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Introdução
A escola como promotora da educação para e na cidadania é aquela
que se preocupa com uma proposta de ensino que constitui o sujeito
cidadão como um ser crítico, questionador, reflexivo e atuante na socie-
dade. Possibilitam-se assim aprendizagens que vão além do currículo
fragmentado, pautando-se na gestão democrática, na autonomia e na
criticidade.
Neste capítulo, você vai estudar sobre a função social da escola e
compreender quais os aspectos e as perspectivas que são necessários
para uma educação para e na cidadania. Além disso, vai conhecer es-
tratégias que possibilitam relações de cooperação entre escola, família
e comunidade.
Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve
organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo
de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do
conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da
compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente;
aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em
todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que
integra as três precedentes.
Contudo, para que todo esse trabalho seja significativo, é preciso que
haja, por parte dos profissionais da educação, uma constante reflexão sobre
a prática. Alarcão (1996) destaca que a reflexão-ação torna a prática peda-
gógica mais adequada aos objetivos visados e ao contexto social. Gadotti
(2000, documento on-line) complementa dizendo que a pedagogia da práxis
é uma pedagogia transformadora, pois oferece um referencial seguro nesse
momento de perplexidade. Freire (1996, p. 42) acrescenta que “[...] a prática
docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico,
dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”.
Portanto, é possível afirmar que, ao longo da história, a educação — a
escola, mais especificamente — assumiu e exerceu diferentes papéis na
busca pela qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Atualmente,
diante de tantas demandas que ultrapassam os conhecimentos formais, a
escola precisou rever a sua atuação, pautando as suas ações em práticas mais
humanizadoras, sociais, reflexivas, conscientes e democráticas. O ensino e
o trabalho, seguindo esse mesmo viés, também se modificaram, passando
a assumir um caráter mais participativo, desafiador e problematizador,
de maneira a valorizar as descobertas, a curiosidade, os questionamentos
e as opiniões dos envolvidos nesse processo. Para que todo esse trabalho
seja efetivamente concretizado, é preciso que ele esteja voltado à realidade
de cada escola e às suas particularidades, para que se criem estratégias
de aprendizagem que visem à formação da cidadania, à inserção em uma
sociedade democrática e à vivência de valores inerentes ao convívio social,
expandindo-se para além da instituição escolar.
Desse modo, a escola tem uma função ainda mais ampla: se a educação para
a cidadania acontece também fora dos espaços formais, cabe às instituições de
ensino vincular e adequar essas temáticas ao currículo proposto, integrando
saberes, problematizando situações cotidianas e levantando diferentes hipóteses
acerca da realidade vivenciada, com vistas à criação de novas relações de
convívio social e novos espaços de discussões, e ao estímulo do pensamento
crítico e questionador.
Considerando tais apontamentos, alguns conceitos surgem para definir
a importância de uma educação para e na cidadania. Entre eles, o da escola
cidadã — utilizado por Paulo Freire (1996) — luta pela superação das desi-
gualdades, visando o direito à educação.
10 A escola como promotora da educação para e na cidadania
Perrenoud (1995, p. 90), esses dois pilares — família e escola — são “[...] duas
instituições condenadas a cooperar numa sociedade escolarizada”.
Partindo desse preceito, é importante levantar algumas questões pertinentes
sobre a importância de essas duas instituições caminharem em paralelo, quando
o assunto é uma educação de qualidade. Porém, embora haja a necessidade
de se estabelecer uma parceria entre escola e família, ainda são muitos os
embates, as tensões e ambiguidades que permeiam essa relação.
Entretanto, antes de descrever como essas relações devem ser promovidas,
é importante apresentar o que diz a legislação sobre esse fazer conjunto entre
escola e família. A Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996, documento on-
-line), em seu Artigo 12, dispõe sobre as incumbências dos estabelecimentos de
ensino. Entre elas, destaca-se a apresentada no inciso VI, que diz que é tarefa
das instituições “[...] articular-se com as famílias e a comunidade, criando
processos de integração da sociedade com a escola”.
A escola, inserida em uma realidade específica, com sujeitos pertencentes
a esse contexto social, tem como tarefa estabelecer relações de cooperação,
interação e trabalho conjunto, promovendo ações que estejam voltadas à sua
própria comunidade. Esse trabalho pode ser promovido por meio de processos
democráticos de gestão educacional.
A gestão democrática enquanto ação conjunta deve fazer parte da rotina
escolar como um todo. Para que ela realmente aconteça de maneira eficaz,
é necessário que todos os envolvidos participem, argumentem, questionem,
sugiram e principalmente possibilitem o diálogo. Desse modo, a equipe gestora
deve executar, organizar, avaliar as ações e integrar os diferentes componentes do
segmento escolar, de forma que o grupo tenha maior autonomia para enfrentar as
mudanças com clareza, cooperação, interesse, confiança e participação de todos.
Lück (2012) destaca que entre alguns mecanismos de construção da au-
tonomia da gestão democrática está a formação de órgãos colegiados, que se
constituem por meio de Conselhos Escolares, Associação de Pais e Mestres,
Colegiados Escolares, entre outros. A autora ressalta que a criação de órgãos
colegiados tem como objetivo auxiliar na tomada de decisão, visando ajudar o
estabelecimento de ensino em todos os seus aspectos, por meio da participação
de pais, professores e funcionários.
Desse modo, uma das formas de aproximar as famílias das instituições de
ensino é a criação de tais órgãos. Para Lück (2012, p. 66),
[...] seu significado está centrado na maior participação dos pais na vida
escolar, como condição fundamental para que a escola esteja integrada na
comunidade, assim como a comunidade nela, que se constitui na base para a
maior qualidade do ensino.
12 A escola como promotora da educação para e na cidadania
Heloísa Lück (2012), em seu livro Concepções e Processos Democráticos de Gestão Educacio-
nal, apresenta quadros que registram alguns objetivos propostos por pais e professores
de escolas municipais de Pinhais, no estado do Paraná, para orientar o trabalho dos
membros do Conselho Escolar. Entre eles estão algumas ações de envolvimento dos
pais e da comunidade na escola (LÜCK, 2012, p. 68):
garantir livre acesso da comunidade à escola, a partir da criação de espaços de
atuação e participação;
promover melhor convívio entre escola e comunidade;
mobilizar a comunidade para participar de um movimento pela melhoria da qua-
lidade do ensino e da aprendizagem dos seus alunos, conscientizando-a da im-
portância efetiva de sua participação na escola;
promover a boa relação entre funcionários e comunidade;
promover a integração entre escolas, realizando atividades de intercâmbio, como
campeonatos e atividades diversas;
unir o grupo da terceira idade com as crianças para resgate de artesanato, histórias
locais e experiências de vida, entre outras atividades;
abrir a escola para a comunidade, tornando-a um centro de integração comunitária;
14 A escola como promotora da educação para e na cidadania
criar clubes de mães para que participem de projetos como trabalhos manuais,
pintura, confecção de cestos de jornais, bordados, etc.;
integrar as mães à escola por meio de atividades diversas;
promover atividades em que mães atuem junto com alunos em sala de aula, para
esclarecer questões sobre drogas, sexualidade, saúde, etc.;
ampliar a visão dos pais em geral quanto à importância da sua participação junto
a escola;
mostrar aos pais a importância do órgão colegiado escolar como representante
geral de toda a comunidade;
apresentar o Conselho para todos os outros pais em reuniões específicas;
conscientizar os pais da importância de estarem presentes na vida escolar de
seus filhos;
parabenizar os pais pelas realizações de seus filhos;
analisar com os pais o uso do uniforme, a sua importância e as condições que ele
oferece na educação de seus filhos.