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Sociologia da Educação

Mário Jorge Brasil Xavier


Prof. de Sociologia (UEPA)
Educação: um fenômeno social

• Educação no sentido amplo: próxima da maneira informal como os


elementos culturais são transmitidos geração após geração (educação
familiar, por ex.)
• Educação no sentido restrito: sistema educacional moderno instituído
através das escolas onde o conhecimento é passado através de diversas
disciplinas.

• Cultura: amplo conjunto de conceitos, símbolos, valores e atitudes que


modelam a sociedade. Abrange o que pensamos, fazemos e temos como
membros de um grupo social. Características:
a) adquirida pela aprendizagem, e não herdada pelos instintos;
b)Transmitida de geração a geração, através da linguagem, nas diferentes
sociedades;
c)Criação exclusiva dos seres humanos, incluindo a produção material e
não-material;
d)Múltipla e variável, no tempo e no espaço, de sociedade para sociedade.
Educação: um fenômeno social

• Algumas razões para se afirmar que a educação é um fenômeno


social:
1.Surge e se desenvolve no meio social.
2.No meio social tem o papel de efetuar a transmissão das
conquistas culturais de cada povo: transmissão feita de forma as
vezes tranqüila, outras vezes tensa (tensão dialética: resistência
dos jovens e pressão dos mais velhos).
3.Atribui unidade à cultura e integra os membros da comunidade
cultural.
4.Serve como mecanismo de controle sobre os indivíduos e
promotora da coesão social.
Educação: um fenômeno social

• Por fim, a educação é um fenômeno social porque possui, tal como


Émile Durkheim afirma, as características que compõem um fato
social: a objetividade e a coerção.

1. Objetividade: a educação pode ser tomada como um objeto


concreto passível de ser estudado, observado e analisado
segundo os critérios da sociologia.
2. Coerção: característica pela qual a educação exerce influência
sobre os indivíduos, modificando sua maneira de pensar e se
comportar em sociedade.
Educação: um fenômeno social

• Durkheim ao se referir à finalidade da educação afirma:

(...) conclui-se que a educação consiste numa


socialização metódica das novas gerações. Em cada um
de nós, já o vimos, pode-se dizer que existem dois
seres. Um constituído de todos os estados mentais que
não se relacionam senão conosco mesmo e com os
acontecimentos de nossa vida pessoal; é o que se
poderia chamar de ser individual. O outro é um sistema
de idéias, sentimentos e hábitos, que exprimem em nós,
não a nossa individualidade, mas o grupo ou os grupos
diferentes de que fazemos parte; tais são as crenças
rkheim
Émile Du religiosas, as crenças e as práticas morais, as tradições
17)
(1858-19 nacionais ou profissionais, as opiniões coletivas de toda
espécie. Seu conjunto forma o ser social. Constituir esse
ser em cada um de nós – tal é o fim da educação.
(DURKHEIM, E. Educação e sociologia. 11ª ed. São
Paulo: Melhoramentos, 1978, p. 41-42)
Educação: objeto de estudo da Sociologia

• Abordagem sociológica da educação: sua compreensão como


mecanismo de transmissão das criações materiais e espirituais
(elementos culturais) de um povo; sua compreensão como forma
idealizada deste mesmo povo.

• Tanto do ponto de vista da educação formal, como da educação


informal, o modelo educacional de um período histórico transparece
aquele momento histórico específico.

• O estudo do fenômeno educacional como um fato social


possibilita a compreensão dos grupos, sociedades e ambiente
cultural onde ele se manifesta.
Sociologia da Educação

• Sociologia da educação: estudo da educação como fenômeno social.


(ver definição de Brookover, p. 28)

• Tomando a educação como manifestação de um sistema social, a


Sociologia da Educação também deve estudar os diversos sistemas que
interferem no funcionamento das instituições educacionais: sistema
financeiro (economia), sistema político, problemas sociais, aspectos
ideológicos,...
Sociologia da Educação: áreas de estudo

1) Relação do sistema educacional com outros aspectos da


sociedade: cujos objetivos são o estudo da função da educação
na cultura; da relação da educação com o controle social e os
mecanismos de poder; da função da educação na manutenção
ou modificação das diferenças sociais e culturais; das relações
da educação formal (escola) com grupos raciais, culturais,
políticos, etc.

2) Relações humanas na Escola: estudo dos padrões de


interação social, da estrutura do grupo social formado pelos
membros da comunidade escolar e da natureza da cultura da
escola.
Sociologia da Educação: áreas de estudo

3) Influência da escola no comportamento e na personalidade


de seus membros: estuda a função e os papéis sociais do
professor, natureza e características da formação do professor,
influência do professor na formação do comportamento dos
alunos, e papel da escola no processo de socialização da
criança.

4) Escola na comunidade: influência da comunidade no meio


escolar e da escola na comunidade; estudo de outros modos de
educação desenvolvidos em sistemas sociais escolares da
sociedade; relação escola-comunidade no processo
educacional;...
Sociologia da Educação

• Como analisar a educação pelo prisma da sociologia?: para


realizar uma boa análise sociológica da educação é preciso ter uma
visão científica e tomar esta como um objeto/material de estudo
(p.29).

• Entretanto...

A Sociologia da Educação deve buscar o auxílio de outras


ciências ou áreas que têm a educação como objeto de estudo.
Caso, p.ex., da Psicologia da Educação, da História da Educação e
da Filosofia da Educação.
Sociologia da Educação

• Os estudos sociológicos da educação se situam, originalmente, na


primeira metade do século XX. Neste período, predominava o
chamado enfoque moralista de orientação geral positivista.
Apesar de contribuir grandemente para a legitimação da sociologia
da educação, como campo específico de estudos, o enfoque
moralista mesclava filosofia e ciência, confiante em que o
entendimento sociológico da educação influenciasse o progresso
social.

• Nos estudos sociológicos da educação deve-se destacar a


importante contribuição de Émile Durkheim, na tentativa de
consolidar esta área de estudo.
Sociologia da Educação

• Apesar da existência de inúmeros estudos sobre educação, com


abordagens sociológicas vinculadas à contribuição de Durkheim,
formulados no início do século, podemos afirmar que foi a partir dos
anos 1940, e principalmente nos anos 1950 e 1960 do século
passado, que a sociologia da educação se constituiu como campo
de pesquisa específico, afirmando-se como um dos principais
ramos da sociologia nos países industrialmente desenvolvidos e
também no Brasil.

No âmbito da organização dos sistemas educacionais, as razões


mais gerais que podem explicar esse fenômeno são de duas
ordens: 1º)- aumento do número de escolas; e 2º)- surgimento de
um novo conjunto de proposições com relação à função social da
escola.
Sociologia da Educação: teóricos e autores

• Além de Durkheim, considerado o primeiro a pensar a educação pelo


viés da sociologia, outros nomes se destacam:

• Retoma elementos da sociologia de outro


grande sociólogo, Max Weber (1864-1920), como:
a noção de pedagogia do cultivo e da
necessidade do treinamento.

• Propõe que a sociologia sirva de embasamento


teórico para educadores e educandos, tendo
nheim
Karl Man como objetivo a compreensão da situação
7)
(1893-194 educacional moderna (RODRIGUES, Alberto
Tosi. Sociologia da Educação. 2004, p. 80-81).
Sociologia da Educação: teóricos e autores

• Defendia uma sociedade que fosse democrática.


Mas uma democracia de bem-estar social conseguida
através do planejamento racional e do governo da
sociedade pelos cientistas.
• Para ele, a educação especializada desintegra a
personalidade e a capacidade de compreender de
modo mais completo o mundo em que se vive.

• Mannheim defendia que a modernidade não tem


apenas custos, ou ameaças à liberdade. A
modernidade traz também esperanças e valores
Karl Man
nheim sociais solidários, abertos. A principal contribuição de
7)
(1893-194 todas as que a moderna democracia é capaz de
oferecer é a possibilidade de que todas as camadas
sociais venham contribuir com o processo
educacional (RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia
da Educação. 2004, p. 83).
Sociologia da Educação: teóricos e autores

• Define a educação a partir de dois aspectos centrais:


1.Primeiro, ela deve ser vista como espaço de
socialização, com valores, normas e saberes que
asseguram a integração social;
2. A seguir, como local de seleção natural que deve ter
como objetivo, dentro da ordem e da harmonia, uma
divisão do trabalho cada vez mais complexa.

• Sua visão da educação é classificada como funcional


e evolucionista.

ESQUEMA DA VISÃO FUNCIONALISTA DA SOCIEDADE


rsons
Talcott Pa Adaptação (base material) Objetivos a alcançar (sistema
9)
(1902-197 político)
Integração (sistema educacional) Manutenção pela educação dos
modelos culturais (na
família/pela elite do poder)
Sociologia da Educação: teóricos e autores

• A educação tem importante função na constituição dos


papéis sociais, e as instituições destes permitem a inter-
relação entre os diferentes níveis de análise propostos
por Parsons (sistema cultural, social e individual).

• A revolução educacional de Parsons é central em sua


concepção de modernidade: ela teria reduzido a
ignorância e desenvolvido a capacidade dos indivíduos e
da sociedade de utilizar o conhecimento em prol do
interesse humano e da implementação de valores
modernos.

rsons
• Como Durkheim, Parsons aponta a dupla conseqüência
Talcott Pa do processo educacional, ou seja, contribui ao mesmo
9)
(1902-197
tempo para o processo de individualização e para a
manutenção da integração social.
Sociologia da Educação: teóricos e autores

• Associa modernização, racionalização e educação,


tendo como exemplo a sociedade americana (tida por
ele como mais moderna e evoluída).

• Sua visão da educação a sobrevalorizou como


principal promotora do desenvolvimento e da
integração social.

rsons
Talcott Pa
9)
(1902-197
Sociologia da Educação: teóricos e autores

• Retomou o pensamento de Durkheim, mesclando-o


com outras vertentes.

• Define o campo educacional como um misto de disputa


de poderes, mas com posições já delimitadas pelo capital
econômico e simbólico herdados, e tendendo sempre para
a estabilidade.

• Fenômenos culturais e educação formal


reproduzem as características básicas da estrutura
social e do sistema de poder. Numa sociedade
estratificada, os grupos e as classes dominantes
controlam os significados culturais mais valorizados
rdieu socialmente.
Pierre Bou
)
(1930-2002
• Assim, denuncia a não legitimidade do discurso
meritocrático, base da ideologia liberal-capitalista.
Sociologia da Educação: teóricos e autores

• Um dos principais conceitos do pensamento de Bourdieu


é o de capital cultural, i.e., competência cultural e
lingüística socialmente herdada que facilita o
desempenho na escola.

• Semelhante aos bens econômicos, não é distribuído


eqüitativamente aos grupos e classes sociais. Desse
modo, as possibilidades de sucesso na escola também
são desiguais.

• Assim, o desempenho escolar está ligado às origens


culturais. Aqueles que possuem capital cultural são
rdieu
bem sucedidos. Os que não o possuem ou
Pierre Bou possuem pouco enfrentam barreiras, ou são
)
(1930-2002
excluídos.
• A escola dissimula sua aparente neutralidade,
reproduzindo relações sociais e de poder vigentes.
ANTONIO GRAMSCI

• O pensamento de Antônio Gramsci é


referência obrigatória para análise da relação
entre educação e trabalho.
• Importante também analisar as idéias de
Gramsci sobre a organização da escola
unitária.
• A educação para Gramsci desempenha um
papel fundamental tanto na consolidação da
hegemonia.
ANTONIO GRAMSCI

• Para o autor a hegemonia é assegurada


pelos organismos privados e não
inteiramente pelo Estado.
• A organização escolar, ao lado de outras
instituições da sociedade civil, auxiliam na
consolidação da hegemonia que é
exercida principalmente através da da
cultura e da ideologia.
ANTONIO GRAMSCI

• A escola é o instrumento para formar


intelectuais de vários níveis".
• No sistema educacional tradicional são
formados os intelectuais orgânicos da classe
burguesa que contribuem para a manutenção
da hegemonia.
• Também podem ser formados intelectuais
que têm uma concepção de mundo para além
de seus interesses de classe e auxiliam na
formulação da contra-hegemonia.
Althusser e a Educação - O Aparelho
Ideológico de Estado escolar
• A Revolução Francesa resultou na transferência do
poder do Estado para a burguesia capitalista
comercial, substituindo o AIE mais importante - a
Igreja - pelo AIE escolar.
• A escola se encarrega das crianças de todas as
classes sociais desde a mais tenra idade,
inculcando nelas os saberes contidos na ideologia
dominante (a língua materna, a literatura, a
matemática, a ciência, a história, moral, educação
cívica, filosofia).
• Nenhum outro AIE dispõe de uma audiência
obrigatória por tanto tempo (6h/5dias por semana)
e durante tantos anos – auxiliado pelo AIE familiar.
Uma síntese possível de Louis Althusser.
• Segundo Althusser, a maioria dos professores
sequer suspeita do trabalho que o sistema escolar
os obriga a fazer.
• As ideologias têm existência material, ou seja,
representam o conjunto de práticas materiais
necessárias à reprodução das relações de
produção.
• As condições da produção econômica pressupõem
a reprodução das condições econômicas, políticas
e ideológicas.
– A questão da ideologia é a questão dos
mecanismos ideológicos que têm por efeito o
reconhecimento da necessidade da divisão do
trabalho e do caráter natural do lugar
determinado para cada ator social na produção.
Sociologia da Educação

1º)- A ampliação do aparelho escolar (em particular, a


universalização do ensino médio): este processo colocou ao Estado a
necessidade de um maior conhecimento sobre a população escolar e
sobre o funcionamento dos sistemas de ensino, que permitisse o seu
planejamento e controle.

• Logo, ocorre uma ampliação dos financiamentos para a pesquisa


educacional, principalmente em países como a Inglaterra e os Estados
Unidos, estimulando o desenvolvimento de grandes levantamentos
sobre os sistemas de ensino e produzindo as condições essenciais
para a institucionalização e consolidação da Sociologia da Educação
como campo de estudo específico.

• Este processo coincide, também, com um forte crescimento do gasto


público em educação, considerada instrumento fundamental para o
processo de modernização do período pós-segunda guerra mundial.
Sociologia da Educação

• 2º)- Novas propostas de função social da escola: o cerne desse


novo conjunto de funções da escola está relacionado com o
problema das desigualdades sociais que marcou o pós-guerra.
Nesse momento, a educação surge como o cenário principal de um
intenso debate sobre as desigualdades educacionais e sociais e
como uma das condições principais para democratizar as
oportunidades escolares.

• É nessa direção que se desenvolve uma série de estudos, no


âmbito da sociologia da educação, buscando explicar as
desigualdades entre os grupos sociais, face aos sistemas de
ensino.
As teorias da educação

O problema da marginalidade
TEORIAS TEORIAS CRÍTICO-
NÃO-CRÍTICAS REPRODUTIVISTAS
Pedagogia Tradicional Pedagogia Crítico-Reprodutivista
Concepção de sociedade: Concepção de sociedade:
É marcada pela divisão entre
grupos ou classes antagônicas que
É harmoniosa, tendendo à se relacionam à base da força, a
integração de seus membros. qual se manifesta
fundamentalmente nas condições
Concepção de educação: de produção da vida material.
É conceituada como força Concepção de educação:
homogeneizadora que tem por É entendida como dependente da
função reforçar os laços sociais, estrutura geradora da desigualdade
promover a coesão e garantir a social, e cumpre a função de
integração dos indivíduos no reforçá-la e legitimá-la. É um
instrumento de reprodução da
corpo social.
desigualdade.
Teorias, a Escola e o Ensino
Teorias Não-Críticas Teorias Crítico-Reprodutivistas

•Escola tradicional • Teorias do sistema de


ensino enquanto
(aprender)
violência simbólica.
(Bourdieu e Passeron)
•Escola nova (aprender a
• Teorias do sistema de
aprender)
ensino enquanto
aparelho ideológico do
•Escola tecnicista Estado. (Althusser)
(aprender a fazer) • Teoria da escola dualista.
(Baudelot; Establet)
marginalidade escolar = compreender a
relação educação e sociedade
O problema da educação
• Existem duas teorias que tentam explicar os
fenômenos da escolarização ou a marginalidade:
• Teorias não críticas
– A pedagogia tradicional
– A pedagogia nova
– A pedagogia tecnicista
• Teorias crítico - reprodutivas
– Do sistema de ensino como violência simbólica
– Da escola como Aparelho ideológico do Estado(AIE)
– Da escola dualista
1. Pedagogia ou escola tradicional
2. Pedagogia ou escola nova
3. Pedagogia tecnicista

Teorias não críticas


Teorias não críticas
Na pedagogia tradicional, a educação é vista como direito de
todos e dever do Estado, sendo a marginalidade associada à
ignorância. A escola surge como um "antídoto", difundindo a
instrução.
Na Escola Nova, passa a ocorrer um movimento de reforma na
pedagogia tradicional, na qual a marginalidade não é mais do
ignorante e sim do rejeitado, do anormal e inapto, desajustado
biológica e psiquicamente. A escola passa a ser então a forma de
adaptação e ajuste dos indivíduos à sociedade.
Por fim, o Tecnicismo define a marginalidade como ineficiência,
improdutividade. A função da escola então passa a ser de
formação de indivíduos eficientes, para o aumento da
produtividade social, associado diretamente ao rendimento e
capacidades de produção capitalistas.
As teorias não críticas
• Consideram apenas a ação da educação sobre a sociedade
• Encaram a educação como autônoma e buscam
compreendê-la a partir dela mesma
• Acreditam que a escolarização é um instrumento de
equalização social ou superação da marginalidade
• Olham para a sociedade como harmoniosa, tendendo a
integrar os seus membros
• Marginalidade vista como problema social que constitui um
desvio que afeta alguns e a educação serve para corrigir
estas disfunções
Teorias não críticas
pedagogia ou escola tradicional

• Sistema nacional de ensino – meados do sec. XIX


– Educação direito de todos e dever do Estado
– Direito de todos ??? Ou da burguesia???
– Converter os súditos em cidadãos
– Redimir o homem de seu duplo pecado:
• A ignorância ( miséria moral)
• A opressão(miséria política)
• Causa da marginalidade nesta visão = ignorância
– Objetivo: preparar o cidadão para a sociedade vigente
– Escola centrada no professor (Deus)
Teoria não crítica - escola nova
 O movimento chamado Escola nova esboçou-se, na década de 1920 - Brasil
 Mundo:
 Momento de crescimento industrial e de expansão urbana
 Grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidade de preparar o país para
acompanhar esse desenvolvimento
 Educação era por eles percebida como o elemento-chave para promover a
remodelagem
 Idéias político-filosóficas de igualdade entre os homens e do direito de todos
à educação
 Viam num sistema estatal de ensino público, livre e aberto, o único meio
efetivo de combate às desigualdades sociais da nação.
 Ganhou impulso na década de 1930 após a divulgação do Manifesto da Escola
Nova
 Esse documento, defendia a universalização da escola pública, laica e gratuita.
Teorias não críticas – pedagogia nova

• Surgiu a partir das críticas feitas a pedagogia tradicional no


final do sec. XIX

– Foco no aluno e crença no poder da escola


– Corrigir a marginalização e a equalização social
– Relação interpessoal entre professor e aluno

• Movimento de reforma da escola -“escolanovismo”

– O marginalizado não é mais o ignorante


– O marginalizado é o rejeitado
Teorias não críticas pedagogia nova

• A partir dos estudos com os anormais (Decroly e Montessori)


– Aprendemos a generalizar procedimentos pedagógicos
– Biopsicologização da sociedade, da educação e da escola
(anormalidade biológica e psíquica) = testes
– Marginalidade não pode ser explicada pelas diferenças
(quaisquer que sejam elas) = somos únicos
• Marginalizados são os anormais
– Desajustados e inadaptados do todas as matizes
– Anormalidade vista como fenômeno normal
Visão da escola nova aprender a aprender

Da questão pedagógica para Alunos em contato com os


o sentimento textos
Dos conteúdos cognitivos Professor seria um
para o método estimulador
Do professor para o aluno Trabalho em pequenos
Do lógico para o psicológico grupos
Do esforço para o interesse
Da disciplina para a Falhas: As escolas não
espontaneidade tinham a capacidade de
Da quantidade para a produzir todas as idéias de
igualdade das escolas da
qualidade elite que tinham escolas
mais criativas e bem
equipadas
Escola nova

• Falha
– Agravou a marginalidade pois não conseguiu
ao mesmo tempo ampliar a escola ao
enfatizar a qualidade do ensino e
desenvolver ensino adequado a todos
Pedagogia tecnicista
• Final da metade do sec. XX
• Total exaustão da escola nova “escolanovismo”
• Operacionalizar os objetivos
• Mecanizar o processo
– Microensino
– Telensino
– Instrução programada
– Máquinas de ensinar
• Elemento principal passa a ser a organização racional dos
meios de fazer educação
– O processo define o fazer entre professor e aluno
Pedagogia tecnicista

Nesta visão o marginalizado será o incompetente,


ineficiente e improdutivo
Objetivo: Formar indivíduos competentes e
eficientes como na produção fabril
Aprender a fazer
Base teórica:
Psicologia behaviorista
Ergonomia
Informática
Cibernética
Falha: Ao focar a produção fabril perdeu de vista a
especificidade da educação (conteúdo mais rarefeito,
com altos índices de evasão e repetência)
Teorias crítico - reprodutivistas

1. Sistema de Ensino como violência simbólica


2. Escola como Aparelho Ideológico do Estado (AIE)
3. Escola Dualista
Teorias crítico-reprodutivistas

• Todas as reformas anteriores fracassaram


– Tinham na origem uma função equalizadora
– Tornou-se evidente o papel que a escola
desempenha (reproduzir a sociedade de classes e
reforçar o modo de produção capitalista)

• Impossível compreender a educação senão a


partir de seus condicionantes sociais

• A função própria da educação consiste na


reprodução da sociedade em que ela se insere
Sociedade em que ela se insere????
As teorias crítico-reprodutivistas

Compreendem a educação a partir de sua estrutura


sócio econômica e da manifestação do fenômeno
educativo
Não parece ser um fenômeno de superação da
marginalidade e sim gerador pois sua forma reproduz a
marginalidade social através da marginalidade cultural
e escolar
Acreditam ser a educação um instrumento de
discriminação social logo um fator de marginalização
Sociedade marcada pela divisão entre grupos ou
classes antagônicas que se relacionam a base da força
Marginalidade é fator inerente a própria estrutura da
sociedade
Do sistema de ensino como violência simbólica

– Porque violência simbólica?

A violência material (dominação econômica) exercida


pelos grupos ou classes dominantes sobre os grupos
ou classes dominados corresponde a violência cultural
(dominação cultural)
 A classe dominante exerce um poder de tal modo
absoluto que se torna inviável qualquer reação por
parte da classe dominada
 Luta de classes impossível
Violência simbólica

Conceito elaborado pelo sociólogo Pierre Bourdieu.


Forma de coação que se apóia no reconhecimento de
uma imposição econômica, social ou simbólica.
Fabricação contínua de crenças no processo de
socialização
Induzem o individuo a se posicionar no espaço social
Induzem a seguir critérios e padrões do discurso
dominante.
Manifestação através do conhecimento do discurso
dominante e do reconhecimento da legitimidade deste
discurso.
Para P. Bourdieu, a violência simbólica é o meio de
exercício do poder simbólico.
Como se manifesta a violência simbólica?

• Formação de opinião pública


• Meios de comunicação de
massa
• Pregação religiosa
• Atividade artística e literária
• Jornais, propaganda, moda
• Educação familiar
Como ocorre essa violência?

• A função da educação é a reprodução


das desigualdades sociais.
• Pela reprodução cultural, ela contribui para a reprodução
social
• Marginalizados são os grupos ou classes dominados:
– Marginalizados socialmente porque não possuem força
material (capital econômico)
– Marginalizados culturalmente porque não possuem
força simbólica (capital cultural)cultural
Escola como aparelho ideológico do estado

A ideologia materializa- Escola é um aparelho do


se em aparelhos: os AIE estado dominante
Religioso
Escolar
Familiar
Jurídico
Político
Sindical
Informação
Cultural
Fenômeno da marginalidade no AIE

“Este fenômeno inscreve-se no próprio seio das relações


de produção capitalista que se funda na expropriação dos
trabalhadores pelos capitalistas. Marginalizada é, pois, a
classe trabalhadora. O AIE escolar, em lugar de
instrumento de equalização social, constitui um
mecanismo construído pela burguesia para garantir e
perpetuar seus interesses. Se as teorias não criticas
desconhecem essas determinações objetivas e imaginam
que a escola possa cumprir seu papel de correção da
marginalidade, isso se deve simplesmente ao fato de que
aquelas teorias são ideológicas, isto é, dissimulam, para
reproduzi-las, as condições de marginalidade em que
vivem as camadas trabalhadoras.” (SAVIANI, Dermival.
p.23-24)
Pirâmide escolar
• AIE ESCOLAR – Mecanismo construído pela
burguesia para garantir e perpetuar seus
interesses
Pirâmide escolar e o futuro

• Pequena parte atinge o vértice da


pirâmide escolar e estes serão:
– Agentes da exploração no sistema produtivo
– Agentes da repressão nos aparelhos repressivos
– Profissionais da ideologia nos aparelhos ideológicos
• Segundo Althusser estes serão levados a reproduzir as
relações de exploração capitalista onde marginalizado é
a classe trabalhadora
As teorias crítico-reprodutivistas

Da escola dualista
Escola dividida em duas redes - divisão da
sociedade capitalista em duas classes:
Burguesia
Proletariado
Missão da escola:
Impedir o desenvolvimento da ideologia do
proletariado e a luta revolucionaria.
Organizada pela burguesia como um aparelho
separado da produção
Segundo Althusser, nessa teoria ele define o aparelho
escolar como unidade contraditória de duas redes de
escolarização
Teoria crítica da educação

Teoria não crítica – Reflexões


resolver a marginalidade É possível articular a escola
Teoria crítica- explicar o com os interesses dos
fracasso escolar dominados?
Segundo a concepção
crítico-reprodutivista, o
aparente fracasso é na
verdade o êxito da
escola; aquilo que se
julgar ser uma disfunção
é, antes, a função
própria da escola
Teoria da educação compensatória

• A escola sofre as determinações do conflito de


interesses que caracteriza a sociedade
• Conjunto de programas que servem para compensar
deficiências de todas as ordens:
– De saúde e nutrição
– Familiares
– Cognitivas
– Motoras
– Lingüísticas
Conclusão

• Ao tomar a educação como objeto a Sociologia criou uma nova forma de


se refletir sobre o aspecto educacional. Mas ela não fornece a última
resposta sobre os problemas que tocam o âmbito da educação.

• Se outras áreas do conhecimento podem pensar a educação é


necessário que a Sociologia esteja atenta às contribuições que elas podem
proporcionar.

• Outro aspecto a ser ressaltado é que cada povo/cultura elabora sua


concepção de educação. Assim, mesmo que ela seja um dado universal
traz as características pertinentes a uma dada sociedade.
Edgar Morin: Sete Saberes Necessários à Educação do
Futuro
Sete saberes necessários?
• 1- As cegueiras do conhecimento: erro e ilusão;
• 2- Princípios do conhecimento pertinente;
• 3- Ensinar a condição humana;
• 4- Ensinar a identidade terrena;
• 5- Enfrentar as incertezas;
• 6- Ensinar a compreensão;
• 7- A ética do humano.

61
Os vários pontos desta obra de Morin:

• 1-“Armar cada mente no combate


vital rumo à lucidez”
• (p. 14), ou seja: é necessário estudar
as caraterísticas cerebrais, mentais e
culturais do conhecimento, dos
processos e formas, das questões
psíquicas e/ou culturais que
conduzem ao erro e/ou à ilusão;

62
• 2- Desenvolver a aptidão da mente
humana para contextualizar as
informações e compreender o
conjunto.
• Ensinar métodos que permitam
estabelecer relações e influências
recíprocas entre as partes e o todo
num mundo complexo (p.14);

63
• 3- Compreender que o «humano» é sempre
físico, biológico, psicológico, social e cultural,
e essa unidade complexa da natureza humana
é totalmente “desintegrada” – não entendida,
porque artificialmente dividida (ou desligada)
- na Educação atual, pelas várias disciplinas.
• Com base nelas, porém, devem levar-se os
alunos a compreender a unidade e a
complexidade do ser humano.

64
• 4- Ensinar a História da era planetária, iniciada
com as navegações portuguesas, seguidas das
castelhanas, francesas, inglesas e holandesas,
que puseram em comunicação todos os
continentes a partir do séc. XVI.
• O mundo interligou-se. (Para o Bem e para o
Mal)* Explorar esta questão.

• A problemática atual é planetária, porque


todos os seres humanos têm problemas e um
destino comum (p.16);

65
• 5- Ensinar a estratégia que leve a pensar o
imprevisto, pensar a incerteza, intervir no
futuro através do presente, com as
informações obtidas no tempo e a tempo.

• “É preciso aprender a navegar um oceano de


incertezas” (p. 16).
• O Futuro é aberto e incerto, mas temos dados
para [pelo menos] tentar minorar as
dificuldades.

66
• 6- Compreender que a compreensão é meio e
fim da comunicação humana mas a Educação
para a Compreensão não se faz.

• Precisamos de compreensão mútua.


Precisamos de estudar a incompreensão, o
racismo, a xenofobia, o dogmatismo. Isso seria
a base da Educação para a Paz. (p.17).

67
• 7- Compreender a natureza “trinitária” do
humano:
• indivíduo<->sociedade<->espécie.

• A ética indivíduo<->espécie consiste no


controlo da sociedade pelo indivíduo e do
indivíduo pela sociedade que é
• ->A Democracia;

• A ética indivíduo<->espécie implica, no século


XXI, a construção e efetivação da cidadania
terrestre [planetária].
68
• Edgar Morin liga a Educação à Ética e esta a
uma Política, não no sentido de Rousseau,
mas também num sentido que muitos
considerarão Utópico.
• No entanto, a visão que sugere, da
“religação” dos saberes e da complexidade,
implica a construção do que chama uma
“Antropo-Política”, (embora escreva
“antropolítica”).
• Uma Política centrada no Homem.

69
• Há duas grandes finalidades educativas e
ético-políticas no novo milénio:
• 1)Conseguir o equilíbrio [controlo] entre a
Sociedade e os indivíduos pela Democracia e
• 2)Pensar a Humanidade como comunidade
planetária.
• A educação deve contribuir não só para a
tomada de consciência da Terra-Pátria, mas
também permitir que essa consciência se
traduza em vontade de realizar a cidadania
terrena. (p.18)

70
• Exige-se:
• a)Uma reforma radical do pensamento e
uma mudança de paradigma nas
Ciências;
• b)Na Política, a solução dos problemas
“sócio-ambientais,” sem o que nada
mudará nas relações entre as sociedades
humanas, os indivíduos e os seus
ecossistemas.
71
• É necessário:
• a)Mais Democracia;
• b)Regenerar a atual Democracia, combater os
totalitarismos, e

• c) Inventar uma Democracia Planetária, com a


consequente criação de um novo paradigma de
Pensamento.
• São necessárias Instituições Globais com verdadeiro
Poder decisório. Sem a realização destas propostas, a
nossa espécie corre sérios riscos.

72
A ESCOLA COMO ESPAÇO SÓCIO-CULTURAL

Juarez Tarcisio Dayrell


PRIMEIROS OLHARES SOBRE A ESCOLA

Analisar a escola como espaço sócio-cultural significa


compreendê-la na ótica da cultura, sob um olhar mais
denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do
fazer-se cotidiano, levado a efeito por homens e
mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, negros e
brancos, adultos e adolescentes, enfim, alunos e
professores, seres humanos concretos, sujeitos sociais e
históricos, presentes na história, atores na história. Falar
da escola como espaço sócio-cultural implica, assim,
resgatar o papel dos sujeitos na trama social que a
constitui, enquanto instituição.
• A escola, como espaço socio-cultural, é entendida,
portanto, como um espaço social próprio, ordenado em
dupla dimensão. Institucionalmente, por um conjunto de
normas e regras, que buscam unificar e delimitar a ação
dos seus sujeitos. Cotidianamente, por uma complexa
trama de relações sociais entre os sujeitos envolvidos,
que incluem alianças e conflitos, imposição de normas e
estratégias individuais, ou coletivas, de transgressão e de
acordos. Um processo de apropriação constante dos
espaços, das normas, das práticas e dos saberes que dão
forma à vida escolar. Fruto da ação recíproca entre o
sujeito e a instituição, esse processo, como tal, é
heterogêneo.
A DIVERSIDADE CULTURAL

• Quem são estes jovens? O que vão buscar na


escola ? O que significa para eles a instituição
escolar? Qual o significado das experiências
vivenciadas neste espaço?
A escola é vista como uma instituição única, com
os mesmos sentidos e objetivos, tendo como
função garantir a todos o acesso ao conjunto de
conhecimentos socialmente acumulados pela
sociedade. Tais conhecimentos, porém, são
reduzidos a produtos, resultados e conclusões,
sem se levar em conta o valor determinante dos
processos.
• Materializado nos programas e livros
didáticos, o conhecimento escolar se torna
"objeto", "coisa" a ser transmitida. Como a
ênfase é centrada nos resultados da
aprendizagem, o que é valorizado são as
provas e as notas e a finalidade da escola se
reduz ao "passar de ano".
Dessa forma, o processo de ensino/aprendizagem ocorre
numa homogeneidade de ritmos, estratégias e propostas
educativas para todos, independente da origem social, da
idade, das experiências vivenciadas. É comum e
aparentemente óbvio os professores ministrarem uma aula
com os mesmos conteúdos, mesmos recursos e ritmos para
turmas de quinta série, por exemplo, de uma escola
particular do centro, de uma escola pública diurna, na
periferia, ou de uma escola noturna.
• A diversidade real dos alunos é reduzida a
diferenças apreendidas na ótica da cognição
(bom ou mau aluno, esforçado ou preguiçoso,
etc..) ou na do comportamento (bom ou mau
aluno, obediente ou rebelde, disciplinado ou
indisciplinado, etc...).
• A educação, portanto, ocorre nos mais diferentes espaços
e situações sociais, num complexo de experiências,
relações e atividades, cujos limites estão fixados pela
estrutura material e simbólica da sociedade, em
determinado momento histórico. Nesse campo educativo
amplo, estão incluídas as instituições (familia, escola,
igreja, etc...), assim como também o cotidiano difuso do
trabalho, do bairro, do lazer, etc.
• Neste sentido, buscamos apreender alunos e
professores como sujeitos sócio-culturais, ou seja,
sujeitos de experiências sociais que vão
reproduzindo e elaborando uma cultura própria. Na
escola, desempenham um papel ativo no cotidiano,
definindo de fato o que a escola é, enquanto limite
e possibilidade, num diálogo ou conflito constante
com a sua organização. Portanto, viemos definindo
a escola como uma instituição dinâmica,
polissêmica, fruto de um processo de construção
social.
• Concluímos que os atores vivenciam o espaço escolar como
uma unidade sócio-cultural complexa, cuja dimensão
educativa encontra-se também nas experiências humanas
e sociais ali existentes. Os alunos parecem vivenciar e
valorizar uma dimensão educativa importante em espaços
e tempos que geralmente a Pedagogia desconsidera: os
momentos do encontro, da afetividade, do diálogo. É
fundamental que os profissionais da escola reflitam mais
detidamente a respeito dos conteúdos e significados da
forma como a escola se organiza e funciona no cotidiano.
1.2-EDUCAÇÃO: SENTIDOS ...

• EDUCARE: -LEVAR PARA

• EDUCERE:-TIRAR DE DENTRO PARA FORA


1.2-EDUCAÇÃO: ...E ENVOLVENTES

CONCEITOS RELACIONADOS
– PEDAGOGIA

– ANDRAGOGIA

– INSTRUÇÃO

– APRENDIZAGEM
Referências

- RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. 5ª edição. Rio de


Janeiro: DP&A, 2004.

- TELES, Maria Luiza Silveira. Educação: a revolução necessária. Rio de


Janeiro: Vozes, 1992 (capítulo 2: “A sociologia da educação”, p. 27-31).
Cultura escolar, cultura da
escola e culturas sociais :
dialogando com a diversidade.

Luciane Ribeiro Dias Gonçalves


Doutoranda em Educação – DIS / UNICAMP
SMEC – Ituiutaba
NEAB – NEIAP – UFU
(Adaptado por Carmen Maria Rangel)
O mundo contemporâneo:
– cada vez mais complexo nas suas diferentes
dimensões,

– vem passando por mudanças significativas e tão


radicais que, muitas vezes, não somos capazes
de compreendê-las de modo adequado.
-além disso, grandes divisões e
inúmeros conflitos marcam as
sociedades atuais, muitos deles
provocados por questões de ordem
cultural.

Diante desse contexto, acreditamos


que é necessário avançar na reflexão
em torno das relações entre
educação e cultura(s).
cultura escolar
• conceito polissêmico: que admite diferentes sentidos
e enfoques.

• Forquin (1993)- “É o conjunto dos conteúdos


cognitivos e simbólicos que selecionados,
organizados, normalizados, rotinizados, sob efeito
dos imperativos de didatização, constituem
habitualmente o objeto de uma transmissão
deliberada no contexto das escolas” (p.167).
Antonio Frago (visão antropológica) - “É o
conjunto dos aspectos institucionalizados
que caracterizam a escola como
organização, o que inclui práticas e
condutas, modos de vida, hábitos, ritos – a
história cotidiana do fazer escolar, seus
objetos materiais: função, uso, distribuição
no espaço, materialidade física, simbologia,
introdução, transformação,
desaparecimento – e modos de pensar,
bem como significados e idéias
compartilhadas”.
• Predomina em nossas escolas uma
cultura escolar que:
● é rígida, padronizada, ritualística, pouco
dinâmica,
● dá ênfase a simples processos de
transmissão de conhecimentos,
● está referida à cultura de determinados
atores sociais e
● dialoga muito pouco com o contexto
cultural dos/as alunos/as.
• “Chama a atenção quando se convive com o
cotidiano de diferentes escolas como são
homogêneos os rituais, os símbolos, a
organização do espaço e do tempo, as
comemorações de datas cívicas, as festas, as
experiências corporais, etc. Mudam as culturas
sociais de referência, mas a cultura da escola
parece gozar de uma capacidade de se auto-
construir independentemente e sem interagir
com esses universos. É possível detectar um
congelamento da cultura da escola que, na
maioria dos casos, a torna estranha a seus
habitantes” (Candau, 2000:68).
A cultura escolar: um universo
monocultural?
• Diz-se que a cultura escolar apresenta um caráter
monocultural porque corresponde apenas à visão de
determinados grupos sociais.

• Como se comprova essa afirmação?


Observando os conteúdos escolares e os textos nos
quais aparecem poucas vezes
● a cultura popular,
● as culturas dos jovens,
● as contribuições das mulheres à sociedade,
● as formas de vida rural e dos
povos desfavorecidos (exceto os elementos
de exotismo),
● o problema da fome, do
desemprego ou dos maus tratos,
● o racismo e a xenofobia,
● as conseqüências do
consumismo
e muitos outros temas que parecem
“incômodos”.
“Consciente e inconscientemente se produz
[na escola] um primeiro velamento que afeta
os conflitos sociais que nos rodeiam
quotidianamente.” (Sacristán,1995: 97).
Origens da perspectiva intercultural em
educação
• A reflexão sobre o papel da educação
intercultural,em uma sociedade de caráter cada vez
mais multicultural, é recente e crescente no nível
internacional e, de modo particular, na América
Latina.

• A origem desta corrente pedagógica pode ser situada


aproximadamente há trinta anos, nos Estados
Unidos, a partir dos movimentos de pressão e
reivindicação de algumas minorias étnico-culturais,
principalmente negras.
Na América Latina, a preocupação
intercultural, nasce a partir de outro
horizonte.
Para Zúñiga Castillo e Ansión Mallet (97),
esta abordagem surge referida às nossas
populações indígenas.
Quais os critérios básicos para se promover processos
educativos em uma perspectiva intercultural?

• A pedagogia intercultural é tanto escolar como


social. A sociedade e a escola têm de unir suas ações
no processo de educação intercultural.
• É necessário que as políticas educativas e as práticas
pedagógicas reconheçam e valorizem a diversidade
cultural e tratem das questões relativas à igualdade e
ao acesso à educação como direito de todos/as.
• A educação intercultural precisa afetar:
● diferentes aspectos do currículo explícito:
objetivos, conteúdos propostos, métodos e
estilos de ensino, materiais didáticos utilizados
etc,
● o currículo oculto, i. é, o que é veiculado
pelo currículo mas não é dito, e
● as relações entre os diferentes agentes do
processo educativo: professores/as, alunos/as,
coordenadores/as, pais, agentes comunitários
etc.
Neste sentido, quais são os desafios iniludíveis
e inadiáveis para os educadores na América
Latina, hoje?
-Trabalhar os ritos, símbolos, imagens
presentes no dia a dia da escola,
- Incentivar a construção da auto-estima dos
diferentes sujeitos e
- Construir relações democráticas que superem
o autoritarismo e o patriarcalismo tão
fortemente arraigados nas nossas culturas.
• CONCLUSÕES:

• A perspectiva intercultural em educação não


pode ser dissociada das problemáticas social e
política presentes nos contextos sociais que
entram em interação.

• Relações culturais e étnicas estão permeadas


por relações de poder, daí seu caráter muitas
vezes contestador, conflitivo e mesmo
socialmente explosivo.
A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

E A FORMAÇÃO NA DOCÊNCIA
Educando no século XXI
Perfil dos educadores

Presença:
• Masculina – derrotar, vencer, garantir a sobrevivência.

• Feminina – coleta, cuidado com os filhos,


vigilância.Capacidade de cuidado (cogitare, cogitatus)
A educação deve ter um componente feminino forte (que não é
exclusivo das mulheres)
A Educação constitui-se por estruturas focadas e extrema
racionalidade administrativa.
Perde-se de vista a dimensão do cuidado
• Não é casual o predomínio das mulheres embora existam razões
históricas.
• Homens e mulheres são diferentes (conceito ético), não são desiguais
(conceito cultural).
• Mulher: subjetiva – multilateralidade
• Homem: objetivo – focado
• Saída: agregar essas competências (a humanidade não teria sobrevivido
se fossemos só multilaterais ou só focados)
• Educação = a incapacidade de desistir (do aluno), que varia de acordo com
o grau de cuidado.
Quem ama não desiste (não é exclusivo das mulheres e sim, do feminino).
Capacidade de proteger a vida nas suas múltiplas manifestações.
Necessidades dos educadores

• Arsenal de técnicas
• Vontade política (ações governamentais)
• Reforço teórico
• Atitude do cuidado, da não desistência, da proteção.

Ser educador é estar atento ao esvaimento da capacidade do cuidado. É ter


energia para cuidar (homem tem mais força, mulher mais energia)
Pessoas que se dedicam a educação são possuídas pela “sã loucura” (olhar a
realidade e recusar o que parece não ter saída)
Mola propulsora: “Sonho de uma sociedade onde todos caibamos”.
O que desejamos?

• Uma escola formada por seres adultos, conhecedores, abertos à reflexão


e operantes no mundo.

Reflexões:
a) Os professores estão dispostos a transformar o mundo? Em que direção?

b) conhecem seus alunos, em profundidade?

Cabe a Educação a tarefa de transformar as potencialidades (boas e más) dos


alunos em ação (reprodutora ou transformadora) por meio das ações
didático-pedagógicas.

NÃO HÁ ação pedagógica neutra (formação integral manifesta nos aspectos


cognitivo, afetivo e psicológico – pensar, sentir e agir).
Objetivo da educação

• A educação tem uma intenção (formar determinado tipo


de homem) e uma finalidade (contribuir para
reprodução ou transformação da realidade).

• Uma é a escola que temos, outra é a que queremos.

• Objetivos e fins da educação – vinculação à ideologia.


Concepções

• Acrítico-ingênua –aceitação passiva do que é proposto. Governo é responsável pelos


rumos da educação.

Professor: ensina, exige obediência sem deixar de ser amigo.

Aluno: o sucesso depende dele mesmo.

Crítica – discute o papel da escola no contexto social, econômico e cultural.

Professor: ensina e aprende

Aluno: tem autonomia intelectual


Conceituação

• Educação – prática social que ocorre em várias instituições e


atividades humanas (família, escola, trabalho, igrejas...)

• Processo pelo qual as pessoas se manifestam e se modificam em


suas múltiplas possibilidades, inclusive a de elaborar, metabolizar,
assimilar, e transmitir conhecimentos na escola e na sociedade,
construindo a cultura e a transcendência.

• Ensino – aspecto instrutivo da educação, formação, transmissão de


informações.
Conceituação

• Pedagogia – Ciência que investiga a teoria e a prática da educação e sua


relação com a prática social global.

• Didática – Ramo de estudo da pedagogia.

• Objeto de estudo da didática: processo de ensino

• Atividade principal do ensino: dirigir, organizar, orientar e estimular


a aprendizagem escolar dos alunos.
Condições para a docência

1. Vocação pedagógica

a) Amor pedagógico – amor , dedicação, preocupação,


compreensão e respeito para com os educandos (sujeitos em
processo de formação).

b) Sentido de valores – participação do educando nos bens


culturais. O educador deve acreditar em valores como a vida,
a dignidade, a moralidade...

c) Consciência de responsabilidade – frente ao educando,


família, sociedade...
2. Condições profissionais

a) Erudição crítica e atitude inquisitiva – domínio da área de atuação


e busca de novos caminhos

b) Probidade magisterial – reconhecer os esforços do aluno, apesar


dos resultados; ser referência

c) Alegria e bom humor – para despertar confiança, espontaneidade


e idealismo no convívio

d) Tato pedagógico – habilidade na condução dos trabalhos


Funções do professor

• Planejar estudos e trabalhos adequados à formação do aluno,

• Orientar os alunos para verem e sentirem a realidade,

• Controlar os resultados dos estudos (ampliação, retificação...),

• Poupar esforços desnecessários ao aprendizado do aluno,

• Graduar dificuldades,

• Contribuir para a apreensão do fundamental e do acessório,


Funções do professor

• Favorecer na construção da autonomia intelectual.

• Investir na instrução e na formação,simultaneamente

• Estimular e cooperar para a formação integral do aluno.

• Conhecer os alunos para estimulá-los na superação dos limites.

• Fomentar ideais e atitudes positivas diante da vida, da profissão e da


sociedade.
Compromisso social e ético dos professores

• Trabalho docente – exercício profissional do


professor.

• Atividade fundamentalmente social por contribuir


com a formação cultural e científica das pessoas.
Compromisso social e ético dos professores

O compromisso social é expresso na competência:

Teórica – domínio do assunto/área

Técnica – saber fazer

Política – tomada de posição frente aos interesses


sociais em jogo na sociedade
Qual a responsabilidade do
professor ?

• Preparar os alunos para a cidadania ativa e


participante na família, nas associações de classe,
na vida cultural e política.
Como o professor contribui ?

• Promovendo as condições e os meios (conhecimento,


métodos, organização do ensino...) que assegurem ao aluno:

- o domínio dos conhecimentos básicos,


- as habilidades e,
- o desenvolvimento das capacidades físicas e intelectuais.

• Objetivo – capacitar o aluno para o enfrentamento dos


desafios do cotidiano no trabalho e nas lutas pela
democratização da sociedade.
Avaliação: aprender com os erros

• Modo tradicional

• Necessidade de informar significativamente sobre as


causas dos erros, transformando o próprio texto das
observações em motivos de aprendizagem.

• Necessidade de qualidade e clareza na informação


dada aos alunos sobre a correção.
A importância das perguntas

• Formular perguntas que estimulem a reflexão, o pensamento


crítico e autônomo

• Estimular e desafiar o pensamento do aluno

• Evitar perguntas cujas respostas sejam mecânicas (decoradas)

O desafio para o professor não é educar alunos inteligentes e


sim desenvolver os pontos fracos e as deficiências dos
alunos.
Fatores negativos no ato da correção

• Pouco (ou nenhum fornecimento de informações)

• Informações pouco inteligíveis ao aluno

• Efeito de punição com o uso da caneta vermelha

• Demora no retorno dos resultados

• Incoerência quanto ao nível de exigência

Lembrar que o objetivo da avaliação é contribuir no processo de


ensino aprendizagem e não “vigiar e punir”.
... Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina.

Não Sei (Cora Coralina)


Referências Bibliográficas
• CANCLINI. N. G. Culturas Híbridas. São Paulo: Edusp, 1997.
• CANDAU, V. M.(org.) Reinventar a Escola. Petrópolis: Vozes, 2000.
• CARDOSO, R. E SAMPAIO, H. (orgs.) Bibliografia sobre a juventude. São Paulo: Edusp, 1995.
• FORQUIN, Jean-Claude. Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento
escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
• GIMENO SACRISTAN. Escolarização e Cultura: a dupla determinação. In: SILVA, L. M. e outros.
Novos Mapas Culturais: novas perspectivas educacionais. Porto Alegre: Sulina, 1996.
• PÉREZ GOMÉZ, A. I. La Cultura Escolar en Sociedad Posmoderna. Cuadernos de Pedagogía.
Barcelona: nº. 225, 1993, p. 80 a 86.
• ___________________. A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal. Porto Alegre: ARTMED,
2001.
Para uma teoria crítica da educação

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