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CORRENTES
CONTEMPORÂNEAS
SEBENTA DE:
LUÍS M. MONTEIRO
ANO 2011/2012
INTRODUÇÃO
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A Natureza Social
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De modo a expressar melhor esta transformação, Baudrillard desenvolveu um
conjunto de conceitos importantes para descrever estas mesmas mudanças.
Em particular, vê o mundo moderno em termos de uma série de simulações
por intermédio das quais tudo é uma representação de uma representação de
uma representação (Baudrillard, 1983b).
Esta explosão de sistemas representacionais significa que a noção tradicional
de social é completamente inadequada enquanto conceito capaz de explicar
esta revolução na comunicação.
Baudrillard tem consciência, por exemplo, da proximidade do fim do século e o
seu próprio trabalho reflecte uma mentalidade finissecular, a qual contém
uma componente profética.
A própria Sociologia Clássica foi moldada pelo fim de século oitocentista, a
partir do qual foi descoberto o social; pelo contrário, Baudrillard está
consciente do fim do social.
No final do século XX, a poluição global, a violência racial na Europa, as
epidemias globais e a instabilidade económica no sistema-mundo geraram
um profundo pessimismo acerca da Noção de Social.
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Em primeiro lugar, apela à distinção entre motivos e causas, devendo os
primeiros ser alcançados através da compreensão do significado da acção.
Em segundo lugar, vê as relações sociais como relações lógicas orientadas
por regras.
Os métodos concretos através dos quais o sentido da acção pode ser descrito
e compreendido constituíram a força peculiar da Antropologia Social, tendo
esta desenvolvido métodos de campo cujo propósito específico era a
interpretação de sentidos muitas vezes vistos do exterior como bizarros.
Por exemplo, o estudo antropológico da religião procurou explicar e
compreender as práticas religiosas e mágicas frequentemente vistas, pelo
Ocidente, como não racionais ou irracionais.
A Antropologia alcançou estes objectivos mostrando que a contextualização
da crença e da prática permitiam identificar o conteúdo de sentido racional ou
irracional das crenças e práticas num determinado contexto cultural.
O estudo de E. E. Evans-Pritchard sobre as crenças mágicas dos Achanti
constitui o exemplo clássico de uma abordagem antropológica das religiões
primitivas (Evans-Pritchard, 1937, 1965).
A consequência desta visão da teoria, enquanto descrição de significado,
sugeriu a um conjunto de teóricos sociais contemporâneos que a Teoria Social
é, na verdade, uma mera descrição das interpretações dos actores sociais
sobre as suas próprias práticas.
O resultado deste desenvolvimento no seio da Teoria Social é o facto desta se
ter tornado numa espécie de relato local e contextual do significado da acção,
assim como do seu sentido, para as comunidades indígenas.
Como resultado, a ideia de que a Teoria Social poderia assumir-se como geral
e universal foi abandonada.
Mesmo assim, continuam a existir algumas excepções (Skinner, 1985).
Na verdade, quanto mais local é a abordagem de um problema, mais rica é a
descrição.
A investigação antropológica tem-se mantido bastante céptica acerca da
Teoria Formal e das generalizações a partir da observação de culturas.
Neste sentido, os métodos de observação de campo adoptaram uma
abordagem fortemente relativista quanto à análise das práticas culturais e das
instituições sociais.
A Antropologia Cultural de Clifford Geertz (1972) foi recentemente
radicalizada pelos pós-modernistas, os quais defenderam que a Teoria
Social é, na verdade, uma forma de escrita que procura fornecer histórias
acerca de culturas e práticas locais, emergindo o sentido da acção a partir da
forma da própria história (Clifford e Marcus, 1986).
Existe uma distância muito curta entre esta posição e a sugestão de que a
teoria é, de facto, uma forma de escrita ficcional que reconstrói o sentido de
fornia imaginativa, em moldes de prosa cuidadosamente construída.
A ideia segundo a qual a teorização é uma forma de escrita foi bastante
difundida nos debates contemporâneos.
Produziu uma consciência sofisticada do estilo narrativo e da estrutura da
teoria enquanto forma de escrita (Bourdieu, 1990).
Estes desenvolvimentos na Antropologia mais radical e na Teoria Social
Pós-Modernista são indicativos da perda de confiança no projecto das
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Ciências Sociais, pelo menos no que respeita ao programa forte de
construção teórica.
Muitos teóricos sociais abraçaram várias formas de crítica literária como
técnica de desenvolvimento da investigação social ou, como também sucedeu,
adoptaram técnicas desconstrutivistas usadas por filósofos como Derrida
(1978).
Ann Game, no seu livro Undoing the Social (1991), ilustra bem esta forma de
abordar a Teoria Social.
O resultado destas contribuições indicia um interessante paradoxo que está
patente na Teoria Social Contemporânea.
Existem 2 Correntes Contraditórias e Opostas na Teoria Social.
Por um lado, existe o Pós-Modernismo, assente naquele que poderíamos
chamar o Paradigma Fraco da Teoria Social.
Por outro lado, a Teoria da Escolha Racional, a qual constitui um movimento
teórico influente no quadro das Ciências Sociais e que aderiu ao programa
forte de construção da Teoria Social.
Esta divisão levanta uma questão interessante acerca da possibilidade da
continuidade e acumulação da prática teórica.
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Tal como Terry Lovell observa, deram-se profundas mudanças de atitude, de
orientação e de análise entre a primeira, segunda e terceira vagas do
Feminismo.
Além disso, nos últimos anos, deu-se uma divisão significativa entre o
Feminismo protagonizado por intelectuais negras e a Teoria e Prática
Feministas realizadas por mulheres brancas nas sociedades industrializadas
mais avançadas.
Uma nova divisão pode vir a revelar-se importante: a que separa as
abordagens feministas modernas das abordagens pós-modernas.
Mais que avançar no sentido de uma maturidade teórica bem sucedida, temos
caminhado no sentido da diversidade e da fragmentação.
Um outro exemplo claro de descontinuidade pode ser ilustrado através da
História do Funcionalismo na Sociologia.
Diz-se muitas vezes que, durante os anos 1950 e 1960, o Funcionalismo foi o
Paradigma Teórico dominante na América do Norte.
Este predomínio do Funcionalismo esteve bastante ligado à carreira de
Talcott Parsons, embora a relação exacta entre a Sociologia Parsoniana e o
Funcionalismo continue a ser susceptível de debate (Robertson e Turner,
1991).
O Funcionalismo tem sido atacado por uma diversidade de escolas, desde a
Sociologia do Conflito, passando pela Etnometodologia, até ao Marxismo
(Alexander, 1987).
Parece ser certo que a perda de influência de Parsons acompanhou o declínio
do Funcionalismo enquanto Paradigma Teórico.
Na década de 1980, renovou-se o interesse pela Sociologia Parsoniana, algo
que proporcionou a emergência do chamado Neofuncionalismo, embora este
grupo não tenha conseguido produzir nenhuma Teoria Geral da Sociedade
(Alexander, 1985).
É possível concluir que tem havido uma acumulação teórica pouco significativa
no interior das várias tradições e que a Teoria Social se caracteriza mais pelas
modas e pela fragmentação do que pelo crescimento contínuo (B. S. Turner,
1989).
Talvez a única excepção a esta observação geral resida no crescimento teórico
do Interaccionismo Simbólico e da Teoria da Escolha Racional.
Claro que coexistem diferentes abordagens na tradição da Teoria da Escolha
Racional, tal como a Teoria das Trocas e a Teoria dos Jogos; no entanto,
todas elas partilham as asserções básicas da sua Teoria de Referência.
De forma semelhante, embora coexistam diferentes escolas de
Interaccionismo Simbólico, as suas asserções subjacentes permanecem
comuns.
O que é que poderá contribuir para a continuidade e acumulação da Teoria
Social ?
Uma resposta óbvia chega-nos da Sociologia do Conhecimento e da
Sociologia da Ciência.
A corrente dominante na Teoria Sociológica desenvolvida no século XX
parece apontar mais no sentido da fragmentação e divisão, e menos no sentido
da acumulação teórica bem sucedida.
Então, como devemos considerar a aparente continuidade do desenvolvimento
do Interaccionismo Simbólico e da Teoria da Escolha Racional ?
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A justificação destes dois casos parece prender-se com um certo número de
questões.
Em primeiro lugar, ambas as teorias partilham uma visão clara acerca de um
problema empírico que se expressa num nível de médio alcance.
A Teoria da Escolha Racional tem vindo a focar a sua atenção num problema
muito simples, ou seja, a natureza da acção racional em termos de
determinados conceitos como “o melhor interesse” e “os interesses
próprios”.
A expressão “muito simples” é usada aqui de forma deliberada, no sentido de
indicar o comprometimento da Teoria da Escolha Racional com a
simplificação das suas explicações, através duma série de conceitos básicos.
De facto, a Teoria da Escolha Racional centra a sua atenção na questão
problemática suscitada pelo carácter não racional de muitos comportamentos
do consumidor.
A continuidade da Teoria da Escolha Racional tem sido orquestrada por um
conjunto de tentativas no sentido de encontrar soluções para estas questões e
dilemas básicos.
A descrição fortemente idealizada por parte da Teoria da Escolha Racional
sobre a distribuição eficiente dos recursos escassos é, ao mesmo tempo,
simples e flexível: constitui uma ajuda poderosa para compreender os
processos distributivos no mundo real (Margolis, 1982).
O problema fundamental do Interaccionismo Simbólico tem sido a criação e
troca do simbólico na vida quotidiana.
Mais precisamente, tem-se preocupado em dar uma descrição satisfatória da
Noção de Interacção.
Este esforço teórico gerou um conjunto interessante de conceitos e abordagens
relacionado com a Natureza Social do Eu, a manutenção da Interacção
Social e os Problemas do Desvio.
Tanto o Interaccionismo Simbólico, como a Teoria da Escolha Racional
dispõem de um conjunto de critérios explícitos para identificar os avanços
teóricos.
Por exemplo, a Teoria da Escolha Racional tentou produzir conceitos que
fossem, a um tempo, simples e genéricos.
Ambas as tradições estão também concentradas num problema teórico central
de toda a Teoria Social, ou seja, a Relação Micro-Macro.
Por último, refira-se que ambas as tradições teóricas estiveram associadas a
uma tradição muito rica de investigação empírica.
Esta dimensão é particularmente evidente no caso do Interaccionismo
Simbólico que estabeleceu, através da Escola de Chicago, uma tradição de
investigação na área dos grupos ocupacionais e das carreiras.
Mais recentemente, o Interaccionismo Simbólico deu um enorme contributo à
Sociologia do Desvio e do Crime, através do desenvolvimento da Teoria da
Rotulagem, das Teorias do Estigma e dos Modelos de Comportamento
Desviante, como a Noção de Desvio Secundário.
Nos Estados Unidos, David Matza (1964) e Howard Becker (1963)
desempenharam um papel importante na Análise da Estigmatização, através
da introdução da Noção de Outsider e, na Análise das Carreiras
Desviantes, através do Conceito de Tendência Delinquente.
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Os Principais Problemas da Teoria Social
Uma crítica essencial levantada à Teoria Social é o facto de esta não ter sido
capaz de encontrar uma forma significativa ou genuína de resolver alguns dos
problemas fundamentais, das dicotomias e das perplexidades que têm
constituído questões permanentes da actividade teórica do século XX.
Em resumo, é difícil identificar progressos claros e inequívocos no seio da
Teoria Social; têm sido descobertos novos tópicos, enquanto velhos
problemas são abandonados.
Existe pouco consenso em relação àquilo que a Teoria é, ou àquilo que
constitui o progresso teórico.
Em consequência, a Teoria pode ser vista como uma estrutura lata capaz de
organizar e ordenar a pesquisa, ou como uma colecção de conceitos gerais
que são úteis na orientação da investigação ou, ainda, como uma orientação
específica capaz de dirigir o investigador para problemas e questões bem
conhecidas.
Há, neste sentido, pouco consenso sobre aquilo que a Teoria Social é, ou
sobre o que poderá vir a alcançar.
Os últimos Desenvolvimentos no Feminismo e no Pós-Modernismo vieram
apenas acrescentar mais desordem à confusão e incerteza já existentes.
É também óbvio que a Teoria Social tem ainda de resolver algumas
Dicotomias Clássicas que caracterizaram o Campo da Teoria, em particular
as Tensões e Contradições entre Acção e Praxis, Acção Social e
Estrutura, Abordagens Micro e Macro, para além da Dicotomia Básica entre
Indivíduo e Sociedade.
Embora Ira Cohen apresente uma descrição bastante favorável da Teoria da
Estruturação, tenho sido céptico em relação aos que defendem que a versão
particular de Anthony Giddens sobre a Teoria da Estruturação resolve, de
facto, ou até mesmo supera, muitos dos problemas clássicos entre a Acção
Social e a Estrutura (Smith e Turner, 1986).
Talvez as possibilidades de resolver a Tensão entre as Abordagens Micro e
Macro sejam mais prometedoras.
A intenção da Sociologia da Acção Weberiana era, obviamente, que esta se
erigisse desde a descrição básica da acção, da acção social e da interacção,
até às instituições e estruturas sociais mais vastas.
O Conceito de Tipo-Ideal fazia parte desta estratégia, no sentido de realizar
uma Macrossociologia fundada em Proposições Micro, relacionando-as com
formas de Acção Racional, Tradicional e Afectiva.
A Teoria da Acção Voluntarista elaborada por Parsons respondia a um
desígnio ou objectivo similar, tendo sido construída desde o Conceito de Acto
Unidade até chegar à Teoria dos Sistemas Sociais.
Este fracasso na resolução de alguns problemas básicos da aparelhagem
conceptual da Teoria Social pode ser evocado como uma das razões para a
sua contínua fragmentação, diversidade e incoerência.
A Teoria Social é propensa a um constante ciclo de modas e caprichos, por
intermédio do qual os teóricos sociais reinventam continuamente a sua
utensilagem teórica.
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Esta renovação de interesse ultrapassou largamente as descrições da
chamada Tese da Ética Protestante; traduziu-se numa Abordagem
Weberiana dos Conceitos de Personalidade, Ordens de Vida e Mundo
Social, Sociologia Económica e Estratificação, Sociologia do Estado e
Sociologia Comparada da Religião.
Mais recentemente, emergiu um Forte Interesse Weberiano pelo Papel do
Estado e do Poder no Desenvolvimento do Capitalismo Tardio.
Mais uma vez, quanto a este ponto, discordo da tendência de Giddens para
rejeitar a contribuição de Weber para a Sociologia, considerando-a
ultrapassada e obsoleta devido ao facto de Weber ter alegadamente
equiparado o Conceito de Estado-Nação ao de Sociedade.
Na minha perspectiva, Weber não se enquadra nas várias críticas à
Sociologia Clássica esboçadas por Giddens em The Consequences of
Modernity (Giddens, 1990).
Weber parece ter tido uma visão clara da importância da Globalização e a sua
ambiguidade e incerteza a respeito da Modernização prefiguram, de certa
forma, grande parte do debate vivido em torno da Pós-Modernização (Turner,
1992).
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desafia muitas asserções sociológicas tradicionais sobre a estabilidade e
regulação crescentes da Sociedade Moderna.
O Conceito de Racionalização de Weber, o Conceito de Sociedade
Administrada proveniente da Escola de Frankfurt e o Conceito de Processo
Civilizacional de Norbert Elias, todos têm implícita a noção de que a
Sociedade Moderna se tornará Mais Regulada, Mais Normalizada, Mais
Rotineira e Mais Administrada.
Ritzer, recorrendo à Sociologia de Weber, verificou que a aplicação de
Técnicas Administrativas, tal como a aplicação do Taylorismo e do
Fordismo, produziram uma regularização e padronização da vida quotidiana
no contexto da Sociedade Moderna.
Este Conceito de Sociedade Administrada parece ser contraditado pela
ênfase de Beck na Desregulação, na Incerteza e no Acaso.
É possível reconciliar estas duas abordagens sobre a Sociedade Moderna
sugerindo que, enquanto o Ambiente Macro da Sociedade se torna cada vez
mais incerto e irregular, o Mundo Micro, ou o Mundo Quotidiano, é, na
verdade, sujeito a Processos de Padronização e Regularização.
É evidente que a Desregulação da Economia e da Política tiveram um
impacto significativo sobre a Vida Quotidiana, mas há uma Solidez e
Facticidade importantes no Quotidiano que desde há muitas décadas têm
sido observadas por sociólogos (Berger e Luckmann, 1967).
Pelo facto dos Seres Humanos serem Biologicamente Inacabados (ou seja,
serem Instintivamente Abertos e Ambientalmente Adaptáveis), as
Sociedades Humanas têm necessidade de criar um Ambiente Cultural para
substituir ou complementar a Estrutura Instintiva Elementar dos Seres
Humanos.
Este “Guarda-Chuva Sagrado” (Berger, 1969) actua como uma salvaguarda
importante contra determinados Processos, tais como a Anomia e a
Incerteza.
É ainda mais interessante o facto de Berger ter postulado uma pluralização
significativa das esferas pública e privada à medida que a vida da Sociedade
Moderna se torna mais Complexa, Fragmentada e Diversificada.
A Urbanização e os Mass Media tiveram um impacto considerável na
consciência contemporânea, facilitando este Processo de Pluralização.
Neste ambiente, os Seres Humanos são forçados a comprometer tempo e
esforço para a realização da noção subjacente de plano de vida.
Berger defende que “a biografia de um indivíduo é apreendida por si como
um projecto arquitectado. Este projecto inclui a formação da própria
identidade. Por outras palavras, num plano de vida de longo alcance, o
indivíduo não só planifica o que vai fazer, como também o que vai ser ”
(Berger, Berger e Kellner, 1973, Pág. 71).
Berger e os seus colegas de trabalho defenderam que a Identidade Moderna
é peculiarmente Diferenciada, Reflectida e Individualizada (Págs. 73-5).
Tal visão da Modernidade está, na verdade, muito próxima da versão de
Giddens sobre o Lugar do Indivíduo na Sociedade Contemporânea, já que
Giddens defendeu que a Modernidade envolve Reflexividade e, neste
contexto, o Eu torna-se um Projecto.
As concepções de Berger sobre a Destradidonalização parecem ter aberto o
caminho para estas formas subsequentes de análise.
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No entanto, é importante notar que a visão da Modernidade enquanto
Processo Reflexivo foi exposta por Berger, pelo menos há 20 anos atrás.
Esta referência é aqui apresentada como mais um exemplo do Problema da
Moda e da Descontinuidade na Teoria Social, onde a busca de originalidade
parece necessitar de um constante enfraquecimento da acumulação e da
continuidade na construção da Teoria.
Uma dificuldade acrescida ao Desenvolvimento Contínuo da Teoria no
século XX o conflito permanente e persistente entre a Teoria Social Norte-
Americana e a Teoria Social Europeia.
Os Teóricos Sociais Europeus olharam muitas vezes para a Filosofia Social
e Teoria Social Americanas como um Modo Simplista, Positivista, ou
mesmo Idiota de Teorização Social, enfatizando, por contraste, a sofisticação
filosófica e a profundidade das formas de abstracção europeias no quadro da
Teoria Social.
Esta Tensão, ou Conflito, entre a Tradição Empírica Americana e a
Filosofia Social Europeia remonta, pelo menos, à década de 1930 e à
tentativa de Parsons para introduzir o trabalho de Weber, Durkheim e Pareto
nas instituições académicas norte-americanas (Parsons, 1937).
O Conflito foi ainda agudizado com a Migração da Escola de Frankfurt para
a América, onde autores como Horkheimer, Adorno e Marcuse
desenvolveram, de forma consciente, uma forma de especulação teórica
destinada a diferenciá-los da tradição americana de Empirismo e
Pragmatismo (Fleming e Bailyn, 1969).
A ascensão e a importância da Sociologia de Parsons têm de ser
compreendidas neste contexto de Conflito Internacional sobre o Estatuto da
Teoria Social.
O colapso do Parsonianismo deixou a Teoria dos Sistemas produzida por
autores como Jurgen Habermas e Niklas Luhmann numa posição de domínio
triunfante.
Depois de Parsons, nenhum Sistema Geral Americano emergiu para
competir com a Filosofia Crítica de Habermas ou com a Análise dos
Sistemas de Luhmann.
A Reunificação da Alemanha e o Colapso do Comunismo Organizado
sugerem que a Teoria Social Europeia pode mais uma vez recrudescer,
evoluindo para uma nova forma de dominação no Desenvolvimento
Internacional da Teoria Social.
Estes Confrontos Nacionais dificultam o estabelecimento de uma Coerência
Global, ou Geral, da Teoria Social num contexto de Conflito Cultural e
Político.
Por fim, é necessário ter em conta a Dimensão Moral da Teoria Social.
A Teoria Social Clássica baseou-se na hipótese de que a Civilização
Capitalista transformaria de forma radical não só as Estruturas Sociais, mas
também os Sistemas Morais, as Personalidades e as Mentalidades dos
Seres Humanos, em detrimento de si própria.
A Teoria Social Clássica adoptou, tipicamente, uma visão pessimista e
nostálgica da Mudança Social, por intermédio da qual a Coerência das
Comunidades Tradicionais se fracturaria e destruiria com o Crescimento
das Classes Sociais e da Diferenciação Social.
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Tal como já verificado, esta visão do mundo foi importante na distinção de
Ferdinand Tonnies entre Comunidade e Associação.
Na Teoria Social Contemporânea, esta Posição Comunitarista foi seguida e
desenvolvida por autores como Alisdair Mclntyre, numa série de publicações
onde a Moral e a Teoria Social são combinadas para produzir uma visão
poderosa acerca do Problema dos Valores na Sociedade Moderna.
As Grandes Questões Morais do século XXI andarão, provavelmente, em
torno da Tecnologia, do Ambiente e do Corpo Humano.
As mudanças actuais na Ciência Médica, especificamente na Área da
Tecnologia Reprodutiva, têm levantado questões da maior importância
acerca da Natureza do Corpo e da sua relação com a Identidade Humana.
Não deve surpreender que a Sociologia do Corpo tenha emergido como um
dos mais importantes focos da análise contemporânea (O'Neill, 1985; B. S.
Turner, 1984; Shilling, 1993).
A Poluição do Ambiente e a Transformação Rápida das Possibilidades
Tecnológicas levantaram questões acerca do Estatuto de Habitabilidade do
Universo e do problema de criar e defender Estruturas Sociais Habitáveis.
Nesta área, o trabalho de Pierre Bourdieu distingue-se como uma enorme
contribuição para o Pensamento Social do século XX.
Bourdieu debruçou-se sobre a maior parte das questões que ocuparam a
Teoria Social do nosso século, propondo um vasto conjunto de contribuições
teóricas, novos conceitos e uma gramática conceptual para dar conta da
Relação entre Corpo e Habitus, Poder Económico e Cultural, Indivíduo e
Sociedade.
Bourdieu arquitectou um programa de Investigação Empírica em torno da
Noção de Capital Cultural (Bourdieu, 1979), de uma visão particular da
construção da Teoria (Bourdieu, 1990) e de um comprometimento com o
Debate Político (Bourdieu, 1991).
Enquanto o Crescimento do Pós-Modernismo é visto, muitas vezes, como
um inimigo deste tipo de debate, a verdade é que o Pós-Modernismo levanta
questões importantes de Ordem Moral relacionadas, em particular, com o
Problema da Diferença.
Tal como Roy Boyne (1990) apontou, o trabalho de Jacques Derrida e de J.F.
Lyotard lida, de Facto, directamente com as Questões da Justiça Social, do
Terror e da Violência.
A tentativa de Zygmunt Bauman no sentido de Desenvolver uma Abordagem
da Moralidade Pós-Moderna é indicativa do potencial existente neste campo
particular (Bauman, 1993).
Claro que a possibilidade da Teoria Social poder dar uma contribuição para o
domínio público através de Análises Sociais e Morais é algo que depende,
em última instância, de um Conjunto de Factores Sociais Materiais, tais
como a Continuidade da Universidade, a Viabilidade do Papel Social do
Intelectual, a Natureza das Publicações e o Papel do Estado no Apoio à
Actividade Académica.
Nenhuma destas condições pode ser prevista com absoluta certeza, mas pode,
assim se espera, criar um ambiente propício à Continuidade e ao
Desenvolvimento da Teoria Social no século XXI.
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I - ORIGENS
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Em muitos aspectos, a Sociologia pode ser entendida como um comentário
crítico sobre as limitações da Teoria Económica, em particular com referência
ao Conceito de Racionalidade (Sica, 1988).
Um exemplo disto é a Centralidade do Problema da Religião no trabalho de
Durkheim, Weber e Simmel.
Os sociólogos defenderam que os Valores e Práticas Religiosos não podiam
ser explicados pelas Teorias Utilitaristas da Racionalidade.
Holton identifica também uma Divisão, ou Diferença, importante que separa a
Abordagem da Sociedade praticada pelos Estudos Europeus, daquela
praticada pelos Norte-Americanos.
Enquanto estes últimos foram profundamente influenciados pelo Reformismo
Social, pelo Pragmatismo e pelo Empiricismo, a Teoria Social Europeia
operou muito mais no Contexto da Filosofia Pós-Hegeliana e Pós-Kantiana.
Estas diferenças têm persistido ao longo de grande parte do século XX.
Esta relação entre Economia e Sociologia foi bastante evidente no caso da
Teoria Social Marxista, tendo sido frequentemente interpretada como um
Determinismo Económico.
As Concepções Marxistas das Relações e Forças de Produção deram
relevo à Ideia do Modo Económico de Produção como o aspecto
determinante da Sociedade como um todo.
No entanto, Marx criticou bastante a corrente dominante da Teoria
Económica, pelo menos tal como esta foi desenvolvida por Adam Smith,
Jeremy Bentham e J. S. Mill.
Marx considerava grande parte da chamada Teoria Económica como uma
mera expressão de uma Visão Capitalista ou Burguesa da Realidade, Visão
esta que era, na verdade, uma descrição da Alienação dos Seres Humanos
nas Relações Sociais.
O Pensamento Marxista foi crítico na medida em que procurou desmascarar e
evidenciar muitos dos pressupostos da Teoria Económica Burguesa.
Nesta sua crítica à Teoria Económica, o Marxismo acabou por sucumbir a
uma divisão entre o Marxismo Científico e o Marxismo Humanista
(Satterwhite, 1992).
A Relação entre o Marxismo enquanto Movimento Social e enquanto
Sistema de Pensamento, gerou sempre uma Relação Problemática e
Paradoxal com a Sociologia.
A Sociologia, em particular e tal como foi desenvolvida por Max Weber, foi
muitas vezes considerada como um debate realizado sob o Fantasma de
Marx.
A História da Sociologia costuma ser escrita como se os sociólogos se
preocupassem essencialmente em encontrar uma Visão Alternativa da
Sociedade e da Economia, de forma a distinguir a Sociologia enquanto
Ciência, do Marxismo enquanto Ideologia Política.
A Visão da Relação entre o Marxismo e a Sociologia é, no entanto, bastante
exagerada e, em muitos aspectos, ilusória (António e Glassman, 1985).
Por exemplo, Weber adoptou muitas das ideias básicas de Marx e aplicou- as
à Análise Comparada das Religiões e ao Desenvolvimento Capitalista, ao
Status e à Classe Social, tal como à Análise do Poder e do Estado.
Na Sociologia Britânica do Pós-Guerra, o Desenvolvimento da Sociologia
do Conflito, por parte de John Rex (1981) e Ralf Dahrendorf (1959),
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dependeu do Legado Marxista, pelo menos enquanto Teoria dos Interesses
de Classe Conflituantes no Quadro do Capitalismo.
É necessário não esquecer, também, que o Marxismo se transfigurou ao longo
do século XX.
Goran Therborn, dá-nos uma visão ampla da Evolução do Pensamento
Marxista através de Escolas como a de Frankfurt ou o Marxismo-Austríaco.
O Marxismo do século XX prestou uma atenção crescente aos Problemas da
Superestrutura, em particular à Cultura, à Estética e à Filosofia das
Ciências Sociais.
Por último, é importante sublinhar o facto da Teoria Crítica ir muito para além
do Marxismo.
As Questões Filosóficas e Teóricas, em especial o Legado de Kant e Hegel,
dominaram o Desenvolvimento da Sociologia em particular.
Os teóricos sociais têm-se preocupado com a Natureza Problemática das
Ciências Sociais e a sua Relação com a Ciência Natural.
Estes temas são retomados por William Outhwaite, através de uma discussão
sobre a Filosofia das Ciências Sociais.
Neste domínio, a Sociologia tem-se confrontado com um Problema
Fundamental: se deve ser considerada como Arte ou como Ciência.
Estas Tensões entre Orientações Artísticas e Científicas são ilustradas pela
divisão que foi elaborada à volta dos contrastes entre os Processos de
Interpretação e os de Explicação.
Os teóricos sociais têm-se envolvido numa discussão permanente sobre as
diferenças entre a Compreensão dos Fenómenos Sociais e o Encontro de
Explicações Causais para esses mesmos Fenómenos.
Um problema específico dos leitores ingleses neste debate é que o termo
inglês para Ciência se refere, de forma típica, a uma Concepção Ampla de
Actividade Científica em termos de Métodos Experimentais.
Na Alemanha, o Conceito de Wissenschaft indica uma Moção muito mais
ampla, compreensiva e subtil acerca da natureza de um Inquérito Sistemático
e da sua Organização.
Na tradição germânica, o Estudo Científico das Religiões é tão científico
como o Estudo Científico da Natureza.
William Outhwaite também reflecte o facto de a Ciência Natural se ter
modificado radicalmente durante o século XX, em parte como consequência de
mudanças fundamentais na nossa forma de compreender o tempo e o espaço.
Em boa verdade, a Ciência não fornece Critérios Fixos, Firmes e Imutáveis
daquilo que constitui a Actividade Científica Real.
CAPÍTULO 2
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legitimidade da sua Soberania e, sempre que se revelou necessário, a ter
defendido de forma explícita.
À semelhança de muitas oposições, também o Marxismo já teve a sua dose
de Poder.
No entanto, os Períodos em que passou pelo Governo limitaram-no em
termos de Atractividade e Criatividade, tendo antes originado Dúvidas e
Desilusões, à medida que se alimentava no Pragmatismo do Poder.
O Marxismo é, apesar de tudo, a Principal Manifestação da Dialéctica da
Modernidade, tanto num Sentido Sociológico, como Teórico.
Como Força Social, o Marxismo foi um fruto legítimo do Capitalismo
Moderno e da Cultura Iluminista.
Para o bem e para o mal, correcta ou erradamente, os Partidos, os
Movimentos e as Correntes Intelectuais Marxistas tornaram-se, durante
pelo menos cem anos, no Período compreendido entre o final do século XIX e
o final do século XX, na mais importante Forma Teórica capaz de dar conta
das Ambiguidades da Modernidade: afirmando, por um lado, os Aspectos
Progressistas e Positivos do Capitalismo, da Industrialização, da
Urbanização, da Alfabetização de Massas, de uma Atitude voltada para o
Futuro, em vez de para o Passado ou de com os Olhos Baixos, Presos no
Presente; e, por outro lado, denunciando a Exploração, a Alienação
Humana, o Consumismo e a Instrumentalização do Social, as Falsas
Ideologias e o Imperialismo, inerentes ao Processo de Modernização.
O Liberalismo e o Racionalismo Iluminista, incluindo, mais recentemente, a
Democracia Social Pós-Marxista e o Conservadorismo Pós-Tradicional,
têm-se constituído em Apologias da Modernidade e não têm levantado
Questões Críticas acerca da Ciência, da Acumulação Capitalista, do
Crescimento e do Desenvolvimento.
O Conservadorismo Tradicional, Religioso ou Secular, preparou-se a si
próprio contra os Aspectos Negativos da Modernidade.
A Tradição Intelectual Nietzscheana, desde o próprio Nietzsche até Michel
Foucault, tem vindo a atacar a Modernidade a partir de uma posição de
Autodefinida Exterioridade, como se de uma Perspectiva Fora da Lei se
tratasse.
Um número significativo de Movimentos Cristãos ou (num grau muito menor)
de Democratas Islâmicos, de Fascistas e de Populistas Terceiro-
Mundistas também tem, de variadas formas, tentado combinar os Elementos
da Modernidade com os da Antimodernidade.
No seu conjunto, os Marxistas encontravam-se sozinhos quer quando
saudavam a Modernidade (e a forma como esta destrói a carapaça da Idiotia
Rural e dissipa os fumos do Ópio do Povo), quer quando a atacavam.
É que, na verdade, o Marxismo defendia a Modernidade de olhos postos
numa outra Modernidade Mais Desenvolvida.
O Marxismo era pois uma Teoria que não só suportava esta Dialéctica da
Modernidade, como também sustentava a sua prática.
A Teoria Marxista centrava-se na Ascensão do Capitalismo, enquanto
estágio progressivo do Desenvolvimento Histórico, bem como nas suas
Contradições ou, por outras palavras, na forma como o Capitalismo permite a
Exploração de Classes, na sua tendência para viver Situações de Crise e na
sua capacidade para Gerar Conflitos entre Classes.
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A Dialéctica Marxista, depois de ter visto as suas principais linhas esboçadas,
em traços largos, no Manifesto of the Communist Party (Marx e Engels, 1848),
também prestou, logo desde o início, atenção ao Género e à Questão
Moderna da Emancipação Nacional.
“A Primeira Classe de Antagonismo”, escreveu Friedrich Engels (1884
[1972, p. 69]), na sua obra The Origins of Family, of Private Property and the
State, é a que surge entre o homem e a mulher, “a Primeira Submissão de
Classe” é a da mulher em relação ao homem.
Uma das obras do Movimento Trabalhista Marxista mais difundidas, foi a
obra Woman and Socialism, de August Bebel (1883).
Bebel, era o Líder do Principal Partido Comunista, o Partido Social-
Democrata Alemão (O Movimento Trabalhista Marxista inicial, especialmente
na Europa Central, ocupava um importante número de mulheres em posições
de destaque, o que, para a altura, constituía um feito único: Angélica
Balabanoff, Kata Dalstrom, Alexandra Kollontay, Anna Kuliscioff, Rosa
Luxemburgo, Henriêtte Roland-Holst, Vera Zasulich, Klara Zetkin, etc. A Social-
Democracia Marxista foi também o Primeiro Movimento Masculino a bater-se
pelo Direito das Mulheres ao Voto).
Como analistas políticos apaixonados, Marx e Engels acompanharam de perto
os Desenvolvimentos da Política Nacional do seu tempo, embora a maior
parte dos seus trabalhos sobre esta matéria não tenham passado de meros
escritos circunstanciais.
Todavia, de finais da década de 1860 em diante, estes autores começaram a
centrar a sua atenção numa problemática de alcance mais amplo, ao tentarem
compreender como é que a Opressão, exercida por uma determinada Nação
sobre Outra, influenciava a Luta de Classes em ambas.
O caso concreto estudado foi o da Inglaterra, o País Capitalista rnais
avançado no seu tempo.
Nas conclusões do estudo que realizaram, Marx e Engels defendem que o
Advento de uma Revolução Social naquele País seria algo Impossível, sem
que antes houvesse uma Revolução Nacional na Irlanda.
Os Marxistas dos Impérios Multinacionais, Austro-Húngaro e Russo,
perceberam rapidamente que teriam que dedicar mais atenção ao Conceito de
Nação e à forma como este se relaciona com o de Classe Social.
No entanto, a Visão Estratégica e as Práticas Políticas que associam o
Marxismo e o Conflito entre o Capital e o Trabalho ao Anticolonialismo e a
Outras Formas de Luta pela Autodeterminação Nacional, foram, em
primeiro lugar, desenvolvidas numa série de artigos escritos produzidos pouco
antes da Primeira Guerra Mundial por Vladimir Lenine e posteriormente
consolidadas no estudo que este mesmo autor realiza no decurso da Guerra,
intitulado Imperialism (1917).
A leitura de Marx e Engels, como Dialécticos da Modernidade, representa a
expressão de um Período em que a Teoria Social Crítica afirma a sua
autonomia em relação à Teoria Económica e no qual, acima de tudo, o próprio
Valor da Modernidade é problematizado, partindo da Perspectiva da “Pós”,
em vez de da Pré-Modernidade.
Embora esta não tenha nunca sido teorizada ou integrada no Cânone Marxista
Clássico, há uma Concepção da Modernidade que atravessa o pensamento
de Marx.
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Agarrar, ao mesmo tempo, nos dois cornos da Modernidade (o Emancipador
e o Explorador), tem sido uma tarefa intrinsecamente delicada, mais
facilmente assumida pelos intelectuais, do que por aqueles que têm
responsabilidades políticas concretas.
Por conseguinte, encontramos na Tradição Marxista uma certa propensão
para a Ambiguidade, na sua prática da Dialéctica da Modernidade.
Na Segunda Internacional (1889-1914) e na posterior Tradição Social-
Democrata, verifica-se uma tendência para ofuscar progressivamente a
Negatividade com uma Concepção Evolucionista dos Poderes Crescentes
e Equilibradores dos Sindicatos, dos Partidos Operários e da sua influência.
Em contrapartida, a Terceira Internacional (1919-43) e a Tradição
Comunista subsequente centram-se na Negatividade e nas suas
contingências, através da Denúncia Sistemática dos males crescentes do
Capitalismo e da adopção de uma visão da súbita Reviravolta
Revolucionária.
A corrente puramente intelectual da Teoria Crítica ou, como é também
designada, a Escola de Frankfurt, enfatizava a Contraditoriedade e a
Negatividade da Modernidade, sem fazer qualquer Promessa Utópica de um
futuro melhor.
23
Qualquer que fosse a legitimidade da genealogia intelectual e o mérito do seu
uso, existia então, na Academia Marxizante, uma separação clara entre
Estilos e Estratégias Cognitivos, expressa nos tipos ideais de Gouldner.
Este último, porém, atribuirá à Crítica um significado e um papel mais limitado
do que aquele que lhe tinha sido atribuído antes, embora a sua obra The Two
Marxisms represente mais um momento da Tradição Crítica, do que a
Tradição propriamente dita.
O século XX constitui um período dificilmente comparável àquilo que foi o
Iluminismo, o qual, de acordo com Immanuel Kant e muitos outros, foi: “A
Verdadeira (Eigentliche) era da Crítica”.
No entanto, o lugar da Crítica na Teoria Social Contemporânea pode ser
mais facilmente compreendido, através de uma abordagem do posicionamento
original da Teoria Crítica, isto é, como elemento de Unificação Teórica de um
brilhante grupo de judeus alemães, exilados em Nova Iorque nos finais da
década de 1930.
Enquanto Conceito, a Noção de Teoria Crítica é definida em 1937 por Max
Horkheimer.
O significado desta expressão decorre da Concepção Reflexiva e
Autoconsciente do ponto de vista filosófico, de uma Crítica Dialéctica da
Economia Política (Horkheimer, 1937a [1988, Pág. 180n]; 1972).
Enquanto Conceito-Chave no interior do círculo de Horkheimer, o qual mais
tarde virá a ser conhecido como Escola de Frankfurt, a Noção de Teoria
Crítica vem substituir a de Materialismo.
O colaborador intelectual mais próximo de Horkheimer, Theodor W. Adorno,
escreverá mais tarde que a transformação daquela expressão não pretendeu
tornar “o Materialismo aceitável, mas sim dar a conhecer aos homens aquilo
que o distingue” (1966 [1973, p. 197]).
Isto parece provável, uma vez que a posição de Horkheimer em relação ao
Verdadeiro Mundo Burguês era bastante mais intransigente em 1937 do que
em 1932.
No início, a Teoria Crítica funcionava mais como um código de leitura do
Materialismo Dialéctico do que como uma Crítica do mesmo.
Contudo, quarenta anos mais tarde, Herbert Marcuse, defendeu que “mais
perto do fim, a Teoria Marxista foi a força integradora” (Habermas, 1981, vol.
2, p. 197).
A Teoria Crítica, por oposição à Teoria Tradicional (exposta, pela primeira
vez, no Discours de Ia Méthode (1637), de Descartes e incorporada nas
Disciplinas Especiais [Fachwissenschaften]), demarcava-se, antes de mais
nada, da Divisão Intelectual do Trabalho e, portanto, de todas as Formas de
Concepção Teórica existentes tanto nas Ciências Sociais como nas
Ciências Naturais, fossem elas Empíricas ou não.
Trata-se, portanto, de um “Posicionamento Humano [menschliches
Verhalten] que tem na própria Sociedade o seu Objecto” (Horkheimer, 1937ª
[1988, p. 180]; 1972).
A vocação do Teórico Crítico “é o Combate ao qual o seu Pensamento
pertence” (p. 190).
A Teoria Crítica é “um Juízo Existencial único e elaborado” (p. 201).
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Embora os teóricos críticos se recusem a desempenhar um papel na Divisão
do Trabalho, tal como esta lhes é dada a conhecer, eles não se posicionam
acima ou fora das Classes.
Entre eles e as Classes Governadas existe uma União Dinâmica, apesar de
essa União existir apenas sob a forma de Conflito.
O Processo de Transformação Social pode ser acelerado através da
Interacção entre o Teórico e a Classe Social.
A tarefa da Teoria Crítica é, pois, contribuir para a Transformação do Todo
Social, que só ocorrerá com uma intensificação dos Conflitos Sociais.
Assim, a Teoria não oferece nenhum melhoramento a curto prazo, nem mesmo
qualquer tipo de Realização Material Gradual (pp. 192-3.)
Apesar de tudo, a Teoria Crítica é uma Doutrina caracterizada pela
Conceptualização Formal, pela Lógica Dedutiva e pela Referência à
Experiência.
Não se trata, pois, nem de uma Teoria Hostil à Investigação Empírica, nem
sequer desinteressada por ela.
No centro da Teoria Crítica, enquanto Teoria, está o Conceito Marxista de
Troca, a partir do qual se desenvolverá, para lá da Europa, a “Verdadeira
Sociedade Capitalista Globalizante” (p. 201).
Este Conceito é, “em muitos lugares”, reduzido a um certo Economicismo, o
que não significa que o Económico seja considerado como algo
excessivamente importante, mas sim que este é um Conceito frequentemente
encarado de um modo bastante Estreito e Limitado.
O Processo de Formação Social (Vergesellschaftung), se é que está a
ocorrer, precisa de ser analisado não só em Termos Económicos Restritos,
mas também de uma forma que leve igualmente em consideração o
Funcionamento do Estado e o Desenvolvimento dos “momentos essenciais
da Verdadeira Democracia e Associativismo” (Horkheimer, 1937b [1988,
pp. 222-3]).
“Seria errada [...] uma Transformação Gradual dos Conceitos Económicos
em Conceitos Filosóficos. Muito pelo contrário, são antes [...] os Objectos
Filosóficos Relevantes que se desenvolvem a partir do Contexto
Económico” (Marcuse, 1937 [1965, p. 102]).
Poderá ser pertinente comparar de forma breve a Teoria Crítica na sua Forma
Clássica, com uma outra Formulação Radical relativa ao Lugar e Uso do
Conhecimento Social.
As Preocupações e a Perspectiva Sociopolítica de Longa Duração do
filósofo alemão (Horkheimer) e do sociólogo norte-americano (Robert Lynd)
são, em muitos aspectos, semelhantes.
Tal como Horkheimer, também Lynd adopta uma Posição Crítica
relativamente às Modalidades de Divisão Académica do Trabalho, criticando
a Tendência Empírica das Ciências Sociais para tomar as Instituições
Contemporâneas como dados adquiridos.
Lynd pretende orientá-las para o Estudo “daquilo em que os Actuais
Protagonistas Humanos dessas Instituições se esforçam por as
Transformar” (1939, Pág. 180, ênfase omissa), isto é, para o Estudo das
Transformações Institucionais.
O sentido de tais Transformações, com o qual Lynd se compromete, é
também semelhante ao que Horkheimer lhes atribui: a Expansão Decisiva da
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Democracia, não apenas no Governo, mas também na Indústria e noutras
Áreas da Vida e a Substituição do “Capitalismo Privado” (Pág. 220).
Todavia, a Linguagem e a Forma de Pensar a que este autor recorre, são
bastante diferentes das de Horkheimer.
Lynd não se apoia numa Tradição Teórica, argumentando em vez disso a
partir das Questões Empíricas do dia.
A sua Concepção Pragmática da Ciência Social (“a Ciência Social
sobreviverá ou perecerá em função do seu Carácter Serviçal em relação aos
Homens que lutam pela sobrevivência” [Pág. 177]), é vista por Horkheimer
com um céptico franzir de sobrancelhas (Horkheimer (1947 [1991, p. 184]) fez
um breve comentário crítico acerca das Visões Pragmáticas da Ciência e da
Religião desenvolvidas por Lynd, embora reconhecesse a sua (de Lynd)
Orientação (Gesinnung) “Genuinamente Progressista”).
A sua Perspectiva Histórico-Crítica não se baseia tanto nas Noções de
Exploração e de Classe (apesar de defender que as Classes e os Conflitos
de Classe deveriam ser Objecto de uma muito maior atenção por parte dos
Cientistas Sociais Norte-Americanos), mas antes numa espécie de
Antropologia do “Desejo Humano”, enquanto Medida Comparativa na
Avaliação das Instituições existentes (Págs. 192 e segs.).
O Socialismo de Lynd não constitui um argumento para a Defesa do
Conflito, apresentando-se, antes, como uma Hipótese de que o Capitalismo
“não funciona e, provavelmente, nunca poderá ser posto em funcionamento de
uma forma que nos garanta a Quantidade Geral de Bem-Estar (e
Prosperidade) que o presente estado das nossas Competências Técnicas e
Inteligência nos faz merecer” (Pág. 220).
Depois de Lynd, a Linguagem Crítica Original, típica do Radicalismo Norte-
Americano, encontra o seu mais característico e influente desenvolvimento no
trabalho de C. Wright Mills, The Sociological Imagination (1959).
As 3 Questões Básicas dessa imaginação, abordadas por Mills com a
Autoconfiança e a Frontalidade óbvias do Artesão do Novo Mundo, eram
as mesmas que as que se encontravam implícitas na maior parte das
Reflexões produzidas pela Escola de Frankfurt: “Qual é a Estrutura de uma
Determinada Sociedade, encarada como um Todo ?”, “Qual o Lugar que
essa Sociedade ocupa na História da Humanidade e quais são os
Mecanismos por intermédio dos quais ela se Transforma ?” e “que
Variedades de Homens e de Mulheres Predominam nessa Sociedade e
nesse Período ?” (1959 [1967, Pág. 6]).
Adorno, Horkheimer, Marcuse e outros teóricos críticos teriam, com certeza,
desdenhado, com repulsa, a Noção de um simples Mecanismo da
Transformação Histórica, mas não havia nenhuma interpretação especial da
História do Mundo associada à vigorosa prosa de Mills.
No entanto, os teóricos críticos acalentavam outros interesses para além da
Teoria Social, devendo acrescentar-se ainda que tais interesses incluíam a
Teoria do Conhecimento e a História da Teoria.
Em 1961, a Associação Alemã de Sociologia propôs o Confronto entre um
outro Conceito de Crítica (ainda mais Elaborado e Fundamentalmente
Antagónico) e a Teoria Crítica então existente.
Para tal convidou, então, Karl Popper para realizar uma palestra acerca da
Lógica das Ciências Sociais, tendo Adorno como comentador.
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O encontro formal entre os dois foi polido e educado, no entanto, para grande
desagrado de Sir Karl (Popper, 1984a), este acabou por originar uma viva
controvérsia na Alemanha que ficou conhecida por “Positivismusstreit” (a
Controvérsia do Positivismo) (Adorno et al, 1976).
Popper, que rejeitava o rótulo de Positivista, apresentou aí o seu ponto de
vista de Criticista, desenvolvido em torno de uma Visão de Método Científico
que consistia na “Experimentação de Tentativas de Solução” para
Problemas, soluções controladas através da “mais incisiva das Críticas”
(Popper, 1962 [1969, Pág. 106]).
Popper atacou, assim, de forma explícita, uma Concepção da Ciência
Indutivista e Naturalista, reconhecendo o valor que um Método de
Interpretação da Lógica da Situação teria para as Ciências Sociais (Pág.
120).
Surpreendentemente, enquanto Pensador Dialéctico, Adorno encontrou
(1962 [1969, Págs. 125, 128]) na Posição Crítica de Popper muitas coisas
com as quais concordava.
Com efeito, a argumentação por ele desenvolvida constituiu mais uma reflexão
adicional acerca das teses de Popper do que a exposição de uma Série de
Antíteses das mesmas.
Isto, porém, não limou as suas características arestas críticas (O contraste
entre o Diplomático Isolamento de Adorno e a Arrogância de Popper é visível
na renúncia de Adorno a fazer quaisquer ataques pessoais, quer na sua
introdução de 1969, quer no seu Korreferatde 1961. No final deste último,
Adorno refere uma correspondência anterior à reunião, na qual Popper deve ter
dito que a diferença entre ele e Adorno poderia ser a de que ele, Popper,
acreditava que viviam no melhor dos Mundos, enquanto Adorno não. Entre
afirmar que as Falhas da Sociedade eram sempre difíceis de julgar e que ele
era igualmente hostil a uma Teoria acabada, Adorno admitia que lhe era difícil
aceitar que não tinha havido melhor época do que aquela que gerara Auschwitz
(Adorno, 1962 [1969, pp. 41-2]). Popper, mais tarde, profere uma série de
invectivas, que se podem resumir da seguinte forma: “[Adorno] não tem
absolutamente nada para dizer e di-lo em Linguagem Hegeliana” [1984b, Pág.
167]).
A principal divergência entre Adorno e Popper tinha que ver com o Objecto
do Criticismo ou da Crítica (em Alemão é utilizado o mesmo termo para
exprimir estas 2 Noções).
Para Popper, o Objecto da Crítica seriam as Soluções Propostas para os
Problemas Científicos, enquanto para Adorno o Criticismo deveria estender-
se à Totalidade da Sociedade.
De acordo com este último, só para uma Teoria capaz de Conceptualizar uma
Realidade Social Diferente é que a Sociedade Contemporânea se pode
tornar num Problema Real.
E “apenas através do que não é, se revelará a si própria tal como é e isso,
presumo eu, é no que se torna uma Sociologia que não se limita, tal como na
verdade sucede com a maior parte dos seus Projectos, a cumprir Objectivos
de Administração Pública e Privada” (Pág. 142).
A Dialéctica da Teoria Crítica desenvolveu-se para lá da Crítica Marxista da
Economia Política.
27
Durante a 2ª. Guerra Mundial, Horkheimer abandona o seu projecto de
escrever um importante Tratado de Dialéctica e, em vez disso, em conjunto
com Adorno, reúne uma colecção de ensaios e fragmentos que intitula
Dialectic of the Enlightenment (1944).
O tema desses ensaios estabelece o tom intelectual da Escola de Frankfurt
do Pós-Guerra, nomeadamente, a Autodestruição do Iluminismo, escrito
com base no Compromisso de Recuperação do Iluminismo (Horkheimer e
Adorno, 1946 [1987, p. 597]; 1972).
Este Projecto foi visto como uma Extensão do Marxismo, mas a
interpretação que Friedrich Pollock faz do Fascismo, como sendo um
Capitalismo de Estado, do qual o Estalinismo era também uma Variante,
tendeu, durante algum tempo, a remeter as Clássicas Categorias
Económicas Marxistas para segundo plano.
O último grande trabalho de Horkheimer, The Eclipse of Reason (1947),
centrou-se na Crítica da Razão Instrumental.
Depois da Guerra, quando Adorno se tornou no principal Teórico Crítico, “die
verwaltete Welt” que, com o seu timbre trágico, pode ser muito pouco
musicalmente traduzido para o inglês corno The Admmistered World (O
Mundo Administrado), torna-se num Conceito Central para a Teoria Crítica.
Freud e a sua Crítica Cultural foram igualmente incorporados nesta Teoria
depois do final da Guerra, alcançando essa incorporação a sua mais elaborada
expressão na obra Eros and Civilization, de Herbert Marcuse (1955).
No entanto, o Cordão Umbilical que ligava a Crítica Marxista à Crítica
Económica Pré-Marxista nunca foi totalmente cortado, pesem embora as
fracas expectativas de se obterem quaisquer Resultados Dialécticos
Positivos a partir desta ligação.
A Crítica Marxista proporcionou a Marcuse o ponto de partida e a base para a
sua Crítica da Ideologia da Sociedade Industrial (1964).
Ela esteve presente na polémica entre Adorno e Popper e de uma forma
ainda mais evidente, no último trabalho publicado por Adorno, as suas lições
de Introdução à Sociologia feitas na Primavera de 1968.
Nestas, Adorno baseou-se também no trabalho de C. Wright Mills, para
censurar aqueles que permaneciam agarrados às Concepções Dominantes
da Sociologia Convencional, esquecendo a Análise dos Processos
Económicos (Adorno, 1993, Págs. 237-8).
Entretanto, Jurgen Habermas, por um lado assistente e protegido de Adorno
e, por outro, sucessor de Horkheimer na Cadeira de Filosofia e Sociologia
da Universidade de Frankfurt, já se encontrava a trabalhar procurando
separar o Projecto Crítico da Economia Política Marxista.
Por trás destes Novos Desenvolvimentos Filosóficos encontravam-se as
Transformações do Capitalismo que conferem Novos Papéis à Política, à
Ciência e à Tecnologia.
Assim, Habermas substituiu os Conceitos Marxistas de Forças e de
Relações de Produção (os Conceitos-Chave da Teoria de Marx relativa à
Dialéctica Social), pelos de Trabalho (que tanto envolve a Acção
Instrumental, como a Escolha Racional) e de Interacção Simbolicamente
Mediada ou, Acção Comunicativa.
Neste sentido, Habermas abandonou a Contradição Sistémica, a que se
referem os Conceitos Marxistas, substituindo-a, primeiro, por uma Distinção
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entre Diferentes Tipos de Acção e de Interesses de Conhecimento e,
depois, pelo Conflito entre o Sistema Social e o Mundo do Quotidiano.
Apesar de algumas pretensões de legitimidade que podem ser consideradas
válidas, Habermas nunca se viu a si próprio, não se apresentou, nem tão-
pouco permitiu que outros o apresentassem como Herdeiro da Teoria Crítica
ou como um sucessor da Escola de Frankfurt.
Para além disso, ele continuou sempre a praticar a Teoria Social Crítica de
um género mais lato “sem Reservas, de um Modo Autocorrigido e
Autocrítico” (Habermas, 1985b [1992, Pág. 212]).
Ao mesmo tempo, uma Defesa Crítica da Modernidade permaneceu central
na sua prática (Habermas, 1985a; 1992b).
Assim, Histórica ou Sociologicamente, há uma afinidade entre Marx e
Habermas que atravessa longitudinalmente todas as Diferenças Teóricas que
possam existir entre as suas obras.
Habermas não só quebrou os laços que mantinha com a Crítica da Economia
Política, mas também com os discursos dos seus predecessores.
Abandonou a “Fragmentária” Essaistik destes últimos, em prole de
Confrontos Críticos mais elaborados e com outros modos de pensar.
A sua Concepção da Racionalidade Comunicativa e da Comunicação Livre
de Dominação, constitui uma tentativa para estabelecer as Bases Normativas
da sua própria posição crítica, algo com que Adorno, Horkheimer e Marcuse,
por se encontrarem encostados à Tradição Clássica do Idealismo Alemão,
nunca se preocuparam (veja-se Habermas, 1979 [1992, Pág. 56]).
A Teoria Crítica baseia-se na Recepção Filosófica, na Reflexão
Aprofundada e na Reelaboração da Crítica da Economia Política de Marx,
inscrevendo-se no quadro dos traumáticos acontecimentos ocorridos entre
1914 e 1989: a Chacina da 1ª. Guerra Mundial que acabou com a Alta
Cultura da Belle Époque; o Fracasso da Revolução no Ocidente e o seu
Imperfeito Nascimento na Rússia; a Grande Depressão; o Fascismo com a
correspondente Institucionalização e Racionalização do Massacre
Organizado que origina o Holocausto; o Aparecimento das Organizações
Globais; a 2ª. Guerra Mundial; e a Unidimensionalidade da Guerra Fria.
No seu tom individual próprio, a Teoria Crítica exprime uma Forma de
Reflexividade Radical perante o Processo de Desenvolvimento da
Modernidade Europeia.
A Teoria Crítica regressou à superfície, em particular na Alemanha Ocidental
e, mais tarde, nos Estados Unidos (tal como a Original Teoria Crítica), com
Novos Traumas, tornados visíveis pelos Meios de Comunicação de Massas,
decorrentes das Revoltas Anticolonialistas e das Sublevações Estudantis
que se sucedem à Expansão Universitária do Pós-Guerra.
O seu acolhimento foi marcado por uma especial ironia, ao reunir uma Jovem
Geração, caracterizada pela Esperança Revolucionária, a uma Outra Mais
Velha que erguia a Derrota da Revolução contra toda a Esperança.
A afinidade estabelecia-se com as Correntes Académicas Radicais
Americanas que, desde sempre, tiveram muito menos razões práticas para
acreditar na Esperança do que os seus Camaradas Europeus.
Para estes últimos, quer as Práticas da Classe Operária e dos Movimentos
Trabalhistas, quer as que viriam a ser guiadas pelas Novas Vanguardas em
Construção, auguravam mais Promessas do que Críticas.
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Presentemente, neste 2º. Fin de Siècle, o Momento de Frankfurt voltou.
As palavras de Adorno (1966 [1973, Pág. 3]) encontram-se bastante mais
próximas do Espírito Radical de 1994 do que do de 1968: “A Filosofia, que
em tempos se afigurou Obsoleta, continua viva porque se deixou escapar o
momento da sua Realização. O Julgamento Sumário em que esta é acusada
de se ter limitado a Interpretar o Mundo [...] tornou-se num Derrotismo da
Razão, depois de terem abortado as suas tentativas para Transformar o
Mundo”.
Para as pessoas dos anos 1990, a Crítica da Crítica levada a cabo na
Sagrada Família, no início da década de 1840, pode parecer mais próxima,
Intelectual e Emocionalmente, do que a Crítica da Economia Política
Marxista posterior.
Os Problemas levantados por Bruno Bauer, a “Questão Semita”, “o Bom
Lado da Liberdade” e “Estado, Religião e Partido” parecem mais próximos
dos tópicos de hoje, do que as alternativas de Engels e Marx (1844 (1962,
Pág. 144]): “Revolução, Materialismo, Socialismo, Comunismo”.
O Marxismo do século XX é algo infinitamente mais rico e complexo do que o
minúsculo círculo intelectual de teóricos críticos do Ocidente.
Todavia, dito isto, poder-se-á argumentar que, considerando todas as suas
Limitações Esotéricas, Ocidentalistas e Elitistas, a Teoria Crítica tem sido
a “neta” de Marx que, contra todas as expectativas, mais explícita e
persistentemente, tem revelado a Quintessência Histórica do Marxismo, ou
seja, a sua Capacidade para Reflectir acerca da Dialéctica da Modernidade.
Os autores malditos do Marxismo, em particular Theodor Adorno e Herbert
Marcuse, adeptos de uma Dialéctica Negativa que assume uma espécie de
Recusa Individualista, capturaram a Dialéctica da Modernidade como
sendo, nem mais nem menos que a Dialéctica Positiva de Classe, exposta
em The Social Revolution (1902) e The Road to Power (1909), de Karl
Kautsky.
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Ambos foram Comunistas Proeminentes, durante as Revoluções Falhadas
na Alemanha e na Hungria.
Ambos foram Criticados pelos seus Camaradas, por serem Esquerdistas que
apresentam Desvios Filosóficos, o que chegou mesmo a originar a Expulsão
de Korsch do Partido Comunista Alemão em 1925.
Merleau-Ponty foi aparentemente o responsável pela criação do rótulo de
Marxismo Ocidental, segundo uma sugestão de Korsh, quando se referia
ironicamente aos seus críticos soviéticos, a Lukács e a 2 outros Filósofos
Húngaros: Jozef Revái e Bela Fogarasi.
Merleau-Ponty aplicava este rótulo principalmente a Lukács, pelo seu tipo
especial de Criticismo, fortemente influenciado por Max Weber.
Um Criticismo que contrastava com a Tradição Comunista Ortodoxa e com
a obra Materialism and Empirio-Criticism (1908) de Lenine, em particular.
É geralmente aceite que outro distinto Membro da 1ª. Geração de Marxistas
Ocidentais é António Gramsci, um Jornalista Italiano que, em 1924, se
tornou Líder do Partido Comunista Italiano.
Talvez o seu mais famoso trabalho tenha sido a sua interpretação pessoal da
Revolução de Outubro, num artigo intitulado “The Revolution against Capital”,
publicado, pela primeira vez, em 24 de Novembro de 1917.
“A Revolução dos Bolcheviques materializou-se mais a partir das Ideologias,
do que dos Factos [...] Esta é a Revolução contra o Capital de Karl Marx”
(Gramsci, 1917 [1964, Pág. 265]).
Um Sociólogo do Conhecimento ou um Historiador das Ideias Ecuménicas
poderá definir o Marxismo Ocidental como uma Forma Autónoma do
Pensamento Político Marxista, criada nos Países Capitalistas mais
avançados, após a Revolução de Outubro.
Como tal, ele é diferente quer do (s) Marxismo (s) das outras partes do
Mundo, quer do Marxismo, praticamente Institucionalizado, dos Partidos e
Agrupamentos Políticos.
Todavia, o Marxismo Ocidental é uma Construção Post Hoc com um
significado particular, mesmo nas suas versões menos partidarizadas e mais
eruditas.
Começando por estas últimas, como definições significativas, iremos aqui
tentar situar o Fenómeno designado por Marxismo Ocidental de uma forma
algo diferente, cuja vantagem decorre da possibilidade de um maior
distanciamento.
O Marxismo Ocidental consistiu num Círculo de Autores que só
amadureceu, Teórica e Politicamente, depois da 1ª. Guerra Mundial, mas
cuja posição só se consolida depois da 2ª. Guerra Mundial.
Para Perry Anderson, “a marca de distinção escondida” do Marxismo
Ocidental é a Derrota, uma Característica só inteligível a partir da sua, algo
especial, Periodização.
O Marxismo Ocidental contrasta igualmente com o Trotskismo, do qual
Ernest Mandel é visto como um dos teóricos contemporâneos mais eminentes.
Martin Jay (1984, Pág. 3) vê o Marxismo Ocidental como Algo “criado por
um círculo pouco coeso de autores que vão buscar as suas ideias a Lukács e
a outros Pais Fundadores do Período que se segue imediatamente ao termo
da 1ª. Guerra Mundial: António Gramsci, Karl Korsch e Ernst Bloch”.
31
Embora defenda que, inicialmente, o Marxismo Ocidental tinha, em geral, o
mesmo significado que o Marxismo Hegeliano, Jay aceita basicamente a
definição mais sociológica proposta por Anderson.
Anderson salienta as Mudanças de Posição verificadas na obra de alguns
Intelectuais vindos de Instituições ligadas ao Movimento Trabalhista e
Autores de Estudos na Área da Política e da Economia, em direcção à
Academia e à Filosofia.
Depois da 2ª. Guerra Mundial, todos aqueles que lhe sobreviveram (Gramsci
e Benjamin tinham sido, de diferentes formas, perseguidos até à morte, por
Regimes Fascistas), tinham-se tornado Filósofos Académicos, de nível
catedrático, com a excepção de Sartre que trocara uma promissora carreira
académica, pela de escritor.
A “sua mais notável característica [...] enquanto Tradição Comum será [...]
talvez a Constante Pressão e Influência que exercem sobre ela os Tipos
Sucessivos de Idealismo Europeu” (Anderson; 1976, Pág. 56). O trabalho
dos Marxistas Ocidentais concentrava-se, em particular, na Epistemologia e
na Estética, ao mesmo tempo que produzia Inovações Temáticas no próprio
Discurso Marxista, de entre as quais” Anderson sublinha: o Conceito de
Hegemonia de Gramsci; a Visão que a Escola de Frankfurt tinha da
Libertação, mais como uma Forma de Reconciliação do que de Dominação
da Natureza; bem como o Recurso a Freud.
Atravessando todas estas Inovações Temáticas, Anderson constata um
“Pessimismo Comum e Latente” (Pág. 88; ênfase omissa).
Ao percorrer o Território do Marxismo Ocidental, o trabalho de Martin Jay
utiliza o Conceito de Totalidade, como Bússola Conceptual.
É certo que Jay se recusa, explicitamente, a aceitar este Conceito como
sendo a única bússola possível para aquele propósito, mas, a partir do
momento em que foi evidenciado por Lukács, o Conceito de Totalidade tem,
certamente, estado no centro das atenções do Marxismo Ocidental, sujeito a
várias definições, elaborações e aplicações que Jay persegue com enorme
perícia.
Embora se encontre formalmente definido, o Marxismo Ocidental constitui
uma Nachkonstruktion, ou seja, uma Construção Post Hoc (a seguir a isto)
e não um Grupo ou Corrente que se Auto-Reconhece enquanto tal.
Apesar de tudo, uma Perspectiva mais distanciada do que as de Merleau-
Ponty, de Anderson e de Jay, exige e ao mesmo tempo possibilita um
Posicionamento Histórico parcialmente diferente do Marxismo Ocidental,
uma Outra Leitura Histórica acessível à Falsificação Empírica.
Se tomarmos Lukács como figura-chave e a sua colecção de ensaios, History
and Class Consciousness (1923) como texto-chave, o que não parece ser
controverso, podemos localizar com alguma exactidão quer a Filiação, quer o
Local e a Data de Nascimento do Marxismo Ocidental.
O seu texto fundador foi escrito em 1918, antes de Lukács se ter filiado no
Novo Partido Comunista Húngaro e se ter associado à Abortada Revolução
Húngara.
Este tinha por título, “Bolchevismo como Problema Moral” e colocava, com
uma lucidez exemplar, o problema explicitado no seu título “quer se acreditasse
que a Democracia era uma Táctica Temporária do Movimento Socialista,
uma útil ferramenta a empregar [...], quer se acreditasse que a Democracia era
32
uma Parte Integrante do Socialismo. Se esta última hipótese é verdadeira, a
Democracia não pode ser abandonada sem se considerarem as
Subsequentes Consequências Morais e Ideológicas”.
“O Bolchevismo oferece-nos uma fascinante saída para esta questão, no facto
de não nos obrigar a um Compromisso. Todavia, todos aqueles que caem sob
o seu fascínio podem não estar totalmente conscientes das implicações dessa
decisão. [...] Será possível conseguir algo de bom, recorrendo a meios
condenáveis ? Será que se pode alcançar a Liberdade através da Opressão?”
(Lukács, 1918 [1977, Págs. 419-23]).
Em 1918, Lukács não era de forma alguma um Marxista Ocidental, nem no
sentido que a expressão assumiu na sua obra de 1923, nem naquele que
resulta da forma como esta é acolhida por outros autores.
Com efeito, a sua visão do Marxismo era, nessa altura, diametralmente
oposta.
“No passado”, escreveu Lukács (1918, Pág. 40; ênfase omitida), “a Filosofia
da História de Marx tem sido separada, com frequência, da sua Sociologia.
Em resultado disso, tem sido muitas vezes esquecido que os 2 Elementos
Constitutivos do seu Sistema, a Luta de Classes e o Socialismo [...] se
encontram intimamente relacionados, mas não são, de forma alguma,
Produtos do mesmo Sistema Conceptual. O Primeiro é uma Descoberta
Factual da Sociologia Marxista [...]. O Socialismo, por seu lado, é o
Postulado Utópico da Filosofia da História Marxista: ele é o Objectivo
Ético de um Porvir na Ordem Mundial”.
Tal representa um Tipo de Marxismo filtrado pelo Neo-Kantismo, o qual
constituía uma Corrente Filosófica predominantemente Alemã, muito
presente no Círculo de Max Weber, em Heidelberga, do qual Lukács fazia
então parte, ramificando-se também numa espécie de Marxismo Ortodoxo,
em parte, da Esquerda, desenvolvido por Max Adler e por toda a tendência
Austro-Marxista que reúne Otto Bauer, Rudolf Hilferding, Karl Renner,
entre outros, em Viena, na década que antecede a 1ª. Guerra Mundial.
O nascimento do Marxismo Ocidental consistiu na Confluência ou, se
preferirem, na Transcendência da Distinção entre Ciência e Ética, em
direcção a uma Dialéctica Hegeliana da Consciência de Classe.
O seu primeiro prenúncio foi o primeiro artigo de Lukács, após o seu regresso
à Hungria como Comunista: “Táctica e Ética”, escrito antes da efémera
República Soviética.
Nele se considera que a Acção Moralmente Correcta depende do
Conhecimento, da “Situação Filosófica da História” e da Consciência de
Classe (1919 [1967, Págs. 8-9]).
O texto termina com uma nota que, mais tarde, será desenvolvida no ensaio-
chave History and Class Consciousness (1923), acerca da Reificação e da
Consciência do Proletariado: “Este apelo à salvação da Sociedade é o
Papel Histórico Mundial do Proletariado e, só através da Consciência de
Classe dos Proletários, se pode atingir o Conhecimento e a Compreensão
deste Processo da Humanidade” (Pág. 19).
O alvo imediato do 2º. Texto Canónico do Marxismo Ocidental, a obra
Marxism and Philosophy de Karl Korsch, é o Austro-Marxismo, exemplificado
no texto de Rudolf Hilferding, Finance Capital (1909).
33
Este último é atacado, em nome de uma Dialéctica Hegeliana que rejeita as
suas tentativas para dissolver a “Teoria Unitária da Revolução Social” em
Estudos Científicos e em tomadas de posição Políticas (Korsch, 1923 [1964,
Págs. 92 e segs.]).
Com base no anteriormente referido, podem-se esboçar algumas conclusões.
O Marxismo Ocidental surgiu como uma Recepção Intelectual Europeia da
Revolução de Outubro.
Esta última foi interpretada por Gramsci, como sendo um bem sucedido atalho
do Pensamento Marxista contra o Capital e contra o próprio desenrolar dos
Factos e por Lukács e Korsch como um superar tanto de Problemas Morais
como Científicos.
Se bem que seja verdade que as Perspectivas de uma Revolução a
Ocidente da Rússia começaram a esmorecer a partir de 1923, não é de
pensar que seja muito esclarecedor representar o Marxismo Ocidental como
uma Teoria caracterizada pela Derrota.
Isto não só é falso relativamente ao momento da sua Fundação, como também
em relação à própria Caracterização de Anderson que pode agora parecer o
Produto de uma Perspectiva demasiado Limitada ou Especializada.
Assim, será preferível afirmar que todos os Membros da sua Lista (Georg
Lukács [nascido em 1885], Karl Korsch, António Gramsci, Walter Benjamin,
Max Horkheimer, Galvano Delia Volpe, Herbert Marcuse, Henri Lefebvre,
Theodor W. Adorno, Jean-Paul Sartre, Lucien Goldmann, Louis Althusser
e Lúcio Colieti [nascido em 1924]. Este círculo obedece, em primeiro lugar, a
um Critério Geracional), se tornaram Marxistas, porque encararam a
Revolução de Outubro como um Acontecimento Decisivo na História
Mundial.
Dos 13 Nomes que integram a lista de Anderson, 7 eram Comunistas e, se
excluirmos Korsch e Colletti, foram-no durante toda a sua vida.
O Círculo de Horkheimer, com 4 dos seus Membros referidos na Lista de
Anderson, permaneceu sempre à margem de qualquer Ligação Partidária,
apesar de, antes da 2ª. Guerra Mundial, este Grupo ter manifestado uma
clara simpatia para com a URSS e, depois do Termo do Conflito, nunca ter
prestado muita atenção aos Apelos da Mobilização Anticomunista
característicos do Período da Guerra Fria.
Tanto Adorno, como Horkheimer, desprezavam os Regimes Autoritários da
Europa Oriental, mas nunca os denunciaram abertamente e Herbert Marcuse
produziu um Estudo Crítico, Sóbrio e Erudito, intitulado Soviet Marxism
(1958), que acaba por apontar o Aspecto Racional e Potencialmente Crítico
da Filosofia Social Soviética.
Os 2 que restam, Goldmann e Sartre, estiveram também na órbita da
Revolução de Outubro.
Goldmann fê-lo como discípulo fervoroso do jovem Lukács e Sartre como
simpatizante do Partido Comunista Francês, procurando manter as suas
distâncias, embora, durante todo o Período que se segue à Guerra, o tenha
feito no interior do circuito que reivindicava a Revolução do Proletariado.
Devido à importância que a Revolução de Outubro e a URSS assumem junto
das 2 Gerações Clássicas do Marxismo Ocidental, faz bastante sentido
traçar uma Linha Divisória a Separar o Período Anterior à Morte Recente
de Henri Lefebvre, do Período Que se lhe Segue.
34
Enquanto existe um certo número de figuras da Geração de 1968 passíveis de
ser reagrupadas em torno da continuação de algo a que eles próprios
chamariam Marxismo Ocidental, ninguém pode estabelecer, entre os
primeiros e os segundos, o mesmo tipo de relacionamento com a possibilidade
de ocorrência de uma Revolução Operária ou qualquer outra mistura de Fé e
Desilusão remotamente semelhante.
O facto de Jurgen Habermas, antigo assistente de Adorno, ter quebrado a
Ortodoxia Tácita da Escola de Frankfurt e de a forma como o fez o ter
encaminhado em direcção a Novos Terrenos Teóricos, servem para
exemplificar esta afirmação.
É claro que aclamar a Revolução de Outubro significava, igualmente, aclamar
a Liderança de Lenine, um homem a quem Lukács já antes, em 1919, tinha
prestado homenagem, apontando-o como “o Líder da Revolução do
Proletariado” (1919 [1967, Pág. 19]) e de quem Korsch tomou emprestado o
lema para a sua obra, Marxism and Philosophy.
Com efeito, só uma Falsa Consciência de Esquerda Americana será capaz
de ligar o Marxismo Ocidental ao “Movimento Antileninista deste Século”
(Aranowitz, 1981, Pág. xiii).
A questão que não é respondida pelo que antes foi descrito é a de se será
verdade que todos ou a maior parte dos Marxistas Ocidentais eram Filósofos
e, se sim, porquê ?
Aqui, as Listas de Anderson, Jay, Merleau-Ponty e outros são, na melhor
das hipóteses, tão fiáveis como o veredicto de uma comissão reunida para
decidir sobre o preenchimento de vagas no âmbito de um concurso académico.
Embora não seja necessariamente assim, a verdade é que o argumento de
Anderson não consegue demonstrar que não é um argumento circular.
Todos os nomes que apresenta, com a excepção dos de Benjamin e de
Gramsci, são nomes de Filósofos, mas como é que sabemos que Outros
Não Filósofos tinham possibilidade de se juntar à sua Lista ?
A Lista de Jay (António Gramsci, Karl Korsch, Ernst Bloch, Theodor W.
Adorno, Walter Benjamin, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Leo
Lowenthal [pertencente à Escola de Frankfurt], Grupo Francês Pré-
Althusser, Maurice Merleau-Ponty, Bertold Brecht, Wilhelm Reich, Erich
Fromm, os Comunistas do Conselho da Holanda [Herman Gorter, Anton
Pannekoek e outros], o Grupo dos Argumenisem Franca [Kostas Axelos,
Edgar Morin e outros], Membros da 2ª. Geração da Escola de Frankfurt
[Jurgen Habermas e Alfred Schmidt, Alfred Sohn-Rethel, Leo Kofler, Franz
Jakubowsky, Claude Lefort e Cornelius Castoriadis), é igualmente
dominada pelos Filósofos, sendo a ausência de Cientistas Sociais e de
Historiadores também aí quase absoluta.
Porém, uma vez que o Marxismo Ocidental constitui uma Construção Post
Hoc, esta última conclusão não pode ser aceite, de Forma Acrítica, como um
Facto Histórico.
Sugere-se pois, que aquilo com que se está a lidar decorre da Interacção entre
2 Factores: o Cenário Intelectual Europeu, na altura do acolhimento da
Revolução de Outubro e a Imagem do Marxismo Ocidental que,
posteriormente, se forma na Europa Ocidental e na América do Norte.
35
Por outras palavras, a resposta a esta questão passa, por um lado, pelo facto
de, em 1917, os Filósofos se encontrarem em cena e, por outro lado, pelo de
os Marxistas Mais Tardios terem querido escutar Filósofos.
Deve ser lembrado que um certo número de Percursos e de Carreiras
Intelectuais se encontravam vedados àqueles que prematuramente se tinham
identificado com a Revolução de Outubro.
O Estabelecimento, na Europa, de uma Ciência Social Empírica era pouco
(ou nenhum).
A Sociologia estava Dividida na Tensão entre “a Política da Revolução
Burguesa e a Economia da Revolução do Proletariado” (Therborn, 1976) e
tinha ainda uma Precária Existência Institucional.
Os Departamentos de Economia eram Tradicionalmente Hostis à Crítica
da Economia e a Ciência Política ainda dava os seus primeiros passos em
direcção aos Estudos Políticos na Área da Sociologia.
Quanto às Faculdades de Direito, cobriam ainda Grandes Áreas de
Conhecimento que, mais tarde, iriam ramificar-se pelas Disciplinas Sociais,
mas que por enquanto continuavam unidas e dominadas por Veneráveis
Tradições.
Quanto à Historiografia, permanecia Bastante Hostil a qualquer intrusão nos
seus domínios por parte das outras Ciências Sociais.
Parece, pois, que no coração da Europa (França, Alemanha, Itália) a
Filosofia era a Disciplina Académica onde penetravam com maior facilidade
aqueles que tinham assistido à Alvorada de Outubro de 1917.
Com efeito, a Filosofia encontrava-se relativamente Distante do Poder e dos
Interesses de então, sendo claramente Não Paradigmática, pelo que era
capaz de Acolher Várias Escolas e Correntes de Pensamento no seu seio.
Para além disso, era o meio que permitia debater alguns dos mais importantes
Problemas da Humanidade: a Vida, a História, o Conhecimento ou a Moral.
Apesar disso, conforme acontece em geral na Filosofia do século XX, com o
passar do tempo, grande parte dos Filósofos Marxistas voltam-se para a
Sociologia, embora normalmente não abandonem as suas origens
académicas.
Após a 2ª. Guerra Mundial, esta Viragem Sociológica é claramente visível na
obra de homens como Adorno, Horkheimer, Marcuse, Henri Lefebvre, na do
seu camarada Georges Friedman e na de Jean-Paul Sartre (Adorno e o
Instituto de Frankfurt voltam-se para a Psicologia Social, para a Sociologia
dos Grupos e para a Sociologia Industrial. Lefebvre [1948-61] embarcou
numa Sociologia Filosófica da Vida Quotidiana. Friedmann tornou-se no
Fundador da Sociologia Industrial Francesa. Sartre [1960, Pág. 153] estava
preocupado em demonstrar o Valor do Método Dialéctico para as Ciências
do Homem, o que, tal como era visto por ele próprio, envolvia um Diálogo
Crítico permanente com a Sociologia da Época).
Porém, o Marxismo Ocidental é apenas uma de entre as Muitas Tendências
do Marxismo no século XX.
Mais ainda, qualquer Abordagem Crítica do mesmo, terá que levar em
consideração que o Marxismo não é um Universo Autocontido, constituído
apenas pelas suas próprias Teorias e Práticas, pelas suas Polémicas e pelos
seus Inspiradores e Inimigos.
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O Marxismo e, com ele, a Teoria Crítica, tem feito parte de uma História
Intelectual e Sociopolítica mais vasta, com Alternativas, Rivais e Opostos.
Será, pois, no interior dessa História que o lugar próprio da Teoria Crítica,
num Sentido Estrito ou Específico, tem de ser determinado.
37
Na Grã-Bretanha, a Primeira destas Correntes era Forte e Vigorosa; em
França e em parte, também na Península Ibérica, era a última que
preponderava.
Um Pouco Mais à Direita, estava ainda a Democracia Cristã, embora esta
surja bastante mais tarde e só se torne verdadeiramente importante em Países
com uma Igreja Forte dotada de uma Certa Autonomia em relação à
Burocracia do Estado, o que acontece, por exemplo, com a Igreja Católica
dos Países Baixos, da Região do Reno, do Sul da Alemanha e da Itália,
assim como com os Militantes Calvinistas (Gereformeerde) Holandeses.
À Sua Esquerda, estavam o Anarquismo, o Anarco-Sindicalismo e o
Populismo Russo.
Contudo, os Anarquistas foram, desde muito cedo, Marginalizados na maior
parte dos lugares, com a excepção da Andaluzia.
Os Anarco-Sindicalistas, em Itália e em Franca, foram Duramente
Vencidos, Permanecendo Activos, na sua maior parte, apenas em Espanha.
Quanto aos Populistas, sofreram Severas Derrotas na Rússia de finais do
século XIX.
Assim sendo, os Mais Importantes Baluartes Marxistas encontravam-se na
Europa Central (estendendo-se no Sentido Norte-Sul, da Escandinávia até
ao Meio de Itália) e na Europa Oriental, onde uma Forte Classe Operária se
estava a formar sem uma prévia Experiência Ideológica da Modernidade.
Na Rússia Autocrática, onde era pouca a Liberdade Intelectual para a
Expressão de quaisquer Ideias Modernas, o Marxismo tornou-se, depois das
Derrotas do Populismo, na Principal Linguagem dos Intelectuais.
Antes de 1914, a Democracia Social Alemã era o Indiscutível Centro de
Gravidade do Marxismo Europeu e Mundial.
O Alemão era o seu Principal Idioma, quer directamente, quer como fonte de
tradução, mesmo em Países cuja Orientação Cultural era predominantemente
Russa, como a Sérvia ou a Bulgária, ou Francesa, como acontece com a
Roménia.
O Die Neue Zeit (Os Novos Tempos), de Karl Kautsky, era o seu Jornal
mais importante.
A 1ª. Guerra Mundial e o seu desfecho tiveram um forte e complexo efeito
sobre o Marxismo Europeu.
A Revolução de Outubro atraiu um número significativo de Trabalhadores e
de Intelectuais para o Marxismo e os Novos Partidos Comunistas iniciaram
um Vigoroso Programa de Publicação e Difusão dos Trabalhos de Marx e
Engels.
Na Alemanha verificou-se uma certa Abertura Académica, especialmente na
Prússia governada pelos Sociais-Democratas, onde a Cidade de Frankfurt
se encontrava integrada.
Contudo, na Europa Central e na Europa do Norte, se excluirmos a Áustria,
o Marxismo dos Partidos Social-Democratas perdeu terreno a favor de um
Reformismo Pragmático que dominou a cena política até à subida dos
Fascistas ao Poder, em 1934.
Na Noruega um Marxismo vivo, Liderado por uma Série de Historiadores
Políticos, floresceu repentinamente, no seio e em torno de um Partido
Trabalhista bastante Radicalizado.
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Em França e na Gra-Bretanha ainda levou um certo tempo até que os
Marxistas Recém-Recrutados amadurecessem, tarefa em que não foram
ajudados, nem pela vigorosa Tradição Não Marxista dos respectivos
Movimentos Trabalhistas e Progressistas, nem pela Instabilidade Sectária
dos Novos Partidos Comunistas.
Em Itália, o Fascismo muito cedo atira com o Marxismo para o interior do
calabouço, obriga-o a exilar-se ou remete-o ao silêncio.
Na Rússia Bolchevique o Marxismo floresce, apoiando-se em Generosos
Donativos Académicos, todavia, a partir da década de 1930, a Ortodoxia
Terrorista Estalinista sufocará durante um Longo Período de tempo todo e
qualquer Pensamento Criativo que este pudesse eventualmente produzir.
Não obstante, já muito antes as Originais Características Autoritárias da
Revolução tinham constrangido o Debate Intelectual, levando homens como,
por exemplo, George Gurvitch e Pitirim Sorokin a deixar a Rússia pouco
depois da data em que se dá a Revolução, para se tornarem proeminentes
Sociólogos (Não Marxistas), em Paris o primeiro e em Cambridge,
Massachusetts o segundo.
No Resto da Europa Oriental, as Perspectivas do Marxismo estavam a
ensombrar-se.
A maior parte dos Estados que se sucederam ao Desmoronamento dos
Impérios Multinacionais ou eram de Natureza Autoritária ou encontravam-se
em vias de se tornar, sendo muito pouco tolerantes em relação ao Marxismo
ou a qualquer outra forma de Pensamento Radical.
Junto dos Estudantes e dos Intelectuais, um Nacionalismo Persistente
marginalizava o Marxismo.
Quanto à Ascensão do Marxismo Ocidental, esta também teve uma
Explicação Sociológica.
A 2ª. Guerra Mundial e o seu rescaldo imediato transformaram de novo a
Paisagem Intelectual Europeia.
Os Novos Regimes Comunistas abriram a Europa de Leste a uma
Institucionalização do Marxismo.
Este, porém, passará a ser controlado por Lideranças Políticas que não mais
irão desenvolver a sua Dimensão Científica ou de Teoria Crítica.
Mesmo assim, um Marxismo Criativo, Abstracto e Filosófico continuou a
desenvolver-se, da Jugoslávia à Polónia, locais onde também conseguiu,
após o Fim do Estalinismo, ligar-se à Sociologia e à Análise de Classes,
nos trabalhos de Julian Hochfeld, Stefan Ossowski e outros.
Depois de 1968 (com a Campanha Anti-Semita na Polónia e a Invasão da
Checoslováquia), a maior parte do Marxismo Criativo que se produzia na
Europa de Leste foi silenciado, exilado ou abandonado.
Na Europa Central e do Norte, o rescaldo da 2ª. Guerra Mundial marca uma
Viragem Intelectual para a América.
As Tendências Empíristas da Ciência Social Americana são acolhidas e
adoptadas, em particular, pela Sociologia, a Ciência Política e a Psicologia
Social, acolhimento estimulado pelas generosas bolsas de estudo norte-
americanas (Adorno, recém-chegado dos Estados Unidos da América,
também se mostrou, durante esses anos, envolvido nesta Tendência
Empirista, sendo visto corno o Introdutor dos Estudos Empíricos de
Opinião, na Alemanha Ocidental).
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Aquilo que foi assimilado com maior facilidade, foram as Variantes mais
Empíricas e Conservadoras das Ciências Sociais Norte-Americanas.
Assim, o Marxismo Foi Marginalizado e remetido para a Política de
Extrema-Esquerda.
Em contrapartida, em França e em Itália, o Marxismo colheu os Frutos da
Resistência, beneficiando também da Maior Elasticidade da Alta Cultura
Latina e da sua aversão ao Processo de Americanização.
A Filosofia permaneceu no seu Trono Intelectual e, entre os Intelectuais
Franceses e Italianos, o Marxismo ou uma qualquer forma de diálogo com
ele, torna-se num Discurso Dominante.
Partidos Comunistas de Grandes Dimensões e Recursos apoiavam-no e o
Marxismo era, também, a Linguagem Teórica dos Partidos Socialistas.
Foi então, em 1949, que os escritos de António Gramsci foram publicados,
juntando um Corpo de Pensamento Original à Tradição Marxista.
A Cultura e os Intelectuais foram, deste modo, colocados no centro das
Análises Políticas e do Poder de Classe.
O Marxismo guiou, no Pós-Guerra, a Historiografia da Revolução Francesa.
O Marxismo, foi igualmente pertinente para a Grande Escola dos Annales,
criada no Período entre Guerras.
Por último, temos a Grã-Bretanha que, com as suas próprias Tradições
Empíricas, não se deixou influenciar grandemente pela cena intelectual norte-
americana.
Aí, no final da década de 1930 e início da de 1940, nasce, a partir das
Movimentações Políticas de Estudantes Comunistas, uma significativa
Corrente Marxista, apoiada por um importante grupo de homens ligados às
Ciências Naturais, Historiadores da Ciência e Velhos Historiadores.
A Grã-Bretanha veio a ser o mais importante porto de abrigo do Marxismo
Empírico Europeu depois da 1ª. Guerra Mundial.
O seu núcleo, após a 2ª. Guerra Mundial, era o Grupo dos Historiadores do
Partido Comunista desmembrado em 1956.
Entre estes Historiadores Marxistas do Pós-Guerra incluíam-se homens
como Christopher Hill, Eric Hobsbawm e Edward P. Thompson.
Faziam também parte deste círculo o Professor de Literatura, Raymond
Williams, o Economista Maurice Dobb e o Historiador George Thomson.
Quanto a Isaac Deutscher, ele descende de uma Tradição, um
Enquadramento e um Passado Político diferentes, embora como
Historiador-Biógrafo (de Trotski e de Estaline) se integre bem na cena
Marxista Inglesa.
Apesar de ser, em grande medida, impulsionada por ela, a Teoria Social não
se encontra sincronizada com a História Social e Política.
O final da década de 1950 e o início da de 1960 assistem a um Declínio do
Marxismo Político na Europa Ocidental.
Entre 1958 e 1960, os Partidos Social-Democratas Austríaco, Alemão
Ocidental e Sueco, desembaraçam os seus programas de qualquer
Reminiscência Marxista.
O Socialismo Francês desacreditou-se a si próprio e, consequentemente, ao
seu Marxismo Oficial, na Guerra da Argélia.
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Aos poucos, os Partidos Comunistas Envelhecem e vão ficando cada vez
mais isolados, uma vez que o longo e Inesperado Boom do Pós-Guerra, não
só continuava, como até atravessava um Processo de Aceleração.
Nesta altura a Situação Política Europeia altera-se significativamente com as
Revoltas Estudantis que resultam da combinação explosiva das Novas
Universidades de Massas, com a Guerra do Vietname e com a influência da
Revolução Cultural Chinesa.
Mais ou menos na mesma altura, a Diminuição da Procura nos Mercados de
Trabalho abre caminho ao Reaparecimento dos Conflitos de Classe.
O Objecto Sociológico em que estes últimos se transformam cresce
rapidamente, gerando um dos principais campos de batalha académicos.
Para uma vasta Geração de Radicais, o Marxismo torna-se, ao mesmo
tempo, na Linguagem Política e na Perspectiva Teórica que melhor
permitem compreender os Fenómenos da Guerra Colonial e do
Subdesenvolvimento, bem como o Funcionamento Socioeconómico
Doméstico das Democracias Ocidentais.
Este Neomarxismo assumiu múltiplas facetas, bastante mais heterogéneas do
que as formadas pelo Marasmo Ocidental Original.
No entanto, quando se compara com este último, dificilmente se pode afirmar
que produziu efeitos tão espectaculares.
Uma das razões para que tal não tenha acontecido, prende-se com o facto de
que a Política e a Teoria se tinham transformado em coisas muito mais
distantes e diferenciadas entre si.
Mesmo os mais brilhantes e reflectidos Textos Políticos deste Período
revelam um Envolvimento Político e Prático muito maior do que os
Trabalhos Teóricos e Académicos que, mesmo quando produzidos por
autores politicamente activos, eram circunscritos a um círculo letrado e
minoritário.
O Neomarxismo conseguiu a Inclusão de Marx nos Cânones Clássicos da
Sociologia e tornou as Perspectivas Marxistas ou Marxizantes, em modos
de ver legítimos (mesmo quando minoritários) na maior parte dos
Departamentos Académicos de Ciências Sociais e Humanidades.
Primeiro, o Marxismo entra na Antropologia, através do trabalho de
antropólogos franceses como Maurice Godelier, Claude Meillassoux,
Emmanuel Terray, entre outros.
E, ao ligar-se ao Trabalho Neo-Ricardiano do amigo de Gramsci, Piero
Sraffa, era montado o primeiro Grande Desafio Teórico sério que se coloca à
triunfante Economia Marginalista, colocando em confronto a Universidade de
Cambridge, em Inglaterra, ao lado de Ricardo e de Marx, contra Cambridge,
Massachusetts.
Mas quando, na segunda metade da década de 1970, a Força do Radicalismo
Político começa a esgotar-se, o Marxismo Político evapora-se rapidamente.
Também o Marxismo Académico retrocede nessa mesma altura, sendo, umas
vezes, abandonado em prole de outros Ismos Teóricos mais recentes, outras
vezes, absorvido por Práticas Disciplinares Ecuménicas.
Assim, onde este se conseguiu suportar melhor a si próprio, foi na Sociologia
e na Historiografia.
Nos novos mundos criados com base nas conquistas do Início da Idade
Moderna e nas Migrações de Massas, a Luta Teórica e Prática em prole da
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Modernidade era, em grande medida, uma Luta Externa contra a Europa
Colonial, levada a cabo pelos Estrangeiros Colonizados contra os
Colonizadores.
Nem o Conflito Interno de Forças Históricas, nem a Formação de Classes
nas Forças em Acção conseguiram, em nenhum outro lugar, ser tão
importantes, como na Europa.
O Problema da Dialéctica da Modernidade, como um todo e o da
correspondente Dialéctica de Classe, em particular, era destituído de parte do
seu significado nas Américas e na Oceânia.
Por isso, não surpreende verificar que o papel desempenhado pelo Marxismo
nesses Novos Mundos tenha sido bastante mais modesto.
Os Partidos Marxistas, com alguma Importância Social, são excepções raras
que surgem tardiamente, já depois da 2ª. Guerra Mundial.
A Guiana, Cuba e o Chile constituem as principais excepções.
O Marxismo difunde-se rapidamente nesses Novos Mundos.
Na viragem do século, a editora de Chicago, Charles H. Kerr, tornou-se num
importante centro intercontinental de Disseminação do Marxismo Inglês.
Os Emigrantes oriundos de Países Latinos espalharam o Marxismo pela
América do Sul: a Argentina, por exemplo, obtém a sua tradução de Capital
muito antes da Suécia e da Noruega.
Apesar de tudo, o Marxismo não consegue desenvolver aí raízes significativas.
No entanto, depois da 2ª. Guerra Mundial, o Conhecimento Académico
Marxista também passou por uma Viragem no Ocidente, semelhante à que
se verifica na Ciência e no Conhecimento em Geral, apesar de ter levado
mais tempo a amadurecer.
Não foi feita uma oferta a Marcuse suficientemente aliciante para o levar a
regressar à Europa, pelo que este permaneceu nos Estados Unidos; porém,
se excluirmos os seus trabalhos mais tardios, o Marxismo Americano ganhou
muito pouco com os Refugiados Antifascistas que aí buscaram exílio.
Paul Sweezy cria a Monthly Review e a Monthly Review Press, que se
tornam no mais importante Fórum Internacional, para uma Crítica Séria da
Economia Política (Em quase toda a parte, os Partidos Comunistas
subsidiaram a Investigação Empírica sobre os Capitalismos Nacionais,
parte da qual, como a realizada entre o final da década de 1950 e o início da de
1960 pelo futuro líder do Partido Comunista Sueco, C. H. Hermansson, era
bastante inovadora a nível local e mais tarde seria oficialmente reconhecida
como tal. No entanto, tais estudos cingiam-se, normalmente, a uma audiência
que permanecia limitada às Fronteiras do País a que o investigador
pertencia).
A Nova Teoria Marxista do Subdesenvolvimento do Capitalismo veio a
desenvolver-se em torno da Monthly Review, através dos trabalhos de Paul
Baran (1957) e de André Gunder Frank (1967), que argumentam que o
Subdesenvolvimento não era uma Falta de Desenvolvimento, mas sim algo
que se desenvolvera a partir do Capitalismo Global, como um dos seus
Pólos.
Na América Latina, em meados da década de 1960, surgem alguns trabalhos
com uma Orientação mais Sociológica, acerca do Subdesenvolvimento, dos
quais se destacam, sobretudo, os do brasileiro Fernando Henrique Cardoso.
42
Esta corrente seria frequentemente designada por Escola da Dependência,
visto que defendia que o Subdesenvolvimento Sul-Americano dependia das
suas Relações com as Metrópoles do Capitalismo.
As Sublevações Estudantis ocorridas na Cena Académica Norte-
Americana, no final da década de 1960, parecem ter tido, no seu todo, efeitos
intelectualmente mais produtivos e inovadores do que os acontecimentos
paralelos ocorridos na Europa e noutros lugares.
Contributos altamente criativos foram subitamente dados por alguns Marxistas
Norte-Americanos, dos quais os dois mais bem sucedidos são rivais.
Um foi o Trabalho Historiográfico de Robert Brenner acerca da Relevância
da Luta de Casses para a Ascensão da Modernidade.
A Explícita e Ortodoxa Perspectiva Materialista Histórica de Brenner, foi
defendida e sustentada numa série de confrontos com outros historiadores,
acerca da Importância da Luta de Classes na Emergência da Europa
Capitalista Industrial.
Esses confrontos assumem uma tal dimensão que chegam mesmo a ser
reunidos sob o título de The Brenner Debate (Aston e Philpin, 1985).
Mais recentemente, Brenner (1993) avança, ainda, com um outro importante
contributo para responder a uma questão central do Debate Historiográfico,
desta feita argumentando a favor do Carácter Classista da Guerra Civil
Inglesa.
O outro foi Immanuel Wallerstein, cujas credenciais, em termos da
capacidade de Síntese Sociológica Erudita podem ser algo mais
controversas do que as de Brenner, mas cuja Perspicácia Empresarial
Académica e realizações tiveram só um Paralelo Marxista comparável: o de
Max Horkheimer.
Em 1976, Wallerstein lança o seu Projecto de Análise do Sistema Mundial,
a mais Vasta Totalidade Social concebível, em torno do qual construiu um
Instituto de Investigação, uma Corrente no seio da American Sociological
Association e uma Rede Global de Colaboradores.
A Dialéctica Wallersteiniana do Sistema Mundial Capitalista, foi
explicitamente dirigida contra a Teoria Evolucionista da Modernização de
Sociedades Separadas, então muito em voga.
A Extraordinária Criatividade do Marxismo Norte-Americano, no Período
que se segue a 1968, inclui também algumas Profundas Análises dos
Processos de Trabalho, onde, mais uma vez, se Geraram Conflitos de
Interpretação: Braverman (1974) e Burawoy (1979; 1985); as mais
ambiciosas Análises de Classe, Przeworski e Sprague (1986) e Wright
(1985); os mais Inovadores Inquéritos Culturais, após a obra de Raymond
Williams (1921-88): Jameson (1991) e muitos outros.
A Teoria Crítica foi recebida mais calorosamente pela Ala Esquerda da
Academia Norte-Americana, do que por qualquer outra das suas congéneres.
No entanto, os melhores resultados produzidos pela Teoria Crítica são, de
longe, aqueles que decorrem do trabalho realizado com a própria Teoria
Crítica como Objecto, bastante mais importantes do que aqueles que dela se
puderam retirar (De facto, as mais Criativas Análises produzidas no âmbito da
Teoria Social Crítica Americana aparecem fora da Tradição Marxista, em
obras como as de Etzioni e de Unger).
43
A Modernidade nas Regiões Colonizadas, Centrada em torno da Relação do
Conquistado, tanto com a Conquista, como com os Conquistadores, tem
sido particularmente traumática.
É provável que ninguém tenha conseguido capturar a Violência dos Traumas
envolvidos melhor do que Frantz Fanon, o médico marxista das Caraíbas
envolvido na revolução argelina, cuja obra The Damned of the Earth surge,
pela primeira vez, em 1961, com prefácio de Sartre.
Foi uma Comissão (Comintern) que tornou possível e difundiu (a partir do
Congresso dos Povos Oprimidos, realizado em Baku, em Novembro de
1920 e da Formação da Liga Anti-Imperialista, destinada ao incentivo global
de Partidos Comunistas Anticolonialistas), uma Interpretação Marxista do
Colonialismo identificando o Anticolonialismo com o Marxismo.
Todavia, os resultados finais consistiram no aparecimento de muitos mais
Nacionalismos de Expressão Marxista, do que propriamente de Movimentos
Comunistas.
O Marxismo transformou-se, pois, na Linguagem Oficial dos Movimentos
Anticolonialistas e dos Poderes Pós-Coloniais especialmente, em África,
através da Acção de Partidos que vão da FNL Argelina, ao ZANU do
Zimbabwé.
No entanto, no Subcontinente Indiano, designadamente na Índia
Secularizada, o Marxismo também assume grande importância, tal como
acontece na Indonésia onde, inicialmente, foi impulsionado por um Grupo
extraordinário de Homens de Esquerda Holandeses, liderados por Henricus
Sneevliet.
A Cultura Negra Africana, bastante afastada da Dialéctica da Modernidade
Marxista, (ainda) não foi capaz de suportar qualquer Forma de
Intelectualidade Marxista significativa.
Existe mesmo uma certa tendência para que os Intelectuais Marxistas
Africanos mais importantes Não Sejam Negros.
É o caso de Samir Amin (1970), o mundialmente Famoso Economista do
Desenvolvimento Egípcio que habita em Dakar; dos 2 Analistas da Política
e do Direito, da África Oriental (de Origem Indiana), Mahmood Mamdani e
Issa Shivji e da Liderança Central do Complexo Partido Comunista Sul-
Africano (a Nata Intelectual do ANC) composta, principalmente, por Brancos.
Na Indonésia, o Marxismo foi integralmente liquidado em termos físicos, quer
como Corrente Intelectual, quer como Força Social, numa das mais
alargadas Perseguições Políticas alguma vez encenadas (em 1965-1966).
No Paquistão ele foi abafado pelo Islão, numa competição que foi tudo menos
justa.
A Índia, em contrapartida, conseguiu conservar um Marxismo Complexo e
Relevante, que chegou inicialmente àquele País, vindo dos Estados Unidos.
Existe, nesse País, uma Tradição Marxista ou Marxizante de alto nível na
Economia, que pode ser ilustrada pelo facto de, entre os Economistas
envolvidos na já referida controvérsia entre Cambridge e Cambridge,
Massachusetts, os únicos que não são de Origem Norte-Atlântica, são 2
Italianos e 3 Indianos.
E, acima de tudo, uma viva e generalizada Tradição Historiográfica, da qual
fazem parte o formidável Poli-Historiador e Professor de Matemática, D. D.
44
Kosambi (1985) e também Bipan Chandra (1979), Irfan Habib e Harbans
Mukhia, entre outros.
Já na Sociologia Indiana, o papel desempenhado pelo Marxismo foi de
menor importância.
A China nunca foi completamente Colonizada e, por isso, percorreu uma 4ª.
Via para a Modernidade.
Porém, as Invasões Japonesas de 1931 e 1937, colocaram a China sob uma
Forte Ameaça Colonial, que deu origem, em 1940, a um Marxismo Político
Extremamente Original, sob a Liderança Teórica e Prática de Mao Zedong
(Ainda se aguarda uma avaliação sóbria do contributo de Mao para o
Marxismo, isenta da influência das opiniões suscitadas pelo seu Carácter de
Político Impiedoso).
Nos Países em que a Modernização é Induzida a Partir do Exterior, é de
esperar do Marxismo que tenha uma Existência Marginal.
Nestes casos, ele é mantido ao largo pela Facção Modernizadora detentora
do Poder Político, sendo, em grande medida, estranho à Populaça que é
arrastada para a Modernidade por essa mesma Facção.
Em contrapartida, nos Países em que existe uma Maior Abertura à
Importação de Ideias, verifica-se também a Existência de uma Importação
Precoce do Marxismo e de outras Ideias Radicais, por parte dos Vários
Grupos de Não Governantes Pró-Modernos.
A Importância Relativa das 2 Tendências deverá, então, depender dos
Níveis, quer de Continuidade no Processo de Modernização, quer de
Repressão: quanto mais elevados são estes níveis, menos possibilidade há de
vermos o Marxismo ocupar uma Posição Central.
O Antigo Império Otomano, a Turquia, o Coração do Mundo Árabe, o Irão
e a Ásia Oriental Sino-Japonesa são as Maiores Civilizações nesta Via
Para e Através da Modernidade.
Todas elas, exceptuando a última, encontram-se do Lado do Espectro em que
há uma Continuidade no Processo de Modernização e nunca geraram
qualquer tipo de contributo importante para o Marxismo, quer Política, quer
Teoricamente (exceptuando os contributos de Intelectuais Exilados, tais
como Anouar Abdel Malek, Samir Amin e a Diáspora Iraniana Pós-
Khomeini).
O Japão, em contrapartida, não só foi a Primeira Nação a trazer o Marxismo
para a Ásia, como também foi, por volta de 1930, o Produtor de um
impressionante Debate Marxista, sustentado por uma Extensa
Argumentação Empírica, acerca do seu Desenvolvimento
Socioeconómico.
No mínimo, a sua Catastrófica Derrota em 1945, abriu o caminho para a
formação de um importante Marxismo de Classe Média, em torno dos
Partidos Comunista e Socialista e do Movimento Estudantil.
Teoricamente, o Marxismo Japonês apresentava uma Forte Orientação no
sentido da Crítica Ortodoxa da Economia Política, liderada por Kozo Uns e,
mais recentemente, por Mishio Morishima (1973), Makoto Itoh (1980) e
outros.
As Rotas Históricas para e através da Modernidade e as Respectivas
Dinâmicas Políticas determinaram de forma bastante importante a trajectória
do Marxismo do século XX, o seu Conteúdo Substancial e, mais ainda, os
45
seus Períodos de Expansão e Retracção, permitindo a Persistência
Retardada de Acontecimentos Geracionais Cruciais.
47
II - ACÇÕES, ACTORES, SISTEMAS
CAPÍTULO 4
Distinguir
Distinguir
49
Estrutura: É uma Noção Fundamental e às vezes Intangível, cobrindo o
Reconhecimento, Observação, Natureza, Estabilidade de Padrões e
Relacionamentos de Entidades.
Uma Estrutura define do que um Sistema é feito.
É uma Configuração de Itens.
É uma Colecção de Componentes ou Serviços Interrelacionados.
A Estrutura pode ser uma Hierarquia (uma Cascata de Relacionamentos
Um-Para-Vários) ou uma Rede contendo Relacionamentos Vários-Para-
Vários.
Utilitarismo: É uma Doutrina Ética que prescreve a Acção (ou Inacção) de
forma a Optimizar o Bem-Estar do Conjunto dos Seres Sencientes.
O Utilitarismo é então uma Forma de Consequencialismo, ou seja, ele
avalia uma Acção (ou Regra) unicamente em Função de suas
Consequências.
Agir sempre de Forma a Produzir a Maior Quantidade de Bem-Estar
(Princípio do Bem-Estar Máximo).
Empirismo: Teoria segundo a qual Todo o Conhecimento provém da
Observação e da Experiência.
É um Movimento que acredita nas Experiências como Únicas (ou Principais)
Formadoras das Ideias, Discordando, portanto, da Noção de Ideias Inatas.
O Empirismo é Descrito/Caracterizado pelo Conhecimento Científico, a
Sabedoria é Adquirida por Percepções; pela Origem das Ideias por onde se
percebem as Coisas, independentemente dos seus Objectivos e
Significados;
Consciência Subjectiva: Tem o seu Conteúdo no Plano Subjectivo sob a
Forma de Percepções, Representações, Conceitos, etc.
Consciência Objectiva: Soma de Crenças e Sentimentos Comuns à Média
dos Membros da Comunidade, formando um Sistema Autónomo, isto é, uma
Realidade Distinta que persiste no Tempo e Une as Gerações (Durkheim).
Norma: Qualquer Modo ou Condicionante de Conduta Socialmente
Aprovada.
Conduta: Consiste no Comportamento Humano Autoconsciente, ou seja,
Comportamento Controlado pelas Expectativas de Outras Pessoas.
Ordem: Refere-se a Certa Qualidade, ou seja, ao Funcionamento Sem
Choques, no Seio da Sociedade, da Acção Recíproca de Indivíduos,
Grupos ou Instituições e por este motivo compreende Valores de Eficiência,
Coerência, Lógica, Moralidade, etc.
É um Padrão de Relação Social Cristalizado.
Desordem: Uma Perturbação no Equilíbrio das Forças, o que Produz uma
Desintegração das Instituições e um Enfraquecimento do seu Controlo.
A Sociedade é, então, envolvida por todos os Tipos de Problemas Sociais.
Anomia: Ausência de Normas.
Aplica-se tanto à Sociedade como a Pessoas: significa Estado de
Desorganização Social ou Pessoal, Ocasionado pela Ausência ou
Aparente Ausência de Normas.
50
CAPÍTULO 5
51
Daí a Necessidade de Ressocializar estes Indivíduos através de
Instituições criadas para esse efeito (Policiais e Prisionais).
Segundo o autor, as Normas e os Valores Vigentes são Agrupados em 2
Categorias Principais:
- Emotivos ou Expressivos, Orientados para a Colectividade, tais como o
Particularismo e a Afectividade;
- Instrumentais, Orientados para a Realização, tais como a Aquisição, a
Autodisciplina e o Individualismo.
A partir deste Critério de Divisão, Parsons constrói um Quadro de Variáveis
Estruturais que permite Descodificar os Valores Presentes na Acção
Social.
Ele identifica na Sociedade Contemporânea 4 Conjuntos de Pares de
Valores Antagónicos:
1. Particularismo/Universalismo: Na Acção Social os Actores Fazem
Julgamentos dos outros, segundo Critérios Universais, ou segundo Critérios
Particulares (que entendem o Indivíduo na sua Singularidade como
Pessoa).
2. Aquisição/Atribuição: Na Acção Social os Actores Podem Julgar os
Outros, mediante as suas Capacidades Adquiridas em Função das suas
Realizações (Nível de Instrução, Categoria Profissional, Rendimento, etc.),
ou mediante as suas Qualidades Naturais e Herdadas (Raça, Idade, Sexo,
Casta, etc.), que Não Resultam de Esforços de Aquisição.
3. Especificidade/Difusão: Os Actores têm de Decidir Relacionar-se com as
Pessoas na sua Totalidade enquanto Seres Completos, ou apenas com
Alguns Traços ou Aspectos Particulares.
Exemplo: Um Pai relaciona-se com o Filho num Registo Holístico
(considerando o Todo); um Bancário relaciona-se com os Clientes num
Registo Específico (considerando Aspectos Importantes para a sua
Actividade).
4. Neutralidade/Afectividade: Na Acção Social os Actores têm de Optar por
Relações Instrumentais Neutras, que Não Envolvem Sentimentos, ou por
Relações Afectivas que Envolvem Sentimentos e Afeições.
Estas Variáveis permitem-nos Interpretar a Vida Social em Função de Níveis
de Integração Social e de Equilíbrio e isso reflecte os Próprios Tipos de
Sociedade (Sociologia da Ordem de Parsons).
Obras de Parsons:
-The Structure of Social Action (1937);
- Towards a General Theory of Action (1951);
- The Social System (1951);
- Societies: Evolutionary and Comparative Perspectives (1966).
Robert Merton foi um dos seguidores mais importantes de Parsons:
- Regressa às Ideias Culturalistas de Max Weber e faz uma Síntese destas,
com as Ideias Materialistas e Economicistas de Marx (Parsons não
considerou a Teoria de Marx).
- Considera como Valores Principais da Comunidade Científica, o
Paradigma ou Ethos Profissional:
- Universalismo;
- Comunismo;
- Desinteresse;
52
- Cepticismo Organizado.
Encontra 3 Principais Limitações na Análise Funcionalista de Malinowski
e Radclif-Brown:
- Postulado da Unidade Funcional da Sociedade - Supõe que as Crenças e
Práticas Sociais Standardizadas São Funcionais para a Sociedade como
Um Todo e para os Indivíduos em Particular.
- Postulado da Universalidade Funcional - Supõe a Existência de Funções
Positivas em todas as Formas Sociais Standardizadas.
- Postulado da Indispensabilidade - Afirma que todos os Aspectos
Standardizados da Vida Social têm Funções Positivas e também
Representam Partes Indispensáveis ao Funcionamento Completo do
Sistema.
Merton afirma que a Análise Estrutural Funcionalista deve Distinguir os
Motivos Subjectivos que estão na Base das Acções Sociais.
Considera que as Disfunções do Sistema também Podem Contribuir para a
Manutenção do Sistema Social.
Exemplo: Escravatura nos Estados do Sul dos EUA que Contribui para a
Manutenção do Grupo Social dos Brancos.
Introduz os Conceitos:
- Função Latente - Não Intencionais - que Conduz às Consequências Não
Intencionais (Qualquer Acção tem Consequências Intencionais e Não
Intencionais).
- Função Manifesta - Intencionais.
Com Merton o Funcionalismo torna-se mais capaz de compreender a
Mudança Social admitindo que Certos Aspectos dos Sistemas possam ser
Substituídos por Outros pelo facto de Serem Disfuncionais ou Neutros sem
Prejudicar o Equilíbrio e a Integração do Sistema.
Merton, assim como o Funcionalismo, torna-se Crítico do Sistema de
Estratificação Social e coloca-se numa posição já muito destinta da do seu
mestre Talcott Parsons.
Faz a ponte entre o Pensamento Clássico do século XIX e o do princípio do
século XX e o Pensamento Sociológico actual.
Principais Críticas ao Estrutural Funcionalismo (Mills, Turner,
Abrahamson, Cohen, Horowitz, etc.):
- Teoria A-Histórica e com Excesso de Abstracção;
- Incapacidade de Explicação da Mudança Social;
- Não estar habilitado a Estudar Conflitos Sociais e Valorizar em demasia as
Relações Sociais Harmoniosas;
- Considerar apenas os Aspectos Negativos do Conflito e exagerar o
Consenso Social e a Integração em Níveis Não Realistas, centrando-se na
Análise da Cultura, Normas e Valores;
- Teoria Conservadora e Ideologicamente Enviesada (fazendo o Elogio da
Situação Social tal como estava e beneficiando os Detentores do Poder).
- Teoria Vaga, Ambígua e Pouco Clara (Noções Abstractas);
- Acreditou que a Realidade Social poderia ser explicada por Uma Única
Teoria Integrada;
- Não aceita comparações ao afirmar que determinado elemento só é
analisável no quadro do seu Sistema Social, e nunca fora dele.
53
C. Wright Mills (Universidade de Columbia): Faz a Principal Crítica ao
Estrutural Funcionalismo.
Publica Os Colarinhos Brancos (1951) e A Elite do Poder (1956).
Em colaboração com Hans Gerth publica ainda Character and Social Structure
(1953).
Foi muito radical e acabou por ser segregado pela própria Sociologia
Americana.
Escreve A Imaginação Sociológica (1960).
Permaneceu Liberal e Humanista, favorável a uma Liderança Moral e Leal à
Ideia Iluminista de que o Conhecimento poderia Libertar e Melhorar o
Mundo.
Oposição à Sociologia Parsoniana - Ralf Dahrendorf:
- Teoria do Conflito - Anos 50/60 respondeu às Limitações do Estrutural
Funcionalismo.
Orientou-se para o Estudo das Estruturas e das Instituições.
Representada por Ralf Dahrendorf, postulava que a Ordem Social é mantida
pelo Exercício do Poder e que a Sociedade é Conflituosa e Não Pacífica
(Teoria do Consenso / Teoria do Conflito Interdependentes).
Enquanto aqueles que se encontram em Posições Dominantes lutam pela
manutenção da sua situação e do seu estatuto, os que se encontram em
Situação Dominada, lutam por melhorar a sua posição na hierarquia (Quase
Grupos, Grupos de Interesses, Grupos de Conflito).
A Principal Função da Teoria dos Conflitos é Estudar a Relação Existente
entre Interesses Latentes e Manifestos, bem como Compreender e Mostrar
que a Função do Conflito no Sistema Social é Dupla: Manutenção e
Mudança.
Críticas à Teoria do Conflito (Hazelrigg, Turner, Weingart):
- Não considerou Aspectos da Ordem e da Estabilidade;
- Ideológica e Radical;
- Mais próxima do Estrutural Funcionalismo do que do Marxismo;
- Atingiu apenas a Dimensão Macro e Não a Micro.
Funcionalismo: É um Ramo da Antropologia e das Ciências Sociais que
Procura Explicar Aspectos da Sociedade em Termos de Funções
Realizadas por Instituições e suas Consequências para a Sociedade como
Um Todo.
É uma Corrente Sociológica associada à obra de Émile Durkheim.
Para ele Cada Instituição Exerce uma Função Específica na Sociedade e
seu Mau Funcionamento Significa um Desregramento da própria
Sociedade.
Sua interpretação de Sociedade está directamente relacionada ao Estudo do
Facto Social, que segundo Durkheim, apresenta Características
Específicas: Exterioridade e a Coercitividade.
O Facto Social é Exterior, na medida em que existe antes do próprio
Indivíduo e Coercitivo, na medida em que a Sociedade Impõe tais
Postulados, Sem o Consentimento Prévio do Indivíduo.
Neofuncionalismo: Surge nos anos 80 e tenta recuperar as Ideias do
Estrutural Funcionalismo.
Desenvolvido por Jeffrey Alexander e Paul Colomy.
54
Tenta ultrapassar os Problemas do Estrutural Funcionalismo (Anti-
Individualismo, Antagonismo à Mudança, Conservantismo e Idealismo,
Antiempirismo e Falta de Ligação à Realidade).
Funcionou como Modelo Descritivo da Realidade Social e determina que
existe uma Pluralidade de Forças em Acção, que mantém a Interacção
Social.
Analisa Teoricamente a Sociedade aos Níveis Racional e Expressivo.
Considera o Controlo Social e o Desvio como inerentes ao Sistema Social.
Mantém a Ênfase na Cultura, Personalidade e no Sistema Social tal como
Parsons, porém com a Ideia de possibilidade de Mudança Social neste
Equilíbrio de Subsistemas.
Encara a Mudança Social como um Processo de Diferenciação entre os
Subsistemas, não sendo esta necessariamente Harmoniosa.
O Neofuncionalismo está de certo modo ultrapassado por falta de
Continuidade (Sociologia marcada pela Conflitualidade Interna e Incapaz
de uma Unificação e de um Consenso Teórico).
Ubiquidade do Funcionalismo na Sociologia: Tem Raízes Históricas na
Europa e no século XIX, particularmente no Darwinismo.
A Sociologia Americana distinguiu-se da Europeia, principalmente nos anos
60 do século XX, com Modelos Distintos e Caracterizados pelas suas
Próprias Preocupações.
A Sociologia Americana teve uma Vertente mais Empírica desde logo
associada à Escola de Chicago (nos anos 30).
Funcionalismo como uma Criação Americana que tenta explicar esta Nova
Sociedade e Manter a sua Coesão.
Parsons marcou o nascimento do Funcionalismo Americano em 1937, com a
sua obra The Structure of Social Action, com um Pendor Empirista e com
Grande Produção de Inquéritos Sociológicos e que veio a constituir a
primeira tentativa de introduzir na Sociologia Americana o Pensamento dos
Clássicos Europeus como Durkheim, Weber, Tönnies e Pareto.
Baseado num importante Fundamento Teórico, o Estrutural Funcionalismo
tornou-se um Verdadeiro Paradigma da Investigação (falha anterior da
Escola de Chicago).
A ascensão de Parsons em Harvard coincide com a queda da Escola de
Chicago e tornou-se a figura central da Sociologia Americana, prolongando-
se a sua influência até aos anos 70.
Apesar das inúmeras críticas, Parsons reagiu a elas e criou a Teoria da
Acção Cibernética, dedicando-se a Questionar o Funcionamento do
Programa Simbólico do Controlo nos Sistemas de Acção.
Relações entre Funcionalismo e Teoria dos Sistemas: Parsons tentou
Analisar a Vida Social mediante 2 Perspectivas: da Acção e do Sistema.
- Considerou que só um Sistema de Valores Fortes permitiria ter uma
Sociedade Estável e Eficiente.
- O Código de Valores e o Conjunto de Normas Estabelecidas numa
Sociedade asseguram a Integração Individual de modo a que Todas as
Partes do Sistema e Todos os Indivíduos estejam em Perfeita Harmonia.
- A Aquisição destes Valores Sociais que permitem a Integração e
Motivação dos Indivíduos para os mesmos Fins, independentemente das
suas Personalidades Individuais, dos seus Desejos e Ambições, só é
55
possível graças ao Processo de Socialização, ao Controlo Social e ao
Desempenho dos Papéis Sociais.
- Importância da Moral para o Equilíbrio Social.
Função: Finalidades Pretendidas e Esperadas dos Indivíduos.
Estrutura: Conjunto Organizado de Relações Sociais nas quais os
Membros de uma Sociedade ou Grupo estão implicados.
Sistema: É um Conjunto de Elementos Interconectados, de modo a Formar
Um Todo Organizado.
Todo o Sistema possui um Objectivo Geral a ser atingido.
O Sistema é um Conjunto de Órgãos Funcionais, Componentes,
Entidades, Partes ou Elementos e as Relações entre eles, a Integração
entre esses Componentes pode se dar por Fluxo de Informações, Fluxo de
Matéria, Fluxo de Sangue, Fluxo de Energia, enfim, ocorre Comunicação
entre os Órgãos Componentes de um Sistema.
Actor Social: Indivíduo Humano Socializado e Possuidor de Status e
Papéis.
Acção: É um Certo Tipo de Coisa que uma Pessoa Pode Fazer.
Processo de Sociabilização: Processo pelo qual ao Longo da Vida a
Pessoa Humana Aprende e Interioriza os Elementos Socioculturais do seu
Meio, integrando-os na Estrutura da sua Personalidade sob a Influência de
Experiências de Agentes Sociais Significativos, adaptando-se assim ao
Ambiente Social em que deve viver (Rocher).
Controlo Social: Conjunto das Sanções, Positivas e Negativas, a que uma
Sociedade Recorre para Assegurar a Conformidade das Condutas aos
Modelos Estabelecidos (Rocher).
O Controlo Social pode ser Informal (Natural, Espontâneo, baseado nas
Relações Pessoais e Íntimas que Ligam os Componentes do Grupo) e
Formal (Artificial, Organizado, Exercido principalmente pelos Grupos
secundários [Grupo Secundário, onde as Relações são Formais e
Impessoais]).
Papéis Sociais: É o Padrão de Comportamento Esperado e Exigido de
Pessoas que Ocupam Determinado Status (É o Lugar ou Posição que a
Pessoa Ocupa na Estrutura Social).
Portanto, as Maneiras de Comportar-se, esperadas de Qualquer Indivíduo
que Ocupe Certa Posição (Status), constituem o papel associado com aquela
Posição.
Valores: Consiste em qualquer dado que possua um Conteúdo Empírico
Acessível aos Membros do Grupo e uma Significação com Relação à qual
é, ou poderá ser, Objecto de Actividade.
Normas: Qualquer Modo ou Condicionante de Conduta, Socialmente
Aprovada.
Holismo: É a Ideia de que as Propriedades de um Sistema, quer se trate de
Seres Humanos ou Outros Organismos, não podem ser explicadas apenas
pela Soma dos Seus Componentes.
O Sistema como Um Todo, determina como se Comportam as Partes.
O Princípio Geral do Holismo pode ser resumido por Aristóteles, na sua
Metafísica, quando afirma: O Todo é Maior do que a Simples Soma das
Suas Partes.
Anomia: Ausência de Normas.
56
Aplica-se tanto à Sociedade, como a Pessoas: significa Estado de
Desorganização Social ou Pessoal, ocasionado pela Ausência ou Aparente
Ausência de Normas.
CAPÍTULO 8
57
São os Símbolos Significantes que tornam possível uma Interacção
Simbólica, ou seja, os Indivíduos podem Interagir não somente através de
Gestos, mas de Gestos Significantes, o que conduz a Formas de
Organização Social.
A Capacidade de Pensar, é portanto Moldada pela Interacção Social que
Permite aos Indivíduos Aprenderem os Significados e Símbolos
Necessários ao Pensamento.
Estes Modelos de Interacção e Comunicação, Criam Grupos e Sociedades.
O Interaccionismo Simbólico reconhece a importância da Estrutura Social e
das Instituições, mas recusa aceitar que elas sejam determinantes no
Comportamento Humano.
Os Interaccionistas crêem que a Ordem Social não resulta, contudo, da
Comunicação Directa, mas da Aprendizagem de Papéis durante o Processo
de Socialização que Ensina aos Indivíduos o que os Outros Esperam deles
nas Situações Particulares.
Assim, Aprendem o Eu (Pessoal) e o Mim (Social) e Construído em Função
das Expectativas dos Outros.
A Luta entre o Homem Natural Regido pelos seus Próprios Impulsos e o
Homem Social Condicionado pelas Expectativas Inerentes ao
Desempenho de um Papel, é Constante.
Nesta Perspectiva, os Indivíduos Controem uma Imagem em Função do
Outro Significante, do Outro que lhes Interessa.
Mead considera assim, que o Ser Social e a Sociedade, é o Resultado de
Interacções Pessoais Permanentes, Caracterizadas pela Interpretação e a
Significação, a Negociação e a Definição de Expectativas.
As críticas a esta Teoria são a Incapacidade de Análise para além do Nível
dos Pequenos Grupos e a Redução da Sociedade, à imagem que as
pessoas fazem dela, minimizando a sua importância e o seu papel.
O Interaccionismo Simbólico Desenvolveu-se ao longo do século XX de
Forma Irregular e Vive de Imagens, Histórias e Temas.
Inclui ainda Várias Correntes e Teorias Diferentes, formuladas em décadas e
em universidades diferentes.
Tem, na sua Base, 4 Critérios:
1. Os Mundos Humanos não são só Materiais, mas também fortemente
Simbólicos e a Sociologia Interaccionista interessa-se pelas Formas,
através das quais o Ser Humano Constrói Significados; Define-se a Si
Próprio, às suas Emoções, Comportamentos e Situações em que se
Envolve; Interage com os Outros Manipulando, Transformando e
Alterando esses Significados.
2. A Evolução das Significações está ligada a um Processo que resume as
Estratégias de Aquisição de um Sentido do Eu, de Desenvolvimento de
uma Biografia, Representação Mental do Tempo e do Espaço, etc.
3. A Unidade de Análise Interaccionista não é o Indivíduo, mas a
Interacção, que faz com que no Eu Individual esteja sempre Presente no
Outro.
4. Todas as Descobertas são Objecto de Investigação Empírica.
Investigam-se as Interacções Concretas entre as Pessoas, Observam-se
os Encontros e Estuda-se-lhes os Significados.
58
Existiu uma Grande Diversidade de Contributos Interaccionistas
Simbólicos:
- Escola de Chicago - Blumer;
- Escola de Iowa - Manford Khun;
- Escola Dramatúrgica - Com Raízes em Durkheim;
- Escola Etnometodológica - Com Raízes em Parsons.
Nos anos 20, mais propriamente na Universidade de Chicago, onde se
desenvolveu, o Interaccionismo Simbólico, criou-se uma Tradição de
Análise Empírica, especialmente em Domínios Ligados à Marginalidade
Social e aos Comportamentos Desviantes, Produzindo Vários Contributos
Teóricos: Teoria da Rotulagem (Becker), Etnometodologia (Harold
Garfinkel), Fenomenologia e Modelo Dramático (Goffman).
O trabalho mais importante do Interaccionismo Simbólico foi desenvolvido
por Erving Goffman no seu Livro Presentation of Self in Everyday Life (1959).
A Tensão ente o Eu e o Mim, está expressa através do Modelo
Dramatúrgico.
Goffman entendia que o Comportamento Humano não estava Pré-
Determinado e Resultava da Capacidade Criativa Individual e da Liberdade
Pessoal Limitada por Contextos Sociais, embora Não Determinada por
Estes.
Desenvolveu o Modelo Dramatúrgico de Acção Social, que a concebe como
uma Actuação em Público em que o Indivíduo Desempenha Papéis, de
Modo a Proteger o seu Íntimo e a sua Auto-Imagem.
O Conceito de Papel Social é central no pensamento de Goffman.
Os Papéis Sociais são Definidos Socialmente em Função das Posições
que os Indivíduos Desempenham.
Assim, toda a Vida Social está Organizada em Zonas de Tempo e Espaço
que se Caracterizam Diferentemente (Intimidade / Actos Públicos).
Harold Garfinkel criou a Etnometodologia que é um Método de Análise da
Realidade Social.
A Etnometodologia baseia-se na Observação da Vida Social do dia-a-dia, na
Tradição dos Estudos Empíricos do Interaccionismo Simbólico,
relativizando a importância das Estruturas Sociais.
A Rotina do dia-a-dia é a Chave da Manutenção da Ordem e da Coesão,
Sociais.
O Encontro Concertado de Práticas, Regras e Expectativas Comuns que
ocorrem entre os Indivíduos, permite a União Social.
No fundo, trata-se de Estudos acerca do Senso Comum e das Maneiras de
Viver com Descrições Etnográficas Detalhadas, de Eventos Rotineiros e
Diários.
Para a Realização destes Estudos, Garfinkel Desenvolveu 3 Conceitos
Fundamentais:
- Método Documental (que Permite Identificar Certos Padrões de
Interpretação e Significação na Vida do dia a dia);
- Reflexibilidade (refere-se ao Fenómeno de Interpretação Individual
Orientada por um Sentido Pré-Determinado Socialmente);
- Indexicalidade (Nenhuma Palavra ou Acção Tem Sentido, fora do seu
Contexto).
59
Tal como afirmam Bergman e Luckman, “as Palavras já não são meros
Símbolos de Objectos, Pensamentos, Emoções, etc.”, São Criadoras
dessas mesmas Realidades e São Responsáveis pelo Funcionamento
Social.
As críticas à Etnometodologia são a Incapacidade de Explicar seja o que fôr
e Produzir apenas Descrições Sem Capacidade Teórica e Subjectivas; Não
Contemplar a Influência do Poder e da Estrutura Social nos
Comportamentos dos Indivíduos; Representar a Vida Social como sendo
uma Colecção de Vidas Individuais e não fazer mais do que leituras de
Senso Comum, sendo Incapaz de Explicar qualquer Fenómeno.
O Interaccionismo Simbólico foi a mais importante Teoria Empírica do
século XX, senão a única.
De Origem Americana, desenvolveu-se e viu o seu apogeu na Universidade
de Chicago e tem como representantes nomes como Robert E. Park, E.
Burgess, Hughes, Blumer e mais tarde, nos anos 50-60, Becker (primeiro a
incluir a fotografia nos seus Estudos Sociológicos).
Nos anos 60 combateu o Estrutural Funcionalismo de Parsons e apesar das
críticas que eclodiram nos anos 70, sobreviveu e estimulou a criação da
Sociedade para o Estudo do Simbólico (SSSI), abrindo Novos Campos de
Investigação, tais como, a Divisão entre Micro e Macro, a Preocupação com
a Linguagem, a Procura de Processos Formais Genéricos e o Estudo da
Política.
Emoção: É uma Experiência Subjectiva, associada ao Temperamento,
Personalidade e Motivação.
As Ciências Sociais frequentemente examinam a Emoção, pelo Papel que
Desempenha na Cultura Humana e nas Interacções Sociais.
Em Sociologia, as Emoções são examinadas de acordo com o Papel que
Desempenham na Sociedade Humana, nos Padrões e Interações Sociais e
na Cultura.
Comportamento: É definido como o Conjunto de Reacções de um Sistema
Dinâmico em Face às Interacções e Realimentações Propiciadas pelo Meio
onde está inserido.
Exemplos de Comportamentos: Comportamento Social, Comportamento
Humano, Comportamento Animal, Comportamento Atmosférico, etc.
Étnico: Pertencente ou Relativo a uma Étnia.
Simbólico: Relativo ao Símbolo, que Serve de Símbolo; que tem o Carácter
de um Símbolo e que é Utilizado para Obter um Determinado Efeito.
Símbolo: Por sua Forma e Natureza, os Símbolos Evocam, Perpetuam ou
Substituem, em Determinado Contexto, Algo Abstracto ou Ausente.
Interacção: É a Acção Social, Mutuamente Orientada, de 2 ou Mais
Indivíduos em Contacto.
Distingue-se da mera Interestimulação em virtude de Envolver Significados
e Expectativas em Relação às Acções de Outras Pessoas.
Podemos dizer que a Interacção é a Reciprocidade de Acções Sociais.
Empirismo: É um Movimento que acredita nas Experiências como Únicas
(ou Principais), Formadoras das Ideias, Discordando, portanto, da Noção
de Ideias Inatas.
60
Um Conceito Capital, na Ciência e no Método Científico, é que toda
Evidência deve ser Empírica, ou seja, Depende da Comprovação Feita
pelos Sentidos.
Termos como Método Empírico ou Pesquisa Empírica, usado nas Ciências
Sociais e Humanas, para Denominar Métodos de Pesquisa que são
realizadas através da Observação e da Experiência (Exemplo: o
Funcionalismo).
CAPÍTULO 9
62
A TER ou Teoria da Acção, é uma Actualização das ideias de Max Weber
relativamente ao Objectivo da Sociologia.
Baseia-se na Crença Iluminista de que a Acção Humana se Rege pela Razão.
A grande inovação que transporta para a Sociologia é o facto de pretender que
a Acção Social seja concebida de uma forma menos complexa e que, mesmo
assim, permita alcançar uma Explicação Causal da Prática e dos seus Efeitos.
Revistas Científicas como Racionality and Society e o Journal of Mathematical
Sociology, contêm artigos sobre esta Teoria.
É de destacar os contributos de Coleman, Fararo, Cook, Levi e Elster.
Os Postulados da TER derivam da ideia de Weber de que a Sociologia se
deve preocupar com a Compreensão Interpretativa, a Acção Social e alcançar
uma Explicação Causal do seu Curso e Efeitos.
Esses Postulados são os seguintes:
1- A Compreensão Interpretativa, que deve ser alcançada através do já
referido Modelo da Escolha Racional Individual da Acção, o mais simples
possível;
2 - A Acção Social, que também deve ser interpretada utilizando o Modelo,
mais simples possível, de Acções Interdependentes ou Interacções entre
Indivíduos;
3 - As Explicações Causais, devem ser estabelecidas através das Relações
entre o Nível Macro (ou Sistémico) e o Nível Individual, como por exemplo a
Forma como uma Doutrina Religiosa produz Valores Individuais; as Relações
de Nível Micro (ou Individuais), como por exemplo os Valores que Ordenam as
Práticas Económicas e as Relações entre o Nível Micro (ou Individual) e o Nível
Macro, como por exemplo as Práticas Económicas Individuais que geram o
Padrão de Organização Económica da Sociedade.
Após a abordagem dos Postulados, analise-e agora às Premissas da TER,
que são 4:
1 - O Individualismo, presunção de que só os Indivíduos agem e que tudo o
que ocorre na Vida Social deriva da Acção Individual e tem consequências
directas, criando o Sistema Social que vai condicionar as Consciências
Individuais;
2 - A Optimização, presunção de que o Indivíduo age sempre da melhor
maneira possível;
3 - O Autocentramento, presunção de que o Objectivo da Acção Social é o
Bem-Estar do Actor;
4 - O Privilégio Paradigmático, a versatilidade de certos aspectos destas
Premissas, permite a adição de ideias provenientes das Teorias de
Aprendizagem e Evolução, que irão resultar na Teoria Sociológica.
É importante na TER, fazer a distinção entre Acções Independentes (a Acção
de Weber) e 2 Tipos de Acção (Inter) Dependentes (as Acções Sociais de
Weber), que são as Ações Sociais Paramétricas e as Acções Sociais
Estratégicas.
As Relações Independentes têm pouco interesse para a Análise Sociológica.
As Acções Sociais são Paramétricas, quando as Acções dos Outros puderem
ser analisadas como Independentes das do Actor Principal, para que ele não
tenha de calcular o que será feito por Terceiros, em Função da sua Acção.
63
As Acções Sociais são Estratégicas quando existe uma Interacção em que o
Actor tem de calcular o que os Outros estão a fazer ou farão, em Função da
sua Acção.
Nesta Situação, o Ambiente onde se desenrola a Acção é Reactivo aos Actores
e os mesmos são, Estrategicamente Interdependentes, o que nos transporta
para a Teoria dos Jogos, que é a Teoria de Interdependencia Estratégica
adoptada pela TER.
Esta Teoria leva a TER a Situações em que os Actores, quando agem, levam
em consideração as Acções dos Outros Actores.
O Destino de um Actor depende, não só das suas Acções, como das Acções
dos Outros.
A Teoria dos Jogos pode ser utilizada na Clarificação de Situações
Estratégicas e apontar Soluções de Equilíbrio, assim como pode Assumir
Diferentes Formas.
Na Análise Contemporânea é a Categoria dos Jogos de Repetição ou
Superjogos, que ocupa lugar de destaque (em especial os Jogos Repetidos do
Dilema do Prisioneiro, pois permitem que o Estudo de Conceitos como o de
Confiança e Reputação, sejam feitos com grande Rigor Analítico e permitem
ainda uma Abordagem Evolucionista do Equilíbrio).
CAPÍTULO 10
Sociologia Histórica
64
Interdisciplinaridade: Fusão da História e Teoria
67
Os Seres Humanos, enquanto Sujeitos e Objectos da História, Redefinem de
Forma Contínua e em Simultâneo, a sua Auto-Percepção e a sua Pertença a
Vários Mundos.
Os Sujeitos Históricos oscilam entre o Enclausuramento Social (base do
Totalitarismo) e a Heteronomia (base do Globalismo).
As Ideologias Transcendentes e as Ideologias Imanentes exercem um Efeito
Diferenciado sobre o Desenvolvimento, tanto das Identidades Sociais, como
dos Complexos Societais.
Assim, a Ideologia, explica a Força Integradora ou Solidificadora do Islão ou da
Cristandade, nos quais a Moral Imanente Intensifica os Laços, ipso facto, o
Poder, dos Grupos ou Estados Existentes.
V - A NATUREZA DO SOCIAL
CAPÍTULO 11
Sexo e Género
As Distinções ente Sexo e Género forneceram, numa fase inicial, uma base
sólida tanto para as Marxistas como para as Feministas Radicais,
concedendo à Teoria Feminista Anglófona o seu Objecto: a Construção
Social da Feminilidade.
Explica-se assim, o Posicionamento de Inferioridade e de Subordinação da
Mulher na Sociedade.
As Funções Biológicas da Mulher eram, repetidamente, utilizadas para
Racionalizar e Legitimar o seu Estatuto Social Inferior.
A Teoria Feminista partilha com a Sociologia, uma Desconfiança Profunda da
Biologia e do que é Biológico, advogando que não é apenas a Biologia que
Define a Condição Feminina, mas também a Interacção com o Meio Social em
que se está envolvido.
Foi a Separação estabelecida entre Sexo Biológico e Género Social, que
tornou possível a Refutação das Racionalizações Biológicas Deterministas
da Dominação Masculina.
Exemplo disto é a famosa frase de Simone Beauvoir “não se nasce Mulher”.
Porém, argumentos contrários inquiriam sobre a Importância da Biologia, uma
vez que, a Propagação Global da Dominação Masculina era um facto inegável.
As Feministas mais Radicais, dos Princípios do Movimento de Libertação das
Mulheres, tinham como Objectivo declarado o Total Desmantelamento dos
“Papéis de Género”, aos quais sucederia apenas um Conjunto Diferenciado de
Corpos Biológicos.
O “Problema do Útero” e das Diferenças Reprodutoras de Sexo, surge como
uma das Condições para a Abolição do Género.
Foi contudo o Feminismo Marxista que, com um Cariz Sistemático, mais se
concentrou na Análise das Relações Sociais de Reprodução, não por si
próprias, mas na sua Relação com a Produção Capitalista e com a Classe
Social.
Na falta da Explicação Marxista sobre a Opressão, muitas vezes Violenta, que
as Mulheres sofriam nas suas Relações Pessoais e Familiares com os
Homens, o Feminismo Radical teve-a como preocupação cimeira.
A Dominação Sexual da Mulher e a Amplitude da Violência Masculina,
representou uma espécie de “Opressão Excedentária”, excessiva e alheia à
Teoria.
Para as Feministas Radicais, todas as Mulheres sofriam com Diferentes
Graus de Agudeza, as Opressões do Sistema Sexo-Género, que é o
Patriarcado.
A Questão do Patriarcado
Heterossexualidade Compulsiva
71
Seguindo o Estruturalismo Althusseriano, muitas Feministas Marxistas
fizeram depender o Patriarcado ou o “Sistema Sexo-Género”, da Prática
Ideológica.
A Psicanálise com a sua Teoria do Inconsciente, expôs à luz do dia a
Impossibilidade de Transformar com êxito, Crianças de Sexo Feminino em
Mulheres de Palmo e Meio.
As Mulheres nunca poderiam adoptar de Corpo e Alma a Feminilidade.
Feminismo Maternal
72
Economias do Desejo: Luce Irigaray
A Teoria Feminista é demasiado jovem para ter perdido a Memória das suas
Fontes (Movimento Feminino, de Finais da Década de 1960).
Insere-se no que foi denominado a “Contra-Esfera Pública Feminista”,
juntamente com Várias Instituições e Práticas, desde Refúgios e Abrigos para
Mulheres Vítimas de Violência a Campanhas Políticas e Movimentos de
Cidadãos.
O Desenvolvimento de um Dispositivo Teórico que revelasse a Posição das
Mulheres na Sociedade e que ao mesmo tempo colocasse essa Posição e a
Própria Construção Social do Género em Causa, foi, desde o seu início, uma
Componente Basilar do Movimento de Libertação das Mulheres.
Década de 1970: o Feminismo perfilava a Igualdade entre os Sexos;
Década de 1980: o Feminismo perfilava a Diferença entre os Sexos (Exemplo:
Irigaray).
Pós-Estruturalismo, Pós-Modernismo e a Desconstrução: foram utilizados para
Erguer um Novo Feminismo, um Feminismo que Evita Oposições Bipolares.
Os Pós-Modernos e os Pós-Estruturalistas Valorizam a Diferença e através das
Múltiplas Teorizações está a nascer um Novo Consenso, em que se reconhece
que o “Género” não pode ser Caracterizado como um Tipo de Opressão
Separado e mais Primordial, de que derivam as Formas de Opressão criadas
73
na “Raça” e na “Classe”, devendo, em vez disso, ser Perspectivado como
Constituído nas, e através das, Outras Oposições.
CAPÍTULO 13
77
Associa os Problemas Sociais a Consumos Colectivos (Gerados pelas
Contradições do Capitalismo), considerando que estes deveriam constituir o
Objecto de Estudo da Sociologia Urbana.
Não vê o Espaço Urbano em Termos Culturais ou de Formas de Vida, mas em
Termos de Espaço onde São Gerados os Conflitos Criados pelos Consumos
Colectivos, resultantes da Necessidade de Reprodução do Poder de Trabalho.
Análise de Massey às Diversas Formas de Reestruturação Económica - De
Influência Marxista, considerava a Existência de Padrões Espaciais,
Resultantes da Divisão Social do Trabalho, explicado pela Luta entre Capital e
Trabalho e que, as Desigualdades Espaciais Resultariam de uma
Acumulação de Estratos de Reestruturação, Dependentes do Impacto de
Processos de Acumulação em Graus Variáveis.
Isto é, Massey considera irrelevantes os Padrões Resultantes da Divisão Social
do Trabalho, explicando que o que importa são os Resultados do
Desenvolvimento da Luta entre Capital e Trabalho, não estando as Classes
Limitadas pelas Fronteiras dos Estados, pois são Fenómenos Internacionais
Resultantes de Variáveis Ligadas aos Processos Capitalistas de Produção e
Acumulação, aos Interesses de Classes e aos Níveis de Concentração
Espacial dessas Classes.
Estes Novos Conceitos de Tempo e Espaço, conduzem à Tese da Nova
Divisão Internacional do Trabalho, que se Postula em 3 Factores de Relevo:
1- O Melhoramento na Produtividade, que Vai Originar um Excedente de Mão-
de-Obra Rural, que Fica Disponível para Trabalhar na Cidade;
2- As Mudanças no Processo Produtivo que Facilitam a Separação do
Processo de Produção, do Processo de Concepção e Direcção;
3- O Desenvolvimento das Tecnologias de Comunicação que Permite uma
Melhor Circulação de Informação e Supervisão.
Estes 3 Factores estão na Base de uma Divisão Espacial do Trabalho com 3
Consequências:
1- Colapso Generalizado do Emprego na Indústria dos Países Desenvolvidos;
2- Aumento do Emprego Fabril nos Países Recentemente Industrializados;
3- Intensificação da Competição Espacial, pela Atracção e Manutenção do
Capital Móvel que, fruto da Evolução Tecnologica, se pode Localizar em
Qualquer Local.
78
A partir do Estudo do Carácter Rotineiro da Vida Humana, no dia-a-dia,
estabeleceu que, as Rotinas são Condicionadas por Vários Constrangimentos,
Ligados aos Limites dos Próprios Seres Humanos.
Considerando que os Processos Individuais de Vida estão ligados aos
Processos de Longa Duração das Instituições, Giddens desenvolveu 6
Conceitos com o Objectivo de Integrar a Teoria da Acção, na Teoria das
Estruturas:
1 - Conceito de Regionalização ou Zona de Espaço-Tempo, relacionado
com as Práticas Sociais Rotineiras;
2 - Conceito de Presença-Disponibilidade, relacionado com o Grau e a
Forma como o Indivíduo está Co-Presente no Meio Social de Cada Indivíduo;
3 - Conceito de Distanciamento Espácio-Temporal, no qual as Sociedades
São Prolongadas por Períodos de Tempo Mais Curtos ou Mais Longos;
4 - Conceito de Margens de Tempo, relacionado com Formas de Contacto ou
Conflito entre Sociedades Organizadas, segundo Diferentes Princípios
Estruturais;
5 - Conceito de Repositório de Poder, relacionado com a Capacidade de
Armazenamento através do Espaço-Tempo;
6 - Conceito de Tempo Vazio, relacionado com a Separação do Tempo e do
Espaço das Actividades Sociais.
79
1 - Einstein demonstrou que Não Há um Tempo Fixo.
O Tempo é Local e Intrínseco ao Sistema de Observação;
2 - Einstein demonstrou também que o Tempo e o Espaço Fundem-se numa
4ª. Dimensão de Entidades Espácio-Temporais;
3 - Cronobiologos demonstraram que o Ritmo é um Princípio essencial da
Natureza, logo do Homem.
As Pessoas não são unicamente influenciadas pelo Tempo-Relógio.
São Eles Próprios um Relógio;
4 - Pensadores Evolucionistas enfatizaram que o Tempo do Corpo de um
Indivíduo deve ser entendido como uma Extensão Biológica Inclusiva de toda a
História da Evolução Humana.
O Tempo do Nosso Corpo não se esgota na nossa Finitude, antes Transporta
Consigo toda a História Evolutiva (Adam, 1990).
Adam é a favor de uma Noção de Tempo Não Espacializada, Não Reversível,
Multifacetada e em que Não Há uma Forte Distinção entre Tempo Natural e o
Tempo Humano.
Este Tipo de Formulação tem-se Reflectido em Análises mais recentes:
Tese de Thompson (1967): Demonstrou que o Capitalismo Industrial
Transforma uma Orientação pela Tarefa, numa Orientação pelo Tempo.
Thrift (1990): Analisa o “Surgir da Consciência Capitalista do Tempo” na Grã-
Bretanha.
Seguiram-se os Debates do Pós-Modernismo, que argumentavam que:
- A Cultura Predominantemente Escrita está Ameaçada por uma Cultura mais
Visual e Estética, que se torna mais apreciada numa Forma Menos Separada,
Menos Formal e Menos Distanciada;
- Referem que agora, as Entidades Sociais são Mais Abertas e Fluidas (quando
Comparadas com as Tradicionais), Mais Fixas e Inalteráveis (Período
Moderno).
Levebvre: Exerceu bastante Influência nos Anos 1980.
Defendeu que o Espaço não é uma Geometria Neutra e Passiva.
O Espaço é Produzido e Reproduzido, Representando assim o Lugar de Luta.
CAPÍTULO 14
Conceitos
80
Pós-Modernidade: É a Condição Sócio-Cultural e Estética que prevalece no
Capitalismo Contemporâneo após a Queda do Muro de Berlim e a
Consequente Crise das Ideologias que dominaram o Século XX.
O uso do termo tornou-se corrente, embora haja controvérsias quanto ao seu
significado e a sua pertinência.
Algumas Escolas de Pensamento têm-na como o Fundamento do Alegado
Esgotamento do Movimento Modernista, que dominou a Estética e a Cultura
até Final do Século XX, substituindo, assim, a Modernidade.
O termo foi utilizado pela 1ª vez em 1964, pelo brasileiro Mário Pedrosa.
Estruturalismo: É uma Corrente de Pensamento nas Ciências Humanas que
se inspirou no Modelo da Linguística e que Apreende a Realidade Social como
um Conjunto Formal de Relações.
O Estruturalismo é uma Abordagem que veio a tornar-se um dos Métodos
mais extensamente utilizados para Analisar a Língua, a Cultura, a Filosofia da
Matemática e a Sociedade na 2ª. Metade do Século XX.
De um modo geral, o Estruturalismo procura explorar as Inter-Relações (as
"Estruturas"), através das quais o significado é produzido dentro de uma
Cultura.
Pós-Estruturalismo: Refere-se a uma Tendência para a Radicalização e a
Superação da Perspectiva Estruturalista, observada entre os Intelectuais
Franceses, tanto no Campo propriamente Filosófico (Jacques Derrida, Gilles
Deleuze, Jean-François Lyotard), como Psicanalítico (Jacques Lacan), Político
e Sociológico, na Perspectiva Neomarxista (Louis Althusser) e na Análise
Literária (Roland Barthes, Maurice Blanchot).
O Pós-Estruturalismo instaura uma Teoria da Desconstrução.
A Realidade é considerada como uma Construção Social e Subjectiva.
A Abordagem é mais aberta no que diz respeito à Diversidade de Métodos.
Em Contraste com o Estruturalismo, que afirma a Independência e
Superioridade do Significante em Relação ao Significado, os Pós-
Estruturalistas vêem o Significante e o Significado como Inseparáveis.
O prefixo Pós não é, todavia, interpretado como sinal de contraposição ao
Estruturalismo.
De facto, esses Pensadores levaram às últimas consequências os Conceitos e
Desenvolvimentos do Estruturalismo, até dissolvê-los no
Desconstrutivismo, no Construtivismo ou no Relativismo e no Pós-
Modernismo.
O Movimento Pós-Estruturalista está intimamente ligado ao Pós-
Modernismo, embora os 2 Conceitos não sejam sinónimos.
Teleonomia da História: Finalidade da História.
Reflexibilidade: Significa Questionamento e Subversão da Tradição,
implicando que esta não pode mais prover um Conjunto Firme de Normas e
Crenças, que sejam usadas para Criar Confiança.
A Sociedade Pós-Tradicional é uma Sociedade em que as Convenções Sociais
são, Activa e Conscientemente, Criadas e Renegociadas, ao Invés de Dadas,
Aceites e, inerentemente, Autoritárias.
Mas isto requer uma Consideração Reflexiva, rompendo com o
Inquestionável Status das Premissas da Tradição, que são transmitidas como
Verdades através de Rituais.
81
Numa "Sociedade Globalizante, Culturalmente Cosmopolita, as Tradições são
Colocadas a Descoberto: é preciso oferecer-lhes Razões ou Justificativas"
(Giddens, 1996: 14).
Dialéctica: É um Método de Diálogo cujo foco é a Contraposição e
Contradição de Ideias, que Conduz a Outras Ideias e que tem sido um Tema
Central na Filosofia Ocidental e Oriental, desde tempos imemoriais.
A Tradução Literal de Dialética significa "Caminho Entre as Ideias".
Metafísica: É uma das Disciplinas Fundamentais da Filosofia.
Os Sistemas Metafísicos, na sua Forma Clássica, tratam de Problemas
Centrais da Filosofia Teórica: são Tentativas de Descrever os Fundamentos, as
Condições, as Leis, a Estrutura Básica, as Causas ou Princípios Primeiros,
bem como o Sentido e a Finalidade da Realidade como um Todo, isto é, dos
Seres em Geral.
Niilismo: É um Termo e um Conceito Filosófico que Afecta as Mais Diferentes
Esferas do Mundo Contemporâneo (Literatura, Arte, Ciências Humanas,
Teorias Sociais, Ética e Moral).
É a Desvalorização e a Morte do Sentido, a Ausência de Finalidade e de
Resposta ao “Porquê”.
Os Valores Tradicionais Depreciam-se e os "Princípios e Critérios Absolutos
Dissolvem-se".
"Tudo é Sacudido, Posto Radicalmente em Discussão”.
“A Superfície, antes congelada, das Verdades e dos Valores Tradicionais está
Despedaçada e torna-se difícil prosseguir no Caminho, Avistar um
Ancoradouro".
Hermenêutica: É um Ramo da Filosofia e Estuda a Teoria da Interpretação,
que pode Referir-se, tanto à Arte da Interpretação ou à Teoria e Treino de
Interpretação.
A Hermenêutica Moderna, ou Contemporânea, Engloba não somente Textos
Escritos, mas também Tudo que Há no Processo Interpretativo.
Isso inclui Formas Verbais e Não Verbais de Comunicação, assim como
Aspectos que Afectam a Comunicação, como Preposições, Pressupostos, o
Significado, a Filosofia da Linguagem e a Semiótica.
Contingência: Aquilo que É, ou Pode Ser, mas não sendo absolutamente
necessário que seja.
É o Status de Proposições que não são necessariamente Verdadeiras, nem
necessariamente Falsas.
Necessidade: A Propriedade Daquilo que É (e não pode não ser), em Todos
os Mundos Possíveis.
Localização: É o termo usado em Geografia e Áreas Afins, para Designar a
Posição de Algo num Espaço Físico.
Universalidade: Qualidade ou Carácter Universal; refere-se a Generalidade.
Ambivalência: De outro modo, Ambivalência é a Experiência de Ter
Pensamentos e Emoções, Simultaneamente Positivos e Negativos, para
Alguém ou Alguma Coisa.
82
Pós-Modernos
Factores da Pós-Modernidade
- Ambiguidade;
- Controvérsia (Crítica Literária, Análise Histórica, Discurso Filosófico e
Cultural).
Wright Mills foi o Iniciador da Ideia de Pós-Moderno, no Campo da Teoria
Social.
Mills defende que, tal como a Idade Moderna se está a Transformar, também o
Nosso Entendimento da Sociedade e do Indivíduo está a Ser Surpreendido
pelas Realidades Novas.
Muitas das Nossas Expectativas e Imagens são Datadas, e se,
frequentemente, muitas das Nossas Categorias Normais de Pensamento e de
Sentimento nos Ajudam a Explicar o que acontece à nossa volta, noutros
casos, acabam por nos desorientar.
Muitas das Explicações que Concebemos derivam da Grande Transição da
Idade Média para a Idade Moderna, Tornando-se Ineficientes, Pouco Flexíveis,
Pouco Convincentes e de Relevância Duvidosa, quando são Generalizadas
para a Compreensão da Realidade Actual.
Mills denuncia como Insustentáveis as Posições Modernas acerca da Relação
Intrínseca entre Razão e Liberdade.
83
A Questão da Teoria Pós-Moderna tem sido Colocada na Recepção (com
particular acuidade e em primeira instância na América do Norte), da obra de
um Grupo de Pensadores Franceses como Barthes, Baudrillard, Deleuze,
Guattari, Faucault e Lyotard.
Barthes, Derrida, Faucault e Lyothard são considerados Pós-Estruturalistas e
advogam uma Preocupação Global e Crítica relativamente a:
- Crise de Representação e Instabilidade;
- Ausência de Fundações Seguras para o Conhecimento;
- Importância das Linguagens, Discursos e Textos;
- Desadequação da Proposição Iluminista de um Sujeito Racional e Autónomo,
Substituída pela Percepção dos Modos pelos quais os Indivíduos são
Constituídos como Sujeitos.
Num certo sentido, pode dizer-se que houve determinado traço de “Tradição
Morta” do Pensamento Pós-Estruturalista que Renasceu e se Regenerou no
Quadro conhecido como Teorias Sociais e Filosóficas Pós-Modernas.
O Pressuposto da Teorização Pós-Moderna tem como Base que, tanto as
Concepções, como as Análises da Vida Aocial de Base Moderna que Existiam,
começaram a parecer cada vez Mais Deficientes e Desajustadas, senão
mesmo Erradas.
4 Autores Contemporâneos ficaram ligados de forma estreita à Noção
Controversa de Pensamento Social e Filosófico Pós-Moderno,
Transmitindo a Sensação de que Vivemos com o Fim da Metafísica Ocidental:
- Foucault (História Genealógica Crítica; Conduta Ética; Política);
- Derrida (Metafísica Ocidental em Senescência; “Nada Existe Fora do Texto”;
Decadência das Instituições Sociais e Políticas; Desconstrução da Metafísica;
Logocentrismo: Oposição Entre Escrita e Fala);
- Lyotard (Indissociável da Noção de Pós-Moderno; desenvolveu uma
Conceptualização em torno da Questão do Pós-Moderno);
- Baudrillard (Cultura Contemporânea; Meios de Comunicação)
Lyotard, preocupado com as Alterações do Saber e com o que daí poderá
Advir; o Estado das Ciências nas Sociedades Avançadas.
Mais tarde, o autor afasta-se da Análise Sociológica da Condição Pós-
Moderna do Saber, assumindo uma Perspectiva eminentemente Filosófica da
Razão e dos Problemas Políticos e de Justiça que esta encerra.
A Premissa Central da Tese de Lyotard é que a Grande Narrativa Perdeu a sua
Credibilidade, qualquer que seja o Modo de Unificação que lhe está
Consignado: Narrativa Especulativa, Narrativa de Emancipação.
Lyotard interessa-se sobretudo no Declínio da Grande Narrativa, em
Aceleração, sobretudo, desde os Finais da 2ª. Guerra Mundial.
O interesse de Lyotard está nas Grandes Narrativas e Metanarrativas, que
terão cunhado a Modernidade.
Narrativas estas que invocaram um “Futuro para Cumprir”, uma Ideia Universal
para Materializar.
No Fundo, Lyotard Constrói a “Grande Narrativa” do Declínio das Grandes
Narrativas”.
84
Modernização Reflexiva
85
Incerteza de Identidade, Totalitarismos ou o Crescente Hiato entre o Norte Rico
e o Sul Depauperado, Desemprego, etc.
Lyotard deixa o convite para se Activar as Diferenças e Respeitar as Diferentes
Formas de Alteridade.
Giddens (1990) Aponta a Insinuada Humanização do “Imperativo” Técnico-
Científico, como uma das Dimensões de um Possível Futuro Social Pós-
Moderno.
Baudrillard e o Pós-Modernismo
86
Fim da Modernidade
87
Mas isto Não Representa, Nem o Fim da Teoria, Nem o Fim da Política.
Pelo Contrário, não podemos furtar-nos à Responsabilidade Política, à Decisão
Ética e às Dificuldades de, continuamente, Fazer uma Opção ou Assumir uma
Posição.
E é, neste contexto, que as Formas Reflexivas de Teorização ocuparam um
lugar proeminente.
O Habitat Pós-Moderno é Pluralista e tende a Cultivar a Diferenciação e o
Entendimento entre Diferentes Círculos Sociais e Tradições.
FIM
88
TEORIAS SOCIOLÓGICAS
PERGUNTAS E RESPOSTAS DE VÁRIOS EXAMES
(2004 A 2010)
91
49 - Com Parsons, a Acção deixa de ser considerada como um Atributo da
Racionalidade de um Actor, para ser tomada como o veículo central da
Explicação Funcional da Organização Social. (FALSO)
50 - Para os Interaccionistas Simbólicos o que distingue o homem dos animais
é a capacidade de dominar a matéria. (VERDADEIRO)
51 - A Ideia de Progresso é um dos temas fundamentais do Programa
Interaccionista. (VERDADEIRO)
52 - A Neutralidade/Afectividade é um Par de Variáveis Estruturais
Parsonianas. (VERDADEIRO)
53 - A principal crítica feita ao Estrutural Funcionalismo foi a de utilizar
Explicações Históricas demasiado concretas e empíricas. (FALSO)
54 - A Teoria do Conflito afirma que a Ordem Social é mantida pelas Normas e
Valores de uma Sociedade. (FALSO)
01 - A Teoria da Acção:
A. Deve ser vista como elemento constitutivo de toda a Teoria Social;
B. Não deve ser operacionalizada fora da Sociologia Activa;
C. Considera o Comportamento Social dependente da Estrutura Social;
D. Todas as respostas anteriores.
(Resposta A)
05 - O Pós-Modernismo, opõe-se a:
A. Pós-Estruturalismo;
B. Modernismo;
C. Positivismo;
D. Todas as respostas anteriores.
92
(Resposta C)
20 - A Dialética é:
A. Um Conceito Comunista;
B. Um Conceito de Hegel;
C. Um Conceito Realista.
(Resposta B)
22 - O Marxismo Ocidental:
A. Não teve inspiração em Marx;
B. Centrou-se em aspectos Estéticos e Epistemológicos;
C. Foi uma Corrente essencialmente desenvolvida por artistas.
(Resposta B)
25 - Goffman:
A. Criou a Teoria da Rotulagem;
B. Desenvolveu os Aspectos Simbólicos no interior do
Interaccionismo;
C. Foi um Parsoniano convicto.
(Resposta B)
26 - Homans:
A. Aperfeiçoou a Teoria da Troca;
B. É essencialmente Psicologista;
C. Foi um dos principais seguidores de Parsons.
(Resposta B)
30 - A Teoria Crítica:
A. Ataca o Pensamento de Habermas;
B. Ataca a Escola de Frankfurt;
C. Ataca o Pensamento de Horkheimer;
D. Ataca a Própria Sociologia.
(Resposta D)
100
53 - Escolha a resposta mais correcta para a seguinte pergunta: qual o
pressuposto da Etnometodologia ?
A. Que a observação das Instituições é determinante para a explicação do
social;
B. Que a Ordem Social resulta da Estrutura;
C. Que a Coesão Social se mantém pela Acção rotineira dos
Indivíduos;
D. Que o desempenho de papeis é sempre de tipo orgânico.
(Resposta C)
RESPOSTAS CURTAS:
Solidariedade Mecânica: Este Conceito refere-se aos Laços Sociais que unem
as pessoas com base numa comunhão de crenças, costumes, rituais e
símbolos.
Este Tipo de Solidariedade é típico das sociedades tribais e é caracterizado
pelo predomínio de uma consciência colectiva, assim como pela
homogeneidade e indistinção entre os seus membros.
Este tipo de Solidariedade é designado por “Mecânica”, pois segundo
Durkheim, as obrigações morais são sentidas pelos indivíduos como “Naturais”,
sendo muito pouco questionadas ou debatidas.
Solidariedade Orgânica: Oposto à Noção de Solidariedade Mecânica, o
Conceito de Solidariedade Orgânica pretende explicar a Sociedade Moderna
como o resultado de um Processo de Evolução, Diferenciação Social e de
Divisão Social do Trabalho.
Para Durkheim a Sociedade Moderna está unida pela Diferença.
Contudo, o Individualismo e a Divisão do Trabalho não conduzem
necessariamente à Anarquia Moral ou à Anomia.
Tal como um Organismo, a Sociedade Moderna é entendida a partir das
Relações de Dependência que os seus membros estabelecem entre si para
poderem sobreviver.
103
12 - Defina o Conceito de Espacialização Social, proposto por R. Shields
(1991)
104
15 - Explique porque é que Peter Hamilton afirma que é apropriado
descrever que toda a Teoria Sociológica se baseia num Esquema
Funcionalista.
RESPOSTAS LONGAS:
105
Em primeiro lugar, devido à riqueza e à diversidade de um conjunto de
estímulos na Metrópole, os indivíduos têm de desenvolver uma atitude de
reserva e insensibilidade perante os sentimentos.
Sem o desenvolvimento de tal atitude, as pessoas não estariam aptas a
enfrentar as experiências causadas por uma elevada densidade populacional.
A Personalidade Urbana é reservada, desinteressada e sofisticada.
Em segundo lugar, a Cidade assegura aos indivíduos um tipo diferente de
liberdade pessoal.
Quando comparada com a Comunidade de Pequena Escala, a Cidade
Moderna possibilita aos indivíduos o desenvolvimento interior e exterior das
suas peculiaridades.
É a configuração espacial da Grande Cidade que permite um desenvolvimento
único dos indivíduos excepcionalmente inseridos num vasto raio de acção e de
contactos.
Em terceiro lugar, a Cidade baseia-se na economia monetária que é a fonte e a
expressão da racionalidade e do intelectualismo da Cidade.
Tanto o dinheiro, como o intelecto, partilham uma mesma atitude perante
pessoas e coisas e é o dinheiro que nivela sentimentos e atitudes.
Em quarto lugar, a economia monetária, em particular na forma como se tem
reflectido na vida moderna, gera uma preocupação pela precisão e pela
pontualidade.
Isto é assim, quer num sentido mais geral, no qual a economia monetária se
institui como responsável pelo facto de os indivíduos calcularem mais as suas
actividades e relações, quer, mais especificamente, no sentido em que os
indivíduos têm de planear as suas actividades de forma precisa, sendo
necessário cronometrar cuidadosamente as suas acções, com pontualidade e
com restrições à espontaneidade.
Simmel não explica tanto a Vida Urbana em função da forma espacial da
Cidade, a sua análise constitui antes uma primeira investigação, paralela à de
Marx e de Engels no Manifesto do Partido Comunista, sobre os efeitos dos
padrões “modernos” de mobilidade na vida social, onde quer que se
encontrem.
Simmel analisa a fragmentação e a diversidade da vida moderna e demonstra
que o movimento, a diversidade de estímulos e as apropriações visuais do
espaço (dos lugares), são aspectos centrais dessa experiência.
(Livro, Págs. 382 e 383)
107
Para Dahrendorf a Luta e o Conflito são inevitáveis mesmo dentro de um
Grupo, uma vez que este é hierarquizado e, portanto, o Poder encontra-se
desigualmente distribuído no seu seio.
Assim, enquanto aqueles que se encontram em posições dominantes lutam
pela manutenção da sua situação e do seu estatuto, os que se encontram em
situação dominada, lutam por melhorar a sua posição na hierarquia.
O Grupo é um Cosmos de Luta e Conflito.
Este Conflito de Interesses pode mesmo não ser consciente.
Por isso, o autor desenvolve o Conceito de Interesse Latente que contrapõe ao
de Interesse Manifesto (que são interesses inicialmente latentes que se vieram
a manifestar).
Dahrendorf constrói uma Tipologia de Grupos em que distinguem 3 Estádios
até chegar ao Grupo de Conflito:
- Os "Quase Grupos", em que diversos indivíduos se encontram em posições
próximas e coincidem em interesses comuns aos seus papéis.
- Os “Grupos de Interesses”, em que os indivíduos que constituíam um "Quase
Grupo" se organizam, estruturam e estabelecem objectivos de acção comum
liderada.
- Os “Grupos de Conflito”, constituídos por indivíduos que se encontram
reunidos e estão em Conflito com outros Grupos.
Segundo Dahrendorf, a principal tarefa da Sociologia dos Conflitos é estudar a
relação existente entre Interesses Latentes e Manifestos, bem como
compreender e mostrar que a Função do Conflito no Sistema Social é dupla:
Manutenção e Mudança.
O Conflito é Permanente, pois alguns Lutam pela Manutenção do Status Quo e
outros pela Mudança de Situação.
Também Dahrendorf foi criticado nas suas posições e acusado de não ter em
consideração os aspectos da Ordem e da Estabilidade Social.
Esta Teoria foi igualmente considerada Ideológica e Radical por não ter
conseguido, tal como o autor se propôs, fazer uma reflexão sobre as Ideias
Marxistas pelo que, terá resultado uma numa aplicação não muito adequada do
Marxismo à Teoria Sociológica.
Foi também acusado de ser mais próximo do Estrutural Funcionalismo do que
do próprio Marxismo.
Finalmente, foi acusado de, tal como o Estrutural Funcionalismo, apenas atingir
a Dimensão Macro, deixando escapar o que se passa ao Nível Micro.
A Teoria do Conflito acabou por não ter uma importância decisiva no
Pensamento Sociológico, nem ter conseguido avançar em termos da
recuperação do Pensamento Marxista para a Teoria Sociológica.
No entanto, pode ter contribuído um pouco para o início de uma aceitação
tardia (anos 60) do Pensamento Marxista nos Estados Unidos.
Entre os críticos de Ralf Dahrendorf deve procurar-se especialmente Hazelrigg,
Turner e Weingart.
Entre os seguidores da Teoria do Conflito distingue-se apenas Randall Collins,
que pretendeu superar algumas limitações da Teoria, nomeadamente a sua
incapacidade de passar do Nível das Estruturas Sociais para o Nível dos
Actores Sociais.
108
03 - Caracterize os principais temas do Paradigma Teórico
Interaccionismo Simbólico, referindo a influência desta Perspectiva na
Sociologia Contemporânea e, em particular, no Pensamento Pós-
Moderno.
109
04 - Explicite a principal Linha de Clivagem Epistemológica no
Pensamento Sociológico, distinguindo entre o
Positivismo/Naturalismo/Objectivismo e o Construtivismo/Anti-
Naturalismo/Subjectivismo.
111
A Crítica Mais Frequente acusa o Estrutural Funcionalismo de não estar
habilitado a estudar Conflitos Sociais e de Valorizar em demasia as Relações
Sociais Harmoniosas.
É também acusado de considerar apenas os Aspectos Negativos do Conflito e
de Exagerar o Consenso Social e a Integração em níveis não realistas,
Centrando-se na Análise da Cultura, Normas e Valores.
Estes 3 argumentos levaram à criação da ideia de que se tratou de uma Teoria
Conservadora, ideologicamente enviesada, uma vez que mais do que as
desvantagens, enfatizou as vantagens de manutenção da sociedade tal como
estava.
A manutenção da situação, obviamente, interessou especialmente aos
favorecidos, aos que dela retiravam os maiores proveitos.
O Funcionalismo tomou os Sistemas Normativos como representando a
Sociedade como um todo, quando na realidade, qualquer Sistema Normativo
reflecte os interesses dos que têm capacidade de dominar as instâncias
legislativas e exercer o seu poder em proveito próprio.
Ao Nível Metodológico, as Principais Críticas foram de que o Estrutural
Funcionalismo era Vago, Ambíguo e Pouco Claro, que trabalhava mais com
Noções Abstractas do que com Sociedades Reais.
Outra crítica afirmava, que erradamente o Estrutural Funcionalismo acreditou,
que a Realidade Social poderia ser explicada por uma Única Teoria Integrada e
um Conjunto de Categorias, o que não é verdade.
Outra reserva principal foi a que desconfiou de que existisse qualquer Recurso
Metodológico capaz de abarcar a leitura de um todo tão complexo de forma
integrada e simultânea.
Por outro lado, o A-Historicismo inviabiliza o Método Comparativo.
O Estrutural Funcionalismo, de facto, não aceita comparações ao afirmar que
determinado elemento só é analisável no Quadro do seu Sistema Social e
nunca fora dele.
112
indivisível, finito no tempo, impossibilitado do desempenho simultâneo de
tarefas e restrita capacidade de armazenamento de Tempo-Espaço.
As Redes de Interacção Humana são formadas por trajectórias individuais
diárias, semanais, mensais, anuais etc., por situações, participação em grupos,
prosseguimento de projectos, etc.
Essas Redes estão condicionadas pelos limites dos indivíduos que as
compõem e o resultado desses constrangimentos é que, a conduta diária não
está só confinada por fronteiras físicas e geográficas, mas também, por
“Paredes Espácio-Temporais” existentes em todos os lados.
Estas “Paredes” têm sofrido grandes mudanças e essas mudanças deram-se
no sentido de fazer convergir o Espaço com o Tempo, devido ao encurtamento
do Espaço (resultante das Tecnologias, nomeadamente nos Transportes e
Comunicações).
Giddens considera que os Processos Individuais de Vida estão ligados aos
Processos de Longa Duração das Instituições, tentando assim integrar a Teoria
da Acção na Teoria das Estruturas.
Desenvolve vários Conceitos para atingir esse objectivo, de que se podem
destacar:
a) Conceito de Regionalização, ou Zona de Espaço-Tempo relacionada com
práticas sociais rotinizadas.
b) Conceito de Presença-Disponibilidade, ou Grau e Formas pelas quais os
Indivíduos estão co-presentes no Meio Social de cada Indivíduo.
c) Conceito de Distanciamento Espácio-Temporal, ou Processo pelo qual as
Sociedades são esticadas por Períodos de Tempo mais curtos ou mais longos.
d) Conceito de Margens de Tempo-Espaço, ou Formas de Contacto ou Conflito
entre Sociedades Organizadas, segundo diferentes Princípios Estruturais.
e) Conceito de Repositórios de Poder, ou Capacidade de Armazenamento
através do Espaço-Tempo.
f) Conceito de Tempo Vazio, ou Separação do Tempo e do Espaço das
Actividades Sociais.
113
Parte do pressuposto de que o que mantém a Ordem e a Coesão Social é a
vida rotineira do dia-a dia.
Somente os Sociólogos e os Pensadores consideram a existência de
Estruturas Sociais e Instituições responsáveis pela Manutenção da Ordem
Social.
Os Indivíduos, no seu dia-a-dia, preocupam-se apenas com o desempenho das
suas rotinas e dos seus papéis e, só se apercebem da existência de Estruturas
Sociais, face a acontecimentos dramáticos ou muito significativos
absolutamente excepcionais nas suas vidas.
O Fenómeno que permite manter unida a Sociedade é o encontro concertado
de Práticas, Regras e Expectativas Comuns que ocorre entre os Indivíduos.
Assim, a Etnometodologia pretende estudar os Métodos que os Indivíduos
utilizam nas suas relações do dia-a-dia, os quais reflectem as suas
aprendizagens e as suas interpretações das experiências já vividas, os seus
encontros sociais e as suas rotinas estabelecidas.
Os Estudos Empíricos daqui resultantes, produziram Descrições Etnográficas
detalhadas de eventos rotineiros e diários, geralmente negligenciados pela
Investigação Sociológica.
No fundo, trata-se de estudos acerca do Senso Comum e das maneiras de
viver.
Para estudarem as rotinas e a sua importância na Manutenção da Ordem
Social, estes investigadores provocam, Metodologicamente, Rupturas nas
Práticas Sociais, como incumprimento de regras, desrespeito pelos outros etc.
Garfinkel desenvolveu 3 Conceitos Fundamentais: Método Documental,
Reflexibilidade e Indexicalidade.
O Método Documental, trata-se de um Método que permite Identificar certos
Padrões de Interpretação e Significação existentes na vida do dia-a-dia, que
conduzem os Indivíduos a uma Experiência Social Particular.
A Reflexibilidade, que se aplica à Vida Social, refere-se ao Fenómeno de
Interpretação Individual orientada por um Sentido Pré-Determinado
Socialmente.
Cada indivíduo utiliza os outros para elaborar as suas imagens, pelo que elas
são o Reflexo das suas Interacções.
A Indexicalidade aponta para o facto de nenhuma Palavra ou Acção, ter
Sentido fora do seu contexto.
Para a Etnometodologia a Linguagem e a Conversação são, pois,
Fundamentais para criar a Realidade Social.
Ela é Socialmente construída, como afirmarão Peter Bergman e Luckman em
1965, na sua obra traduzida para português: A construção social da realidade.
As Palavras já não são meros Símbolos de Objectos, Pensamentos, Emoções,
etc.
São criadoras dessas mesmas Realidades e são responsáveis pelo
Funcionamento Social.
Assim, a tarefa principal da Etnometodologia é refutar o Princípio Sociológico
de que a Realidade Social existe por si e é Independente dos Indivíduos.
Estamos nas antípodas (opostos) de Durkheim e, na Tradição Interpretativa da
Sociologia.
A tarefa do Sociólogo não deve ser a de criar sentido para a Vida Social, mas
sim a de descrever como é que o homem da rua cria sentido para a sua vida.
114
Para isso basta observar.
A criação de sentido, por parte do investigador, por exemplo, através da
utilização de Estatísticas, é tida como ilegítima pois a Caracterização é
Subjectiva e Enviesada (Oblíqua).
São os implicados nos Fenómenos que tem de falar deles, pela Linguagem do
Sociólogo.
Ele tem de os deixar mostrar como são e o que pensam.
O Sociólogo deve ser um veículo de evidenciação do mundo, através da sua
capacidade de interpretar os Sentidos criados pelo mundo, não de produzir
esse Sentido.
De um ponto de vista Epistemológico, isto opõe-se ao Positivismo e
especialmente à Revisão Construtivista de Bachelard.
Trata-se de um desafio demasiado grande, às bases do Pensamento
Sociológico, para escapar a todo o tipo de Críticas.
As Principais Críticas feitas á Etnometodologia são:
- Incapacidade de explicar seja o que fôr e produzir apenas descrições sem
Capacidade Teórica.
- Apresentar as pessoas como criadoras de Realidade.
- Não contemplar a influência do Poder e da Estrutura Social nos
Comportamentos dos Indivíduos.
- Representar a Vida Social como sendo uma Colecção de Vidas Individuais
imunes aos grandes Fenómenos Económicos e Políticos, como a Revoluções
ou as Crises Económicas, por exemplo.
- Não fazer mais do que leituras de Senso Comum, sendo incapaz de explicar
qualquer Fenómeno.
A Etnometodologia constitui o que Boaventura de Sousa Santos classificou
como um "Rombo no Paradigma Positivista", no seu Livro”: Introdução a uma
Ciência Pós-Moderna.
Teve a virtude de focar aspectos quase sempre esquecidos na Tradição
Sociológica, relativos à vida do dia-a-dia e, apesar da Grande Controvérsia
Teórico/Epistemológica que gerou, parece que como Corrente se mantém com
bastante força ainda.
CORRIGIR TEXTOS:
Texto 1:
115
Onde se lê: Deveria ler-se:
Texto 2:
Marx Toqueville
Indivíduos Massas
Irracionalização Racionalização
Texto 3:
Fácil Difícil
Texto 4:
Europeia Americana
Teoria Teoria
Económica Sociológica
Estruturalismo Funcionalismo
116
Texto 5:
Conflito e da Espaço e
Cooperação Tempo
Nem Nem Cultural
Conflituosa
Nem Nem Espacial
Cooperativa
I II
1. Positivismo 1. Estudo da Autoridade Burocrática
2. Funcionalismo 2. Teleonomia Conflitual da História
3. Sociologia histórica 3. Análise Científica dos Objectos
Reais
4. Marxismo 4. Sistema Social Coercivamente
Imposto
5. Organicismo 5. Recurso à Analogia
Chave
I II
1 3
2 4
3 1
4 2
5 5
117
I II
1. Ciência no Século XVIII 1. Durkheim e Comte
2. Positivismo Sociológico 2. Metodologia Hermenêutica
3. Dialética 3. Gramsci
4. Materialismo Histórico 4. Naturalismo
5. Construtivismo 5. Engels
6. Marxismo Ocidental 6. Hegel
Chave
I II
1 4
2 1
3 6
4 5
5 2
6 3
AUTORES E OBRAS:
Ligue A e B convenientemente.
Na grelha da chave, complete o quadro com o número correcto retirado da
coluna B.
A B
1. O Suicídio 1. Weber
2. 2. A Ética Protestante e o Espírito do 2. Durkheim
Capitalismo
3. As Regras do Método Sociológico 3. Dilthey
4. Psicologia dos Povos 4. Habermas
5. Para uma Sociedade Racional 5. Durkheim
6. A Estrutura das Revoluções 6. Khun
Científicas
Chave
A B
1 5/2
2 1
3 2/5
4 3
5 4
6 6
118
A B
1. Raymond Aron 1. Conhecimento e Interesses
Humanos
2. 2. Durkheim 2. A Elite do Poder
3. Habermas 3. The Social Systhem
4. Wright Mills 4. O Suicídio
5. Parsons 5. A Ética Protestante e o Espírito
do capitalismo
6. Weber 6. As Etapas do Pensamento
Sociológico
Chave
A B
1 6
2 4
3 1
4 2
5 3
6 5
A B
1. O Antigo Regime e a Revolução 1. Durkheim
2. 2. Catecisme Positiviste: ou Sommaire 2. Marx
Exposition de la Religion Universele
3. A Divisão do Trabalho Social 3. Weber
4. A Ideologia Alemã 4. Toqueville
5. A Situação da Democracia 5. Comte
Burguesa na Rússia
Chave
Nº. RESPOSTA
CORRECTA
1 4
2 5
3 1
4 2
5 3
119
MARQUE COM - V (VERDADEIRO) ou F (FALSO), AS SEGUINTES
AFIRMAÇÕES:
V/F
1 F A Sociologia é uma Ciência Normativa.
2 V O Relativismo desenvolveu-se bastante no seio da Antropologia
Cultural.
3 F Weber e Durkheim eram Socialistas.
4 F O Estrutural Funcionalismo começou a desenvolver-se em meados
do Século XIX.
5 V A manutenção dos Modelos Latentes é um dos Imperativos
Funcionais de Parsons.
6 V A Teoria do Conflito é de inspiração Marxista.
7 F A Fenomenologia utiliza um Método Positivista.
8 V Teoria da Escolha Racional é uma Teoria Voluntarista da Interacção.
V/F
1 V A Teoria da Escolha Racional afirma que as causas das Acções
Sociais devem ser procuradas nos sistemas.
2 F A Concepção Francesa sobre a Sociologia do Tempo é derivada de
Toqueville.
3 V O desenvolvimento da Sociologia foi marcado pelas diferentes
Histórias Nacionais.
4 F O Pensamento Sociológico Alemão foi unificado por Marx e Engels.
5 V Durkheim foi Professor na Sorbonne.
6 V Marx foi influenciado por Hegel.
7 V Weber criou uma Teoria da Estratificação Social.
8 V Weber é um Teórico da Acção.
120
TEORIAS SOCIOLÓGICAS - P-FÓLIO DE 27/02/2011
I GRUPO
121
II GRUPO
RESPOSTAS CURTAS:
III GRUPO
124