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br/courses/2891 material, que engloba e explica tanto o mundo


dos valores como o mundo dos fatos;
Semana 1 (25/09): Conhecimentos * “Discurso do método”, apregoa os seguintes
socialmente construídos pela humanidade: princípios: nenhum fenômeno deve ser
como os adquiridos? acolhido como verdade, sem que se
Texto-base: A educação e as demonstrem evidências concretas; cada
transformações da sociedade conceito deve ser divido em quantas parcelas
1. As concepções paradigmáticas e a seja necessário, para que seja devidamente
educação analisado; é necessário partir dos conceitos
- A educação é um fenômeno social, mais simples para os mais complexos, no
relacionada ao contexto político, econômico, sentido de conduzir, o conhecimento degrau a
científico e cultural de uma sociedade degrau, buscando enumerações tão
historicamente determinada; completas e revisões tão gerais, que levem à
- A educação não é a mesma em todos os certeza de que nada foi omitido.
tempos e em todos os lugares, e se acha c) No século XIX, inaugura-se a
vinculada ao projeto de homem e de individualização das ciências sociais, e o
sociedade que se quer ver emergir através do modelo cientificista é estendido às mesmas,
processo educativo; revelando-se, através do positivismo, que
- A educação é um processo social que se busca estudar os fenômenos sociais,
enquadra numa concepção determinada de utilizando o mesmo método aplicado às
mundo, a qual determina os fins a serem ciências naturais;
atingidos pelo ato educativo, em consonância * Dentre as características do positivismo
com as idéias dominantes numa dada podem-se citar: o universo entendido como
sociedade; um sistema mecânico, composto de unidades
- Tanto a teoria quanto às práticas materiais elementares, sendo a realidade
educacionais desenvolvem-se, regular, estável e permanente, dotada de
predominantemente, segundo os paradigmas existência própria; a verdade, apresentada
dominantes num dado momento histórico, o como absoluta, objetiva, existindo
que leva a educação a funcionar independentemente do sujeito cognoscente;
essencialmente como elemento reprodutor * Ciência, é considerada como isenta de
das condições científicas, políticas, valores, os quais são absolutos e existentes
econômicas e culturais de determinada na natureza.
sociedade; d) Nas sociedades anteriores ao capitalismo,
- Breve retrospectiva histórica: a divisão do trabalho social era pouco
a) A segunda metade do século XVIII é desenvolvida, não havendo grande número de
assinalada pelas revoluções burguesas que especializações, a produção de bens de
trazem como conseqüência o fim do consumo era realizada pelo trabalho
Absolutismo e a consolidação do capitalismo artesanal.
industrial; - A solidariedade orgânica, superior à
b) O século XIX, por sua vez, vem marcar o solidariedade mecânica, quando as pessoas
triunfo do liberalismo europeu, vinculado ao se unem a partir da dependência que têm
direito natural e também o triunfo do umas das outras, para realizar uma atividade
cientificismo, que se impondo de forma social;
totalitária, nega as formas de conhecimento - As novas formas de conceber e de
que não estejam de acordo com seus interpretar a ciência e a sociedade repercutem
princípios epistemológicos e com suas regras sobre a educação que segundo o enfoque
metodológicas; positivista, deve ser entendida como
* O cientificismo, , estrutura-se segundo uma instrumento de inserção, de integração dos
ótica mecanicista, que explica o universo a indivíduos à vida social, visando à
partir da linearidade determinista dos manutenção, à continuidade, enfim, à
fenômenos e reconhece uma só natureza perpetuação da sociedade;
- As funções uniformizadora e diferenciadora técnicas e de instrumentos de avaliação, mas
da educação que, por um lado, visa integrar veicula conteúdos e modos de proceder
os indivíduos ao contexto da sociedade, relacionados a uma determinada visão de
transmitindo valores e desenvolvendo atitudes mundo;
comuns a todos e de outro lado, visa - A tecnocracia instalada no interior das
diferenciá-los, respondendo à divisão social escolas, utilizando-se do discurso da
do trabalho; racionalidade e da eficiência separou o
- A pedagogia dürkheniana define o processo “saber” do “fazer”, desperdiçando o potencial
educacional, como sendo o meio pelo qual os mais nobre do homem, que é a sua
sistemas se constituem, se mantêm e se capacidade de pensar e de criar;
perpetuam, destacando-se fundamentalmente - O ato de aprender e de ensinar
os processos de conservação e de transforma-se em questão meramente técnica,
continuidade, bem como os de ordem e de reduzindo a competência docente ao domínio
equilíbrio dos sistemas, enfatizando a dos meios que permitam aos alunos dominar
autoridade do professor, que como líder conhecimentos previamente elaborados,
instituído, tem o direito legítimo de exercer seu dosados e limitados. Os professores, por sua
poder sobre os alunos, visando integrá-los à vez, transformam-se em meros executores de
ordem social estabelecida; estratégias pré-determinada;
- Paradigma positivista, o aluno é considerado - A dimensão política da educação foi sendo,
apenas em sua dimensão cognitiva, em total aos poucos, resgatada pelas escolas, a partir
rejeição a expressões do domínio afetivo e das teorias reprodutivistas, dominantes nos
psicomotor, associados à atividade, donde anos 70, vislumbraram o potencial
passa a ter um elevado caráter de transformador da educação, considerando as
passividade; relações dialéticas que ela estabelece com a
- Conforme Valente (1999) a educação é um sociedade;
serviço e, como tal, sofre as influências e se - Santos (1987) identifica alguns pontos
adapta às concepções paradigmáticas, relevantes a serem observados, que podem
vigentes na sociedade nos diferentes ser expressos por quatro teses fundamentais:
momentos históricos; a) A primeira, o caráter holístico do
- Desqualificação e atomização de tarefas, conhecimento, donde já não se justificam as
ocorrido no âmbito da produção e da tradicionais distinções entre natureza e
distribuição, foi também estendido aos cultura, natural e artificial, vivo e inanimado,
sistemas educacionais, sendo que o objetivo mente e matéria, observador e observado,
fundamental da educação consistiria em subjetivo e objetivo, coletivo e individual.
“empurrar” a informação para o aluno, sendo Destaca-se a tendência à superação da
ele visto como um “produto que está sendo distinção entre ciências naturais e ciências
montado”; sociais, e a influência das segundas sobre as
- Nas instituições de ensino verifica-se uma primeiras;
distorção semelhante à do mundo produtivo, b) A segunda, à superação da excessiva
sendo as diretrizes educacionais e parcelização e disciplinação do saber. Através
curriculares, elaboradas por poucas pessoas, de uma abordagem temática, transdisciplinar,
cabendo aos professores propiciar atividades os conhecimentos deixam de ser
de memorização de dados, tendo como fragmentados em partes isoladas, progredindo
preocupação fundamental, serem obedecidos. uns ao encontro dos outros. Desta forma, as
Os alunos, por sua vez, envolvem-se com as teorias e os conceitos, nascidos de projetos
estratégias para decorar dados e conceitos desenvolvidos localmente, podem
sem significação, importando-se apenas com analogamente ser aplicados fora de seu
as notas escolares, ou seja, o resultado contexto de origem;
extrínseco de suas atividades; c) A terceira, superação da visão do
- Não educamos de forma inocente, ou seja, o conhecimento objetivo e rigoroso. Que propõe
currículo não se restringe a uma seqüência a separação entre sujeito/objeto. Esta visão
lógica de conteúdos, de metodologias, de dicotômica começou a ser abalada, quando a
mecânica quântica veio demonstrar que o ato “tecnicismo revistado”, aparentemente
e o produto do conhecimento são moderno;
inseparáveis. Deste modo, sujeito e objeto - A educação passa a ser vista, apenas em
apresentam-se indissociáveis, pois o objeto é seu objetivo imediato de servir ao capital,
a extensão do sujeito, donde todo encontrando-se atrelada ao setor produtivo,
conhecimento científico é autoconhecimento; que em nome da “qualidade total”, está
d) A quarta, a ciência pós-moderna deve levando as instituições educativas a uma
reabilitar o senso comum, e dialogar com descaracterização de sua função primordial,
outras formas de conhecimento, pois ou seja, o comprometimento com a formação
nenhuma forma de conhecimento é, em si integral dos indivíduos que lhes são confiados;
mesma, racional. O senso comum, apesar de - Papel da escola, que já não é considerada o
seu caráter vulgar e conservador, apresenta meio mais eficiente e ágil de socialização dos
características que precisam ser conhecimentos técnico-científicos e do
consideradas: ele é prático e pragmático, desenvolvimento de habilidades, capacidades
transparente e evidente; é superficial, e de competências sociais, requeridas em um
interdisciplinar e imetódico, uma vez que tempo-espaço de acirramento da competição,
aceita o que existe, tal como existe. É capaz da tecnologização, da globalização do capital
de captar a profundidade horizontal das e do trabalho;
relações entre as pessoas, e entre elas e as - Muitas vezes, a formação profissional
coisas, apresentando um caráter fundamenta-se apenas em certas habilidades
emancipatório. necessárias à continuidade do sistema, em
detrimento de uma ampla formação científica,
2. As exigências do novo contextos cultural e crítica;
político-econômico e a educação - A partir da década de 80, aprofunda-se o
- Do ponto de vista do capitalismo globalizado, debate acerca da referência aos mecanismos
educação e conhecimento são as forças de mercado, como orientadores das políticas
motrizes e os eixos da transformação educacionais, em virtude das transformações
produtiva e do desenvolvimento econômico; que caracterizam o acelerado processo de
- A Terceira Revolução Industrial, este modelo integração e de reestruturação do capitalismo
implica um novo tipo de organização em nível mundial;
industrial, baseada na tecnologia flexível - Nos países tidos como do Terceiro Mundo,
(microeletrônica associada à informática, à suas próprias condições estruturais não
microbiologia e a outras formas de energia), possibilitam a todos o acesso às novas
em contraposição à tecnologia rígida do tecnologias de informação e de
sistema taylorista e fordista, e traz como telecomunicação como recursos para ampliar
conseqüência um trabalhador flexível, com seu universo de informações, e para criar
uma nova qualificação humana; ambientes de aprendizado que enfatizem a
- As políticas de inserção da educação à construção do conhecimento;
lógica do capital são legitimadas por um - Conforme Perrenoud (1994), o que mais
discurso baseado na ênfase à modernização ameaça a democracia é a tendência para a
educativa, à competitividade, à produtividade, sociedade dual, tanto no que se refere ao
ao desempenho, à eficiência e à qualidade, emprego, quanto no que se refere ao campo
que expressam o ideário neoliberal; do saber e das competências;
- As novas exigências da sociedade, em - Educar é ajudar a integrar todas as
consonância com os organismos dimensões da vida, a encontrar nosso
internacionais, vêm gerando, em nível caminho intelectual, emocional e profissional
mundial, reformas no âmbito das políticas que nos realize e que contribua para modificar
educacionais, visando tornar os sistemas de a sociedade que temos;
ensino mais diversificados, mais flexíveis e - Os sistemas escolares encontram-se
mais competitivos, numa perspectiva repletos de paradoxos e de dilemas, pois, ao
neoconservadora, representada pelo mesmo tempo em que são depositadas tantas
expectativas em relação à educação, as
políticas que a ela se aplicam encontram-se
mais preocupadas com interesses reduzidos e
tangencialmente educativos.

3. Repensando as funções da educação


- Os paradigmas que têm dado sustentação
às práticas educacionais não têm sido
capazes de propiciar um desenvolvimento
individual e social equânime, podendo-se
verificar o aumento da miséria, da exclusão
social, do individualismo, da competitividade,
que estão a segregar indivíduos, grupos e
nações;
- Não se pode negar a função da educação
como fator de desenvolvimento econômico e
social de um país, donde surge o imperativo
de ela estar atenta às mudanças no contexto
e às exigências da sociedade do
conhecimento;
- Na sociedade da informação tem-se que
resgatar o sentido da educação como um
direito moral e como e uma necessidade
social, e não apenas, como um espaço de
criação das habilidades e das competências - Os desafios educacionais da
exigidas pelos novos tempos; pós-modernidade consistem em preparar os
- Delors et al. (2000) apontam as principais indivíduos para a transitoriedade de todos os
tensões que necessitam ser ultrapassadas: aspectos da vida, donde surge a necessidade
da atualização constante e da emancipação
dos homens, como sujeitos históricos; e
- Compete à educação, compreender os
desafios de uma sociedade cada vez mais
informacional e globalizada, perscrutando as
direções futuras e dialogando com uma
realidade cada vez mais carregada de
símbolos.

Texto-base: O professor na sociedade


contemporânea: um trabalhador da
contradição
1. A escola e o professor na encruzilhada
das contradições econômicas, sociais e
culturais
- Até a década de 50 do século XX, a escola
primária cumpre funções de alfabetização,
transmissão de conhecimentos elementares e
“moralização do povo pela educação”;
- Quanto aos jovens das classes populares,
saem da escola para trabalhar na roça, numa
loja, etc., sejam eles bem-sucedidos ou
fracassados;
- Para as crianças do povo, a escola não abre
perspectivas profissionais e não promete
ascensão social, com exceção de uma formação da população em um país que
pequena minoria; ambiciona enfrentar a concorrência
- Os jovens oriundos da classe média internacional e a abrir as portas do ensino
continuam estudando além da escola primária, superior a uma parte maior da juventude;
mas, na maioria das vezes, esses estudos os c) A ideologia neoliberal impõe a idéia de que
levam às posições sociais a que já eram a “lei do mercado” é o melhor meio, e até o
destinados; único, para alcançar eficácia e qualidade; e
- O professor é mal pago, mas é respeitado e d) Desenvolvem-se em ritmo rápido novas
sabe qual é a sua função social e quais tecnologias de informação e comunicação:
devem ser as suas práticas na sala de aula; computador, Internet, CD-ROM, celular.
- Essa configuração histórica muda por inteiro - Todas essas transformações têm
a partir dos anos 60 e 70 do século XX. A conseqüências sobre a profissão docente;
escola passa a ser pensada na perspectiva do - Hoje em dia, o professor já não é um
desenvolvimento econômico e social; funcionário que deve aplicar regras
- Essa nova perspectiva leva a um esforço predefinidas, cuja execução é controlada pela
para universalizar a escola primária e, a sua hierarquia; é, sim, um profissional que
seguir, o ensino fundamental; deve resolver os problemas;
- A história escolar de uma criança acarreta - O professor ganhou uma autonomia
conseqüências importantes, efetivas ou profissional mais ampla, mas, agora, é
potenciais, para sua vida futura; responsabilizado pelos resultados, em
- Em tal configuração socioescolar, a particular pelo fracasso dos alunos;
contradição entra para a escola: - Para resolver os problemas, o professor é
a) A nota e o diploma medem o valor da convidado a adaptar sua ação ao contexto;
pessoa e prenunciam o futuro do filho. A - A escola e os professores devem elaborar
escola vira espaço de concorrência entre um projeto político-pedagógico, levando em
crianças; conta as características do bairro e dos
b) Novas camadas sociais que ingressam alunos, mobilizar recursos culturais e
para a escola. Esses “novos alunos” financeiros que possibilitem melhorar a
encontram dificuldades para atender às eficácia e a qualidade da formação, tecer
exigências da escola no que diz respeito às parcerias, desenvolver projetos com os alunos
aprendizagens e à disciplina; e etc.;
c) Os professores sofrem novas pressões - O professor deve, agora, pensar de modo,
sociais. Os professores são vigiados, ao mesmo tempo, “global” e “local”;
criticados. - Nesse global, o professor encontra-o,
- Perduram até os dias atuais as funções sobretudo, sob forma da cultura informática.
conferidas à escola nos anos 60 e 70, os Esta o coloca face a uma tripla dificuldade:
pedidos a ela endereçados, as contradições a) O acesso fácil a inumeráveis informações,
que ela deve enfrentar e, portanto, a graças à Internet, faz com que o docente já
desestabilização da função docente. Nessa não seja para o aluno, como foi outrora, a
base, contudo, dá-se uma nova guinada nas única, nem sequer a principal fonte de
décadas de 80 e 90; informações sobre o mundo;
- As mudanças, incluídas aquelas que dizem b) O interesse dos alunos pela comunicação
respeito à escola, decorrem das novas lógicas por Internet e por celular faz com que eles
neoliberais, impondo a sua versão da leiam cada vez menos textos impressos; e
modernização econômica e social. Essas c) O professor é convidado a utilizar essas
lógicas são ligadas à globalização, mas novas tecnologias no seu ensino e as escolas
constituem um fenômeno mais amplo: recebem computadores.
a) Tornam-se predominantes as exigências de - Há dois obstáculos ainda maiores ao uso
eficácia e qualidade da ação e da produção pedagógico dessas novas tecnologias:
social, inclusive quando se trata de educação; a) Existe uma diferença entre “informação” e
b) Essas exigências levam a considerar o fim “saber”; e
do ensino médio como o nível desejável de
b) a “forma escolar”, isto é, as estruturas de a) O professor tem consciência de estar preso
espaço e tempo das escolas, a forma como os em discursos contraditórios;
alunos são distribuídos em turmas, os modos b) Ele interpreta essas contradições em
de avaliar não combinam com o uso termos pessoais; e
pedagógico do computador e da Internet. c) Essa situação gera vitimização, indignação
- O professor sofre os efeitos de uma e desmobilização profissional.
contradição radical da sociedade capitalista - Por um lado, o herói da Pedagogia. Por
contemporânea. outro, a vítima, mal paga e sempre criticada.
Falta o professor normal, que trabalha para
2. As contradições no cotidiano: a ganhar um salário e sustentar sua família, que
professora na escola e na sala de aula vive situações esgotantes e, também,
- O professor é uma figura simbólica sobre a prazeres dos quais pouco fala, que se sente
qual são projetadas muitas contradições objeto de críticas, mas, afinal de contas,
econômicas, sociais e culturais; orgulha-se do trabalho feito, que ensina com
- Existem tensões inerentes ao próprio ato de rotinas provadas, mas, às vezes, abre
educar e ensinar. Quando são mal geridas, parênteses construtivistas; e
essas tensões viram contradições, sofridas - O primeiro objetivo do professor, explica ele,
pelos docentes e pelos alunos; e é sobreviver, profissional e psicologicamente,
- As contradições são, ao mesmo tempo, e só a seguir vêm os objetivos de formação
estruturais, isto é, ligadas à própria atividade dos alunos. Quanto mais difíceis as condições
docente, e sócio-históricas, uma vez que são de trabalho, mais predominam as estratégias
moldadas pelas condições sociais do ensino de sobrevivência.
em certa época.
2.2. “Culpa” do aluno ou “culpa” do
2.1. O professor herói e o professor vítima professor?
- Vale refletir sobre a função desempenhada, - Só pode aprender quem desenvolve uma
nos debates sobre a escola, pelos exemplos atividade intelectual para isso e, portanto,
de escolas famosas, que se tornaram ninguém pode aprender no lugar do outro;
radicalmente diferentes das escolas triviais; - Não pode: por mais semelhantes que sejam
- Os discursos heróicos sobre a educação e a os seres humanos, são também singulares e,
escola, satisfazem a “parte do sonho” que logo, diferentes. Quem aprende é o aluno. Se
subsiste nas professoras, por mais difíceis e não quiser, recusando-se a entrar na atividade
afastadas do ideal que sejam as suas intelectual, não aprenderá, seja qual for o
condições reais de trabalho; método pedagógico da professora;
- Após uma palestra em que tinha explicado - Permanentemente, ela deve pressionar o
que os alunos se queixam da rotina escolar e aluno, negociar, procurar novas abordagens
avançado a ideia da escola como lugar de dos conteúdos ensinados, adaptar o nível da
aventura intelectual: Como implementar uma sua aula, sem por isso renunciar à
aventura intelectual nas escolas, marcadas transmissão do saber;
por transformações sociais? - Não é apenas um problema pedagógico; é o
valor pessoal e a dignidade de cada um que
está em jogo;
- O aluno, por sua vez, não deixa de se vingar
da humilhação provocada pelos xingamentos
e castigos e pelo próprio fracasso em
aprender;
- O sucesso e o fracasso escolar já não são
somente assuntos pedagógicos, uma vez que
acarretam conseqüências importantes para o
futuro profissional e social da criança;
- Não vai à escola para aprender, mas para
- Esse texto evidencia três fenômenos: tirar boas notas e passar de ano, sejam quais
forem os meios utilizados, às vezes, com o faz exercícios e, no ensino secundário, redige
respaldo dos pais; e versões, temas, dissertações, etc.;
- Professor é quem aceita essa dinâmica, - A característica do método tradicional é
negocia, gere a contradição, não desiste de outra: o professor explica o conteúdo da aula
ensinar e, apesar de tudo, mas nem sempre, e as regras da atividade e o aluno aplica o que
consegue formar os seus alunos. lhe foi ensinado. Primeiro vêm o saber e as
regras e, a seguir, a atividade do aluno;
2.3. Tradicional ou construtivista? - Ser construtivista não significa, como se
- As professoras brasileiras são basicamente pensa muitas vezes, ou, melhor, como se fala
tradicionais. Essas professoras tradicionais sem pensar, ser moderno, dinâmico, inovador.
sentem-se obrigadas a dizer que são Como se toda e qualquer inovação fosse
construtivistas! Têm práticas tradicionais boa... Ser construtivista é opor ao modelo
porque a escola é organizada para tais tradicional da aula seguida por exercícios de
práticas e, ainda que seja indiretamente, aplicação um modelo em que a atividade vem
impõe-nas; primeiro: ao tentar resolver problemas, a
- “Tradicional” passou a ser um insulto, mente do aluno mobiliza-se e constrói
evocando a poeira das antigas casas e as respostas, que são vias de acesso ao saber;
lixeiras da pedagogia; - A função do professor não é apenas
- Uma escola não pode deixar de ser acompanhar os alunos em processos
tradicional; construtivistas, mas também, de forma mais
- É rotulado como tradicional o professor que “tradicional”, pôr em circulação significações
confere uma grande importância à disciplina, desconhecidas pelo aluno;
ao respeito, à polidez, o que lhe vale a fama - Vygotsky, o “saber científico”, no qual ele
de ser severo; inclui o saber escolar, difere do “saber
- Pedagogia tradicional. Para esta, educar comum”, ou “cotidiano”, por possuir três
é,antes de tudo, obter que a Razão controle e características: é consciente, voluntário,
domine as emoções e paixões; sistemático;
- A pedagogia tradicional visa a emancipar a - A questão fundamental não é saber se a
Razão humana das cadeias da emoção, do professora é “tradicional” ou “construtivista”,
corpo, da natureza; mas como ela resolve duas tensões inerentes
- Nos séculos XVI e XVII, considera-se que a ao ato de ensino e ao de educar;
natureza infantil é corrupta e que o papel da - Ensinar é, ao mesmo tempo, mobilizar a
educação é livrar a criança da corrupção; atividade dos alunos para que construam
- É assim, por exemplo, que se enviam logo saberes e transmitir-lhes um patrimônio de
de início as crianças à escola, não com a saberes sistematizados legado pelas
intenção de que lá aprendam alguma coisa, gerações anteriores de seres humanos;
mas a fim de que se habituem a permanecer - O docente não seja apenas professor de
tranqüilamente sentadas e a observar o que conteúdos, isto é, de respostas, mas também,
se lhes ordena” (CHARLOT, 1979, p. 73); e em primeiro lugar, professor de
- O professor é, também, rotulado como questionamento;
tradicional, quando utiliza os mesmos - Os alunos, às vezes, andarão sozinhos, com
métodos pedagógicos dos professores das discreto acompanhamento da professora e,
gerações anteriores: outras vezes, caminharão com a professora
a) Não corresponde à realidade atual: nenhum de mãos dadas;
professor ensina como faziam outrora, mas - A pedagogia tradicional. É nela que a
isso se tornou impossível, já que tantas coisas professora é convidada a ser construtivista e a
mudaram; e usar o computador e a Internet;
b) O argumento não corresponde à realidade - A injunção construtivista, por mais
histórica. fundamentada que seja do ponto de vista
- A pedagogia tradicional solicita muito a teórico, negligencia muitos dados atinentes ao
atividade do aluno, que, no ensino primário, exercício da função docente na sociedade
contemporânea;
- Destacarei aqui dois obstáculos que a 2.5. Restaurar a autoridade ou amar os
professora há de ultrapassar se quiser ser alunos?
mesmo construtivista ou introduzir momentos - Não há educação sem exigências, normas,
construtivistas na sua prática pedagógica: autoridade. Educar é possibilitar que advenha
a) Os próprios alunos não são construtivistas. um ser humano, membro de uma sociedade e
Quanto maior a pressão exercida pela nota, de uma cultura, sujeito singular e
mais os alunos desenvolvem estratégias de insubstituível;
sobrevivência: frear o professor, colar, decorar - Não há educação sem simpatia
os conteúdos sem entendê-los etc. Significa, antropológica dos adultos para com os jovens
que tentam sobreviver numa escola que os da espécie humana;
coloca em situações que contradizem os - A “violência escolar” é um dos maiores
objetivos de espírito crítico e autonomia problemas que os professores devem
proclamados por ela; e enfrentar hoje em dia. Agressões físicas,
b) A injunção construtivista negligencia o fato ameaças graves, pequenas brigas, assédio,
de que a professora trabalha em uma palavras racistas, indisciplina escolar,
instituição. A instituição escolar da sociedade indiferença ostentatória para com o ensino e a
contemporânea continua, mais do que nunca, vida escolar oficial, incivilidades etc.;
a avaliar, avaliar, avaliar e a pedir notas, - Não se pode negar que a transgressão das
notas, notas. normas esteja acometendo a escola
contemporânea, bem como a família e, de
2.4. Ser universalista ou respeitar as modo mais amplo, a sociedade;
diferenças? - Multiplicam-se os apelos para restaurar a
- A educabilidade de todos os seres humanos autoridade (versão de direita) ou para educar
é, ou deveria ser, o princípio básico do os jovens à cidadania (versão de esquerda);
professor: qualquer ser humano sempre vale - Muitas vezes, confundem-se cidadania e
mais do que fez e do que parece ser; vínculo social. A noção de vínculo social
- A escola não pode deixar de ser remete ao conjunto de relações que
universalista porque a sua especificidade é a estabelecemos com pessoas com quem
de divulgar saberes universais e compartilhamos um espaço de vida:
sistematizados, ou seja, saberes cuja verdade conversas, interesses comuns, ações
depende da relação entre elementos em um coletivas, respeito mútuo etc. O conceito de
sistema, e não da sensibilidade pessoal e da cidadania diz respeito à esfera política: ela
interpretação de cada um; exprime o fato de que os membros de uma
- Na sociedade contemporânea, o professor, determinada sociedade têm direitos e deveres
trabalhador do universal e da norma, deve definidos por leis, que foram elaboradas em
também ensinar às crianças respeitarem as um processo coletivo e valem para todos;
diferenças culturais; - A escola vivenciada pelo aluno, aquela que
- Na escola contemporânea, o professor deve, pretende educá-lo à cidadania, não é uma
também, respeitar as diferenças dos seus comunidade de cidadãos:
alunos e individualizar o seu ensino; a) O seu Regimento interno não é uma lei,
- A escola contemporânea não deve apenas mas um diktat imposto pelos poderosos. Não
respeitar as diferenças, ela deve, também, passa de um conjunto de regras ditando
fazer aparecer e registrar diferenças entre os deveres dos alunos e silenciando os seus
alunos; e direitos;
- Existe, no imaginário da instituição, a ideia b) Uma lei vale para todos, incluídos aqueles
de que, em toda turma, há alunos a quem incumbe aplicar a lei. Ora, o
preguiçosos, fracos, dedicados, talentosos e Regimento interior da escola nada diz sobre
até, quando a safra é boa, geniais e que, os direitos e deveres do pessoal da escola; e
portanto, uma professora séria não pode c) A escola não respeita os Direitos do
deixar de atribuir notas diferenciadas. Homem e do Cidadão, aqueles que a Carta da
ONU e a Constituição Federal brasileira
enunciam.
- Esse “amor” é, por natureza, diferente do - O universalismo e a especificidade da escola
que sentimos por nossas próprias crianças. É são legítimos à medida que contribuem para
o sentimento que une as gerações que se esclarecer o mundo particular da criança
sucedem; singular e ampliá-lo; e
- Se desenvolvem, também, relações afetivas - O professor, ele é, antes de tudo, um
entre professores e alunos, inclusive relações trabalhador da contradição. Como o policial, o
implicitamente e, na maioria das vezes, médico, a assistente social e alguns outros
inconscientemente, sexualizadas; trabalhadores, ele consta daqueles cuja
- Um professor não tem obrigação afetiva função é manter um mínimo de coerência, por
alguma para com os alunos. Deve respeitar a mais tensa que seja, em uma sociedade
sua dignidade, deve fazer tudo o que puder rasgada por múltiplas contradições. São
para formá-los; não é obrigado a “amá-los”; trabalhadores cujo profissionalismo inclui uma
- A escola democrática é aquela onde o postura ética. E, se possível for, o senso de
professor ensina e educa todos os alunos, humor.
incluídos os de quem não gosta e os que não
gostam dele; e Texto-base: O que é educação/Carlos
- A escola não é lugar de sentimento, mas Brandão/ A esperança na educação
lugar de direitos e deveres. Essa escola é que - A educação é inevitável;
pode ensinar a cidadania. - A educação sobrevive aos sistemas e, se em
um ela serve à reprodução da desigualdade e
2.6. A escola vinculada à comunidade ou a à difusão de idéias que legitimam a opressão,
escola lugar específico? em outro pode servir à criação da igualdade
- A escola é um lugar específico, A escola é entre os homens e à pregação da liberdade;
um lugar que requer uma forma de - A educação existe de mais modos do que se
distanciamento para com a experiência pensa e, aqui mesmo, alguns deles podem
cotidiana; servir ao trabalho de construir um outro tipo de
- A escola fala aos alunos de objetos que não mundo;
se encontram no mundo cotidiano deles e, às - "Reiventar a educação" é uma expressão
vezes, em nenhum mundo sensível e leva-os cara a Paulo Freire e aos seus companheiros
para universos que apenas existem no do Instituto de Desenvolvimento e Ação
pensamento e na linguagem; Cultural. "Reinventar", é a ideia de que a
- A escola é um lugar onde a própria educação é uma invenção humana e, se em
linguagem vira objeto de linguagem, de algum lugar foi feita um dia de um modo, pode
segundo nível: na escola, fala-se sobre a fala; ser mais adiante refeita de outro, diferente,
- Por causa da sua atividade profissional, diverso, até oposto;
tendem a colocar o saber no topo da escala - Ele sempre quis livrar a educação de ser um
de valores e o dinheiro no mais baixo escalão; fetiche. De ser pensada como uma realidade
- . Ainda hoje, os professores de Filosofia, supra-humana e, por isso, sagrada, imutável e
funcionários assalariados, criticam os Sofistas, assim por diante;
que vendiam o seu saber, e identificamse com - Para se crer na educação é preciso primeiro
Sócrates que, por mais genial que fosse, só dessacralizá-Ia;
podia espalhar de graça as suas idéias - A educação existe em toda parte e faz parte
porque, ocioso, vivia às custas de sua mulher; dela existir entre opostos;
- na sociedade contemporânea, o dinheiro - a educação pertence do mesmo modo a
mede o valor de tudo e os professores, todos e, se existe diferente para alguém, é
considerando que o salário deve corresponder para especializar, para o uso de todos, o seu
ao nível de estudo, julgam que deveriam ser saber e o seu trabalho;
muito mais pagos do que são; - A posse e o poder dividem também o saber
- A comunidade é lugar de resistência, de entre os que sabem e os que não sabem;
memória, de dignidade. Sendo assim, é - O controle sobre o saber se faz em boa
socialmente legítimo preconizar o vínculo medida através do controle sobre o quê se
entre a escola e a comunidade; ensina e a quem se ensina;
- O saber oficialmente transforma·se em - O aluno pouco falava, pouco interrogava;
instrumento político de poder; - A partir da segunda metade do século XX,
- Mais tarde ainda, a própria educação escolar todas as crianças passam a ter direito à
cai sob o poder de decisão do Estado que, educação, porém há ainda muitas crianças
quando autoritário e classista, exerce a fora da escola e não atinge a todos.
educação para o controle da sociedade civil
da comunidade de todos; A sociedade contemporânea
- O processo educativo, que era unitário,
torna·se partido, depois, imposto; e
- As classes subalternas aprenderam a criar e
recriar uma cultura de classe - mesmo quando
aproveitando muitos elementos dominantes.

Vídeoaula 1: A escola de ontem e hoje - A sociedade está passando por inúmeras


A escola do passado transformações e essas transformações
exigem novas posturas do sujeito professor e
outras formas de ensinarmos.

O que é ser professor na


contemporaneidade?

a) Demo (2004): O professor na sociedade


contemporânea deve ser um pesquisador

- Era para poucos da elite;


- Quem dava prosseguimento aos estudos
eram filhos daqueles que detinham posses;
b) Charlot (2002): Defrontar-se com a
- Uma escola conteudista, avaliativa e
necessidade de decidir na urgência e arcar
livrescas;
com as consequências dessas decisões
- Uma escola magistrocêntrica, onde o
professor era o centro do processo;
- Educar não é para qualquer um é preciso ter
um preparo e ter uma boa base teórica para
c) Tardif (2006): Os docentes são aqueles enfrentar este ofício que é algo complexo e
que possuem saberes específicos para muito, muito difícil;
além dos saberes pedagógicos - A educação deve ter uma ação social
emancipatório e o aluno deve ter noção que
ele é um sujeito sócio-histórico;
- Educar não é simplesmente transmitir
conhecimentos, transmitir conhecimentos é
relativamente fácil, mas educar é muito, muito
mais complicado.

É essencial pensarmos em novas práticas

- Sobre os ombros dos professores que


repousa a maior responsabilidade.

O educador na sociedade contemporânea,


segundo Luckesi (2013)

- Segundo Paulo Freire a afetividade não pode


estar deslocada do ato de educar.

Alguns estudiosos e suas teorias de


aprendizagem
- O professor deve ser um profissional bem
preparado e em seus julgamentos ser
verdadeiramente justo.

A complexidade do ato de ensinar,


segundo Freire (1996)
4. Pensar em como o aluno aprende

Desafios da escola contemporânea


1. Transformações vertiginosas
- Quando o aluno chega à escola ele chega
com uma bagagem de inúmeras horas a
frente da televisão ou tecnologia e certamente
ele não aprende como na década de 80 ou 70.

5. Letramento digital

2. Tornar a escola um lugar interessante

- O professor que não cuida de seu letramento


digital ele será engolido e ficará para trás.

6. Valorização, prestígio e reconhecimento


profissional

3. Pensar em como ensinar

- O professor precisa aprender a elogiar e


reconhecer os feitos se seus colegas de
- O aluno desta época aprende diferentemente trabalho e suas práticas pedagógicas;
e requer outras maneiras de aprender e exige - Muito dos desprestigiados ante a carreira do
isto consciente ou inconscientemente do professorado tem a ver com o
professor. desconhecimento de aspectos de sua
profissão;
- O professor precisa ser um sujeito 10. Onde queremos chegar com a
intelectual, que conhece e deve conhecer educação?
muito.

7. A complexidade socioemocional do
educando e do educador

- É preciso saber onde estamos e o que está


acontecendo na sociedade contemporânea
antes de saber onde queremos chegar;
- Hoje entende-se que a subjetividade está na
- Antes de adentramos na educação
ação da sala de aula, a prática do professor é
não-formal é preciso que saibamos onde
marcada por sentimento e particularidade de
estamos na contemporaneidade.
cada sujeito.

Vídeoaula 2: A educação e as
8. Lidar com as diferentes linguagens no
transformações da sociedade
contexto escolar
O papel social da escola e as finalidades
da escola dentro desta sociedade

9. Princípios e valores do sujeito-professor As concepções paradigmáticas e a


e do sujeito-aluno na sociedade educação
contemporânea a) A educação como fenômeno social

- Quais são os princípios que norteiam as - A educação é um fenômeno social e está


ações do professor, ele fala uma coisa e age relacionado ao contexto social vigente;
de outra maneira, diferente do que ele diz. - A educação é socialmente determinada;
- A educação não é a mesma em todos os
tempos e lugares;
- A educação da idade média, por exemplo,
exigiu outros sujeitos professores;
b) A visão Fragmentada da educação e o e) A tecnocracia instalada no interior da
sujeito aluno dentro dela escola

- Aqui o aluno é pensado apenas na questão - Desperdiça o potencial mais nobre do


cognitiva e o que buscamos trabalhar hoje é sujeito, sua capacidade de pensar e de criar;
com um sujeito integral e que ele não copie - A sociedade contemporânea exige sujeito
simplesmente por copiar os conteúdos, mas críticos e criativo.
saiba o porquê de fazê-lo.
f) Superação de visões fragmentadas da
c) A educação na era da produção e escola logocentrico (ou é bom ou ruim, ou
distribuição é 8 ou 80)

- Somos tudo ao mesmo tempo, ao mesmo


d) Santomé (1988) os conteúdos culturais tempo que somos bons, somos ruins.
fora de contexto
As exigências do novo contexto
político-econômico e a educação

- Precisamos pensar de uma maneira


diferente dessa descrita, pois o currículo - Buscamos, portanto, uma educação que
precisa trazer a vida para dentro da escola, ande de mãos dadas com a realidade.
precisa estar relacionado ao contexto do aluno Precisamos superar a visão de uma escola
e trazer os suas problemáticas. tecnicista que não dá mais conta das
demandas atuais.
Repensando as funções da educação 1. Educação não formal: a construção de
um conceito
- Um dos grandes desafios da “educação não
formal” tem sido defini-la, caracterizando-a
pelo que é;
- Ela é definida pela negatividade – pelo que
ela não é;
- O termo “não formal” também é usado por
alguns investigadores como sinônimo de
informal;
- Diferenças de educação formal, informal e
não-formal:
a) A educação formal:
a.1) É aquela desenvolvida nas escolas, com
conteúdos previamente demarcados;
a.2) possui uma legislação nacional que
normatiza critérios e procedimentos
específicos;
b) A informal:
b.1) É aquela que os indivíduos aprendem
durante seu processo de socialização – na
família, no bairro, no clube, durante o convívio
com os amigos etc. –, carregada de valores e
culturas próprias, de pertencimento e
sentimentos herdados;

c) A educação não formal:


c.1) É aquela que se aprende “no mundo da
vida”, via processos de compartilhamento de
experiências, principalmente por intermédio de
espaços e ações coletivas cotidianas;
c.2) A educação não formal não tem o caráter
- O resgate do sentido da educação em todos
formal dos processos escolares, normatizados
os seus aspectos;
por instituições superiores oficiais e
- A educação como direito moral;
certificadoras de titularidades;
- A vida contemporânea é transitória, as
c.3) Não ter um curriculum definido a priori,
situações mudam de forma assustadora e a
quanto a conteúdos, temas ou habilidades a
escola não tem acompanhado essas
serem trabalhadas;
mudanças;
c.4) É uma área que o senso comum e a
- A escola precisa acompanhar as demandas
mídia usualmente não tratam como educação,
da sociedade atual, precisamos ter para isto
porque não são processos escolarizáveis;
uma escuta ativa e atenta do sujeito aluno;
c.5) Um processo com várias dimensões, tais
- Pensar em uma prática pedagógica reflexiva
como:
que procura superar uma visão que tem
c.5.1) a aprendizagem política dos direitos dos
fronteiras;
indivíduo enquanto cidadãos;
- A escola precisa preparar os seus alunos
c.5.2) a capacitação dos indivíduos para o
para este mundo que é sem fronteiras.
trabalho, por meio da aprendizagem de
habilidades e/ou desenvolvimento de
Semana 2 (02/10): A escola enquanto
potencialidades;
espaço formal e lugares não formais para a
c.5.3) a aprendizagem e exercício de práticas
construção do conhecimento
que capacitam os indivíduos a se organizarem
Texto-base: Educação não formal nas
instituições sociais
com objetivos comunitários, voltadas para a presidente da República, aglutinando vários
solução de problemas coletivos cotidianos; outros movimentos sociais. Ou seja, nessa
c.5.4) a aprendizagem de conteúdos que trajetória havia uma intencionalidade, com
possibilitem que os indivíduos façam uma objetivos, práticas;
leitura do mundo do ponto de vista de - A educação não formal operacionaliza-se em
compreensão do que se passa ao seu redor; e discussões e representações teatrais; e
c.5.5) a educação desenvolvida na mídia e - Exemplo de processo de aprendizagem via
pela mídia, em especial a eletrônica etc. educação não formal e os movimentos
c.6) São processos de autoaprendizagem e sociais, cabe citar o movimento das mulheres.
aprendizagem coletiva adquiridas; Muita coisa foi construída a respeito do lugar
c.7) Às práticas da educação não formal se da mulher na sociedade, o respeito a seus
desenvolvem usualmente extramuros direitos e a sua retirada da invisibilidade em
escolares, por meio de organizações sociais, que ela sempre esteve.
movimentos, programas de formação sobre
direitos humanos, cidadania, práticas 3. Considerações sobre a metodologia
identitárias, lutas contra desigualdades e - A metodologia, é um dos pontos mais fracos
exclusões sociais; e na educação não formal;
c.8) A música tem sido, o grande espaço de - As metodologias são, usualmente,
desenvolvimento da educação não formal. planificadas previamente segundo conteúdos
Entre outras, como cinemas, galerias de arte, prescritos nas leis;
museus etc., exercício de participação, nas - As metodologias de desenvolvimento do
formas colegiadas e em conselhos gestores processo de ensino-aprendizagem são
institucionalizados de representantes da compostas por um leque grande de
sociedade civil. modalidades, temas e problemas;
- É fundamental que haja uma compreensão, - A educação não formal tem como método
por parte dos gestores das políticas públicas, básico a vivência e a reprodução do
sobre a necessidade da articulação do formal conhecido, a reprodução da experiência
com o não formal. segundo os modos e as formas como foram
apreendidas e codificadas;
2. Onde se desenvolvem as práticas de - O método nasce a partir de problematização
educação não formal? da vida cotidiana; os conteúdos emergem a
- A educação não formal poderá ocorrer tanto partir dos temas que se colocam como
em espaços urbanos como rurais; tanto em necessidades, carências, desafios, obstáculos
espaços institucionalizados (no interior de um ou ações empreendedoras a serem
conselho gestor, por exemplo), como no realizadas; os conteúdos não são dados a
interior de um movimento social, entre aqueles priori. São construídos no processo;
que lá estão participando e reivindicando, e - O dinamismo, a mudança, o movimento da
vão aprender algo sobre um determinado realidade segundo o desenrolar dos
tema –quem são os opositores, os acontecimentos, são as marcas que
encaminhamentos necessários; como poderá singularizam a educação não formal;
ocorrer ainda em outros espaços - Qualquer que seja o caminho metodológico
sociopolíticos, como nas ONGs, nos museus construído ou reconstruído, é de suma
etc.; importância atentar para o papel dos agentes
- A educação não formal é um processo de mediadores no processo: educadores,
aprendizagem, não uma estrutura simbólica mediadores, assessores, facilitadores,
edificada e corporificada em um prédio ou em monitores, referências, apoios ou qualquer
uma instituição; ela ocorre pelo diálogo outra denominação que se dê para os
tematizado; indivíduos que trabalham com grupos
- Movimento do Custo de Vida, que teve papel organizados ou não. Eles são fundamentais
muito importante na luta contra o Regime na marcação de referenciais no ato de
Militar, porque chegou a colher milhares de aprendizagem, carregam visões de mundo,
assinaturas e entregou uma carta ao então
projetos societários, ideologias, propostas, b) A elaboração preliminar da proposta de
conhecimentos acumulados etc.; trabalho propriamente dita e o
- E diferencia a educação não formal de desenvolvimento e complementação do
outras terminologias e propostas educativas, processo de participação de um grupo ou toda
apresentadas como educação social, a comunidade de um dado território; e
comunitária, popular, integral, permanente etc. c) Na implementação da proposta.
A educação integral é um conceito que tem - O aprendizado do Educador Social realiza-se
sido utilizado nos últimos tempos. Ela se como em uma mão-dupla– ele aprende e
refere à aprendizagem ao longo da vida, mas ensina;
sem dar o foco em um recorte do ponto de - A escolha dos temas geradores dos
vista de cruzamentos e articulações, não trabalhos com uma comunidade não pode ser
havendo grande ênfase na questão da cultura; aleatória ou pré-selecionada, sendo imposta
- A educação não formal tem outro lastro que do exterior para o grupo;
advém de uma formação voltada para a - Todas as capacidades e potencialidades
cidadania, colocando a questão dos valores e organizativas locais devem ser consideradas,
da cultura, além de destacar a importância de resgatadas, acionadas;
pensar a inovação e a criatividade na medida - O Educador Social ajuda a construir, com
em que se pensa sobre novos cenários e seu trabalho, espaços de cidadania no
saídas para determinadas situações; e território onde atua. Estes espaços
- Entende-se a educação não formal como representam uma alternativa aos meios
aquela voltada para o ser humano como um tradicionais de informação a que os indivíduos
todo, cidadão do mundo, homens e mulheres. estão expostos no cotidiano, por intermédio
Sob hipótese alguma, ela substitui ou compete dos meios de comunicação – principalmente a
com a educação formal, escolar. Poderá TV e o rádio;
ajudar na complementação desta última, via - Os “tradutores sociais e culturais”, são
programações específicas, articulando escola aqueles educadores que se dedicam a buscar
e comunidade educativa localizada no mecanismos de diálogo entre setores sociais
território de entorno da escola. usualmente isolados, invisíveis,
incomunicáveis ou simplesmente excluídos de
4. A educação não formal e o educador uma vida cidadã, excluídos da vivência com
social que atua em projetos sociais dignidade;
- O Educador Social é algo mais que um - A cogestão democrática dos trabalhos
animador cultural; desenvolvidos com a comunidade é um
- Para que ele exerça um papel ativo, suposto e um pressuposto insubstituível;
propositivo e interativo, deve continuamente - Informação, indicadores socioculturais e
desafiar o grupo de participantes para a econômicos da comunidade, a
descoberta dos contextos em que estão sendo contextualização desta no conjunto das redes
construídos os textos (escritos, falados, sociais e temáticas de um município, assim
gestuais, gráficos, simbólicos etc.); como breves notícias sobre suas memórias e
- Os Educadores Sociais são importantes, experiências históricas são parte do acervo de
para dinamizarem e construírem o processo instrumentos para formar um Educador Social
participativo com qualidade; de e em uma dada região;
- O espontâneo tem lugar na criação; porém, - Todas as atividades desenvolvidas pelo
não é o elemento dominante no trabalho do Educador Social devem, também, buscar
Educador Social, que tem: princípios, métodos desenhar cenários futuros, já que os
e metodologias; diagnósticos servem para localizar o presente,
- haveria três fases bem distintas na mas também, para estimular imagens e
construção do trabalho do educador social, a representações sobre o futuro;
saber: - O Educador Social também atua junto aos
a) A elaboração do diagnóstico do problema e diferentes movimentos sociais
suas necessidades; contemporâneos, tais como:
a) Os movimentos populares, que reivindicam não formal junto a comunidades variadas,
melhores condições de vida e trabalho, no especialmente em situação de vulnerabilidade
meio rural e/ou urbano; social, associada à promoção da cidadania,
b) Os movimentos identitários, que lutam por inclusão social etc.
direitos socioculturais mais específicos; e
c) Os movimentos globalizantes, como o 7. Notas finais
Fórum Social Mundial, A Via Campesina etc., - A mídia podia trabalhar a questão da
que atuam enquanto mediadores e conscientização para a cidadania, mas não o
Educadores Sociais. faz;
- As pessoas concordam que a educação não
5. Qual é o perfil/papel do profissional formal é muito importante, mas não existe
(educador social) que atua nesse campo? uma consciência sobre o assunto, um
Ele está sendo formado para atuar? reconhecimento;
- Majoritariamente mulheres com ensino - Educação não formal, Ela é relativamente
superior, não pertencentes à comunidade, em nova, na sua dimensão educativa, para ser
uma faixa etária por volta dos 30 anos, com pensada como algo que se relaciona com a
formação predominante em Pedagogia, educação;
Psicologia e Serviço Social; - Até hoje, há pessoas e escolas que têm
- O papel desses profissionais é muita resistência à educação não formal, que
extremamente importante, porque sem a acham que é uma tarefa desempenhada
existência deles os projetos simplesmente não somente pelas ONGs, e que são projetos que
existem; viriam para acabar e diminuir com o poder das
- Os gestores têm uma formação de ensino escolas, da educação formal;
superior; já os que ainda atuam na base, que - O caminho para a educação não formal se
implementam, poderão ou não ser formados, consolidar é, primeiramente, ter
dependendo de que projeto, região social e reconhecimento, ultrapassando essa ideia de
classe social estão atendendo; complementação, de ser um ajuste;
- Existe uma polêmica com relação ao - A educação não formal tem um espaço
Educador Social, porque estão em debate próprio, a
propostas para formar o profissional para questão da formação da cidadania, de uma
atuar nessa área via cursos de Pedagogia cultura cidadã, da emancipação, da
Social (o profissional seria o Pedagogo humanização. A questão da cidadania não se
Social); e restringe ao ato de votar;
- Significa dividir faculdades de Pedagogia - A educação não formal é uma ferramenta
que formam o pedagogo para atuar na escola importante no processo de formação e
(educação formal) e o para atuar em projetos. construção da cidadania das pessoas, em
qualquer nível social ou de escolaridade;
6. Qual é o cenário da educação não formal - Ela potencializa o processo de
no Brasil? Onde está sendo desenvolvida? aprendizagem, complementando-o com outras
- O público é formado por jovens e dimensões que não têm espaço nas
adolescentes que também estão na escola estruturas curriculares. Ela não substitui a
formal, mas lá não tem horário, nem condição escola, não é mero coadjuvante para
de desenvolver uma série de projetos, como simplesmente ocupar os alunos fora do
na área de informática, da música e do período escolar – chamada por alguns de
esporte. Assim, as entidades, por meio de escola integral ou educação permanente;
convênios e parcerias, acabam - Ela tem condições de unir cultura e política
desenvolvendo os projetos sociais em (aqui entendidas como modus vivendis,
conjunto com as escolas; e conjunto de valores e formas de
- Determinadas empresas – relacionadas ao representações), dando elementos para uma
terceiro nova cultura política;
setor e que desenvolvem programação para a - A educação não formal ainda não está bem
área social também trabalham com educação consolidada, não é um conceito, mas todas as
categorias e os conceitos se estabelecem em pelas profundas transformações oriundas das
um campo de disputas pelo significado e tecnologias da comunicação;
demarcação do campo de atuação; e - Ele não se restringe aos aspectos
- É preciso que haja um debate mais aberto, econômicos e políticos, afetando nossas vidas
com os pensamentos da educação não de maneira persistente e profunda;
formal, as diretrizes, as possibilidades e as - A globalização foi influenciada pelos
operacionalidades. sistemas de comunicação do final da década
de 1960, especialmente, pelo lançamento do
Texto-base: Inclusão digital e os principais primeiro satélite comercial;
desafios educacionais brasileiros - Além dos efeitos da incomensurável troca de
Introdução informações e de uma tendência à
- Acessar e usufruir dos benefícios homogeneização da cultura, a globalização
promovidos pelas Tecnologias da Informação também contribui para o aumento da
e Comunicação (TIC) constitui importante concentração de renda;
condição para a apropriação de bens culturais - A reestratificação social mantém privilégios
e exercício da cidadania; e carências, assim, “o que é livre para alguns
- De acordo com o Comitê Gestor da Internet abate-se sobre outros como um destino cruel”
(CGI), as escolas públicas brasileiras (BAUMAN, 1999, p. 79);
possuem insuficientes recursos tecnológicos - Às redes computacionais globais
para a condução de atividades pedagógicas; possibilitarem maior participação democrática
- A baixa qualidade do ensino interfere não resiste ao fato de que um poder
significativamente na capacidade de uso das transnacional tem se concentrado em
TIC quando se trata de ampliação dos determinados centros geopolíticos;
conhecimentos, de melhoria das condições de - Interconexão global do capitalismo
vida, bem como de maior participação social; neoliberal, aumentando a concentração de
- A presença de computador e de internet nos renda e a dissimetria de poderes, tem levado
domicílios das regiões Sudeste e Sul é ao risco de uma exclusão crônica, a qual
significativamente maior do que do Nordeste e ameaça tanto os países do terceiro mundo
Norte; quanto a população economicamente
- A classificação de inclusão digital é realizada desfavorecida dos países desenvolvidos; e
pela ITU desde 2008, baseando-se em - O aumento de acesso às TIC não
indicadores que medem a infraestrutura de significaria, necessariamente, maiores
acesso às TIC, assim como as habilidades, a oportunidades de inclusão social, sobretudo
capacidade de obtenção de benefícios e seu para as populações desprovidas de uma
impacto no rendimento; formação educacional consistente.
- O Brasil está melhorando em termos de
acesso e infraestrutura, porém no quesito que Fosso digital e a e-inclusion
mede habilidades estamos piorando; - O fosso digital ainda permanece enorme
- Essa queda do indicador que mede devido principalmente à heterogeneidade de
habilidades está relacionada à baixa usos realizados por grupos socioeconômicos
qualidade na educação, incluindo referências distintos;
de taxas de analfabetismo da população; e - Mancinelli, “não há um fosso digital, mas
- Se de um lado, o Brasil tem avançado múltiplos fossos, os quais estão relacionados
significativamente em termos de a uma variedade de fatores tais como: gênero;
acessibilidade às TIC, de outro, há dúvidas no idade; agrupamentos étnicos; incertezas de
que tange à inclusão digital efetiva e vida e condições financeiras; bem como
transformadora da realidade social. insegurança social e no trabalho”;
- As barreiras para inclusão digital são
A globalização e as TIC graduais e estão fortemente associadas aos
- A globalização é um processo em curso, que processos de exclusão no seio da sociedade;
teve início na década de 1990, mobilizado - Os indivíduos com maior acesso às TIC
tendem a possuir maior escolaridade, maior
renda e status profissional do que aqueles que
não possuem acesso; 1) Melhoria da proficiência em leitura e
- Digital divide – termo normalmente traduzido escrita dos alunos brasileiros
para o português por fosso digital –, para o - Os estudantes brasileiros apresentam muita
e-inclusion, pois digital divide teria um enfoque dificuldade na leitura e compreensão de texto;
restrito à dimensão do acesso, enquanto o - Além da baixa proficiência em leitura,
termo einclusion seria mais amplo, persiste o grave problema do analfabetismo
incorporando a noção de benefícios advindos na população adulta brasileira;
do uso das TIC em termos de participação - em 2015, aproximadamente 8% das pessoas
social; com 15 anos ou mais eram analfabetas;
- Inclusão digital significa: Efetiva participação - O analfabetismo entre adultos persiste de
de indivíduos e comunidades em todas as maneira crônica, contribuindo para a
dimensões básicas econômicas e de perpetuação do problema nas crianças e
conhecimentos da sociedade, através de seus jovens, pois, filhos de pais analfabetos podem
acessos às TIC [...]. Além disso, e-inclusão ter menores expectativas escolares;
refere-se à graduação pela qual as TIC - O letramento digital, definido como “a
contribuem para equalizar e promover a capacidade de o indivíduo responder
participação na sociedade em todos os níveis: adequadamente às demandas sociais que
relacionamentos sociais, trabalho, cultura, envolvem a utilização de recursos
participação política, etc. (KAPLAN, 2005, p. tecnológicos e da escrita no meio digital”
7, tradução nossa); (SILVA, 2011, sem paginação);
- A inclusão digital como um aspecto - A inclusão digital envolve diferentes tipos de
fundamental para a melhoria da equidade apropriação dos recursos tecnológicos,
social e econômica de um indivíduo, de uma incluindo uma forma passiva e ativa de se
comunidade ou de uma nação; relacionar com as TIC;
- A formulação de políticas públicas de - À apropriação ativa, o autor destaca três
inclusão digital deve ser alvo de estudos e de níveis:
investimentos governamentais; a) O primeiro refere-se à alfabetização digital
- Bradbrook e Fisher (2004), que analisa a pela qual o indivíduo aprende a usar os
inclusão digital sob cinco critérios, definidos aplicativos básicos;
como 5Cs: b) Um segundo nível diz respeito à
a) Conectividade, que diz respeito ao acesso capacidade de usar a informática como meio
e à infraestrutura; de desenvolvimento intelectual e profissional;
b) Capacitação, se referindo às habilidades e
para o uso das TIC; c) O terceiro nível envolve a produção de
c) Conteúdo, pertinente à relevância das conteúdo, isto é, o uso das TIC para resolução
informações acessadas; de problemas.
d) Confiança, referente aos aspectos de - Para que os estudantes consigam passar de
segurança; e meros usuários passivos a ativos, é desejável
e) Continuidade, isto é, a capacidade de fazer que tenham domínio prévio da escrita e da
uso contínuo das TIC. leitura;
- As crianças e jovens com problemas na
Discussão: os sete desafios da inclusão leitura e na escrita eram as que possuíam
digital maiores dificuldades para realizar pesquisas
- Estão intrinsecamente relacionados aos na internet;
aspectos econômicos, sociais, educacionais e - As crianças originárias de lares mais pobres
culturais mais amplos; e demonstravam uma tendência de se contentar
- Atualmente, não é mais viável pensar em com as atividades de diversão, enquanto as
inclusão social sem levar em conta a crianças com melhores condições
dimensão do acesso e da garantia de bom socioeconômicas eram mais ativas,
aproveitamento dos dispositivos digitais em conseguindo acumular informações e adquirir
prol da cidadania. saberes a partir de suas interações virtuais;
- O fato de um adolescente concluir o Ensino internet), bem como deficiências na formação
Fundamental no prazo previsto não significa dos professores;
que ele teve uma boa escolarização; - O Programa Nacional de Tecnologia
- Embora nossas políticas de ampliação do Educacional (ProInfo), criado com o intuito de
acesso e permanência dos estudantes na promover melhoria na educação por meio do
educação básica tenham avançado, os níveis uso de ferramentas tecnológicas;
de qualidade na educação ainda constituem - O programa não tem causado impacto na
um grande desafio; e qualidade de ensino do país, pois questões de
- Para além da pretensão política de equipar base – por exemplo, o investimento nos
as crianças com sofisticados dispositivos de professores –, não têm sido enfrentadas pelo
informática, é imprescindível investir em ações poder público;
que tenham impacto na proficiência em leitura - Os dispositivos tecnológicos devem ser
e escrita, para, assim, minimizar os riscos de usados de maneira complementar e não
que o laptop ou o tablet se transforme em substitutiva aos meios impressos; e
mais um objeto de distração, desprovido de - É inegável a necessidade de se aumentar o
função educacional e social. número de computadores por alunos nas
escolas públicas, viabilizando atividades
2) Promoção de adequada infraestrutura pedagógicas relevantes à formação crítica e
tecnológica nas escolas públicas socialmente inclusiva.
- Importantes desigualdades são engendradas
em decorrência do baixo ou do inadequado 3) Capacitação dos professores para o uso
investimento em infraestrutura tecnológica nas das TIC
escolas públicas; - O simples uso diário das TIC não garantia o
- Segundo a opinião dos professores, o desenvolvimento de habilidades que de fato
principal limitador do uso do computador e da pudessem ampliar o universo de
internet nas escolas públicas ainda era a falta conhecimentos e perspectivas futuras de
de infraestrutura; empregabilidade e de participação social dos
- Embora a gestão pública tenha feito esforços adolescente provenientes de família de baixa
no sentido de oferecer infraestrutura de renda, uma vez que imperava um
computadores às escolas, muitas vezes os condicionamento, por parte da indústria
equipamentos nem eram retirados da caixa, audiovisual, para que eles permanecessem
ou não passavam por manutenção adequada em atividades repetitivas de diversão;
para que fossem usados nas práticas - O desenvolvimento de habilidades em
pedagógicas; informática está bastante relacionado à
- O Brasil possuía, em média, 25 alunos para condição profissional dos pais;
um computador na educação primária e 19 na - A maioria dessas crianças não terão
educação secundária; oportunidades de desenvolver habilidades de
- O número de alunos por computador tem informática com seus familiares ou rede de
sido considerado um indicador do contatos próximos;
investimento governamental em programas de - É essencial que os educadores estejam
inclusão digital, contudo, infraestrutura em familiarizados com os ambientes digitais que
informática não necessariamente precisa atraem as crianças e adolescentes, podendo
começar pela distribuição de laptops às conduzir esses interesses para finalidades
crianças; pedagógicas;
- Um Computador por Aluno (UCA) também - Além da falta de capacitação, os professores
tem sido alvo de questionamentos sobre sua destacavam a falta de condições de trabalho
eficácia; adequadas, de tempo para preparar aulas,
- Com implantação do projeto revelou baixo tendo em vista que muitos docentes eram
índice de aproveitamento, evidenciando obrigados a acumularem cargos devido aos
graves problemas principalmente quanto à baixos salários recebidos;
infraestrutura (por exemplo: falta de armários,
de rede elétrica satisfatória e de conexão à
- Um dos grandes entraves do projeto UCA foi 5) Melhoria da segurança e confiabilidade
a dificuldade na capacitação dos professores - O acesso aos conteúdos pornográficos era
para o uso das tecnologias em sala de aula; proporcionado por um dos principais jornais
- A capacitação dos professores para o uso da cidade de São Paulo. Nos chats com
das TIC, deve ser desenvolvida a partir do imagens eróticas, os adolescentes tinham
projeto político pedagógico da escola, contato com fotos e vídeos de pedofilia, de
integrando os recursos tecnológicos às zoofilia e de violência sexual, além da
práticas pedagógicas das diferentes possibilidade de estabelecerem conversações
disciplinas do currículo e não apenas um uso online com as pessoas que postavam tais
esporádico; e imagens;
- um dos principais motivos do fracasso das - A ciberdependência e a dependência por
políticas públicas de inclusão digital no Brasil games violentos são dois outros importantes
refere-se ao baixo investimento no professor. riscos quase sempre menosprezados quando
se trata da relação de crianças com as TIC;
4) Promoção de acesso aos conteúdos - Diferentemente do adulto, as crianças e os
significativos de cidadania e adolescentes não conseguem colocar limites
empregabilidade em si próprios, controlando o tempo que
- A seleção de informações e de conteúdos dispendem nas atividades lúdicas realizadas
constitui um imenso desafio aos educadores nos computadores, smartphones e
diante do incomensurável lixo virtual e da videogames; e
indução de hábitos realizada pela indústria - A proteção de crianças online deve se
audiovisual; prioridade, no entanto é fundamental equilibrar
- Nos vemos diante de três problema riscos e oportunidades presentes na Internet.
importantes e complementares: 6) Estímulos e suporte à continuidade de
a) Primeiramente, a baixa formação cultural e acesso
tecnológica dos professores, dificultando o - Os constantes avanços tecnológicos fazem
acesso e o domínio de conteúdos importantes com que os equipamentos se tornem
disponíveis no meio virtual; obsoletos em pouco tempo, portanto, os
b) O segundo problema refere-se à questão grupos economicamente favorecidos
curricular. O que é importante ser ensinado às usufruem das inovações rapidamente,
crianças e jovens?; e enquanto os mais pobres permanecerão longo
c) O terceiro aspecto diz respeito ao dilema tempo com equipamentos desatualizados.
que os professores enfrentam cotidianamente
ao considerar as preferências de seus alunos, 7) Adaptações tecnológicas e pedagógicas
ao mesmo tempo em que precisam auxiliá-los visando à inclusão das pessoas com
a desenvolver outros interesses e vislumbrar deficiência
novas perspectivas de futuro. - É essencial que os programas de inclusão
- O acesso dos adolescentes aos conteúdos digital contemplem as necessidades
relevantes tem sido cada vez mais restrito; específicas dessa população por meio de
- A escola tem um papel essencial, que na adaptações de equipamentos, softwares
visão dos autores consiste na “formação de pedagógicos, bem como capacitação dos
capacidades cognitivas gerais, assim como na professores; e
autonomia de seu uso, por meio de contato - O uso das TIC direcionado à inclusão das
assíduo e estudo racionalizado das obras pessoas com deficiência esteja contemplado
humanas do passado e do presente”; no projeto político pedagógico e que os
- A escola deve contribuir para a formação de professores possam ser capacitados para a
pessoas capazes de manter a atenção realização de tais atividades.
duradoura e de refletir sobre suas escolhas de
maneira racional e sensível; e Considerações finais
- O domínio das TIC pode favorecer - Um maior acesso às TIC por parte dos
perspectivas de inclusão profissional. estudantes brasileiros não possibilita, por si
só, enriquecimento educacional, uma vez que
gigantescos oligopólios tecnológicos induzem como forma de se promover um diálogo
determinados usos direcionados à diversão e formativo que propiciasse o encontro da
à formação de consumidores; escola com os saberes acumulados por
- A escola possui importante papel na diversas comunidades e etnias afro-indígenas,
formação cultural ampla e crítica, para que ao fundamentados sobretudo na transmissão
invés de uma submissão irrefletida aos oral;
imperativos tecnológicos e audiovisuais, os - Foi unânime a percepção de que há muito o
estudantes possam usar as TIC visando a que fazer, sobretudo no plano da educação
uma maior participação social e melhoria de quilombola, levando consigo a importância de
suas condições de vida; se conhecer as consequências do sistema
- A inclusão digital não pode ser reduzida ao escravocrata implantado no país, não apenas
acesso; na cidade, mas na vida daqueles que nos
- O investimento na formação cultural e fazem lembrar mais diretamente de quão
tecnológica do professor é essencial, bem árdua tem sido a luta pelos direitos à terra e à
como a melhoria em termos de salário e moradia e de uma vida digna para os
condições de trabalho; afrodescendentes de nosso país;
- O governo não pode se eximir do - O projeto de modernidade implantado no
compromisso de elaboração e implementação país, como apontado por Roberto Schwarz+,
de políticas públicas efetivas em inclusão se deu graças à estranha combinação que se
digital para todos, contemplando as fez presente desde o início, entre o projeto de
adaptações tecnológicas e pedagógicas modernização e a barbárie herdada do regime
necessárias à formação cidadã, incluindo as escravocrata. Uma combinação esdrúxula,
pessoas com deficiência; e cujos resquícios se fazem presentes ainda
- É um mito acreditar que os estudantes hoje na mentalidade escravocrata
podem desenvolver competências complexas internalizada pela elite, criando-se uma
sozinhos hierarquia camuflada - entre o pobre/rico,
entre o negro/branco, entre o
Texto-base: Culturas ancestrais e branco/negro/mestiço;
contemporâneas na escola - Os cinco sentidos do monoculturalismo
Capítulo: Apresentação: uma discussão ocidental: do saber e do rigor científicos, do
prévia com vistas à descolonização do tempo linear, da naturalização das diferenças,
currículo da escala dominante e do produtivismo
- Lei 10.639/03: Pretende contribuir para a capitalista;
descolonização do currículo e provocar - A descolonização do modo de pensar
tensões no interior da própria transmissão do europeu com base no respeito ao outro,
saber técnico-científico veiculado pelas acompanhada de uma ampla concepção de
disciplinas escolares, além de criar novas justiça e de responsabilidade social, para cuja
estratégias didáticas para o ensino de história, efetivação haveria que se promover a
literatura, geografia, inglês, português, reparação do racismo infligido aos povos
educação física, entre outras disciplinas, por negros, cujo legado seria o racismo
meio da música, da poesia, da dança e de institucional; e
lutas ancestrais; - O hip-hop, ao propor um modo contundente
- A ideia era superar hierarquias de saberes e de afirmação de tudo que tem sido negado
conhecimentos, pela via do reconhecimento aos nossos afrodescendentes, ao mesmo
das contribuições das culturas que foram tempo, que, valendo-se da ironia, exercitam
renegadas ou distorcidas pelo saber uma sorte de pensamento crítico-destrutivo
acadêmico, marcadamente monocultural e justamente em relação aos pilares da razão
eurocêntrico; moderna ocidental – liberdade, igualdade e
- A Lei 10.639/03, em sua redação inicial, fraternidade.
indicava a importância de se estabelecer uma
íntima relação entre os agentes escolares e os Emancipação estética do negro
movimentos sociais do campo e da cidade,
- As culturas diaspóricas como resultado de
um longo processo de hibridação; e
- Uma formação que restitua o lugar de fala às
populações historicamente prejudicadas - que
no caso do Brasil são os afrodescendentes e
indígenas – de modo a constituir uma
consciência crítica e impulsionar ações
emancipatórias entre alunos, mas também
nas práticas cotidianas escolares.

Diretrizes curriculares para a - Era vista como sem importância, ou seja,


implementação da lei 10639/03 não era valorizada dentro do contexto
- o Decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de educacional;
1854, não admitia escravizados nas escolas - Ela era destinada ao campo e foi pensada
públicas de nosso país; aquelas pessoas em situação de
- Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de vulnerabilidade que não possuíam
1878, estabelecia que os negros só podiam escolaridade;
estudar no período noturno; - O tempo destinado a ela era para os sujeitos
- Ainda que na Constituição de 1988, tenha que eram “desocupados”;
sido declarada a democratização do ensino - A maioria dessas ocupações não formais
público com ênfase na cidadania, na eram destinadas à alfabetização funcional, ou
dignidade e no acesso igualitário à educação, seja, alfabetizar de maneira rápida para a vida
a realidade do Brasil é marcada por inúmeras em sociedade.
manifestações de preconceito, racismo e
discriminação em relação aos A educação não formal na década de 90
afrodescendentes;
- O Brasil, durante os períodos da Colônia, do
Império e da República, manteve
historicamente, dos pontos de vista, legal e
educacional, uma postura excludente diante
de determinados povos e foi apenas nos
últimos anos que isso começou a mudar;
- As atuais diretrizes curriculares nacionais
para a Educação Básica orientam que a
experiência escolar seja capaz de articular os
- A educação não formal passa a ser
saberes dos (as) alunos (as) com os
valorizada, pois é entendido que ela ensina
conhecimentos historicamente acumulados,
habilidades que não são apenas aprendidas
para que haja uma formação ética e estética,
em espaços formais.
baseada em valores e atitudes que possam
reverberar no todo social; e
- Os projetos interdisciplinares devem ser
formulados a partir de questões da
comunidade no intuito de fortalecer uma
sociedade mais inclusiva, democrática,
próspera e sustentável.

Videoaula 3: Educação não formal:


conceitos e histórico
A educação não formal até a década de 80
Educação Não Formal: contemporaneidade
- A terceira área é uma das mais importantes
dentro da sociedade brasileira e mundial atual,
aonde é abordado o coletivo e sua
valorização, pois a sociedade é muito
individualista;
- A educação não formal ocorre em diversos
espaços: na empresa, em asilo, no teatro, no
cinema, etc.;
- A importância do letramento digital é
irrefutável e a educação não formal pode
ajudar neste sentido.

Educação para a Vida

- A educação não formal não substitui a


educação formal, ambas são importantes e
necessárias; - A educação não formal busca preparar o
- A educação não formal tem por objetivo sujeito para os desafios, problemas e
atender a uma sociedade globalizada, angústias que fazem parte da vida; e
neoliberal, marcada por injustiças sociais, - Situações como meditação, aprender a se
fazendo frente a essas situações que podem concentrar-se, filosofar são cada vez mais
acontecer e trazer aprendizado dentro da valorizadas na sociedade atual e é abordada
educação não formal. pela educação não formal.

Áreas abrangidas pela educação não Educação não formal: intenção e


formal resultados

- Ela busca formar a cultura política de um


- São inúmeras e acima são destacadas grupo, de um povo ou comunidade e essa
apenas cinco dessas áreas; formação busca estabelecer laços sociais
estreitos que podem promover a compreensão
da autoestima, do bem comum, do aprender a
fazer a algo pelo outro;
- Busca desenvolver a consciência do sujeito,
construção da identidade, valorizar o indivíduo
para a diversidade;
- Ela trabalha com aquilo que não está no
script, está roteirizado, pois ela traz a vida
para dentro da aprendizagem, muitas vezes
precisamos aprender coisas que não são - A educação pode acontecer em diferentes
abarcadas pela escola e que a vida exige; espaços e lugares;
- Todos nós podemos trabalhar com a - Estamos ininterruptamente aprendendo de
educação não forma e atuar de diferentes diferentes formas e em diferentes situações;
formas. - A escola não é o único lugar onde a
educação pode ocorrer é preciso ampliamos
Entrevista com Mariane Goes dos Santos nossa visão;
- A educação informal é tão importante - A transformação da sociedade
quanto as questões abordadas na educação contemporânea corroboram para vermos as
formal e não formal; multifacetas e interdisciplinares da educação e
- Na educação informal nossos pais e que a mesma ocorre em múltiplos lugares.
familiares são nossos primeiros professores;
- A educação informal abarca a todos e como A Pedagogia não reduz à prática docente
Libâneo diz: “ninguém escapa da educação”;
- A educação ocorre em diferentes meios,
espaços, com distintas pessoas;
- A educação informal é a consequência das
influências que permeiam o cotidiano do
indivíduo, ou seja, o ambiente sociocultural
que ele vive; e
- A educação informal precisa estar
respaldada nos conhecimentos científicos
- A prática pedagógica escolar não é a única
para atuar de forma integrada as outras
prática do Pedagogo. É preciso pensarmos
educações, quanto mais conhecimentos
nos aspectos sociopolíticos, ideológicos da
científicos melhores respaldados estarão os
educação, é pensar que a educação formal é
responsáveis pela educação informal.
intencional e promovida por diferentes
processos educacionais e que é formada por
Vídeoaula 4: Educação não formal: lugares
diferentes situações e atores.
de atuação do pedagogo
Lugares onde a educação acontece
Um dos desafios do Pedagogo

- O grande desafio da atualidade é de que ele


o Pedagogo deve saber trabalhar dialogando
com diversos contextos e áreas;
- Amplia com isso o campo de atuação do - O múltiplo, o inesperado, o diferente também
Pedagogo e amplia o embasamento deste faz parte da educação não formal;
profissional. - A educação informal provoca uma
desacomodação de saberes.
Formação do Educador Contextos de Mudanças…

Atuação do Pedagogo
- É preciso mais do que nunca pensarmos na
formação do educador que irá atuar em
diferentes contextos culturais e educacionais;
- Cuidar dos processos de ensino e
aprendizagens que estão em distintos
espaços;
- Ninguém escapa à educação informal.
Enquanto a educação formal é planejada,
marcada por inúmeros feedback;
- A educação não formal não ocorre de
qualquer jeito, a sua diferença para a
educação formal é que essa última ocorre em
espaços tradicionais e enquanto a outros em Entrevista com Leny André Pimenta
múltiplos outros espaços. - Educação formal se dá no ambiente do
contexto escolar e a não formal se dá fora
desse ambiente. Há uma multiplicidades que
diferencia as duas educações;
- A globalização, os avanços tecnológicos
tudo isso concorreu para que se houve um
impacto grande na sociedade, economia e
com isso novas aprendizagens e
especializações foram formadas para
desenvolver outras habilidades nos sujeitos;
- Em 1990 avançou a educação não formal e
trouxe grandes contribuições, alavancando a
Comparação da educação formal, não gestão de conhecimentos;
formal e informal - É muito importante de se repensar as
formações dos cursos e as metodologias
empregadas nos cursos de Pedagogia, para
que a cultura de acreditar que o pedagogo é
somente para a escola e não para o espaço e
o contexto social e que este profissional cabe
em outros espaços também;
- A aprendizagem hoje é uma constante, o
aprendizado não ocupa um único espaço,
somos nós que colocamos travas a estes
aprendizados.
- A escola é um espaço institucional e um
aparelho ideológico do Estado;
Semana 3 (09/10): A educação não formal - Necessidade de estabelecer alguns
enquanto espaço alternativo para a parâmetros para definição dos termos
educação educação não formal e divulgação científica.
Texto-base: A Educação não formal a
divulgação científica: o que pensa quem Referencial teórico
faz? - Massarani (1998) indica ser importante
Resumo diferenciar os termos difusão, disseminação,
- Inexistência de uma definição comum vulgarização, divulgação e popularização da
desses termos tanto na bibliografia quanto ciência, já que muitas vezes são usados
entre os profissionais da área. inadequadamente como sinônimos. Esta
autora indica que o termo vulgarização,
Introdução oriundo da língua francesa, teve bastante
- Existe um consenso com relação à influência no Brasil. Já o termo popularização
importância e necessidade de se elaborar é utilizado nos países de língua inglesa,
políticas e estratégias pedagógicas que apesar de existirem autores que defendem o
efetivamente auxiliem na compreensão do uso do conceito de comunicação pública em
conhecimento científico, por meio de ciência;
experiências fora da escola; - Hoje, no Brasil, há uma hegemonia no uso
- Ainda são tímidas, em especial no Brasil1 , da expressão divulgação científica e, neste
as iniciativas de investigação que tenham por sentido, ela propõe considerar vulgarização,
objeto a educação não formal e a divulgação divulgação, popularização e comunicação
científica; pública como tendo o mesmo significado,
- Novos espaços de intercâmbio contribuíram diferenciando-se da difusão e da
para a popularização da investigação e da disseminação;
tecnologia e instaurou-se “o início de um - Bueno (1985), Afirma que este último
diálogo entre ciência e sociedade”; “pressupõe um processo de recodificação, isto
- A questão central agora não é mais a é, a transposição de uma linguagem
quantidade de conhecimentos, e sim, “a especializada para uma linguagem não
capacidade de criar sentido, a atitude de especializada, com o objetivo de tornar o
mobilizar as informações úteis em um conteúdo acessível a uma vasta audiência”;
momento adequado e numa lógica de fluxo”; - Difusão científica e suas aplicações no
- O perfil ideal do divulgador da ciência. Por mundo dos museus hispânicos, Valdés
um lado, defende-se que o próprio cientista Sagüés (1999: 27) afirma que esta “consiste
deve se ocupar da divulgação, seja pela sua em atividades de promoção e de divulgação
“natural” competência, seja por um do resultado de trabalhos de profissionais
compromisso em compartilhar o conhecimento especializados, de discursos derivados deste
que produz com aqueles que o financiam, ou trabalho de criação”. Os museus, ao
seja, a sociedade. Por outro, vão se assumirem a função de divulgadores do
ampliando os cursos de formação de patrimônio cultural e científico, contribuem
profissionais na área de jornalismo científico e para a compreensão desse patrimônio;
de mediadores/monitores para atuação em - Barros (1992:61), propõe cinco categorias de
museus de ciências; divulgação científica, a saber: divulgação
- Verificou-se certa heterogeneidade quanto à utilitária, divulgação do método, divulgação
utilização destes termos em textos teóricos e dos impactos, divulgação dos avanços ou
na prática dos profissionais da área - muitos evolucionista e divulgação cultural. Esta tem
dos trabalhos relacionados a educação não por objeto a cultura enquanto sua linguagem é
formal se referem a ações em educação a ciência enquanto elemento inicial a partir do
popular, não estando necessariamente qual se aborda a cultura;
vinculados ao campo da educação em - Divulgar não é ensinar. (...) A divulgação tem
ciências; e outro objetivo. Pode servir tanto como
instrumento motivador quanto como
instrumento pedagógico, mas, em nenhum
dos casos, espera-se que vá substituir o como aprendizes e que possui objetivos de
aprendizado sistemático; aprendizagem;
- Aos museus cabe a dimensão cultural da - Fordham (1993; apud Smith, 2001:5), na
nossa tradição científica ou, como alguns educação formal o currículo é elaborado “de
afirmam, a literacia científica.” (Bragança Gil & cima para baixo”, enquanto que na educação
Lourenço, 1999:13); não formal este seria resultado de uma
- Entre os autores que discutem a divulgação negociação ou ainda elaborado “de baixo para
científica não existe um consenso relativo à cima”; no caso da educação informal, não
definição dos termos ensinar e divulgar; haveria currículo ou seria do tipo em “forma de
- Cazelli (2000) os autores de língua inglesa diálogo”;
usam os termos informal science education e - Cita Dierking & Falk (1999), que definem
informal science learning para todo o tipo de “aprendizagem informal” por meio de
educação em ciências que usualmente características como livre escolha,
acontece em lugares como museus de ciência não-seqüencial, autoconduzida, voluntária, e
e tecnologia, science centers, zoológicos, social; Wellington (1990) que acrescenta
jardins botânicos, no trabalho, em casa etc.; outras características como, não-estruturada,
- Na de língua portuguesa subdividem a não-avaliada, sem cobrança, aberta, centrada
educação em ciências fora da escola em dois no aprendiz, não baseada em currículo;
subgrupos: educação não-formal e informal, - Falk (2001), o "free-choice learning"
sendo o último relativo aos ambientes (aprendizagem por livre escolha) como forma
cotidianos familiares, de trabalho, do clube de enfrentar o problema da confusão entre os
etc.; termos formal, não formal e informal;
- A educação não formal, eram associadas a - “Aprendizagem por livre escolha” está,
esse tipo de educação características como a segundo este autor, no fato de que o interesse
relevância para as necessidades de grupos e a intenção do aprendizado tem origem no
em desvantagens; a relação com as pessoas indivíduo, logo não é imposta por elementos
de categorias específicas; o foco em externos;
propósitos claramente definidos; e a - Falk (2001), este autor destaca a
flexibilidade de organização e de métodos; importância de se elaborar o que ele chama
- Crombs, Prosser & Ahmed (1973, apud de uma “infraestrutura” para o
Smith, 2001), definem as três categorias de desenvolvimento da “aprendizagem por livre
sistemas de aprendizagem surgidos nesse escolha” nos Estados Unidos, ou seja, o
momento: educação formal como um sistema desenvolvimento de uma política que
de educação hierarquicamente estruturado e efetivamente instrumentalize os espaços onde
cronologicamente graduado, da escola a “aprendizagem por livre escolha” ocorre
primária a universidade, incluindo os estudos para dar conta da “nova sociedade
acadêmicos e as variedades de programas americana”, fundamentada na informação e
especializados e de instituições de no conhecimento;
treinamento técnico e profissional; educação - Trilla (1993), Para esse autor os processos
informal como o verdadeiro processo de educação informal se dão de maneira
realizado ao longo da vida onde cada difusa, mesclados em diversas realidades
indivíduo adquire atitudes, valores, sociais, sem a intencionalidade do agente e o
procedimentos e conhecimentos da caráter metódico e sistemático que
experiência cotidiana e das influências caracterizariam, por sua vez, os processos
educativas de seu meio – da família, no formais e não formais. Entretanto, ao tratar de
trabalho, no lazer e nas diversas mídias de definir a educação não formal, Trilla recai na
massa; e a educação não formal que se dicotomia de oposição à formal. “A educação
caracteriza por qualquer atividade organizada não formal consiste em procedimentos que,
fora do sistema formal de educação, - de maneira mais ou menos radical, diferem
operando separadamente ou como parte de das formas canônicas e convencionais da
uma atividade mais ampla – que pretende escola”. (1993: 28), e encontra seus
servir a clientes previamente identificados
sinônimos em termos como “educação não não formal não contempla experiências
convencional” e “educação aberta”; vivenciadas com os pais na família, no
- Trilla (Ibid.), a “pedagogia museal”, referente convívio com amigos, clubes, teatros, leitura
a museus e centros de ciências, sob três de jornais, livros etc, sendo estas
pontos de vista. Primeiramente abarca o categorizadas como educação informal,
aspecto informal, ao tratar dessas instituições educação não formal teria como pressuposto
como meios de comunicação que propiciam a formação para cidadania e a aprendizagem
efeitos educativos. A segunda faceta seria a nesse caso se dá por meio das práticas
da educação não formal, que trata das sociais;
atividades educativas específicas
desenvolvidas pelas respectivas equipes. Considerações finais
Finalmente, o terceiro aspecto seria o relativo - Foi verificado o uso de critérios diferenciados
a educação formal, configurado nas atividades para definição dos termos educação formal,
realizadas em função do currículo escolar; não formal, informal, o que demonstra a falta
- A educação permanente seria, nesse de uma linguagem comum entre aqueles que
sentido, um projeto global que objetiva “pensam”/“praticam” atividades relacionadas a
determinados níveis e qualidades educativas eles; e
para o conjunto da população: “Pressupõe o - Quanto à divulgação científica, para os
encontro de diversas correntes educativas em respondentes em geral ela permeia todos os
diferentes espaços sociais e, uma contextos educativos sendo sempre
funcionalidade do espaço educativo como identificada com pelo menos um deles.
gerador de experiências educativas, culturais
e de participação”; Texto-base: Educação não formal,
- Asensio (2001), trabalha com três níveis participação da sociedade civil e estruturas
distintos de aprendizagem – procedimental, colegiadas na escola
conceitual e atitudinal – em um sistema que Resumo
envolve sete processos interrelacionados e - Considera-se a educação não-formal como
retro-alimentados; e uma área de conhecimento ainda em
- Gohn (1999), enfatiza sua opção por uma construção.
concepção ampla de educação, associada ao
conceito de cultura (1999:98). Indica, desse Introdução
modo, que esta modalidade de educação trata - A educação não-formal designa um processo
de um processo com várias dimensões, com várias dimensões tais como: a
relativas à: aprendizagem política dos direitos aprendizagem política dos direitos dos
dos indivíduos enquanto cidadãos; indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação
capacitação dos indivíduos para o trabalho, dos indivíduos para o trabalho, por meio da
por meio de aprendizagem de habilidades; aprendizagem de habilidades e/ ou
aprendizagem e exercício de práticas que desenvolvimento de potencialidades; a
habilitam os indivíduos a se organizarem com aprendizagem e exercício de práticas que
objetivos voltados para a solução de capacitam os indivíduos a se organizarem
problemas coletivos; aprendizagem dos com objetivos comunitários, voltadas para a
conteúdos da escolarização formal, em formas solução de problemas coletivos cotidianos; a
e espaços diferenciados; e a educação aprendizagem de conteúdos que possibilitem
desenvolvida na e pela mídia, em especial a aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo
eletrônica. Essa autora destaca os vários do ponto de vista de compreensão do que se
espaços onde se desenvolvem as atividades passa ao seu redor; a educação desenvolvida
de educação não formal como as associações na mídia e pela mídia, em especial a
de bairro, os sindicatos, as organizações eletrônica etc;
não-governamentais, os espaços culturais e - O termo não-formal também é usado por
as próprias escolas, ou seja, nos espaços alguns investigadores como sinônimo de
interativos dessas com a comunidade informal; e
educativa. Para ela, entretanto, a educação
- A educação formal é aquela desenvolvida A informal opera em ambientes espontâneos,
nas escolas, com conteúdos previamente onde as relações sociais se desenvolvem
demarcados; a informal como aquela que os segundo gostos, preferências, ou
indivíduos aprendem durante seu processo de pertencimentos herdados.
socialização - na família, bairro, clube, amigos
etc., carregada de valores e culturas próprias, d) Qual a finalidade?
de pertencimento e sentimentos herdados: e a - Na educação formal, destacam-se os
educação não-formal é aquela que se aprende relativos ao ensino e aprendizagem de
“no mundo da vida”, via os processos de conteúdos historicamente sistematizados,
compartilhamento de experiências, normatizados por leis, dentre os quais
principalmente em espaços e ações coletivos destacam-se o de formar o indivíduo como um
cotidianas. cidadão ativo, desenvolver habilidades e
competências várias, desenvolver a
a) Quem educa? criatividade, percepção, motricidade etc. A
- Na educação formal sabemos que são os educação informal socializa os indivíduos,
professores. Na não-formal, o grande desenvolve hábitos, atitudes,
educador é o “outro”, aquele com quem comportamentos, modos de pensar e de se
interagimos ou nos integramos. Na educação expressar no uso da linguagem, segundo
informal, os agentes educadores são os pais, valores e crenças de grupos que se frequenta
a família em geral, os amigos, os vizinhos, ou que pertence por herança, desde o
colegas de escola, a igreja paroquial, os nascimento. Seus objetivos não são dados a
meios de comunicação de massa, etc. priori, eles se constroem no processo
interativo, gerando um processo educativo.
b) Onde se educa?
- Na educação formal estes espaços são os e) Quais são os principais atributos?
do território das escolas, são instituições - A educação formal requer tempo, local
regulamentadas por lei, certificadoras, específico, pessoal especializado,
organizadas segundo diretrizes nacionais. Na organização de vários tipos (inclusive a
educação não-formal, os espaços educativos curricular), sistematização seqüencial das
localizam-se em territórios que acompanham atividades, disciplinamento, regulamentos e
as trajetórias de vida dos grupos e indivíduos, leis, órgãos superiores etc. Ela tem caráter
fora das escolas, em locais informais, locais metódico e , usualmente, divide-se por idade/
onde há processos interativos intencionais ( a classe de conhecimento;
questão da intencionalidade é um elemento - A educação informal não é organizada, os
importante de diferenciação). Já a educação conhecimentos não são sistematizados e são
informal tem seus espaços educativos repassados a partir das práticas e experiência
demarcados por referências de nacionalidade, anteriores, usualmente é o passado
localidade, idade, sexo, religião, etnia etc. A orientando o presente;
casa onde se mora, a rua, o bairro, o - A educação não-formal tem outros atributos:
condomínio, o clube que se frequenta, a igreja ela não é organizada por séries/
ou o local de culto a que se vincula sua crença idade/conteúdos; atua sobre aspectos
religiosa, o local onde se nasceu, etc. subjetivos do grupo; trabalha e forma a cultura
política de um grupo.
c) Como se educa?
- A educação formal pressupõe ambientes f) Quais são os resultados esperados?
normatizados, com regras e padrões - Na educação formal espera-se, sobretudo
comportamentais definidos previamente. A que haja uma aprendizagem efetiva, , além da
não formal ocorre em ambientes e situações certificação e titulação;
interativos construídos coletivamente; e - Na educação informal os resultados não são
- Há na educação não-formal uma esperados, eles simplesmente acontecem a
intencionalidade na ação, no ato de participar, partir do desenvolvimento do senso comum
de aprender e de transmitir ou trocar saberes. nos indivíduos;
- A educação não- formal poderá desenvolver, - O que falta na educação não-formal:
como resultados, uma série de processos tais
como:

Metodologias
- Na educação formal as metodologias são,
usualmente, planificada previamente segundo
Algumas características da educação conteúdos prescritos nas leis, são compostas
não-formal: metas, lacunas e metodologias por um leque grande de modalidades, temas e
- Algumas características que a educação não problemas;
formal pode atingir em termos de metas: - A educação informal tem como método
básico a vivência e a reprodução do
conhecido;
- Na educação não-formal, as metodologias
operadas no processo de aprendizagem parte
da cultura dos indivíduos e dos grupos. O
método nasce a partir de problematização da
vida cotidiana; os conteúdos emergem a partir
dos temas que se colocam como
necessidades, carências, desafios, obstáculos
ou ações empreendedoras a serem
realizadas; os conteúdos não são dados a
priori. São construídos no processo;
- Entendemos a educação não - formal como - Temos setores que pretensamente estão
aquela voltada para o ser humano como um representando o interesse público, mas que
todo, cidadão do mundo, homens e mulheres. na realidade defendem o interesse de grupos
Em hipótese alguma ela substitui ou compete e corporações, ou a manutenção do poder
com a Educação Formal, escolar. Poderá tradicional, cujo papel é exercer o controle, a
ajudar na complementação dessa última; vigilância em razão de uma falsa participação
- Os objetivos da educação não-formal como ordeira e voltada para a responsabilização da
sendo: comunidade ( pais, mães e outros mais ) nas
ações em que o Estado se omite (SILVA,
2003).

Movimentos sociais na área da educação


- Movimentos sociais enquanto uma área de
aprendizagem da educação não-formal, a luta
pela educação;
- As reformas neoliberais realizadas nas
escolas públicas de ensino fundamental e
médio, na década de 90, alteraram o cotidiano
das escolas e deram as bases para a
mobilização de novas lutas e movimentos pela
educação;
A educação não-formal em ação: - Em muitos bairros, as escolas passaram a
conselhos e colegiados na escola: espaços desempenhar o papel de centros
de educação não-formal comunitários, pois a falta de verbas e a busca
- Nos conselhos se entrecruzam necessidades de solução para novos problemas como a
advindas da prática da educação segurança, a violência entre os jovens e o
formal/escolar, com a educação não-formal, universo das drogas levou-as à busca de
principalmente no que se refere a participação parcerias, no bairro ou na região, com outros
dos pais e outros membros da comunidade organismos e associações organizadas;
educativa nas suas reuniões; - As escolas passaram a ser, além de espaços
- A comunidade externa e os pais não de formação e aprendizagem da educação
dispõem de tempo e, muitas vezes, nem formal, centros de desenvolvimento da
avaliam a relevância de participar ou de educação não-formal, agentes de construção
estarem presentes nas reuniões; de territórios civilizatórios, articuladoras de
- Só exercem uma participação ativa nos ações que retomem o sentido da civilidade
colegiados aqueles pais com experiência humana;
participativa anterior, extra-escolar, revelando - Um dos principais sujeitos da sociedade civil
a importância da participação dos cidadãos organizada são os movimentos sociais, é
(ãs) em ações coletivas na sociedade civil; importante registrar que os movimentos pela
- Muitos funcionários das escolas são educação têm caráter histórico, são
membros dos conselhos e dos colegiados processuais e ocorrem, portanto, dentro e fora
escolares mas, usualmente, exercitam um de escolas e em outros espaços institucionais;
pacto do silêncio, não participando de fato e - A ótica dos direitos possibilita-nos a
servindo de “modelo passivo” para outros construção de uma agenda de investigação
setores da comunidade educativa que que gera sinergias e não compaixão, que
compõem um colegiado; resultam em políticas emancipadoras e não
- Como elo mais fraco do poder, eles compensatórias; e
participam para ´compor`, para dar número e - Alguns dos principais eixos das demandas
quorum necessários aos colegiados, pela educação nos movimentos sociais
contribuindo com esse comportamento para envolvendo as escolas:
não construir nada e nada mudar; e
- A educação não formal é aquela que se
aprende "no mundo da vida", via os processos
de compartilhamento de experiências,
principalmente em espaços e ações coletivos
cotidianas; e
- A educação não-formal volta-se para a
formação de cidadãos(as) livres,
emancipados, portadores de um leque
diversificado de direitos, assim como de
deveres para com o(s) outro(s).

Apresentação
- Os movimentos sociais, e outros atores
sociais como ONGs, entidades do terceiro
setor, são produtores e agenciadores de
saberes);
- 1990, a década da crise do paradigma
dominante da modernidade;
- Na atualidade, transformações societárias
dadas pelas crises econômico-financeiras no
mundo globalizado, as inovações
socioculturais e as mudanças aceleradas no
campo das tecnologias sociais e de
comunicação, tem levado ao reconhecimento
de uma transição paradigmática, e a crise do
paradigma dominante já passou a ser uma
Conclusões e desafios agenda do passado;
- Articular a educação, em seu sentido mais - Conhecimento é uma ferramenta
amplo, com os processos de formação dos fundamental para orientar a existência e
indivíduos como cidadãos, ou articular a conduzir a humanidade na História; e
escola com a comunidade educativa de um - O saber é sempre resultado de uma
território é um sonho, uma utopia, mas construção histórica, realizada por sujeitos
também uma urgência e uma demanda da coletivos.
sociedade atual;
- Entende-se por inclusão as formas que Participação Social e Aprendizagens
promovem o acesso aos direitos de cidadania, Coletivas
que resgatam alguns ideais já esquecidos - Pateman (1992), a participação gera
pela humanidade, como o de civilidade, atitudes de cooperação, integração e
tolerância e respeito ao outro; contestam-se comprometimento com as decisões;
concepções relativas às formas que buscam, - Há uma interrelação entre os indivíduos e as
simplesmente, integrar indivíduos atomizados instituições, uma vez que a participação tem
e desterritorializados, em programas sociais uma função educativa e os indivíduos são
compensatórios; e afetados psicologicamente ao participarem do
- Precisamos de uma nova educação que processo de tomada de decisão, o que só é
forme o cidadão para atuar nos dias de hoje, e possível a partir do momento em que eles
transforme culturas políticas arcaicas, passam a tomar parte nos assuntos públicos e
arraigadas, em culturas políticas a levar em consideração o interesse público;
transformadoras e emancipatórias. - A participação tende a aumentar à medida
que o indivíduo participa, ela se constitui num
Texto-base: Educação Não Formal, processo de socialização e faz com que,
Aprendizagens e Saberes em Processos quanto mais as pessoas participam, mais
Participativos tendam a continuar neste caminho;
Resumo
- Na democracia participativa há, portanto, sala de aula ou situações flexíveis com tempo
uma exigência da participação dos cidadãos e local próprio para cada aluno, a exemplo da
no processo de tomada de decisão em uma educação a distância) (LITTO, 2011, p. 15);
sociedade democrática, porque ela tem um - Perspectiva de aprendizagem como sendo
caráter pedagógico no aprendizado das um processo de formação humana, criativo e
relações democráticas, contribuindo para a de aquisição de saberes e certas habilidades
politização dos cidadãos, o que é importante que não se limitam ao adestramento de
para eles exercerem um controle sobre os procedimentos contidos em normas
governantes; instrucionais, como em algumas abordagens
- A democracia participativa, modelo de simplificadoras na atualidade;
democracia que incorpora e defende a - Cultura para nós é um processo vivo e
participação da sociedade civil no interior dos dinâmico, fruto de interações onde são
Estados democráticos, que busca construídos valores, modos de percepção do
restabelecer o vínculo entre democracia e mundo, normas comportamentais e de
cidadania ativa. conduta social, uma moral e uma ética no agir
humano. O meio sociocultural onde se vive e
Processo de aprendizagem e Formação a classe social a que pertence fazem parte da
dos Indivíduos construção da cultura dos indivíduos; e
- Na atualidade o debate sobre as teorias da - A educação não formal está na ordem do dia
aprendizagem voltaram à baila dada as e nos auxilia na compreensão dos processos
mudanças provocadas pela globalização e de aprendizagem.
seus efeitos sobre a sociedade e as políticas
governamentais; Educação Não Formal
- A aprendizagem é enfatizada como um dos - Um dos grandes desafios da educação
fenômenos centrais na vida do ser humano. nao-formal tem sido definí-la, caracterizando-a
Não se trata de pensar apenas o ato de pelo que ela é. Ela é definida pela
aprender, mecanicamente, como o fez por negatividade pelo que ela não é.;
décadas a Pedagogia tradicional, ao se - O termo não-formal também é usado por
preocupar fundamentalmente com as alguns investigadores como sinônimo de
didáticas do ensino, quando a aprendizagem informal;
era vista não como um processo, mas como - A princípio podemos demarcar seus campos
um resultado, um ponto de chegada que de desenvolvimento: a educação formal é
poderia e deveria ser medido, aferido; aquela desenvolvida nas escolas, com
- O debate atual sobre a aprendizagem conteúdos previamente demarcados; a
situa-se num plano de horizontes e informal como aquela que os indivíduos
perspectivas, envolvendo, necessariamente, a aprendem durante seu processo de
questão da educação, da cultura e formação socialização – ocorrendo em espaços da
dos indivíduos (e não apenas preparação), família, bairro, rua, cidade, clube, espaços de
das redes de compartilhamento e como se dá lazer e entretenimento; nas igrejas; e até na
o próprio processo de conhecimento; escola entre os grupos de amigo; ou em
- Na educação não formal, o contexto tem um espaços delimitados por referências de
papel de alta relevância porque ele é o nacionalidade, localidade, idade, sexo,
cenário, o território de pertencimentos dos religião, etnia , sempre carregada de valores e
indivíduos e grupos envolvidos; culturas próprias, de pertencimento e
- Fredric Litto (2011) assinala que o processo sentimentos herdados. Poderá ter ou não
de aprendizagem envolve quatro elementos intencionalidades (por exemplo, educar
fundamentais: aquele que deseja aprender (o segundo os preceitos de uma dada religião é
aluno), o conhecimento em si (ideias, uma intencionalidade);
conceitos etc.), quem organiza o - Não formal, há uma intencionalidade na
conhecimento para a aprendizagem ação: os indivíduos têm uma vontade, tomam
(professor, instrutor etc.) e o contexto ou a uma decisão de realizá-la, e buscam os
situação na qual a aprendizagem ocorrerá caminhos e procedimentos para tal;
- A educação não formal é aquela que se resulta em dificuldades no processo formativo.
aprende "no mundo da vida", via os processos O profissional que vai trabalhar na escola hoje
de compartilhamento de experiências, é extremamente carente de vários recursos,
principalmente em espaços e ações coletivos materiais ou na sua formação;
cotidianas; - Precisa que haja uma compreensão por
- Essa educação volta-se para a formação de parte dos gestores das políticas públicas,
cidadãos (as) livres, emancipados, portadores sobre a necessidade da articulação do formal
de um leque diversificado de direitos, assim com o não formal;
como de deveres para com o(s) outro(s); - A educação não formal é uma ferramenta
- A educação não-formal, não é nativa, ela é importante no processo de formação e
construída por escolhas ou sob certas construção da cidadania das pessoas, em
condicionalidades, há intencionalidades no qualquer nível social ou de escolaridade,
seu desenvolvimento, o aprendizado não é destacando, entretanto, sua relevância no
espontâneo, não é dado por características da campo da juventude;
natureza, não é algo naturalizado; - Ela potencializa o processo de
- Com várias dimensões tais como: a aprendizagem, complementando-o com outras
aprendizagem política dos direitos dos dimensões que não têm espaço nas
indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação estruturas curriculares. Ela não substitui a
dos indivíduos para o trabalho, por meio da escola, não é mero coadjuvante para
aprendizagem de habilidades e/ou simplesmente ocupar os alunos fora do
desenvolvimento de potencialidades; a período escolar – chamada por alguns de
aprendizagem e exercício de práticas que escola integral;
capacitam os indivíduos a se organizarem - Modus vivendis, conjunto de valores e
com objetivos comunitários, voltadas para a formas de representações; e
solução de problemas coletivos cotidianos; a - Outros veem a aprendizagem não formal
aprendizagem de conteúdos que possibilitem como um processo mais eficaz que a escola e
aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo a defendem porque é o melhor caminho.
do ponto de vista de compreensão do que se
passa ao seu redor; a educação desenvolvida Aprendizagens Não Formais nos
na mídia e pela mídia, em especial a Movimentos, ONGs e outras redes civis
eletrônica associativas
etc. São processos de autoaprendizagem e - Ampliação dos sujeitos sociopolíticos na
aprendizagem coletiva adquirida a partir da cena pública e o estabelecimento de formas
experiência em ações coletivas, podem ser novas de relações sociais denominadas
organizadas segundo eixos temáticos: genericamente como “parcerias";
questões étnico-raciais, gênero, geracionais e - Os movimentos sociais passaram a atuar em
de idade, etc.; rede e em parceria com outros atores sociais,
- O uso do termo educação não formal se dentro dos marcos da institucionalidade
espalhou no Brasil a partir dos anos existente e não mais à margem do Estado,
2000. Inúmeras ONGs, e entidades do somente no interior da sociedade civil, como
chamado sistema S; no período anterior, no regime militar;
- À medida que educação não formal passa a - Novas modalidades de movimentos sociais
ser associado a programa e projeto social estão surgindo, como os Movimentos dos
para comunidades carentes. Não é este o Indignados, de caráter transnacional,
sentido que atribuímos ao termo, ainda que se presentes com forte expressão na Europa, e
reconheça estar entre estas comunidades o ainda incipientes no Brasil no início desta
público maior alvo dos projetos sociais; nova década;
- Portanto jamais um cidadão se forma apenas - O exercício de novas práticas associativistas
com a educação não formal; trouxe também um conhecimento mais
- A forma como está estruturada a educação aprofundado sobre a política estatal, sobre os
formal, burocratizada e normatizada, com governos e suas máquinas;
dificuldade de flexibilidade nas agendas,
- A educação não formal poderá ocorrer tanto Aprendizagens e Saberes Coletivos na
em espaços urbanos como rurais; tanto em Contemporaneidade
espaços institucionalizados (no interior de um - O mercado-focalizado apenas em lucros
conselho gestor, por exemplo), como no tende a estimular o "consumo" de negócios
interior de um movimento social, entre aqueles envolvendo a autoaprendizagem; e
que lá estão participando e reivindicando, e - Trata-se do sonho de um novo modelo
vão aprender algo sobre um dado tema – civilizatório centrado em valores éticos e
quem são os opositores, os encaminhamentos humanitários. Nesses casos, as
necessários; como poderá ocorrer ainda em aprendizagens não formais têm sido a estrada
outros espaços sociopolíticos, como nas principal a pavimentar esta via. E o campo da
ONGs, nos museus, etc.; cultura é o palco por excelência.
- Os movimentos sociais foram pioneiros na
utilização dos processos de educação não Conclusões
formal, anteriores aos programas e projetos - A educação propriamente dita é um
sociais das ONGs, que são dos anos de 1990 conjunto, uma somatória que inclui a
para cá. Já nos anos de 1970 e parte de 1980, articulação entre educação formal – aquela
quando tínhamos movimentos ligados às recebida na escola via matérias e disciplinas,
pastorais religiosas, ou às comunidades normatizada –, a educação informal – que é
eclesiais de base, a educação não formal aquela que os indivíduos assimilam pelo local
estava presente, por exemplo, na onde nasce, pela família, religião que
aprendizagem para se fazer leituras do professam, por meio do pertencimento, região,
mundo; território, classe social da família – e a não
- Quando a lei Maria da Penha surgiu, formal tem um campo próprio, embora possa
ninguém sabia o que era e, depois, foi se se articular com as duas;
formando um acervo de conhecimento e - A educação não-formal não tem o caráter
material a respeito; formal dos processos escolares, normatizados
- Os movimentos de mulheres passaram a por instituições superiores oficiais e
trabalhar o tema da lei em cartilhas, vídeos e certificadores de titularidades. Difere da
palestras, tanto em escala local como na educação formal porque essa última possui
escala nacional. Tudo isso é educação não uma legislação nacional que normatiza
formal; critérios e procedimentos específicos; e
- Com o desenvolvimento dos novos meios de - O caminho para a educação não formal se
comunicação, temos as ações e mobilizações consolidar é, em primeiro lugar, ter
de movimentos transnacionais, que são coisas reconhecimento, ultrapassando essa ideia de
novas deste século e que estão trazendo complementação, de ser um ajuste – embora,
elementos para compreender a educação não na situação atual da conjuntura brasileira, já
formal; fosse um avanço realizar bem essa
- A educação não formal constrói no plano complementação.
simbólico e ajuda a entender o alargamento
das fronteiras ao introduzir a questão do Texto-base: Texto-base - Faz sentido ainda
transnacional; propor a separação entre os termos
- A mídia podia trabalhar a questão da educação formal, não formal e informal?
conscientização para a cidadania, mas não o - No Brasil, nos últimos quinze anos, políticas
faz; e públicas voltadas à inclusão social foram
- Se existir a oportunidade de explicar, as propostas, por meio do fomento a criação de
pessoas concordam que educação não formal museus e centros de ciência, a realização de
é muito importante, mas não existe uma feiras de ciência, olimpíadas científicas,
consciência sobre o assunto, um semanas nacionais de ciência e tecnologia,
reconhecimento, uma visão sobre como etc., com a finalidade de ampliar o acesso e a
operacionalizá-la. Ela é relativamente nova. qualidade das ações de educação e
divulgação;
- Caracterizar os espaços de educação não - Glória Gohn (1999), para ela, a concepção
formal não se constitui em tarefa simples, e, de educação é mais ampla do que a de
muitas vezes, os termos formal, não formal e aprendizagem e se associa ao conceito de
informal são utilizados de modo controverso cultura. Desse modo, educação não formal
fazendo com que suas definições estejam trata de um processo com várias dimensões,
ainda longe de serem consensuais; relativas à aprendizagem política dos direitos
- Nas literaturas anglofônica e lusofônica dos indivíduos enquanto cidadãos;
(CAZELLI, 2000), pois os autores de língua capacitação dos indivíduos para o trabalho,
inglesa usam os termos informal science por meio de aprendizagem de habilidades;
education (educação informal em ciências) e aprendizagem e exercício de práticas que
informal science habilitam os
learning (aprendizagem informal em ciências) indivíduos a se organizarem com objetivos
para todo o tipo de educação que pode voltados para a solução de problemas
acontecer em lugares como museus, centros coletivos; aprendizagem dos conteúdos da
culturais, exposições, zoológicos, jardins escolarização formal, em formas e espaços
botânicos, no trabalho, em casa, entre outros; diferenciados; e educação desenvolvida na e
- Já os de língua portuguesa muitas vezes pela mídia, em especial a eletrônica;
dividem a educação que ocorre fora da escola - Vários espaços onde se desenvolvem as
em dois subgrupos: educação não formal e atividades de educação não formal como as
educação informal, associando esse último associações de bairro, os sindicatos, as
aos ambientes cotidianos familiares; organizações não-governamentais, os
- 1960, 1970 e 1980, sendo o termo não espaços culturais e as próprias escolas, ou
formal muitas vezes associado a iniciativas seja, nos espaços interativos dessas com a
educativas de natureza política e com objetivo comunidade educativa;
de transformação social que marcaram esses - Experiências vivenciadas com e na família,
períodos; no convívio com amigos, clubes, teatros,
- Dias atuais, contudo, encontramos leitura de jornais, livros etc., sendo estas
referências na literatura que optam por utilizar categorizadas 813 Ciênc. Educ., Bauru, v. 23,
outras expressões e conceitos que se n. 4, p. 811-816, 2017 como educação
aproximam da ideia de não formal como informal, já que possuem caráter espontâneo
“pedagogia social”, “educação social” e e permanente;
“aprendizagem por livre-escolha”; - Falk e Dierking (2002), a “aprendizagem por
- 1960 (SMITH, 1996). Nessa época, esse tipo livre escolha” é todo tipo de aprendizagem
de educação focava as necessidades de que pode ocorrer fora da escola,
grupos em desvantagens, tendo propósitos especialmente em museus, centros de
claramente definidos e flexibilidade de ciências, organizações comunitárias e nas
organização e de métodos; mídias impressa e eletrônica (incluindo a
- Marco desse movimento é o documento da Internet);
UNESCO, de 1972, este documento - O interesse e a intenção do aprendizado tem
influenciou uma divisão já visível do sistema origem no indivíduo, logo não é imposta por
educacional em três categorias, elementos externos, como ocorre na escola;
problematizadas por Smith (1996) em seu - Rogers (2004), que afirma que a educação
texto amplamente divulgado pela internet, não formal e a informal, em conjunto com a
definidas da seguinte maneira: educação formal, devem ser vistas como um
a) Educação formal: continuum em vez de categorias estanques;
- Possível assim afirmar que a expressão
educação não formal é polissêmica, fruto
b) Educação não formal: também do fato de ser constituída pela própria
negação da ideia: aquilo que não é formal!;
- Educação popular é um campo também
c) Educação Informal: repleto de debates e as articulações e as
tensões entre a educação escolar e a
educação popular é um tema explorado na
literatura sobre esse tema;
- Streck (2013) afirma que a educação popular
é um movimento pedagógico de resistência à
dominação, seja ela de classe, de raça, de
gênero ou outras e aponta que a educação
popular e a educação básica podem estar, do
ponto de vista ideológico e pedagógico, no
mesmo campo ou em campos opostos;
- Há aspectos relevantes nas diversas
tentativas de definição do termo, que - A educação não formal visa…, mas não
envolvem a necessidade de aprofundar em somente estas populações e pessoas que não
diversos tópicos da área educacional relativos vivem nestes contextos também podem
à história, política, filosofia e sociologia da usufruir destes espaços; e
educação, mas também a didática, currículo e - Os espaços não formais oferecem atividades
as articulações desses com os campos no período inverso e/ou finais de semana ao
específicos de conhecimento, como por formal.
exemplo as ciências naturais;
- A constituição de novos campos de
conhecimento implica igualmente na
constituição de novos campos de força, as
quais se dão frente a disputas de poder, com
a possibilidade de constituição de novos
agentes que, por sua] vez, podem ocupar
posições diferenciadas dentro destes campos,
mantendo ou modificando sua estrutura; e Educação não formal: possibilidades para
- A construção da ideia de educação não novas aprendizagens
formal não é uma questão somente
epistemológica, mas envolve também
dimensões políticas e econômicas.

Vídeoaula 5: A educação não formal


enquanto espaço alternativo para a
educação
Educação não formal: aspectos
importantes

- Ela mostra que os ambientes fora do


contexto escolar são tão importantes e
relevantes quanto a educação formal
propriamente dita, pois estes ambientes
desfrutam de possibilidades que não são
apresentada na educação formal, seja pela
ausência de tempo, de planejamento;
- A educação formal possui regras e normas
muito bem definidas a serem cumpridas em
um determinado espaço e tempo, já a não
formal não se prende a isso;
- É sempre possível somar a educação formal
e por isso a educação não formal passou a
ser mais reconhecida e valorizada.

Entrevista com a Mariane Mendes Gois


- A educação não formal fornece outros tipos
de aprendizagem;
- A educação não formal é um processo
sociopolítico, cultural e pedagógico de
formação para a cidadania;
- Envolve diferentes lugares e essa
aprendizagem não é espontânea, ela se dá
de diversas maneiras, pois ela é propositiva,
intencional, possui objetivos precisa ser
pensada;
- Aprendizagem não é simplesmente um
passar do tempo e a educação não formal
fornece múltiplas aprendizagens, por exemplo,
aprendizagens para o direito do cidadão,
capacitação para o trabalho com habilidades e
técnicas, aprendizagens de conteúdos a partir
Educação não formal: complementação da de situações e acontecimentos que estão ao
educação formal seu redor;
- Exemplo de projeto de educação não formal:
Projeto almanaque, disponível na Web e este
é um facilitador do professor com a intenção
de auxiliar os professores no planejamento de
suas atividades com fins pedagógicos e
fornecer a este aluno novos conhecimentos e
saberes fora do muro da escola;
- A socialização promove uma
responsabilidade consigo e com o outro e isto
- A educação não formal é considerada uma tem haver com a democracia participativa (ela
complementação da educação formal, porém defende a participação da sociedade civil nas
de maneira diferenciada, sem o sentido de tomadas de decisão, buscando restabelecer a
obrigatoriedade. Falar em educação não sincronia entre democracia e cidadão ativo);
formal é falar em não obrigatoriedade. - Quanto mais o sujeito participa, mais ele
quer participar e por isso é importante engajar
Onde a educação não formal acontece? o aluno para participar e a politização dos
cidadãos e estes saberem os seus direitos e
se posicionarem dentro da sociedade.

Vídeoaula 6: Conhecendo e refletindo


sobre espaços alternativos onde a
educação não formal pode acontecer
Requisitos para a educação não formal
- Embora estejamos falando de uma educação
não formal não estamos falando de uma
educação que não tem regras e não tem
normas ou local e pessoal especializado; e
- Quando faço a divisão por classe de
conhecimento ou idade, por exemplo, preciso
conhecer o que a sociedade espera deste
grupo, o que preciso exigir deles.
- Ela trabalha e atua na cultura política do
Educação não formal: algumas grupo;
particularidades - Promove o desenvolvimento de laços de
pertencimento, pois ela instiga relações entre
colegas, conhecimentos, os educadores; e
- A partir do momento que as pessoas
participam de um grupo ela desenvolve a sua
identidade, pois se identifica com dado grupo;
- Ela ajuda a construir a solidariedade e o
companheirismo.

- A educação não formal não é avaliativa e por


isso não existe competição, pelo menos é o
que deveria ter;
- A educação não formal não exige que seja
Alguns objetivos da educação não formal
um pedagogo para nela atuar e também não
cobra dos alunos que a frequentam
conhecimentos prévios;
- A educação não formal atua no campo dos
sentimentos e emoções, ela atua no campo do
lúdico.

Educação não formal: outras


características
- Todos estes conteúdos podem ser
trabalhados por meio da educação não formal.

Exemplos de lugares onde a educação não


formal pode acontecer
- Superar hierarquias de saberes e
conhecimentos, pela via do reconhecimento
das contribuições das culturas que foram
renegadas ou distorcidas pelo saber
acadêmico, marcadamente monocultural e
eurocêntrico;
- Nossas experiências de pesquisa em
escolas públicas de diferentes regiões
periféricas da cidade de São Paulo
demonstraram-nos o impacto do racismo
Entrevista com a Professora Mariane Gois institucional nas práticas docentes e cultura
escolar;
- Um racismo que silencia as culturas de
nossos afrodescendentes e impede, muitas
vezes, que esses alunos se vinculem ao
conhecimento, o que tem resultado em sérios
prejuízos à formação desses jovens;
- Afromemória. Uma memória que foi
reativada entre os alunos afrodescendentes
- Existem diversos lugares que possuem ao toque do tambor e da dança no ritmo do
exemplos positivos do trabalho da educação break beat. Essenciais para provocar rupturas
não formal, por exemplo, trabalhos em teatros, de campo - do inconsciente individual e
museus, praças históricas, estação coletivo - no ambiente escolar, que tendia a
meteorológica (possibilita trabalhar com o negar tais experiências;
aluno diversas disciplinas, como: geografia, - O tambor se tornasse o ponto nodal do
ciências, matemática, etc.); trabalho realizado pelas pesquisadoras, em
- Atualmente temos muitos pedagogos que suas dissertações de mestrado. O instrumento
atuam nos espaços não formais de ensino e converteu-se em “símbolo organizador” da
muitos outros que desejam atuar neste resistência negra na escola, associada às
campo; culturas cultivadas pelos (as) jovens alunos
- É imprescindível para os que querem atuar (as) afrodescendentes, nos planos material,
nela que tenham conhecimento profundo da sonoro, histórico e subjetivo;
educação não formal e entender que ela é um - O tambor, do estudo sobre a trajetória de
processo sócio político, cultural e resistência do negro no Brasil. Seu uso em
principalmente pedagógico que visa a sala de aula tornouse fundamental para fazer
formação para a cidadania; emergir na memória dos afrodescendentes o
- A aprendizagem que ocorre dentro desses enraizamento afrodiaspórico das práticas
espaços não é espontânea, ela não está culturais de origem negra no âmbito da escola
dada, é preciso que ela seja planejada e pública;
intencional. Ela precisa ser pensada. - Os tambores afro-cubanos se tornaram um
dos instrumentos de percussão favoritos nas
Semana 4 (16/10): Educação não formal e primeiras improvisações do breakbeat.
projetos sociais Posteriormente, o próprio corpo passou a ser
Texto-base: Culturas urbanas e resistência um instrumento percussivo;
da juventude negra: ressonâncias do - Paul Gilroy (2001), para ele, dois aspectos
tambor nas escolas de periferia de São se destacam na música afro-americana:
Paulo a) O primeiro refere-se à mediação, ao
Introdução compartilhamento e ao consolo ante o
- Lei 10.639/03, que torna obrigatória a sofrimento vivenciado pelos povos
inclusão da história da África e das culturas escravizados; e
afro-brasileiras no currículo das escolas b) O segundo aspecto se deve a uma
públicas e privadas de educação básica; dramaturgia da recordação de suas origens.
Inscritos nos corpos dos negros tornados - Os africanos se distinguiam, segundo o
escravos. autor, não por cores, mas por “nações”. O
* Esses dois elementos estéticos foram território baiano apresentava uma grande
trazidos para as Américas. E colaboraram heterogeneidade de práticas cotidianas. No
para uma reconfiguração genealógica da embate entre brancos e negros, a música
memória ancestral de suas tradições culturais negra surgiu em um cenário de grande
a partir do deslocamento geográfico forçado diversidade cultural, como fator de aglutinação
pelo Atlântico. e de união política e simbólica entre os
escravizados;
O tambor – o cronotopo moderno - A sonoridade dos tambores africanos e as
- O modelo representa “um sistema vivo, manifestações culturais que aconteciam ao
microcultural e micropolítico em movimento ritmo desses instrumentos eram indícios de
que coloca em circulação, ideias, ativistas, uma identificação étnica, antes de tudo;
artefatos culturais e políticos” (GILROY, 2001, - O uso que os africanos faziam da música em
p. 38); seu quotidiano, era no sentido de conservar
- O tambor poderia exercer a mesma função, os costumes originários da vida na África;
criando um campo microcultural e político - Carrington (1969):
capaz de refletir as tensões entre a cultura [...] (são utilizados dois tambores alto e grave)
escolar e as culturas de nossos e, embora algumas vezes se empreguem
afrodescendentes; diferentes tipos de batida, o código mais
- Funcionou como símbolo organizador de frequente é estritamente binário. Poder-se-ia
nossas proposições em sala de aula, supor que essa limitação tornaria impossível
fazendo-nos percorrer a história da diáspora enviar mensagens complexas, mas não é o
do Atlântico e suas incidências na produção que acontece. Embora a ambiguidade possa
cultural e de resistência dos afrodescendentes existir, a redundância é introduzida para
nas Américas; clarificar a mensagem. Por exemplo, se o sinal
- Ao tocar o atabaque, reascender neles uma para lua e frango é idêntico, consistindo em
espécie de afromemória rítmica em seus duas batidas no tambor agudo (como é o caso
corpos. Além de abrir espaço para uma da tribo Lokele, no Congo), o significado
reflexão sobre as culturas e religiosidade torna-se claro pela adição de uma frase
afrobrasileiras, salientou-se o papel do tambor explicativa para cada palavra (CARRINGTON,
na resistência negra no Brasil Colônia, tanto 1969 apud SCHAFER, 2011, p. 233); e
nos quilombos, quanto em levantes e lutas - Os mais variados sistemas de comunicação
emancipatórias pela abolição; e acústica tinham como objetivo impelir a voz
- Urge levantar o véu que oblitera a humana o mais longe possível.
compreensão do papel fundamental do
conhecimento das culturas afrodiaspóricas As origens do preconceito aos ritmos e
para a formação de nossas consciências. instrumentos africanos – uma
Além de salientar seu papel nas lutas contra a demonização historicamente construída
subalternização das mesmas no campo do - Os afrodescendentes eram e continuam
conhecimento e das práticas sociais - dentro e sendo de algum modo obrigados a omitir sua
fora da escola – de modo a fazer face à religião e a disfarçar sua fé para não serem
demonização de suas culturas. mais perseguidos; e
- A respeito da palavra macumba, Caputo
As batidas do tambor- dos levantes do (2012) esclarece que, de acordo com a
passado à resistência da juventude negra definição de Berkenbrock (1998), este termo
do presente refere-se à religião afro-brasileira surgida no
- Dias (2004) nas Comunidades do Tambor. Rio de Janeiro, que é oriunda da tradição
Tais elos possibilitaram aos escravizados religiosa banta. Termo que é utilizado por
colocar em curso ações e estratégias aqueles que a praticam para se referir às
cotidianas de resistência; práticas das religiões afro-brasileiras de um
modo geral, e que só tem um sentido
pejorativo para as pessoas que não transformação social e cultural do conjunto da
pertencem ao candomblé. sociedade;
- O movimento negro tenha contribuído para o
Em direção a uma epistemologia do sul que Boaventura Santos considera ser uma
afro-brasileira “sociologia das ausências”, ou seja, a
- Seria necessário um duplo esforço: trabalhar necessidade de se construir as bases
algumas categorias e conceitos hegemônicos sócio-políticas e epistemológicas para o
de forma contra hegemônica. Ou, de acordo reconhecimento da diversidade étnico-racial e
com a expressão empregada pelo autor, na religiosa no país;
perspectiva das “semânticas legítimas da - É promover a descolonização das mentes e
convivência política e social”, como: “a corpos negros, subalternizados pela herança
legalidade, a democracia e os direitos do escravismo e da colonização
humanos. [E, ao mesmo tempo, tentar] euro-americana da África e das Américas.
perceber, nas culturas e formas políticas Uma herança que produziu a “reativação da
marginalizadas pela modernidade ocidental, lógica das raças”, convertendo o “paradigma
indícios, sementes e embriões do novo” negro” no “paradigma de uma humanidade
(SANTOS, 2017, p. 11). Um processo que subalterna”, cuja consequência foi o “racismo
demanda,segundo o autor, “a paciência infinita institucional”;
da utopia” (SANTOS, 2017, p. 11); - O racismo à brasileira não se efetivou por
- A solidariedade é o conhecimento obtido no meio de uma discriminação legal oficializada
processo, sempre inacabado, de nos pelo Estado, mas, com base na suposta
tornarmos capazes de reciprocidade através inferioridade do negro, foram instituídas
da construção e do reconhecimento da “práticas de hierarquização racial” enquanto
intersubjetividade. A ênfase na solidariedade “práticas sociais”, que foram naturalizadas de
converte a comunidade no campo privilegiado modo a garantir a “produção e reprodução das
do conhecimento emancipatório” (SANTOS, discriminações e desigualdade” étnico raciais
2000, p. 81); (JESUS, 2018, p. 4);
- “Não há ciência pura, há um contato cultural - Importância de leituras sob novos ângulos. O
de produção de ciência” (SANTOS, 2017, p. autor ressalta a importância de os negros
23); serem “percebidos como agentes, como
- Cinco sentidos do monoculturalismo pessoas com capacidades cognitivas e
ocidental: do saber e do rigor científicos, do mesmo com uma história intelectual” e cultural
tempo linear, da naturalização das diferenças, significativa (GILROY, 2001, p. 40). O
da escala dominante e do produtivismo aprofundamento de tais dimensões exigiria
capitalista; uma atenção especial aos processos culturais
- O racismo à brasileira, construído com base relativos às qualidades polifônicas do tambor
no mito da democracia racial, conforme africano;
amplamente explorado por Munanga (2004, - O autor identifica dimensões significativas
2009) e Munanga e Gomes (2006). Um mito translocais, que promovem a junção de dois
que penetrou nas entranhas do tecido social aspectos presentes no cerne da música negra
brasileiro e na construção da própria da diáspora:
subjetividade dos afro-brasileiros. Mas que a) O primeiro refere-se à mediação, ao
tem sido desmascarado e desmontado, compartilhamento e ao consolo ante o
graças ao conhecimento propiciado pelo sofrimento vivenciado pelos povos
acúmulo de experiências dos movimentos e escravizados; e
culturas negras veiculados pelo MNU; b) O segundo aspecto se deve a uma
- E os projetos educativos desenvolvidos pelo dramaturgia da recordação de suas origens
movimento negro sejam eminentemente africanas. Inscritos nos corpos dos negros
emancipatórios, uma vez que passam pela tornados escravos.
valorização da história, das culturas e saberes * Esses dois elementos estéticos foram
das comunidades negras, com vistas à trazidos para as Américas, colaborando para
uma reconfiguração genealógica da memória
ancestral de suas tradições culturais a partir - O perfil dos jovens que ingressam em
do deslocamento geográfico forçado pelo projetos e programas promovidos pelas Ongs
Atlântico. pode variar bastante, o que demanda um
planejamento específico, que considere a
Considerações finais história de vida desses sujeitos, seus
- A construção de um conhecimento engajado interesses atuais e passados, suas
dependia do reconhecimento dos povos oportunidades de aprendizagem, em uso ou
historicamente prejudicados, de suas culturas potenciais etc.
e saberes, que foram apropriados
indevidamente pelo Ocidente, como Afinal de contas, quem é o jovem
sustentam os pensadores afrocêntricos participante de um projeto promovido por
(ASANTE, 2009; MBEMBE, 2017); uma Ong?
- As origens dos inúmeros povos oriundos de - Não há um perfil de jovem no singular,
diferentes regiões da África foram apagadas - existem grupos com jovens, no plural, com
quando não destruídas -restando à identidades e interesses plurais;
historiografia e à antropologia engajadas, - As versões iniciais dos projetos são
pesquisar os indícios e traços que restaram de elaboradas, em geral, a partir de uma
suas origens; tendência na identificação dos futuros
- Nosso trabalho opôs-se, em particular, a um participantes do projeto. E essa identificação
dos sentidos apontados pelo autor relativo à pode apontar para diversos perfis convivendo
monocultura ocidental. Ou seja, à concepção em um mesmo grupo;
de que o saber rigoroso consistiria no saber - A juventude é uma construção social e não
científico, o qual, desde a expansão do um processo natural;
domínio europeu no mundo, confundiu-se com - Consiste apenas numa fase do ciclo
a ciência ocidental. Ignoram-se as inúmeras biológico, representada por uma idade
práticas sociais envolvidas nos conhecimentos cronológica e por certos estados fisiológicos
populares, camponeses e urbanos, nos como a maturidade do aparelho reprodutor,
conhecimentos indígenas e, diríamos nós, mas vai muito além disso. Ser jovem implica
também do conhecimento das culturas de possuir determinadas características e exercer
matriz africana, resultantes da diáspora negra certos papéis sociais;
do Atlântico para as Américas; - Não se pode formular um conceito universal
- O racismo institucional do qual fala Mbembe e homogêneo de juventude, pois como
(2017), presente no espaço escolar, ao ser categoria social ela muda conforme a
confrontado com as práticas, danças e ritmos sociedade em questão;
suscitados pelos instrumentos de matriz - O termo juventude também designa uma
africana - foi de algum modo rompido por categoria social que agrupa sujeitos que
dentro; compartilham a mesma fase de vida;
- Faz parte desta construção, repensarmos o - A classe social do indivíduo, sua condição
ensino e a educação de um modo geral, como étnica e de gênero, sua presença ou não no
um processo de descolonização de mentes e mercado de trabalho e na escola, seu local de
corpos; e moradia – urbano ou rural –, sua situação
- Dar ênfase às culturas jovens urbanas é uma familiar e sua orientação religiosa são fatores,
forma de contribuir para a construção de um entre outros, que vão diferenciando
currículo capaz de dialogar mais diretamente internamente esse grupo que chamamos de
com as necessidades subjetivas e de juventude;
formação intelectual da juventude periférica - Juventude, como fase da vida que possui
algumas singularidades, dos sujeitos que
Texto-base: Letramento em espaços vivem essa fase;
educativos não escolares (Letramento de - Nele, pode haver estudantes regulares de
jovens em espaços não escolares: escolas públicas, com bom desempenho
aprendendo e ensinando com as Ongs ) escolar, que procuram as Ongs (ou por ela
são procurados) para ampliar suas chances
de inserção social e de vivenciar experiências - É necessário que os educadores estejam
culturais diversificadas. Jovens que já estão preparados para lidar com os jovens de seu
conectados ao mundo digital, que se divertem grupo específico.
com jogos eletrônicos, que acessam redes
sociais na internet, realizam tarefas escolares Instrumentos de avaliação: janela para
envolvendo leitura e escrita em diversas práticas de letramento
disciplinas na escola e também fora dela; - É preciso ainda criar, nas Ongs que
- O grupo englobe jovens que já trabalham e desenvolvem projetos com jovens, uma
não mais estão matriculados no ensino cultura de avaliação ao longo do
regular, tendo concluído ou não a desenvolvimento das propostas, o que inclui
escolarização básica. Um perfil de jovem uma avaliação diagnóstica inicial,
trabalhador, portanto; instrumentos de avaliação em etapas distintas
- Jovens que desejam finalizar a educação do processo e uma avaliação final;
básica (de nível fundamental ou médio) ou - Todas essas avaliações devem englobar a
ingressar no ensino superior; autoavaliação, já que a construção da
- Ser jovens em situação de grande autonomia dos jovens implica também sua
vulnerabilidade, em liberdade assistida ou em autopercepção como sujeitos ativos de suas
conflito com a lei, cuja participação em aprendizagens. Poderíamos representar
projetos encabeçados por Ongs represente essas etapas da seguinte maneira:
uma possibilidade de ressignificar suas
experiências e de buscar alternativas
relevantes e viáveis para sua vida;
- Uma das situações mais desafiadoras para
as Ongs é conhecer as práticas de leitura e
escrita desses jovens, sem se limitar à
abordagem escolar. Em outras palavras, como
saber o que leem, com que objetivos, com que
frequência, sem que isso signifique verificar
apenas histórico escolar, tarefas escolares,
livros escolares;
- Segundo Corti (2006): - Geralmente falta uma avaliação diagnóstica
(...) construir um novo olhar sobre os jovens adequada ao tipo de dado que se deseja
estudantes torna-se um passo necessário acessar/ construir. Muitas vezes, o processo
para que a escola alcance sucesso em seus de avaliação do jovem na “entrada” do projeto
objetivos. Um processo educativo que parte se limita ao preenchimento de questionários e,
de posturas defensivas e de visões negativas em alguns casos, à dinâmica de grupo que, no
sobre o outro dificilmente pode ser entanto, podem ser potencializados e
bem-sucedido. As características trazidas direcionados a uma avaliação diagnóstica;
pelos jovens, sejam elas aprovadas ou - É necessário utilizar estratégias e
desaprovadas pelos professores, são a instrumentos que permitam aos jovens refletir
matéria-prima a partir da qual se constrói a sobre seus próprios saberes, desejos,
possibilidade concreta do trabalho educativo. expectativas, dificuldades e limites,
Por isso a condição juvenil atual deve ser vista promovendo miradas retrospectiva e
como ponto de partida, e não como um prospectiva, no que tange especificamente ao
empecilho ou obstáculo para a escola. uso da linguagem;
- Desmontar os estereótipos de leitor e de - Multimodalidade:
leitura parece ser, portanto, o primeiro passo
do trabalho a ser realizado;
- É necessário, sem dúvida, conversar com
esses jovens, seja individualmente, seja em - Os critérios adotados são, na maioria dos
grupos, a fim de conhecer o que eles fazem; e casos, de ordem socioeconômica (75%) e de
faixa etária (70%);
- A prova também é usada por nove Nesse caso, mobilizam-se diversas
instituições como ferramenta de seleção dos habilidades, tais como:
jovens, ou seja, em 45% das instituições;
- 90% das instituições investigadas relataram
que procuram caracterizar o jovem
selecionado, abordando perfil pessoal,
conhecimentos específicos nas áreas dos
cursos, comportamentos e atitudes,
experiência anterior de trabalho, perfil - A prova escrita também é ambivalente
socioeconômico e o grau de interesse do quando se trata de eficácia e pertinência
jovem; educativas: tanto pode se constituir em
- Linguagens e competências: instrumento que permite refletir sobre o
a) Competência linguística: processo e desafiar as aprendizagens, quanto
ter pouca relevância por demandar apenas a
“devolução” dos conteúdos ensinados;
b) Competência textual: - A prova é um mecanismo de aferição e
classificação escolar que migrou para outros
âmbitos de atuação social, como, por
c) Competência discursiva: exemplo, o trabalho, nos processos seletivos
de empresas e nos concursos públicos;
- A prova permanece como instrumento de
seleção, classificação e promoção/ exclusão.
- Conhecer a trajetória dos jovens no que toca Essa tem sido, aliás, sua função clássica em
aos usos da leitura, da escrita e dos números práticas de letramento tipicamente escolar;
se revela especialmente importante nos - Mas a prova escrita pode assumir um papel
projetos que objetivem promover não só a relevante no mapeamento do perfil dos jovens
ampliação das capacidades de uso da participantes de projetos em Ongs,
linguagem desses jovens, mas também das especialmente de seus saberes e das práticas
suas possibilidades de atuação social em de letramento com que estão familiarizados;
contextos que exijam o uso da escrita, para ler - Para isso, as perguntas precisam instigar a
ou escrever; no papel, na tela de dispositivos reflexão e a mobilização de saberes, não só
eletrônicos (PCs, laptops, celulares, tablets, os memorizados, mas especialmente aqueles
caixas eletrônicos, terminais de consulta), nos construídos ao longo de um processo;
muros, nas roupas, nas embalagens etc. E, - A prova precisa ser utilizada mais como
em uma sociedade grafocêntrica como a ferramenta de avaliação, que aponta os
nossa, especialmente em centros urbanos, avanços e os limites de um processo
isso é não só uma necessidade cotidiana, mas educativo, em termos da aprendizagem de
um direito de todos. conceitos, noções e capacidades,
especialmente as de leitura, escrita e uso de
A “prova”: da escola para o trabalho números, por parte dos aprendizes. A prova
- No âmbito da escola, a prova escrita deve explorar não só conteúdos conceituais
geralmente é um instrumento uniforme, (Aprender a conhecer), mas especialmente
aplicado a um grupo, com o objetivo de procedimentais (Aprender a fazer);
verificar as aprendizagens alcançadas após - Conteúdos conceituais, procedimentais e
decorrido certo tempo em um processo atitudinais:
educativo;
- o seminário pode (e deve) se constituir em
uma atividade de disseminação de saberes
(re)elaborados por um grupo, após pesquisa
cuidadosa e orientada, a outro grupo, com a
oportunidade para o diálogo e o debate.4
- Ela pode ser montada com base em
imagens e pequenas frases que remetam a
acontecimentos e datas marcantes;
- Ao escolher o que estará ou não na linha do
tempo, o jovem revê, relembra e “reposiciona”
momentos de sua trajetória de vida;
- Exemplo de linha do tempo:

- Para funcionar como instrumento de


avaliação diagnóstica, especificamente quanto
às capacidades de linguagem dos jovens e
suas práticas de letramento, a prova escrita
deve conter questões que os desafiem.
Algumas possibilidades são:
a) solucionar situações-problema de uso da - Uma leitura atenta desse instrumento
linguagem; permite ainda, aos educadores, reconhecer as
b) avaliar a (in)adequação de certos textos a potencialidades e os limites dos sujeitos com
certas situações comunicativas; e os quais se envolverão nas atividades
c) produzir um texto em um gênero que seja formativas;
adequado a certa demanda social; entre - A linha do tempo pode ainda ser o marco
outras possibilidades. zero na montagem de um portfólio desse
- Competência metagenérica: jovem;
- Pode se constituir como rico instrumento de
avaliação processual, pois registra as
atividades realizadas, os textos escritos
produzidos, os comentários sobre vivências,
- Outra estratégia avaliativa seria o contraste
aprendizagens, experiências; e
entre explicações orais e escritas das
- Pode ter ainda um formato digital, em que
questões, tanto para aqueles jovens com
vídeos e arquivos em áudio se incorporem aos
dificuldades para elaborar o texto escrito,
dados escritos.
quanto para aqueles que argumentam com
clareza na escrita, mas que nem sempre
O que um questionário pode revelar sobre
conseguem expressar bem seus argumentos
práticas de letramento digital dos jovens?
na modalidade oral; e
- O aproveitamento que se faz desse
- Em suma, a prova escrita pode constituir
instrumento pode ser potencializado,
valioso instrumento de avaliação diagnóstica,
especialmente quando se trata de entrever
desde que se formulem as questões
práticas de letramento do grupo atendido por
adequadas e que os desafios se refiram
projetos educativos desenvolvidos fora da
menos à ativação da memória e mais à
escola;
mobilização de capacidades – manifestadas
- Ainda assim, a metáfora das pastas funciona
na escrita – de escolher, argumentar, explicar,
no Windows, mas pode criar dificuldades em
relatar, descrever, comparar, inferir, sintetizar,
outros sistemas, por exemplo. Além disso, a
relacionar, contrapor... Pensar e se expressar.
pasta é um objeto cultural (envolve a relação
com arquivos, escritórios etc.). Nem todos os
Linha do tempo: quem fui, quem sou, quem
sujeitos fazem relação entre o ícone em forma
quero ser
de pasta e os arquivos digitais, ou entre a
- A construção de uma linha do tempo com
ação de “salvar” e o ícone em formato de
marcos importantes na vida do jovem pode
disquete (que já foi até abolido como mídia de
ser um passo inicial para conhecê-lo melhor;
armazenamento de dados...);
- A segunda tarefa – procurar na internet a
imagem de um animal –, apesar de
aparentemente simples, envolve também a expectativa conquistar um trabalho em
leitura e a escrita, além da familiaridade com ‘escritório’. Esse tipo de trabalho tem um
sites e mecanismos de busca (search valor; e
engines); - É preciso, portanto, ter em conta as práticas
- Em suma, as questões consideradas mais de letramento vivenciadas pelos jovens
simples, já que são as que abrem o participantes, a fim de que os projetos possam
questionário de avaliação, propõem tarefas propor atividades mais antenadas com os
aparentemente banais no universo on-line, conhecimentos e anseios desses sujeitos.
mas que demandam o acionamento de
capacidades de leitura e de escrita dos Texto-base: É preciso ir aos porões
alunos, ainda que restritas a textos breves; - As descidas aos porões nos potencializam
- Todas essas tarefas são práticas de sobremaneira para enfrentarmos
letramento digital, pois implicam o uso da racionalmente tais fenômenos, trabalhando a
leitura e/ou da escrita para se realizarem, se favor daquilo que nos interessa e contra os
configuraram historicamente em contextos de constrangimentos e limitações que se nos
interação digital (ou seja, com o uso de impõem; e
tecnologias digitais, conectadas ou não à - As idas aos porões nos mostram que o
internet); mundo social tem história e é bem mais
- Buzzato (2003), letramento digital é “o complexo do que nos fizeram supor as
conjunto de conhecimentos que permite às metanarrativas iluministas da totalidade, da
pessoas participarem nas práticas letradas continuidade e do progresso meliorista, bem
mediadas por computadores e outros como da onipresença da dialética e da sua
dispositivos eletrônicos no mundo onipotência para tudo explicar e resolver.
contemporâneo”;
- Letramento digital: A metáfora da casa
- Sem a casa, “o homem seria um ser
disperso. Ela mantém o homem através das
tempestades do céu e das tempestades da
vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do
- Os laboratórios de informática escolares, ser humano. Antes de ser ‘jogado no mundo’
como acontece em muitos casos, podem [...], o homem é colocado no berço da casa”
apenas ser utilizados para digitação de textos, (idem, ibidem);
sem um trabalho ou projeto que amplie as - Sem o acolhimento da casa e sem as
práticas de letramento dos sujeitos ou que memórias de que ela é a fonte primeira,
desafie esses alunos a irem além do que já seríamos seres desenraizados; seres sem
sabem. imaginação porque sem história, e sem
história porque sem memória;
Lan house e juventudes: sociabilidade e - Enquanto lá no sótão se dão as experiências
empregabilidade da imaginação e da sublimação, é lá no porão
- são estabelecimentos comerciais nos quais que estão as raízes e a sustentação racional
as pessoas pagam para ter acesso à internet. da própria casa;
Geralmente o acesso é cobrado por hora e - Bachelard (2003, p. 36-37), o porão “é, a
costuma variar entre R$1,50 e R$ 5,00. princípio, o ser obscuro da casa, o ser que
Segundo estudo de Martín-Barbero (2008), participa das potências subterrâneas.
mesmo os jovens que têm computador em Sonhando com ele, concordamos com a
casa frequentam as lan houses, considerados irracionalidade das profundezas”;
locais de sociabilização na periferia de - No porão, firmamos nossos pés; do sótão,
grandes centros urbanos; partimos para os voos imaginários, para o
- O conhecimento em informática é um dos sonho e as utopias. Lá estão a reflexão e a
atributos que consideram valioso para se razão; aqui estão a imaginação e a inovação;
tornarem atraentes para o mercado - A palavra metáfora resulta de combinação
empregador, uma vez que têm como maior entre o prefixo grego metá – com os sentidos
de intermediação, sucessão, movimento (para - Penso que é absolutamente necessária a
além de), mudança (de lugar) – e o verbo ocupação, do modo mais completo possível,
grego pherein – com os sentidos de levar, de todas as dependências da casa onde
carregar, transportar, deslocar; alojamos as origens do nosso pensamento (o
- Uma metáfora é uma construção linguística porão), onde desenvolvemos nossas práticas
na qual uma palavra ou frase, que comumente pedagógicas cotidianas (o piso intermediário)
designa uma coisa ou um estado de coisas; e de onde podemos nos lançar para tentar
- A comparação metafórica implica um construir outros mundos (o sótão);
transporte de significados e sentidos que é do - Enquanto a analítica é da esfera do porão, o
âmbito da poética. Mas isso não se dá de um agenciamento é da esfera do sótão. Este sem
modo neutro, pois no processo metafórico a aquela é pura fantasia onírica; aquela sem
força de um lado parece migrar para o outro, este é academicismo vazio. O agenciamento
potencializando esse outro lado; mal fundamentado é pura militância e, como
- As metáforas jamais são neutras: ao tal, como qualquer ação militar, não passa de
transportar o sentido de um lado para o outro, um fazer automatizado e obediente a
uma metáfora empresta ao lado mais fraco, comandos que vêm de fora. Uma analítica
mesmo que provisoriamente, a força simbólica fechada em si mesma é pura especulação e,
contida no lado mais forte; como tal, não passa de um fazer estéril e
- A metaforização tem, então, uma dupla afetado;
dimensão; ela é, ao mesmo tempo, poética e - Os fundamentos se estabelecem sempre nas
política; contingências dos acontecimentos históricos;
- Os significados e sentidos nunca são - Enquanto a militância é necessariamente
estáveis e únicos, eles o são ainda menos coletiva, o ativismo é acentuadamente
quando transportados de um lugar ou situação individual;
para outro lugar ou situação; - A militância pode ser compreendida como
- As metáforas estabelecem analogias, um conjunto de ações coletivas que seguem
correspondências e similitudes e, por isso, ao um ideário comum, partilhado e assumido
transferirem significados e sentidos de um pelos membros da coletividade que, no caso,
lado para o outro, elas não repõem o mesmo, se constituem como uma comunidade;
mas “carregam em si”, necessariamente, tanto - No ativismo, a situação é diferente: trata-se
a diferença que já estava na origem quanto a também de um conjunto de ações, mas agora
diferença que se forma no processo de não é a dimensão coletiva que interessa em
transferência; primeiro lugar; antes do agir coletivo, o que
- As metáforas só devem ser tomadas pelo mais conta para o ativista é o seu
seu valor heurístico, evocativo, simbólico; elas compromisso ético com os outros e consigo
nunca fazem mais do que podem fazer; mesmo;
- As metáforas conectam significados e - Essa diferenciação entre a militância e o
sentidos que, sem sua mediação, ativismo não implica juízo de valor e nem
permaneceriam desconectados; pensar que se trata de funções
- Topoanálise que seria o “estudo psicológico desempenhadas por pessoas diferentes;
sistemático dos locais de nossa vida íntima” - A hipercrítica é difícil e incômoda, mas
(2003, p. 28); e sempre aberta e provisória;
- Ao mesmo tempo em que a metáfora da consequentemente, é uma crítica humilde,
casa pode ser usada para a problematização pois não arroga a si o estatuto de melhor,
dos indivíduos naquilo que eles têm de verdadeira, definitiva e mais correta;
singular, ela serve também para problematizar - Hannah Arendt, “a Educação como o
os agrupamentos desses indivíduos, naquilo conjunto de ações que têm por objetivo
que eles têm de comum principal conduzir os que não estavam aí – os
ou trocam cooperativamente entre si. recém-chegados, as crianças, os estranhos,
os estrangeiros, os outros – para o interior de
A casa e a Pedagogia uma cultura que já estava aí” (Veiga-Neto,
2010a, p. 14);
- Quando chegamos neste mundo, ele já - Não é só no âmbito das brutais diferenças
existia... Foi pela educação que fomos socioeconômicas que se aprofundam as
levados a habitá-lo e nos tornamos capazes distâncias; - Quem trabalha com a educação
de habitá-lo; do mesmo modo, é pela inclusiva, por exemplo, conhece muito bem
educação que incluiremos no mundo aqueles essa realidade;
que estão chegando depois de nós; - As coisas são o que são graças às
- Pela ação transformadora da educação se contingências históricas e não por causa de
dá a realização de certos atributos que seriam alguma necessidade, fatalidade ou obrigação
próprios do humano, o que no final garantiria a de serem o que são; e
salvação redentora do Homem; - Ainda que se deva escutar a todos, é preciso
- A redenção funciona como o Leitmotiv praticar a escuta com cuidado, com espírito
principal do pensamento pedagógico moderno crítico e cotejando o que dizem com as outras
e a escatologia como líquida e certa…; e coisas já ditas e que se alojam nos porões dos
- São bem poucos aqueles que se ocupam em discursos.
visitar os porões onde germinaram e
cresceram essas pragas. Semana 5 (23/10): Diferentes espaços onde
ocorre a educação não formal
Como ir aos porões? O que fazer lá e o que Texto-base: A formação do pedagogo e a
trazer de lá? educação nas prisões: reflexões acerca de
- Nós, professores e professoras, mesmo sem uma experiência
maiores aprofundamentos, conheçamos o que Introdução
existe e o que se passa nos porões de nossos - A educação nas prisões, conforme as
pensamentos e práticas educacionais; diretrizes nacionais para a oferta de educação
- Tenhamos sempre em mente as raízes sobre para jovens e adultos em situação de privação
as quais se sustentam o piso intermediário – de liberdade nos estabelecimentos penais
da nossa vida cotidiana – e o sótão – pelo (BRASIL, 2010), deve ser compreendida na
qual (nos) projetamos para diante e para o modalidade de EJA; apesar disso, tal faceta
futuro; nem sempre é valorizada quando se trata da
- Para a maioria de nós, o “ir aos porões” não formação de pedagogos; e
significa nos especializarmos acerca do que lá - Demanda urgente se pensar na formação de
existe; significa apenas conhecer como se um educador capaz de atuar com jovens e
formaram historicamente as coisas que lá adultos em situação de privação de liberdade,
estão, independente dos nossos juízos de seja no exercício da docência, da gestão ou
valor sobre elas; da pesquisa.
- Racismos (étnicos, religiosos, sexistas,
etários) e homofobia são práticas sombrias Exercício da docência na prisão: alguns
que têm suas raízes nos porões; apontamentos
- Em contrapartida, ali também estão as bases - Foucault (1977), a prisão no mundo
racionais que sustentam a compaixão, o moderno possui uma dupla finalidade, ou seja,
senso de justiça e o respeito à diferença; punir e reabilitar para o convívio social
- A própria expressão “conteúdos curriculares” indivíduos colocados sob sua guarda. Em
passou a ser exorcizada, como se os suas palavras, trata-se de “[...] uma empresa
conteúdos fossem ruins, prejudiciais para a de modificação dos indivíduos que a privação
formação dos alunos; de liberdade permite fazer funcionar no
- Um rápido exame da história da pedagogia sistema legal”;
nos mostra que existe aí o lamentável - Para Thompson (1976), a instituição prisional
desconhecimento de quatro princípios lógicos, fracassa em seu objetivo de promover a
a saber, as diferenças entre: condição ressocialização, que é incompatível com a
necessária e condição suficiente, parte e todo, punição e a disciplina, objetivos principais da
causalidade eficiente e causalidade imanente, prisão. Por isso, a tarefa de transformar
causa e condição de possibilidade; criminosos em não criminosos não pode ser
executada;
- A dinâmica prisional, tal como analisado por promoção dos sujeitos, estimulando a reflexão
Goffman (1999), estabelece procedimentos e a participação dos alunos, desde a
que visam à anulação do sujeito, o qual deve elaboração de programas educativos que
se submeter às ordens e aos comandos da respondam às suas necessidades (TEIXEIRA,
equipe dirigente; 2007);
- Uma série de estratégias ao seu - Fiori (2003) ressaltou a importância da
rebaixamento é desencadeada desde a sua realização de práticas pedagógicas
chegada à instituição até a sua saída, com o diferenciadas que levem em consideração
objetivo de promover sua adequação às essas contradições;
regras e normas da casa; - Para além da oferta de escolarização e
- Como parte dessas estratégias, têm-se a certificação, do ensino da leitura e escrita,
adoção de uniformes, o corte de cabelo e a trata-se de traçarem esforços para a
substituição do nome por apelidos ou números efetivação de práticas que potencializem a
de matrícula; reflexão e promovam a valorização dos
- Como afirma Santos (2002), as marcas alunos, o que por certo é tarefa difícil de
institucionais da escola são fortes e evidentes efetivar, que demanda uma adequada
na instituição em funcionamento na prisão; formação dos professores; e
- para os presos, a escola representa acesso - Os professores devem passar por uma
a aprendizagens escolares, tais como formação que abarque questões sobre o
aprender a ler, a fazer contas, ampliar os cotidiano prisional, a EJA, bem como aquelas
conhecimentos e promover a certificação; relacionadas às possibilidades formativas em
- É vista pelos detentos como espaço que sociedade pautada por relações de poder e
ajuda a passar o tempo, a circular pela prisão, dominação.
a estabelecer contato com detentos de outros
pavilhões ou mesmo na obtenção da análise A formação dos professores e a docência
de conduta favorável junto ao corpo técnico em escolas na prisão: relato de experiência
que compõe a equipe funcional (SANTOS, - Trata-se, na verdade, do enfrentamento de
2002; PORTUGUES, 2001); uma dupla questão: por um lado, a educação
- A escola na prisão está submetida às de jovens e adultos e, por outro, a
dinâmicas carcerárias, mas que, ainda assim, organização da atividade de ensino em um
é identificada e reconhecida como um local ambiente diferente da escola, tal como
diferenciado, é de alguma forma separada do estamos habituados a considerar;
restante da cadeia, em que as relações são - São poucos os cursos de formação de
distendidas e podem ser estabelecidas em professores, entre eles o de Pedagogia, que
outras bases; trazem em seu currículo disciplinas ou
- Dentre os desafios enfrentados pelos atividades voltada;
professores ao lecionarem na prisão, Vieira - A atenção a esta população é negligenciada
(2008) destaca a constante imprevisibilidade, no processo de formação, restringindo-a,
além das suas precárias condições de geralmente, às ofertas irregular e esporádica
trabalho. Abreu (2008), em seu estudo, se de disciplinas que se organizam em torno de
referiu ao fato de a formação recebida pelos tal enfoque;
professores não atender à especificidade do - Estágio supervisionado obrigatório, em que o
trabalho realizado, além da falta de material e foco é a educação escolar e o aluno deve
de apoio institucional para as atividades acompanhar as práticas de profissionais
desenvolvidas em sala de aula; habilitados em docência, coordenação
- Paiva (2007) ponderou sobre a importância pedagógica, orientação educacional e direção
de se levar em conta a especificidade do escolar no âmbito das unidades escolares,
alunado, duplamente discriminado, por não ter bem como a supervisão e a gestão do sistema
concluído a escolarização no tempo adequado de ensino;
e por sua condição de detento; - Educação prisional, é urgente que os cursos
- Relevância do desenvolvimento de práticas de formação de professores convoquem uma
pedagógicas que tenham como objetivo a
mobilização própria na direção desse dispostas entre empenho político e
horizonte formativo; consolidação empírica da transformação
- A “escola do presídio” de um modo singular, política advinda pela ação;
pois, reconhecendo a especificidade do - Em primeiro lugar, compete a cada curso
trabalho realizado ali, em condições diferentes que forma professores questionar os modos
daquelas a que estavam habitualmente pelos quais seus currículos se fecham às
acostumadas, estranhavam a persistência da demandas pela formação de educadores para
forma escolar em uma instituição que não era atuarem no sistema prisional. Além disso,
a escola; cabe a eles indagar por que insistem em
- Tratar das especificidades da educação ignorar a real necessidade de fazer da
escolar realizada no âmbito da prisão tem especificidade da formação de professores um
levado os estudantes a refletirem de maneira instrumento para a inserção transformadora
mais abrangente sobre o sentido da educação em outros níveis institucionais da sociedade,
escolar, dos seus modos e de suas formas de como é o caso das prisões e das casas
realização; correcionais de todo tipo;
- Uma formação inicial adequada para o - Há uma demanda reprimida que quase
exercício docente em condições tão diversas sempre é posta de lado ou tratada sem
— e em alguns casos, adversas — não é uma especificidade concretada;
tarefa fácil. A transferência de - em segundo lugar, uma batalha que precisa
responsabilidade pela educação nas prisões ser considerada em seu aspecto político, ou
às secretarias estaduais de educação mais precisamente, na dimensão de
desencadeou ações de formação em serviço resistência que o próprio sistema prisional
para dar conta de problemas relacionados ao consolida, muitas vezes, ao fechar-se aos
treinamento inicial, bem como das diálogos exógenos a ele; e
especificidades que envolvem o trabalho - Toda experiência com a educação pressupõe
docente no ambiente prisional; relações dialógicas
- Alguns estados brasileiros investem em
treinamento, por meio de videoconferências
ou parcerias com universidades; Texto-base: O Rap, Hip-Hop e o Funk: A
- Não podemos ignorar a importância deste “Eróptica da arte juvenil invade a cena das
tipo de ação diante das poucas iniciativas das escolas públicas nas metrópoles
universidades públicas e privadas, ainda não brasileiras
sensibilizadas para o importante papel de Introdução
formar quadros para atuação em ambientes - A importância da escuta e de um olhar
diversificados, como é o caso de presídios; e atento à diversidade étnica e cultural dos
- A ausência de políticas específicas e de alunos, que deve ser contemplada por todo e
planos de carreira e incentivos adequados, qualquer projeto de renovação do ensino
associados às condições de trabalho, tem público deste país;
relegado a docência em estabelecimentos - Por meio da dissonância musical produzida
penais e em outras instituições da privação de por um sofisticado aparato eletrônico,
liberdade a jovens professores em início de promovem efeitos de estranhamento estético,
carreira, muitos admitidos por meio de que expressariam a “consciência excluída da
contratos temporários, para os quais tais sociedade” 3 . Termo empregado por Adorno
ambientes são apresentados como a única (1975, citado por Habermas, 2002), para se
alternativa possível de exercício profissional referir à arte musical de vanguarda
na esfera pública. (referindo-se à música dodecafônica e atonal),
reconhecida por esse importante filósofo
Considerações finais: entre uma alemão como portadora de potência crítica, ao
experiência e vários desafios qual recorremos para pensar a propósito de
- Nem sempre os cursos formadores de uma expressão musical contemporânea;
professores esforçam-se para cumprir - O rap – que ao recorrer a frases melódicas
minimamente com as condições necessárias de um único tom (portanto, mais próxima da
música minimalista contemporânea) e uma Da construção do método em consonância
narrativa direta, constituída de verdadeiros com o objeto
“atos de linguagem” 4 , promove certo - Theodor W. Adorno, o autor sustenta a
estranhamento na escuta, sendo capaz de necessidade de dialetizar as categorias
nos fazer entrar em contato, de outro modo, intrapsíquicas psicanalíticas, de modo a
com a dimensão excluída da consciência apreender o modo como elas se comunicam
social de nossa sociedade; com as categorias socioculturais, sem reduzir
- O hip-hop, por exemplo, mimetiza em suas uma à outra, mas preservando a tensão entre
músicas a violência e o crime, chegando os dois domínios;
quase a sucumbir a estes, como única - O objeto é tomado por Adorno como a
estratégia possível de denúncia da injustiça e nervura, o ponto em que a dialética se torna
da exclusão social a que são submetidos os materialista;
jovens pobres e negros das metrópoles; - Adorno sustenta uma compreensão muito
- O funk recorre a uma imagem “escrachada” clara do que seja um pensador dialético: que
da sexualidade, pondo a nu o que há de mais no sentido rigoroso do termo não pode sequer
depreciativo sobre a mulher, como uma forma, falar de método “pela simples razão de que o
justamente, de pôr em questão o machismo método deve ser uma função do objeto e não
brasileiro; e o faz com o humor que lhe é o inverso” (Goldman & Adorno, 1975, p. 33); e
característico, aliado à tonalidade agressiva e - Milnitsky-Sapiro, a autora defende
sensual de suas danças; basicamente que seja feita uma descrição de
- A pluralidade da arte juvenil surgia como cunho etnográfico de modo a respeitar a
forma de enfrentamento das marcas deixadas linguagem da comunidade pesquisada sem
por fraturas sociais profundas. Um olhar para partir de categorias temáticas a priori, mas, ao
o qual a escola não poderia permanecer contrário, procurando depreendê-las do
alheia se quisesse propor um ensino discurso dos sujeitos pesquisados, atentando
significativo para os jovens daquela para as “variações culturais, a partir da
comunidade; e compreensão do significado da própria
- Consideramos que somente uma etnografia linguagem do grupo, buscando compreender
do olhar que apanhasse a dimensão erótica – seus significados no contexto”.
a “eróptica”, segundo Canevacci (2005b) – e
irreverente destas manifestações poderia Do método etnográfico pós-moderno ao
nelas identificar uma estética afirmativa e método psicanalítico de ruptura de campo:
crítica, como diria Nietzsche, capaz de afinidades eletivas
produzir uma verdadeira reversão dos valores - A ideia de ruptura de campo foi concebida
em nossa sociedade e, no caso, no interior da por Herrmann (2001) como algo imanente ao
própria escola. ato interpretativo e associado a um estado de
irrepresentabilidade transitória, como condição
2. A eróptica das culturas juvenis: uma do surgimento de novas representações que
ruptura possível na cultura escolar? dariam corpo à prototeoria do sujeito. Uma
- “Eróptica”, uma espécie de conceito híbrido concepção do método psicanalítico muito
entre o olho e o erotismo; e distante da interpretação simbólica da qual se
- Considerem as “manifestações culturais vale a psicanálise freudiana, que envolve uma
juvenis” como uma espécie de prototeoria, por espécie de tradução do material recalcado; e
meio da qual se pode produzir uma “ruptura - A ideia era que a razão reinante na cultura
de campo” no plano da cultura, de modo a escolar, sustentada por professores,
analisar as tensões da cultura escolar, que, coordenadores e direção da escola de Ensino
imbuída de certo ativismo ideológico, na dupla Médio e Fundamental (respeitados seus
face da psique do real (identidade e diferentes matizes), pudesse ser rompida e
realidade), tem produzido como resultado renovada por dentro a partir do contato com o
apenas o seu distanciamento cada vez maior que há de mais crítico e transformador das
daquelas. culturas juvenis; estas, portadoras das vozes
dissonantes e marginalizadas, concebidas
pelos autores supracitados como - Os raps (do movimento hip-hop) e o funk,
potencialmente críticas. embora inseridos no fenômeno da
mundialização da cultura, tendem a negá-lo
A construção de um olhar díspar em em seus aspectos reificadores ao assumirem
direção aos reclamos dos jovens alunos uma atitude política de contestação
- Nosso trabalho de pesquisa na referida (paradoxalmente, por meio de uma estética
escola pública aproximounos de algumas afirmativa) a todo tipo de discriminação e de
formas juvenis de manifestação cultural – exclusão social; e
como o hiphop e o funk – por meio das quais - Hip-hop, assim como do funk, como
estes alunos pareciam alcançar uma expressões musicais juvenis de protesto,
verdadeira “virada criativa” em suas vidas procura ressaltar o que há de genuíno em
apesar das circunstâncias precárias em que suas produções (no sentido de dar vida aos
viviam. E, mais do que isso, conseguindo, jovens das classes populares no processo de
assim, sair de seus “guetos” e se fazer escutar estetização de si mesmos) e que escapam do
por diversos segmentos sociais até então esquematismo imposto pela indústria cultural,
alheios à realidade da população excluída das podendo fazer despertar, como diria Nietzsche
metrópoles; (1872/2004), uma “educação estética” de
- A irreverência que se traduz pelo gingar do outra ordem.
corpo erótico:“Hip-hop, eu gingo...black, eu
danço...rap, eu canto”; 3. O rap e o hip-hop: a presença de uma
- Encontramos, ainda, no depoimento de uma concepção dionisíaca de mundo na arte
jovem, uma frase que aponta para a escola juvenil de origem afro-americana?
sonhada, em que o corpo, a música e o - Béthune (2003), realiza um estudo sobre as
conhecimento andam juntos:”Eu sugiro que [a raízes históricas do rap, que o autor remete à
escola] tenha músicos e cantores, que nos música afro-americana (particularmente o jazz
ensinem a verdadeira música brasileira”; e o blues), que, por sua vez, tiveram
- Funk, em que o erotismo feminino assume inspiração na difícil trajetória percorrida pela
papel central, cujas letras e movimentos dos população negra nos EUA, desde a
quadris sugerem e até mesmo lembram a escravidão, passando pela guerra de
sensualidade das danças afro-americanas, secessão, a depressão dos anos 30, entre
tanto sob o ritmo do jazz e dos blues quanto outros momentos que marcaram a vida dessa
do samba no Brasil. Ou mesmo a verve parcela da população americana, cujo lamento
irreverente das letras do rap que evocam os fez-se sentir em suas músicas. Um passado
desafios das emboladas e repentes que, segundo o autor, não desapareceu e,
nordestinos; mais do que isso, encontra-se presente no
- Diversas formas encontradas por eles para estilo rap de música inaugurado pelo hip-hop
se recriarem e superarem suas dores de americano;
exclusão passavam por uma estética musical - De outro lado, sustenta que esse estilo de
refinada, inscrita, muitas vezes, no limiar da música e de dança retoma a dimensão da arte
Lei, pondo em questão, muitas vezes, a moral inconsciente, brotada do povo, como dirá
cínica vigente, e por meio de um trabalho de Nietzsche a propósito das obras dos grandes
recriação da cultura popular, apontavam para trágicos, Ésquilo e Sófocles, em seu livro A
uma espécie de “inversão crítica dos valores”, visão dionisíaca do mundo (Nietzsche,
questionando, à semelhança do que 1928/2005a);
propusera Friedrich Nietzsche, em Além do - Com seu cântico de protesto, o hip-hop
Bem e do Mal (1886/2001) e em Genealogia acabou se difundindo pelo mundo,
da Moral (1887/2005b), os “princípios a partir particularmente entre os jovens pobres
dos quais se fundam os valores” (Deleuze, moradores das grandes metrópoles, e se
1962, pp. 5-6). Um clamor que mereceria a combinando com novos campos culturais
atenção não apenas dos educadores, mas do trazidos pelos excluídos de cada país e região
conjunto da sociedade; do mundo;
- Em 1988 foi lançado o primeiro registro compreensão / mata os sonhos da pessoa e
fonográfico de rap brasileiro através da [os] joga dentro do caixão”.
coletânea “Hip-Hop Cultura de Rua” pela
gravadora Eldorado. Desse disco, Contra a arma dos traficantes e da polícia...
participaram Thaide & DJ Hum, MC/DJ Jack, resta-nos a arma da música
Código 13, entre outros grupos; - Muitos garotos salientaram a questão da
- O hip-hop, com seu cântico de protesto, injustiça para com os pobres, cometida
acabou se difundindo pelo mundo, inclusive por parte da “Justiça”, mas
particularmente entre os jovens pobres principalmente pela polícia, que eles voltaram
moradores das grandes metrópoles, e se a chamar de “coxinha” e de “gambé”
combinando como novos campos culturais (expressões também utilizadas pelos
trazidos pelos excluídos; Racionais); e
- Sua proposta de crítica política faz-se - Evidenciou-se, nesse momento, no entanto,
presente não apenas na letra de suas quão difícil era, para esses jovens, aderir “pra
músicas, mas por meio de uma estética valer” a esse discurso dos Racionais, uma vez
inovadora e crítica de novo tipo; e que a violência experimentada por eles todo
- Segundo Béthune, “o rapper não fala da dia era tão absurdamente desproporcional,
realidade, ele fala na realidade e, representando um verdadeiro atentado à
colocando-se no coração da ação, ele cidadania e à infância, que ficava difícil
transforma fortemente sua fisionomia” responder apenas com um discurso crítico de
(Béthune, 2003, p. 59). denúncia.

3.1. Os rappers – os novos cronistas da 4. E o funk carioca – um produto


modernidade massificado ou uma estética erótica
- Contier (2005) considera que os rappers são irreverente de novo tipo?
os novos cronistas da sociedade brasileira, a - Embora muitos professores tenham se
qual se encontra marcada pela estranha assustado diante do que consideraram “uma
combinação do arcaico e do moderno, em que sensualidade/sexualidade sem limites”,
o papel civilizador da revolução burguesa beirando “o desrespeito ao ambiente da
jamais se estendeu ao conjunto da sociedade escola”, o que presenciamos, na verdade, foi
e está ainda hoje muito longe de fazê-lo: O o clamor dos alunos para serem ouvidos e
rap caracteriza-se pela reinvenção do vistos. E (por que não?) também
cotidiano através da oralidade de pessoas acompanhados pelos adultos em suas
comuns... Os rappers narram com as suas expressões juvenis;
próprias vozes e olhares o cotidiano das - As cantoras de funk enfatizaram, em seus
cidades contemporâneas transfigurando-se depoimentos, a importância do funk sensual,
em instigantes cronistas e críticos da em primeiro lugar, no sentido de impedir a
modernidade. Retratam a periferia de São violência como prova de virilidade – que
Paulo num momento de intensa globalização ameaçava a continuidade dos bailes funk nos
e da formação de uma sociedade morros cariocas –, incentivando, ao contrário,
marcadamente massificada. (Contier, 2005, p. o amor sexual/sensual entre os sexos; em
5); e segundo lugar, como forma de as mulheres se
- Uma estética que é capaz ainda de combinar imporem aos homens, dos pontos de vista da
o universal e o particular, em sua crítica social, liberação sexual feminina e a favor dos
como podemos observar noutro trecho do rap direitos de independência da mulher das
dos garotos:“Pra vencer na vida é preciso ser classes populares, como parte de uma
agressivo, somos grupo elementos”. E depois espécie de “movimento popular feminista”; e
o refrão que remete a uma questão social - O fato de o funk ser mais alegre e erotizado
mais ampla: “A falta de emprego e não quer dizer que seja alienado ou apolítico.
compreensão / transporta o piveti pra uma
vida de ladrão / a falta de emprego e
5. Da estética irreverente à elaboração de - Os professores, por sua vez, depois de três
um luto tornado possível através da anos de pesquisa e de reflexão sobre suas
música de protesto e da dança erótica práticas de transmissão e de contato íntimo
- Canevacci (2005b), é preciso ser capaz de com as culturas juvenis cultivadas pelos
olhar para essas manifestações dos jovens alunos da escola, passaram a exigir maior
que usam seus corpos e suas mentes para autonomia para decidir sobre o conteúdo de
penetrar no que há de mais alienado e fazê-lo suas aulas e os métodos de ensino;
explodir por dentro; - Em uma escola onde reinava o caos e a falta
- “Aquilo que na cultura hip-hop se chama de acolhimento dos anseios dos alunos e
atitude talvez seja a síntese de uma estética e mesmo dos pais desses alunos, nossas
de uma ética, que se combinam de modo intervenções deram vida, por meio das
muito próprio na construção de uma pessoa” expressões plásticas e musicais dos alunos,
(p. 206). Os autores estão querendo dizer que ao olhar abafado dos professores sobre sua
suas músicas exigem o reconhecimento e a própria realidade de trabalho, ao mesmo
generosidade do olhar do outro, ou melhor, do tempo em que colocava em relevo a realidade
conjunto da sociedade para esses jovens que dos alunos daquela comunidade encravada no
vêm sendo excluídos da condição de seio de um dos bairros mais ricos e luxuosos
cidadãos; da capital; e
- Rap, como forma de instaurar o que - Raps, os mensageiros de protesto dos
considerou ser uma “política da identidade”: jovens pobres das metrópoles. E as garotas,
por meio das storytelling (contação de com sua sensualidade irreverente, exigiram,
histórias de si e da comunidade) de todos, um olhar atento – e o direito a terem
compartilhadas em grupo e cujo mote era um espaço para seu “ser mulher” – que fosse
dado por trechos selecionados de letras de capaz de ver nelas o avesso do que diziam as
rap, promovia-se o que denominou de letras funks que tocavam ao fundo, cujas
wounded healers (cicatrização de feridas) letras pareciam-nos degradar a imagem
socio-históricas herdadas da diáspora dos feminina.
afrodescendentes e do verdadeiro apartheid
social e cultural ainda não inteiramente Texto-base: Capoeira, herdeira da diáspora
superado na sociedade americana e, claro, negra do Atlântico: de arte criminalizada a
menos ainda em países como o nosso, em instrumento de educação e cidadania
que a desigualdade social é uma das mais - Músicas, são entoadas nas rodas de
sérias do mundo; e capoeira, não em tom de lamento, mas como
- O funk, de um modo mais irônico e alegre, e gritos de luta e força, em que se alternam o
muitas vezes debochado, vem impondo a cantor – papel conferido usualmente aos
necessidade de um novo olhar para as mestres de capoeira – e o coro,
mulheres negras e pobres das metrópoles, acompanhados da orquestra de berimbaus,
que sofrem não apenas com a exclusão social pandeiros e atabaques, constituindo um
e a violência do tráfico e da polícia, mas com verdadeiro ritual, animado por cantos e
o machismo brasileiro que se constitui em responsórios, palmas e expressão corporal;
outro tipo de violência que não pode ser - Iê dá volta ao mundo!, momento em que os
negligenciada. capoeiristas em uma grande roda são
convocados a dar início a um jogo de vaivém
6. A título de conclusão de luta e dança de corpos ágeis dispostos em
- Encontramos jovens ávidos por se recriar e duplas – em que se combinam a ginga, o rabo
se impor ao mundo dos adultos e à cidade de arraia e o chapéu de couro, entre outros
excludente onde moravam. E assim o fizeram movimentos – dando ensejo a uma
por meio da música e da dança, exigindo o performance coletiva e comunitária, em que
direito de estetizarem por si mesmos, tal como músicos, cantores e jogadores da capoeira
sugerira Nietzsche ser a verdadeira tarefa da mais e menos experientes se desafiam uns
educação; aos outros e se confraternizam;
- Uma prática ancestral que se originou nas força pelo modo de transmissão às novas
senzalas , fruto da luta do fraco contra o mais gerações, o que permitiu a expansão desta
forte, em que a astúcia era uma das únicas cultura ancestral, tendo à frente inúmeros
armas para enfrentar a força do opressor, mestres com suas escolas, grupos e
tornando-se uma das mais importantes academias espalhadas por todo o país, que se
manifestações da cultura de resistência do expandiram para os quatro continentes,
negro escravizado no Brasil Colonial; alcançando hoje mais de 150 países; e
- e sua prática foi considerada crime e incluída - Esta arte ancestral vem exercendo um papel
como tal no Código Penal Brasileiro11, cujo formador inclusive para a elite brasileira, ao
decreto foi revogado apenas em 1937; contribuir para o que o antropólogo Gilberto
- Chalhoub, a formação da cidade negra, Velho sustenta ser um “fenômeno muito rico
referindo-se à cidade do Rio de Janeiro, de de interação social”, em que jovens de
1830 a 1870, representou, na verdade, uma famílias abastadas aprendem esta cultura com
forma de instituir a cidade como espaço de profissionais afrodescendentes de uma
luta política pela liberdade; camada social menos privilegiada, o que era
- Mestre de capoeira, não têm sua profissão impossível no século XIX ou mesmo no início
reconhecida até hoje, o que fez com que uma do século XX.
parcela significativa desses mestres
enfrentasse sérias dificuldades de Sou guerreiro quilombo quilombola!
sobrevivência; - Mencionou o papel emancipatório dos malês
- Muito recentemente, o Estatuto da Igualdade (em iorubá, significa muçulmano), nação de
Racial conferiu o devido reconhecimento à negros islâmicos, conhecidos como negros de
profissão, como se pode constatar no seguinte posses, pelas atividades livres ou de “ganho”,
trecho: “É facultado aos tradicionais mestres que exerciam como alfaiate, artesão,
de capoeira, reconhecidos pública e carpinteiro e outras; e
formalmente pelo seu trabalho, atuar como - Foram responsáveis pela “Revolta dos
instrutores desta arte-esporte nas instituições Malês”, que se deu em Salvador, em 25 de
de ensino públicas e privadas”; janeiro de 1835, a única revolta de caráter
- Às populações indígenas e afro-brasileiras, urbano no Brasil Colônia. Inconformados com
cujos saberes e culturas começam a ter o a imposição do catolicismo aos africanos e
devido reconhecimento, somente com as leis movidos pela ideia de construir uma nação
10639/2003 e 11645/08, que tornaram islâmica, lutaram pela abolição da
obrigatória a inclusão da história da África, escravatura.
das culturas afro-brasileiras e indígenas no
currículo das escolas públicas e privadas de Paideia africana: a história do Brasil
educação básica e do ensino médio; contada segundo a ótica dos
- O estudo do legado de culturas, como da afrodescendentes
capoeira, constitui-se em uma importante - A libertação dos escravos não foi algo
fonte de denúncia de um passado bárbaro que simples e fácil, uma vez que a coroa
marcou profundamente a sociedade brasileira, portuguesa sofrera forte pressão da Inglaterra,
ao mesmo tempo em que permite a pelo interesse desta de criar no Brasil um
reelaboração desse passado, como condição; mercado consumidor. Havia, de outro lado,
- Capoeira como uma expressão estética e de inúmeros movimentos abolicionistas e
luta ancorada na matriz africana de nossa agrupamentos de escravos insurretos,
cultura, capaz de transmitir, por meio do jogo simultaneamente em todo o país, o que
e de sua musicalidade, conteúdos negados da amedrontava – e muito – o governo e a
história e cultura do negro no Brasil; sociedade da época; e
- Torna-se fundamental, não apenas o seu - No período pós-abolição, sem trabalho, sem
reconhecimento como profissão, mas enfatiza terras e sem condição de sobrevivência,
sua importância histórica, cultural e política; muitos deles tendo-o feito por meio da música
- A capoeira, uma das culturas afro-brasileiras e de outras habilidades, como cozinheiro,
de resistência das mais antigas, preserva sua
sapateiro, alfaiate, embora, na sua maioria, reconhecimento social para a sua
morressem à míngua. autorrealização, contribuindo, desse modo,
para a implementação prática dos objetivos da
Nos bastidores das oficinas: como foram sociedade, conforme sustenta Honneth;
nossas letras e discussões teóricas - Trata-se de lutas por reconhecimento que se
- Axel Honneth. Em seu livro, Luta por constituem como “uma força moral que
reconhecimento, o autor defende que a teoria impulsiona desenvolvimentos sociais”; e
social crítica deva ser ancorada “no processo - “Estima simétrica”, que pressupõe “um
de construção social da identidade”, entendida acontecimento coletivo”, capaz de fundar
pelo autor como “luta pelo reconhecimento” relações espontâneas de interesse solidário
nos planos pessoal, jurídico e sociocultural; para além dos limites e barreiras sociais que
- Marcos Nobre, Honneth propõe que se lhe são impostos.
analisem “as bases morais de uma
intersubjetividade fundada no reconhecimento Da senzala à colônia: Crime e resistência
recíproco, ou seja, nas experiências dos dos escravizados
sujeitos humanos nos processos de formação - A leitura do livro Da senzala à colônia foi
de suas identidades”33. Processo que seria fundamental para as discussões nas oficinas
mais facilmente identificável em negativo, ou de capoeira, uma vez que esta obra aborda
seja, na “dinâmica social do desrespeito”; justamente o último período da escravidão no
- Os direitos individuais são a condição para Brasil no século XIX;
que o sujeito constitua o autorrespeito, mas - Durante esse período, a despeito da
cuja comprovação empírica e fenomênica só proibição do tráfico, observou-se a
se verifica em forma negativa, ou seja, quando intensificação deste último – tanto nacional,
os sujeitos sofrem de maneira visível com a quanto internacionalmente – graças ao qual
sua falta; se deu a expansão cafeeira na região
- Honneth considera que nas sociedades sudeste, particularmente no estado de São
modernas as relações de estima social são Paulo;
atravessadas permanentemente por lutas de - Conforme foram avançando as lutas
grupos sociais pelo reconhecimento e até abolicionistas, as quais respaldaram o
mesmo pela elevação do valor de suas formas aumento de protestos e rebeliões dos
de vida e cultura; escravizados, verificou-se a repressão
- Instaura-se um novo padrão de organização redobrada aos negros insurretos;
social na modernidade que confere valor à - Outra obra importante, Crime e
pessoa por dois processos simultâneos: “o da escravidão41, esclareceu-nos que o
universalização jurídica da “honra” até escravizado, muito antes da onda abolicionista
tornar-se “dignidade”, por um lado, e o da ter interferido nas rebeliões, as quais atingiam
privatização da “honra” até tornar-se as senzalas na segunda metade do século
“integridade” subjetivamente definida, por XIX;
outro”; e - Foi impondo sua resistência por meio de
- Identifica-se, portanto, um duplo movimento acordos que o protegiam do excesso de
– em direção ao reconhecimento da trabalho e das medidas disciplinares,
sociedade e à restauração da integridade ampliadas e recrudescidas justamente no
pessoal e sociocultural dos afro-brasileiros. período que antecedeu a abolição da
escravidão no Brasil, particularmente nas
De vítima passiva, o negro é convocado a fazendas de café do estado de São Paulo;
ser agente de sua libertação - Costa, mesmo com a “equiparação legal
- A tomada de consciência do negro acerca de entre brancos e negros”, em 1888, não foram
seu destruídas de imediato a mentalidade
valor, ao reconhecer a importância da cultura retrógrada e o conjunto
afro e da capoeira como estratégias de de valores vigentes durante o período colonial;
libertação, em que estima social, prestígio ou - A liberdade passou a ser vista como
reputação dependerão do grau de “ausência de obrigações e de trabalho”;
- Regime escravista implantado no Brasil ambiente favorável, passando a contar com
trouxe ainda sérias consequências, não apoio na justiça e ampla simpatia entre
apenas para a organização familiar dos setores adeptos das ideias abolicionistas;
brancos, que conviviam com o casamento - Foi finalmente a rebelião nas senzalas que
monogâmico e a poligamia do senhor, mas provocou a desorganização do trabalho rural e
sobretudo para a organização familiar dos o desmantelamento da escravidão no Brasil;
negros, a quem foram impostas a separação - As condições de trabalho particularmente
entre os povos, o desmantelamento das nas fazendas de café paulistas foram das
tradições africanas e relações passageiras mais desumanas durante o século XIX;
entre os casais; - A jornada de trabalho atingia em média de
- Segundo Costa, embora durante todo o quinze a dezoito horas diárias, e assim como
século XIX tenham ganhado força as ideias nas plantations norte-americanas, em que os
abolicionistas, os proprietários das grandes negros entoavam seus cantos de trabalho,
lavouras de café, sobretudo, foram os mais aqui no Brasil, “cantigas ritmadas
fortes opositores ao fim da escravidão, além acompanhavam o movimento das enxadas,
de se oporem veementemente à interrupção jongos, canções inspiradas nos
do tráfico até meados do século XIX; acontecimentos miúdos da vida cotidiana,
- “A sociedade pactuou com a manutenção do falando de senhores e escravos, de feitores e
tráfico e da senzala”, acobertando-se, assim, iaiás, cantadas em duas ou mais vozes numa
a fraude, o que adiou por mais meio século mistura de palavras portuguesas e africanas”;
sua abolição definitiva; - “Toda roupa levava a marca da matrícula. Na
- Em pleno ano de 1870, o modelo de trabalho maioria das fazendas, as roupas eram
escravo “conquistou definitivamente a renovadas apenas uma vez por ano. Naquelas
preferência dos fazendeiros”; e que primavam pelo tratamento dispensado
- As consequências nefastas da mentalidade aos negros, recebiam estes três camisas, três
escravocrata para o conjunto da sociedade pares de calças e os respectivos casacos, um
brasileira, além dos danos causados para chapéu (uma espécie de turbante) e dois
gerações de afrodescendentes, tanto do ponto cobertores por ano”;
de vista cultural, quanto material, é preciso - No período que antecedeu a abolição, de
reconhecer a atualidade das músicas que humanizar as relações com os escravizados
compõem o ritual do jogo da capoeira. Suas sem, no entanto, deixar de lado a sede de
letras, além de constituírem um registro lucro, alternaram-se na relação entre senhor e
histórico de uma época, cujas marcas e escravo, “acomodação e resistência,
fraturas ainda se fazem presentes em nossa cooptação e ruptura”, constituindo, segundo
sociedade, são uma forma de não se Machado, uma espécie de “movimento
esquecer da barbárie cometida em solo pendular, marcado pelo equilíbrio instável,
brasileiro sob o regime escravocrata. perpassado por tensões”; e
- No final do período escravista, o receio do
A opressão do escravizado e suas lutas de mundo senhorial e das autoridades era
libertação grande, como a autora pôde identificar nos
- Há inúmeros registros historiográficos que autos, fruto de um misto de terror e espanto,
demonstram que a rebelião dos escravizados falava-se de “escravaria agitada”, “muitos
no Brasil sempre existiu; rebeldes”, “prestes a fugir”.
- Segundo Costa, constavam nos anais da
sociedade colonial episódios frequentes de Quilombos e quilombolas na cidade - ecos
fuga de escravos e a formação de quilombos; ancestrais e contemporâneos
- Moura, “as fugas dos escravizados e a - O Movimento Negro, conseguiu, após
formação dos quilombos podem ser grande mobilização nacional de entidades
entendidas como as primeiras formas de culturais e grupos comunitários, oficializar o
resistência do negro escravo em São Paulo”; dia 20 de novembro, data de aniversário de
- Na segunda metade do século XIX, os morte de Zumbi, como Dia da Consciência
escravizados rebelados encontraram um
Negra, que foi escolhida também para efetivamente reconhecido pelo outro, é este
comemorar a Abolição da Escravatura; outro que permanece o tema de sua ação. É
- O quilombo dos Palmares resistiu por mais deste outro, do reconhecimento por este outro
de cem anos às investidas do Governo, que dependem seu valor e sua realidade; e
ataques militares de portugueses, holandeses - A integridade do ser humano se deve em
e senhores de engenho, chegando a ter, em grande parte a padrões de reconhecimento
1670, uma população de 50 mil habitantes. nos três níveis – do amor, do direito e da
Ele só foi destruído em 1694, por uma estima social –, categorias
expedição comandada por Domingos Jorge morais como de ofensa e sentimento de
Velho; rebaixamento surgem frequentemente quando
- Apartheid na África do Sul, o regime as pessoas são submetidas a formas de
segregacionista, que se instaurou oficialmente “reconhecimento recusado”.
neste país em 1948, retirando dos povos
africanos que ali viviam praticamente todos os Texto-base: A literatura literária como
seus direitos, fora abolido apenas com a travessia para um educar poético
libertação e eleição de Nelson Mandela, em Introdução
1994; e - Leitura literária, essa atividade pode
- O fato de os negros morarem no morro teve conduzir o leitor à busca de si mesmo por
origem em uma política de expulsão do negro meio do que estamos chamando de Educar
de todos os centros urbanos e que a cidade Poético, um educar que vigora no acontecer
de São Paulo era um exemplo disso. Os da linguagem;
bairros da Liberdade e Bexiga foram, no início - Ensino de literatura nas escolas que, de
do século XX, locais de grande concentração forma tradicional, privilegia o texto em
de negros. detrimento do leitor, ou em outros casos,
privilegia o leitor e sua visão subjetiva em
A título de conclusão: o banzo e a memória detrimento do texto;
no corpo do escravizado - O ensino de literatura deva se fazer por meio
- A análise das músicas da capoeira do diálogo entre texto e aluno/leitor; e
permitiu-nos fazer com que os jovens alunos - O aluno/leitor tem a possibilidade de
compreendessem a condição social do negro construir autonomia e visão crítica, por
no Brasil, sua resistência à opressão e toda a intermédio da aproximação com o texto e com
riqueza cultural que o africano escravizado a arte literária e, consequentemente, iniciar o
trouxe em seu próprio corpo e por meio dele a processo de aprendizagem poética.
conservou;
- Se por um lado, o corpo do negro foi seu I- Leitura: o que é?
maior patrimônio, seu meio de expressão, - Leitura pode ser a reunião expressa de
manutenção e reconstrução cultural, por outro, letras em palavras e frases, numa acepção
é ainda hoje o fator determinante do mais técnica; pode ser a decodificação do que
preconceito e do racismo; está escrito expressando o seu significado,
- Frantz Fanon, diz que a ideia da negritude e em uma perspectiva instrumental; a leitura
o peso que foi conferido a ela só surgem para pode ser a expressão de diferentes
o negro no momento em que o branco assim o significados resultantes da articulação dos
denomina: “De um dia para o outro, os pretos referentes leitor/texto/autor/contexto, por força
tiveram de se situar diante de dois sistemas do ato de ler; e numa concepção mais ampla
de referência. Sua metafísica ou, menos e mais ontológica, segundo Manuel A. de
pretensiosamente, seus costumes e instâncias Castro (1982), pode ser o resultado do
de referência foram abolidos porque estavam inter-relacionamento do homem e das
em contradição com uma civilização que não realidades do real no vigor do ler, que é um
conheciam e que lhes foi imposta”; agir de grande e profunda complexidade, e
- Fanon: “O homem só é humano na medida jamais pode ser reduzido ao ato banal de
em que ele quer se impor a um outro homem, decodificar algo escrito;
a fim de ser reconhecido. Enquanto ele não é
- A leitura como atividade multifacetada e consensual do texto, quando não estabelecida
complexa, visto que se desenvolve em várias e congelada, o aluno [...] dispunha apenas de
frentes de processos do ser humano, como o uma margem estreita para exprimir sua
neurofisiológico, o cognitivo, o afetivo, o interação ou seu julgamento pessoal. [...] o
argumentativo, o simbólico; estudo do texto, longe de ser um espaço de
- Jouve (JOUVE, 2002, p. 17-18), “a leitura é reações individuais e coletivas, era muito mais
antes de mais nada um ato concreto, uma formação concebida como submissão ao
observável e recorre a faculdades definidas do texto (ROUXEL, 2012, p. 2);
ser humano [...] considerada no seu aspecto - O leitor não deve ser visto como passivo ao
físico, a leitura apresenta-se, pois, com uma texto, e que devemos levar em conta que
atividade de antecipação, de estruturação e leitor e texto estão imbricados em uma relação
de interpretação”; na qual, ao se deparar com as questões
- Jouve (2002) chama de “o charme da manifestadas pelo texto, o leitor as atualiza,
leitura”, que se origina das diferentes relações potencializando o texto, provocando uma
entre texto e leitor e sensações, reação fecunda em que tanto leitor quanto
questionamentos, emoções, aprendizagens e texto passam a ter novos sentidos, se
todos os sentidos que essa prática desvelando em acontecer como mundo;
proporciona; - Castro (1982) afirma que o leitor é leitor na
- Seja qual for o tipo de atividade de leitura leitura, e a leitura é leitura no leitor, ambos
literária realizada, esta conduzirá o leitor a vigorando no e pelo exercício do ler, que,
construir-se como ser humano, visto que este segundo o próprio autor, é o “vigor de nomear
passa a dialogar com a obra, recriando que faz aparecer o que se estende adiante da
tempos, espaços, imagens, fazendo com que luz e pelo qual a presença das coisas
a própria narrativa lida passe a ser presentes se produz no ocultar-se” (CASTRO,
incorporada a sua vida; 1982, p. 101);
- Michèle Petit, o ato de leitura há tempos tem - Ao ler, o leitor, por meio da linguagem – esta
sido um privilegiado caminho para o leitor entendida como logos, ou como as infinitas
elaborar ou mesmo manter um espaço possibilidades de dar sentido às coisas do
próprio, íntimo e privado, em que ele vai mundo –, manifesta sua relação dialogal com
construindo-se – ou descobrindo-se –, saindo a realidade nomeando o que se faz aparecer,
das estáticas prescrições familiares e/ou o que se ilumina diante do mistério da luz pela
sociais; presença, pelo o que emerge, se dar a ver;
- A leitura faz com que as pessoas possam - Ler, em sentido poético, é sempre
tornar-se autores dos seus destinos, elaborar questionar-se, mas cujo caminho de leitura
um outro lugar em que não dependam dos nos expõe e exige decisões de sentido de
outros, em que não haja classificações como nosso viver. Nesse momento, aparece a
“leituras úteis” e “leituras de entretenimento”; diferença entre a experiência e a
“leitura escolar” e “leituras de prazer”; “leituras experienciação da leitura, pois esta não
eruditas” e “leituras habituais”. um espaço no apenas nos informa algo, mas nos põe em
qual seja permitido ir em busca do que lhes é questão. E isso é compreendermo-nos
próprio, sem que nada seja programado (CASTRO, 2015, p. 111); e
anteriormente. “Essa leitura é transgressiva: - Devemos pensar a leitura como um ato livre
nela o leitor volta as costas aos seus, foge, e criativo, pelo qual nos alimentamos, vindo a
ultrapassa a soleira da casa, do lugarejo, do nos tornar o humano que somos.
bairro;
- A leitura, muito mais do que um lugar de II- Ler: um ato livre, contemplativo e
expressão do leitor, se faz como lugar de criativo
existência, de construção do sujeito enquanto - Três atributos do ato de ler: livre,
leitor ativo; contemplativo e criativo e que estão em
- [...] As práticas escolares de leitura deixaram diálogo direto e intenso com o ato de criar, de
pouco espaço à subjetividade do leitor [...] fazer poesia, de brincar e se enraizar com as
obrigado a proceder a uma significação palavras;
- Ler não é apenas um ato apenas racional, de um texto se torna uma aventura fundadora
visto que engloba todo o corpo humano de realidade;
enquanto processo de criação de sentido, - É possível compreendermos o ato de ler,
então podemos comparar o ato de ler com o considerando seus níveis, como:
ato livre como o de comer (JOUVE, 2002; (a) a leitura;
CASTRO, 2015); (b) a escuta, como forma de doação do leitor
- À linguagem que nos possibilita ler, não às questões manifestadas na obra;
apenas como decifração de signos e sistemas (c) o diálogo entre leitor e obra; a
linguísticos, mas como atividade originária do interpretação;
humano que está lançado às questões do ser, (d) a experienciação do leitor que passa a
e que por meio de sua capacidade de nomear, orbitar as questões da obra que o convidam a
de dar sentido às coisas, pode transformar pensar;
uma “simples” atividade física em arte (e) o acontecimento tanto da obra quanto do
criadora. Portanto, a leitura também é leitor, enquanto criação de sentido;
alimento; (f) a aprendizagem como travessia nas e
- A relação entre texto e leitor é algo próprio, pelas questões que o convocaram à procura
singular, contemplativo, em que tanto leitor de si; e
quanto texto travam uma batalha para a (g) a libertação para um processo de educar
construção de significados e sentidos, e nessa poético, que se manifesta no ato de se
relação não existe nem sujeito nem objeto, ou questionar frente a uma obra literária.
quem oferece as pistas e os caminhos e quem - Castro (1982) propõe a leitura poética –
os segue. O que existe é uma relação aquela que se faz da inter-relação e interação
dialogal, um pacto, em que tanto texto quanto entre o texto (o sistema de signos verbais), o
leitor vão se construindo mutuamente como entre-texto (o signo poético, específico do
sentido de mundo; literário) e o pré-texto (a linguagem como
- Rouxel (2012) faz uma interpretação acerca possibilidades de sentido, fonte de toda e
do que vem a ser essa relação mais direta qualquer realidade) – a fim que pensemos de
entre o texto e o leitor, afirmando que a leitura forma articulada/dialética em cada um desses
que se propõe à construção de identidade do referentes;
leitor deve introduzir um espaço de liberdade, - Nesta abordagem da leitura literária, o verbo
para a qual o leitor corresponda com mais ler origina-se do verbo grego leguein que
autonomia. A autora chama a esse tipo de significa o “vigor do nomear que faz aparecer
leitura de “leitura cursiva”; o que se estende adiante na luz, pelo qual a
- Leitura que pretende formar um leitor capaz presença das coisas presentes se produz no
de responder às injunções de cada texto, ocultar-se” (CASTRO, 1982, p. 101);
tornando o leitor passivo, o obrigando a - O leitor é o espaço/lugar de manifestação
proceder em direção de um entendimento das inúmeras possibilidades de sentido
mais consensual do texto, ou mesmo oriundos do sistema de signos, por meio da
preestabelecido e estagnado: a esse tipo de linguagem, dentro do real;
leitura, a autora chama de “leitura analítica”; - A relação entre leitor e leitura se dá de forma
- O leitor não deve pensar a arte literária como tensional e dialética, proporcionando não só
uma mera representação da realidade, mas uma instituição de significados, mas,
como a própria realidade se manifestando principalmente, a procura de sentido, que em
nele, que torna-se, então, o lugar de hipótese nenhuma pode ser significável, visto
manifestação do literário; que deixaria de ser procura;
- A obra de um escritor é apenas uma espécie - Castro (1982) acrescenta que esse tipo de
de instrumento óptico, um caminho, que ele atividade criativa do homem gera duas
oferece ao leitor a fim de permitir-lhe discernir modalidades de texto: o texto-objeto, que
aquilo que, talvez, não tivesse visto em si apresenta o discurso referencial e que propõe
mesmo; uma relação representativa da linguagem em
- Castro (2005) afirma que o leitor é tão que o sujeito autor/leitor é o dono do objeto
importante quanto o autor, pois a interpretação texto. A outra modalidade é o texto-obra, que
se vale do discurso metafórico, da fusão de vida tentando aprender a viver, a se relacionar
expressão e conteúdo vigorando como com as questões que lhe afligem como
presença, como ser, sua literariedade – humano que é: a esse processo chamamos
“presentear é o velar-se que se iluminou” de Educar Poético;
(HEIDEGGER, 2012, p. 126); - Educar é um processo ontológico pelo qual
- “[...] Não podemos confundir “obra” nem cada ser humano deve ser conduzido para
com suporte material, escrito ou oral, nem além dos limites, ou seja, “o educar é a
com o discurso entendido gramatical ou até caminhada dialética pela qual somos lançados
ficcionalmente, e muito menos com objeto ou no livre aberto da tensão de limite e não limite
forma estética” (CASTRO, 2015, p. 249); para que aconteça o libertar” (CASTRO, 2014,
- O mundo possui inúmeras acepções: 1- p. 16);
pode ser o universo organizado; o globo - A busca do homem pelo que lhe é próprio,
terrestre ou uma parte dele; 2- a totalidade pela sua humanidade, deve se dar por meio
dos homens; 3- a humanidade ou apenas um de uma educação com foco no questionar e
domínio da humanidade (como o mundo do no devolver às questões o seu vigor, e isso
pensamento, o mundo religioso, o mundo da nos coloca frente ao destino do humano: ir à
ciência etc.). Mas, na maioria das vezes, se procura do que já desde sempre é e não sabe;
confunde mundo com contexto, não levando - Nessa perspectiva, toda a realidade passa a
em consideração que o mundo inclui o ser concebida antropocentricamente com foco
contexto, mas que o contexto não inclui o na condição do homem como sujeito que
mundo; impõe explicações funcionais de aspectos
- Podemos dizer que se faz mundo quando o naturais, psicológicos ou sociológicos e
ser humano, independentemente de sua históricos às coisas objectualizadas;
posição ou relação com o tempo e/ou o - O mundo globalizado em que vivemos não
espaço, realiza-se como sentido; e se abre a um educar poético originário, um
- Contexto se dá pela “instituição de um tempo educar que liberte para o questionar o que são
e espaço pelo discurso enquanto tensão de o humano, a realidade e o destino, pelo fato
uma expressão e de um raciocínio. [...] de que se tem esquecido, cada vez mais, o
Contexto é, portanto, o conjunto de sentido do ser e de ser; e
instituições discursivamente ordenadas - O mundo da tradição mimética (o qual vê a
(sintaxe)” (CASTRO, 1982, p. 109). arte apenas como imitação da realidade) já,
de antemão e por diferentes injunções, decidiu
III- A leitura literária: um caminhar ao sobre as cinco questões que são conaturais
educar poético ao questionar, são elas: a verdade/alétheia, a
- A arte é que nos leva à procura do próprio de imitação/mímesis, a ação originária do
cada humano. São as obras de arte – humano/poiésis, a técnica/techné, e o
alimento para o pensar e nunca para o pensar/noein.
doutrinar – que nos questionam sobre o que é
o humano, o que é a realidade e o que é o Considerações finais
destino; - Petit (2013) separa o ato de ler em leitura útil
- Manuel Antônio de Castro: A arte, toda arte, e leitura por prazer, afirmando que somente
é alimento para que cada um faça da sua vida esta conduz o leitor à construção de si como
uma obra de arte. Porém, há uma questão, sujeito;
que é o maior desafio em nossas vidas. Qual? - Rouxel (2012), por sua vez, distingue a
Fazer da arte vida. É neste horizonte de fazer atividade de leitura em analítica, a qual
da arte vida que se coloca a questão radical pretende formar um leitor capaz apenas de
para cada um de nós: nossa travessia responder às injunções do texto, em que esse
(CASTRO, 2011, p. 1); leitor não terá nenhuma voz enquanto sujeito;
- Pensar é necessário, pois, ao pensar, o e leitura cursiva, aquela que se caracteriza por
humano vai à procura a si mesmo, buscando sua forma livre, direta e corrente, e que tem
conhecer sua humanidade, quer dizer, aquilo por função apreender o sentido a partir do
que lhe é próprio, atravessando o sertão da todo;
- Segundo Rouxel, esta é uma leitura
autônoma e pessoal, a qual autoriza o leitor
ao fenômeno da identificação. Em ambas,
podemos perceber que a construção do leitor
está baseada em uma relação entre sujeito e
objeto, em que o sujeito é o leitor que irá
predicar o objeto-texto;
- Castro (1982, 2005) faz uma distinção entre
o que ele chama de leitura espontânea (ou
literal/atemática) e de leitura poética, para
este autor a primeira atende aos dados do PETIT I
discurso e ao horizonte cultural e conjetural do
leitor, conduzindo-o ao prazer natural que
advém, muitas vezes, da incompletude do
texto e de perguntas que deixaram de ser
respondidas durante a leitura, envolvendo
espontaneamente a ficção poética e o
imaginário do leitor, abordagem que o
aproxima de Petit e Rouxel;
- O segundo tipo de leitura, chamado pelo
autor de poética, irá se traduzir numa - A leitura tem inúmeras funções, por exemplo,
interpretação mais profunda das questões lemos para nos informar, nos entreter,
manifestadas pelo texto literário, alcançar o conhecimento, etc.;
distanciando-se das concepções de leitor e - A leitura permite que a pessoa mantenha um
obra forjadas por Petit e Rouxel, visto que, pouco de controle sobre este mundo que está
para Castro (1982, 2015), a leitura poética se em constante mudança.
dá em um âmbito ontológico, o qual prevê um
movimento de entrega mais radical por parte PETIT II
do leitor, o conduzindo, por meio do
questionamento da obra e do
autoquestionamento a uma aprendizagem por
meio do enraizamento nas palavras e com as
palavras; e
- Partindo desse pressuposto, acreditamos ser
no momento da leitura de textos literários que
ocorre a circularidade hermenêutica
(GADAMER, 2015), ou seja, o processo pelo
qual, ao ler e questionar as obras literárias, o - Somos seres falantes e com isso a
leitor passa a ser por elas questionado, o linguagem é muito importante para
levando a pensar sobre o sentido do humano, nomearmos os fatos, conhecimentos, nosso
de vida e morte, do amor, da verdade, do nome;
mundo, do tempo, da arte, da linguagem. - Somente somos sujeitos, pois temos a
linguagem.
Videoaula 8: A importância da leitura, do
professor leitor e os espaços não formais
de Educação Não Formal
A importância da leitura, do professor leitor
e os espaços de educação não formal

PETIT III
- O sujeito que não lê tem dificuldade de
simbolizar;
- Todos os sujeitos precisam ler, sejam eles
- Simbolizar é muito importante, pois o sujeito
crianças, adultos, jovens;
simboliza encontra diferentes maneiras de
- É fundamental que as pessoas que
dizer e de se dizer.
trabalham nestes espaços entenda a leitura
como possibilidades de transformações dos
Conceito de leitura: perspectiva discursiva
próprios sujeitos ali envolvidos e do espaço
não formal;
- Precisamos ter leitores competentes e
críticos, ou seja, são leitores que interpretam e
formam sentidos daquilo que ele leu, faz
relação com os diferentes textos que leu,
entendeu os interdiscursos (ou seja, os vários
discursos conhecidos pelo sujeito); e
- Para que o sujeito aprenda a interpretar é
necessário que ele esteja em um ambiente
livre e não cerceador de pensamentos.

Atuação do Pedagogo em Ongs: Limites e


- Ler é atribuir sentidos, produzir sentidos e
possibilidades a partir da prática da leitura
para isso o sujeito precisa interpretar.

Leitura em espaços não formais


Literatura é a arte das palavras

- Um dos grandes desafios da prática


pedagógica nas ongs;
- A partir do momento que o Pedagogo está - A literatura nos permite (acima descrito);
em uma ong é preciso que este considere os - A leitura nos diferencia do senso comum.
contextos das pessoas que estão ali, pois
cada uma delas chegam com expectativas, Literatura e a construção da cidadania
medos, visões de mundo;
- Nos espaços não formais de educação deve
ter seus trabalhos pautados pela democracia;
- Os profissionais que estão ali precisam se
perguntar o porquê estão ali e por meio da
leitura é possível interpretarmos e
entendermos o mundo e as vidas daqueles
que estão ali; e
- O Pedagogo que irá trabalhar em espaços
não formais deve ser um leitor crítico e que - Processo polissêmico de linguagem:
saiba entender a realidade em que ele está e Possibilidade de atribuirmos inúmeros
de pensar sobre aquilo que ele está lendo e sentidos a um texto literário;
não só que engole aquilo que está escrito. - Essas interpretações não devem ser vistas
como certas ou erradas e sim como possíveis
Videoaula 9: A literatura enquanto arte e e impossíveis;
suas contribuições para a Educação Não - Paráfrase: Significa o mesmo, a repetição, a
Formal reformulação que sempre traz sentidos já
A literatura enquanto arte e suas ditos. A paráfrase impede que nós avancemos
contribuições para a educação não formal dentro da linguagem;
- Cidadania requer senso crítico (Geaquinto):

* Como vamos exercer a cidadania se não


temos senso crítico? Se não colocamos
nossos argumentos e contra argumentos, para
refutamos a falta de oportunidades;
* O sujeito que lê dialoga com diferentes
autores e possui diferentes pensamentos
* A leitura possibilita que fiquemos com a consegue transferir este conhecimento com
gente mesmo, com nossos pensamentos, muita ludicidade e de maneira bem interativa
nossos devaneios, angústias, com as nossas para as crianças;
possibilidades e impossibilidades. - O investimento em educação é muito caro e
este investimento se traduz em nos tornarmos
Literatura, tempo de aprendizagem e de seres um pouco mais evoluídos.
reflexões
Videoaula 10: A escrita, o falar de si e a
Educação Não Formal: hospitais, presídios
e casas de apoio aos adolescentes
A escrita, o falar de si e a educação não
formal: hospitais, presídios e casas de
apoio ao adolescente

- Sobretudo principalmente a educação não


formal deve respeitar o sujeito como ele é e
claro que buscando seu aprimoramento;
- A literatura infanto juvenil é vasta e com
diversas possibilidades, temos autores
nacionais e internacionais;
- Mesmo a educação ocorrendo em espaços
não formais é preciso planejamento e ter
Reflexão de um adolescente, Hadrien
fundamento nestas ações executadas; e
- O Pedagogo precisa estudar, ir e se
aprimorar em seus conhecimentos sobre os
espaços que ele levará às crianças.

Entrevista com o artista plástico Leonardo


Scarulis

- A partir do momento que acreditaram que ele


conseguiria ler e escrever e assim o fez;
- Um adolescente marginalizado e excluído
aprendeu a ler e a escrever mais tarde, mas
aprendeu isso com maestria e o faz
fluentemente.

- Utilizar as pesquisas dos professores e


abordar temas significativos, no exemplo
trazido com crianças que estão sendo
alfabetizadas;
- Essas crianças passam a lidar com temas
relevantes para a sociedade, por exemplo,
nos livros acima trazidos ele irá abordar de
maneira direta o preconceito, gratidão,
solidariedade, diversidade e respeito, onde o
adulto que irá ler este livro para a crianças ele
O relato e o falar de si como valores
terapêuticos

- O hospital é um espaço não formal;


- Precisamos contar as experiências que - A leitura tem um papel muito importante para
passamos, os fenômenos que assistimos, as fazer aquele paciente voltar a sonhar,
nossas situações diárias; ressignificar a sua realidade presente
- Precisamos narrar e contar, pois isto tem um trazendo-o esperança;
carácter terapêutico; - A escrita ajuda a sair de lugares prescritos,
- Os trabalhos em espaços que privam ou seja, de espaços marginalizados e de
adolescentes de liberdade, ongs e outros pessoas excluídas;
devem privilegiar a escrita subjetiva, ou seja, - O Brasil irá mudar quando este fizer um
não é uma escrita que o professor determina o investimento ímpar em leitura.
que ele irá escrever, mas sim que instigue o
aluno para que este produza seus próprios A leitura e a escrita em presídios
textos;
- Em espaços não formal de educação a
escrita do que é vivenciado é fundamental, por
exemplo, foi a um museu, realizou uma saída
pedagógica ao redor da escola, deixe que os
jovens, adulto, crianças e idosos, relatem suas
experiências vividas por meio da escrita;
- Somos seres que precisamos nos contar, por
exemplo, às vezes uma pessoa nos conta
uma mesma história diversas vezes,
entretanto como docentes é necessário que
escutemos e deixemos ela se expressar, pois
através desta expressão a criança, jovem,
adulto e/ou velho, está ressignificando dentro
de si aquela história.

A leitura e a escrita em hospitais

- A partir da leitura é possível o ser humano


que está no cárcere repensar se todos os
delitos cometidos por ele realmente valeram a
pena; e
- A vida forjada pelas artes é uma vida
diferente.
- Na contemporaneidade, a formação do
Pedagogo está centrada na docência;
Entrevista com o artista plástico Leonardo - O conceito de docência passou a ter uma
Scarulis visão alargada, compreendendo ações de
organização e gestão de sistemas e
instituições de ensino, abarcando atividades
em contextos escolares e não escolares;
- O curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Ouro Preto - UFOP tem por origem
três fontes que podem ser assim
apresentadas: a necessidade de
institucionalizar o espaço acadêmico de que a
universidade brasileira dispõe para os estudos
- A observação da Arte pode ser feita em sistemáticos e avançados da área da
qualquer lugar, ela está em qualquer lugar, Educação; às necessidades da comunidade
principalmente onde a gente menos imagina; local e a ampliação da oferta de educação
- A participação do Pedagogo que trabalha superior pública;
com essas crianças, elas o vêem com seus - A base comum da docência. É a partir dessa
reais mentores. Então, tudo o que esses base, de sua natureza e funções, que se
“mentores” passam a elas tem um valor materializa o trabalho pedagógico, em suas
extremo; múltiplas faces, espaços e atores; e
- A visitação a espaços externos à escola, por - O curso de Pedagogia, já sofreu 4 alterações
exemplo, museus, igrejas e inúmeros outros em sua constituição, sempre esteve envolto
espaços coque a Arte contempla, pois ela está em polêmicas que nos remetem às suas
em tudo e também na arquitetura; funções e a uma busca da definição de quem
- É importante que percebamos a participação é o pedagogo e qual o seu campo de atuação.
direta dos alunos e isso ocorre quando
fazemos essa observação atenta para estes 2. O marco teórico
educandos; - Ao ser criado pelo Decreto 1190 de 4 de abril
- A participação ou não de cada aluno é de 1939, o curso de Pedagogia originou-se
diferente, pois cada um deles carrega uma articulado à formação do professor, ficando
subjetividade; responsável por formar os formadores dos
- É importante que saibamos passar a professores que atuariam no ensino primário;
motivação para as crianças; e - Parecer CFE nº 251/62 regulamentou o
- Os professores precisam ganhar a confiança curso, fixou o currículo mínimo e sua duração;
como mentores dessas crianças e deve - Parecer CFE nº 252/69 instituiu a proposta
transpor esta confiança. de formação de especialistas em
administração escolar, inspeção escolar,
Semana 6 (30/10): A atuação do pedagogo supervisão pedagógica e orientação
em espaços não formais educacional ao lado da habilitação para a
Texto-base: A ação educativa em museus e docência nas matérias pedagógicas do curso
o espaço de atuação do pedagogo em Normal;
ambientes não formais de educação - Resolução CNE/CP nº 01/2006, última
Introdução modificação introduzida, instituiu as novas
- O curso de Pedagogia, no Brasil, foi criado diretrizes curriculares para o curso, indicando
pelo Decreto Lei n.º 1190 de 04 de abril de que a formação preconizada para o
1939; Licenciado em Pedagogia é bem abrangente;
- Uma de suas finalidades consistia em formar - A institucionalização dessas diretrizes
os professores para atuarem no ensino colocou em evidência esses outros possíveis
secundário na formação dos professores que espaços de atuação do Pedagogo, fazendo
atuariam no ensino primário; com que o trabalho desse profissional não se
restrinja apenas ao ambiente escolar e novos
espaços sejam explorados pelos Pedagogos, conteúdos que possibilitem aos indivíduos
ampliando também as suas possibilidades de fazerem uma leitura do mundo do ponto de
atuação; vista de compreensão do que se passa ao seu
- Libâneo (2001, p.3) destaca que “um dos redor; a educação desenvolvida na mídia e
fenômenos mais significativos dos processos pela mídia, em especial a eletrônica, etc.;
sociais contemporâneos é a ampliação do - Os museus não devem ser entendidos como
conceito de educação e a diversificação das um espaço reservado para a guarda de coisas
atividades educativas”; velhas;
- As práticas educativas extrapolam o - Eles preservam a memória e a cultura da
ambiente formal de educação e se fazem humanidade, abrigam coleções de valor
presentes em múltiplos espaços, sinalizando inestimável que são importantes não só para a
que estamos vivendo, segundo Libâneo, em pesquisa, mas também para a educação.
uma sociedade pedagógica; Trata-se de um espaço de contemplação,
- Os museus, concebidos como espaços de encantamento, pesquisa, lazer,
educação não formal de acordo com questionamentos, aprendizado, vivências, que
Marandino (2009), e definidos pelo Conselho se constitui um importante meio para propiciar
Internacional de Museus (ICOM) como: a ampliação cultural e científica dos cidadãos
instituição permanente, sem fins lucrativos, a e interpretar a realidade;
serviço da sociedade e de seu - Marandino (2008, p.20), além de elementos
desenvolvimento, aberta ao público e que centrais, “por meio dos objetos o visitante
adquire, conserva, investiga, difunde e expõe pode se sensibilizar e se apropriar dos
os testemunhos materiais do homem e de seu conhecimentos expostos, assim como
entorno, para educação e deleite da compreender os aspectos sociais, históricos,
sociedade (ICOM, 2001); técnicos, artísticos e científicos envolvidos”;
- Para Libâneo (2010, p.88), a “Educação - Ação educativa que ocorre nesses espaços,
formal seria, pois, aquela estruturada, tem por objetivo, segundo Almeida (1997,
organizada, planejada intencionalmente, p.50) “ampliar as possibilidades de
sistemática”. Já educação não formal é aproveitamento pedagógico dos acervos, para
definida pelo autor como: aquelas atividades que o visitante acentue seu espírito crítico em
com caráter de intencionalidade, porém com relação à sua realidade e daqueles que estão
baixo grau de estruturação e sistematização, à sua volta”; e
implicando certamente relações pedagógicas, - A ação educativa em museus recebeu
mas não formalizadas. Tal é o caso dos influência da Escola Nova, passando a
movimentos sociais organizados na cidade e instituição a ser vista como um complemento
no campo, os trabalhos comunitários, do ensino escolar, ideia que permanece até os
atividades de animação cultural, os meios de dias de hoje.
comunicação social, os equipamentos
urbanos culturais e de lazer (museus, 4. O que dizem os graduandos em
cinemas, praças, áreas de recreação) etc. Pedagogia
(LIBÂNEO, 2010, p. 89); - A compreensão do museu enquanto espaço
- A educação não formal na concepção de de guarda de objetos antigos e preciosos foi
Gohn (2006, p.2), designa um processo com apresentada pela maioria dos/as alunos/as do
várias dimensões tais como: a aprendizagem curso de Pedagogia que participaram da
política dos direitos dos indivíduos enquanto atividade;
cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o - Um lugar onde encontramos objetos, algo
trabalho, por meio da aprendizagem de concreto que retrata um fato histórico, uma
habilidades e/ou desenvolvimento de época, uma cultura pareceu ser o
potencialidades; a aprendizagem e exercício entendimento geral;
de práticas que capacitam os indivíduos a se - Para todos os participantes da visita técnica
organizarem com objetivos comunitários, o museu é considerado um espaço educativo,
voltadas para a solução de problemas justificando que nele “aprendemos sobre arte,
coletivos cotidianos; a aprendizagem de
história, culturas diversas e a conhecer a reflexões apresentadas, não apenas por meio
origem de algumas coisas” (S04); do registro escrito, mas oral e informalmente
- Por se tratar de um museu que pertence a às professoras que acompanharam a visita,
uma universidade, a compreensão da grande observamos que o olhar para o museu
maioria dos participantes é de que este enquanto espaço de atuação do pedagogo
espaço se destina ao público escolar e trouxe para esses graduandos, em início de
universitário; curso, perspectivas novas sobre o campo de
- Nas falas de alguns alunos, o papel do trabalho deste profissional;
pedagogo pode ser o de coordenador - O museu se transformou aos olhos de
pedagógico ou mesmo o coordenador da área alguns participantes como um “espaço
administrativa do museu. Entretanto, a maioria educativo, que não só guarda coisas antigas,
compreende que este profissional poderia [mas] um espaço de pesquisa, conhecimento,
propor atividades educativas, lúdicas, jogos e lugar também de lazer e contato com diversas
dinâmicas para aqueles que visitam o museu, culturas”(S21); e
complementado este espaço de - Paro (2011, p.28) para quem “A educação é,
aprendizagem. Outros sugerem um trabalho pois, a apropriação da cultura produzida
de planejamento e elaboração de projetos, historicamente” e que deve seguir em duas
acompanhado de cursos e orientações direções: educar para a preservação do
especializadas aos monitores que atuam no acervo cultural dando continuidade à nossa
museu; história e educar para a constituição de cada
- De acordo com Pereira, Os educadores (as) indivíduo enquanto um ser “humano-histórico”.
devem buscar práticas curriculares mais
abertas... e que estejam em consonância com Texto-base: Um relato sobre a atuação do
a realidade e necessidades dos diferentes pedagogo no espaço não escolar
contextos, e que a construção dos saberes Introdução
seja resultante de entrelaçamentos das - Ultimamente, observa-se maior visibilidade
diversas redes de conhecimento (2006, p.21); da atuação do pedagogo para além da escola,
- Para outros, a grande contribuição que uma abrangendo os espaços não formais de
atividade de visita aos museus pode dar à escolarização o que rompe com a ideia de que
educação de crianças e jovens se relaciona à somente a escola constitui o espaço para a
aquisição de conhecimentos e atitudes que atuação do pedagogo.
podem auxiliar no melhor desempenho
escolar; 1. A pedagogia no espaço não escolar
- Alguns discentes indicam que atividades - A Educação tem a finalidade de viabilizar
com visitas orientadas a espaços como os vários conhecimentos ao sujeito,
museus podem complementar ou mesmo incentivando-o na busca por melhores
suprir carências de um ensino público de condições sociais, por meio de uma visão
baixa qualidade; e mais ampla, que se estenda por todos os
- Acredita-se, igualmente, que um ambiente ambientes da sociedade e não somente nos
como o proporcionado por espaços não espaços escolares;
escolares possam aumentar o interesse, a - A prática nos espaços não formais tem o
curiosidade do aluno pelo que esta sendo objetivo de formar cidadãos cada vez mais
ensinado, indo além do apresentado pelo livro conscientes e desenvolver uma educação de
didático e desta forma facilitando o processo qualidade e melhores condições de um modo
de aprendizagem. geral;
- A ação educacional nos espaços não
5. Considerações finais escolares é desenvolver no indivíduo a
- Acreditamos que a experiência ampliou a capacidade intelectual para que o mesmo
percepção dos alunos em diferentes aspectos; possa está inserido na sociedade de acordo
- Um primeiro aspecto que queremos destacar com as suas condições de vida;
refere-se ao entendimento acerca da atuação - A educação não formal tem a preocupação
profissional do pedagogo. Diante das com a formação integral do ser humano;
- A maior importância da educação não formal
está na possibilidade de criação de novos
conhecimentos, ou seja, a criatividade
humana passa pela educação não formal; b) Salas de recursos
- A educação não formal é uma atividade
aberta que ainda tem sua identidade em
construção, está sempre buscando
c) Classe especial
criatividade para atender as necessidades dos
indivíduos, visto que a mesma é composta de
vários aspectos importante para o campo
educacional, além de contribuir com diversas
áreas de conhecimentos e compor de
diferentes bagagens culturais; e d) Ensino domiciliar
- Distinguir-se por serem diferentes da escola
por possuir outros modos de organização,
considerando os saberes cotidianos dos
e) Classe hospitalar
indivíduos que dela fazem parte. Como: a
pedagogia hospitalar, pedagogia social e
ainda pedagogia empresarial.

2. A Pedagogia hospitalar 3. O papel do pedagogo no ambiente


- Pedagogia hospitalar é uma área de hospitalar
conhecimento que está pautada na qualidade - O professor da classe hospitalar deverá está
de vida do ser humano; habilitado para trabalhar com as diversidades
- A pedagogia hospitalar, não pode ser humana, culturais e identificando com as
caracterizada simplesmente como um necessidades educacionais especiais dos
instrumento de transmissão de conhecimento, alunos que estão impedidos de frequentar a
mas, sim, como psicosóciopedagógico, por sala regular;
está interligado aos ambientes escolar e - Fonseca (2008, p. 30) “Na escola hospitalar,
hospitalar; cabe ao professor criar estratégia que
- A Educação Especial é modalidade oferecida favoreçam o processo ensinoaprendizagem,
para educando que apresentam necessidades contextualizando-o com o desenvolvimento e
educacionais especiais, caracterizado por experiências daqueles que o vivenciam”;
serem pessoas que tenham significativas - Faz-se necessário que o educador facilite a
diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais mediação do conhecimento com os alunos,
decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, valorizando suas habilidades, suas integridade
de caráter temporário ou permanente e que, física e moral e especialmente respeitando
em interação dinâmica com fatores sócio- seus limites dentro do quadro clínico;
ambientais, resultam em necessidades muito - É essencial que o docente faça essa
diferenciadas da maioria das pessoas. mediação de acordo com as necessidades
(PINTO, 2005, p.16); sociais, pedagógicas e também psicológica da
- Segundo Matos e Mugiatti (2011, p.45), a criança hospitalizada para que a mesma se
educação, em sua abrangência, é uma sinta bem. Para tanto o educador precisa ter
operação, uma ação, não é algo que se impõe sensibilidade, compreensão, eficácia,
de fora, mas, sim, inerente a todos ser criatividade, e perseverança para atingir os
humano, e como tal, é um processo que seus objetivos;
termina quando cessa a existência; - É imprescindível que o professor esteja apto
- Segundo as Diretrizes Nacionais para a para desenvolver atividades que faça com que
Educação Especial na Educação Básica Pinto as crianças e adolescentes internados reflitam
(2005 p. 15), existem diversas modalidades de e construam o seu próprio conhecimento e,
atendimento em Educação especial: também, considerar as particularidades dos
a) Classes comuns mesmos; e
- O docente precisa averiguar o prontuário da proposta, o que em alguns momentos
criança para manter informado do estado de implicava na mudança de estratégia/atividade
saúde da mesma. Sendo que, estas ou para um nível mais elevado ou para um
informações serviram de base para o nível menos elevado;
professor conversar com o aluno a respeito do - Magalini, Carvalho (2002 apud PINTO, 2005,
diagnóstico da doença do mesmo. p.22). Desenvolver uma proposta pedagógica
que possa ir ao encontro com as
5. A atuação das educadoras como necessidades de cada aluno, um bom vínculo
formadoras de educadores na classe entre professor e aluno e também entre o
hospitalar. professor e os profissionais de saúde, é sem
- Podemos perceber maior visibilidade na dúvida a chave para o processo do trabalho; e
atuação do pedagogo para além da escola, - O pedagogo hospitalar tem a necessidade
abrangendo os espaços não escolares o que de desenvolver aptidões que viabilize o bem
rompe com a ideia de que somente a estar dos educandos, pois tal condição reque
docência constitui sua identidade profissional; um ação ativa que não deve estar ligado ao
- As Diretrizes Curriculares Nacionais (2006), processo restrito, e sim que o docente reflita e
afirma que os pedagogos “poderão planejar transforme a realidade que envolva o discente
acompanhar, coordenar, executar e avaliar atendido em espaço hospitalar.
projetos e experiências educativas não
escolares”. Conforme a Legislação o Concluindo…
pedagogo tem possibilidade de atuar em - O Curso de Pedagogia vem recentemente
todas as áreas que requerem trabalho norteando um novo olhar em que o pedagogo
educativo; necessita ampliar o seu campo de trabalho
- Podemos notar a fala das professoras que adentrando a contemporaneidade da
ao mudar o foco do projeto a sua atuação vai sociedade; e
além da sala de aula, transpassa para outros - Além do conhecimento sobre o espaço
locais da instituição, atendendo assim um escolar é necessário incluir conhecimentos
número maior de alunos/pacientes; específicos no que se refere aos cuidados
- O ato de espera passa a ter uma conotação sobre a saúde da criança e principalmente
de ameaça, de tortura, criando uma saber lidar com os diferentes sentimentos
expectativa negativa, principalmente para as (medo, angústia, insegurança e dentre
crianças, assim vinda a dificultar a outros).
interatividade entre ela, o ambiente e o
médico na hora da consulta; Texto-base: O papel educacional no Museu
- Assim, quanto mais tempo as crianças de Ciências: desafios e transformações
permanecerem naquele local, torna-se mais conceituais
impertinente, sendo difícil ser controladas; Introdução
- Nos momentos que estas possibilidades são - Museu é atualmente reconhecido por sua
ofertadas, são vividos momentos de missão cultural, que além das funções de
descontração propiciados pelas brincadeiras e preservar, conservar, pesquisar e expor
atividades de cunho lúdicopedagógico a tal apresenta-se também como campo fértil para
ponto envolvente que crianças (ou as práticas educativas;
adolescentes) acabam, muitas vezes, por - O museu volta-se também para a
esquecer os motivos que as trouxeram até ali; diversidade de expressões culturais no interior
- A sala de espera passa a ser um espaço de de cada comunidade, orientando suas ações
descontração em que as atividades lúdicas visando a um mundo plural;
passam ser grandes atrativos, que pode - A relação entre o museu e a sociedade,
descontraí, alegra e livras das angústias, contudo, não se deu sempre da mesma
inquietações causadas pelo medo de está no maneira. O próprio conceito de museu, tal
ambiente constrangedor, o hospital; como entendemos hoje, foi se modificando ao
- O aspecto da avaliação era percebido de longo do tempo;
forma individual, no decorrer da atividade
- Fóruns internacionais e estudiosos vêm apelo educacional passa a ter uma função
apontando uma série de desafios aos museus, museológica determinante;
sendo centrais as questões referentes à - O século XIX é marcado pelo surgimento de
comunicação e educação. Essas formulações novos museus, a rápida institucionalização
demandam redefinições por parte dessas desses espaços e a intensificação da sua
instituições na orientação de seus especialização temática;
compromissos, suas propostas educativas e - Foi somente no século XIX que os aspectos
de divulgação científica; e educativos tornaram-se motivo de reflexão por
- O próprio conceito de educação amplia-se parte destas instituições;
para outros espaços sociais, de maneira a - Nos museus, as estratégias pedagógicas
criar novas relações entre o sistema visavam à divulgação científica, seja
educacional formal e a educação não-formal. oferecendo visitas guiadas aos diferentes
públicos ou por meio de empréstimo de
Para compreender a educação no museu: materiais a instituições de ensino;
breve trajetória - Estas ações tinham como objetivo facilitar a
- Foi no Renascimento que surgiram os compreensão dos objetos na situação de
primeiros sinais de uma organização que se exposição com os quais poucos visitantes
pode denominar de Museu, a partir de eram familiarizados (Giraudy & Bouilhet,
coleções particulares de nobres e estudiosos 1990);
que cultivavam o prazer de reunir os mais - Já no início do século XX, inseridos num
variados objetos; projeto mais amplo de modernização da
- Esses objetos eram visitados apenas por sociedade, os museus voltam-se também para
convidados privilegiados por motivo de puro a concepção de exposições de âmbito
deleite à arte e ao exótico, ou com a finalidade educativo, onde a maior aproximação com o
de inventariar e descrever os objetos público visava ampliar o conhecimento e a
coletados; influência da ciência e da técnica na indústria
- Nos séculos XVII e XVIII, o crescimento e produtiva;
diversidade das coleções demandaram a - Os museus de ciência e tecnologia criados
ampliação das áreas de guarda em novos neste período exerceram um papel
espaços, como bibliotecas e museus. A fundamental nesta nova maneira de lidar com
variedade de tipos de objetos favoreceu a os visitantes. Diferentemente dos museus de
elaboração de conhecimento e apropriação história natural, que tiveram seus
desses elementos com fins de ensino; antecedentes nos gabinetes de curiosidades,
- somente os indivíduos pertencentes à os museus de ciência e tecnologia foram
hierarquia social mais alta, ou os artistas, “criados com fins essencialmente utilitários”
literatos e cientistas por eles financiados, (Bragança Gil, 1997, p.118), isto é, foram
tinham acesso a estas coleções. (Pomian, planejados a partir de objetivos que
1984). Somente com o desenvolvimento contemplavam uma perspectiva pedagógica;
sócio-econômico, com a difusão da instrução - A preocupação voltada para a educação e
entre os extratos intermediários da sociedade difusão científica de um público cada vez mais
– tais como escritores, artistas, cientistas, amplo, outras duas instituições foram
entre outros - e pela pressão exercida por inauguradas na década de 30: o Museum of
estes para ter livre acesso às coleções é que, Science Industry de Chicago (1933) e o Palais
pouco a pouco, as portas das mesmas de la Découverte de Paris (1937). Uma nova
abriram-se para novos visitantes (Pomian, configuração da relação público/museu, na
1984); qual a participação física do público é
- Para atender a esses novos ramos do saber, solicitada e a interação com a exposição é
os museus se especializam e se ramificam em mais direta, forma as bases das instituições
diferentes categorias; conhecidas como museus interativos de
- A criação do Conservatório marca o ciência. (Valente, 1995; Cazelli, 1992);
surgimento de um novo tipo de museu onde o - A partir da II Guerra Mundial os museus de
ciência começam a sofrer um processo de
transformação. As inquietações da sociedade - A definição atual dos museus admite que,
em diferentes áreas traduzem-se na busca de além de suas funções de preservar, conservar,
um museu dinâmico direcionado para a pesquisar, comunicar e expor, são instituições
comunicação de massa e a difusão cultural. A a serviço da sociedade, voltadas para o
vertente educacional volta-se para a maior estudo, o lazer e a educação;
participação dos visitantes a fim de - Afirma que a experiência educacional no
estabelecer um engajamento dos mesmos museu deve ser entendida de uma forma
com os conceitos apresentados; ampla: “Os museus proporcionam o seu mais
- Se por um lado os museus tradicionais frutífero serviço público justamente ao
enfatizam os aspectos históricos da ciência e oferecer uma experiência educacional no seu
seus principais pesquisadores, sem se amplo sentido: promovendo a habilidade de
preocupar com a efetiva participação dos viver produtivamente numa sociedade
visitantes, por outro, os science centers com pluralista e de contribuir com as resoluções
as exposições hands on deixam em segundo dos desafios com os quais nos deparamos
plano a perspectiva histórica do como cidadãos globais. A responsabilidade
desenvolvimento da ciência e da técnica; e pública educacional dos museus apresenta
- Nos anos 80, foram criados alguns museus e duas facetas: excelência e igualdade (...) Ao
centros de ciência com ênfase na educação e manter um compromisso com a igualdade no
difusão científica, preocupados com o serviço público, os museus podem ser parte
processo de comunicação com o público integral da experiência humana, ajudando a
visitante. criar um senso de comunidade inclusiva, idéia
muitas vezes esquecida em nossa sociedade”
Os museus de Ciências frente aos desafios (AAM, 1992, p. 6);
para a educação no século XXI - Transformações no contexto mundial, nas
- Em 1946 foi fundado o Conselho quais são centrais as atuais perspectivas
Internacional de Museus – ICOM, entidade implicadas no acelerado desenvolvimento
não governamental que mantém estreita científico e tecnológico característico da era
ligação com a Organização das Nações da informação/comunicação. Esse cenário
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – coloca a educação num papel de destaque
UNESCO; para enfrentar os novos desafios impostos
- No período que se estende de 1958 a 1992, pela globalização e pela revolução tecnológica
seguem importantes seminários e baseada em tecnologias da
conferências que buscam aprofundar as informação/comunicação (Lévy, 1996);
reflexões sobre o papel social do museu. - Para o geógrafo Milton Santos (2000), a
Entre estas, podemos apontar: globalização é uma idéia que vem sendo
a) desde a inclusão de diferentes tipos de disseminada como uma real aproximação de
públicos à ênfase na forma de exploração dos tempo e espaço entre os indivíduos;
objetos em exposição para melhor - Todos estariam aptos a participar deste
compreensão do público; imenso mercado colocado à disposição de
b) da flexibilização da interpretação dos quem quisesse nele ingressar;
objetos de museu à necessidade de - Fica subentendido que todos teriam a
reconhecer as expectativas do usuário do mesma oportunidade de participação no
museu; mercado pelo simples fato de terem acesso às
c) da utilização de linguagens de comunicação informações, que chegariam rapidamente a
familiares aos visitantes à busca pela inclusão todas as localidades do mundo;
de diferentes grupos culturais; e - Temos a ilusão de vivermos numa grande
d) do aprofundamento das relações com as aldeia global, onde a rápida difusão de
comunidades mais próximas da instituição à notícias traria também informação para as
ampliação da relação do museu com seu meio pessoas;
social, político e econômico, como parte da - O que Santos (2000) nos aponta é a fábula
missão institucional. que se firma nesta aparente situação
democrática;
- A distorção da noção de tempo e espaço educação também adquire centralidade nos
criou uma falsa impressão de igualdade, onde discursos e políticas sociais porque compete a
os indivíduos teriam a mesma oportunidade ela ser um instrumento de democratização,
de participação como se todos tivessem num mercado de escolhas e oportunidades;
acesso aos avanços da ciência e da técnica; - A educação não-formal ganha destaque nos
- Somente a partir de uma outra percepção anos 90, não somente pelas mudanças
deste universalismo, que admita a decorrentes das novas articulações
instabilidade do momento atual, as mudanças econômicas, sociais e no mundo do trabalho,
permanentes, o enfeixe das contradições mas pela valorização dos processos de
presentes na realidade e encerre as aprendizagem advindos da cultura
condições de transformações ainda não comunicacional que se encontram no
previstas, será possível iluminar o caminho ambiente extraescolar;
para a disseminação de ideais mais - Em 1998, a UNESCO – Brasil editou o
democráticos e participativos (Santos, 2000); documento Educação: um tesouro a descobrir,
- Outras formas de lidar com a informação e o coordenado por Jaques Delors, que indica as
conhecimento vão se tornando parte de nossa diretrizes para a educação no século XXI:
experiência cotidiana e como conseqüência a a) O seu eixo principal visa à educação
compreensão que temos sobre a integral do ser humano que deve ser
aprendizagem também deve ser questionada; perseguida de forma contínua ao longo da
- O conceito de educação tende a se alargar vida dos indivíduos, ultrapassando a distinção
para outros espaços sociais, onde diferentes tradicional entre educação inicial e
saberes vindos da cultura oral, audiovisual e permanente, orientação esta a ser seguida por
letrada estão disponíveis; todos os países; e
- As diferentes linguagens que se propagam b) Este documento foi fundamental para
no modo de vida atual produzem e difundem elaboração do estudo sobre a educação do
conhecimentos que se encontram mediados século XXI realizado por Edgar Morin (2000),
por tecnologias em constante transformação, no qual afirma que o problema universal do
exigindo também uma adaptação nos modos cidadão do novo milênio refere-se a como ter
de ver, de ler, de pensar e de aprender acesso às informações sobre o mundo e como
(Martín-Barbero, 2002, 2003); ter a possibilidade de articulá-las e
- Martín-Barbero (2003), os meios de organizá-las.
comunicação atuam de maneira a - Atualmente existe uma inadequação entre os
descentralizar a transmissão e circulação dos saberes que se acham compartimentados e
saberes e se constituem também como os problemas com os quais nos deparamos no
espaços de socialização, de dispositivos de cotidiano “cada vez mais multidisciplinares,
identificação/projeção de condutas de transversais, multidimensionais,
comportamento e formação de identidades; transnacionais, globais e planetários” (Morin,
- Os diferentes meios de comunicação 2000, p. 36);
significam, sobretudo para a escola, um - Indica quatro instâncias que deveriam ser
desafio; observadas para tornar o conhecimento
- A comunicação e a educação não podem pertinente:
ficar reduzidas ao uso instrumental dos meios a) o contexto, que possui a função de situar as
na escola, pois não se trata de usar a informações e os dados para que adquiram
tecnologia como modo de expandirmos as sentido;
antigas formas de ensino aprendizagem ou b) o global, instância de natureza dinâmica
inserirmos a mídia na escola como recurso que organiza e desorganiza, ao mesmo
para revigorar as propostas pedagógicas; tempo, o todo do qual fazemos parte – trata
- Gohn (1999), a autora argumenta que a das relações entre o todo e as partes;
educação ganhou importância na era da c) o multidimensional, que aborda a
globalização pelo elevado grau de possibilidade de reconhecer e admitir
competitividade que ampliou a demanda por diferentes aspectos de uma dada realidade; e
conhecimentos e informação. Por outro lado, a
d) o complexo, que expõe todos os elementos - O público só possui o conhecimento popular
que estão imbricados num todo e que deste cotidiano – o senso comum. Os profissionais
são inseparáveis. que lidam com a pesquisa científica são
- Segundo Morin (2000), os imensos percebidos, muitas vezes, como um grupo
progressos alcançados durante o século XX especial que pensa e age seguindo
não foram acompanhados pela reflexão crítica determinados preceitos para alcançar as
da realidade justamente por estes saberes se verdades que estão perseguindo;
encontrarem dispersos em diferentes campos - Por outro lado, os processos envolvidos na
disciplinares; produção científica são vistos como um
- A hiperespecialização aprofunda o caminho racional, afastado de qualquer
conhecimento específico, mas impede a possibilidade de contaminação pela
percepção do global; subjetividade;
- Entre os desafios da educação está a - O conhecimento é uma construção social
conjugação entre o conhecimento das partes que só ganha sentido quando circula
e do todo; publicamente e se coloca a serviço das
- Acredita que a educação do futuro deveria comunidades. A simples difusão de notícias
inserir o debate sobre as incertezas, isto é, científicas não garante a participação do
criar meios através dos quais as dúvidas e público no mundo da ciência;
interrogações do nosso tempo fossem - A atividade científica se reduz a um
discutidas. Estas seriam algumas das espetáculo de efeitos sensacionalistas, onde o
condições necessárias para uma formação público participa apenas no papel de claque e
cidadã; os cientistas de vedetes, conforme observado
- O Museu tem diante de si importantes por Delgado e Quevedo (1997);
desafios, em termos do papel educativo que - A ciência não consiste num conjunto de
cumpre na sociedade; conhecimentos verdadeiros elaborados por
- Segundo o texto elaborado pelo Comitê de um grupo de indivíduos fora do comum;
Educação e Ação Cultural do ICOM no Brasil - A dinâmica da produção de conhecimentos
– CECA/Brasil – para a Conferência Anual em tem na comunicação o seu eixo principal de
Nairobi, Quênia em 2002: “O objetivo da atuação. É a partir do processo constante de
educação em museus, assim como da diálogo e interação com a realidade que o
educação em um sentido amplo, é oferecer cientista identifica os indícios com os quais
possibilidades para a comunicação, a trabalha, interpreta os textos e os relaciona
informação, o aprendizado, a construção da para construir novos sentidos;
cidadania, e o entendimento do que seja - Não é só nos campos da educação e
identidade” (Studart et al, 2004, p. 37); comunicação que a ciência trava um diálogo
- Considera-se o museu como espaço com a sociedade, influenciando-a e por ela
privilegiado para a articulação dos aspectos sendo influenciada. No campo da
afetivos, cognitivos, sensoriais, do popularização, o fenômeno é o mesmo;
conhecimento concreto e abstrato, bem como - Os diferentes setores sociais possuem
da produção de saberes; maneiras específicas de comunicação e que
- O espaço museal deve se voltar para a se faz necessário o reconhecimento destas
participação ativa dos indivíduos e para o para que se estabeleçam dinâmicas de
compromisso de uma ação educativa comunicação mais eficientes;
transformadora (Aidar apud Studart et al, - Assim como cada setor de receptores lê as
2004); mensagens de forma própria, eles possuem
- O público tem assumido diferentes papéis também a habilidade de reescrever suas
frente à ciência (morais, políticos e percepções, produzindo novos sentidos para a
financeiros), mas nenhum deles lida com os realidade e gerando um diálogo no processo
aspectos cognitivos, a partir dos quais os de comunicação;
sujeitos poderiam participar de forma crítica - Os conhecimentos, que o público adulto
nos debates dos rumos das práticas possui com relação aos temas mais atuais e
científicas (Féher, 1990); relevantes, resultam mais comumente da ação
da divulgação científica a partir de diferentes implicações sociais do desenvolvimento da
mídias do que da experiência escolar; ciência e tecnologia, comprometendo-se com
- Cada vez mais os indivíduos são chamados a compreensão dos processos científicos em
a participar em decisões da vida social sobre relação à apresentação dos resultados da
as quais os especialistas não possuem ciência. Desta forma, pretende-se ativar o
respostas “corretas”; raciocínio dos visitantes a partir de modelos
- O papel da educação escolar no sentido de interativos que traduzem idéias e conceitos
preparar os indivíduos para enfrentar o risco científicos. Os museus de terceira geração
do conhecimento incerto – “as zonas de voltaram-se para o processo de construção do
incertezas” segundo Morin (2000) – que os conhecimento em ciência. A Terceira geração
possibilite compreender como as assume a preocupação com a alfabetização
investigações científicas são conduzidas e, científica.
como decorrência, possam se posicionar e - A função primordial de um museu de
decidir a partir de análises fundamentadas; ciências é o estímulo à curiosidade sobre o
- Faz-se necessário conhecer quais as conhecimento e o método científico, visando à
tendências pedagógicas que influenciaram a promoção da opinião pública a propósito de
proposta educativa dos museus de ciências e temas que abrangem o cotidiano dos
quais as implicações na elaboração e cidadãos;
desenvolvimento de suas exposições; - Aexposição e os elementos museográficos
- Três gerações de Museus de Ciências com possuem importante papel de instigar os
objetivos diferenciados quanto a sua proposta visitantes nos seguintes aspectos:
educativa: a) Interatividade manual (hands on);
a) a primeira é marcada por eleger os objetos * A primeira busca a emoção provocadora por
históricos como o cerne das exposições, meio da manipulação de objetos.
enquanto o papel dos educadores limita-se a b) Interatividade mental (minds on); e
guiar e explicar o valor das peças aos * A segunda volta-se para a reflexão e a
visitantes. O museu deste período se associação de idéias entre conceitos
aproxima mais da academia e seu intuito é científicos e o cotidiano - emoção inteligível.
poder contribuir para o desenvolvimento do c) Interatividade cultural (heart on).
conhecimento científico por meio das * A terceira traz a noção de emoção cultural e
pesquisas junto ao acervo disponível. valoriza a construção das identidades das
b) a segunda busca uma maior comunicação comunidades do entorno do museu
com o público, de modo que a ênfase das - Ao visitar um museu de ciências o visitante
exposições esteja centrada no papel deve sair com mais perguntas do que tinha
educativo, voltada principalmente para o quando entrou;
mundo do trabalho, e no intenso progresso da - Cada vez mais o museu tem investido no
ciência. Os museus de segunda geração compromisso público de promoção da cultura
visavam à popularização e vulgarização junto à sociedade;
científica, isto é, um acesso amplo de toda a - A comunidade escolar também vem
comunidade leiga aos fatos científicos, solicitando, de maneira mais sistemática,
imaginando com isso aproximar a ciência da visitas de grupos de estudantes ao museu e
sociedade em geral. Segunda geração. o suas exposições, tornando esta prática mais
tecnicismo foi uma tendência amplamente comum no âmbito das ações educativas e
disseminada na educação escolar da década culturais propostas na educação formal;
de 60 e identifica alguns exemplos desta - Os estudos realizados por Falk & Dierking
orientação pedagógica, nos museus, em (1992) que originaram o desenvolvimento de
displays e aparatos interativos que um modelo para a compreensão da
apresentam uma única resposta certa, que era experiência museológica foram
reforçada ao final da atividade; e posteriormente aperfeiçoados com a inclusão
c) a terceira geração de museus traz como da dimensão temporal da aprendizagem.
missão primordial a educação do público Nesta outra proposta, denominada Modelo
visitante. Introduz o debate sobre as
Contextual de Aprendizagem (contextual tempos, no sentido de se dedicarem cada vez
model of learning); mais à educação e divulgação científica;
- A visita ao museu entendida como a - A definição atual dos museus admite que,
intersecção de três contextos - contexto além de suas funções de preservar, conservar,
pessoal, contexto físico e contexto pesquisar, comunicar e expor, são instituições
sócio-cultural - foi redimensionada para incluir a serviço da sociedade, voltadas para o
a interpretação da aprendizagem como estudo, o deleite e a educação (ICOM, 2001);
processo. Isto é, reconhecer que a - Como todas as instituições sociais, os
aprendizagem ocorre em diferentes tempos museus não são neutros, mas lidam com
para diferentes pessoas é fundamental para a idéias, interesses e objetivos;
compreensão da experiência da visita (Falk & - Na sociedade contemporânea, de
Dierking, 2000); comunicação generalizada, multiplicam-se os
- Os autores afirmam ainda que a espaços sociais onde ocorrem os processos
aprendizagem é sócio-culturalmente situada e educativos;
sugerem que a avaliação ou mensuração - Uma dimensão que não pode ser ignorada
incorpore um conjunto amplo de itens a serem por qualquer instância educativa é aquela
investigados, a fim de que o pesquisador referente ao ambiente educativo difuso que
possa capturar a diversidade de mudanças marca os processos comunicativos atuais; e
cognitivas que podem ocorrer; - Os meios de comunicação de massa
- Conjunto de fatores com forte efeito na ocupam papel fundamental no novo espaço
aprendizagem do visitante, tais como: público contemporâneo, constituindo-se
conhecimento prévio, motivação e verdadeiras instâncias pedagógicas, sendo
expectativas, interação social no grupo, a portanto importante pensar a natureza das
presença de mediadores, a arquitetura e o relações a serem mantidas entre esses meios
planejamento da exposição; e os museus.
- Nenhum fator individualmente é capaz de
explicar adequadamente os resultados de Texto-base: A pesquisa educacional e a
aprendizagem comum a todos visitantes; produção de saberes nos museus de
- A aprendizagem não se dá de forma ciência
equivalente em todas as áreas, ocorrendo de Introdução
forma mais acentuada na área afetiva. (Ugarte - A área de divulgação científica vem se
et al, 2005); afirmando, não sem resistências, sendo ainda
- exposições baseadas em temáticas críticas temerário indicar a existência efetiva de um
servem como ambientes excelentes para se novo campo de conhecimento;
explorar a natureza da aprendizagem em - As reflexões teóricas oriundas da pesquisa
contextos não escolares; em educação e de educação em ciência
- Ambientes informais de ciência oferecem um podem contribuir substancialmente;
conjunto de recursos geralmente não - Vários cientistas e divulgadores da ciência
disponíveis nas escolas. Além disso, os nacionais e internacionais têm discutido os
resultados enfatizam o valor de se integrar os principais desafios e limites desta atividade
recursos do museu e pesquisas de campo às (Barros, 1992; Durant, 1996; Fayard, 1999;
práticas em ciências que ocorrem em sala de Díaz, 1999; Gouvêa, 2000, entre outros).
aula; e Destacam a tendência, muitas vezes
- As oficinas atuaram tanto na ampliação da presente, de apresentar uma ‘imagem
sua compreensão dos conteúdos e processos espetáculo’ e ‘acrítica’ da ciência, em
da ciência como propiciaram um melhor detrimento de uma visão histórica e mais
conhecimento e articulação dos recursos humanizada, que revele os embates na sua
pedagógicos disponíveis para o ensino. construção e as relações entre ciência,
tecnologia e sociedade;
Considerações finais - Desafios de divulgar ciência nas sociedades
- Nota-se claramente um movimento das contemporâneas, marcadas por diferenças
instituições museais, ao longo dos últimos culturais, sociais, políticas e econômicas e, ao
mesmo tempo, imersas em um mundo instâncias próprias de conhecimento e as
globalizado e fragmentado; disciplinas escolares possuem uma
- Necessidade da transposição do constituição epistemológica e sócio-histórica
conhecimento científico; ao problema do ‘erro’; distinta das disciplinas científicas” (Lopes,
a questão das ideologias, presente no 2000, p.150);
processo de divulgação; a problemática da - Essas pesquisas valorizam, assim, os
linguagem adequada; e às características do diferentes saberes existentes na escola,
público-alvo da divulgação; entendida como um local em que também se
- A expressão italiana traduttore, traditore, produz conhecimento;
segundo a qual toda tradução é forçosamente - Os objetivos de ensino são diferentes dos
infiel e trai o pensamento original; objetivos de produção da ciência e que,
- Toda mensagem educativa é sempre algo portanto, não se pode exigir que a escola – ou
mais que transmissão de conhecimento, uma qualquer outra instância de ensino e
vez que é também uma mensagem política e divulgação da ciência – tenha de reproduzir a
moral; e lógica e a estrutura do conhecimento
- A transformação do saber que ocorre no científico. A educação e a divulgação da
espaço expositivo é também determinada ciência têm finalidades e princípios
pelas especificidades do museu quanto aos particulares;
seus aspectos de tempo, espaço e objeto e - “A manipulação transpositiva dos saberes é
deve ser vista no contexto dessa cultura uma condição sine qua non do funcionamento
institucional particular. das sociedades, cuja negligência – a proveito
notadamente da pura produção do saber –
A questão da transposição do saber pode ser criminosa”;
científico em espaços de educação - Chevallard, principal responsável pela
- “Saberes da experiência social e cultural, do divulgação do conceito de transposição
senso comum e da prática, como elementos didática, para ele os objetos de conhecimento
indispensáveis para o desenvolvimento de passam por transformações que os
habilidades e competências necessárias à transformam em objetos de ensino;
solução, tanto dos simples como dos - Segundo Chevallard, o ‘saber sábio’, ao se
complexos problemas da vida pessoal e transformar em ‘saber ensinado’, é
profissional dos indivíduos” (Santos, 2000, p. descontextualizado, naturalizado,
46); despersonalizado e descontemporaneizado;
- Concepção da escola como um espaço de - O saber científico é referência principal para
produção de saberes e, nesse sentido, outra o saber ensinado, entretanto, ao ser
concepção de ‘saber’ se estrutura; transposto, um novo saber é produzido, o que
- Essas diversas correntes críticas, tanto na indica a existência de produção de
Europa quanto no mundo anglo-saxão, levam conhecimento no espaço escolar;
a questionar as visões positivistas e - Os conceitos de transposição didática e
tradicionais de uma racionalidade por demais recontextualização dizem respeito às
limitada e lógica, associada à ciência empírica transformações que o saber sábio ou o
da natureza e à sua tecnologia. Elas resultam, discurso científico sofrem, ao passar para os
em vários casos, na busca de uma contextos de ensino;
racionalidade mais ampla e mais flexível, - Chevallard considera esses processos de
capaz de dar conta da multiplicidade e da transformação como sociais e originários da
diversidade dos saberes humanos. Nesse ‘noosfera’, onde diferentes atores e
sentido, a noção de ‘saber’, cada vez mais instituições participam da seleção dos objetos
empregada a partir dos anos 1980, já é um de ensino;
sinal de que os conceitos clássicos de - Para Bernstein (1996b), o discurso
‘conhecimento’ e de ‘ciência’ não bastam…; pedagógico relativo a toda prática de instrução
- Várias pesquisas na área de educação têm é recontextualizador;
defendido a idéia de que “o conhecimento - A constituição do discurso pedagógico
escolar e o conhecimento científico são norteia-se por regras específicas. Para
Bernstein, ‘regras distributivas’ são aquelas - Na biologia, a transposição didática conduz
pelas quais o dispositivo pedagógico controla a um processo de dogmatização que,
a relação entre poder, conhecimento, formas segundo o autor, pode ser explicado por três
de consciência e prática no nível da produção razões: a de natureza sociopolítica, relativa à
do conhecimento. Por meio delas o dispositivo visão neutra e universal que a ciência assume
pedagógico domina a produção do em nossa sociedade; a de cunho institucional,
conhecimento. Elas estabelecem quem pode relacionada aos processos de transposição
transmitir o quê, a quem e sob que condições que ocorrem na noosfera, os quais são
e, assim, tentam fixar limites interiores e determinados pelas instituições e pelos atores
exteriores ao discurso legítimo; envolvidos na seleção dos conteúdos; e as
- O discurso pedagógico é construído com razões epistemológicas, que dizem respeito
base em regras que embutem e relacionam às especificidades das ciências biológicas, no
dois discursos. Nesse processo, o discurso da que tange à sua complexidade e à noção de
competência, instrucional (relativo aos causa;
conteúdos científicos) é embutido no discurso - Os textos de divulgação foram, então, os
regulador, de ordem social (concernente a mais adotados como referência,
disciplina, valores, concepções de mundo, de encontrando-se embutidas neles também
ciência, de educação etc.); algumas transposições;
- O autor afirma que a chave da prática - O saber sábio não é a única referência na
pedagógica é a avaliação contínua que se constituição do saber ensinado ou, no caso
encontra na relação entre adquirir e transmitir das exposições, do saber exposto;
conhecimentos; e - O fato de os conceitos escolhidos serem
- As regras distributivas estariam relacionadas tratados por diferentes áreas da ciência
ao nível de produção do discurso; as regras aponta para a interdisciplinaridade de
recontextualizadoras, ao nível da transmissão; determinados conteúdos apresentados em
e as regras de avaliação, ao nível da exposições, tornando ainda mais difícil
aquisição. analisar a origem desses conceitos no saber
sábio; e
As pesquisas sobre transposição didática - A ciência, como corpo de conhecimentos
e museográfica e sobre recontextualização sobre o mundo, não é única.
a) Sobre o saber sábio
- Chevallard (1991) denominou ‘saber sábio’ Sobre a dinâmica e os contextos do
os conhecimentos matemáticos que servem processo de transposição
de referência para constituição do ‘saber - Chevallard (1991), segundo o autor, na
ensinar’; transformação do saber sábio para o saber
- Caillot (1996) salienta que, mesmo na ensinado ocorrem:
instância de produção do conhecimento a) Descontemporalização
científico, há controvérsias, debates, correntes
antagônicas, o que tornaria difícil a tarefa de
selecionar o saber sábio em algumas áreas do
b) Naturalização
conhecimento que não a matemática, como
propõe Chevallard;
- Outros elementos são importantes na c) Descontextualização
definição do saber a ser ensinado, dentre eles
as práticas sociais;
- O saber sábio não é produto de um indivíduo
isolado, mas de equipes alocadas em
diferentes laboratórios, ou fruto de discussão
em congressos e simpósios; d) Despersonalização
- A transposição didática varia de acordo com
os diferentes níveis de ensino, havendo várias
etapas de transposição de saberes;
- ‘Dessincretização’ – relativa à burocratização visita –, sendo fundamental captar as
que redunda na divisão entre a prática teórica fronteiras da passagem de uma lógica para
e aquela ensinada, a qual não revela, por outra;
exemplo, a interdisciplinaridade existente na - O terceiro momento é marcado pela chegada
produção da ciência –, e a ‘programação da do visitante; nele, a compreensão da
aquisição do saber’ – correspondente ao exposição é subordinada a uma atividade e
controle exercido pela seriação progressiva no uma lógica gestual (percurso, aproximação,
ensino; olhar etc.). Esses momentos variam conforme
- Além dos aspectos decisivos no processo de o saber tratado, tipo de exposição, tamanho, a
transposição de qualquer saber sábio para o estrutura institucional de produção etc.;
saber a ser ensinado, outros estariam - É a interação entre esses dois universos
estritamente relacionados às especificidades que define as margens de interpretação de
de cada área da ciência, como o caso da uma exposição pelo visitante;
dogmatização na biologia; - É então indispensável que, na transposição
- A transposição didática deve ser estudada museográfica, os aspectos relativos à lógica
levando-se em conta as particularidades do da linguagem e suas transformações sejam
saber de referência; considerados, para que não se comprometa a
- Os estudos fundamentados numa intenção da exposição (ibid., p. 182); e
perspectiva sociológica, sobre a produção de - Allard et al. (1996) indicam a necessidade da
saberes nos vários espaços sociais, exigem realização da transposição didática durante a
um quadro teórico mais amplo do que o visita de estudantes. Tal processo deve ser
oferecido pela teoria da transposição didática; realizado pelos professores e/ou mediadores
- Para Simonneaux e Jacobi (1997), por e compõe um modelo didático de apropriação
exemplo, a transposição museográfica é uma do conhecimento apresentado nesses locais.
operação delicada, em que elementos como
espaço, linguagem, conceitos e texto estão Sobre a produção de saberes no contexto
em jogo; dos museus de ciências
- Asensio e Pol (1999, p. 10), por outro lado, - A produção de saberes ocorre em vários
debatem os fundamentos da ‘transposição contextos sociais, sendo estes constituídos
expositiva’ e afirmam que a adequação de um por diferentes culturas institucionais;
saber científico à exposição em museu e, - investigações neste campo têm
portanto, para ser recebido pelo público “é um demonstrando ser impossível isolar a ação
processo muito complexo” e várias pedagógica dos universos sociais que a
considerações devem ser feitas para que as envolvem (Nóvoa, 1992);
variáveis que influenciam o processo tenham - A chamada ‘sociologia das organizações
um mínimo de êxito; escolares’, em que estas instituições adquirem
- A adequação e comunicabilidade do saber uma dimensão própria como espaço
sábio em situações de ensino ou de exposição organizacional, onde também se tomam
devem ter por base cinco fontes fundamentais importantes decisões educativas, curriculares
de reflexão: a sociocultural, a disciplinar, a e pedagógicas;
psicológica, a didática e a museológica; - Para Nóvoa (ibid., p.16), é fundamental a
- Os museus possuem particularidades que contextualização social e política das
determinam a existência de uma prática instituições escolares, seus mecanismos de
pedagógica particular; tomada de decisões e suas relações de poder:
- O estudo de Marandino et al. (2003) partiu “As escolas constituem uma territorialidade
da concepção de exposição como linguagem espacial e cultural, onde se exprime o jogo de
e utilizou as três lógicas de linguagem atores educativos internos e externos; por
existentes na produção das exposições, isso, a sua análise só tem verdadeiro sentido
propostas por Davallon: a lógica do discurso, se conseguir mobilizar todas as dimensões
a do espaço e a do gesto, correspondentes a pessoais, simbólicas e políticas da vida
três momentos de transformação – a escolar”;
preparação da exposição, a execução e a
- A idéia atual de tratar as organizações como - Os discursos e produtos de outros espaços
‘culturas’ parecenos promissora, já que sociais, como os da escola, dos professores e
implica percebê-las a partir de um “olhar mais dos alunos podem também participar da
plural e dinâmico, obrigando-nos a recorrer elaboração das exposições;
aos fatores políticos e ideológicos para - O discurso expositivo se comporta de forma
compreender o cotidiano e os processos semelhante ao pedagógico segundo
organizacionais” (ibid., p. 28); Bernstein, pois desloca outros discursos a
- O conceito de cultura é, então, introduzido partir de seus princípios e objetivos,
na área de educação, esta entendida como assumindo as características de discurso
uma rede de movimentos composta por vários recontextualizador;
elementos, definidos a partir de uma - O discurso expositivo possui especificidades
perspectiva antropológica, os quais integram que o diferencia do pedagógico escolar,
aspectos de “ordem histórica, ideológica, resultantes das relações entre tempo, espaço
sociológica e psicológica” (ibid., p. 30); e objetos nos museus, com implicações
- Os museus são espaços que possuem uma diretas sobre as regras avaliativas de sua
cultura própria; constituição; e
- Herrero (1998, p. 151) propõe que o museu - O discurso expositivo é um discurso
seja considerado uma casa da cultura específico, mas que, por possuir objetivos
científica, a englobar fatores como a história próprios e recolocar outros discursos a partir
de criação do conhecimento científico, seu de sua própria lógica, acaba por se comportar
contexto acadêmico-político e a seleção e como o discurso pedagógico.
priorização do conteúdo científico por uma
comunidade que tem um marco interpretativo Considerações Finais
particular, constituindo o discurso - Propõe-se que os processos de
museográfico pelo qual o conhecimento transformação do conhecimento científico com
científico é transmitido; fins de ensino e divulgação não constituem
- A investigação identificou vários elementos meras simplificações;
pertencentes à cultura museal que influenciam - Por um lado, deve-se precaver contra o erro,
na produção do discurso expositivo; a espetacularização, a imagem a-histórica,
- Na constituição do discurso apresentado em a-política e descontextualizada que o
bioexposições de museus de ciências, vários conhecimento pode adquirir. Por outro, não se
aspectos determinam o seu modo de pode desconsiderar a necessidade de
produção e o próprio discurso final. Dentre disseminação da ciência e da realização de
eles citamos: a história dos museus; a história processos transpositivos do saber científico,
institucional; a existência ou não de acervo e a para que este possa ser divulgado ou
origem do mesmo; os tipos e a natureza dos ensinado, uma condição para a existência das
objetos expostos; a proposta conceitual das sociedades contemporâneas;
exposições – sua concepção teórica, quem a - Este processo de transposição ocorre
define e/ou quem a financia –; a formação das quando o conhecimento científico é divulgado
equipes elaboradoras das exposições; e os nos museus;
vários discursos e tipos de textos utilizados; - O museu é também um local de produção
- O discurso científico, que no caso referia-se de saberes próprios. Entretanto, para
à biologia, também influencia a elaboração do entender a produção museal de saberes é
discurso final, já que seus conteúdos, imprescindível que educadores de museus
métodos, objetos de estudo, suas evidências investiguem cada vez mais os elementos que
materiais, sua estrutura epistemológica, entre compõem essa cultura, de modo a esclarecer
outros fatores, concorrem na definição do os aspectos a serem considerados no estudo
discurso expositivo; da produção de saberes nesses espaços;
- A elaboração do discurso expositivo foi - A realização de transposições do saber, por
entendida como um processo histórico-social, meio da introdução de dispositivos
com seus embates, controvérsias, jogos de mediadores que favoreçam diferentes tipos de
poder e legitimações; interações entre público e informação; e
- Os educadores façam parte dos processos regular de congressos científicos específicos
de decisão nos museus, aqui considerados nessa área e com a publicação de periódicos
como organizações produtoras de diferentes acadêmicos sobre a temática, tendo sido
saberes. produzidas cerca de 1.100 dissertações de
mestrado e teses de doutorado entre 1972 e
2003, de acordo com pesquisa de Megid Neto,
Fracalanza e Fernandes (2005); e
Semana 7 (06/11): Letramento, - A educação científica ser um conceito amplo
interdisciplinaridade e educação não que depende do contexto histórico no qual ela
formal é proposta (DeBoer, 2000; Laugksch, 2000) e
Texto-base: Educação científica na por depender de pressupostos ideológicos e
perspectiva de letramento como prática filosóficos (Aikenhead, 1997; Champagne &
social: funções, princípios e desafios Lovitts, 1989).
Introdução
- Chassot (2000) apresenta a ciência como Educação científica: enfoques e
uma produção cultural marcada perspectivas de análise
principalmente por uma visão ocidental - Bourdieu (1930- 2002) afirmou que “a
caracterizada pela nossa educação verdade científica reside numa espécie
eurocêntrica; particular de condições sociais de produção;
- No início do século XX, a alfabetização ou isto é, mais precisamente, num estado
letramento científico começou a ser debatido determinado da estrutura e do funcionamento
mais profundamente; do campo científico” (Bourdieu, 1994, p. 122);
- Pode-se destacar o trabalho de John Dewey - Gerard Radnitzky (1970) da ciência como um
(1859-1952), que defendia nos Estados sistema social essencialmente relacionado ao
Unidos a importância da educação científica; desenvolvimento do conhecimento. Esse
- No Brasil, a preocupação com a educação sistema, ilustrado na Figura 1, é bastante útil
científica foi mais tardia. No século XIX, o para compreender os diferentes significados
currículo escolar era marcado que têm sido tomados para a educação
predominantemente pela tradição literária e científica:
clássica herdada dos jesuítas;
- O ensino de ciências teve pouca prioridade
no currículo escolar (Almeida Júnior, 1979).
Esse ensino passou efetivamente a ser
incorporado ao currículo escolar nos anos de
1930, a partir de quando começou um
processo de busca de sua inovação
(Krasilchik, 1980). Esse processo de inovação
teve início com um processo de atualização
curricular e depois continuou com a produção
de kits de experimentos na década de 1950 e
com a tradução de projetos americanos e a
criação de centros de ensino de ciências na
década de 1960, culminando com o início da
produção de materiais por educadores
brasileiros na década de 1970 (idem, ibidem);
- A partir dos anos de 1970 que teve início
efetivo a pesquisa na área de educação em
- O enfoque nos produtos, enquanto sistemas
ciências no Brasil, a qual se foi consolidando
simbólicos, pode levar a uma análise de
nos últimos 35 anos, de forma que hoje se
aspectos lógicos, semânticos, teóricos e
conta com uma comunidade científica atuante
epistemológicos da ciência, enquanto o
em mais de 30 programas de pós-graduação
enfoque nos produtores e usuários terá uma
em ensino de ciências, com a realização
perspectiva centrada na ciência em
sociedade, com estudos de aspectos contextos de AC/LC:
sociológicos, psicológicos, historiográficos,
culturais e políticos;
- a ciência engloba diferentes atores sociais e
que a compreensão desse campo depende da
análise das inter-relações entre esses atores;
- a compreensão dos propósitos da educação
científica passa por uma análise dos
diferentes fins que vêm sendo atribuídos a ela
pelos seus diversos atores;
- Estudos sobre educação científica vêm
sendo desenvolvidos com a denominação
scientific literacy, estando também associados
a estudos sobre scientific and technological
literacy (STL). Essa terminologia pode ser
traduzida como alfabetização científica (AC ou
ACT, quando se inclui a tecnologia) – ou como
- Com essas perspectivas diferentes, surgem
letramento científico (LC ou LCT);
também diversos argumentos para justificar
- Laugksch (2000) identificou vários fatores
AC/LC. Millar (1996) agrupa esses
que influenciam interpretações do significado
argumentos em cinco categorias:
da educação científica. Para ele, tais fatores
a) argumento econômico, que conecta o nível
incluem a existência de diferentes grupos de
de conhecimento público da ciência com o
atores sociais preocupados com a educação
desenvolvimento econômico do país;
científica, diferentes definições conceituais
b) utilitário, que justifica o letramento por
para os termos alfabetização ou letramento,
razões práticas e úteis;
diferentes propósitos para essa educação,
c) democrático, que ajuda os cidadãos a
assim como diferentes estratégias que têm
participar das discussões, do debate e da
sido adotadas na mensuração do nível de
tomada de decisão sobre questões científicas;
alfabetização das pessoas sobre ciência;
d) social, que vincula a ciência à cultura,
- Para Laugksch (2000), o entendimento do
fazendo com que as pessoas fiquem mais
significado de AC/LC tem sido objeto de
simpáticas à ciência e à tecnologia; e
preocupação de educadores em ciência,
e) cultural, que tem como meta fornecer aos
cientistas sociais, pesquisadores de opinião
alunos o conhecimento científico como
pública, sociólogos da ciência, e profissionais
produto cultural.
envolvidos na educação formal e nãoformal
em ciências. Cada um desses grupos sociais
Domínios da educação científica:
terá enfoque diferente para os diversos
alfabetização e letramento
- Começou a surgir em diversos países, no
final dos anos de 1970 e no início da década
seguinte, propostas curriculares para a
educação básica com ênfase nas
inter-relações ciência-tecnologia-sociedade
(CTS) (Waks, 1990; Yager & Roy, 1993);
- Apresentavam o conteúdo de ciências da
natureza com enfoque nas ciências sociais;
- Tinham uma perspectiva marcadamente
ambientalista, apresentando uma visão crítica
ao modelo de desenvolvimento;
- Diferentes concepções e perspectivas foram
sendo propostas sobre o que seria AC/LC. Em
uma revisão sobre essas concepções, Norris
e Phillips (2003) identificaram os seguintes uso da prática social de leitura, ou seja,
significados para essa educação: apesar de ler, não é capaz de compreender o
a) conhecimento do conteúdo científico e significado de notícias de jornais, avisos,
habilidade em distinguir ciência de correspondências, ou não é capaz de
não-ciência; escrever cartas e recados. Isso é o que se
b) compreensão da ciência e de suas tem chamado de analfabetismo funcional. Ao
aplicações; contrário, uma pessoa pode não ser
c) conhecimento do que vem a ser ciência; alfabetizada, mas ser letrada se tiver contato
d) independência no aprendizado de ciência; diário com as informações do mundo da
e) habilidade para pensar cientificamente; leitura e da escrita, por meio de pessoas que
f) habilidade de usar conhecimento científico lêem ou escrevem para ela as notícias de
na solução de problemas; jornal, as cartas ou os recados (Soares,
g) conhecimento necessário para participação 1998);
inteligente em questões sociais relativas à - Chassot (2000) considera inadequado o
ciência; termo alfabetização, pois carrega a primazia
h) compreensão da natureza da ciência, da óptica ocidental da escrita alfabética,
incluindo as suas relações com a cultura; desconsiderando a linguagem de outras
i) apreciação do conforto da ciência, incluindo civilizações que adotaram escritas
apreciação e curiosidade por ela; cuneifórmica, hieroglífica e ideogrâmica;
j) conhecimento dos riscos e benefícios da - Ao empregar o termo letramento, busca-se
ciência; ou enfatizar a função social da educação
k) habilidade para pensar criticamente sobre científica contrapondo-se ao restrito
ciência e negociar com especialistas. significado de alfabetização escolar; e
- Esses autores, embora não coincidam com - Enquanto a alfabetização pode ser
enunciados que caracterizam AC ou LC, em considerada o processo mais simples do
tese incluem sempre dois grandes grupos de domínio da linguagem científica e enquanto o
categorias: um que incorpora as relativas à letramento, além desse domínio, exige o da
especificidade do conhecimento científico, e prática social, a educação científica almejada
outro que abrange as categorias relativas à em seu mais amplo grau envolve processos
função social; cognitivos e domínios de alto nível. Shamos
- Esses dois grandes domínios estão (1995) denominou letramento científico
centrados no compreender o conteúdo propriamente dito o processo que envolve um
científico e no compreender a função social da conhecimento mais aprofundado dos
ciência; construtos teóricos da ciência e da sua
- Não se pode pensar no ensino de seus epistemologia, com compreensão dos
conteúdos de forma neutra, sem que se elementos da investigação científica, do papel
contextualize o seu caráter social, nem há da experimentação e do processo de
como discutir a função social do conhecimento elaboração dos modelos científicos.
científico sem uma compreensão do seu Letramento científico, nessa perspectiva,
conteúdo; consiste na formação técnica do domínio das
- As discussões sobre educação científica linguagens e ferramentas mentais usadas em
muitas vezes acabam por priorizar um ciência para o desenvolvimento científico.
domínio em relação a outro;
- Para Magda Soares (1998), o termo Letramento científico e a função social
alfabetização tem sido empregado com o - Shamos (1995) considera que um cidadão
sentido mais restritivo de ação de ensinar a ler letrado não apenas sabe ler o vocabulário
e a escrever; o termo letramento refere-se ao científico, mas é capaz de conversar, discutir,
“estado ou condição de quem não apenas ler e escrever coerentemente em um contexto
sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce não-técnico, mas de forma significativa;
práticas sociais que usam a escrita” (p. 47); - Laugksch (2000) define LC com função
- Uma pessoa alfabetizada, que sabe ler e social como aquele que desenvolve a
escrever, pode não ser letrada, caso não faça
capacidade mínima funcional para agir como - Outro significado que tem sido atribuído à
consumidor e cidadão; alfabetização/letramento científico é o cultural;
- À categoria cívica de Shen (1975), a qual se - Educação científica tem sido vista como
refere ao conhecimento essencial que as processo de enculturação;
pessoas necessitam para compreender as - Krasilchik e Marandino (2004) caracterizam a
políticas públicas, visando prepará-las para educação científica também como a
atuar na sociedade, quer compreendendo os capacidade de participar da cultura científica
processos relativos ao seu cotidiano e os da maneira que cada cidadão, individual e
problemas sociais vinculados à ciência e coletivamente, considera oportuno;
tecnologia, quer participando do processo de - DeBoer (2000) apresenta, entre outros
decisão sobre questões envolvendo saúde, propósitos para o letramento, o ensino e a
energia, alimentação, recursos naturais, aprendizagem de ciências como uma força
ambiente e comunicação. Prewitt (1983) cultural no mundo moderno e a aprendizagem
considera que o letramento científico para de ciências por seus apelos estéticos;
cidadão tem origem nas interações entre a - Ramsey (1993), o letramento cultural lida
ciência e a sociedade e promove o que ele com a compreensão da ciência como principal
chama de savvy citizen (“cidadão prático”): realização humana e como parte de nossa
aquele que, apesar de não ser cientista ou cultura geral. Fleming (1989) considera que
tecnólogo, é capaz de atuar na sociedade em uma pessoa letrada é aquela que tem acesso
nível pessoal e social, compreendendo com à cultura e pode ser capaz de mover-se além
perspicácia a profundidade, os princípios e as dela para criar novas formas de cultura. Arons
estruturas que governam situações (1983) define LC como um processo que,
complexas, compreendendo como a ciência e além de considerar a ciência um corpo de
a tecnologia influenciam a sua vida; conhecimento e habilidades, considera-a um
- Para Fourez (1997, p. 51), [...] as pessoas produto da mente humana, de natureza
poderiam ser consideradas cientifica e experimental, que tem limites e que interage
tecnologicamente letradas quando seus com a sociedade nos seus planos moral e
conhecimentos e habilidades dão a elas um ético; e
certo grau de autonomia (a habilidade de - Driver e colegas (1994) consideram a
ajustar suas decisões às restrições naturais educação científica um processo de
ou sociais), uma certa habilidade de se enculturação em que o aluno aprende a
comunicar (selecionar um modo de expressão linguagem, o modo de pensar, de
apropriado) e um certo grau de controle e expressar-se e de justificar os seus
responsabilidade em negociar com problemas argumentos.
específicos (técnico, mas também emocional,
social, ético e cultural). (tradução livre); Ensino de ciência-tecnologia-sociedade e
- O letramento dos cidadãos vai desde o letramento científico
letramento no sentido do entendimento de - o movimento CTS surgiu em um contexto
princípios básicos de fenômenos do cotidiano diferente do movimento de LCT. Enquanto o
até a capacidade de tomada de decisão em primeiro movimento surgiu pelo contexto
questões relativas à ciência e tecnologia em marcado pela crítica ao modelo de
que estejam diretamente envolvidos, sejam desenvolvimento científico e tecnológico, o
decisões pessoais ou de interesse público; segundo nasceu por pressões sociais pelas
- O letramento como prática social implica a mais diferentes razões, desde as econômicas
participação ativa do indivíduo na sociedade, até as práticas;
em uma perspectiva de igualdade social, em - Cursos de CTS, O objetivo central desse
que grupos minoritários, geralmente ensino na educação básica é promover a
discriminados por raça, sexo e condição educação científica e tecnológica dos
social, também pudessem atuar diretamente cidadãos, auxiliando o aluno a construir
pelo uso do conhecimento científico (Roth & conhecimentos, habilidades e valores
Lee, 2004); necessários para tomar decisões
responsáveis sobre questões de ciência e
tecnologia na sociedade e atuar na solução de todos os segmentos de ensino, visando à
tais questões; formação de cidadãos críticos que possam
- Currículos de ciências com ênfase em CTS transformar o modelo de desenvolvimento
são aqueles que tratam das interrelações tecnológico de nossa sociedade atual; e
entre explicação científica, planejamento - Se espera é que o cidadão letrado possa
tecnológico e solução de problemas e tomada participar das decisões democráticas sobre
de decisão sobre temas práticos de ciência e tecnologia, que questione a ideologia
importância social. Uma proposta curricular de dominante do desenvolvimento tecnológico.
CTS pode ser vista como uma integração
entre educação científica, tecnológica e social Currículos de ciências e letramento
(Figura 3); científico
- - Três aspectos vêm sendo amplamente
considerados nos estudos sobre as funções
da alfabetização/letramento científico:
natureza da ciência, linguagem científica e
aspectos sociocientíficos:
a) Natureza da ciência:
- Aprender ciência significa compreender
como os cientistas trabalham e quais as
limitações de seus conhecimentos. Isso
implica conhecimentos sobre história, filosofia
e sociologia da ciência (HFSC);
- O aluno passa a entender a ciência como
atividade humana e não simplesmente como
atividade neutra distante dos problemas
sociais;
- Relacionado à forma como esse ensino vem
sendo abordado na escola em um modelo por
transmissão em que não há reflexão
epistemológica; e
- Para que ocorra o letramento científico
- Os currículos CTS apresentam uma
torna-se fundamental uma mudança de
contribuição significativa para o LC, uma vez
abordagem no ensino de ciências, de forma
que incluem aspectos da educação
que os estudantes desenvolvam estudos de
tecnológica no ensino de ciências;
HFSC, compreendendo a natureza da
- A educação tecnológica não tem sido
atividade científica.
adequadamente contemplada nas disciplinas
científicas da educação básica no Brasil. Em
b) Linguagem científica:
geral, os professores de ciências parecem
- A linguagem científica apresenta
entender que essa educação se restringe ao
características próprias que a distingue da
conhecimento de princípios de funcionamento
linguagem cotidiana;
de determinados aparatos tecnológicos;
- A linguagem científica é um gênero de
- O letramento tecnológico implica a
discurso que foi construído socialmente pelos
compreensão de como a tecnologia é
cientistas em sua prática;
dependente dos sistemas sociopolíticos e dos
- Enquanto a linguagem científica é estrutural
valores e ideologias da cultura em que está
e aparentemente descontextualizada, sem
inserida;
narrador, nominalizando processos, a
- Grinspun (1999), ao discutir o que se pode
linguagem cotidiana é linear, automática,
entender por educação tecnológica, destaca
dinâmica, geralmente produzida por um
que ela não pode ser compreendida como
narrador em uma seqüência de eventos;
apenas se referindo ao ensino
- Além da estrutura semântica, o discurso
técnico-profissional. Para ela, a educação
científico busca organizar os fenômenos por
tecnológica deve ser também vivenciada em
meio de classificações e de apresentação de imagem de ciência. Enquanto não se
relatórios, que constituem um gênero de caminhar na superação dessa abordagem, a
discurso marcado pelo uso de diagramas, educação científica continuará restringido-se a
esquemas, gráficos e ilustrações; uma precária alfabetização.
- o ensino de ciências deve ajudar o aluno a
construir um argumento científico, o qual é Sistemas de avaliação do nível de
diferente da argumentação do senso comum; alfabetização científica escolar
- Alfabetização/letramento científico - Esses exames têm sido questionados e
corresponde ao uso de termos técnicos, a criticados por seus critérios comparativos;
aplicação de conceitos científicos, a avaliação todavia, eles são importantes na medida em
de argumentos baseados em evidências e o que demonstram como a imagem da ciência
estabelecimento de conclusões a partir de muda em diferentes culturas e levantam
argumentos apropriados; contribuições sobre prioridades a serem
- O ensino de ciências tem-se limitado a um levadas em conta na educação científica;
processo de memorização de vocábulos, de - Para Shamos (1995), nesses processos
sistemas classificatórios e de fórmulas por avaliativos é fundamental a definição do papel
meio de estratégias didáticas em que os da educação escolar no sentido do
estudantes aprendem os termos científicos, desenvolvimento do interesse dos alunos em
mas não são capazes de extrair o significado questões sociais relativas à ciência;
de sua linguagem; e - No caso do Brasil, de maneira geral, pode-se
- Mais do que ensinar a ler vocábulos, os dizer que as escolas têm avaliado muito mal
professores deveriam estar preocupados em seus estudantes, com exames que não
ensinar os alunos a ler e compreender textos envolvem aspectos básicos do que se espera
científicos. do letramento científico;
- A escola brasileira continua com caráter
c) Aspectos sociocientíficos elitista, apesar de a Lei de Diretrizes e Bases
- Esses aspectos referem-se às questões da Educação Nacional (LDB) preconizar uma
ambientais, políticas, econômicas, éticas, educação básica firmada no princípio da
sociais e culturais relativas à ciência e igualdade de condições. Na prática, o que se
tecnologia; tem é ainda um sistema dual: uma escola para
- Os quais podem ser agrupados nas a elite e outra para as camadas populares;
seguintes categorias: - O currículo das escolas voltadas à
1) relevância – encorajar os alunos a preparação
relacionar suas experiências escolares em para exames de ingresso em cursos
ciências com problemas de seu cotidiano e superiores tem-se voltado quase que
desenvolver responsabilidade social; exclusivamente para os conteúdos e modelos
2) motivação – despertar maior interesse dos avaliativos adotados pelas instituições de
alunos pelo estudo de ciências; ensino superior às quais elas almejam
3) comunicação e argumentação – ajudar os direcionar seus estudantes;
alunos a verbalizar, ouvir e argumentar; - O currículo da maioria das outras escolas
4) análise – ajudar os alunos a desenvolver tem-se limitado às questões bem elementares
raciocínio com maior exigência cognitiva; do processo de alfabetização científica, ou
5) compreensão – auxiliar na aprendizagem seja, tem-se restringido a conteúdos básicos
de conceitos científicos e de aspectos escolares, geralmente prescritos em livros
relativos à natureza da ciência (Ratcliffe, didáticos que enfatizam a memorização de
1998); fórmulas, de sistemas de classificação e da
- Pode-se afirmar que um currículo que tenha nominalização de fenômenos, bem como a
a perspectiva de letramento científico implica resolução de questões por algoritmos; e
a ressignificação dos saberes científicos - O ensino escolar de ciências, de maneira
escolares que estão sendo abordados de geral, vem sendo desenvolvido de forma
forma descontextualizada, com uma totalmente descontextualizada, por meio da
linguagem hermética, reproduzindo uma falsa resolução ritualística de exercícios e
problemas escolares que não requerem letramento está a construção de uma visão de
compreensão conceitual mais ampla. ensino de ciências associada à formação
científico-cultural dos alunos, à formação
Considerações finais humana centrada na discussão de valores.
- Reivindicar processos de letramento
científico é defender abordagens Texto-base: Fatores de caracterização da
metodológicas contextualizadas com aspectos educação não formal: uma revisão da
sociocientíficos, por meio da prática de leitura literatura
de textos científicos que possibilitem a Introdução
compreensão das relações - O termo educação não formal começou a ser
ciência-tecnologia-sociedade e tomar usado nos finais da década de 1960, numa
decisões pessoais e coletivas; época de conjeturas políticas e sociais
- O que se busca não é uma alfabetização em propícias à criação de novos espaços
termos de propiciar somente a leitura de educativos (BELLE, 1982);
informações científicas e tecnológicas, mas a - Unesco (Organização das Nações Unidas
interpretação do seu papel social; para a Educação, Ciência e Cultura), de 1972,
- Tornar a educação científica uma cultura - esta última sobre aprendizagem ao longo da
científica é desenvolver valores estéticos e de vida -, são pioneiras no uso do termo e na
sensibilidade, popularizando o conhecimento proposta de divisão do sistema educativo em
científico pelo seu uso social como modos três categorias: formal (F), não formal (NF) e
elaborados de resolver problemas humanos; informal (INF) (CAZELLI; COSTA; MAHOMED,
- A educação científica tem de ser difundida 2010);
também em espaços não-formais;
- Que podem ser usados não simplesmente A escolha dos fatores e dimensões
para a contemplação, mas também para o - Autores elegem conjuntos variados de
entendimento de seu papel social; fatores como fundamentais para a
- O letramento científico significa também caracterização e distinção das tipologias
buscar uma educação científica que propicie a educativas;
educação tecnológica; - Trilla (1998), que usa apenas dois critérios
- Propiciar, portanto, a educação científica de distinção: um metodológico (escolar vs não
como um processo de domínio cultural dentro escolar) e outro estrutural (educação
da sociedade tecnológica, em que a orientada para a obtenção de títulos
linguagem científica seja vista como acadêmicos ou não);
ferramenta cultural na compreensão de nossa - Sefton-Green (2004), que propõe que a
cultura moderna, é o grande desafio na separação seja feita entre a organização da
renovação do ensino de ciências; aprendizagem (organizada vs acidental,
- Se a função da educação científica na casual) ou pelas estruturas de apoio (por
educação básica for a formação de cidadãos exemplo, escolas, museus, famílias);
letrados em ciência e tecnologia, no sentido - Autores que põem a tônica na localização
que Shamos (1995) considerou “true” scientific (espaço escolar vs espaço não escolar) e
literacy (letramento autêntico), será outros, como nós, que pensam que a distinção
necessário instituir uma ampla reforma no deve ser feita em mais características,
sistema educacional; naturalmente, interligadas;
- A popularização do letramento científico é - Fatores de caracterização das tipologias
ainda um mito não atingido e o efeito do educativas:
currículo formal de ciências parece ser
desprezível. Todavia, ao contrapor letramento
ao processo elementar de alfabetização,
buscou-se demonstrar como esse mito ainda
pode ser realizável; e
- Nesse sentido, mais importante do que a
discussão terminológica entre alfabetização e
- Os fatores são de diferentes naturezas e, por características encontradas na literatura
isso, consideramos necessário agrupá-los consultada com todas as referências
para se ter um panorama mais esclarecedor; e devidamente apontadas;
- Marandino (2008) separa os critérios em - Resumo das características citadas na
propósitos, organização do conhecimento, literatura para as diferentes tipologias
tempo, estrutura, controle e intencionalidade; educativas, nos diferentes fatores analisados:
e
- Colley, Hodkinson e Malcom (2002), que
propõem a discussão das tipologias
educativas em torno de quatro dimensões:
processo, conteúdo, estrutura e propósito.

A escolha dos documentos a analisar


- Publicações analisadas:

O que encontramos como resultados


a) As terminologias utilizadas na literatura
- O Quadro 2 apresenta um panorama dos
documentos consultados. Há duas principais
terminologias utilizadas: uma que dicotomiza
educação formal e informal e outra que divide
o espectro em três grupos (formal, não formal
e informal); e
1) Dimensão processo
- Mas os termos usados não se esgotam
- Encontram-se os fatores relacionados com
nesses três referidos. Há quem divida os
os aspectos processuais da aprendizagem,
setores educativos em “dentro” e “fora” da
nomeadamente as suas características, as
escola ou em setor formal, setor do trabalho e
relações entre os intervenientes, a avaliação e
setor de livre-escolha ou ainda quem
as abordagens pedagógicas utilizadas:
acrescente variações, como a aprendizagem
Fator 1: Relação professor-aluno
incidental ou a self-directed, sublinhando a
- Formal, observam-se dois tipos de
importância da intencionalidade.
caracterizações interligadas: uma se refere à
figura central do professor e ao fato de que
b) As características utilizadas nos
este é quem guia o processo de
diferentes fatores
aprendizagem; a outra, que em nosso
- No entanto, no Quadro 3, apresentado a
entender talvez seja consequência da
seguir encontram-se resumidas todas as
primeira, se refere à separação dos papéis de - Não formal ficaria no meio desses dois
professor e aluno; extremos, mas sendo “fortemente
- Não formal a rigidez esbate-se, é mais observacional
centrada no aprendiz e que, mesmo quando é e participativa”. Muitas vezes os espaços de
guiada ou conduzida por um professor, “evita educação tipicamente não formal (museus e
formalidades e hierarquias”; e centros de ciências, por exemplo): [...]
- Informal, centrada no aluno ou no aprendiz. partilham formas de organizar as respectivas
É ele quem conduz e faz o seu percurso. Na atividades que se baseiam em princípios
maioria dos casos, não há professor pedagógicos consistentes com os princípios
envolvido. pedagógicos que regem muitas das atividades
Fator 2: Avaliação da escola. Tal consistência põe em relevo a
- O ensino formal tem um forte componente continuidade que existe entre a educação
avaliativo. Essa avaliação é feita, em geral, formal e a educação não formal. (CHAGAS,
“verificando o sucesso desse aprendizado, 1993, p. 7).
medindo estatisticamente uma variável Fator 5: Mediação da aprendizagem
latente, - Educação formal, é muito claro que a
usualmente chamada de proficiência”; mediação é feita pelo professor, que, regra
- Não formal, a aprendizagem normalmente geral, tem um papel central e de destaque no
não é avaliada, pelo menos não no sentido da processo. É ele quem guia e controla a
avaliação do aprendiz para fins de aprendizagem e tem autoridade;
acreditação; e - Não formal é, geralmente, mediada, não por
- Informal, apesar de poucos autores um professor, mas por um outro agente
caracterizaram este fator, são categóricos: mediador, guia de museu, animador etc;
não - Informal, pode-se dizer que não existe
há avaliação. efetivamente a figura do mediador; e
Fator 3: Aprendizagem coletiva ou - O papel central é do aluno ou aprendiz e,
individual assim, na maioria dos casos, a aprendizagem
- Aprendizagem como sendo um processo é dirigida ou mediada por ele mesmo
para além de ser um produto; (ESHACH, 2007).
- Educação formal, apesar de os alunos Fator 6: Aprendizagem tácita ou explícita
estarem normalmente divididos em turmas, a - Educação formal, a aprendizagem é
aprendizagem é tipicamente individual, assim explícita, pois o foco e a intenção são
como as dinâmicas, a avaliação e certificação. majoritariamente educativos;
Os aspectos sociais são pouco valorizados; - Não formal, consideramos que é explícita,
- Não formal, o leque de possibilidades pode pelas mesmas razões que o é na educação
ser variado, desde a aprendizagem formal; e
individualizada à mais coletiva; e - Informal, é muitas vezes tácita e até “pode
- A informal depende fortemente das relações não ser reconhecida, mesmo pelos próprios
sociais e da comunidade. Aprendemos no seio indivíduos, como enriquecimento dos seus
da família, no trabalho e em todos os aspectos conhecimentos e aptidões” (UNIÃO
da nossa vida com as pessoas que nos são EUROPEIA, 2000, p. 9).
próximas. Esta aprendizagem pode ser Fator 7: Aprendizagem contextual ou
também individual, quando lemos um livro, generalizável
navegamos na internet ou assistimos a um - A educação formal é tipicamente
documentário na televisão. descontextualizada. A sua ênfase é na
Fator 4: Abordagem pedagógica linguagem e no simbólico e é generalizável,
- Oscila, entre uma pedagogia de transmissão padronizada e acadêmica, o que permite que
e controle no formal e uma pedagogia seja “aplicável numa variedade de contextos”;
negociada e centrada no aprendiz no informal; - Não formal, em tese, “a liberdade na seleção
e de conteúdos e metodologias amplia as
possibilidades de interdisciplinaridade e
contextualização”; e
- Informal “ocorre onde o significado é - Não formal, a aprendizagem tem
intrínseco ao contexto”. Pode ser associada normalmente baixo estatuto e é referido que:
com o que aprendemos no nosso contexto [...] não é habitualmente considerada como
diário de vida (GOHN, 2006a). ‘verdadeira’ aprendizagem, nem os seus
Fator 8: Papel das emoções na resultados têm muito valor de troca no
aprendizagem mercado de trabalho. A aprendizagem não
- As emoções não são valorizadas na formal é, por conseguinte, tipicamente sub-
aprendizagem formal; valorizada. (UNIÃO EUROPEIA, 2000, p. 9); e
- Não formal e informal, alguns autores - A informal tende a ser ainda menos
indicam que elas têm um papel importante, às valorizada e com estatuto também baixo, uma
vezes até central, na motivação e nas vez que “não é organizada, os conhecimentos
escolhas do aprendiz; e não são sistematizados e são repassados a
- Não formal e informal não haver avaliação e partir das práticas e experiência anteriores”
a (GOHN, 2006a, p. 3).
participação ser voluntária possibilita a criação
de ambientes de aprendizagem que tendem a 3) Dimensão estrutura
ser mais descontraídos, com componentes - A localização física da aprendizagem, os
lúdicos e experimentais que, a nosso ver, contextos, os tempos, os currículos, objetivos
poderão ser facilitadores da aprendizagem. e a certificação entram nesta dimensão que
agrega os elementos estruturais e
2) Dimensão conteúdo: organizacionais:
- Discute-se a natureza do que é ensinado, se Fator 11: Localização
o conhecimento é produzido ou apenas - O fator localização é um dos mais referidos
transmitido, se o foco é em conhecimento na literatura;
proposicional ou práticas situadas e qual o - Fato de ser comum traçar as fronteiras entre
estatuto do conhecimento: o espaço escolar e o não escolar ou associar
Fator 9: Natureza e tipos de conhecimento a educação formal à escola e as outras fora
- Na educação formal o conhecimento é dela, por oposição;
proporcional, generalizável e a aprendizagem - [...] O espaço físico é insuficiente para definir
“enfatiza valores universais, critérios e o carácter das práticas educativas que nele se
padrões de performance”. Normalmente é encerram, visto que as práticas educativas
também um conhecimento com pouca não formais podem ter lugar no espaço físico
aplicação imediata; da escola, assim como as práticas formais
- Na educação não formal, o conhecimento é podem ocorrer (e de fato ocorrem) em lugares
caracterizado como mais prático e a como os museus, tidos como espaços de
aprendizagem é influenciada “pela percepção, práticas não formais (CAZELLI; COSTA;
consciência, emoção e memória”; e MAHOMED, 2010, p. 586);
- Informal, o conhecimento é prático e - A aprendizagem ou educação formal é
empírico fornecida por uma instituição de ensino. É
(GOHN, 2006a). Pode ser associado ao senso “institucionalizada através de organizações
comum e permite a incorporação de saberes públicas e corpos privados reconhecidos que,
tradicionais (MARTIN, 2004). Não é na sua totalidade, constituem o sistema
organizado em disciplinas e a aprendizagem é educativo de um país”. Não formal, a
“um processo indutivo de reflexão e ação” tendência é definir por exclusão, ou seja, a
(MARSICK; WATKINS, 2001, p. 28). educação não formal é a que acontece fora da
Fator 10: Estatuto do conhecimento escola, fora dos quadros formais acontece em
- O conhecimento aprendido e ensinado na espaços feitos para o efeito, como museus,
educação formal é valorizado, tendo por isso zoológicos etc., ou espaços de ações
um estatuto elevado. Nesse contexto é mais coletivas, que acompanham as trajetórias das
importante o conhecimento ensinado do que pessoas, como ONGs ou clubes (CHAGAS,
quem o ensina; 1993). Assim, apesar de não ocorrer nas
instituições escolares, é ainda um tipo de do governo ou outras autoridades, ou seja,
educação institucionalizada; e tende a ser controlada e determinada
- Informal ocorre nas atividades mundanas, no internamente; e
dia a dia, nas aprendizagens no espaço - No caso do informal, “não há especificação
familiar, no meio cotidiano, nas atividades de externa dos resultados” (ERAUT, 2000, p.
lazer, na comunidade (GOHN, 2006a). Ela 114). É internamente que se definem os
ocorre durante o processo de socialização e objetivos e o controle é democrático, quando
por isso ocorre “em todo o lado” (ESHACH, não completamente determinado pelo próprio
2007, p. 174). aprendiz (MARANDINO, 2008).
Fator 12: Grau de planejamento e de Fator 14: Duração/tempos da
estrutura aprendizagem
- O ensino formal está no extremo da - A educação formal, que é padronizada e
estruturação e planejamento, mas a estrutura estruturada em termos de conteúdos, espaços
mencionada na literatura é diversa. Há e objetivos, também o é, naturalmente, em
referências à estrutura em termos de objetivos termos temporais;
de aprendizagem, tempos, organização em - A não formal “não é constituída
turmas e classes, sistematização das necessariamente por um percurso estruturado
atividades, currículos fechados, organização e contínuo” (UNESCO, 2011). Além disso,
sequencial e programas prescritos. Há caracteriza-se por ser mais focada no
também presente e os tempos serem mais curtos e
referências à hierarquização da estrutura e ao flexíveis; e
planejamento, ou seja, organização e - A informal é um processo permanente, não
definição prévia dos objetivos, conteúdos e organizado e que ocorre a todo o momento,
processos (WELLINGTON, 1990). Resumindo, na vivência do dia a dia (CAZELLI; COSTA;
o ensino formal é definido como sendo MAHOMED, 2010).
estruturado, planejado, fechado, hierarquizado Fator 15: Tipos de grupos
e com um currículo definido; - Na formal os grupos são muito homogêneos,
- Em afirmar que é uma educação “organizada as turmas são divididas por alunos de mesmo
e sistemática, mas levada a efeito fora do nível, com a mesma idade, estudando o
sistema formal”. Educação também planejada, mesmo assunto; e
com objetivos educativos, mas não está - Não formal e informal, em que podemos ter
organizada de maneira fechada e hierárquica, grupos de idades e interesses variados, por
é mais adaptável e flexível; e exemplo, grupos familiares ou outros grupos
- Informal. Aqui o mote está na ausência de heterogêneos que se encontram por
(ou pouca) estrutura, organização e partilharem interesse pelos mesmos temas ou
sistematização (ALVES; PASSOS; ARRUDA, atividades (GOHN, 2006a).
2010). Não há base institucional ou
programática. É flexível, espontânea, 4) Dimensão propósitos
“orgânica e em evolução”. - Se relaciona com os objetivos das diferentes
Fator 13: Determinação dos objetivos e abordagens educativas, em sentido amplo:
resultados Fator 16: Intencionalidade do
- No ensino formal, que se caracteriza por ser professor/aluno
legislado, determinado e controlado - Educação formal, na literatura aparecem
externamente com regulamentações, leis características em duas direções. Um
orgânicas e diretrizes nacionais, em maior ou conjunto de autores caracteriza a educação
menor extensão; formal como intencional, no sentido de ser
- Não formal é muito “mais difusa, menos explícito que o objetivo é educativo ou a
hierárquica e menos burocrática” (GADOTTI, certificação (UNIÃO EUROPEIA, 2000).
2005, p. 2) e normalmente tem pouca Outros autores frisam a obrigatoriedade, ou
influência seja, o fato de esse tipo de educação ser
compulsório e que, portanto, “a motivação é
muitas vezes extrínseca” (ESHACH, 2007, p.
174) sendo o “controle do professor” politicamente e, indo mais longe, com
(COLLEY; HODKINSON; MALCOM, 2002, p. tendência a servir a “interesses dos grupos
16); poderosos e dominantes”;
- A educação não formal também se - Já a educação não formal, devido à sua
caracteriza pela intencionalidade do aluno em maior flexibilidade, é especialmente adequada
aprender: “Há na educação não formal uma a ir ao encontro de interesses da comunidade
intencionalidade na ação, no ato de participar, e de grupos particulares de alunos;
de aprender e de transmitir ou trocar saberes” - Educação informal, esta serve os grupos de
(GOHN, 2006a, p. 3). A grande diferença é oprimidos; e
que esse tipo de educação, na maioria dos - O informal não sendo organizado ou
casos, não é compulsória; estruturado serve espontaneamente ao
- A educação informal, “na maioria das vezes interesse de todos os grupos e que é o não
é não intencional ou incidental” (PASSOS; formal que pode ter um papel de destaque em
ARRUDA; ALVES, 2012, p. 20). Ou seja, é serviço dos grupos oprimidos e minorias
uma educação mais espontânea. O grupo de menos representadas na cultura mainstream
autores que considera que existe também da escola formal, como já sublinhado por
aqui intencionalidade, aproximando-se mais Gohn (2006a).
da definição de não formal, classifica a Fator 19: Objetivos da aprendizagem
motivação como principalmente intrínseca - Educação formal, os objetivos de
(ETLLNG, 1993); e aprendizagem estão bem definidos e
- Para um conjunto grande de autores há especificados, nomeadamente por meio de
sempre intencionalidade na aprendizagem, parâmetros curriculares e outras diretrizes
seja qual for o contexto. A falta de educacionais. Numa outra perspectiva, alguns
intencionalidade é o que distingue a autores afirmam que o objetivo é “aprender
aprendizagem informal das para
outras, podendo até ser também chamada de manter o status quo”;
incidental por esse fato. No caso da informal, - Não formal, os objetivos podem ser muito
o ato de aprender é um efeito colateral de variados. Podem também ser adaptados ao
outras atividades e, muitas vezes, não grupo em questão, sendo mais flexíveis. Os
estamos plenamente conscientes de que o objetivos da educação não formal são
fazemos. traçados em relação à educação formal, ou
Fator 17: Certificação seja, ela é vista em função do seu papel de
- O ensino formal é por natureza um ensino complemento, alternativa, adição etc. à
certificador, que leva a qualificações educação formal num determinado contexto; e
padronizadas, titulações e diplomas (UNIÃO - Na educação informal, uma vez que na
EUROPEIA, 2000) e que, também por isso, maioria dos casos a aprendizagem não é
exige certos requisitos de admissão no programada ou estruturada e os resultados
sistema acontecem nos processos de socialização, o
e avaliações ao longo do percurso acadêmico objetivo é “aprender para a resistência e
(CAZELLI; COSTA; MAHOMED, 2010). Já a empoderamento”.
educação não formal “normalmente leva a Fator 20: Estatuto educativo
qualificações que não são reconhecidas como - O ensino formal e o não formal têm estatuto
formais ou equivalentes a qualificações de educação, o informal não tem; e
formais pelas autoridades competentes ou - A categoria informal é, muitas vezes, não
não leva a qualificações nenhumas” intencional, não estruturada nem planejada e
(UNESCO, 2011, p.11); e até, em termos de aprendizagem, pouco
- Não é, em geral, uma educação consciente e espontânea, não devendo ser
certificadora. Por último, a educação informal considerada como educação. Deve-se
não tem “necessidade de certificação”. reconhecer apenas que existem processos de
Fator 18: Interesses endereçados aprendizagem e que eles têm certas
- Ensino formal caracterizam-no como sendo características, como temos visto até aqui.
padronizado, com pré-requisitos, controlado Fator 21: Medição dos resultados
- Educação formal, os resultados são
mensuráveis, em parte porque são
previamente previstos e avaliados. Há pouca
margem para resultados não esperados e os
que ocorrem não são considerados (GRIFFIN,
1994). É uma educação fechada e pouco
flexível, como já visto em outros fatores;
- A educação não formal pode ser aqui
incluída, mas com um maior grau de previsão.
Há dificuldades em prever e medir resultados.
esses cenários de educação não formal são
provavelmente os mais organizados e
sistematizados em termos de pesquisas e
estudos de público.
- Colocar a fronteira no espaço físico é talvez
mais intuitivo e parece que definir pela
Frequência de utilização dos diferentes
estrutura, na maioria dos casos, é suficiente e
fatores e dimensões
mais simples.
- Média de referências por fator em cada uma
das dimensões:
Algumas considerações
- Educação não formal, “ela não deve ser
vista, em hipótese alguma, como um tipo de
proposta contra ou alternativa à educação
formal, escolar” (GOHN, 2007, p. 14), e que
- Referências de autores distintos para cada
“um dos grandes desafios da educação não
fator, em cada tipologia educativa. As
formal tem sido defini-la, caracterizando-a
porcentagens são em relação ao total de
pelo que ela é. Usualmente ela é definida pela
artigos analisados (28):
negatividade - pelo que ela não é.” (GOHN,
2014, p. 39);
- De acordo com Trilla (2004), a educação não
formal pode ser dividida em quatro âmbitos
distintos: o do trabalho, o do lazer e cultura, o
da educação social e o da própria escola;
- Se sobressaem o âmbito da educação em
museus e o da educação social. No primeiro,
nota-se uma preocupação em definir o papel e
competências dos mediadores (MARANDINO
et al., 2004), em conhecer os públicos, os
processos de aprendizagem nestes espaços
específicos e, também, sua relação com o
* Analisando os totais dos fatores individuais, espaço escolar: o museu deve ser percebido
são naturalmente os fatores estruturais os que como um lugar onde é possível se ter a livre
têm mais referências por fator e por tipo de opção de se chegar lá e aprender;
educação. - Há, portanto, muito caminho por andar, mas
- Total e média de referências dos oito fatores percebe-se que a educação não formal
mais citados na literatura consultada: nesses espaços pode ter um papel importante
no panorama educativo brasileiro e, também,
mundial;
- Gohn (2006b) aponta possíveis vias para
percorrer esse caminho. As sugestões vão
desde formação específica para os
educadores e mediadores, definição dos
objetivos e funções desta educação,
sistematização das metodologias utilizadas e perpetuação de uma visão acrítica e
construção de novas ou “mapeamento das dogmática das ciências;
formas de educação não formal na - As abordagens interdisciplinares nascem em
autoaprendizagem dos cidadãos”; oposição às propostas de fragmentação do
- Falk (2002, p. 2), “não há uma só maneira de conhecimento e permitiram consideráveis
aprender, nem um só lugar ou momento nos avanços em pesquisas que envolvem trabalho
quais aprendemos. Toda aprendizagem tem em Educação e Ensino de Ciências; e
um lugar contínuo, desde muitas fontes e de - AZERA (2016) aponta que pesquisas de
muitas maneiras diferentes”. Mas tal natureza quantitativa podem enriquecer as
diversidade constitui um desafio para os discussões, ampliar as informações e expor
pesquisadores e agentes educativos na altura novos indicadores a respeito das linhas de
de classificar e definir as atividades, investigação que compõe determinada área
programas de interesse.
ou projetos em causa;
- Não há uniformidade nas definições nem nos Considerações sobre Interdisciplinaridade
conjuntos de termos usados. Ainda assim, na e o Ensino de Ciências
maioria da literatura nacional a terminologia - Segundo FAZENDA (1994), a ideia de
formal–não formal–informal é a mais utilizada; interdis-
- Percebemos que as definições de informal ciplinaridade surgiu na Europa, especialmente
da maioria dos autores que apenas na França e Itália, durante a década de 1960;
distinguem entre formal e informal se - Surgiu como uma espécie de resposta aos
aproximam muito das movimentos estudantis daquela época, que
características descritas como definidoras do exigiam um ensino mais voltado para as
não formal nos autores que usam os três questões de ordem social, política e
termos; econômica da época;
- “Práticas formais podem ocorrer (e de fato - No Brasil, a interdisciplinaridade chegou no
ocorrem) em lugares como os museus, tidos final de 1960 e exerceu influência na
como espaços de práticas não formais”; e elaboração da Lei de Diretrizes e Bases
- “Falar sobre aprendizagem e saber, fora das 5.692/71 (LDB);
escolas do sistema regular de ensino de um - É possível observar definições variadas para
país, implica em participar do amplo debate tratar da interdisciplinaridade, com uma
epistemológico sobre a produção de multiplicidade de sentidos;
conhecimento no mundo contemporâneo”. - Definição clássica apontada por FAZENDA
(2008) foi feita em 1970, o centro define
Texto-base: Uma análise do tema interdisciplinaridade como a interação
interdisciplinaridade nas principais existente entre duas ou mais disciplinas. Tal
revistas brasileiras de ensino de Ciências definição pode incluir a simples comunicação
Introdução de ideias ou até a integração de
- Estudos apontaram as abordagens conceitos-chave disciplinares;
interdisciplinares como sendo uma das mais - FOUREZ (2001) e LENOIR (1998) a autora
relevantes. Pesquisas recentes continuam distingue o termo a partir de suas finalidades,
incluindo esta abordagem entre as linhas de diferenciando a interdisciplinaridade científica
investigação em Ensino de Ciências mais da escolar e da profissional ou prática. Para a
importantes; autora, cada uma destas finalidades se
- A interdisciplinaridade vem se constituindo organiza a partir de objetivos próprios e
como um campo de pesquisa de interesse compreendem formas distintas de construção
crescente dos pesquisadores brasileiros na do conhecimento;
área de Ensino de Ciências; - A noção de disciplina como comportamento
- A educação científica tem promovido um é antiga, mas as de disciplinas científicas são
ensino fragmentado e disciplinar, mais recentes (FOUREZ, 1995). A introdução
descontextualizado do cotidiano dos dessa noção, segundo o filósofo francês,
estudantes, cujas consequências incluem a ocorre no século XVIII e, a partir daí,
passamos a organizar os saberes em saber ser interdisciplinar, que por sua vez
disciplinas e princípios fundamentais; permitiria unir intencionalidade e
- E estabelecimento de uma disciplina. funcionalidade;
Segundo KUHN (2005), para que esse - As disciplinas científicas não se dão conta de
estabelecimento ocorra é necessária uma enfrentar problemáticas complexas sozinhas.
institucionalização das práticas de pesquisa e Segundo FAZENDA (2008), é necessário que
de ensino em torno de uma comunidade as diferentes esferas da sociedade revejam
profissional, de instituições e de um suas; e
paradigma, definindo seus pressupostos e - É necessário superar a disciplinarização no
objetivos dos saberes construídos; ensino secundário e superior. O ensino atual,
- FOUREZ (1995), estas comunidades segunda ela, passa os conhecimentos de
descobrirão interesses particulares que eles forma acrítica, como verdades científicas.
defenderão socialmente; FAZENDA (2008) e FOUREZ (2001)
- FOUREZ (1998) reconhece que o concordam que um dos caminhos para
conhecimento disciplinar demonstrou-se uma superar estas questões envolve o ensino de
potência na história das ciências e uma ciências orientado por projetos ou
estratégia de conhecimento estabelecida, situações-problema, que permitem
eficaz e padronizada; abordagens que levam em consideração as
- Padronização permitiu que as disciplinas múltiplas dimensões de um problema, como a
fossem mais facilmente ensinadas; econômica, social e cultural.
- Atualmente, as disciplinas são pouco
adaptadas às necessidades de inúmeras Abordagens interdisciplinares e ensino de
situações educacionais; ciências nas principais revistas brasileiras
- FOUREZ (1998) explicita que os da área
conhecimentos disciplinares não são - As revistas são meios de comunicação
organizados ao redor de problemas concretos importantes e inegáveis fontes de inspiração
a serem resolvidos, mas em volta de questões para pesquisas científicas;
estruturadas por pressupostos teóricos; - Esse parâmetro, por sua vez, indicou que
- Trouxe perda dos sentidos, já que os apenas 5%, em média, dos artigos publicados
estudantes parecem ter a impressão de que no período compreendido por este trabalho,
os cursos que eles recebem são mais relacionam o tema interdisciplinaridade e o
dedicados a fazê-los entrar na cultura dos Ensino de Ciências. Os dados indicam uma
cientistas do que lhes permitir organizar o baixa quantidade de estudos que se
mundo à sua própria maneira; autodenominam como abordagens
- Interdisciplinaridade como uma atitude interdisciplinares em Ensino de Ciências;
perante o conhecimento. Em sua obra, a - Houve uma queda significativa de trabalhos
pesquisadora propõe que interdisciplinaridade sobre o tema no ano de 2016;
seria um novo olhar que permitiria - A ideia de interdisciplinaridade pressupõe
compreender e, por consequência, prá-
transformar o mundo. Seria uma postura ticas e atitudes perante o conhecimento que
capaz de restituir a unidade perdida do saber possibilitam encontro, cooperação e diálogo
(FAZENDA, 1979); entre diferentes áreas do conhecimento;
- LENOIR (2005), a autora observa que, para - A maioria das pesquisas que relacionam
melhor compreender o termo interdisciplinar, é Ensino de Ciências e interdisciplinaridade se
necessário considerar o que a ela denominou concentram na Educação Básica;
de lógica do sentido, da funcionalidade e da - As discussões sobre currículo foram as que
intencionalidade; mais se repetiram nas pesquisas;
- FAZENDA (2008), aponta que o saber - Nosso trabalho observou um decréscimo de
interdisciplinar é legitimado pela capacidade publicações sobre interdisciplinaridade. Esse
de abstração, que ela denominou saber saber, fato pode indicar um esgotamento do tema ou
pelo saber prático ou saber fazer, e por uma um desinteresse pelo tema, seja pelos
terceira dimensão, que a autora denominou pesquisadores na área ou pelas revistas; e
- Uma das questões que chamou nossa
atenção foi a concentração de estudos
dedicados a pesquisar os currículos em
Ensino de Ciências. Estes trabalhos indicam
que as pesquisas atuais estão preocupadas
em se desvencilhar da tradição curricular
linear e tradicional, como apontaram
MOZENA, OSTERMANN (2014).

Considerações Finais
- Ainda se faz necessário superar esta
fragmentação do saber no Ensino de Encaminhamento e estratégias
Ciências, já que os estudos em educação
continuam demonstrando que ele permanece
desinteressante para os estudantes,
fragmentado, disciplinar e multiplicador de
uma
visão dogmática;
- Raramente o ensino é orientado por projetos
interdisciplinares contextualizados ao
cotidiano dos alunos, como sugerido por
pesquisadores da área;
- Os pesquisadores na área estão muito - Poderão propor…;
preocupados com a Educação Básica e com o - Interdiscurso: São conhecimentos dos mais
currículo de ciências. Este fato indica que os diferentes discursos/temas;
pesquisadores na área veem que, para a - Todos os participantes têm o que dizer e por
superação deste ensino fragmentado, a isso seus saberes devem ser levados
principal solução seria a revisão curricular e enconta.
abordagens como a CTSA e a Educação
Ambiental; e
- É importante ressaltar que os artigos
analisados nesta pesquisa podem ser ainda Fazer uma reflexão, segundo Gohn
explorados sob outros aspectos como, por
exemplo, autoria, referencial bibliográfico,
natureza do trabalho, dentre outros.

Videoaula 11: Vídeoaula 7: Algumas


atividades para serem desenvolvidas no
âmbito da educação não formal
1ª) Oficinas Pedagógicas de Leitura e
Escrita Literária: Ongs, Igrejas, Sindicatos

- O homem precisa de utopias; e


- Mudanças sociais são aquelas que
modificam o homem e não construir um
homem lobo do homem.

2ª) Oficina: Alfabetização a partir do


Objetivo geral e justificativa próprio nome
Objetivo e Justificativa
- É importante para o autoconhecimento e
Encaminhamentos e estratégias
conhecimento do grupo.

Objetivos específicos

- Podem se trabalhar;
- Os estudantes do meio não formal, são
estimulados a ampliar o seu tipo de
letramento, descobrindo que existem outros
espaços para a aprendizagem.

Videoaula 12: Contribuições da Teoria do


- Quando o sujeito está na invisibilidade ele Letramento para a Educação Não Formal
não possui nome e sim apelidos e outros - Conceito de letramento:
nomes que não se identifica, por isso o nome a) Este é um processo sócio-histórico que
é importante; pressupõe sujeitos pré determinados
- Ter um nome é o primeiro passo para que o sócio-historicamente e também a linha do
indivíduo seja visível; contínuo;
- As narrativas de si (de Michel Foucault) são b) Há diferentes formas de letramento que irá
importantes, pois o falar de si permite-nos dependendo de inúmeras variáveis, por
expressar nossas angústias, tristezas e outras exemplo, das vivências do sujeitos e suas
emoções. experiências;
c) O nível de letramento de quem está
3) Oficina pedagógica: tudo sobre mim terminado o curso de graduação é maior do
Objetivo geral que daqueles que estão iniciando a
graduação;
d) O letramento é mais amplo do que a
alfabetização, este está dentro daquele;
e) O letramento envolve as experiências de
linguagem do sujeito, as relações que ele
estabelece com a língua, com a leitura e com
a escrita, suas vivências em uma sociedade
letrada;
f) A partir do momento em que vivemos em d.1) O pesquisador é um sujeito inquieto,
uma sociedade letrada estamos no nível zero curioso e que estranha os sentidos que
de letramento, pois todos os sujeitos têm aparecem como óbvio;
acesso a escrita de algum modo; d.2) Isso irá ajudar o aluno a se colocar como
g) Quando o pedagogo considera que o autores; e
sujeito possui algum grau de letramento ele irá d.3) Situações de pesquisa podem e devem
partir deste grau de letramento para as ser realizadas no ambiente de educação não
atividades; formal, pois isso irá ajudar o sujeito a se
h) É imprescindível que no processo de inquietar com as situações postas.
planejamento seja considerado que o
estudante tenha um nível de letramento; Videoaula 13: Letramento e
i) É importante considerar o letramento, pois interdisciplinaridade
isso desbaratina muitas ideologias e - Considerar o nível de letramento não é
preconceitos que os educadores carregam, considerar o nível de leitura e escrita, pois
por exemplo, este menino não é letrado, etc.; mesmos os sujeitos que não leem são
j) É preciso partir dos pressupostos que o letrados;
sujeito já tem conhecimentos acumulados e os - Interdisciplinaridade não é juntar uma
roteiros precisam abarcar estes pressupostos; disciplina com a outra, mas vamos promover
e encontro e desencontros dentro do campo do
k) O letramento é amplo: social, cultural e saber;
influência a todos em uma sociedade. - É importante que busquemos textos e
- Sugestões de atividades que podem levar materiais que motivem os alunos e os tornem
em conta o nível de letramento do sujeito: sujeitos de seu próprio destino;
a) Literatura: - Pode-se trabalhar a interdisciplinaridade
a.1) Trabalhar com a leitura, pois o sujeito que envolvendo os diversos campos do saber, sair
lê cresce, é modificado; daqueles situações de uma escola tradicional
a.2) Pode contar histórias; e obsoleta que na disciplina de matemática
a.3) Pedir para que os estudantes recriam trabalha apenas com problemas de
histórias, contêm histórias; matemática, etc.;
a.4) O trabalho com a literatura é - Ao fazer o trabalho com a
importantíssimo. interdisciplinaridade é permitir com que os
b) Trabalhar com a intertextualidade: alunos estabeleça diversas formas de
b.1) A intertextualidade são textos dialogando diálogos com as vastas áreas do saber,
com outros textos e com as experiências dos muitas vezes para o educador aquilo não fará
sujeitos; sentido algum, mas para o sujeito que está ali,
b.2) Um texto A conversando com o texto B faz muito;
dialogando com as experiências de vidas dos - Trabalhar com a interdisciplinaridade pode
alunos; e auxiliar o sujeito a voltar a gostar da
b.3) Aqui estaremos desenvolvendo um escola/educação formal;
trabalho fundamental que muitas vezes a - Muitos alunos chegam com hematomas na
educação formal não trabalha, a subjetividade educação não formal, por exemplo, alguns
do educando. estudantes acham chata a escola, não vêm
c) Trabalhos em grupos: sentidos. Porém, a articulação com os
c.1) Pode-se organizar os grupos, seja por diferentes campos do saber podem fazer com
meio de escolha dos próprios alunos, os que o aluno veja sentido em aprender e gosta
docentes os organizando, etc.; de explorar coisas novas;
c.2) O trabalho em grupo é fundamental, pois - Na educação não formal não devem existir o
ele irá auxiliar os alunos em estabelecimentos julgamento de valor, pois isso pode deixar os
de diálogos que permitam aos educandos sujeitos desmotivados;
trabalhar a criticidade, o debate saudável, etc.; - As políticas públicas brasileiras trabalham da
d) Pesquisar: alfabetização para o letramento, mas é
exatamente o oposto que deveria acontecer,
pois o letramento existe mesmo naqueles
sujeitos que não são alfabetizados;
- Trabalhando a interdisciplinaridade consigo
abarcar mais sujeitos e amplia os saberes do
pedagogo e permite a circulação de diferentes
saberes;
- Por permitir a circulação de diferentes
saberes permitimos aos alunos serem livres,
permitindo-os a ter várias interrogações,
interpretações diferentes e que
aparentemente pode parecer equivocada pelo
coletivo;
- Na educação não formal não existe
aprendizagem de maneira ampla se o sujeito
não permitir, não interpretar e não ser livre;
- Sem o pensamento livre para interpretar não
temos a construção de um sujeito
democratico; e
- Interpretar é fazer com que os sentidos
apareçam de diversas formas.

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