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autores.
Mara Regina Lemes De Sordi; Bruno Damien da Costa Paes Jürgensen; Marcos
Henrique Almeida dos Santos [Orgs.]
CDD – 370
4
2.
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO À LUZ DAS
CONCEPÇÕES DE SER HUMANO
Introdução
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dialeticamente decorre do modo de produção e reprodução da
totalidade do ser social.
Na segunda parte, encontram-se sinteticamente descritas duas
concepções de ser humano que se encontram manifestas na
realidade hodierna, embora formuladas há séculos: a liberal e a
materialista histórico-dialética.
Na terceira parte, é afirmado que a avaliação da qualidade dos
processos educativos varia também conforme as concepções de ser
humano presentes no contexto vivido. Assim, são apresentados,
sinteticamente, os tipos de avaliação do processo educativo
decorrentes da concepção liberal e da materialista histórico-
dialética de ser humano.
Na conclusão, ideias e argumentos arrolados ao longo do texto
são retomados, com vistas a confirmar a tese anteriormente
exposta: os diversos tipos de avaliação do processo educacional
guardam concepções de ser humano que lhe são próprias, de modo
que para bem conhecer determinado sistema de avaliação, cabe
perscrutar as concepções antropológicas que tem.
Com tal configuração, este capítulo pode interessar a um
público amplo, como o de estudantes de graduação na área das
ciências humanas, sociais e sociais aplicadas, particularmente, a
discentes dos cursos de Pedagogia e das licenciaturas, como
também a pós-graduandos(as), pesquisadores(as) dedicados(as) ao
debate e à investigação da educação como processo de formação
humana, articulado dialeticamente à dinâmica concreta de
produção e reprodução da vida social.
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normas que regulam as ações individuais e coletivas) e de sentir
(formas pelas quais as coisas afetam as pessoas; aspecto relativo à
percepção, à sensibilidade e à estética).
Assim concebido, é evidente que o ser humano não nasce
pronto, acabado, finalizado. Ele é inconcluso e tem consciência
disso (FREIRE, 2005), do que decorre que “[...] necessita produzir
continuamente sua própria existência” (SAVIANI, 1992, p. 19) em
busca de “ser mais” (FREIRE, 2005, p. 83). É esse processo de
formação do ser humano por ele mesmo, em vários ambientes
sociais, escolares ou não, que é chamado de educação. Ela é, pois,
uma práxis, no sentido atribuído ao termo por Vázquez: “[...]
atividade material do homem que transforma o mundo natural e
social para fazer dêle (sic!) um mundo mais humano” (1977, p. 3).
Desta feita, como práxis, a educação é compreendida como
processo de formação humana, isto é, a “[...] educação [é] a
mediação no seio da prática social global” (SAVIANI, 1983, p. 77),
concepção que “[...] nem nega[m] que a educação tem papel ativo
na sociedade, nem recusa[m] reconhecer seus condicionantes
histórico-sociais. Ao contrário, considera[m] a possibilidade de agir
a partir dos próprios condicionantes históricos” (LUCKESI, 1994,
p. 49). Desse entendimento decorre entender o trabalho pedagógico
como “[...] ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada
indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e
coletivamente pelo conjunto dos homens.” (SAVIANI, 1992, p. 21).
O processo educativo, isto é, de formação do ser humano por
si mesmo, já que é inacabado, não ocorre de modo natural,
espontâneo, sem intencionalidades. Diversamente, todo e qualquer
processo educativo segue determinadas diretrizes, implícitas ou
explícitas, que decorrem do tipo de sociedade onde está inserido.
Nas palavras de Ponce, tem-se que:
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Em outras palavras, a sociedade informa a educação sobre como
ela deve se desenvolver e que tipo de ser humano deve produzir por
meio dos processos de ensino-aprendizagem escolares e não
escolares, os quais, por sua vez, contribuem para constituir a
sociedade tal como é, em determinado tempo e lugar. Essa relação
entre sociedade e educação desenvolve-se, então, de modo imbricado,
interrelacionado, interativo, intercomunicativo, com interferências
mútuas, ações recíprocas, ou seja, é uma relação de tipo dialética.
Isso toma lugar na vida social porque, embora se tenha vários
conceitos de sociedade, grande parte deles, de algum modo, a ela
se reporta como sendo um conjunto de indivíduos que mantém
entre si relações econômicas, sociais, políticas e culturais,
desenvolvidas em determinado tempo e espaço. Se sociedade é um
conjunto de indivíduos, a diretriz que ela fornece aos processos
educativos se apresenta como um modelo ideal de ser humano a
ser formado na escola e fora dela (nas famílias, igrejas,
organizações, instituições e movimentos sociais de diferentes
tipos...), um paradigma de ser humano que lhe é adequado,
porquanto corresponde às necessidades sociais vigentes. De fato,
“[...] importa interpretar a educação como uma instância dialética
que serve a um projeto, a um modelo, a um ideal de sociedade”
(LUCKESI, 1994, p. 49).
Assim, cabe mencionar que em toda sociedade há um modelo de
ser humano que é predominante nas relações sociais, porque lhe é
apropriado, ou melhor, é necessário à própria reprodução do modelo
de vida vigente. Contudo, em todas as sociedades não há apenas um
modelo de ser humano presente: há os hegemônicos, sem dúvida, que
predominam nos vários níveis e modalidades da educação, mas há
também os outros, que lhe são alternativos, que lhe opõem.
Os vários indivíduos, grupos, movimentos, organizações,
instituições, classes e frações de classes sociais, na concreta
dinâmica da vida social, disputam-lhe os rumos econômicos,
sociais, políticos e culturais e, nesse processo, cada qual apresenta
o próprio padrão de ser humano, um paradigma humano que
expressa os interesses e as necessidades correspondentes ao
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modelo de sociedade que cada qual defende. Desse modo
compreendida a relação dialética entre educação e sociedade, os
processos de ensino-aprendizagem que se desdobram na escola e
fora dela não são neutros política-ideologicamente e jamais
alcançarão essa condição que hoje alguns defendem2, pois “Toda a
relação de ‘hegemonia’ é necessariamente uma relação
pedagógica” (GRAMSCI, 1999, Cad. 10, § 44, p. 399), assim como
toda relação pedagógica implica determinada relação de poder.
Todo tipo de relação social demanda um modelo de ser
humano que esteja apto a dela participar porque lhe é aderente e,
como tal, capaz de reproduzi-la objetiva e subjetivamente com as
ações que desenvolve. O corolário dessa assertiva é que, se o
contexto grego antigo demandou o ser humano formado
integralmente pela paidéia, na Idade Média europeia, o humano
apropriado àquela configuração societal era o de fé católica cristã,
e na modernidade ocidental foi o ser humano racional, livre das
crenças e tradições feudais.
Contudo, mesmo nos contextos citados, não havia apenas e tão
somente um ideal de ser humano, mas vários, embora um deles
tenha ocupado a posição hegemônica, porque expressou as
relações sociais em vigência. Além dele, não obstante, haviam
outros, que lhe eram alternativos, opostos, contraditórios.
E como são forjados os modelos ideais de ser humano em cada
sociedade, que determinam e são determinados, dialeticamente,
pelas relações sociais? Eles são produzidos historicamente pelas
forças sociais que interatuam na definição dos rumos da vida social.
São forjados pelo conjunto de forças sociais presentes em cada
tempo e lugar. Quando se altera o tipo de vida social, o modo de
produção da existência humana, como ocorreu do comunismo
primitivo ao escravismo, do escravismo à servidão, da servidão ao
trabalho assalariado, do trabalho assalariado à economia
planificada, altera-se também a concepção de ser humano
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predominante no contexto, retroalimentando o processo, mas sem
deixar de existir concepções opositoras à hegemônica, mesmo que
sejam minoritárias.
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autossuficiente. Assim concebido, Locke (1991) o percebeu como
ser que nasce com direitos dados por Deus: a vida, a propriedade
do próprio corpo e a liberdade, direitos que lhe são, portanto,
naturais (não criados socialmente). Os humanos podem deles
usufruir, isto é, estão aptos a dispor do corpo para, em um ambiente
de liberdade, adquirir novas propriedades, que passam a serem
vistas como legítimas e legalmente suas. Assim sendo, a
propriedade privada é entendida como um direito natural do
indivíduo que, por sua livre iniciativa e trabalho, em busca de seus
próprios interesses (Smith – 2003), atuando em um ambiente de
liberdade, poderá produzir o bem-estar pessoal, que
necessariamente resultará, pela ação de uma “mão invisível”, no
bem-estar coletivo.
Nas últimas décadas, o metabolismo social do capital deixou-
se enveredar pelo neoliberalismo, radicalizando o princípio do
interesse próprio - presente no clássico liberalismo - como guia para
as práticas sociais e abandonando o mínimo de teses morais,
ligadas ao bem-estar social, que nele havia. Com o neoliberalismo,
que toma o mercado como novo demiurgo do mundo, tudo e todos
são reificados para serem mercantilizados, com valor passível de
ser expresso quantitativamente.
Não é preciso muito esforço cognitivo para deduzir do exposto
que essa concepção liberal de ser humano desconhece que as
circunstâncias histórico-sociais incidem sobre os indivíduos,
limitando-os ou estimulando-os, haja vista, por exemplo, a situação
limítrofe vivida pela comunidade negra no Brasil e em outros
países, de um lado, e as condições de vida dos indivíduos brancos
pertencentes à elite econômica, de outro, que lhes possibilitam
melhor se saírem na concorrência econômica, social, política e
cultural com os demais. Mesmo assim, os liberais entendem que a
situação de vida de cada indivíduo ou grupo social são
decorrências da competência de cada um, são méritos deles
próprios, desconhecendo ou não reconhecendo as determinações
da vida social. Por isso, a diretriz para a ação que impõem a todos
e todas é a de que cada indivíduo tem que ser empreendedor(a) de
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si mesmo(a), competindo com os(as) demais no mercado (local
onde atuam agentes econômicos, no qual fazem a troca de bens,
mercadorias e serviços por unidades monetárias ou por outros
bens, mercadorias ou serviços). Desse modo, cabe ao indivíduo
dirigir suas ações pelo interesse próprio, o que faz com que, no
contexto hodierno, no qual a racionalidade estruturante das
relações sociais é a liberal (ou neoliberal), se tenha diminuído a
dimensão pública e ampliado a dimensão privada da vida social,
reduzindo cada vez mais os espaços para ações que visem ao bem
comum, porque o centro da vida social é o interesse próprio.
De outro modo entende o ser humano o materialismo
histórico-dialético. Ele adota “[...] o princípio de que o homem é
para o homem o ser supremo” (MARX, 2002, p. 53, grifos do autor),
pois “[...] somos ‘criadores de nós mesmos’, da nossa vida, do nosso
destino” (GRAMSCI, 1999, Caderno 10, § 54, p. 412).
Diferentemente de uma mônada, para o materialismo
histórico-dialético, o humano é, fundamentalmente, um ser de
relações, “[...] é um processo, precisamente o processo de seus atos”
(GRAMSCI, 1999, Caderno 10, § 54, p. 412). Ele não se reduz à
dimensão individual, como afirma o liberalismo, pois “[...] deve-se
conceber o homem como uma série de relações ativas (um
processo), no qual, se a individualidade tem a máxima importância,
não é todavia o único elemento a ser considerado” (GRAMSCI,
1999, Caderno 10, § 54, p. 413).
Assim concebido, o humano passa a ser entendido como tendo
a existência caracterizada como uma totalidade com, basicamente,
três dimensões articuladas histórico-dialeticamente, quais sejam: a
natural, a sociopolítica e a cultural-simbólica (cf. MARTINS, 2008;
SEVERINO, 1994).
O humano é ser natural porque integra a natureza, ou melhor,
é natureza, é ser físico-biológico, que sobrevive com a prática
produtiva que desenvolve (trabalho3), por meio da qual transforma
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a natureza, colocando-a a serviço de suas necessidades. Contudo, o
ser humano não desenvolve o trabalho isoladamente,
individualmente, mas socialmente, em conjunto com outros
indivíduos em determinado contexto, o que o faz, também, um ser
social, cuja existência é caracterizada pela prática sócio-política,
que o possibilita construir as estruturas sociais viabilizadoras da
produção da existência. Na dimensão sociopolítica, o poder é
elemento determinante. Trabalhando para garantir a existência e
exercitando o poder ao longo da história, para viabilizar as
estruturas materiais (economia) e imateriais (como o direito e
justiça, por exemplo), que lhe são necessárias ao existir, a
humanidade produziu sentidos (rumo) e significados (valor) a
esses processos e aos produtos deles resultantes, construindo todo
um universo não natural, subjetivo e intersubjetivo,
superestruturado, aqui identificado como sendo a dimensão
humana cultural-simbólica. Nesta seara, o humano tem na
linguagem o elemento marcante, porque por ela pode expressar os
sentidos e significados dos produtos e processos que produz ao
buscar garantir a própria existência. Desse modo caracterizadas as
dimensões que identificam o ser humano como totalidade, cabe
dizer que elas não são estanques, separadas, mas articuladas
dialeticamente na práxis histórica, até porque deve se tomar a “[...]
mediação como uma categoria elementar ao paradigma marxiano”
(MARTINS; MARQUES, 2017, p. 62).
controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como
uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo [...] a fim de
apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana.
Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica
a própria natureza. [...] Pressupomos o trabalho sob a forma essencialmente humana.
Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de
um arquiteto ao construir a colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor
abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade.
No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente
na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual
opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira”. (MARX,
1999, p. 211 e 212).
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Em síntese, pode-se dizer que, para o materialismo histórico-
dialético, o humano é um ser natural, sociopolítico e cultural-
simbólico, isto é, ser que, historicamente, com o trabalho, com as
relações de poder e com a linguagem, constrói-se a si mesmo, produz
a própria natureza humana, bem como o mundo ao redor em todas
as dimensões objetivas e subjetivas que o identificam. Assim,
50
Considera-se impossível realizar um ato avaliativo sem atender aos
pressupostos de ordem filosófica e às concepções de homem, de mundo e de
sociedade que acompanham este ato, pois a complexidade do fenômeno
avaliativo está permeada por valores, bem como por aspectos culturais, éticos,
políticos e ideológicos – e todos esses intervenientes influenciam a dinâmica
social da avaliação. Frente a essas afirmações, destacamos que a avaliação se
constitui como um termo histórico e social, desde sua origem até suas diversas
aplicações, pois toda postura avaliativa adotada, cada enfoque, representa o
tipo de sociedade que ela quer servir (SOUZA, 2018, p. 53).
51
produz efeitos públicos de grande importância para as sociedades”
(DIAS SOBRINHO, 2003, p. 93).
Caso se adote como referência à avaliação a concepção liberal
de ser humano, isto é, como escopo do processo de formação
humana o indivíduo que se basta a si mesmo, independentemente
das condições histórico-sociais, os resultados esperados é que a
escola (se a educação avaliada for a escolar) se volte à produção de
competências individuais, cuja aferição da qualidade ocorre por
sistemas centrados na identificação quantitativa do mérito de cada
um(a), o que possibilita a expressão por meio de ranqueamento.
Apesar de esse processo afetar todos os tipos de avaliação, como é o
caso da avaliação da aprendizagem e da avaliação institucional (cf.
FREITAS; SORDI; MALAVASI; FREITAS, 2009), na configuração
hodierna do cenário educacional, ganham centralidade as avaliações
em larga escala (de sistemas e de políticas educacionais)4, que são
externas5 ao contexto em que o processo educativo se processa
(desenvolvida por governos, instituições estatais e/ou extra estatais,
organizações multilaterais/multinacionais) e sem diálogo e
participação dos sujeitos educativos, com testes padronizados, por
vezes, mundialmente, fornecendo um diagnóstico universal com a
divulgação dos resultados (accountability), o que propicia a
retroalimentação das demais avaliações e dos processos educativos,
tensionando-os a se reformularem. Na verdade, “os resultados das
avaliações passam a guiar a vida escolar” (FREITAS, 2018, p. 82).
por órgãos externos à escola. Ela é pensada e montada fora da escola, mesmo que
seja aplicada pelos professores da própria instituição de ensino, podendo ser de
larga escala ou não.” (SANTANA, 2018, p. 38)
52
Nesse processo, as condições materiais e imateriais de vida de
cada educando são desprezadas, não contempladas nos
diagnósticos, como é o caso da situação econômica e do capital
cultural que guarda cada indivíduo (duas condições que estão
articuladas na realidade concreta), desconhecendo ou não
querendo reconhecer as interferências do contexto no desempenho
de cada estudante. Diminui-se, sobremaneira, a incidência de
aspectos econômicos e histórico-sociais, observados
qualitativamente, no processo avaliativo, e amplia-se,
desmedidamente, a preocupação em evidenciar os aspectos
quantitativos, embora toda métrica quantitativa guarde aspectos
qualitativos também.
Esse sistema de avaliação constitui-se como seletivo e
classificatório, portanto, excludente. Dele resulta, entre outras, a
culpabilização individual do(a) educando(a) e/ou do(a) educador(a)
pelo desempenho estudantil, ou das escolas, isoladamente, pela
qualidade do processo de ensino-aprendizagem desenvolvido nos
limites de suas cercanias. Desse modo, são criadas as condições para
premiar-punir (o sistema meritocrático de bônus já foi implantado
em algumas redes de ensino público, como é o caso do Estado de São
Paulo) os(as) que obtiveram ou não sucesso na competição
estabelecida no interior dos sistemas de ensino.
Em síntese, quando o sistema de avaliação toma como
referência a concepção liberal de ser humano, induz-se que as
escolas sejam regidas por uma tecnocracia habilitada a administrá-
las segundo a lógica empresarial (“gerencialismo”6), com vistas a
obter o sucesso na competitividade com seus pares, considerando
a eficiência e a eficácia como foco, motivada pela meritocracia e
53
orientada pelas ideias de gestão, planejamento, previsão, controle
e êxito, o que é próprio dos agentes que atuam no mercado. De fato,
54
diagnosticar o processo de ensino-aprendizagem e tomar decisões7;
se for o caso, definir mudanças de rumo, mas sempre em diálogo, ou
melhor, com a participação dos sujeitos envolvidos no processo, algo
não contemplado nas avaliações externas, porque não são
comprometidas com a emancipação dos sujeitos educativos,
porquanto os toma como instrumento a manipular segundo a
racionalidade técnica do mercado. Como bem destacou Freitas,
55
diagnosticar, descrever o processo educativo, mas a produzir
subsídios para que os próprios sujeitos educativos possam
conhecer o processo de formação do qual estão participando como
educador(a) ou educando(a) e, desse modo, reorientá-lo com vista
a se re-construírem e re-construir o mundo ao redor. Isso é um
posicionamento político, que exige
[...] abrir espaço para pensarmos a educação com outra concepção, que nos
permita exercitar uma responsabilização horizontalizada e participativa, na
qual estudantes, professores, pais e gestores em todos os níveis se abram
para uma gestão democrática da escola, com a perspectiva de uma escola
pública de gestão pública. (FREITAS, 2018, p. 129)
À guisa de conclusão
56
Por fim, cabe dizer do exposto que a resistência ao processo da
educação como promotora da reificação humana exige que as
forças sociais que se posicionam contra a hegemonia vigente
tenham muita clareza da concepção de ser humano que pretendem
formar pelos processos educativos e ela deve ser a de um sujeito
emancipado, apto a produzir a própria história e não a se deixar
levar pela racionalidade reinante nas relações sociais.
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