Você está na página 1de 13

A CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE NO PERÍODO DA

ADOLESCÊNCIA DA CLASSE TRABALHADORA NA PERSPECTIVA


DA PSICOLOGIA HISTÓRICO CULTURAL
THE CONSTRUCTION OF PERSONALITY IN THE ADOLESCENCE OF THE WORKING CLASS
UNDER THE PERSPECTIVE OF CULTURAL-HISTORICAL PSYCHOLOGY

Karen Brustolin1
Tarine Bacarin Alves2
Tatiane Superti3
BRUSTOLIN, K.; ALVES, T. B.; SUPERTI, T. A construção da
personalidade no período da adolescência da classe trabalhadora na
perspectiva da psicologia histórico cultural. Akrópolis Umuarama, v.
26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018.

DOI: 10.25110/akropolis.v26i1.6418

Resumo: A presente pesquisa tem por intuito destacar e investigar a


construção da personalidade no período da adolescência da classe
trabalhadora embasado na Psicologia Histórico Cultural subsidiada
pelo Materialismo Histórico Dialético. Este tema nos chamou atenção
através das práticas de estágio em Centro de Referência e Assistência
Social – CRAS de uma cidade do interior do Paraná. Com isso, pude-
1
Acadêmica do Curso de Psicologia da UNI- mos destacar os aspectos que diferenciam as classes sociais, bem
PAR – Universidade Paranaense, Campus como as mediações que chegam até os adolescentes que residem
Cascavel. E-mail: kabrustolin@hotmail.com.
Endereço: Rua Suiça, 2702, Jardim Itália.
neste contexto e que buscam formas de sobrevivência por meio do
CEP: 85.818-300. trabalho.
Palavras-chave: Adolescência, Classe Trabalhadora, Personalidade,
2
Acadêmica do Curso de Psicologia da Psicologia Histórico Cultural.
UNIPAR – Universidade Paranaense, Cam-
pus Cascavel. E-mail: tarinebacarinalves@
hotmail.com. Endereço: Rua Sérgio Djamal Abstract: This study aims at highlighting and investigating the
de Hollanda, 1744, Neva. CEP: 85.802-230. construction of personality in the adolescence under a Cultural-Historical
Psychology perspective, supported by Dialectal Materialism. This topic
3
Professora Mestre do Curso de Psicologia
da UNIPAR – Universidade Paranaense,
has attracted attention after an internship experience at a Center of
Campus Cascavel. E-mail: tatianesuperti@ Reference and Social Assistance – CRSA in a city in the countryside of
prof.unipar.br. Endereço: Rua Fortaleza, the state of Paraná. The authors were also able to highlight the aspects
1740, Residencial Milano, Ap. 241, Centro. underlining social class differences, as well as the mediations that
CEP: 85.810-051.
reach all the way to teenagers who live within that reality, who seek
means of survival through work.
Keywords: Adolescence; Worker’s class; Personality; Cultural-
Historical Psychology.

Recebido em novembro de 2017.


Aceito em março de 2018.

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 45


BRUSTOLIN, K.; ALVES, T. B.; SUPERTI, T.

INTRODUÇÃO lógica está relacionada ao processo de constru-


ção de uma sociedade socialista. Portanto, para
Após a Revolução Russa, o primeiro país criar a Psicologia Histórico Cultural, Vigotski fun-
socialista encontrava-se diante de muitos desa- damenta-se no Materialismo Histórico Dialético,
fios políticos, econômicos, sociais e culturais. contribuindo para a formação do novo homem
Aos cientistas, pesquisadores e especialistas revolucionário (DUARTE, 2000).
que ficaram no país deposita-se a tarefa de criar
novos fundamentos da psicologia e da pedago- Nossa ciência não podia nem pode
gia soviética, com objetivo a formação do novo desenvolver-se na velha sociedade [a
homem. Para formação desse novo homem, sociedade capitalista]. Ser donos da
verdade sobre a pessoa e da própria
cria-se a necessidade de pensar ciência a partir
pessoa é impossível enquanto a huma-
de novos modos (PRESTES, 2010). nidade não for dona da verdade sobre a
O período pós-revolução Russa foi de sociedade e da própria sociedade. Pelo
investimento em vários âmbitos e debate na ci- contrário, na nova sociedade [a socieda-
ência, inclusive na psicologia. Nesse período, os de socialista], nossa ciência se encon-
problemas da sociedade Russa se agravam, e trará no centro da vida. O salto do reino
Vigotski enxerga a necessidade do desenvolvi- da necessidade ao reino da liberdade
mento de uma nova concepção de homem com formulará inevitavelmente a questão do
o objetivo de superação das relações capitalis- domínio de nosso próprio ser, de subor-
tas. A luta de classes (burgueses e proletários) diná-lo a nós mesmos (VIGOTSKI 1991,
apud DUARTE , 2000, p. 82).4
não desaparece com a abolição da propriedade
privada dos meios de produção, ela se transfor-
O processo de transição do macaco ao
ma a cada nova etapa da construção do socialis-
homem passa por alguns estágios, estágios es-
mo na Rússia (TULESKI, 2008).
tes que se dividem dessa maneira: O primeiro
Segundo Lucci (p. 4, 2006) “Vigotsky sur-
estágio trata-se da preparação biológica do ho-
ge na psicologia num momento significativo para
mem, se inicia no fim do período terciário e da
a nação russa. Logo após ter-se consolidado a
continuidade no início do quaternário. Os austra-
revolução, emerge uma sociedade que conse-
lopitecos levavam uma vida gregária, conheciam
quentemente exige a constituição de um novo
a posição vertical, utilizando-se de uma postura
homem”. Vigotski via na construção de uma psi-
parcialmente ereta e utilizavam de instrumentos
cologia, com base marxista, o processo de cons-
rudimentares, já possuíam uma comunicação
trução de uma psicologia verdadeiramente cien-
entre si, mesmo que primitiva. Nesse estágio
tífica e revolucionária. Entendia ser necessária
ainda reinam apenas as leis biológicas (LEON-
a realização de uma mediação entre o materia-
TIEV, 2004).
lismo histórico dialético e os estudos sobre os
Quando os macacos deixam de utilizar
fenômenos psíquicos concretos. Portanto, esta-
as mãos apenas para se apoiar no chão ao ca-
beleceu um paralelo entre essa psicologia me-
minhar e começam a utilizá-la para outros fins,
diadora e o materialismo histórico de Marx, pois
como se pendurar nas árvores para colher e co-
acreditava que este tinha o papel de desempe-
mer frutos, dá-se o passo definitivo para o inicio
nhar as mediações entre o materialismo históri-
da transição do macaco em homem. A mão se
co dialético e a análise das questões concretas,
tornando algo livre, pôde-se adaptar e, passo a
no caso, as questões concretas da história da
passo, adquirir mais habilidades, flexibilidade,
sociedade e das formações sociais, como o ca-
precisão, etc. Essas adaptações se transmitiam
pitalismo, por exemplo. Vigotski desejava uma
por hereditariedade e, a cada geração, se mo-
teoria que significasse para a psicologia o que a
dificavam e aumentavam cada vez mais. (EN-
obra O Capital de Marx, significa para a análise
GELS, 2000)
do capitalismo (DUARTE, 2000).
O segundo estágio da evolução do ma-
Vigotski afirmava que queria compreen-
caco em homem possui uma série de etapas e
der na totalidade do método de Marx como se
pode designar-se como o estágio da passagem
constrói a ciência, pois pretendia construir uma
do macaco ao homem. Inicia com o aparecimen-
psicologia marxista e, para isso, era necessário
to do pitecantropo até o homem de Neanderthal.
a adoção do método em sua integralidade. En-
tendia que o desenvolvimento da ciência psico- 4
Teoria e método em psicologia. São Paulo: Martins Fontes,1996.

46 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 ISSN 1982-1093


A contrução da personalidade...

É marcado pelo início do uso de instrumentos e por sua presença, já os homens dominam a na-
pelas primeiras formas de trabalho e sociedade, tureza, fazem as modificações nela que julgam
ainda que iniciais. O homem ainda era regido necessárias. Os animais agem para satisfazer
por leis biológicas, transformando-se anatomi- as suas necessidades e os homens para produ-
camente e transmitindo essas mudanças atra- zir os meios de satisfazer as suas necessidades.
vés da hereditariedade, mas, ao mesmo tempo, E é o trabalho que determina essa diferença
aparecem novos elementos na história do seu (ENGELS, 2000).
desenvolvimento. Começava-se aí, a partir do Com essa base material exposta por En-
desenvolvimento do trabalho, a necessidade de gels (2000) e Marx (LESSA; TONET, 2008), em
comunicar-se pela linguagem, portanto, ocorre- que é por meio das relações de trabalho que o
ram modificações na constituição biológica do homem se constrói e constrói a natureza, que
homem, tais como em seu cérebro, órgãos do Vigotski utiliza-se do materialismo histórico dia-
sentido, sua mão, os órgãos da linguagem e etc. lético para subsidiar a formação de uma visão
Resumindo, o desenvolvimento biológico do ho- de homem para psicologia. Foi então que ele,
mem passa a se tornar dependente do desen- juntamente com Lúria e Leontiev formam um
volvimento social. Assim, nasce o homem, em grupo de pesquisa, na Universidade de Moscou,
primeiro lugar regido por leis biológicas, com a aperfeiçoando estudos na psicologia e pedago-
adaptação dos órgãos às condições e necessi- gia. Sendo assim, Vigotski e seus companheiros
dades de produção e, depois, por leis sócio-his- destacam a consciência embasados por Marx e
tóricas, que regem o desenvolvimento da própria Engels, concluindo que as estruturas da cons-
produção e todos os fenômenos que a compõe ciência humana são formadas pelas relações
(LEONTIEV, 2004). sociais e as condições expostas a ela (BRAGA,
Observa-se, então, que todas as ações 2010).
realizadas pelo homem advindas do trabalho re- Marx afirma que os homens só existem
querem um conjunto de componentes orgânicos se transformam a natureza, por meio do traba-
e sociais para que haja, então, uma relação com lho, sendo assim, sem o trabalho, a reprodução
a natureza, nos processos de formação social, social não seria possível. Mesmo a natureza
de modo que o homem transforma a natureza, e sendo dependente da reprodução social, isso
a natureza o transforma e o constrói por meio do não quer dizer que as leis que regem a natureza,
trabalho. (ENGELS, 2000). regem também o homem. A vida social não é de-
No último estágio da transição do ma- terminada por fatores biológicos, e sim por fato-
caco em homem, é onde surge o homem atu- res sociais. O trabalho não só permite a transfor-
al – Homo Sapiens, sendo o momento em que mação da natureza em sociedade, mas também
a evolução do homem se liberta totalmente das permite que o homem se construa como indiví-
leis biológicas. Isso quer dizer que não há mais duo. Por meio do trabalho, o homem se torna um
mudanças biológicas significativas. O desen- ser social, regido por leis de desenvolvimento
volvimento do homem, a partir desse momento, completamente distintas das leis que regem os
é regido por leis sócio-históricas (LEONTIEV, processos naturais. Sendo o trabalho do homem
2004). um processo consciente, diferentemente, dos
animais que produzem suas ações por meio da
Embora Vigotski concorde com a idéia hereditariedade (LESSA; TONET, 2008).
da evolução, ele separa o comporta- A distinção entre a evolução biológica e
mento dos animais e dos homens pela a evolução da história humana é baseada nos
emergência da cultura e atribui um papel escritos de Marx e, principalmente, de Engels,
limitado à base genética do comporta-
com a explicação da transição do macaco em
mento humano. Enquanto as leis bioló-
gicas explicam a evolução das espécies, homem, a partir da teoria de Darwin. Percorren-
são leis sócio-históricas que explicam o do a história da evolução até o momento em que
desenvolvimento do homem com inicio surge o Homo Sapiens (BRAGA, 2010).
da cultura. (BRAGA, p. 22, 2010) Para Braga (2010), as funções psicológi-
cas superiores ou culturais a partir de Vigotski,
As diferenças entre os animais e os ho- bem como a linguagem, capacidade de plane-
mens são que os animais apenas utilizam a na- jamento, atenção voluntária, fala, pensamento e
tureza e produzem modificações nela somente entre outras funções, são construídas e trans-

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 47


BRUSTOLIN, K.; ALVES, T. B.; SUPERTI, T.

formadas qualitativamente. Já as funções, ditas cias: Marx e Engels (2000; 2002; 2003), Engels
elementares se determinam na evolução biológi- (1988), Vigotski (1996), Leontiev (2004), Leal
ca. Sendo assim “[...]segundo Vigotski, não po- (2016), Braga (2010), Facci (2004), Martins
dem ser aplicados os mesmos princípios expli- (2004) e Netto (2011), contendo aspectos rela-
cativos para os dois tipos de processo” (BRAGA, cionados à construção da personalidade no perí-
p. 22, 2010), desta forma Vigotski se baseou nos odo da adolescência, impactando no adolescen-
processos de mudanças, a partir da natureza so- te da classe trabalhadora.
cial e da mediação por meio de signos. A formação da personalidade é decorren-
É na mediação em que temos um com- te de uma relação dialética entre fatores internos
portamento indireto e mediado por meio de ins- e externos, através de relações entre as condi-
trumentos e signos, ou seja, se não houver me- ções objetivas e subjetivas do indivíduo, que ao
diação, nosso comportamento será automatica- encontrar-se inserido nessa sociedade, se sin-
mente realizado por meio de reflexos, de forma gulariza e se diferencia. As condições objetivas
imediata e direta. se referem às relações sociais do indivíduo, seu
Comportamento mediado = E – M – R contato com outros indivíduos, com aquilo que
Comportamento não mediado = E – R é externo. E as condições subjetivas se referem
E= estímulo; M= mediação; R= resposta ao aparato biológico e à materialidade psicológi-
(BRAGA, 2010). ca dos indivíduos, que se desenvolveram atra-
Quando falamos em instrumentos as- vés da atividade social dele (MARTINS, 2001
sociamos às estruturas materiais, porém as apud SILVA, 2009).
próprias funções superiores podem ser instru- Sendo assim, a personalidade de cada
mentos umas das outras, como por exemplo, indivíduo não se forma isoladamente, mas sim,
acredita-se que a fala é um instrumento do pen- a partir do resultado da atividade social, não
samento, então pode se dizer que a fala é um dependendo dos indivíduos individualmente ou
instrumento de mediação para que haja uma separadamente, e sim das relações que se esta-
resposta: o pensamento (BRAGA, 2010), bem belecem entre eles (MARTINS, 2004).
como, temos o machado como instrumento ma- A adolescência é caracterizada por uma
terial, que é utilizado para a execução da ativida- passagem da etapa infantil para a etapa da ado-
de humana: o trabalho (LESSA, TONET, 2008). lescência, de modo que os adolescentes pas-
Os modos de mediação são fundamen- sam por crises entendidas como crise dos 13
tais para a formação das funções psicológicas (puberdade – 14 aos 18 anos) e crise dos 17.
superiores, porém devemos salientar que vi- As crises podem alterar a personalidade do indi-
vemos em constante desenvolvimento social e víduo, bem como causar mudanças bruscas em
natural, de modo que a natureza do homem se seu comportamento, marcadas pelo negativismo
altera, o psiquismo se transforma, e a relação nas exigências a serem cumpridas, entrando,
entre homem e sociedade vive em uma cons- por vezes, em conflito com os adultos. As crises
tante metamorfose, acarretando na mutação dos são identificadas como um processo dialético
instrumentos e do uso deles (BRAGA, 2010). pelo qual se apresentam como uma necessida-
A partir do breve exposto teórico a res- de de mudanças internas que se originam na su-
peito da formação do homem, esta pesquisa tem peração de uma etapa e contradição do modo
por objeto de estudo a formação da personali- de vida (FACCI, 2004).
dade na adolescência da classe trabalhadora. É no período da adolescência em que
Assim temos como objetivo geral: compreender, ocorrem inúmeras mudanças biológicas e físi-
na perspectiva da Psicologia Histórico Cultural cas no corpo do indivíduo, porém não se pode
a construção da personalidade na adolescência reduzir o entendimento a esta etapa apenas por
da classe trabalhadora. E como objetivos espe- essas mudanças, segundo a Psicologia Históri-
cíficos: 1) Investigar o processo de formação da co Cultural. O adolescente é visto, a partir dessa
personalidade; 2) Estudar o período da adoles- perspectiva, como um ser social e histórico, pois
cência para a Psicologia Histórico Cultural; 3) “[...] as leis biológicas e as características deter-
Compreender as classes sociais a partir do Ma- minantes do desenvolvimento humano pautadas
terialismo Histórico Dialético. na hereditariedade não são mais as forças motri-
Este estudo será pautado na pesquisa zes do desenvolvimento humano, pois cederam
bibliográfica, tendo como principais referên- lugar às leis sócio-históricas.” (ANJOS, 2014, p.

48 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 ISSN 1982-1093


A contrução da personalidade...

07). Segundo Martins (2004, p. 84):


Portanto, foi por meio das práticas de
estágio em Centro de Referência e Assistência Essas condições representam as ba-
Social, na zona rural de uma cidade do interior ses a partir das quais, ao longo de uma
do Paraná, nas quais ocorrem atividades com histórica evolução, desenvolve-se, por
adolescentes que, em sua maioria, pertencem à meio da atividade, o psiquismo humano.
A atividade humana, que por sua nature-
classe trabalhadora, que surgiu o interesse em
za é consciente, determina nas diversas
compreender como ocorre a formação da per- formas de sua manifestação a formação
sonalidade dos adolescentes, que compõe essa de capacidades, motivos, finalidades,
classe. sentidos, sentimentos etc., enfim en-
Este estudo justifica-se, considerando a gendra um conjunto de processos pelos
concepção de adolescência da psicologia tradi- quais o indivíduo adquire existência psi-
cional que, em geral, está embasada em uma cológica.
visão biológica, naturalizante e patologizante
dos indivíduos. As contribuições da Psicologia Para a Psicologia Histórico Cultural, a
Histórico Cultural e dessa pesquisa são de não personalidade é entendida como um fruto da ati-
naturalizar a adolescência, pois esta é um perío- vidade individual, seja ela em qualquer período
do do desenvolvimento e tem um caráter históri- de vida. Na adolescência, por exemplo, a ativi-
co e de classe como todo o fenômeno humano. dade principal é compreendida pela totalidade
Ainda, objetiva-se também propagar a verdadei- social em que o indivíduo está inserido, sendo
ra base da Psicologia Histórico Cultural, como esta a comunicação social, resultado de suas
sendo uma base marxista, que por muito tempo relações objetivas e subjetivas, diferenciando
foi disseminada por vários países, inclusive no cada indivíduo, por meio de suas relações, o que
Brasil, com uma visão dissociada do materialis- produz personalidade (MARTINS, 2004 apud
mo histórico dialético de Marx. CABRERA, 2014).
Desse modo, essa pesquisa visa a con-
tribuir na produção de novas formas de atendi- Remete ao plano da pessoa, do homem
como ser social, “que faz, pensa e sen-
mento aos adolescentes, este sendo compatível
te, e é neste plano que nos deparamos
com a realidade em que se encontram, buscan- com a personalidade”, portanto, “a ciên-
do entender os indivíduos naquilo que verdadei- cia da personalidade é a ciência da vida
ramente os compõe, bem como nossas contri- real dos indivíduos, pela qual constroem
buições acerca do assunto pesquisado, pois não uma maneira particular de funcionamen-
há bibliográficas nesta totalidade. to” (MARTINS, 2004, p.84, apud CA-
BRERA, 2014, p. 9).
A CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE PARA
A PSICOLOGIA HISTÓRICO CULTURAL Assim, a personalidade não pode ser
descolada da atividade principal de cada pe-
É fato que existe no homem uma singula- ríodo, pois, ela só irá se construir, através das
ridade, porém a existência dessa singularidade relações obtidas por meio do desenvolvimento
provém irredutivelmente de uma construção ge- causado pela atividade principal. Assim, acredi-
nérica. O homem apenas se torna um ser indivi- ta-se que a atividade principal, juntamente com
dualizado a partir do processo histórico e social, a personalidade, não está ligada exclusivamente
ou seja, é um ser social e singular exatamente à genética e sim aos resultados compostos nes-
por ser um ser social genérico. Para compreen- te desenvolvimento psíquico (LEONTIEV, 1979
dermos o indivíduo, precisamos entender que o apud CABRERA, 2014).
homem é indissociável de seu gênero humano Dessa forma, para Elkonin (1987) apud
(MARTINS, 2004). Facci e Reis (2014), é no período da adoles-
A personalidade é então um processo cência, em que podemos esclarecer a atividade
que resulta das relações entre as condições so- principal, como a comunicação íntima pessoal.
ciais e condições psíquicas do indivíduo, que, ao O adolescente, por sua vez, desenvolverá dife-
encontrar-se inserido em uma sociedade, se in- rentes relações com os adultos, ampliando crí-
dividualiza e diferencia, tornando-se único (SIL- ticas acerca de suas relações e contradições
VA, 2009). presentes nela, como imagem de si e do outro

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 49


BRUSTOLIN, K.; ALVES, T. B.; SUPERTI, T.

na sociedade, diferenciando-se do período da A ADOLESCÊNCIA PARA A PSICOLOGIA HIS-


infância. Neste período, a atividade de estudo TÓRICO CULTURAL
(atividade dominante) permanece juntamente
com a comunicação pessoal (atividade princi- Baseando-se em Vigostski e Luria, gran-
pal), intensificando a junção das duas, através des nomes da psicologia Histórico Cultural,
da relação externa dos adolescentes para com acredita-se que o ser humano vai além de uma
o mundo adulto, grupos de amigos e lazer aos perspectiva biológica. Deve-se observar os as-
quais mantém diferentes regras compostas por pectos externos e como estes são interiorizados
valores éticos e morais, não direcionando so- na consciência, por meio de sua vida social,
mente suas relações em âmbito familiar, “[...] o sendo ela dialética. Leontiev ainda ressalta a
desenvolvimento do adolescente depende de grande importância voltada ao contexto escolar,
muitas condições e, por isso, pode se dar de de modo que é por meio da educação escolar
maneira desigual, coexistindo aspectos da infân- e seus progressos que se enriquecem as prá-
cia e da vida adulta.” (PETROVISKI, 1979 apud ticas sociais e históricas (LEONTIEV, 1978; VI-
FACCI, REIS 2011, p. 7). GOTSKI, 1997; LURIA, 1986 apud LEAL, 2016).
A personalidade é considerada por Vi- A educação escolar agrega muitos avan-
gotski (1996) apud Facci e Reis (2011) uma es- ços no indivíduo, principalmente, em seu psi-
trutura psíquica a qual decorre de um processo quismo, estabelecendo relações de mediação
dialético, por meio de crises existentes de um entre realidade, através da educação formal e
período ao outro em que ocorrem de forma dife- individual, pela qual tem papel fundamental na
rente de indivíduo para indivíduo, por meio das criação de instrumentos que auxiliem na inter-
apropriações culturais existentes nas relações pretação da realidade social. Portanto, é por
sociais que o cercam. “A personalidade incide meio de conteúdos teóricos que o psiquismo irá
em envolver o ser humano como decorrência se desenvolver, porém a escola se limita mui-
de um processo histórico, no qual o biológico é to a conteúdos tradicionais, esquecendo que
decomposto pelas relações sociais que se es- vivemos em uma realidade dialética, havendo
tabelecem, compondo as funções psíquicas e a contradições e injustiças a todo momento, o que
consciência humana” (CABRERA, 2014, p.22). acarreta a uma alienação (LEAL, 2016).
O desenvolvimento humano ocorre por Não se deve excluir a ideia de que a
meio dos períodos que são caracterizados por educação escolar acarreta na transformação
uma atividade principal ou dominante. A ativida- da consciência, porém nos moldes capitalistas,
de dominante é aquela que possibilita que os ou seja, se a escola aderisse a uma educação
processos psíquicos tomem forma ou se reorga- fundamentada nas contradições e desigualdade
nizem, e a qual permite as mudanças mais im- social decorrentes na atualidade isso resultaria
portantes. E a atividade principal diz respeito à em uma luta pela transformação social (LEAL,
relação que se estabelece entre o indivíduo e o 2016).
meio, o qual é característico, específico em cada Para a Psicologia Histórico Cultural, a
período, contribuindo para o desenvolvimento adolescência é um período de suma importân-
humano (LEONTIEV, 1987 apud REIS; FACCI, cia, pois é neste momento em que o indivíduo
2015). começa a formar conceitos, ocorrendo mudan-
Esses períodos são influenciados por no- ças de grande importância para o psiquismo. As-
vas formações que determinam o curso de de- sim, não se deve reduzir a adolescência somen-
senvolvimento humano. Essas novas formações te às mudanças biológicas, como é abordado
são a estrutura da personalidade, que conduz o em algumas teorias, naturalizando este período
processo do desenvolvimento. Para que se pos- (LEAL, 2016).
sa compreender algum determinado período do Adolescência é um assunto muito pro-
desenvolvimento, é necessário que se faça uma blematizado na atualidade, mas nem sempre
análise dos processos de mudança da estrutura foi assim, durante muito tempo, acreditava-se
da personalidade (VIGOTSKI, 1996 apud REIS; que após a infância os indivíduos se tornavam
FACCI, 2015) . adultos, excluindo o período de puberdade, ou
seja, a infância era muito vinculada as questões
de dependência, portando a criança se tornaria
adulto após se atingir a independência (LEAL,

50 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 ISSN 1982-1093


A contrução da personalidade...

2016). uma nova visão.


A adolescência passa a ser percebida Para se entender a adolescência, é ne-
após o século XIX, por meio da escolarização, cessário entender a relação entre adulto e ado-
pelo qual afastava-os do mundo do trabalho. Po- lescente, ou seja, os comportamentos presentes
rém, esse impacto de percepção a este período nesta relação e as maneiras de mediação atri-
passa a ser fomentado após a segunda guerra buídas a ela, pois, deste modo, é possível ob-
mundial, em que, apresenta-se a adolescência servar no adolescente sua inserção socialmente
como uma fase de amadurecimento, sendo ele em grupos de seu interesse, pelas quais estão
de fatores biológicos, pelo qual os adolescentes inteiramente ligadas a aspectos históricos, cul-
entram em conflitos internos, ressoando social- turais, políticos apresentados ao indivíduo a se-
mente, através de diferentes comportamentos rem interiorizados, acarretando no seu desen-
(LEAL, 2016). volvimento (LEAL, 2016).
O histórico da adolescência refletido por Na sociedade atual, tanto a criança quan-
meio de aspectos sociais revela este período to o adolescente, neste período, passam por um
como natural e similar para todos. Todavia, o processo “adaptativo”, ou seja, seus compor-
adolescente é um ser histórico e cultural, pelo tamentos devem ser encaixados ao contexto
qual se constrói através das superações das atual, como um treinamento para iniciar a fase
contradições, revivendo o mesmo percurso, po- adulta. Então, o adolescente é visto como uma
rém renovando e reinventando seus comporta- máquina, sendo controlado por ideias sociais,
mentos, sendo este processo necessário para perpassando as instruções a família/educadores
seu desenvolvimento (LEAL, 2016). (LEAL, 2016).
Para muitos autores, a adolescência é Leal (2016), por meio de leituras realiza-
vista como um período negativo, rodeado de fa- das nas pesquisas de Bock (2004), destaca que
tores biológicos, excluindo fatores, sociais, cul- a adolescência vista socialmente e, por vezes,
turais, históricos e econômicos, por que, desta naturalizada, até mesmo pela psicologia, causa
maneira, o conteúdo em questão seria desviado. desvalorização do período, pelo qual os jovens
Ou seja, o adolescente passa por um comporta- querem ganhar sua liberdade e, por vezes, en-
mento patológico, sendo ele normal, como um tram em conflito com seus pais que não querem
ser evolutivo. Os aspectos de rebeldia seriam perder o controle sobre eles, o que acarreta em
entendidos como uma falta infantil e a quebra comportamentos naturais ditados socialmente,
de dependência, sendo caracterizado como sendo esta uma reprodução social.
uma síndrome normal da adolescência. Neste É necessário observar a quais condições
período, acontece o processo da formação da esses jovens vivem, pois elas também refletem
identidade, em que os adolescentes têm receio ao seu desenvolvimento e a suas crises de iden-
do que os outros pensam dele, ocorrendo um tidade. A busca de si mesmo e seu encontro em
conflito de identidade. “Este movimento contex- grupos que lhe são atrativos (BOCK, 2007 apud
tualiza a adolescência como fenômeno histórico LEAL, 2016).
e social, como construção cultural marcada pe-
las concepções que se tornaram hegemônicas, É importante destacar que, embora a
influenciando profundamente o comportamento adolescência seja tomada como fenô-
dos jovens” (LEAL, 2016, p. 19). meno universal e único, terá marcas di-
ferentes, em diferentes grupos e classes
Leal (2016) apresenta muitas críticas a
sociais, pois a sociedade de classes em
essas teorias, pois sem as relações sociais que que vivemos não permite acesso aos
compõe o desenvolvimento do homem, todos os bens culturais de forma igualitária a to-
indivíduos reproduziriam os mesmos compor- dos e a grande maioria não tem aces-
tamentos por serem fatores inatos. Portanto, é so à grande parte dos bens produzidos,
por meio de inúmeras informações naturaliza- fator que influencia no desenvolvimento
das, destacando o que é a adolescência, sendo dos indivíduos, acarretando formas di-
esta de rebeldia e desequilíbrios de comporta- ferentes e peculiares de viver a adoles-
mentos, que os próprios adolescentes acabam cência, que se manifestará de maneira
internalizando e reproduzindo tais ações vistas singular nos diferentes segmentos so-
ciais. (LEAL, p. 23, 2016)
socialmente. não superando este conceito natu-
ralizado, ao qual não causa favorecimento para

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 51


BRUSTOLIN, K.; ALVES, T. B.; SUPERTI, T.

É então na psicologia histórico cultural a partir disso, nascem novos motivos, levando-
que surge a necessidade de superação de al- -a a uma nova interpretação de suas ações do
gumas teorias voltadas a modelos adaptativos. passado. A atividade que antes era determinada
Sendo o homem como ser histórico e cultural como atividade principal passa a ser segundo
(FACCI, 2004; ELKONIN, 1987 apud LEAL, plano, dando lugar a uma nova atividade domi-
2016) . nante que vai dar início ao novo estágio do de-
Todavia, o indivíduo no período da ado- senvolvimento (LEONTIEV, 1998 apud FACCI,
lescência passa por mudanças biológicas, físi- 2004).
cas e, essencialmente, por mudanças sociais. Neste período, o indivíduo começa a se
Como estas relações são mediadas e de que interessar por novas coisas, ter novos hábitos,
maneira refletem em seu psiquismo? (ELKO- tendo mudanças muito visíveis em seus compor-
NIN, 1987 apud LEAL, 2016). tamentos, sendo o que determina este período.
Bem como, a psicologia em uma série de Dessa forma, o adolescente deverá internalizar
teorias reduz a adolescência a uma fase matu- esse novo processo, ao qual antes era externo,
racional (puberdade), ocorrendo mudanças bio- desenvolvendo seu pensamento. “Os novos es-
lógicas e fisiológicas, o que por vezes não se tímulos surgidos nessa etapa impulsionam o de-
deve deixar de lado, entretanto deve-se analisar senvolvimento e os mecanismos do pensamen-
o que há por trás desses aspectos, quais fatos to” (LEAL, p. 27, 2016).
externos podem favorecer para uma investiga- Na adolescência, o indivíduo passa por
ção eficaz desse período, não analisando como esses processos descontentes e conflituosos,
um conjunto de sintomas pertencentes a certo nesse período de crise, entre um estágio de de-
período (VYGOTSKI, 1996 apud LEAL, 2016) . senvolvimento e outro, sendo estes ocorrentes
Segundo Facci (2004), o desenvolvimen- de forma dialética, superando as contradições,
to é marcado por estágios, cada um deles é de- constituindo uma etapa em que o indivíduo cria
finido por uma atividade principal, que é a princi- suas críticas revolucionárias, construindo assim
pal forma de relacionamento do indivíduo com a a sua personalidade (LEAL, 2016).
realidade. Através dessas atividades principais, É por meio das relações sociais em que
a criança se relaciona com o mundo a sua volta o indivíduo transforma seu conteúdo social em
e em cada um dos estágios se formam necessi- individual, ou seja, na passagem de uma idade
dades específicas em seu psíquico. para a outra, a consciência se modifica, por meio
Apesar de cada período do desenvolvi- das diferentes formas de atividade, compostas
mento ter uma atividade principal, no próximo por um conjunto de dinâmicas de desenvolvi-
período, ela não deixa de existir, ela apenas dá mento (LEAL, 2016).
o lugar de atividade principal a outras atividades. A chegada da adolescência acontece
Novos motivos surgem e, a partir disso, é preci- com a atividade principal de comunicação íntima
so que uma nova atividade se estabeleça, para pessoal entre os adolescentes. Ocorre uma mu-
que o desenvolvimento dê continuidade (ELKO- dança com relação à posição que o adolescente
NIN, 1987 apud REIS; FACCI, 2015). ocupa em relação ao adulto, junto aos conheci-
O que marca essa passagem de um perí- mentos que ele possui e suas capacidades. Em
odo para outro são as crises. E é a crise que de- alguns casos, colocam-no como igual aos adul-
limita, quando um período se encerra e quando tos e, em alguns casos em particular, até como
dá-se início a outro (ELKONIN, 1987 apud REIS; alguém superior aos adultos. O adolescente
FACCI, 2015) . torna-se crítico, com as exigências que lhe são
A passagem de um estágio do desen- impostas, modos de agir, qualidades pessoais
volvimento para outro ocorre quando a criança dos adultos e com os conhecimentos teóricos.
começa a se dar conta que o lugar que ocupava Ele busca, na relação com os outros adolescen-
nas relações sociais ao seu redor e que esse tes um posicionamento diante das questões que
espaço não corresponde mais às suas potencia- realidade impõe a sua vida (FACCI, 2004).
lidades naquele momento e, movimentando-se O estágio da adolescência é o mais crí-
para modificar, surgem as contradições. Ela tem tico, pois, nessa idade, a atividade principal é a
consciência das relações sociais que estabe- relação pessoal íntima, que os adolescentes ao
lecia anteriormente e isso faz com que busque se relacionarem entre si encontram uma forma
uma mudança na motivação de sua atividade e, de reproduzir as relações entre os adultos. A in-

52 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 ISSN 1982-1093


A contrução da personalidade...

teração com o grupo é mediada e determinada vidade dominante profissional de estudo, que
por normas e regras do grupo. O estudo ainda é possibilitará que o adolescente pense sobre sua
considerado uma atividade importante para esse escolha profissional. (PETROVISKI, 1979 apud
período e ocorre o domínio da estrutura geral da REIS; FACCI, 2015) .
atividade de estudo naqueles que são alunos, a Na idade escolar avançada, a atividade
formação do caráter voluntário, tomada de cons- de estudo é utilizada para o adolescente como
ciência das particularidades individuais de traba- um meio de orientação e preparação para a pro-
lho e a utilização dessa atividade para organizar fissão futura. O adolescente possui o domínio
as interseções com os outros alunos (FACCI, dos meios de atividade de estudo autônomo,
2004). com uma atividade cognoscitiva e investigativa
É nessa fase do desenvolvimento que se criadora. E a etapa final do desenvolvimento
produz no adolescente um avanço no desenvol- acontece quando o indivíduo torna-se trabalha-
vimento intelectual, formando os conceitos. O dor (DAVIDOV; MÁRKOVA, 1987 apud FACCI,
pensamento por conceito proporciona para os 2004).
adolescentes uma consciência social, e o co- Quando estiver inserido no mundo do
nhecimento da ciência, arte e diversos outros trabalho, o adolescente se tornará adulto. O tra-
conhecimentos na esfera cultural podem ser as- balho torna-se sua nova atividade dominante.
similados. Através do pensamento por conceito, O adulto, por meio do trabalho, possui um novo
o adolescente consegue compreender a realida- lugar na sociedade, e suas relações ocorrem e
de em que ele vive, as pessoas ao seu redor e se processam de modo diferente das anterio-
a si. O pensamento concreto passa a dar seu res. Ocupa o lugar central da estrutura social e
lugar ao pensamento abstrato e o conteúdo do evolutiva da sociedade, pois é o principal equi-
pensamento do adolescente se transforma em pamento de transmissão do mecanismo estatal,
convicção internalizada, orientação de seus in- social e econômico. E, apesar de o trabalho ser
teresses, em normas, em sentido ético, em seus a sua atividade dominante, nem sempre a rea-
desejos e seus objetivos. (VYGOTSKI, 1996 lização desse trabalho se dá de maneira iguali-
apud FACCI, 2004) tária nas sociedades capitalistas (PRETOVISKI,
A adolescência é um período muito im- 1979; TOLSTIJ, 1989 apud REIS; FACCI, 2015).
portante no desenvolvimento do indivíduo, pois
é nela que se formam as funções psicológicas CLASSES SOCIAIS: PRIMEIRAS REFLEXÕES
superiores, a formação dos conceitos, o pensa-
mento abstrato, que vão permitir com que o ado- Para Netto (2011), pautado no Mate-
lescente compreenda a realidade e também que rialismo Histórico Dialético, acredita-se que as
forme uma concepção do mundo e de si (LEAL, classes sociais surgem desde o feudalismo, de
2016). modo que havia uma divisão de afazeres e lu-
cro, ou seja, os senhores feudais permaneciam
Por meio da comunicação pessoal com com a maior parte da produção, executada pelos
seus iguais, o adolescente forma os pon- homens que usufruíam se suas terras. Posterior-
tos de vista gerais sobre o mundo, sobre mente, o conceito de classes fica mais nítido, por
as relações entre as pessoas, sobre o
meio da divisão de poderes advindas do capita-
próprio futuro e estrutura-se o sentido
pessoal da vida. Esse comportamento lismo, a partir dos modos de produção, quando a
em grupo ainda dá origem a novas ta- propriedade privada ganha espaço socialmente,
refas e motivos de atividade dirigida ao e surge a necessidade da divisão do trabalho.
futuro, e adquire o caráter de atividade
profissional/de estudo. (FACCI, 2004 p. [...] neste novo modo de produção a divi-
71) são do trabalho se dá entre quem conce-
de e quem executa o trabalho, ou seja,
Por meio da socialização e da comuni- entre quem tem a posse da proprieda-
cação, o adolescente desenvolve opinião acerca de e os meios de produção e quem vai
operar diretamente na produção de tais
do mundo, das relações e do futuro. E a partir
mercadorias. (NETTO, p. 5, 2011).
disso, que em grupo, por meio da linguagem,
surgem novas tarefas e motivos que dizem res- Entretanto, essa divisão causa impacto
peito ao futuro. Estabelecendo-se então a ati- na classe trabalhadora. A manufatura, exercida

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 53


BRUSTOLIN, K.; ALVES, T. B.; SUPERTI, T.

pelo atual proletariado não é mais interessante Neste sentido, a classe burguesa, que-
para o capitalismo, pois a execução desta pro- bra todo e qualquer vínculo cultural em prol do
dução era lenta demais comparada à indústria capitalismo, bem como o sentimento de família,
moderna, a qual executava o trabalho em menor na qual desde cedo, os filhos saiam de casa
tempo e custo (MARX; ENGELS, 2003). É neste para sua sobrevivência futura, artimanha uti-
momento em que a burguesia utiliza-se do Esta- lizada pela indústria moderna, em que recorre
do, como um instrumento de domínio de outras à a força de trabalho como arma de produção
classes, organizando os negócios comuns para (MARX; ENGELS, 2003).
toda a burguesia. Neste sentido, percebe-se o Levando em consideração esses aspec-
reflexo do capitalismo na definição de classes, tos, entende-se, portanto, que as classes so-
pois, “Há sempre uma relação de oposição entre ciais, são diferenciadas, a partir do lugar em que
duas classes, de modo que uma não existe sem cada indivíduo ocupa socialmente e historica-
a outra” (NETTO, p. 5, 2011). mente, através da divisão do trabalho e a obten-
Podemos entender esta divisão de clas- ção de capital adquiridas por ele, diferenciando-
ses, observando as duas classes opostas, des- -se o seu espaço no sistema econômico (LÊNIN,
de processo criado por meio do capitalismo. 1980).
Sendo então a classe burguesa, a detentora de Marx e Engels (2003) criticam o capita-
capital, dona de propriedades que empregam o lismo, pois há uma relação antagônica de inte-
proletariado. Entende-se por proletariado, aque- resses e exploração entre classe trabalhadora e
les pertencentes à classe trabalhadora, “não burguesia, pois enquanto o proletariado busca
tendo meios próprios de produção são obriga- por melhores condições de trabalho e sobrevi-
dos a vender sua força de trabalho para sobre- vência, a burguesia procura meios para o au-
viverem” (ENGELS, 1888 apud MARX; ENGELS mento de capital. Assim sendo, se os burgueses
p. 26, 2003) . atenderem aos ideais do proletariado, a classe
Assim, surgem conflitos entre a classe burguesa não almejará o capital esperado.
burguesa e proletariado, devido às ideais, aos
objetivos e às diferentes necessidades, sendo CONSIDERAÇÕES FINAIS
entendidas como a luta de classes, pois a classe
dominante fazia da classe dominada um objeto Levando-se em consideração os as-
de alienação, por meio da produção, havendo pectos apresentados anteriormente, pode-se
uma contradição muito grande daquele que pro- observar que o homem é síntese das relações
duz e daquele que consome (NETTO, 2011). sociais de determinado momento histórico, pois
Com o desenvolvimento da burguesia, se constrói por meio de suas relações sociais
isto é, do capital, desenvolve-se também o pro- e contexto em que está inserido. Desse modo,
letariado, a classe dos operários modernos, cada indivíduo, se constrói de maneira diferente,
que só podem viver se encontrarem trabalho, e devido às formas de mediação apresentadas a
que só encontram trabalho na medida em que ele, ou seja, ocorrerão apropriações diferencia-
este aumenta o capital. Esses operários obriga- das de indivíduo para indivíduo. Assim, entende-
dos a vender-se diariamente, são mercadoria, -se a construção de homem através do traba-
artigo de comércio, como qualquer outro; em lho, diferenciando-o dos animais, pois o homem
consequência, estão sujeitos a todas as vicissi- transforma a natureza, produzindo instrumentos
tudes da concorrência, a todas as flutuações do a partir da sua necessidade, tornando-o um ser
mercado. (MARX; ENGELS, 2000). social; já os animais apenas saciam suas neces-
Dessa forma, os homens dessa classe sidades, agindo por reflexos/instintos, sem ter
deveriam se adaptar às condições em que os consciência.
meios de produção e a classe burguesa execu- A partir do Homo Sapiens, as mudanças
tavam sobre eles, com o intuito de crescer seu morfológicas não são mais significativas. Não
capital e reduzir os salários a níveis extrema- é mais o biológico que dita o desenvolvimento,
mente baixos, aumentando assim a carga de tra- deixa de ser algo inato, hereditário, por seleção
balho devido à concorrência de mercado o que e adaptação dos animais (das espécies) e pas-
“[...] torna a condição de vida do operário cada sa a ser um desenvolvimento a nível histórico
vez mais precária [...]” (ENGELS; MARX, p. 48 e social, não há mais mudanças biológicas sig-
2002). nificativas. O homem age de forma intencional,

54 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 ISSN 1982-1093


A contrução da personalidade...

transformando a natureza por meio do trabalho. Sendo assim, ocorrem diferenças no processo
A partir da transformação do meio, criamos a de desenvolvimento dos adolescentes da classe
cultura e assim toda a nossa história fica regis- trabalhadora com relação aos adolescentes da
trada por meio da cultura. classe burguesa.
O homem é um considerado um ser his- Para entendermos essa diferença, preci-
tórico cultural devido as suas apropriações ad- samos responder a pergunta: Quais são as ri-
quiridas ao longo da história. A apropriação é o quezas culturais garantidas aos adolescentes da
contato de forma mediada, por meio das rela- classe trabalhadora? Os adolescentes da classe
ções sociais, e ativa com a cultura. A atividade burguesa têm acesso a todas as apropriações
humana se encarna em objetos e é necessário necessárias para o desenvolvimento pleno das
que o indivíduo tenha uma atividade com esses funções psicológicas superiores, tendo acesso
objetos para poder se apropriar. A organização à educação formal de qualidade, cultura, lazer,
interna desses conteúdos se dá pela generali- saúde e etc.? Enquanto a adolescência da clas-
zação, que é a transposição dos vínculos - uma se trabalhadora é marcada por apropriações
abstração ligada a outras abstrações - da reali- que garantem apenas a reprodução da força de
dade concreta para a realidade interna, é a cate- trabalho barata, pois a sociedade capitalista em
gorização da realidade. Sendo assim, a função que vivemos empurra esses adolescentes para
da generalização é categorizar internamente a o mundo do trabalho, de maneira que são colo-
realidade externa. Só nos tornamos humanos cados no meio de uma busca por condições de
quando temos generalizado o processo histórico sobrevivência e a educação formal. Não sendo
acumulado. E esse processo de apropriação e possível aproximar-se da segunda opção, pois
generalização acontece de forma dialética. há a necessidade do trabalho e no que tange
Essas apropriações ocorrem por meio à esfera das políticas públicas lhe é ofertado o
das formas de mediação proporcionadas a cada mínimo para que ocorra a manutenção de sua
indivíduo, ou seja, havendo um estímulo advin- força de trabalho e para que esses adolescen-
do da necessidade de algo, o indivíduo será ex- tes continuem com a necessidade de vender sua
posto a alguma forma de mediação através de mão de obra barata por questões de sobrevivên-
instrumentos, posteriormente ocorrendo uma cia.
resposta (E – M – R), entretanto, não de uma Assim, o adolescente da classe burgue-
maneira mecanicista e sim dialética, pois a natu- sa encontra-se no desenvolvimento pleno das
reza se transforma constantemente, bem como suas funções psíquicas superiores, por meio
o homem. Como por exemplo, no período da da atividade principal de relação íntima pessoal
adolescência os adolescentes sentem maior ne- e a educação formal, formando o pensamento
cessidade de apropriações voltadas ao mundo por conceitos e preparando-se para entrar no
adulto, de como manejar diferentes tipos de res- mundo do trabalho na fase adulta. Já o adoles-
ponsabilidades, portanto, o estímulo seria esta cente da classe trabalhadora tem sua atividade
necessidade. Para este estímulo, são necessá- principal substituída pela atividade do trabalho,
rias formas de mediação, podendo ser identifica- não entrando em contato com os conceitos cien-
do para este período como instrumento a educa- tíficos que a educação formal oportuniza. Isso
ção formal: escola, livros, utensílios voltados ao prejudica o desenvolvimento de suas funções
estudo, tendo como resposta o pensamento por psíquicas superiores, pois nesse estágio do de-
conceito, porta de entrada para diferentes tipos senvolvimento dos adolescentes está formando-
de apropriações. Entretanto, devemos destacar -se o pensamento por conceitos. Porém ele não
que este processo ocorrerá de formas diferentes entra em contato com todas as apropriações ne-
para cada adolescente, devido à sua realidade cessárias para que desenvolva seu pensamento
e condições que subsidiem os modos inserção crítico.
social/cultural. A personalidade se forma então, median-
Negamos então a adolescência como te a pobreza cultural, que é destinada à esta
um processo natural e a compreendemos como classe, suscitando a dificuldade de pensar so-
uma reposta histórica, pois como dito anterior- bre si mesmo, os demais, e a própria socieda-
mente o homem é um ser histórico e cultural, de. Isso constrói um adolescente alienado, ou
que desenvolve-se à partir das apropriações melhor, um trabalhador alienado. Porém, apesar
dos objetos culturais que lhe são ofertados. da alienação ser ordem na formação dos adoles-

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 55


BRUSTOLIN, K.; ALVES, T. B.; SUPERTI, T.

centes dessa classe, ela é passível de mudan- colar e Constituição da Consciência: Um es-
ça, por meio da ressignificação, e entrando em tudo sob a perspectiva da Psicologia Histórico-
contato com novos conceitos, esse adolescente -Cultural. Editora da Universidade Estadual de
poderá se tornar um sujeito consciente e crítico Maringá, 2016.
acerca da sociedade, das suas condições con-
cretas de trabalho e de vida. LÊNIN, V. I. Uma grande iniciativa. Vol. 3. São
Paulo: Editora Alfa Omega, 1980.
REFERÊNCIAS
LUCCI, M. A. A proposta de Vygotsky: a psico-
ANJOS, R. E. Aportes teóricos da Psicologia logia sócio – histórica. Profesorado. Revista
Histórico-Cultural à educação escolar de ado- de currículum y formación del profesorado,
lescentes. 2014. Disponível em: <http://www. 10, 2 (2006). Disponível em: <http://www.ugr.
histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/ es/~recfpro/rev102COL2port.pdf>. Acesso em:
jornada11/artigos/3/artigo_simposio_3_671_ri- 5 maio 2017.
cardo.eleuterio@hotmail.com.pdf> Acesso em:
15 jun. 2017. LESSA, S.; TONET, I. Introdução à filosofia de
Marx. São Paulo, Expressão Popular, 2008.
BRAGA, E. S. História da Pedagogia. Revista
Educação. São Paulo: editora Segmento, p. 20- LEONTIEV, A. L. Desenvolvimento do psiquis-
29, 2010. mo. São Paulo: Centauro, 2004.

CABRERA, T. L. REFLEXÕES ACERCA DO MARTINS, L. M. A natureza histórico-social da


CONCEITO DE PERSONALIDADE: ABORDA- personalidade. Cad. CEDES, Campinas, v. 24, n.
GENS HISTÓRICO CULTURAL COM BASE EM 62, 2004. Disponível em: <http://www.ccp.uenp.
LEONTIEV. (Trabalho de Conclusão de Curso). edu.br/dirposgrad/gepem/texts/gepem070-021.
Maringá, 2014. Disponível em: <http://www.dfe. pdf>. Acesso em: 15 jun. 2017.
uem.br/TCC-2014/TAMIRES-LAYLA_CABRE-
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto Comunista.
RA.pdf>. Acesso em: 23 jul. 2017.
9. ed. São Paulo: Global, 2000. 112 p. v. 1.
DUARTE, N. A anatomia do homem é a cha-
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto Comunista.
ve da anatomia do macaco: a dialética em Vi-
3. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002. 253
gotski e em Marx e a questão do saber objetivo
p. v. 1.
na educação escolar. Educ. Soc., Campinas,
v. 21, n. 71, 2000. Disponível em: <http://www.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto Comunista.
scielo.br/pdf/es/v21n71/a04v2171.pdf>. Acesso
São Paulo: Instituto José Luís e Rosa Sunder-
em: 22 maio 2017.
mann, 2003.
ENGELS, F. A dialética da natureza. São Pau-
NETTO, M. R. A concepção de classe em
lo, Editora Paz e Terra, ed. 6, 2000.
Weber e Marx e os desafios contemporâne-
os do sindicalismo brasileiro. Mato Grosso:
FACCI, M. G. D. A periodização do desenvolvi-
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT,
mento psicológico individual na perspectiva de
2011. Disponível em: <http://www.joinpp.ufma.
Leontiev, Elkonin e Vigostski. Cad. Cedes, Cam-
br/jornadas/joinpp2011/CdVjornada/JORNADA_
pinas, vol. 24, n. 62, p. 64-81, abril 2004.
EIXO_2011/ESTADO_LUTAS_SOCIAIS_E_PO-
FACCI, M. G. D.; XAVIER, L. A. O conceito de LITICAS_PUBLICAS/A_CONCEPCAO_DE_
personalidade: Uma análise a partir da psicolo- CLASSE_EM_WEBER_E_MARX_E_OS_DE-
gia histórico-cultural. In: X CONPE – Congres- SAFIOS_CONTEMPORANEOS_DO_SINDICA-
so Nacional de Psicologia, 10, 2011, Maringá. LISMO_BRASILEIRO.pdf>. Acesso em: 15 jul.
Anais... Maringá: ABRAPEE, 2011. Disponível 2017.
em: <http://www.abrapee.psc.br/xconpe/traba-
PRESTES, Z. Quando não é quase a mesma
lhos/1/155.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2017.
coisa: análise das traduções de Lev Seminovi-
LEAL, Z. F. R. G. Adolescência, Educação Es- cht Vigostki no Brasil repercussões no campo

56 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 ISSN 1982-1093


A contrução da personalidade...

educacional. Brasília: Universidade de Brasília,


Faculdade de Educação, Programa de Pós Gra-
duação em Educação, 2010. Disponível em: <ht-
tps://www.cepae.ufg.br/up/80/o/ZOIA_PRES-
TES_-_TESE.pdf?1462533012>. Acesso em: 27
maio 2017.

REIS, C. W.; FACCI, M. G. D. Contribuições da


psicologia histórico-cultural para a compreensão
da velhice. Revista Eletrônica Arma da Crítica.
Número 6/Outubro de 2015, p. 99-116. Disponí-
vel em < http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/
riufc/23237/1/2015_art_cwreismgdfacci.pdf>.
Acesso em: 22 jul. 2017.

SILVA, F. G. Subjetividade, individualidade,


personalidade e identidade: concepções a
partir da psicologia histórico-cultural. Psic.
da Ed., São Paulo, 28, 1º sem. de 2009, pp. 169-
195. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/
pdf/psie/n28/v28a10.pdf>. Acesso em: 18 jun.
2017.

TULESKI, S. C. Vygotski: a construção de uma


Psicologia Marxista. Maringá: Eduem, 2008.

CONSTRUCCIÓN DE LA PERSONALIDAD EN EL
PERÍODO DE LA ADOLESCENCIA DE LA CLASE
TRABAJADORA EN LA PERSPECTIVA DE LA
PSICOLOGÍA HISTÓRICO CULTURAL

Resumen: Esta investigación ha tenido por objetivo


destacar e investigar la construcción de la personali-
dad en el período de la adolescencia de la clase tra-
bajadora basado en la Psicología Histórico Cultural,
subsidiada por el Materialismo Histórico Dialéctico.
Este tema nos llamó la atención a través de prácticas
de pasantía en un Centro de Referencia y Asistencia
Social – CRAS de una ciudad del interior de Paraná.
Así, hemos destacado los aspectos que diferencian
las clases sociales, como las mediaciones que llegan
hacia los adolescentes que residen en este contexto
y que buscan formas de supervivencia por medio del
trabajo.
Palabras clave: Adolescencia; Clase trabajadora;
Personalidad; Psicología histórico cultural.

ISSN 1982-1093 Akrópolis, Umuarama, v. 26, n. 1, p. 45-57, jan./jun. 2018 57

Você também pode gostar