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Resumo
O presente artigo tem por objetivo evidenciar a importância SUZI ROSANA MACIEL BARRETO DO
da concepção de homem, tal qual aparece nos NASCIMENTO
pressupostos da Psicologia Histórico Cultural. Teoria, UNIOESTE
elaborada por Lev Semenovich Vygotski e continuada por suzimaciel@yahoo.com.br
seus colaboradores: Alexander Romanovich Luria e Alexis
Leontiev. Com esse estudo, pretende‐se ainda, buscar
relações entre as bases marxistas desta teoria e suas
contribuições para a escolarização de alunos com
Deficiência Intelectual em salas de aula comuns que
oferecem o Ensino Fundamental, mais especificamente no
município de Cascavel – PR, na área de Língua Portuguesa.
Além da abordagem teórica em questão, tornou necessário
a este estudo, uma breve análise das Diretrizes Curriculares
da Educação Especial do Estado do Paraná, documento que
versa sobre a concepção de currículo inclusivo. Analisando
essa concepção de currículo, haveria a possibilidade de
articulação com a concepção de homem como “ser social e
histórico”? Nesse momento, cabe buscar em Saviani apoio,
no que diz respeito ao papel da escola, bem como na
função do currículo.
1
Instituição Financiadora: Fundação Araucária/ CAPES
Esta relação que ocorre entre sujeitos, tempo, espaço, códigos utilizados e
instrumentos, é o que se considera contexto social e histórico. Com base num
determinado contexto, é possível conhecer quais instrumentos são necessários para
mediar suas relações sociais. Os instrumentos de mediação podem ser linguísticos ou
mesmo aqueles objetos criados, que de alguma forma, sejam necessários para que o
homem se constitua humano, sujeito do seu tempo, que dê respostas adequadas às
necessidades apresentadas no seu momento histórico. Apropriar‐se da cultura é se
instrumentalizar com aquilo que a humanidade produziu, e isso não deve ser negado ao
sujeito na sua constituição de humano. Negar‐lhe a apropriação da cultura é o mesmo que
negar‐lhe a condição de humano. Como afirma Leontiev (1978, p. 257):
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vida, neste caso, a base é o trabalho, como categoria marxista. Torna‐se necessário ao se
pensar na escola que se apresenta no século XXI: Em que esta escola tem contribuído
para a constituição desse humano? E mais especificamente, a escola que traz consigo o
legado da inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular, atenta para um
currículo que instrumentalize culturalmente o sujeito? A cultura produzida pela
humanidade faz parte desse currículo ou ele é minimizado ou negado?
“O trabalho é antes de tudo um processo entre o homem e a natureza,
um processo no qual o homem por sua atividade realiza, regula e
controla suas trocas com a natureza. Ele põe em movimento as forças
naturais que pertencem à sua natureza corporal, braços e pernas,
cabeças e mãos, para se apropriar das substanciais naturais sob uma
forma utilizável para sua própria vida. Agindo assim, por seus
movimentos sobre a natureza exterior e transformando‐a, o homem
transforma ao mesmo tempo a sua natureza”. MARX (2001, p. 211).
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Sendo assim, este homem então, pelo menos, naquilo que se propõem as
diretrizes, especificamente do estado do Paraná, para a educação especial, deixam claro
que, ao ser exposto a um currículo, o sujeito não deveria ser negligenciado por ter
necessidades educacionais especiais e sim satisfeito nessas suas necessidades. Ou seja, o
currículo deveria provocar no sujeito ações para criar meios de superar suas
necessidades.
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Materna para o Ensino Fundamental, interesse deste estudo. Traz pressupostos que
condizem com a tentativa de formação de homem como “ser social e histórico”, como se
pode observar no trecho que segue, o qual apresenta: “A Dimensão Histórica da Língua
Portuguesa”:
Ao se referir ao Estado de Direito, porém deve‐se atentar para diferença que existe
entre o Direito, tal qual descrito pela Declaração dos Direitos Humanos/ 1948 e na
Constituição Federal do Brasil/1988, documentos que trazem ideias liberais,
representando, portanto um mero discurso. E o Direito de fato, político que faz a pessoa
avançar nas suas elaborações frente às demandas sociais, que se apresentam
dinamicamente.
A respeito do trabalho como produção que exige do homem operações cada vez
mais complexas, Leontiev acrescenta:
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[...] não se trata, pois, de qualquer tipo de saber. Portanto, a escola diz
respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento
espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à
cultura erudita e não à cultura popular (SAVIANI, 1997, p. 19).
Para Vygotski essa apropriação da cultura, pela pessoa com deficiência, ocorre da
mesma forma que para uma pessoa sem deficiência, apenas por vias de conhecimento
diferenciadas, as quais não interfiram na complexidade do saber sistematizado, ou seja,
não diminua o seu valor social, frente à função da escola, que é a de trabalhar com esse
saber.
O autor não nega que existem vias de conhecimento diferenciadas para pessoas
com Deficiência Intelectual, assim como existem para o cego e o surdo. O que seria da
aprendizagem do cego, sem o recurso do Braile? Ou do surdo sem a Língua dos sinais?
Mas esses recursos importantes devem estar diluídos num “currículo comum” a todos os
alunos da classe onde o cego e o surdo estiverem. Ou seja, todos se apropriarão de um
“saber sistematizado”, de um “conhecimento elaborado” como anunciado por Saviani.
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No início do século XX, Vygotski critica a escola especial por negar um currículo
mais promissor às pessoas com deficiência. Havia algo de muita importância ocorrendo, o
autor, assim como a sociedade russa pós‐revolucionária, da qual fazia parte, passava por
profundas mudanças. A Psicologia, nesse momento, haveria de se voltar para “um novo
homem”, para atendê‐lo a velha Psicologia, já não cumpriria bem esse papel. Era
necessário elaborar novos conceitos, uma nova Psicologia. Surge a Psicologia Histórico
Cultural, que não permaneceu apenas com as elaborações de Vygotski, mas foi
compartilhada com seus colaboradores e continuada por eles: Luria e Leontiev. Por isso, a
necessidade de recorrer aos seus escritos, dando‐lhes a mesma importância, daqueles de
autoria de Vygotski.
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[…] junto con el defecto orgánico están dadas las fuerzas, las tendencias
y los deseos de vencerla o equilibrarla. […] Entretanto, justamente estos
deseos trasmiten la peculiaridad al desarrollo del niño con defecto y
originan las formas creadoras, infinitamente diversas y a veces muy
caprichosas del desarrollo, iguales o semejantes a las que observamos en
el desarrollo típico del niño normal. (VYGOTSKI, 1997 p. 27)
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Para Vygotski as causas orgânicas, inatas não atuam por si sós sobre o sujeito
provocando uma compensação à deficiencia, mas essa compensação surge em forma de
reorganizações psicológicas. Isto é, a pessoa dará respostas ao meio social, dependendo
de como participa da sociedade, do seu momento histórico e de quais papéis sociais
desempenha. Há nessas ações, uma dinâmica social, que localiza a pessoa no tempo e no
espaço, o que é histórico, e ainda aponta para a necessidade de se situar culturalmente,
pois ao requerer um posicionamento cultural do sujeito, de maneira alguma se espera
que este sujeito seja desprovido de cultura, mas que seja apropriado dela.
Todas las relaciones con las personas, todos los momentos que
determinan el lugar de la persona en el medio social, su papel y su
destino como participante de la vida y todas las funciones sociales del
ser, se reorganizan. Las causas orgánicas, innatas, como se subraya en la
escuela de Adler, no actúan por sí solas ni directamente, sino de forma
indirecta, mediante el descenso de la posición social del niño provocada
por ellas. Todo lo hereditario y orgánico debe ser interpretado también
desde el punto de vista psicológico, con el fin de que se pueda tener en
cuenta su verdadero papel en el desarrollo del niño. (VYGOTSKI, 1997, p.
33)
Considerações finais
Pode se dizer que quanto melhor for o currículo sistematizado destinado à pessoa
com deficiência, quanto melhor será o desenvolvimento do seu aparato psicológico para
responder ao meio social. O diagnóstico de uma deficiência não pode ser uma fronteira
intransponível na vida de uma pessoa, muito pelo contrário, é uma informação
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REFERÊNCIAS
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.
MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. 8º edição, Civilização Brasileira, Rio de
Janeiro, 2001.
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