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CURRÍCULO, DIDÁTICA E

PRÁTICAS AVALIATIVAS DO
ENSINO E DA APRENDIZAGEM
1. C
ONCEPÇÃO DE CONHECIMENTO, DIDÁTICA E PRÁTICA
DE ENSINO NA NOVA PROPOSTA
4
Historicidade 4
Novas Concepções 9

2. CARACT
ERÍSTICAS DO TRABALHO DOCENTE 12

3. ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO DOCENTE E OS
FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO 22

4. DUBET ENTRE
DOCENTES
27

5. REFERÊ
NCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31
03
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

1. CONCEPÇÃO DE CONHECIMENTO, DIDÁTICA E


PRÁTICA DE ENSINO NA NOVA PROPOSTA

Historicidade que educadores e educandos se


Jan Amos Comenius (1592-1670), na molestem ou abespinham-se,
obra Didática Magna (1651) relata as entretanto, ao contrário, passem a
primeiras interpretações a respeito
da didática como a “arte de ensinar”. ter uma grande alegria, seja em
Comenius (1651) reconhece o direito lecionar de forma sólida, não de
à educação e a importância da
Didática em relação ao ensino e ao modo superficial, de qualquer
aprendizado na vida de todo ser
humano (apud, BARBOSA E forma conduzindo por meio da
FREITAS, 2018). verdadeira cultura, aos bons
Olhando a distinção entre o costumes, a uma comiseração mais
ensinar e o aprender, vale apena profunda.
articular que nós ousamos Vejamos que a didática é
assegurar uma didática magna, isto protegida e estudada há muito
é, uma arte universal de lecionar tempo por díspares teóricos,
tudo a todos, assim, de ensinar a estudiosos e autores que
forma correta, para alcançar procuravam identificar e debater
resultados, de lecionar de forma sobre as diversas técnicas e
simples, deste modo sem
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metodologias de ensino existentes, ensinamentos e desenvolver


que teriam como um excepcional aptidões nos alunos.
fim o aperfeiçoamento da educação.
Damis (1988, p. 13), relata a evolução
da Didática em paralelo com a
história da educação quando diz:
Desde os jesuítas, passando por
Comênio, Rousseau, Herbart, Dewey,
Snyders, Paulo Freire, Saviani, dentre
outros, a educação escolar percorreu
um longo caminho do ponto de vista
de sua teoria e prática. Vivenciada
através de uma prática social
específica - a pedagogia -, esta
educação organizou o processo de
ensinar-aprender através da relação
professor aluno e sistematizou um
conteúdo e uma forma de ensinar
(transmitir- assimilar) o saber
erudito produzido pela humanidade.
Encontramos na histórica da Fonte: http://pt.slideshare.net
educação períodos em que se
difundiram novas tendências
educacionais que ficaram conhecidas Finalmente, o entendimento
como Teorias de Ensino; entre elas
cabe ressaltar a Pedagogia
lançado sobre a ação de lecionar
Tradicional, a Pedagogia Renovada, a caminhou, historicamente, dentro
Pedagogia Tecnicista e a Pedagogia
Crítica. Fazer um paralelo da do contexto de priorizar ora um ora
Didática com estas teorias se faz outro componente que compõe o
necessário, uma vez que a sua
historicidade ocorreu em conjunto ato de lecionar. A Pedagogia
com os acontecimentos de cada
período em que a educação se Tradicional desponta um momento
desenvolveu (apud, BARBOSA E em que a educação era
FREITAS, 2018).
especialmente de cunho religioso,
Desse modo, historicamente, que tinha como desígnio o trabalho
os conhecimentos adquiridos na de transcender a pessoa para trazer
arte de ensinar marcharam dando o melhor de si.
ênfase no ensino e a aprendizagem,
da transmissão de informações pelo
docente para a direção de
atividades para estimular o
aforismo e a reflexão do aluno, da
importância de planejar
contingentes de reforço, com o
desígnio de conseguir adquirir
maneiras específicas de
comportamentos, para regular
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Importância da didática no dia a dia e na sala de aula

Fonte: http://blog.maxeduca.com.br

Sua ênfase de ensino era de sobrepor necessárias ao trabalho docente”, que


a teoria à prática, o que colocava o “separa teoria e prática, sendo a
professor como centro do ensino, prática vista como aplicação da
“detentor do saber” e onde o foco era teoria, e o ensino como forma de
a exposição mecânica do conteúdo, doutrinação”. Esta concepção ainda
considerado por vezes enciclopédico. influência de maneira direta e/ou
Além do mais, os conteúdos eram indireta a forma de ensinar de muitos
separados das experiências do docentes. A Pedagogia Renovada
cotidiano dos alunos e não estavam ficou conhecida também como Escola
de acordo com as realidades sociais. Nova, que tinha como ideal educativo
Para Veiga (1989, p. 44), nesta o “aprender a aprender” partindo do
concepção “a Didática é pressuposto de que o importante é a
compreendida como um conjunto de aquisição do saber o que muitas vezes
regras visando assegurar aos futuros desqualifica o saber em si. De acordo
professores as orientações

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com Veiga (1989, p. 52), na p. 60-61): O enfoque do papel da


Pedagogia Renovada a Didática era Didática a partir dos pressupostos da
vista: [...] como um conjunto de Pedagogia Tecnicista procurou
ideias e métodos, privilegiando a desenvolver uma alternativa não-
dimensão técnica do processo de psicológica, situando-se no âmbito
ensino, fundamentados nos geral da Tecnologia Educacional,
pressupostos psicológicos ou tendo como preocupação básica a
pedagógicos e experimentais, eficiência e a eficácia do processo de
cientificamente ensino. [..] o processo é que define o
validados na experiência e que professores e alunos devem fazer,
constituídos em teoria, ignorando o quando e como farão. [..] Enfim, a
contexto sócio-político-econômico Didática é concebida como estratégia
(apud, BARBOSA E FREITAS, 2018). para o alcance dos produtos previstos
para o processo ensino-aprendizagem
Note que o conteúdo era (apud, BARBOSA E FREITAS, 2018).
flexível, aberto e espontâneo, pois
Desse modo, a função da
provinha do conhecimento
instituição escolar é de produzir
ordinário para alcançar ao
sujeitos para o mercado do trabalho,
conhecimento científico. O papel do
e ao docente termina por ter a
docente era o de mero secundário
responsabilidade de comunicar as
se indispensável fosse determinada
matérias, logo considerando por
intervenção, e esta era para auxiliar especialista como um “um ritual
o educando a reencontrar seu
vazio”, que aplica o sistema de
raciocínio. instrução que lhe é antecipado com
Note que diversos educadores o objetivo de garantir além disso o
ainda lecionam sob forte influência apropriado controle no
desta tendência pedagógica, visto comportamento mediante da
que é disseminada nas faculdades instrução.
nos cursos de licenciatura. Assim,
Logo, a Pedagogia Crítica
por conta da predominância da
aprecia a escola sendo parte
influência da Pedagogia Nova
integrante um contexto social
também na legislação educacional e
dentro de um todo, que procura a
nos cursos de desenvolvimento para
mudança da sociedade por meio da
o magistério, o docente termina por
democracia. Onde ela se recupera a
concentrar o seu ideário.
unidade da atividade educacional
A Pedagogia Tecnicista “se estrutura no interior do exercício social
na teoria da aprendizagem
behaviorista orientada por objetivos
pronunciando seus fatores teóricos
instrucionais pré-definidos e e materiais que se sistematizam na
tecnicamente elaborados” (Veiga,
1989, p. 58). A ela cabe o termo pedagogia arquitetada, do mesmo
“aprender a fazer” uma vez que o moto, como teoria e prática do
produto final do ensino é mais
importante do que o aluno e o ensino.
professor. Como afirma Veiga (1989,

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social. Os conteúdos ensinados aos


alunos são indissociavelmente a
Em Giroux (2005, p. 135), vamos realidade do meio social em que estes
encontrar o seguinte esclarecimento indivíduos estão inseridos, o que dá
sobre a Pedagogia Crítica: Está no significado real, humano e social ao
âmago da própria definição de que é ensinado. Saviani (1983, p. 83),
pedagogia crítica a vontade coletiva destaca que a perspectiva da
de reformar as escolas e de Pedagogia Critica “aponta na direção
desenvolver modos de prática de uma sociedade em que esteja
pedagógica em que professores e superado o problema de divisão do
alunos se tornem agentes críticos que saber”. Na Pedagogia Crítica
questionem ativamente e negociem a encontramos uma Didática
relação entre teoria e prática, entre a preocupada com o trabalho docente,
análise crítica e o senso comum e com a tarefa do ensino e com a
entre a aprendizagem e a aprendizagem do aluno (apud,
transformação BARBOSA E FREITAS, 2018).

Fonte: Slide share

Note que ainda, podemos escola novista, arguir a orientação


encontrar o consequente desmobilizadora do tecnicismo e
esclarecimento sobre a Didática readquirir os exercícios
Crítica: a qual procura superar o designadamente pedagógicos,
intelectualismo, protocolar do desprestigiadas adquirido pelo
enfoque tradicional, impedir as discurso reprodutivista.
implicações do espontaneísmo

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A Didática comprometida procura natureza/cultura, natural/artificial,


compreender e analisar a realidade vivo/inanimado, mente/matéria,
social onde está inserida a escola. Em razão/emoção,observador/observado
síntese, esta trajetória da Didática na ,subjetivo/objetivo,coletivo/individu
busca pela ressignificação, se al, animal/pessoa, etc. Este relativo
apresenta com características colapso de distinções dicotômicas
diversas, de acordo com os repercute nas disciplinas científicas
momentos históricos, políticos e que sobre elas se fundaram (Santos,
sociais. Inspirada pelas mais diversas B. S., 2000, p. 40). No paradigma
correntes, tendências e concepções emergente, o conhecimento é total,
pedagógicas, ainda é influenciada até tendo como horizonte a totalidade
os dias atuais, uma vez que a história universal. De natureza sistêmica, este
humana não para de reescrever-se e o novo entendimento sobre a ciência
conhecimento renova-se a cada procura desfazer as armadilhas da
momento (apud, BARBOSA E separação das ciências físicas das
FREITAS, 2018). humanas e sociais (da Física ou
Química da Psicologia, Sociologia ou
Biologia, por exemplo), buscando
alargar os horizontes da compreensão
Novas Concepções e integrar tudo aquilo que não tem
como existir desintegradamente. No
Em implicação do desafio já PPP da UFPR Litoral, a educação
como totalidade está anunciada da
demonstrado, ainda está assentada seguinte forma: Entende a formação
educacional como uma totalidade
no horizonte da evolução do projeto concreta, que se dá no conjunto das
a precisão de desenvolvimento de relações sociais e que se desenvolve a
partir das contradições que lhes dão
práticas de ensino que versem, movimento, portanto, não tem
especifiquem e concretizem a existência em si, mas somente a
partir da produção social de seus
ruptura epistemológica apregoada sujeitos [...] no conjunto das relações
sociais do mundo presente (UFPR,
em correlação às concepções de 2008a, p. 9-12) (apud, TREVISAN,
informação científica, práticas 2018).

pedagógicas e no assunto de De acordo com o que vimos,


ensino- aprendizagem esse modelo proposto está afinado
neste novo com uma compreensão de currículo
panorama. fundamentado no enfoque
Desse modo, criou-se a Hermenêutico-Deliberativo e,
obrigação de constituição de especialmente, Sócio Crítico.
experiências que, logo, Ao enfatizar a natureza sistêmica do
proporcionem o espaço para conhecimento, isto é, a relação
todo/parte, subjetivo/objetivo,
práticas e reflexão dos seguintes observador/observado, etc, de
maneira dinâmica, e não separando
princípios: um elemento do outro, apresenta
também a indissociabilidade entre
a) educação como totalidade: a partir teoria e prática. Por esse caminho
do paradigma emergente, a consegue compreender a realidade de
experiência ancora-se no maneira dinâmica e do ponto de vista
reconhecimento do conhecimento da totalidade concreta em que se
não dualista, que se funda na estabelecem as relações entre as
superação das distinções, tais como pessoas e o conhecimento na

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sociedade (apud, TREVISAN, 2018).


alcançar respostas e não levar o
Desse jeito, a proposta busca educando a pensar ou perguntar,
sobrepujar um tipo de ensino bem como é ironizado na charge a
dogmático atormentado por seguir:

Menino questiona o ensino dogmático, preocupado em dar respostas prontas

Fonte: Autores (2018)

Afora, esta proposta exibe características inovadoras de um


também as seguintes currículo exemplar emergente ou
características: que proporcione autonomia, na
a) interdisciplinaridade das áreas do medida em que estabelece um
conhecimento/formação profissional desenho de justaposição em meio a
integral: entende-se viável a partir da
formação discente pautada na crítica, teoria e prática e que pondera a
na investigação, na proatividade e na
ética, capaz de transformar a totalidade concreta e a
realidade. Segundo o PPP, A interdisciplinaridade como
organização da formação docente, ao
privilegiar a investigação/ação por componentes relevantes.
meio dos projetos de aprendizagem
possibilita ao educando o exercício da
construção da leitura da realidade
concreta. Esse exercício, mediado
pelos espaços dos fundamentos
teórico-práticos e das interações
culturais e humanísticas, no diálogo
com seus pares, professores e o meio
social, vai construindo as condições
objetivas viabilizadoras de sua
autonomia, aqui entendida como um
processo emancipatório (UFPR,
2008a, p. 9-12; apud; TREVISAN,
2018).

Notamos que nesta proposta


estão coevos as diversas
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2. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DOCENTE

Entender a profissão de
educador implica envolver a o aspecto de ser um trabalho
complexidade do processo de interativo.
ensino-aprendizagem, que compõe O ensino dirige-se a seres humanos
que são ao mesmo tempo seres
o centro. O ensino é um exercício individuais e sociais. Segundo Tardif
social concreto, diligente, (2002), o objeto do trabalho docente
são os seres humanos que possuem
multidimensional, interativo, características peculiares. O(A)
professor(a) trabalha com sujeitos
sempre incomum e aperiódico. que são individuais e heterogêneos,
têm diferentes histórias, ritmos,
É um procedimento que interesses necessidades e
afetividades. Isso torna as situações
sofre implicações de fatores de ensino complexas, únicas,
imprevisíveis e incabíveis em
econômicos, culturais, generalizações ou esquemas pré-
psicológicos, técnicos, políticos, definidos de ação. Além de individual
o objeto do trabalho docente é
éticos, estéticos, institucionais, também social. Sua origem de classe
e seu gênero o expõem a diferentes
afetivos. Podemos avultar como influências e experiências que
uma primeira propriedade do repercutem em sala de aula
provocando diferentes reações e
trabalho educador
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expectativas no(a) professor(a) e


alunos(as). Neste sentido, Tardif precisa motivá-los, sem paparicá-
(2002, p. 130) nos alerta que “o los; carece aferi-los, sem abandoná-
objeto do trabalho docente escapa
constantemente ao controle do los, etc.
trabalhador, ou seja, do professor.”
Outra característica destacada pelo
autor é a dimensão afetiva presente Lecionar é, assim sendo,
no ensino que pode funcionar como realizar escolhas firmemente em
elemento facilitador ou bloqueador do
processo de ensino aprendizagem plena influência mútua com os
(apud, PASSOS, s/a).
alunos. Ora, essas escolhas estarão
Logo, uma grande parte do sujeitas a experiência dos docentes,
trabalho educador é de cunho de seus conhecimentos, bem como
afetuoso, emocionalmente. suas convicções e culturas, de seu
Fundamenta-se em sentimentos, compromisso com o que realizam,
em afeições, na competência não de seus aspectos a respeito dos
estudantes e, concomitantemente,
apenas no pensar dos educandos,
dos próprios educandos.
todavia ao mesmo tempo de
perceber e compreender suas Por ser um trabalho interativo o
ensino exige um investimento pessoal
emoções, seus medos, suas do(a) professor(a) para garantir o
exultações, seus próprios envolvimento do(a) aluno(a) no
processo, para despertar seu
bloqueios sentimentais. interesse e participação e para evitar
desvios que possam prejudicar o
(Tardif, 2002, p. 130) Segundo o trabalho. É por esse motivo que
autor citado, pelas peculiaridades do Tardif (2002) afirma que a
objeto de trabalho docente a prática personalidade do(a) professor(a) é
pedagógica dos(as) professores(as) um componente de seu trabalho, o
consis-te em gerenciar relações que ele denomina de trabalho
sociais, envolve tensões, dilemas, investido, ou seja, no desempenho de
negociações e estratégias de interação seu trabalho o(a) professor(a)
(apud, PASSOS, s/a). empenha e investe o que ele(a) é
como pessoa. Aquilo que nos parece
ser a característica do trabalho
A título de exemplo, o docente investido ou vivido é a integração ou
precisa trabalhar com grupos absorção da personalidade do
trabalhador no processo de trabalho
(multidisciplinar), entretanto ainda quotidiano enquanto elemento
central que contribui para a
tem de se dedicar aos alunos; realização desse processo. (...) Nesse
precisa lecionar sua matéria, tipo de atividade, a personalidade do
trabalhador, suas emoções, sua
conforme os alunos conseguem afetividade fazem parte integrante do
processo de trabalho: a própria
compreender, pois, cada um vai pessoa, com suas qualidades, seus
assimilá-la de forma muito defeitos, sua sensibilidade, em suma,
tudo o que ela é, torna-se, de certa
diferente; necessita, desse modo, maneira, um instrumento de
agradar aos estudantes, entretanto trabalho. Nesse sentido ela é um
componente tecnológico das
sem que isso se decomponha em profissões de interação. Essa
tecnologia emocional é representada
favoritismo;

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por posturas físicas, por maneiras de


estar com os alunos. (Tardif, 2002, p. interatua com eles ao trabalhar esse
142; apud, PASSOS, s/a). conhecimento que submerge um
Logo, o autor distingue problema ético para cujo nem
também a dimensão ética do sempre exoneramos a devida
trabalho docente que submerge atenção.
assuntos como relações de poder,
juízos de valor, opções, veemências,
direitos e privilégios. O primeiro
assunto ético que o autor ergue diz
respeito a um fator já referido
antes, ao aspecto que trabalhando
com grupos, logo, o docente não
pode deixar de alcançar os as
pessoas.
Segundo Tardif (2002, p. 146), esse
problema nunca é resolvido de
maneira satisfatória do ponto de vista
ético, pois “os professores nunca
podem atender às necessidades
singulares de todos os alunos
assumindo padrões gerais de uma
organização de massa” (apud,
PASSOS, s/a).

Cada docente segue no seu dia


a dia as próprias estratégias de
atendimento diferenciado, de
repartição da atenção e
acompanhamento de seus
educandos, jazendo sempre atento
a essa articulação entre o individual
e o coletivo.

Outro assunto ético exibido


pela autora menciona-se a maneira
como o docente torna a ciência a ser
trabalhada acessível ao educando.
O docente possui uma propriedade
de conhecimentos diferente dos
estudantes, a maneira como
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10 Competências do professor moderno

Fonte: http://usandoticsnaeducacao.wordpress.com

As características apresentadas vividas, diferentes formas de ser e


permitem perceber o grau de estar no mundo e interesses diversos
complexidade que envolve o formando, assim, uma intrincada teia
desenvolvimento do trabalho de interações. Não podendo contar
docente, e compreender porque não com um conjunto de saberes estáveis,
se encaixa em saberes estáveis, instrumentais que lhes auxilie no
sistemáticos e instrumentais, desenvolvimento de sua prática, que
automaticamente aplicados às envolve questões de imensa
situações de ensino aprendizagem. complexidade, incerteza e
Entretanto o exercício da profissão singularidade, os (as) professores(as)
docente exige o domínio de apoiam-se em suas experiências
determinados saberes, é sobre estes pessoais e profissionais, nas suas
que trataremos a seguir: Os Saberes crenças e valores, criam, improvisam
Docentes no desempenho de seu e constroem saberes no
trabalho, nos quais professores e enfrentamento de situações únicas
professoras lidam com relações que exigem decisões e
interpessoais que são sempre únicas encaminhamentos únicos (apud,
eivadas de aspectos afetivos, PASSOS, s/a).
valorativos, psicológicos. Interferem
nessas relações elementos que
perpassam a existência de cada um Note que a competência do
dos indivíduos que participam do
grupo: culturais, familiares,
educador não é tanto uma técnica
religiosos, econômicos, experiências

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circunspeta por uma série de continuamente reconstruído a partir


de novos conhecimentos, novas
treinos fundamentadas em experiências e novas necessidades. É
conhecimentos concretos ou na um saber, segundo o autor citado,
existencial ligado, não apenas às
experiência e nem um simples experiências profissionais, mas
descobrimento pessoal. também à história de vida do(a)
professor(a) seu jeito de ser e de agir,
sua identidade. Nas palavras do
O docente não é um autor: Os saberes experienciais estão
enraizados no seguinte fato mais
especialista nem tanto um amplo: o ensino se desenvolve num
improvisador, entretanto sim um contexto de múltiplas interações que
representam condicionantes diversos
profissional que pode empregar o para a atuação do professor. Esses
seu conhecimento junto a sua condicionantes não são problemas
abstratos como aqueles encontrados
experiência e trabalhar dentro dos pelo cientista, nem problemas
técnicos, como aqueles com os quais
contextos pedagógicos com se deparam os técnicos e os
objetivos pré-existentes. tecnólogos (Apud, PASSOS, s/a).

Essa abrangência desvirtua a Vejamos que se tratando de


conclusão, como já demonstrado um cientista e o técnico, ambos
anteriormente, que o trabalho na trabalham a partir de exemplos e
docência é, em grande parte, seus condicionantes derivam da
confirmado por aquilo que o aplicação ou da preparação desses
docente é enquanto pessoa, pela modelos.
maneiro como ajuíza, opera seus Logo, em seu trabalho
valores, sua experiência e sua cotidiano em seu cargo, os
individualidade. condicionantes aparecem conexos a
Buscando caracterizar os saberes circunstâncias concretas que não
docentes, Tardif (2002) argumenta
que este é um saber experiencial que
são passíveis de acepções bem
o(a) professor (a) vai construindo, delineadas e que demandam
mobilizando, elaborando ao longo de
sua vivência profissional no improvisação e desenvoltura
enfrentamento das situações e pessoal, assim como a competência
problemas cotidianos. É um saber
interativo porque elaborado no de enfrentar circunstâncias mais ou
âmbito de interações com os outros
sujeitos envolvidos no processo de
menos efêmeras e mutáveis.
ensino-aprendizagem. É também um
saber plural já que não se Desse modo, lidar com
fundamenta num “repertório de
conhecimentos unificado e coerente, condicionantes e circunstâncias é o
mas sobre vários conhecimentos e que permite aos educadores
sobre um saber fazer que são
mobilizados e utilizados em função desenvolver os hábitos (ou seja,
dos contextos variáveis e
contingentes da prática profissional.” certas disposições alcançadas na e
(Tardif, op. cit. p. 109). Neste sentido
o saber docente mobiliza diversas
fontes de diferentes espaços e
tempos, sempre aberto e inacabado,
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pela prática legítima), que lhe não é um conhecimento formado


possibilitarão precisamente somente por experiência. É uma
enfrentar os condicionantes e ciência que versa em administrar a
misteriosos da profissão. informação disponível e ajustá-la
Os hábitos podem transformar-se taticamente ao contexto da
num estilo de ensino, em “macetes” circunstância formativa, em que
da profissão e até mesmo em traços
da “personalidade profissional”: eles pese, cada instante, se põe sem
se manifestam, então, através de um
saber-se e de um saber-fazer pessoais
perder de vista os desígnios
e profissionais validados pelo delineados.
trabalho cotidiano. (Tardif, 2002, p.
49). Compreender o ensino como
É um saber agir em situação. Mas não
prática social, vivenciada a partir de
se fique com uma ideia pragmático
interações pessoais, significa
funcionalista do papel do professor
reconhecer que sua abordagem não
na sociedade, porque o professor tem
se limita a um conhecimento preciso,
que ser um homem ou uma mulher,
objetivo e instrumental. Isso não
ser pensante e crítico, com
quer dizer que a profissão docente
responsabilidades sociais no nível da
não possa contar com um referencial
construção e do desenvolvimento da
teórico para fundamentar sua prática
sociedade. (Alarcão, 1998, p. 104).
pedagógica. Sacristán (1991, p. 87)
Pelas características apresentadas,
lembra que “A capacidade operativa
percebemos que o trabalho docente
do conhecimento e da investigação
se caracteriza pela pluralidade de
pedagógica na prática depende da
saberes e experiências para seu
possibilidade de o conhecimento
desempenho. Nossa ação docente se
ampliar a consciência dos problemas
confunde com aquilo que somos. Ao
educativos e dos modelos
se referir à cultura profissional
alternativos.” (Apud, PASSOS, s/a).
docente como um tecido de muitos
fios, uma cultura plural, Arroyo
Logo, a fundamentação (2000:199) afirma que ser
professor(a) “se mistura com o que se
teórica, se em esmera na interação pensa, sente, com autoimagens, com
com a prática começando pela possibilidades e limites, com
horizontes humanos possíveis como
reflexão sistemática sobre os gente e como grupo social e cultural.”
acontecidos, o qual oferecerá Levando em consideração que o
exercício da pro-
subsídios para expandir as fissão docente, não se descola da
subjetividade do(a) professor(a),
probabilidades de atuação refletida Nóvoa (1997) reforça a necessidade
do docente. Assim a conexão entre a da formação do(a) professor(a)
encontrar espaços de interação entre
teoria e prática estruma, enrica e as dimensões pessoal e profissional
oferece informações para a (apud, PASSOS, s/a).

superação da ação docente. Ao desconhecer essa


influência mútua, os cursos cujo
Logo, todo conhecimento
objetivo é formar professores
adquirido não será meramente
terminam não conseguindo
acadêmico, lógico, feito de aspectos,
executar esse processo de formação.
rudimentos e teorias, como ainda
Logo, o desenvolvimento pessoal é

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indispensável assim como o


desenvolvimento profissional, bem
como nas instâncias formativas que
possuem espaços a serem abertos
para essa compreensão.

Fonte: Slide share

Logo, a formação não se saber que o(a) professor(a) utiliza no


desempenho de sua profissão tem
arquiteta por acúmulo (de uma especificidade que exige uma
certificados, de conhecimentos ou formação inicial e continuada, não é
uma profissão que possa se
de técnicas), todavia, por meio de improvisar. Conforme vimos até aqui,
um trabalho de reflexivo e mesmo baseando-se em experiências
e em conhecimentos práticos, outros
autocrítica sobre as práticas e de conhecimentos interagem na forma
como o(a) professor(a) desenvolve
reconstrução constante de uma sua ação e enfrenta as questões
identidade individual. cotidianas de sua profissão (apud,
PASSOS, s/a).
Por isso é tão importante investir a
pessoa e dar um estatuto ao saber da Desse modo, a autora
experiência. (Nóvoa, 1997, p. 25). O menciona quatro maneiras de

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encarar a educação como trabalho matéria, sem lugar para uma


profissional: participação mais altiva do
estudante e para aperfeiçoar o
 O ensino como ofício
desenvolvimento de competências
composto de saberes práticos
mentais, desenvolturas,
adquiridos pela experiência;
competências, estimas, reflexões e
 O ensino como uma outras aprendizagens
derivação do conhecimento, isto é, indispensáveis para a formação do
como aplicação de uma ciência; indivíduo.
As relações professor(a) aluno(a)
 O ensino como uma arte que tendem a ser difíceis, hierarquizadas,
exprime a criatividade individual de marcadas pela ausência de diálogo,
elemento fundamental num processo
quem o realiza; formativo essencialmente interativo.
A avaliação limita-se a um processo
de atribuição de notas. Reduzindo o
 O ensino como um processo de ensino-aprendizagem à
empenhamento moral, sublinhando mera transmissão de conteúdo, o(a)
professor(a) deixa de perceber seu
a dimensão ética da atividade papel e do conhecimento trabalhado
docente (apud, PASSOS, s/a). na totalidade da formação do(a)
aluno(a), assim como sua relação
com o contexto social, assumindo um
Logo, essas reflexões aqui caráter fragmentado e pouco
significativo. Os aspectos afetivo e
exibidas possibilitam asseverar que ético não são considerados como
para ser educador não é suficiente a partes integrantes do processo. O(a)
professor(a) não toma consciência
propriedade de um determinado que ao desenvolver sua ação ela não
está circunscrita à apresentação dos
conteúdo. Esse entender conteúdos da disciplina. Sua postura,
reducionista da profissão educador sua forma de se relacionar com o
conhecimento que trabalha, com a
assinala para determinadas docência e com os estudantes, seus
dificuldades pedagógicas que valores, seus interesses e gostos são
também elementos formadores
separaremos a seguir. (apud, PASSOS, s/a).

Note que o processo de


ensino-aprendizagem é pensado
Logo, o trabalho educador
como adstrito à exibição de um
abordado dessa maneira
determinado contexto. A prática
deslumbrada deixa de ser olhado
educadora torna-se enrijecida,
em sua dinamicidade, em constante
repetitiva, desmotivante, invariável.
desenvolvimento, em interação com
O método empregado fundamenta-
as várias instâncias, sempre
se na exposição-assimilação da
incomum e aperiódico,

19
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA

demandando, deste modo, um


método de reflexão fido para uma
vestida de consciência em sua
complexidade, de suas
características e para a procura de
superação de suas plausíveis
limitações.
O(a) professor(a) que centra sua ação
docente apenas na transmissão-
assimilação de conteúdos não está em
sintonia com o cenário histórico atual
com suas características sociais,
econômicas, culturais, políticas e
ritmo acelerado de transformação,
que põem em xeque um processo de
ensino-aprendizagem pautado num
modelo conteudista. As
considerações aqui apresentadas
buscaram mostrar, sem a pretensão
de esgotar, algumas das
características do trabalho docente -
o ensino e dos saberes mobilizados
para o exercício da profissão. Buscou-
se enfatizar o caráter
multidimensional, dinâmico e
imprevisível do ensino para cuja
abordagem não é suficiente um saber
técnico-instrumental, teórico que
pode ser aplicado a situações modelo
(apud, PASSOS, s/a).

Por fim, ao contrário do


ensinado, trabalhar com o ensino
demanda um saber pluralizado,
atemporal, interativo, em fido
processo de construção, estabelece
do docente o poder de articulação
das díspares instâncias de seu
saber, de seu conhecimento
profissional e individual.

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CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA

3. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E OS


FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO

Note que o planejamento é um


método de sistematização e esquematizar, a tomar disposições
organização das atuações do que, em determinados períodos, são
docente. É um elemento da definidas por meio de
racionalização do trabalho improvisações; em outros, são
pedagógico que envolve a atividade deliberadas partindo de atuações
escolar com os teores do contexto antecipadamente organizadas.
social.

Assim, a ação de planejar se O que é planejamento?


faz presente em todos os períodos  É a definição de um estado
da vida humana. A toda ocasião em futuro desejado e de meios eficazes
que as pessoas são compelidas a para alcançá-los (Ansoff).

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CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA

 É um processo que  É o processo pelo qual as


estabelece objetivos, define linhas empresas conciliam seus recursos
de ações e planos detalhados para com seus objetivos e oportunidades.
atingi-los, determinando os É decidir no presente o que fazer no
recursos necessários a consecução futuro (Kotler).
destes objetivos.

Formal, escrito, longo prazo, análise da situação


Planejamento estratégico
passada, atual e futura, análise ambiental,
estruturado
determinação das forças e fraquezas.

Formal, escrito na forma do orçamento anual,


Planejamento operacional
plano de ação voltado ao controle da produção,
estruturado
custos e de pessoal.

Desenvolvido e implementado com base na


intuição e experiência de proprietário. Não é
Planejamento intuitivo escrita e encontra-se na mente do dirigente. É
de curto prazo e está relacionado ao objetivo do
proprietário e nas condições ambientais atuais.

Planejamento
Não há planejamento mensurável na empresa.
desestruturado

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CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA

Note que foram apresentados Processo que não planejamento


coletivo (que é nossa meta) envolve
determinados conceitos de busca de informações, elaboração de
planejamento propositalmente que propostas, encontro de discussões,
reunião de decisão, avaliação
nos leva a compreender seu permanente” (MST, 1995, p. 5).
significado. Assim, caro(a)
Planejamento é processo de reflexão,
aluno(a), exibirei a seguir de tomada de decisão [...] enquanto
processo, ele é permanente
determinados desses conceitos, (VASCONCELOS, 1995, p. 43).
esperando que serão (Apud, LARCHERT, s/a).
controvertidos e
Logo, conforme a professora
ressignificados por cada um no
Larchert, resumindo, o
período de organizar sua prática
planejamento consiste assim em
pedagógica.
uma tomada de decisão
O significado do termo sistematizada, prudentemente
‘planejamento’ é muito ambíguo, mas
no seu uso trivial ele compreende a organizada sobre o sistema
ideia de que sem um mínimo de
conhecimento das condições educacional, o estudante, a
existentes numa instrução, o docente, as matérias,
determinada situação e sem um
esforço de previsões das alterações as disciplinas, os teores, os
possíveis desta situação nenhuma
ação de mudança será eficaz e metodologias e métodos de ensino,
eficiente, ainda que haja clareza dos a organização administrativa da
objetivos dessa ação. Nesse sentido
trivial, qualquer indivíduo instituição escolar, conjuntamente
razoavelmente equilibrado é um
planejador [...]. Não há uma ‘ciência com a comunidade escolar.
do planejamento’ nem mesmo há
métodos de planejamentos gerais e Desse modo, o planejamento
abstratos que possam ser aplicados a
tantas variedades de situações sociais é circunspeto por díspares níveis
e educacionais principalmente se
considerarmos a natureza política, de organização. Portanto,
histórica, cultural, econômica etc. podemos ajuizar em superfície
(AZANHA, 1993, p. 70-78).
macro no Planejamento do
Planejamento é um processo de
busca de equilíbrio entre meios e fins, Sistema de Educação, que
entre recursos e objetivos, na busca satisfaze ao planejamento da
da melhoria do funcionamento do
sistema educacional. Como processo educação em esfera nacional,
o planejamento não corre em um
momento do ano, mas a cada dia. A estadual e municipal.
realidade educacional é dinâmica. Os
problemas, as reivindicações não têm Este planejamento elabora, incorpora
hora nem lugar para se e reflete as políticas educacionais. O
manifestarem. Assim, decide-se a planejamento global da escola
cada dia a cada hora (SOBRINHO, corresponde às ações sobre o
1994, p. 3). O funcionamento administrativo e
planejamento pedagógico e a pedagógico da escola; para tanto, este
organização do trabalho docente planejamento necessita da

Planejamento é um “processo de
tomada de decisão sobre uma ação.
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA
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CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA

participação em conjunto da constantemente avaliada (apud,


comunidade escolar. Nos dias atuais, LARCHERT, s/a).
em que o trabalho pedagógico tem
sido solicitado em forma de projeto, o
planejamento escolar pode estar Logo, o planejamento de aula
contido no Projeto Político
Pedagógico - PPP, ou no Plano de
organiza atuações indicativos aos
Desenvolvimento Escolar - PDE. O afazeres na sala de aula. É o que o
planejamento curricular é a
organização da dinâmica escolar. É docente organiza para o
um instrumento que sistematiza as desenvolvimento do ensino-
ações escolares do espaço físico às
avaliações da aprendizagem. O aprendizagem de seus educandos
planejamento de ensino envolve a
organização das ações dos
coerentemente trabalho com o
educadores durante o processo de planejamento curricular, com o
ensino, integrando professores,
coordenadores e alunos na planejamento escolar e com o
elaboração de uma proposta de planejamento de ensino.
ensino, que será projetada para o
ano letivo e

Níveis de planejamento educacional:

TIPOS CARACTERÍSTICAS
É o planejamento de maior abrangência,
correspondendo ao planejamento que é feito em
Planejamento Educacional
nível nacional, estadual e municipal.
(Vasconcellos, 1997, p. 13)
É o processo de tomada de decisões sobre a
dinâmica da ação escolar. É a previsão
Planejamento Curricular
sistemática e ordenada de toda a vida escolar do
aluno. Vasconcellos, 1997, p. 56)
É o planejamento global da escola, envolvendo o
processo de reflexão e decisões sobre a sua
Planejamento Escolar
organização, o funcionamento e a proposta
pedagógica. (Libâneo,1992,p.221)
Processo de decisão sobre a atuação concreta do
Planejamento de Ensino professor, em constante interação com seus
alunos. (Padilha, 2001, p. 33)
É o planejamento colocado no papel. Consta: o
Plano que se pensa fazer, como, quando, com que e
com quem fazer.
Produto do planejamento , trata-se do registro
Projeto das decisões mais concretas de propostas que se
deseja realizar.
Conjunto de um ou mais projetos de órgãos ou
Programa
áreas, com período de tempo definido.

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CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA

4. DUBET ENTRE DOCENTES

Note que uma primeira O que é uma escola justa? As


apreciação se alude ao fato de as desigualdades multiplicadas e
experiências educadoras serem Sociologia da experiência.
relativamente homólogas a de seus
alunos no que se refere ao quesito
motivacional. De acordo com
Dubet (1997), os docentes
delineiam seus afazeres como uma
“atividade profundamente
subjetiva, aonde se compromete
por completo sua personalidade.”

Mas, que é Dubet F.:

François Dubet é um
sociólogo francês, professor da
Universidade de Bordeaux II.
Escreveu várias obras consagradas
sobre a marginalidade juvenil, a
escola e as instituições. Entre elas: Fonte: Escola.gov

27
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA

Note que os docentes se


sentem revelados a um trabalho de projeto educativo envolto da
maneira especial individual que, do sacralização de costumes visto
seu modo, os compromete com como sendo universais: nação,
assuntos bem como: razão, disciplina, civismo, etc.

 Autoridade, Logo, a escola republicana


olha os educadores como
 Competências pedagógicas, sacerdotes, do mesmo modo que se
vê como um santuário intacto aos
 Poder de sedução tumultos e paixões do mundo. Por
conta dessa arrogância existencial,
 E sentido de justiça.
os educandários e seus delegados
Sendo assim, os docentes precisam socializadores não interrogam, por
modelar sua interação pedagógica e
sua constituição não está de todo diversas vezes, os problemas mais
definida pela função. Dubet assegura teatrais de sua atmosfera: o
que a personalidade dos docentes
tem que estar à frente destes que por racismo, a implicação ocupacional,
sua vez, não veem mais os alunos a violência, assim como diversas
como “receptáculos de
conhecimentos”. Nesse complexo maneiras de preconceito advindas,
túnel, entre a individualização e a
subjetivação do ofício, os professores lançadas ou convividas em seu
contrapõem uma forte identificação interior.
burocrática como forma de proteção.
Neste sentido, os professores
Durante todas as entrevistas, temas
vivenciam uma experiência dual que
polêmicos foram tratados com
opõe um forte compromisso subjetivo
monossílabos ou com silenciamentos,
no ofício a uma defesa rígida da
evidenciando a pouca vontade
burocracia. Já os alunos, por outro
docente de enfrentá-los. Ademais,
lado, contrapõem a vida juvenil à
nesse determinado período
vida escolar. Portanto, ambos os
republica- no, desenvolve uma
atores se situam na confluência de
concepção de educação em que a
identidades situadas em
obediência a uma disciplina racional
contraposição. Devido ao
institui a liberdade futura dos
processamento desta contradição, os
cidadãos. Dubet então apresen-ta
docentes desejam que a
uma reflexão
administração os proteja. Já os
transformado-ra: “A experiência dos
estudantes desejam que a instituição
docentes e alunos, suas formas de
lhes oferte uma vida juvenil
socialização devem ser consideradas
independente de sua vida escolar
como um processo de
(GODINHO, 2019).
desencantamento, de manifestação
da decadência do programa
Desse modo, foram institucional”. Estabelecido o
pressuposto, o pesquisador francês
apresentadas estas dicotomias aborda os passos para a
experimentadas pelos atores transformação desta realidade.
Conforme o autor francês, as razões
exibidos, Dubet considera que a para que esta nova realidade se
escola republicana transformou seu concretize - no que tange às ações
políticas dos professores e alunos são
as seguintes: a escola perdeu o
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA
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CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA

monopólio de arquitetar uma Este interessante debate pode


imagem ordeira do mundo,
especialmente em decorrência do ser conferido no livro: Sentidos do
tempo dedicado pelos alunos - na
vida social - aos meios de Trabalho Docente que disponibilizei
comunicação; a vocação se dá pela no Material Complementar.
realização de uma atividade prática e
não mais um dom; a própria
massificação; a concepção de
socialização feita pela/na escola se
transformou (GODINHO, 2019).
Materiais Complementares

Desse jeito, a decadência Links “gratuitos” a serem


educacional suscita em duas consultados para um
implicações: projeta a vivência acrescentamento no estudo do
escolar sen-do como o primeiro aluno de assuntos que não poderão
plano da vida escolar de seus ser abordados na apostila em
intérpretes, assim como sujeita uma questão:
fratura dramática, o colapso da
Sentidos do Trabalho Docente -
função socializadora da instituição
Livro
educacional.
Em caráter conclusivo, Dubet
Licenciatura_CienciaReligiao-
sintetiza os principais dilemas na Didatica-Curriculo-trabalho-
atualidade ao afirmar que a escola
alterou profundamente sua natureza Pedagogico. - Livro
sem assumir as consequências; o
colégio (refe-re-se à realidade
francesa sobre os tipos de
estabelecimentos educativos) nunca
escolheu verdadeiramente seu
estatuto de Escola para todos. Em
suma, a experiência dos alunos - e a
dos professores - é uma medida do
valor de uma escola, visto que esta
produziu desigualdade humilhando e
desarmando esses atores
(GODINHO, 2019).

Logo, o cenário dessa vez é


que esta produção não poderá ser
mais tolerada e estimulada, visto
que pari passu demuda a
autoestima destes atores. Dessa
forma, é um erro, de acordo com o
autor, confiar que o futuro da escola
se dê no contragolpe dos bons e
antigos métodos do passado.

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CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Flávia Aparecida dos Trabalho docente: características e
Santos E FREITAS, Fernando Jorge especificidades. UFC [s/a].
Correia de. A DIDÁTICA E SUA
CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO TREVISAN, Amarildo Luiz
DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR. Didática, currículo e trabalho
a Faculdade de Pimenta Bueno – pedagógico [recurso eletrônico] /
FPB, 2018. Retirado em: Amarildo Luiz Trevisan, Neiva
https://fapb.edu.br/wp- Vieira Trevisan. - 1. ed. - Santa
content/uploads/sites/13/2018/02 Maria, RS: UFSM, NTE, UAB, 2018.
/especial/3.pdf

DUBET, F. Quando o sociólogo


quer saber o que é ser professor.
Revista Brasileira de Educação. v. 5,
n. 6, p. 222-230, 1997.

, O que é uma escola justa?


Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 123,
p. 539-555, set./dez. 2004.

DUBET, F. A escola e a exclusão.


Cadernos de Pesquisa, n. 119, p. 29-
45, julho/ 2003.

GODINHO, Luís Flávio Reis


Sentidos do trabalho docente/Luís
Flávio Reis Godinho. - Cruz das
Almas/BA: UFRB, 2019.

LARCHERT, Jeanes Martins. O


planejamento pedagógico e a
organização do trabalho docente.
DIDÁTICA E TECNOLOGIA,
Unidade 3, UESC [s/a].

PASSOS, Carmensita Matos Braga.

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