveis e universais” (LESSA; [...] o materialismo histórico-dialético é um
TONET, 2008, p. 37), assim, contrapondo-se ao enfoque teórico, metodológico e analítico
idealismo, pois acredita no movimento da ma- para compreender a dinâmica e as grandes
téria como determinante da relação homem e transformações da história e das sociedades
humanas. Conceitualmente, o termo mate-
natureza, bem como a evolução da realidade
rialismo diz respeito à condição material da
objetiva. Partindo das duas teorias anteriores, o existência humana, o termo histórico parte
materialismo histórico-dialético funda-se, então, do entendimento de que a compreensão da
na tentativa de superar a dicotomia entre ideia e existência humana implica na apreensão de
matéria existente nestas, entendendo que tan- seus condicionantes históricos, e o termo
to a sociedade como o homem são sínteses da dialético tem como pressuposto o movimento
relação entre ideia e matéria, e que estas não da contradição produzida na própria história
podem ser efetivadas separadamente (LESSA; (GOMIDE, 2014. p. 3).
TONET, 2008).
Compreendendo as diferenças supracita- Frente a isso, o homem constitui-se,
das, priorizaremos, então, acerca do materialis- então, por meio da transformação da nature-
mo histórico-dialético, o qual apreende o homem za, construindo as leis históricas, as quais con-
como um ser ativo, uma vez que ele modifica a duzem seu desenvolvimento diferente dos seres
si mesmo e a sociedade por meio do trabalho. regidos apenas por leis naturais, assim, “não
Ao contrário do proposto por Hegel (1770-1831), existem filosofias neutras, ou seja, filosofias que
que acreditava num movimento espiritual e na ignorem os dilemas históricos cruciais que a hu-
Ideia Absoluta, Marx (1818-1883), propunha manidade enfrenta” (LESSA; TONET, 2008, p.
um movimento material, sendo que este possi- 12). A forma como essa ação modificadora da
bilita não apenas as modificações das formas natureza, por meio do trabalho, se constitui tem
de trabalho, relações sociais e organização de como consequência, até o momento, a explo-
vida, mas também permite a transformação dos ração dos homens, e para compreender tal cir-
próprios órgãos do sentido. “A formação dos cunstância existem duas respostas radicais que
cinco sentidos” - escreveu Marx - “é trabalho de vão de fato até a raiz da questão se pensando
toda a história passada” (KONDER, 2008, p. 51). em sociedade, sendo elas: A conservadora e a
É com Marx que se tornou possível, pela revolucionária. A primeira defende a ideia de que
primeira vez, entender a humanidade de modo não é possível superar essa exploração, uma
radical: “pelo trabalho, ao transformar a nature- vez que esta é relacionada a essência humana,

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imutável. Os homem são seres mesquinhos e individualmente e posteriormente passam a se


individualistas, que são “movidos pelo desejo de tornar “patrimônio de toda a sociedade” (LESSA;
acumular propriedades” (LESSA; TONET, 2008, TONET, 2008, p. 25). Então, em algum tempo
p. 13), ou seja, como dito por algumas correntes, esse conhecimento passará a generalizar toda
a vida social é uma luta entre os indivíduos. Con- a humanidade. E de um conhecimento singular
sideram a proposta de Marx de uma sociedade e imediato, avança-se para um cada vez mais
sem classes como algo utópico, e que o máximo amplo e genérico.
que poderia ser feito “é desenvolver o mercado Assim, voltamos a afirmar que toda ação
e a democracia que, para eles, são as melho- de trabalho apresenta uma dimensão social,
res e mais civilizadas formas de disputa entre pois, além de ser o resultado da história da so-
os indivíduos” (LESSA; TONET, 2008, p. 14). A ciedade, retrata o “desenvolvimento anterior de
segunda resposta, a revolucionária, afirma que toda a sociedade” (LESSA; TONET, 2008, p. 25),
é possível essa superação da exploração do ho- o objeto construído gera alterações para com
mem, uma vez que os homens são individualis- toda a sociedade, abrindo novas possibilidades
tas porque a burguesia os construíram e cons- e necessidades que promoverão a um desenvol-
tituíram assim, e não porque é inato. É preciso vimento futuro. Marx, então:
então que tal sociedade se “emancipe da explo-
ração e da opressão” (LESSA; TONET, 2008, p. Ao nos oferecer o exaustivo estudo da “pro-
14), como afirmada por Marx. “Os homens são o dução burguesa”, ele nos legou a base ne-
que eles se fazem a cada momento histórico. A cessária, indispensável, para a teoria social.
reprodução da sociedade burguesa produz indi- Se, em inúmeros passos do conjunto da sua
obra, Marx foi muito além daquele estudo,
vidualidades essencialmente burguesas” (LES-
fornecendo fundamentais determinações
SA; TONET, 2008, p. 14-15), assim, conforme acerca de outras das totalidades constitutivas
demonstrado por Marx, da mesma forma que a da sociedade burguesa, o fato é que sua teo-
“humanidade se fez burguesa, ela também pode ria social permanece em construção - e, em
se fazer comunista” (LESSA; TONET, 2008, p. todos os esforços exitosos operados nesta
15). As próprias relações sociais são os empeci- construção, o que se constata é a fidelidade à
lhos entre a sociedade burguesa e a comunista. perspectiva metodológica que acabamos de
Toda ação humana tem como base a his- esboçar. É nesta fidelidade, aliás, que reside
tória da sociedade, e a evolução desta. E uma o que, num estudo célebre, Lukács (1974, p.
vez que algo é objetivado, “passa a fazer par- 15) designou como ortodoxia em matéria de
te da história dos homens, passa a influenciar marxismo (PAULO NETTO, 2011, p. 58-59).
e a sofrer influências dessa história” (LESSA;
TONET, 2008, p. 24), ou seja, passa a ter uma O trabalho é o forjador do ser social,
dimensão social, coletiva. “O objeto construído uma vez que, por meio da transformação da na-
pelo trabalho do individuo possui, portanto, sem- tureza, gera a base material da sociedade, e a
pre segundo Marx, uma ineliminável dimensão constituição histórica tanto do indivíduo quanto
social: ele tem por base a história passada; faz da sociedade tem em tal base material o seu
parte da vida da sociedade; faz parte da história alicerce (LESSA; TONET, 2008). E por meio de
dos homens de um modo geral” (LESSA; TO- um processo de acumulação constante, “essa
NET, 2008, p. 24) articulada transformação da natureza e dos indi-
Ao construir, então, um novo objeto, o víduos permite a constante construção de novas
indivíduo além de transformar a si e a socieda- situações históricas, de novas relações sociais,
de, adquire também novas habilidades e con- de novos conhecimentos e habilidades” (LESSA;
hecimentos. Conhecimentos estes que podem TONET, 2008, p. 26). É esse processo de acu-
ser objetivos e/ou subjetivos. O conhecimento mulação que caracteriza o desenvolvimento do
objetivo, ou genérico, trata-se do objeto que homem como ontológico, diferente da natureza.
influencia e é influenciado pela sociedade, ou Para entender o homem e a socieda-
seja, adquire uma “dimensão genérica”, fazendo de a partir do materialismo histórico dialético é
parte da história humana, e podendo ser utiliza- preciso, primeiramente, ressaltar três aspectos
do em situações distintas da qual se originou. básicos desse método, sendo eles: 1) a matéria
O conhecimento subjetivo, por sua vez, diz res- origina as ideias, 2) movimento/transformação:
peito aos conhecimentos que são apropriados síntese dos opostos, 3) a raiz da matéria é o pro-

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cesso histórico (KONDER, 2008). Ou seja, é ne- métodos e princípios do materialismo histórico
cessário transformar as matérias para construir dialético a solução dos paradoxos científicos
as ideias, a realidade é o movimento, e é por fundamentais com que se defrontavam seus
meio da história que construímos nossa subjeti- contemporâneos” (COLE; SCRIBNER, 2000, p.
vidade. Na dialética o que promove o movimento 8). Com a Revolução de 1917 e os problemas
é a contradição, que se refere, em suma, na su- sociais da Rússia nesse período deu-se o pon-
peração e na conservação. Porém, transforma- ta pé inicial da teoria de Vygotski, quando ele
da, dos opostos, assim, é na síntese que está a lançou seu olhar indagador acerca das necessi-
superação do velho, ao mesmo tempo em que dades de tal país, pesquisando respostas para
este continua ali. É preciso matéria/condições os problemas que enfrentavam os homens des-
objetivas para ser possível o desenvolvimento sa época, sendo estes relacionados aos distintos
do homem e da sociedade (KONDER, 2008). interesses relacionados aos meios de produção
A sociedade não é algo natural, ela é e a propriedade privada (TULESKI, 2008).
construída e modificada pelo homem, e está Foi então após a Revolução de Outubro
sempre em constante movimento e transfor- de 1917 que se destacou a necessidade de bus-
mação. Além disso, ela possui uma base ma- car uma nova expressão relacionada à arte, uma
terial, sua estrutura e organização material, da vez que a arte burguesa expressava apenas va-
qual surge a estrutura social que nos possibilita lores que precisavam ser superados, ou seja,
produzir nossa própria condição de vida, com a esta nova arte, então, deveria buscar revelar
força produtiva e o trabalho (KONDER, 2008). “o homem contemporâneo”, assim, a proposta
Compreende-se a sociedade a partir da sua es- desta nova arte surgiu a partir da necessidade
trutura social, em como se produz as vidas, ana- de formação de um novo homem. Lênin (1870-
lisando qual é o trabalho dessa sociedade, em 1924), Gorki (1868-1936), Korin (1892-1967),
como se trabalha, e suas relações sociais. É o dentre outros, acreditavam na superação dessa
trabalho, como produção de vida, que determi- arte burguesa através do “realismo socialista”,
na dialeticamente a cultura dessas sociedades, este que apresentaria “uma nova possibilida-
bem como, é a maneira desigual que se vende e de de existir, uma nova consciência, ou ainda,
compra a força produtiva que possibilita consti- a consciência. Deveriam ser cultivados novos
tuir as classes sociais (KONDER, 2008). valores, verdadeiros, posto que direcionados
Por sua vez, para entender o homem a ao germe do coletivo”. O realismo socialista foi
partir do materialismo histórico dialético é pre- a abertura dos anos pós-revolucionários, consti-
ciso analisar a relação deste com a sociedade, tuindo a “superação do individualismo burguês,
pois o homem é construído/constituído numa em favor da divulgação de uma vida coletiviza-
profunda relação social. Não que o homem seja da” (BARROCO, 2007, p. 40). Este foi o projeto
como uma cópia da sociedade, mas este é trans- político da Psicologia Histórico-Cultural, o qual
formado por ela, trata-se de uma relação dialé- defendia que sem a superação da arte burguesa
tica, onde o homem é ativo nessa relação, pois não haveria um novo homem (BARROCO; SU-
transforma a si e a sociedade (KONDER, 2008). PERTI, 2014). Sendo assim, conforme explana-
Deve-se ainda levar em consideração a objeti- do por Superti:
vidade (condições concretas – sociedade) e a
subjetividade (psiquismo), os quais são construí- Dessa forma, podemos entender a arte, em
dos e transformados a partir das relações de tra- sua função, como um objeto cultural a favor
balho e das relações sociais (KONDER, 2008). da humanização, de modo que o psicólogo
Em suma, pode-se dizer que para enten- pode lançar mão dela para promover desen-
volvimento psicológico e ampliação da cons-
der tanto o homem quanto a sociedade a partir
ciência [...] Assim, entendemos que a arte
deste método é preciso perceber as condições pode tanto apontar quem é o homem atual,
concretas e subjetivas que a estes pertencem, como também ser um instrumento para a
suas relações de trabalho e sociais, analisando construção de um novo homem (SUPERTI,
o movimento e transformações que ali ocorrem. 2013, p. 14).
Buscando compreender qual é e como é a pro-
dução de vida dessa sociedade e em como isso No cenário da Revolução Russa (1917),
implica para a constituição do homem. Vygotski busca desenvolver aparatos teóricos
Vygotsky (1896-1934), então, “viu nos que amparem a Psicologia Histórico-Cultural,

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bem como, a psicologia da arte (SUPERTI, Para Vygotski, a psicologia marxista não
2013), e sobre esta afirma que: pode e não deve construir-se sobre frag-
mentos de autores, pois assim não passaria
Não se pode nem imaginar que papel caberá de uma cópia do que a psicologia burguesa
à arte nessa refusão do homem, quais das vinha fazendo, isto é, amontoando inúmeros
forças que existem mas não atuam no nosso fragmentos e citações e eliminando, ideologi-
organismo ela irá incorporar à formação do camente, as contradições contidas nos auto-
novo homem. Só não há dúvida de que, nes- res e, consequentemente, sua origem históri-
se processo, a arte dirá a palavra decisiva e ca (TULESKI, 2008, p. 102).
de maior peso. Sem a nova arte não haverá o
novo homem (VIGOTSKI, 2001, p. 329). Permite-se dizer, então, que a palavra,
ao intitular um fato, é capaz, além de apresentar
Para isso, Vygotski em suas obras pro- sua filosofia, clarificar sua teoria e sua estrutura
põe a superação da “velha psicologia” por uma, (VYGOTSKI, 1991, apud TULESKI, 2008). Par-
como intitulada por ele, “nova psicologia”, que tindo disso, Vygotski considera que a transfor-
posteriormente efetivou-se como Psicologia His- mação de tal contexto não se faz somente nos
tórico-Cultural, “que fosse capaz de eliminar a nomes, mas sim nas relações entre as coisas,
dicotomia entre corpo e mente e realizar a sín- bem como na maneira em como tais relações
tese”, compreendendo-os assim em relação se explicam e no que estas contém (TULESKI,
dialética (TULESKI, 2008, p. 81). Assim, tal su- 2008).
peração só seria realizável com uma psicologia
que compreendesse o homem e a natureza a Pode-se entender a sua preocupação com
partir de uma concepção histórica, a qual enten- a origem social da linguagem, no sentido de
desse o homem como um ser ativo na relação fazer chegar ao outro uma mensagem, um
significado. Se este significado se perde, se
com a natureza, ou seja, que fosse “produto e
uma mesma palavra pode significar infinitas
produtor de si e da própria natureza” (TULES- coisas ou relações, perde-se a função de
KI, 2008, p. 91). Psicologia esta que Vygotski comunicação e a linguagem se torna autis-
denomina de Psicologia Geral, a qual possuiria ta (só que fala compreende) ou restrita a um
um princípio explicativo único para tratar-se dos pequeno grupo que compartilha os mesmo
fenômenos humanos, “seria a criação do novo significados. Portanto, para entender as pa-
a partir e contra os elementos antigos” (TULES- lavras, para atingir seu significado, é preciso
KI, 2008, p. 91), eliminando assim a dicotomia recuperar sua historicidade, isto é, quais re-
e as explicações reducionistas existentes nas lações homem-natureza elas refletem. Sem
teorias psicológicas de tal período. A psicolo- esta concretude, as palavras não passam de
gia, então, precisa deixar de ser uma ciência abstrações (TULESKI, 2008, p. 103).
pura, desconectada das reais necessidades, e
metamorfosear-se em uma ciência que consiga Dessa forma, permanece claro que os
compreender os impasses gerados pela vida em fatores fundamentais para a constituição do in-
sociedade (TULESKI, 2008). divíduo social e a construção dos significados,
As demandas da prática social nortearam baseiam-se na historicidade e na cultura, prin-
a construção desta nova psicologia, acoplando cípio este que funda a Psicologia Histórico-Cul-
teoria e prática e desenvolvendo uma metodolo- tural, a qual entende a constituição do homem
gia única, tais fatores impediram que essa nova como síntese de sua relação com o meio, ou
visão se configurasse de maneira ideológica e seja, a partir do momento que o indivíduo modifi-
separada da realidade, para Vygotski, não se ca a natureza, produz a cultura e apreende esta,
trata de praticidade, mas sim de uma atuação re- humanizando-se e, é por meio dessa relação
volucionária e transformadora da vida em socie- que o homem eleva-se do ser animal e torna-se
dade (TULESKI, 2008, p. 94). “A vida necessita humanizado, assim como, através das relações
da psicologia e de sua prática e a consequência sociais que o sujeito constrói a si e a sociedade
desse contato com a vida é esperar o auge da (ENGELS, 1876).
psicologia” (2VYGOTSKI, 1991, p. 359 apud TU- Buscando construir uma psicologia que
LESKI, 2008, p. 94). fosse coexistente com as transformações histó-
ricas requeria-se, então, excluir a determinação
2
VIGOTSKI, L. S. Problemas teóricos y metodológicos de la psico-
logía. Madri: Visor, 1991. (Obras escolhidas, 1).
biológica e fazer o homem como ativo nessas

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MENDES, C.; FRISON. C. F.; SUPERTI, T.

transformações (TULESKI, 2008). Consideran- so dialético, se apropriando da cultura e transfor-


do assim que, a nossa natureza e a nossa hu- mando-a. Por exemplo, ao utilizar de determina-
manização são transformáveis, ou seja, o limite do instrumento para alguma função, o homem,
não é e nem está no biológico, mas sim no que a então, pode se apropriar de tal, bem como pode
sociedade produz ou oferece, ou o que deixa de transformá-lo para outra função, além de permi-
oferecer. Estamos em constante transformação tir que tal instrumento e função fiquem registra-
ao longo da vida, pois modificamos a nós e ao dos em um legado cultural, passando para que
meio através do trabalho e das relações sociais outros também o utilizem (LEONTIEV, 2004).
(LEONTIEV, 2004). Ou seja, tanto o homem Acerca do processo de apropriação e
quanto os animais possuem, naturalmente, uma organização interna dos conteúdos culturais de-
constituição biológica, porém há uma diferença ve-se ressaltar que de início a criança é intro-
fundamental entre os dois, pois, como dito por duzida no meio social e reage a partir de seus
Leontiev (2004, p. 211), a “nossa natureza é reflexos, mas a partir da relação com os outros e
moldável”, assim, ele não fica limitado ao des- com o meio começa a se apropriar de tal realida-
envolvimento biológico, isso porque possui ca- de e da cultura (LEONTIEV, 2004). Consideran-
pacidades psíquicas qualitativamente diferentes do que tal relação é sempre mediada, a criança
dos animais, ele pode modificar o ambiente em vai se apropriando de tal cultura e desenvolven-
que vive e apropriar-se dele, e esse conteúdo do seu psiquismo ao generalizar e internalizar os
apropriado é objetivado no psiquismo constituin- significados que lhe são apresentados, do sim-
do significados que permanecem no homem po- ples ao complexo, processo esse que está em
dendo ser superados/aperfeiçoados constituin- constante transformação ao longo de sua vida.
do novos saberes e, em maior nível, as funções Num processo dialético, fazemos a generali-
psicológicas superiores. zação de tal realidade, que é quando fazemos a
Esse processo só é possível por intermé- transposição dos vínculos da realidade objetiva
dio da linguagem, bem como, a interação social (concreta) para a subjetividade. Vale aqui ressal-
que permite a apropriação e humanização. Des- tar que os significados não são estáticos, mas
te modo, com um psiquismo passível de modifi- sim passam por vários níveis, primeiro pela no-
cações e desenvolvimento das funções psicoló- meação, depois pelo registro até que se possa
gicas superiores, é fato que a natureza humana atingir o nível abstrato. O funcionamento cere-
não fica estagnada, pois com o contato humano bral, enquanto sistema, se dá a partir da apren-
através da mediação e da apropriação já oco- dizagem e do desenvolvimento das funções
rre modificações no homem elevando, assim, a psicológicas superiores, que se desenvolve por
constituição puramente biológica (LEONTIEV, meio da apropriação da cultura e das relações
2004). sociais. As funções psicológicas superiores, en-
Outra diferença que cabe aqui ressaltar tão, elevam-se dos processos apenas primitivos
é referente à diferença entre a adaptação ani- e biológicos, em um movimento de objetivação
mal e a transformação social provocada pelo ho- e apropriação que possibilitam a generalização,
mem, pois, como explicado por Leontiev (2004), permitindo a “ampliação qualitativa da consciên-
a adaptação animal refere-se a um processo de cia”, uma “organização psíquica mais elaborada”
estímulo-resposta, no qual ele não se apropria formada por “elevadas forças humanas como:
do seu meio ou de uma cultura, mas sim age abstração, criatividade, percepção, emoção e
por instinto, como, por exemplo, ao utilizar de imaginação” (BARROCO; SUPERTI, 2014, p.
algum material para determinada função, ele 26).
usa-o apenas aquela vez, não se apropriando É a partir dessa apropriação do lega-
de tal material e sua função, não possibilitando, do cultural que o homem, então, se humaniza,
assim, criar um legado cultural ou transformar tal pois nos constituímos a partir dessa apropriação
realidade. A relação do animal com o meio não é (LEONTIEV, 2004). “O movimento da história
mediada, mas sim direta. A transformação social só é, portanto, possível com a transmissão, às
provocada pelo homem, por sua vez, possibilita novas gerações, das aquisições da cultura hu-
o desenvolvimento do homem através da me- mana, isto é, com educação” (LEONTIEV, 2004,
diação e da apropriação, e o homem, por meio p. 291), uma vez que, sem esse processo de
do trabalho, transforma a sociedade ao mesmo transmissão dos resultados construídos histori-
tempo que transforma a si mesmo, num proces- camente, bem como a cultura, seria impossível

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A arte como técnica social...

a continuidade de um processo histórico. A hu- autores Vygotski (2001), Leontiev (2004), Tuleski
manidade, então, teria de recomeçar, a cultura, (2008), Superti (2013), e Barroco (2007), sendo
os instrumentos, a linguagem, e todo o resto até elaborado através de discussões norteadas por
então construído, perderiam o seu significado suas contribuições na Psicologia Histórico-Cul-
(LEONTIEV, 2004). tural.
Entendendo que o desenvolvimento do Diante dessa pesquisa e do objeto apre-
homem, das forças e das aptidões são produ- sentado, dispomos como objetivo geral: inves-
tos da evolução sócio-histórica, cabe aqui res- tigar a arte enquanto um objeto cultural que pos-
saltar que nem todos possuem acesso a estas sibilita a reflexão dos sentimentos, provocando
aquisições, em consequência das “enormes saltos qualitativos na consciência, e como ob-
diferenças e condições do modo de vida, da ri- jetivos específicos: apreender a concepção de
queza da atividade material e mental, do nível arte para a Psicologia Histórico-Cultural; explicar
de desenvolvimento das formas e aptidões inte- a visão de homem proposta pela teoria; clarificar
lectuais” (LEONTIEV, 2004, p. 293). Sendo que, os conceitos de sentimento e emoção de acordo
em suma, tais diferenças são geradas pela des- com os princípios teóricos; compreender a arte
igualdade econômica, diferenças de classes, e, como uma técnica social.
então, consequentemente, as aquisições históri- O assunto tratado no artigo se faz de
cas acabam por separar-se, construindo a partir grande importância, uma vez que, em se tra-
daí a “alienação econômica dos meios e produ- tando da área acadêmica, não há muitas publi-
tos do trabalho em face dos produtores diretos”, cações acerca do tema, podendo assim contri-
que surge com a divisão do trabalho, da proprie- buir para a Psicologia apropriar-se da arte como
dade privada e da luta de classes, ou seja, “não um instrumento potencializador, como uma téc-
dependem da consciência ou da vontade dos nica social capaz de, através da reflexão crítica,
homens” (LEONTIEV, 2004, p. 294). transformar sentimentos, bem como, socialmen-
te, a possibilidade da própria humanização atra-
A divisão social do trabalho tem igualmente vés da arte.
como consequência que a atividade material
e intelectual, o prazer e o trabalho, a pro- REFLEXÕES SOBRE SENTIMENTO E
dução e o consumo se separem e pertença a EMOÇÃO À LUZ DA PSICOLOGIA HISTÓRI-
homens diferentes. Assim, enquanto global-
CO CULTURAL
mente a atividade do homem se enriquece
e se diversifica, a de cada indivíduo tomado
à parte estreita-se e empobrece. Esta limi- Antes das conferências e elucidações
tação, este empobrecimento podem torna-se de Vigotski, diversas teorias que buscaram
extremos, sabemo-lo bem, quando um ope- compreender as emoções as concebiam como
rário, gasta todas as suas forças para realizar reações instintivas, comparando-as com as
uma operação que tem de repetir milhares de reações animais, e, os sentimentos, tendo so-
vezes [...] Como a maioria dominante possui mente o aparato biológico-animal como gênese.
não apenas os meios de produção material, Além disso, a emoção compreendida como uma
mas também a maior parte dos meios de pro- parte separada do psiquismo e apenas como
dução e de difusão da cultura intelectual e se
condição orgânica limitava-se ao desenvolvi-
esforça para os colocar a serviços os seus in-
teresses, produz-se uma estratificação desta mento desta (última), ou seja, conforme afirma
mesma cultura (LEONTIEV, 2004, p. 294). William James, emoções “associadas aos ór-
gãos internos, pouco ou nada variáveis no deco-
As aquisições históricas da humanidade rrer do desenvolvimento humano” impossibilitan-
não são inatas do homem, e sim são adquiridas do, assim, a manifestação de outras emoções e
ao longo da vida em meio à sociedade, contu- o próprio desenvolvimento emocional (MACHA-
do, infelizmente, para a grande maioria das pes- DO; FACCI; BARROCO, 2011, p. 650).
soas, o acúmulo dessas aquisições “só é possí- Vigotski, porém, distancia-se dessas
vel dentro de limites miseráveis” (LEONTIEV, compreensões, uma vez que entende os senti-
2004, p. 301) mentos e emoções como funções psicológicas
Os encaminhamentos metodológicos superiores, formadas e transformadas pelo meio
para o presente trabalho se deram de forma bi- social e pela historicidade; em distintas épocas
bliográfica, tendo como principais referências os históricas permeiam diferentes sentimentos e

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emoções, estes diferenciam-se pois se modifi- cativas na transição da filogênese para a on-
cam conforme o desenvolvimento da cultura, da togênese e para o desenvolvimento históri-
educação e as condições objetivas das classes co, o que era simplesmente consequência de
sociais existentes, alterando assim os significa- reações fisiológicas, adquire características
culturais e históricas que se expressam no
dos sociais e sentidos pessoais dos sentimentos
comportamento do indivíduo e nas relações
e emoções (MACHADO; FACCI; BARROCO, estabelecidas com o outro (LEITE; SILVA,
2011). De acordo com Barroco (2007, p. 247): TULESKI, 2013, p. 43).
Por Funções Psicológicas Superiores [...]
A arte, como objeto cultural, pode provo-
entendem-se aquelas de origem social, que
só passam a existir no indivíduo ante a re- car emoções contraditórias que quando supera-
lação mediada com o mundo externo (com das possibilitam um salto qualitativo na estrutura
as pessoas e com aquilo que eles criam: ob- psicológica, sendo estas remodeladas em sen-
jetos, ferramentas, processos de criação e timentos, alterando, assim, a consciência (BA-
de execução) [...] funções que permitem uma RROCO; SUPERTI, 2014). A arte, então, objeti-
conduta geneticamente mais complexa e su- va os sentimentos e outras faculdades humanas.
perior a dos animais, posto que planejada, Destaca-se que não há uma distinção
consciente e intencional. rigorosa entre os termos sentimento e emoção
nos escritos de Vigotski (2001), caracterizando
Sendo assim, ao afirmar que sentimento muitas vezes os dois como sinônimos. O autor
e emoção são funções psicológicas superiores, declara que, emoção é um ato de reflexo diante
estas são entendidas como dispositivos capazes de estímulos mediados externamente no meio,
de sistematizar, desenvolver e transformar pro- os quais instigam diferentes comportamentos,
cessos mentais exclusivamente humanos, atra- caso contrário, se fossem atos desprovidos de
vés da mediação que essas funções realizam emoção, a reação indiferentemente não afetará
com intencionalidade para alcançar determina- qualitativamente o comportamento (BARROCO;
dos fins, de forma voluntária e não instintiva, SUPERTI, 2014). Já o sentimento é uma função
que, objetiva promover, uma nova organização psicológica superior que se relaciona dialetica-
psicológica que amplie a consciência do indiví- mente com as outras funções psíquicas (BA-
duo, no sentido de reconhecer a si e o mundo RROCO; SUPERTI, 2014).
em constante relação. E, é neste processo que, Ainda, para compreender a distinção dos
a condição psíquica do homem se eleva da con- conceitos de emoção e sentimento, Barroco &
dição natural através das relações sociais, das Superti nos dizem que:
apropriações de instrumentos constituídos de
características humanas que estão cristalizados [...] a primeira corresponde mais às neces-
na sociedade, como a educação, arte e a cul- sidades orgânicas, ligadas às sensações,
tura, alcançando, assim, uma condição psíquica enquanto o sentimento corresponde às ne-
social e histórica, sendo esta tipicamente huma- cessidades culturais e sociais lapidadas ao
na e que possibilita o desenvolvimento acima longo do processo histórico e do trabalho.
da condição biológica, permitindo funções psi- No entanto, no homem, vivente em socie-
dade, nenhuma das funções psíquicas são
cológicas superiores ainda mais desenvolvidas,
puramente orgânicas e instintivas, por isso,
uma vez que estas estão em constante transfor- mesmo as emoções guardam caráter cultural
mação (SUPERTI, 2013). (2014, p. 27).
A teoria de Vigotski, então, aborda as
emoções e os sentimentos de modo entrelaçado Compreende-se, então, que os fenô-
com as outras funções psíquicas, e seguindo a menos emocionais não se limitam apenas nas
base materialista e dialética, juntamente à sua reações aos estímulos externos, uma vez que
teoria, o desenvolvimento não se dá separado nossa estrutura psíquica contém sensações que
da realidade material e social, e suscita, assim, também nos influenciam, ou seja, “todo senti-
mudanças tanto quantitativas como qualitativas mento possui além da manifestação externa,
(SILVA, 2011) no próprio psiquismo. Diante dis- corpórea, uma expressão interna que se mani-
so, se pode dizer que: festa na seleção de pensamentos, imagens e
impressões” (VIGOTSKI, 2001, p. 21), sendo
a emoção passa por transformações signifi-

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A arte como técnica social...

que estes impulsos emocionais externos e inter- te ato criativo e na resposta estética (SUPERTI,
nos, quando apropriados pelo homem transfor- 2013, p. 24). Sendo assim:
mam-se de forma qualitativa em sentimentos.
Diante de tais fatores, cabe ressaltar a produção artística, como toda produção
que, como dito por Teplov, a arte é um impor- humana, apreende as relações sociais, por
tante meio para a constituição da personalida- meio dos materiais e técnicas empregadas,
de humana, uma vez que esta impacta dema- pela temática, forma e estilo. Não constitui,
então, uma reprodução perfeita da realidade,
siadamente os processos psicológicos, como
mas uma criação a partir dela, na qual se ob-
também, implica claramente na percepção e nos jetiva características humanas. Entendemos
sentimentos (SILVA, 2011). De maneira mais su- que a exposição de conteúdos a respeito da
cinta, ainda de acordo com Teplov, pode-se con- história permite deixar mais claro em que
cluir que a arte é um instrumento poderoso para chão os autores pisaram e quais rumos vis-
o desenvolvimento dos sentimentos, pois pro- lumbram para o homem e a sociedade (SU-
porciona experiências emocionais que além de PERTI, 2013, p. 24).
trazer a tona os sentimentos já existentes no ho-
mem, possibilita que este entre em contato com Dessa forma, é possível compreender a
outros sentimentos que até então desconhecia, arte como um dos alicerces para a objetivação
sendo que esses sentimentos e emoções pos- das funções psicológicas superiores, uma vez
sibilitam que o homem desenvolva sua própria que essas funções precisam ser mediadas, e
humanidade (SILVA, 2011). para isso se pode utilizar da arte como instru-
Assim, entende-se que, em relação às mento que estrutura a síntese psicológica. A
funções psicológicas superiores, emoção e sen- arte opera em um campo do psiquismo huma-
timento as duas tem raiz na história e socieda- no responsável pelos sentimentos (VIGOTSKI,
de humana, ou seja, tem como fundamento as 2001), assim, a arte constituída representa as
relações sociais permeadas pela realidade his- apropriações já feitas pelo homem, envolven-
tórica, contudo, concebendo-as como caracte- do sentimentos e emoções, e não apenas rela-
rísticas psicológicas, emoção e sentimento pos- cionadas ao artista ou a quem dela se apropria
suem diferenças. No sentido de que, o indivíduo (SUPERTI, 2013). Podemos dizer, então, que a
é afetado pela emoção por diferentes fontes, admiração da arte possui ligação com a interpre-
como a arte, por exemplo, e por outro lado, o tação psicológica que dela realizamos (SUPER-
sentimento é sentido de forma mais duradou- TI, 2013), assim, “a arte é uma técnica social do
ra pelo homem e, devido a isso, pode compor sentimento, um instrumento da sociedade atra-
inclusive sua personalidade, como também, se vés do qual incorpora ao ciclo da vida social os
vivenciado através da arte, pode o mesmo ser aspectos mais íntimos e pessoais do nosso ser”
transformado e impactar todo o psiquismo (SU- (VIGOTSKI, 2001, p. 315).
PERTI, 2013). Concebendo a arte como uma técnica
social, por mais que a interpretação ocorra de
A ARTE ENQUANTO TÉCNICA SOCIAL DE forma individual, todo o processo é construído
HUMANIZAÇÃO: OBJETO CULTURAL ME- em essência pelo coletivo, ou seja, a arte é o
DIADOR PARA O DESENVOLVIMENTO E social em nós, assim, o social não se trata ape-
TRANSFORMAÇÃO DAS FUNÇÕES PSICO- nas da pluralidade de pessoas, pois pode exis-
LÓGICAS SUPERIORES (SENTIMENTO E tir em um único homem em relação com suas
EMOÇÃO) emoções pessoais (VIGOTSKI, 2001).
No movimento em que a arte se proces-
Vigotski (2001) nos traz a necessidade sa no homem decorre-se a catarse, essa po-
de se investigar a correlação entre psicologia e dendo ser entendida como a transformação de
arte, uma vez que a arte possui um caráter social emoções, não em simples contágio destas, mas
e é uma criação tipicamente humana, assim, tra- em sua superação, que antes estando fora do in-
ta-se de algo unicamente humano que expressa divíduo são apropriados. Sendo, então, a catar-
“concepções, valores e opiniões de determinada se um choque entre a vivência emocional e sen-
classe social”, e que requer, então, a atenção da timental expressados pela obra com a emoção e
psicologia, a qual busque descobrir os proces- sentimentos do próprio indivíduo. A catarse pro-
sos psicológicos que se fazem necessários nes- move, através da vivência indireta e incomum, a

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superação e transformação do sentimento indi- busca decifrar, através da estrutura da obra, os


vidual. Ou seja, por meio de um sentimento indi- sentimentos e emoções que a mesma suscita,
reto e incomum, a arte pode tocar e transformar como também as funções psicológicas que são
os sentimentos e emoções habituais, cotidianos fomentadas por ela e os impactos destes para o
do indivíduo (SUPERTI, 2013). psiquismo de quem se apropria da obra de arte;
Posteriormente, podem ser concretiza- “esta análise vai revelar características huma-
dos novamente no meio social constituindo obje- nas que a obra encarna, tornando-as sociais e
tos externos. Ou seja, é a partir dos sentimentos pessoal ao mesmo tempo” (SUPERTI, 2013, p.
e emoções despertados pela arte, acumulados 77-78), podendo ser, então, uma criação indivi-
no indivíduo, juntamente com a superação des- dual, mas somente sendo possível com o apara-
tes, que a síntese pode efetivar-se, esta última to social, como também, ser uma interpretação
sendo a criação de novos instrumentos sociais pessoal de uma obra construída socialmente.
mantendo algumas das características antigas, A análise da obra de arte deve superar
desta forma, “a arte recolhe da vida o seu mate- sua estrutura material, refletindo sobre sua in-
rial, mas produz acima desse material algo que tencionalidade e o impacto que o conjunto de
ainda não está nas propriedades desse material” signos e significados provocará para alcançar
(VIGOTSKI, 2001, p. 308). a síntese psicológica. Ou seja, os sentimentos
A obra de arte, então, como dito por Vi- e as emoções suscitados pela obra ao serem
gotski (2001), pode ser compreendida como a apropriados, desencadeiam transformações
objetivação dos sentimentos, um processo cria- para o desenvolvimento das funções psicoló-
do pelos homens que possibilita a socialização gicas superiores, e um salto qualitativo para a
de um sentimento ao mesmo tempo em que este consciência (SUPERTI, 2013).
se torna pessoal (SUPERTI, 2013). Em tais obras Para que ocorra essa transformação é
de arte também se faz a utilização de signos, que preciso que haja o processo de generalização,
compõem uma estrutura, que visa desencadear a sistematização dos conteúdos da consciência,
emoções estéticas, fatores que demonstram que sendo que esta se dá por meio da relação com
a arte apresenta e opera por meio de conteúdos as funções psicológicas superiores. O indivíduo
e processos psicológicos, esses que, em relação em relação com o mundo, através do processo
objetivam potenciais humanos como criatividade de generalização, amplia sua visão sobre este
e imaginação (SUPERTI, 2013). A arte provoca, mundo e suas relações, de modo a apropriar-se
então, novas generalizações nos indivíduos que destes a nível mais complexo, assim, “a genera-
compreendem “a síntese entre forma e conteúdo lização expressa uma característica fundamental
expressada na obra, generalização que atinge, do pensamento humano: a capacidade de poder
sobretudo, os sentimentos, considerando o ho- apreender o real e, justamente por retirar dele
mem como unidade” (SUPERTI, 2013, p. 92). suas leis gerais, de intervir sobre ele, aplican-
Buscando compreender tanto a estrutura do-as intencional e conscientemente” (VIGOTS-
quanto a intencionalidade de uma obra de arte, KI3, 2004; 2009 apud SUPERTI, 2013, p. 91).
Vigotski (1999) nos aponta o método para a aná- A obra de arte, sendo uma realidade ma-
lise psicológica da obra de arte. A estrutura e a terial, necessita, para ser apropriada, do exercí-
intencionalidade se apresentam na síntese de cio do psiquismo e a própria humanização dos
sua forma e de seu conteúdo, sendo que é esta sentidos. Isso porque, como uma síntese de
síntese que “deve ser apropriada pelos sujeitos vários elementos só pode ser entendida atra-
para que neles ocorra a reprodução do que a vés da apreensão de forma dialética, unindo os
humanidade produziu e fixou em determinada aparatos psíquicos com os vieses sentimento e
obra” (SUPERTI, 2013, p. 19). Dessa forma, a emoção. Entende-se, assim, que é neste pro-
análise de uma obra de arte deve iniciar de sua cesso de relação entre o indivíduo e a obra de
forma, elementos e contornos de sua estrutura, arte que o mesmo pode evoluir em seu desen-
considerando ainda que tais formas não são li- volvimento, pois ativa todas as funções citadas
vres de quem as desenhou, mas são determina- anteriormente, deste modo, a arte é concebida
das socialmente por leis que foram criadas pela
vida em sociedade (SUPERTI; CRUZ; BARRO- 3
VIGOTSKI, L. S. Teoria e Método em Psicologia. São Paulo: Mar-
CO, 2011). tins Fontes, 2004.
O método da análise psicológica da arte VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem.
São Paulo: Martins Fontes, 2009.

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A arte como técnica social...

como instrumento de humanização do homem, única, isto é, da subjetividade.


devido às transformações qualitativas que pro- Entendendo, então, como funções psico-
voca no psiquismo humano (SUPERTI, 2013). lógicas superiores aquelas que se elevam das
Diante disso, a arte é um objeto cultural funções elementares, que são formadas e trans-
mediador entre o sujeito e a vida humana e sua formadas pelo meio social e pela historicidade,
historicidade, e é por meio desta relação e da e que possibilitam ao homem atingir níveis mais
apropriação desse legado cultural que ocorre complexos em suas funções psíquicas e com-
a transformação das funções elementares em portamentais, uma vez que estas serão progra-
funções psicológicas superiores. A arte, então, madas, voluntárias e consciente. De acordo com
como reprodução do legado cultural, possibilita Vigotski, podemos considerar como funções psi-
a humanização e a promoção do desenvolvi- cológicas superiores a atenção, a memória, a
mento psíquico e da consciência. Contudo, esse percepção, a linguagem, o pensamento, a cria-
processo, fundamentalmente, precisa ser me- tividade, o sentimento e a emoção; e a síntese
diado por meio das relações, “como aponta-nos destas é o desenvolvimento da consciência.
Vigotski (2001), a apropriação da arte necessita Vigotski aborda as emoções e os sentimentos
de mediação para que se apreenda a relação de modo entrelaçado com as outras funções psí-
dialética entre forma e conteúdo que a obra quicas, sendo que o seu desenvolvimento não
apresenta, relação que objetiva características se dá separado da realidade material e social,
tipicamente humanas” (SUPERTI, 2013, p.14). causando, assim, mudanças tanto quantitativas
Dessa forma, considerando os processos como qualitativas no próprio psiquismo.
de humanização e desenvolvimento psíquico uti- Construído socialmente, e tendo sua
lizando-se da arte, a psicologia é uma potência constituição subjetiva em cada indivíduo, o
mediadora deste movimento, no qual a mesma sentimento é uma função psicológica superior
pode promover reflexões acerca da constituição atrelada às demais e intimamente ligado com
psíquica intrinsecamente com as funções psi- a emoção, sendo que está não é simplesmente
cológicas superiores, de modo conscientizador biológica como nos animais, uma vez que em
diferenciando de um processo alienador, levan- uma relação com o meio social adquire aspectos
tando as relações que estão envolvidas nestes culturais. É a partir da apropriação dessas cargas
processos (SUPERTI, 2013). emocionais em conjunto com as apropriações
culturais que o homem pode objetiva-las em
CONSIDERAÇÕES FINAIS sentimento, e as impressões que temos do meio
com os significados acumulados determinarão o
Compreende-se, então, por meio da Psi- processo de constituição dos sentimentos, sen-
cologia Histórico-Cultural, pautada pelo método do sociais e interpretados subjetivamente pelos
do materialismo histórico dialético, que o homem indivíduos.
é constituído por meio das relações sociais e Considerando a arte como uma produção
da transformação que este faz na natureza, ao artística humana, que abrange as relações so-
mesmo tempo em que se transforma, o impacto ciais, a cultura e a historicidade de uma socie-
dessa relação dialética no psiquismo humano é dade, que objetiva as características humanas
radical, uma vez que resulta no desenvolvimen- e apreende a relação dialética entre forma e
to das funções psicológicas superiores, estando conteúdo; é um instrumento que possibilita a
estas acima das funções primitivas, pois são vo- objetivação das funções psíquicas superiores,
luntárias, mediadas e sociais, provocando, as- pois pode servir como mediador para estruturar
sim, a transformação qualitativa da consciência, a síntese psicológica, além de entrar em contato
elevando o homem da condição instintiva animal com os sentimentos, uma vez que a arte ope-
e mecanicista. Surge, então, o homem social, ra no campo do psiquismo humano responsável
constituído pelas apropriações e objetivações pelos sentimentos. Desta forma, considera-se
que faz da realidade em que vive, em um pro- a arte como um instrumento que, ao colocar os
cesso de humanização, ou seja, na relação com sentimentos em um movimento de desenvolvi-
o outro e com a sociedade, internalizando as- mento e transformação, objetiva ao ciclo da vida
pectos sociais e a própria cultura, dando senti- a essência mais profunda do ser, agrega a ela
dos pessoais à estes significados sociais, possi- sentimentos e emoções que germinam humani-
bilitando o desenvolvimento de uma constituição dade.

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A arte, como um objeto cultural mediador, Conclui-se, então, que a arte, como um
permite o contato com experiências, sentimen- objeto cultural mediador, é de grande eficácia
tos e emoções incomuns até então, nos quais para o desenvolvimento psíquico do homem,
se entra em contato com aspectos emocionais pois é a objetivação e a mediação entre o ho-
distintos que promovem o desenvolvimento de mem, a sociedade e a historicidade desta, sen-
outras funções no psiquismo, nesta vivência o do, assim, indispensável para a transformação
indivíduo, ao apropriar-se da obra, está se apro- do psiquismo e da constituição/desenvolvimento
priando também da objetivação realizada por das funções psicológicas superiores. Contudo,
outro sujeito, sendo possível sentir o que foi ob- quando carregada de um valor de mercadoria
jetivado na produção artística. Esse processo de em um sistema capitalista, visando ao lucro e
catarse permite, além de superar os sentimentos acúmulo de poder, perde significativamente o
já existentes no psiquismo, instigar o ato criador seu potencial transformador, impossibilitando a
e até mesmo a humanização através da arte; o reflexão, a conscientização e a própria humani-
homem ao realizar a síntese deste processo ci- zação que se é possível ao entrar em contato
tado apropria-se de produções humanas que o com a arte, num processo mediado e de apren-
desenvolvem como ser social. dizagem (SUPERTI, CRUZ; BARROCO, 2011),
Assim, a arte pode possibilitar reflexões enfatizando que é através desta relação dialé-
acerca da constituição psíquica intrinsecamen- tica que o homem constitui sua humanidade,
te com as funções psicológicas superiores, de apropria-se da potência de transformação da
modo conscientizador, diferenciando de um pro- arte e modifica a si e sua realidade.
cesso alienador, levantando as relações que
estão envolvidas nestes processos e como as REFERÊNCIAS
mesmas impactam na construção do homem. É
possível por meio da arte objetivar o que está BARROCO, S. M. S. Psicologia educacional e
subjetivo no homem, seus pensamentos e sen- arte: uma leitura histórico-cultural da figura
sações, esses ficando materializados na reali- humana. Maringá: Eduem, 2007.
dade concreta, permitindo que organize, reflita
e se conscientize acerca da essência destes BARROCO, S. M. S.; SUPERTI, T. Vigotski e o
processos, como são constituídos e como são estuda da psicologia da arte: contribuições
apropriados na relação dialética entre homem e para o desenvolvimento humano. Belo Hori-
sociedade. zonte: Psicologia & Sociedade, 26(1), 22-31,
Contudo, é preciso mediação para que 2014.
haja a apropriação de uma obra artística, pois
COLE, M.; SCRIBNER, S. Introdução. In: VI-
tal apropriação não se dá instantaneamente,
GOTSKI, L. S. A formação social da mente.
necessita de relações sociais que possibilitem
São Paulo: Martins Fontes, 2000.
transferir o significado da obra para quem a vi-
vencia, “no sentido deste recriar em si o que foi
ENGELS, F. O Papel do Trabalho na Trans-
superado na criação da obra. O processo de ca-
formação do Macaco em Homem. 1. ed. Neue
tarse implica em colocar em contradição o que
Zeit: Marxists Internet Archive, 2004.
já estava apropriado pelo sujeito com a nova vi-
vência suscitada pela arte, este choque poderia GOMIDE, D. C. O materialismo histórico-
resultar em transformação psíquica” (SUPERTI, -dialético como enfoque metodológico para
2017). a pesquisa sobre políticas educacionais. Dis-
Outro ponto a destacar é que a arte, ponível em: < http://www.histedbr.fe.unicamp.
como produção humana e perpetuada na socie- br/acer_histedbr/jornada/jornada11/artigos/2/
dade, se torna um objeto voltado para o lucro e artigo_simposio_2_45_dcgomide@gmail.com.
carrega o objetivo desmedido de manter o con- pdf>. Acesso em: 10 maio 2017.
trole/alienação da população em se tratando de
um sistema capitalista e, para tal, acaba por li- KONDER, L. O que é dialética. São Paulo: Bra-
mitar o acesso da sociedade e restringe, assim, siliense, 2008.
a potência de reflexão e desenvolvimento que
as diversas formas de arte podem suscitar no LEITE, H. A.; SILVA, R.; TULESKI, S. C. A emo-
homem (SUPERTI, CRUZ; BARROCO, 2011). ção como função superior. Disponível em:

150 Akrópolis, Umuarama, v. 25, n. 2, p. 139-151, jun./dez. 2017 ISSN 1982-1093


A arte como técnica social...

<http://periodicosonline.uems.br/index.php/in- EL ARTE COMO TÉCNICA SOCIAL PARA


terfaces/article/viewFile/570/534>. Acesso em: HUMANIZACIÓN: OBJETO CULTURAL
20 jul. 2017. MEDIADOR PARA EL DESARROLLO Y
TRANSFORMACIÓN DE LAS FUNCIONES
LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquis- PSÍQUICAS SUPERIORES (SENTIMIENTO Y
mo. São Paulo: Centauro, 2004. EMOCIÓN)

Resumen: La presente encuesta resulta de investiga-


LESSA, S.; TONET, I. Introdução à filosofia de
ción bibliográfica y tiene como foco la utilización del
Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2008. arte como una técnica social como presentado por  L.
S. Vigotski   en Psicologia da Arte (2001), pudiendo
MACHADO, L. V.; FACCI, M. G. D.; BARROCO, esta ser un objeto cultural mediador para la reflexión
S. M. S. Teoria das emoções em Vigotski. Psi- de los sentimientos, el desarrollo psíquico y la pro-
cologia em Estudo,e Maringá, v. 16, n. 4, p. 647- pia humanización por medio del arte, considerando la
657, out./dez. 2011. comprensión del hombre de la Psicología Histórico-
-Cultural. Se concluye que, comprendiendo el arte
PAULO NETTO, P. Introdução aos estudos do como una producción artística humana, que abarca
método de Marx. São Paulo: Expressão Popu- las relaciones sociales, la cultura y la historicidad de
lar, 2011. una sociedad, que objetiva las características huma-
nas y aprehende la relación dialéctica entre forma y
SILVA, R. A biologização das emoções e a contenido, el arte es un instrumento que posibilita la
medicalização da vida: contribuições da psi- objetivación de las funciones psicológicas superiores,
cologia histórico-cultural para a compreen- y sirve como un mediador para desarrollar el psiquis-
mo además de tener poderío para entrar en contacto
são da sociedade contemporânea. 2011. 279
directamente con las emociones y los sentimientos.
f. Tese (Mestrado em Psicologia) – Universidade Palabras clave: Arte; Funciones psicológicas supe-
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