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Extensão de Cabo Delgado

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DEPARTAMENTO DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

Cadeira- LP III Curso-LP Nível. 2 Ano académico:


2020

Ficha de Leitura Nº 1

Introdução

A cadeira de Língua Portuguesa III priorizara o estudo independente para que o


aluno desenvolva aptidões de busca de conhecimentos através da
investigação, de maneiras a responder à estratégia de ensino centrado no
aluno. Dai que o objectivo fulcral é o desenvolvimento de capacidades de
argumentação por parte do estudante. Por via deste grande objectivo
pretende-se que no final da Leccionação da cadeira o estudantes adquira
competências para Compreender, desenvolver e produzir textos
argumentativos, publicitários e dissertativos, aplicando conhecimentos de
língua e, com base nestas tipologias textuais ter a capacidade crítica sobre
diversos fenómenos sociais, políticos, económicos e culturais do seu meio e do
mundo em geral.

A LPIII centra-se na argumentação porque as três (03) unidades, em tipologias


textuais: argumentativo, publicitário e dissertativo tem como objectivo principal
persuadir o destinatário sobre a mensagem apresentada.

Docente da cadeira: Luís Carlos Pires


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UNIDADE I.

TEXTO ARGUMENTATIVO

1. Teorias de base

No pensar de Reis (89:1995), a teoria da argumentação estuda as técnicas


discursivas que permitem provocar ou admitir a adesão dos espíritos às teses
que apresentamos ao seu consentimento. Sem se afastar da lógica e da
retórica, a argumentação investiu no campo da psicologia e da sociologia geral
de informacao, indo nestes campos procurar alguma luz sobre como reage o
homem exposto às mensagens persuasivas, como altera as suas convicções e
o seu comportamento.

Argumentação é um conjunto de argumentos interligados com o objectivo de


conquistar a adesão de ordem de outrem à utilidade, à justiça e ao valor
daquilo que de contra aquilo que defende o nosso adversário ou, mais
simplesmente, ou um conjunto de favor ou contra um opinião ou uma tese.
Op.cit

Argumentação – é o conjunto de procedimentos discursivos ou de raciocínio


que visam a adesão dos interlocutores ou leitores-- é provar que as nossas
opiniões são verdadeiras e fundamentadas, procurando presidir e convencer
quem nos houve. Argumentar é produzir um discurso centrado sobre o
receptor, procurando trazê-lo ao nosso ponto de vista. Medeiros

É uma ação que tende sempre modificar um estado de coisas pré-existentes.


Citell (1994.58)

É uma ação complexa finalizada. Este fim coincide com a adesão do auditório a
uma tese apresentada pelo locutor e dando lugar a um encadeamento
estruturado de argumentos. Esses argumentos são hierarquizados, isto é, um
argumento contrária para estabelecer um outro situado a um nível superior e
assim sucessivamente” Estevão (1983)

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Argumentar é expressar uma convicção e uma explicação para persuadir o
interlocutor a modificar o seu comportamento. Figueiredo e Bizarro
(191:2004)

Para Reis (89:1995), argumento é um raciocínio destinado a provar ou refutar


uma afirmação ou, ainda, uma afirmação destinada a fazer admitir a outra.

Argumentação = Mudança de opinião = induzir para o nosso.

O discurso argumentativo é um tipo de enunciado em que o emissor organiza


argumentos suficientes para poder convencer o auditório. Elaborar um texto
argumentativo, é expor um assunto, demonstrar ou rebater a validade de uma
tese, defender uma opinião. A partir do momento em que, sobre um assunto ou
tema dado ou escolhido, um emissor decide escrever de maneira profunda e
exaustiva destinada a convencer ou mesmo esclarecer um recetor, é um texto
argumentativo que está presente.

Ribeiro et. all (2010:322) texto argumentativo como aquele tipo de texto que
visa convencer, persuadir ou influenciar o destinatário a qual se apresenta um
ponto de vista cuja autenticidade ou validade se deve provar. Para a
consecução deste objectivo, após a apresentação da tese (tomada de posição
do autor face a matéria em discussão), deve-se desenvolver o raciocino, a
argumentação propriamente dita. Esta fase exige argumento (justificações,
motivos, razões…) devidamente encadeados e suportados, se possível, por
provas, e credibilizados por exemplos.

2. Característica

O texto argumentativo é caracterizado por nele existir uma tese de índole


social, económico, político ou cultural que constitui o centro de toda a
informacao a ser enunciada, defendida e sustentada por argumentos do autor/
arguente/ articulista do mesmo.

É um texto polémico por excelência, porque o mesmo tema pode acarretar


várias interpretações dependendo da opinião de cada articulista i. Significa que
um determinado leitor do texto, discordando da informação anunciada
anteriormente, (suponhamos do editorial de um dado jorna ou um artigo

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qualquer de um cidadão comum que escrevera para o jornal a discordar de
uma determinada informação) pode refutá-la completamente, pondo em causa
esta informação a partir de contra argumentos.

Dai que o texto argumentativo, como foi testemunhado na teoria de base, ele é
caracterizado pela presença de uma tese (Aquilo que se pretende provar.), os
argumentos fundamentadores (O conjunto de todas as razões ou motivos que
usamos para sustentar a tese), o facto (realidade objectiva, inquestionável que
serve de exemplos para conferir os argumentos) e da opinião (afirmação é um
modo de ver, é uma convicção é um juízo de valor do individuo, é sempre
discutida.) Estevão (1983)

Os textos de natureza argumentativa ou situações de comunicação em que o


emissor utiliza o discurso argumentativo identificam-se com os sermões;
discursos políticos; palestras; textos publicitários; debates televisivos e/ou
radiofónicos; artigos de fundo e de opinião; editoriais; discussões socias;
manifestos eleitorais; manifestações de grupos profissionais defendendo seus
interesses; entre outros.

Segundo Dias et all (2006: 42), fazem também parte das características do
protótipo argumentativo a correção e clareza, evitando todo o tipo de falácias,
na apresentação dos argumentos; a consistência dos argumentos não pode ser
contestável, devendo possuir as seguintes características:
- autoridade – argumentos fundamentados na opinião de pessoas e entidades
com prestígio ou em teses cientificamente aprovadas;
- universalidade – argumentos consensualmente aceites;
- experiência pessoal – argumentos extraídos de uma vivência pessoal
reiterada.

3. Organização do Texto Argumentativo


O texto argumentativo possui três momentosii quanto a sua organização, a
saber:
a) Exposição da tese – Que tem por objecto a formulação das ideias que
vamos defender. Ela é apresentada com clareza e brevidade.

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b) Conjunto Argumentativo- apresentação de conjunto de razões ou
motivos em que se fundamenta a tese justificando-a (provando a
veracidade) ou refutá-la (provando a falsidade).
Exemplos:. (1º conjunto)
Tese e sua justificação: “ eu bebo água para emagrecer, porque graças ao
seu poder diurético esta agua elimina as toxinas” Figueiredo (2004:192)
Tese e sua refutação: “faz-se crer que um produto é melhor porque é mais
caro. Isso não é verdade porque não há uma relação directa entre o preço e a
qualidade” ibidem
c) Conclusão – é uma síntese de todo o conjunto de argumentos
apresentados a favor ou contra a tese.

Para além destes momentos, fazem parte da organização do texto o


argumentador/arguente (o agente que organiza e desenvolve o raciocínio
para tentar estabelecer uma verdade ou falsidade sobre a tese) e recetor (o
ser a quem se dirige o sujeito que argumenta, na convicção de levar o
interlocutor a partilhar a mesma tese (que ele pode aceitar ou recusar)

3.2 Nível Macroestrutural

Em retorica clássica há regras que presidem a organização global da


argumentação. Neste sentido distingue-se quatro partes.

1. O Exórdio- faz-se o apelo nos sentimentos de benevolência dos indivíduos


ou então anuncio dos planos.

2. A Narração/exposição- É a narrativa dos factos comprometidos na


argumentação.

3. Confirmação- A exposição dos argumentos.

4. Epílogo- É o resumo ou apelo aos sentimentos.

4. Discurso Argumentativo

4.1 Objectivo do texto

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Num texto argumentativo há sempre um objectivo por que se escreve o texto.
Esse objectivo denomina-se intenção comunicativa do texto que o arguente
usa para convencer, persuadir o destinatário, levando-o a aderir a seu ponto de
vista. Expressar uma convicção pessoal através de argumentos.

4.2 Plano de Redacção

Um texto argumentativo escrito prefere o plano que apresenta uma


introdução- que dá conta da matéria a tratar e da tese a aprovar; um
desenvolvimento- que corresponderá a antítese, isto é, aprova e contra-prova
da tese, através da exposição e do jogo dialético dos argumentos; e uma
conclusão- correspondente a síntese, onde se manifesta o ponto a que se
chegou após a demonstração feita.

O encadeamento das ideias apresentadas e dos argumentos expostos deve


respeitar uma progressão interna: levantamento e apresentação das
características e dos traços marcantes da situação, do problema ou do facto a
tratar (funcionando como uma espécie de discrição dos elementos e dos
aspectos essências do assunto ou da matéria em apreço); organização
cronológica dos factos ou aspectos significativos, realçando a ordem do seu
surgimento; demostração da validade da tese apresentada, através de
argumentos pertinente; inclusão de elementos de prova, que validem as
opiniões expressas (provas, exemplos, citações)

4.3 Lógica Argumentativa

Na perspectiva de Figueiredo (2004:192), a lógica argumentativa pressupõe eu


as asserções argumentativas que se organizem de um determinado modo:

a) Premissa- (asserção de Partida) constitui a ideia dada à partida.


Ela pode incidir em seres – atribuindo-lhes propriedades-, ou em
acções ou em factos.
b) Argumentos- (uma ou varias asserções de Passagem) explicam
a ligação de causalidade que une A e B. os augumentos podem
ser implícitos ou explícitos.

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c) Conclusão- (Asserção de chegada) é o resultado, representa uma
ligação com a premissa. Esta ligação pode der de causa (A
porque B) ou de consequência (A logo B). iii

Exemplos elucidativos: (2º conjunto) “Está enevoado. Leva o guarda-chuva”.

Premissa (A) - Está enevoado.

Conclusão (B) - Leva o guarda-chuva.

Argumentos (implícitos) - “Quando está enevoado normalmente vem chuva;

quando chove é preciso um guarda-chuva.” Figueiredo

“ O filme começa as quatro horas. Já são três horas e trinta e acabo de lhe telefonar e
ela ainda está em casa. Como a viagem demora uma hora, é evidente que ela não
chega a tempo de ver o filme.”

Premissa - “ O filme começa as quatro horas”

Argumentos (explícitos) “São três horas e trinta; ela ainda está em casa; a viagem
demora uma hora.”

Conclusão - “Ela não chega a tempo.”

Os princípios lógicos subjacentes a uma argumentação revelam-se através de


marcas gramaticais presentes na articulação de sequências textuais, de
parágrafos, de períodos e de frase. Essa articulação estabelece relações
cronológicas e relações logicas, podendo estas ser, entre outras de:

a) Conjunção (adição de dois elementos A e B)


b) Disjunção ( alternativa entre dois elementos A ou B)
c) Oposição (relação de contraste ou contradição de dois elementos A ≠ B)
d) Causa/efeito/consequência (o segundo elemento explica o primeiro e vai
dar origem ao terceiro A← B→ C)
e) Antecedente/ consequente (o primeiro elemento precede o segundo, este
o terceiro e assim sucessivamente A→ B→ C).

Nota: Estas relações lógicas são expressas para além de elementos


gramaticais o recurso a pontuação.

4.4 Instrução Argumentativa e Orientação Argumentativos

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No discurso argumentativo é importante falarmos destas duas grandes
propriedades a instrução e orientação argumentativa.

Instrução Argumentativa- é o conjunto de indicações sobre a forma ou maneira


de atribuir o sentido a enunciação. Esta instrução determina a orientação
argumentativa, que é a propriedade argumentativa dos enunciados que
especifica o encadeamento desses enunciados ou melhor argumentos; Esses
argumentos podem ser de dois tipos:- Co Orientados ou Anti Orientados

Movimento discursivo

Argumentação Mov. discursiva

Instrução Argumentativa

Orientação Argumentativa
Concessivo Consecutivo conclusiv
Argumentos o

Có- orientadores Anti-orientadores

Marcas da Argumentação A B

Causa-------------Efeito

Marcas Axiológicas operadores Conectores

Argumentativos argumentativos

(Adjectivos) (Advérbios) (Conjunções e outros)

5. Procedimentos Semânticos

Um argumento repousa numa representação social que consensualmente


partilha de certos valores. Estes valores distribuem-se por vários domínios de
avaliação.

a) Avaliação de Verdade- verdade/falso


b) Avaliação Estética - bonito/feio;
c) Avaliação Ética – bem/mal e refere-se ao mundo da moral

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d) Avaliação Hedónica – agradável/desagradável
e) Avaliação Pragmática - Útil/Inútil

Marcas de Argumentação-- Marcas Axiológicas— São morfemas-Adjectivos


que realizam eufórica ou disforicamente o sujeito.

ADJECTIVOS AXIOLOGICOS

OBJECTIVOS
SUBJECTIVOS

Aqueles cuja classificação

não depende do individuo. Ex: solteiro, quadrado


AVALIATIVOS
AFECTIVO

Ex- engraçado
NÃO
AXIOLOGICOS
Assustado AXIOLOGICOS
Contente grande
bom

Triste Curto
mau

Longo falso

6. Procedimentos Linguísticos
Os argumentos apoiam-se, estrategicamente, não só nos domínios de
avaliação, mas também na estruturada língua. Essa estrutura participa de
forma variada na articulação argumentativa do discurso , assim se
descrevem:
a) Organização lógica da argumentação (recurso a articuladores lógicos,
actos de fala argumentativos);
b) Locutor presente no enunciado (juízos de valor, opiniões, pontos de vista
pessoais);
c) Modalização (grau de certeza sobre as afirmações apresentadas);
d) Fins persuasivos (explicações, exemplos);
e) Recurso predominante a frases declarativas e interrogativas (perguntas

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retóricas);
f) Presença de verbos declarativos (afirmar, considerar, alegar, etc.);
g) Utilização frequente do verbo ser ou equivalente na elaboração da tese;
h) recurso a verbos que indicam uma relação entre a causa e o efeito
(causar, motivar, ocasionar, originar, provocar, etc.)
Nota: Lembrem-se que a causalidade é o fundamento da relação
argumentativa.

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Exemplos de Textos Argumentativos

Texto A.
Odeio telefonemas e telefones
Gosto de atendedores

Tal como o fax, são um suplemento de decência e de civilização. O recado que


se deixa ou fax que se manda é a versão moderna do bilhete o da carta. Ficam
gravados. Podem ouvir-se e responder-se quando se quiser. O telefonema sem
a mediação de um atendedor, é uma imposição, uma surpresa, uma
interrupção incómoda, provocada por uma parte sobre a outra. É malcriado
telefonar. É como aparecer em casa sem dizer nada. Odeio as pessoas que,
antes de aparecer em casa, telefonam primeiro, como se telefonar não fosse já
uma invasão e uma falta de respeito. O que é inaceitável no telefonema é
fascismo do “trrim, trrim, trrim”, inculcando no destinatário o terror primeiro do
alarme e da sirene, obrigando-o a levantar o auscultor e a falar com sabe-se lá
quem, só para parar a barrulheira. […] Para deixar um recado num atendedor
ou mandar um fax é preciso pensar um bocadinho primeiro. É nesse pequeno
sacrifício que sobrevive o resíduo social e civilizado da comunicação.
Os atendedores e os faxes restituem aos contactos sociais, sempre marcados
por identificações concretas e barreiras convenientes, uma possibilidade
civilizada de distanciação e recato.
O telefonema arruinou a minha geração e as seguintes. Não sei escrever um
postal, nem me apetece.
A única forma de comunicação de que sou capaz é o fax. É um milagre de
silêncio e de timidez.
É honesto porque toda agente (não só o destinatário) lé.
É bonito porque deixa um registo. Não faz barrulho. Não exige uma resposta
imediata.
O fax é o regresso no fim do século XX ao seculo XIX.

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Palavras, leva-as o ar. E o ar é sujo não merece. Deixe um recado, mande um
fax ou um postal, marque um encontro, sempre que puder. E, se não puder, ao
menos faça um favor a toda gente e não chateie.
M.E Cardoso, Independente, 4/3/94
In. Figueiredo e Bizarro, Gramatica da língua Portuguesa

Análise do Texto A.
Sobre as linhas de leitura e de compreensão
Tema
O objeto de debate é dado logo no título: Odeio telefonemas e telefones. Gosto de
atendedores.

Teses
Ao longo do texto, há um confronto entre duas teses: uma favorável aos
atendedores e aos faxes; outra adversa aos telefones e telefonemas.

Argumentos
Há uma reiteração de argumentos a favor da tese defendida (o atendedor e o
fax) ‟são um suplemento de decência e civilização” ‟restituem aos contactos
socias […] uma possibilidade civilizada de distanciação e de recato”, etc. é
argumentos a favor da tese combatida‟ os telefonemas […] é uma imposição,
uma interrupção incómoda”, etc.

Domínios de avaliação
Os argumentos expressam, sobretudo, valores de ética ‟… são um suplemento
de decência e de civilização. É malcriado telefonar; falta de respeito; é nesse
sacrifício que sobrevive o resíduo social e civilizado; é honesto… é bonito
porque deixa um registo […]

Estratégias argumentativas
A organização do texto assenta numa dinâmica opositiva que se verifica na
disposição dos argumentos: argumentos a favor de uma tese e argumentos
contra outra tese.

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Linguisticamente, a oposição assenta no léxico: imposição, incómoda,
malcriado, invasão, falta de respeito, inaceitável, fascismo, terror, primeiro,
arruinou / docência, civilização, versão moderna, resíduo social e civilizado,
possibilidade civilizada, milagre, honesto, bonito, não faz barrulho… e na
disposição dos parágrafos.

Semanticamente, a oposição assenta, sobretudo, em valores éticos de bem


(os atendedores e os faxes) e de mal (os telefonemas e os telefones).

Relação dos argumentos


A relação é sobretudo de ‟causalidade”. Os argumentos, na sua maioria,
relacionam-se entre si por meio da relação logica (embora a conjunção esteja
implícita) de causalidade. O sujeito-argumentador explica ‟porque” odeia
telefones e telefonemas e ‟porque” gosta de atendedores e de faxes.

Docente da cadeira: Luís Carlos Pires


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TEXTO - B

Meus Caros Companheiros


Tomei uma decisão importante: não vou redigir nenhuma dissertação porque
não tem valor algum para mim. Sei que essa atitude poderá ser mal
interpretada e provocar represálias. Estou certo, porem, que vocês irão
compreender-me quando o analisarem as minhas razoes.

Como sabem, sou péssimo aluno – candidato certo à reprovação. Não será,
portanto, a falta desse exercício que ira reprovar-me. Por outro lado, tais
subtilezas não se coadunam com o meu tipo de inteligência.

Não me venham dizer que o exercício será útil para a minha formação.
Suponhamos que eu faco a dissertação. Que significado terá? Nenhum, pois
irei fazer uma Redacção que nada representará para mim.

Dirão vocês: ”se fizer a dissertação, nós seremos prejudicados e, por isso,
ajustaremos as contas.” Ora, todos sabemos que cada qual deve assumir a
responsabilidade dos seus actos. Com duas palavras provo isso ao professor
e, portanto, o grupo não será prejudicado.

Em suma, como já estou reprovado, como não vou fazer uso desse
conhecimento, como não quero perder tempo com trabalho fora do meu
alcance, que, de resto, não será útil para minha formação, como ninguém ficará
prejudicado com tal atitude, não vou escrever a dissertação, que não tem valor
algum para mim.

Wladimar Oliveira, in: Português em Dinâmica de Grupo.

Docente da cadeira: Luís Carlos Pires


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i
Refere-se ao emissor, argumentador, arguente
ii
De acordo com as literaturas disponíveis, as designações podem variar, mas os elementos de cada momento são
sempre os mesmos.
iii
Recomenda-se ao estudante o aprofundamento da relação causa/efeito-consequência. Ver relação de subordinação
(orações subordinadas causais e as consecutivas) – procedimentos linguísticos.

TEXTO – C

O Estado, os Clubes e as Claques


Os CLUBES de futebol dispõem de um poder absolutamente desproporcionado na
sociedade portuguesa. É certo que desempenha um importante papel federador de afeitos
coletivos e inclinações individuais para a prática do desporto que se devem considerar
socialmente positivo. Mas, por isso mesmo, os clubes não se podem considerar
organizações à margem da Lei – protegidas por exceções à regra das normas impostas
as instituições, empresas ou cidadãos.

Para além da tolerância estatal em matéria de dívidas, irregularidades dos bingos e outras
práticas condenáveis, assiste-se a uma complacência prolongada e inadmissível no que
se refere à existência e actividades das chamadas claques futebolistas. Depois do que
aconteceu na final da taça de Portugal o estado tem de rever drasticamente a sua relação
com os clubes e, de forma muito concreta, o modo como tem sido enquadrada a atuação
das claques.

Não é admissível que o estado continue a ignorar esse fenómeno degradante da atividade
desportiva, que é a existência organizada de espectadores - em núcleos apadrinhados
pelos clubes - cujo comportamento se orienta pelas histerias coletivas, o apetite pela
violência e, nomeadamente, pela tendência pela manifestação tribais e selvagens, de tipo
nazi e fascista, contra os adeptos dos clubes adversos. O mínimo que o estado pode
fazer contra isso é responsabilizar diretamente os clubes pela segurança dos respectivos
estádios e comportamento dos seus adeptos, como acontece em outros países da europa
em que o ”hooliganismo” assumiu proporções preocupantes. Mais e provável que isso não
seja já suficiente em Portugal, onde a capacidade de controlo e enquadramento da
selvajaria nos estádios se depara com a impotência e falta de meios das forças de
segurança.
Há, então, que ter coragem para levar a cabo uma coisa muito simples: cortar todas as
espécies de subsídio, vantagem e ”tolerâncias” aos clubes que não extingam desde já,
formalmente, as suas claques, proibindo-as de utilizar instalações e de recorrer a
facilidades de transporte e acesso a lugares nos estádios.

Para além de outros motivos, o predomínio das claques sobre a assistência aos jogos de
futebol tem contribuído, em larga medida para afugentar os espetadores que apenas
pretendem descultar o prazer do espetáculo ou manifestar de forma calorosa mas
civilizada o apoio à equipa do seu coração.

A histeria das claques não suscita apenas problemas de segurança e de criminalidade


encapotada no anonimato coletivo das bancadas. Tornou-se já um pretexto para
extravasão destinto selvagem que ultrapassam a identificão afetiva com os clubes que se
defrontam no campo. É a barbárie mais primária – e mais cobarde – que tendem a
colonizar o espaço desportivo. Se o Estado não rejeita liminarmente essa perversão,
colocando os clubes perante as suas responsabilidades, isso significa que se tornou
prisioneiro e cúmplice da lei da selva do futebol.

In, Público 24.05.1996

Aplicação de Conhecimento

Exercício nº1 –
Sobre o Texto B. responde:

1. Indique a tese defendida no texto “Meus Caros Companheiros”


2. Extrai do texto os argumentos que articulista se serve para validar a sua tese?
3. De acordo com os argumentos apresentados, a tese é justificada ou refutada?
Justifique.
4. Que domínios de avaliação predominam nos argumentos expressos pelo
arguente? Demonstre com exemplos elucidativos.
5. Estabelece a relação argumentativa existente entre a tese a conclusão.
5.1 Que procedimentos/estratégias linguísticas e semânticas testemunham a relação
argumentativa selecionada em 5.
Bibliografia Consultada

1. DIAS, et al. Em português claro. Porto: Porto Editora, 2006.

2. FIGUEIREDO, O; M e BIZARRO, R. Da Palavra ao texto - Gramática de


Língua Portuguesa. Porto, ASA, 1994.

3. Ribeiro, et al. Gramatica Moderna da Língua Portuguesa. Escolar Editora,


Lisboa,2010

4. REI, J. E. Curso de Redacção II. Porto, Porto Editora, 1995.


i. . Tomei uma decisão importante: não vou redigir nenhuma dissertação porque não
tem valor algum para mim
ii. Como sabem, sou péssimo aluno – candidato certo à reprovação. Não será, portanto,
a falta desse exercício que ira reprovar-me. Por outro lado, tais subtilezas não se
coadunam com o meu tipo de inteligência.
iii. É justificada. Porque ele era candidato certo à reprovação, Suponhamos que eu faco
a dissertação. Que significado terá? Nenhum, pois irei fazer uma Redacção que nada
representará para mim.
iv. (...)Não tem valor algum para mim; Que significado terá? Nenhum, pois irei fazer
uma Redacção que nada representará para mim; não será útil para minha formação;
não vou escrever a dissertação.
v. A relacao argumentativa existente entre a tese e a conclusao é de causalidade, como
ilustra a passagem textual: não vou redigir nenhuma dissertação porque não tem
valor algum para mim.
vi.

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