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TEORIAS SOCIOLÓGICAS:

CORRENTES
CONTEMPORÂNEAS

COM BASE NO LIVRO:


TEORIA SOCIAL
DE:
BRYAN S. TURNER

SEBENTA DE:
LUÍS M. MONTEIRO
ANO 2011/2012

INTRODUÇÃO
1
A Natureza Social

No século XIX, o Social surgiu com frequência no debate científico em


contraste com a ideia de natureza ou de natural.
A mudança social havia transformado (ou pelo menos assim se pensava) a
condição natural dos seres humanos.
O estado da natureza era muito diferente do estado da sociedade.
Por intermédio da Sociologia Clássica, teve lugar uma consciencialização
crescente da separação do social em relação a outras esferas e dimensões
da actividade.
Este procedimento ter-se-ia dado com a evolução da sociedade capitalista
industrial ou, de uma forma geral, com a disseminação da modernização.
A sociedade industrial moderna não era como uma comunidade natural,
pelo facto de lidar com a satisfação de necessidades e carências de um modo
absolutamente único e revolucionário.
As comunidades naturais eram determinadas pela tradição e pela satisfação
tradicional ou convencional de desejos e necessidades.
Como Karl Marx observou na sua análise sobre o capitalismo, este provocou
uma revolução na sociedade civil, tanto ao nível da produção, como da
satisfação de necessidades.
O capitalismo industrial contemporâneo era visto, em alguns aspectos,
como uma criação artificial da economia.
A partir da tradicional Noção Iluminista de sociedade civil (ou sociedade
burguesa), desenvolveu-se a ideia da dimensão social enquanto produto
específico e único da modernização.
Da mesma forma, havia a ideia de que a Sociologia só se tornou numa
disciplina desenvolvida durante o século XIX com o objectivo de analisar esse
fenómeno novo de um mundo social separado e autónomo.
Neste propósito, é interessante notar que a figura de Robinson Crusoé fascinou
os economistas políticos tradicionais precisamente porque se manteve na
fronteira moral entre o mundo natural dos nativos e a nova economia.
Na Teoria Sociológica, esta noção sobre o Social foi expressa na famosa
distinção proposta por Ferdinand Tonnies: o contraste entre Comunidade
(Gemeinschaft) e Sociedade (Gesellschaft).
A Tradição Sociológica, tal como foi expressa por Robert Nisbet (1967) num
estudo marcante sobre a História da Sociologia, centrou-se na apresentação
de uma série de contrastes produzidos pela modernização industrial,
nomeadamente um conjunto de oposições entre sagrado e profano, indivíduo
e sociedade, autoridade e poder, status e classe social e, sobretudo,
comunidade versus sociedade.
As Abordagens Sociológicas da modernização, tal como a Noção de
Variáveis-Padrão de Talcott Parsons (Robertson e Turner, 1991), fazem
uso explícito deste contraste entre comunidade tradicional e sociedade
moderna.
A distinção original feita por Tonnies deu lugar a uma visão profundamente
nostálgica sobre a perda de relações comunitárias verdadeiras devido à
evolução das sociedades seculares.
Este contraste implícito entre a autenticidade da comunidade e a
artificialidade da sociedade continua a influenciar grande parte da Análise
2
Social como, por exemplo, na área da Teoria das Classes Sociais (Holton e
Turner, 1989).
A emergência do Social como campo específico de análise, tem constituído
sempre uma parte essencial do conjunto implícito de relações entre a Teoria
Económica e a Teoria Social.
Como Ciência, a Economia comporta um conjunto relativamente preciso e
restrito de assuntos e conceitos teóricos, a maior parte dos quais circulam em
torno da noção de consumo racional de bens para a satisfação de
necessidades individuais.
Em contrapartida, o desenvolvimento da Sociologia e da Antropologia
enquanto disciplinas, tem estado estreitamente relacionado com a crítica a
estas asserções económicas fundamentais.
Até certo ponto, o Conceito de Social na Sociologia equivale frequentemente
à ideia de não económico, ou seja, a Sociologia tem colocado a questão dos
valores, o tema das acções não racionais e o problema da ordem social em
relação com os impulsos egoístas e a questão da construção de instituições
numa atmosfera de competição.
Daí a Teoria Sociológica ter sempre procurado analisar e compreender a
religião, que é predominantemente não racional, de um ponto de vista
económico ou utilitário.
Esta visão da Sociologia na sua relação com a Economia dominou o trabalho
inicial de Talcott Parsons, um sociólogo que moldou grande parte dos
desenvolvimentos da Sociologia nas décadas de 1950 e 1960.
A crítica de Parsons à Teoria Económica foi central para fundar a ideia de
Acção Voluntarista, algo que está presente na sua obra The Structure of
Social Action (1937).
De forma resumida, Parsons defende que as hipóteses fundamentais do
Racionalismo Utilitarista não conseguem fornecer uma teoria satisfatória e
coerente de sociedade.
Por exemplo, a fraude e o uso da força são formas perfeitamente racionais do
ponto de vista do comportamento Económico Utilitarista, mas são, ao mesmo
tempo, incompatíveis com a Ordem Social.
A Teoria Económica Utilitarista sempre explicou a questão da Ordem Social
através daquilo que Parsons chamou de Categorias Residuais, que de facto
não eram produzidas pelas asserções centrais da teoria, para além de serem
manifestamente incompatíveis com estas.
A Teoria Económica apela tipicamente a determinados conceitos como A Mão
Invisível da História ou Sentimentos e Valores Morais, que não podem ser
deduzidos ou gerados pelas asserções da Teoria Económica Utilitarista.
Parsons socorreu-se da Teoria Política do Estado de Thomas Hobbes para
descrever este tópico como o Problema Hobbesiano da Ordem.
Esta conceptualização da Ordem Social baseada numa crítica à Teoria
Utilitarista provou ser bastante influente no desenvolvimento da Sociologia
enquanto disciplina.
Muitos sociólogos, mesmo os cépticos da obra mais tardia de Parsons,
aceitaram as suas hipóteses sociológicas fundamentais no que respeita à
importância dos valores e normas na orientação da Acção Social.
Parsons defendeu que, sem a existência de um consenso mínimo em torno
dos Valores Sociais, a sociedade seria impossível.
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Assim, tentou desenvolver esta abordagem através dos Conceitos de
Socialização e Internalização.
Provavelmente, estas ideias acabaram por conduzir Parsons a uma
Abordagem Funcionalista-Estrutural dos Sistemas Sociais, tal como
sucedeu, por exemplo, no seu estudo clássico The Social System (1951).
Esta aproximação à natureza do social é analisada de forma interessante e
provocatória por Peter Abell no seu capítulo sobre a Teoria da Escolha
Racional, onde argumenta o seguinte: embora o trabalho inicial de Parsons
representasse uma crítica significativa a alguns aspectos da Teoria da
Escolha Racional, não conseguiu desenvolver uma abordagem alternativa à
Teoria da Acção Voluntarista porque, numa fase posterior, se voltou para
uma Abordagem Sistémica do Social.
A sua Visão do Social foi incapaz de encontrar uma solução para a relação
entre os Níveis Macro e Micro.
Na Teoria Social Contemporânea, embora o Interaccionismo Simbólico e a
Teoria da Escolha Racional tenham aderido a uma concepção forte do
Social, tem-se verificado por todas as Ciências Sociais e Humanas uma
mudança profunda na forma de conceptualizar o Social, o que reflecte uma
enorme incerteza quanto ao desenvolvimento da sociedade moderna.
Na Corrente dos Cultural Studies, como Steven Connor chama a atenção
(Capítulo 12), o Social é agora totalmente identificado com o Cultural.
O argumento padrão é o de que a Sociologia Clássica, por exemplo,
negligenciou bastante a Esfera Cultural, concentrando-se antes nas
Estruturas e Instituições Sociais, conceptualizadas como algo separado da
Cultura.
Pelo contrário, a Teoria Social Contemporânea deu uma reviravolta analítica,
dando proeminência e prioridade aos Fenómenos e Relações Culturais.
Esta proeminência do Cultural está associada a alguns argumentos expostos
por autores como Frederic Jameson, no sentido da transformação da
sociedade moderna causada pelo consumismo, ter resultado numa expansão
maciça do Campo Cultural (Jameson, 1984).
A preocupação da Teoria Social com o Cultural é, portanto, um efeito das
mudanças significativas na sociedade moderna resultantes do crescimento do
Consumo Cultural e da Produção Cultural.
De acordo com estes teóricos, ocorreu uma Estetização do Social.
Em termos sociológicos, a Economia Pós-Fordista, o crescimento da
indústria do lazer, o impacto económico da tecnologia multimédia e o
turismo global contribuíram para a preponderância do Consumo Cultural e
dos Estilos de Vida.
Usando um conjunto semelhante de argumentos na Teoria Pós-Modernista,
autores como Jean Baudrillard (1983a) anunciam o fim do Social devido ao
crescimento e expansão dos sistemas de comunicação modernos, os quais
produziram uma catadupa de signos na esfera social que resultaram numa
implosão paradoxal do social sobre si mesmo.
Em consequência disto, Baudrillard declara-se céptico quanto às
possibilidades das formas tradicionais de Teoria Social, quer enquanto
método, quer como modo de apropriação da natureza do sistema de signos
contemporâneos.

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De modo a expressar melhor esta transformação, Baudrillard desenvolveu um
conjunto de conceitos importantes para descrever estas mesmas mudanças.
Em particular, vê o mundo moderno em termos de uma série de simulações
por intermédio das quais tudo é uma representação de uma representação de
uma representação (Baudrillard, 1983b).
Esta explosão de sistemas representacionais significa que a noção tradicional
de social é completamente inadequada enquanto conceito capaz de explicar
esta revolução na comunicação.
Baudrillard tem consciência, por exemplo, da proximidade do fim do século e o
seu próprio trabalho reflecte uma mentalidade finissecular, a qual contém
uma componente profética.
A própria Sociologia Clássica foi moldada pelo fim de século oitocentista, a
partir do qual foi descoberto o social; pelo contrário, Baudrillard está
consciente do fim do social.
No final do século XX, a poluição global, a violência racial na Europa, as
epidemias globais e a instabilidade económica no sistema-mundo geraram
um profundo pessimismo acerca da Noção de Social.

O Declínio da Teoria Social?

A Sociologia emergiu a partir de uma concepção forte do Social, entendendo-


o como um domínio separado e autónomo de instituições e práticas que
constituíam o próprio objecto desta ciência.
Lado a lado com esta concepção forte do Social, desenvolveu-se um vigoroso
programa de investigação para a Teoria Social.
Evidentemente, grande parte da investigação em Ciências Sociais prosseguiu
numa base empírica, na qual os investigadores sociais se preocupavam
sobretudo em coleccionar factos que pudessem ser usados no sentido de uma
melhoria social e política.
Esta tradição da Ciência Social Empírica foi bastante proeminente no
contexto norte-americano.
Contudo, havia uma visão igualmente clara da natureza da teoria como um
Sistema Lógico-Dedutivo de Proposições, passível de ser formalizado num
sistema coerente de conceitos.
Estas teorias formais foram vistas como parte essencial da explicação
científica.
Autores como C. J. Hempel desenvolveram esquemas formais através dos
quais essas mesmas proposições poderiam ser transformadas em Teorias
Coerentes da Realidade Social (Hempel, 1959).
Estes esquemas formais são muitas vezes vistos em termos de uma hierarquia
encimada por uma metateoria, passando por esquemas analíticos e
proposições formais até às designadas teorias de médio alcance, para chegar,
por fim, a generalizações e observações empíricas.
Na Teoria Social Contemporânea, esta perspectiva da Sociologia Analítica
esteve claramente associada a autores como Jonathan Turner (1987) e
Jeffrey Alexander (1982).
A asserção subjacente a este programa forte de Teorização Social é que o
cientista social se pode mover da formalização de proposições gerais para a
operacionalização em termos da investigação empírica.
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Um bom exemplo desta abordagem é dado por Robert K. Merton na sua obra
Social Theory and Social Structure (1968), onde procurou formalizar as
proposições e conceitos vagos e subdesenvolvidos do funcionalismo, com vista
à criação de um programa de investigação definitivo.
Na Sociologia Contemporânea, a tentativa de Jonathan Turner (1984) para
formalizar, numa Teoria Sistémica, os conceitos relativamente desorganizados
de desigualdade social e de classe social, seriam um outro exemplo do
programa forte de formação teórica.
Embora este programa forte para a Teoria Social se mantenha vivo e de boa
saúde, existe uma enorme incerteza quanto ao estatuto da teoria enquanto tal.
É urgente, portanto, colocar a seguinte questão: a Teoria Social ainda é
possível ?
Tal como William Outhwaite demonstra no seu capítulo sobre a Filosofia das
Ciências Sociais, há uma tradição na abordagem da Teoria Social que segue
o modelo das Ciências Naturais.
Esta tradição percebe a Teoria Social, acima de tudo, como um modo de
explicar problemas, práticas e instituições empíricas.
Neste sentido, a Teoria Social é desenvolvida como um instrumento de
investigação social capaz de proporcionar, de uma forma relativamente simples
e coerente, explicações sobre acontecimentos do mundo; por exemplo, através
do desenvolvimento de modelos e explicações causais.
De acordo com a filosofia de Karl Popper (1963), as teorias são aceites ou
rejeitadas através de um processo de falsificação.
A Ciência é um instrumento crítico, na medida em que a sua tarefa é refutar
hipóteses sobre o mundo real, mais do que comprová-las.
Pelo contrário, os teóricos sociais influenciados por uma abordagem
hermenêutica da Ciência Social vêem a Teoria, acima de tudo, como uma
interpretação da realidade social, permitindo compreendê-la através de uma
descrição adequada.
A compreensão é alcançada através do esclarecimento sobre o sentido de uma
acção do ponto de vista da cultura, em que o próprio actor social está inserido.
Para alguns teóricos, a busca de explicações causais e a compreensão de
sentido não são actividades mutuamente exclusivas, antes aspectos
complementares da análise social.
Esta perspectiva está presente, por exemplo, na Filosofia das Ciências
Sociais de Max Weber, onde o autor defende que a Sociologia deve tentar
alcançar, não só explicações causais, como intepretação de significados.
Geralmente, esta tradição de pensamento é referida como Sociologia
Interpretativa (verstehende Soziologié) (Outhwaite, 1975).
Esta visão da Sociologia tem sido consideravelmente elaborada e defendida
por autores contemporâneos como W. G. Runciman.
Em contrapartida, um outro conjunto de filósofos das Ciências Sociais
asseveraram que a explicação causal e a interpretação compreensiva são
abordagens mutuamente exclusivas ou, pelo menos, actividades
radicalmente diferentes.
Tal posição foi adoptada na filosofia contemporânea por Peter Winch, em The
ldea of Social Science and its Relationship to Philosophy (1958).
O seu argumento assume duas formas.

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Em primeiro lugar, apela à distinção entre motivos e causas, devendo os
primeiros ser alcançados através da compreensão do significado da acção.
Em segundo lugar, vê as relações sociais como relações lógicas orientadas
por regras.
Os métodos concretos através dos quais o sentido da acção pode ser descrito
e compreendido constituíram a força peculiar da Antropologia Social, tendo
esta desenvolvido métodos de campo cujo propósito específico era a
interpretação de sentidos muitas vezes vistos do exterior como bizarros.
Por exemplo, o estudo antropológico da religião procurou explicar e
compreender as práticas religiosas e mágicas frequentemente vistas, pelo
Ocidente, como não racionais ou irracionais.
A Antropologia alcançou estes objectivos mostrando que a contextualização
da crença e da prática permitiam identificar o conteúdo de sentido racional ou
irracional das crenças e práticas num determinado contexto cultural.
O estudo de E. E. Evans-Pritchard sobre as crenças mágicas dos Achanti
constitui o exemplo clássico de uma abordagem antropológica das religiões
primitivas (Evans-Pritchard, 1937, 1965).
A consequência desta visão da teoria, enquanto descrição de significado,
sugeriu a um conjunto de teóricos sociais contemporâneos que a Teoria Social
é, na verdade, uma mera descrição das interpretações dos actores sociais
sobre as suas próprias práticas.
O resultado deste desenvolvimento no seio da Teoria Social é o facto desta se
ter tornado numa espécie de relato local e contextual do significado da acção,
assim como do seu sentido, para as comunidades indígenas.
Como resultado, a ideia de que a Teoria Social poderia assumir-se como geral
e universal foi abandonada.
Mesmo assim, continuam a existir algumas excepções (Skinner, 1985).
Na verdade, quanto mais local é a abordagem de um problema, mais rica é a
descrição.
A investigação antropológica tem-se mantido bastante céptica acerca da
Teoria Formal e das generalizações a partir da observação de culturas.
Neste sentido, os métodos de observação de campo adoptaram uma
abordagem fortemente relativista quanto à análise das práticas culturais e das
instituições sociais.
A Antropologia Cultural de Clifford Geertz (1972) foi recentemente
radicalizada pelos pós-modernistas, os quais defenderam que a Teoria
Social é, na verdade, uma forma de escrita que procura fornecer histórias
acerca de culturas e práticas locais, emergindo o sentido da acção a partir da
forma da própria história (Clifford e Marcus, 1986).
Existe uma distância muito curta entre esta posição e a sugestão de que a
teoria é, de facto, uma forma de escrita ficcional que reconstrói o sentido de
fornia imaginativa, em moldes de prosa cuidadosamente construída.
A ideia segundo a qual a teorização é uma forma de escrita foi bastante
difundida nos debates contemporâneos.
Produziu uma consciência sofisticada do estilo narrativo e da estrutura da
teoria enquanto forma de escrita (Bourdieu, 1990).
Estes desenvolvimentos na Antropologia mais radical e na Teoria Social
Pós-Modernista são indicativos da perda de confiança no projecto das

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Ciências Sociais, pelo menos no que respeita ao programa forte de
construção teórica.
Muitos teóricos sociais abraçaram várias formas de crítica literária como
técnica de desenvolvimento da investigação social ou, como também sucedeu,
adoptaram técnicas desconstrutivistas usadas por filósofos como Derrida
(1978).
Ann Game, no seu livro Undoing the Social (1991), ilustra bem esta forma de
abordar a Teoria Social.
O resultado destas contribuições indicia um interessante paradoxo que está
patente na Teoria Social Contemporânea.
Existem 2 Correntes Contraditórias e Opostas na Teoria Social.
Por um lado, existe o Pós-Modernismo, assente naquele que poderíamos
chamar o Paradigma Fraco da Teoria Social.
Por outro lado, a Teoria da Escolha Racional, a qual constitui um movimento
teórico influente no quadro das Ciências Sociais e que aderiu ao programa
forte de construção da Teoria Social.
Esta divisão levanta uma questão interessante acerca da possibilidade da
continuidade e acumulação da prática teórica.

Continuidade e Acumulação na Teoria Social

Poucas tradições no seio da Teoria Social podem reivindicar uma continuidade


e crescimento significativos ao longo de todo o século XX.
Por outro lado, existem poucas provas de uma acumulação de teoria bem
sucedida através de um processo dialéctico de investigação empírica e
reformulação analítica.
Por exemplo, é evidente que no Marxismo se gerou uma profunda divisão
entre as origens do Marxismo e as subsequentes gerações (Kolakowski,
1978).
Enquanto o Marxismo inicial estava preocupado com as condições
económicas da mudança revolucionária, as gerações posteriores de
pensadores marxistas deslocaram a sua atenção para questões como a análise
cultural, o papel da superestrutura nas sociedades modernas, ou os problemas
filosóficos do marxismo enquanto prática científica (Anderson, 1976).
Nos finais dos anos 1980, o colapso do comunismo organizado modificou o
ambiente em que a própria Teoria Marxista operava.
Num futuro próximo, o Socialismo Organizado não parece constituir uma
alternativa viável ao Capitalismo Desorganizado.
Estas mudanças políticas globais tiveram consequências negativas
importantes para o desenvolvimento de áreas como a Sociologia do
Desenvolvimento e do Subdesenvolvimento, a Sociologia da Análise de
Classes ou a Sociologia do Estado.
O Feminismo, tal como o Marxismo, pode também ser alvo de uma análise
histórica em termos das várias vagas que atravessaram a Teoria e Prática
Feministas.

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Tal como Terry Lovell observa, deram-se profundas mudanças de atitude, de
orientação e de análise entre a primeira, segunda e terceira vagas do
Feminismo.
Além disso, nos últimos anos, deu-se uma divisão significativa entre o
Feminismo protagonizado por intelectuais negras e a Teoria e Prática
Feministas realizadas por mulheres brancas nas sociedades industrializadas
mais avançadas.
Uma nova divisão pode vir a revelar-se importante: a que separa as
abordagens feministas modernas das abordagens pós-modernas.
Mais que avançar no sentido de uma maturidade teórica bem sucedida, temos
caminhado no sentido da diversidade e da fragmentação.
Um outro exemplo claro de descontinuidade pode ser ilustrado através da
História do Funcionalismo na Sociologia.
Diz-se muitas vezes que, durante os anos 1950 e 1960, o Funcionalismo foi o
Paradigma Teórico dominante na América do Norte.
Este predomínio do Funcionalismo esteve bastante ligado à carreira de
Talcott Parsons, embora a relação exacta entre a Sociologia Parsoniana e o
Funcionalismo continue a ser susceptível de debate (Robertson e Turner,
1991).
O Funcionalismo tem sido atacado por uma diversidade de escolas, desde a
Sociologia do Conflito, passando pela Etnometodologia, até ao Marxismo
(Alexander, 1987).
Parece ser certo que a perda de influência de Parsons acompanhou o declínio
do Funcionalismo enquanto Paradigma Teórico.
Na década de 1980, renovou-se o interesse pela Sociologia Parsoniana, algo
que proporcionou a emergência do chamado Neofuncionalismo, embora este
grupo não tenha conseguido produzir nenhuma Teoria Geral da Sociedade
(Alexander, 1985).
É possível concluir que tem havido uma acumulação teórica pouco significativa
no interior das várias tradições e que a Teoria Social se caracteriza mais pelas
modas e pela fragmentação do que pelo crescimento contínuo (B. S. Turner,
1989).
Talvez a única excepção a esta observação geral resida no crescimento teórico
do Interaccionismo Simbólico e da Teoria da Escolha Racional.
Claro que coexistem diferentes abordagens na tradição da Teoria da Escolha
Racional, tal como a Teoria das Trocas e a Teoria dos Jogos; no entanto,
todas elas partilham as asserções básicas da sua Teoria de Referência.
De forma semelhante, embora coexistam diferentes escolas de
Interaccionismo Simbólico, as suas asserções subjacentes permanecem
comuns.
O que é que poderá contribuir para a continuidade e acumulação da Teoria
Social ?
Uma resposta óbvia chega-nos da Sociologia do Conhecimento e da
Sociologia da Ciência.
A corrente dominante na Teoria Sociológica desenvolvida no século XX
parece apontar mais no sentido da fragmentação e divisão, e menos no sentido
da acumulação teórica bem sucedida.
Então, como devemos considerar a aparente continuidade do desenvolvimento
do Interaccionismo Simbólico e da Teoria da Escolha Racional ?
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A justificação destes dois casos parece prender-se com um certo número de
questões.
Em primeiro lugar, ambas as teorias partilham uma visão clara acerca de um
problema empírico que se expressa num nível de médio alcance.
A Teoria da Escolha Racional tem vindo a focar a sua atenção num problema
muito simples, ou seja, a natureza da acção racional em termos de
determinados conceitos como “o melhor interesse” e “os interesses
próprios”.
A expressão “muito simples” é usada aqui de forma deliberada, no sentido de
indicar o comprometimento da Teoria da Escolha Racional com a
simplificação das suas explicações, através duma série de conceitos básicos.
De facto, a Teoria da Escolha Racional centra a sua atenção na questão
problemática suscitada pelo carácter não racional de muitos comportamentos
do consumidor.
A continuidade da Teoria da Escolha Racional tem sido orquestrada por um
conjunto de tentativas no sentido de encontrar soluções para estas questões e
dilemas básicos.
A descrição fortemente idealizada por parte da Teoria da Escolha Racional
sobre a distribuição eficiente dos recursos escassos é, ao mesmo tempo,
simples e flexível: constitui uma ajuda poderosa para compreender os
processos distributivos no mundo real (Margolis, 1982).
O problema fundamental do Interaccionismo Simbólico tem sido a criação e
troca do simbólico na vida quotidiana.
Mais precisamente, tem-se preocupado em dar uma descrição satisfatória da
Noção de Interacção.
Este esforço teórico gerou um conjunto interessante de conceitos e abordagens
relacionado com a Natureza Social do Eu, a manutenção da Interacção
Social e os Problemas do Desvio.
Tanto o Interaccionismo Simbólico, como a Teoria da Escolha Racional
dispõem de um conjunto de critérios explícitos para identificar os avanços
teóricos.
Por exemplo, a Teoria da Escolha Racional tentou produzir conceitos que
fossem, a um tempo, simples e genéricos.
Ambas as tradições estão também concentradas num problema teórico central
de toda a Teoria Social, ou seja, a Relação Micro-Macro.
Por último, refira-se que ambas as tradições teóricas estiveram associadas a
uma tradição muito rica de investigação empírica.
Esta dimensão é particularmente evidente no caso do Interaccionismo
Simbólico que estabeleceu, através da Escola de Chicago, uma tradição de
investigação na área dos grupos ocupacionais e das carreiras.
Mais recentemente, o Interaccionismo Simbólico deu um enorme contributo à
Sociologia do Desvio e do Crime, através do desenvolvimento da Teoria da
Rotulagem, das Teorias do Estigma e dos Modelos de Comportamento
Desviante, como a Noção de Desvio Secundário.
Nos Estados Unidos, David Matza (1964) e Howard Becker (1963)
desempenharam um papel importante na Análise da Estigmatização, através
da introdução da Noção de Outsider e, na Análise das Carreiras
Desviantes, através do Conceito de Tendência Delinquente.

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Os Principais Problemas da Teoria Social

Uma crítica essencial levantada à Teoria Social é o facto de esta não ter sido
capaz de encontrar uma forma significativa ou genuína de resolver alguns dos
problemas fundamentais, das dicotomias e das perplexidades que têm
constituído questões permanentes da actividade teórica do século XX.
Em resumo, é difícil identificar progressos claros e inequívocos no seio da
Teoria Social; têm sido descobertos novos tópicos, enquanto velhos
problemas são abandonados.
Existe pouco consenso em relação àquilo que a Teoria é, ou àquilo que
constitui o progresso teórico.
Em consequência, a Teoria pode ser vista como uma estrutura lata capaz de
organizar e ordenar a pesquisa, ou como uma colecção de conceitos gerais
que são úteis na orientação da investigação ou, ainda, como uma orientação
específica capaz de dirigir o investigador para problemas e questões bem
conhecidas.
Há, neste sentido, pouco consenso sobre aquilo que a Teoria Social é, ou
sobre o que poderá vir a alcançar.
Os últimos Desenvolvimentos no Feminismo e no Pós-Modernismo vieram
apenas acrescentar mais desordem à confusão e incerteza já existentes.
É também óbvio que a Teoria Social tem ainda de resolver algumas
Dicotomias Clássicas que caracterizaram o Campo da Teoria, em particular
as Tensões e Contradições entre Acção e Praxis, Acção Social e
Estrutura, Abordagens Micro e Macro, para além da Dicotomia Básica entre
Indivíduo e Sociedade.
Embora Ira Cohen apresente uma descrição bastante favorável da Teoria da
Estruturação, tenho sido céptico em relação aos que defendem que a versão
particular de Anthony Giddens sobre a Teoria da Estruturação resolve, de
facto, ou até mesmo supera, muitos dos problemas clássicos entre a Acção
Social e a Estrutura (Smith e Turner, 1986).
Talvez as possibilidades de resolver a Tensão entre as Abordagens Micro e
Macro sejam mais prometedoras.
A intenção da Sociologia da Acção Weberiana era, obviamente, que esta se
erigisse desde a descrição básica da acção, da acção social e da interacção,
até às instituições e estruturas sociais mais vastas.
O Conceito de Tipo-Ideal fazia parte desta estratégia, no sentido de realizar
uma Macrossociologia fundada em Proposições Micro, relacionando-as com
formas de Acção Racional, Tradicional e Afectiva.
A Teoria da Acção Voluntarista elaborada por Parsons respondia a um
desígnio ou objectivo similar, tendo sido construída desde o Conceito de Acto
Unidade até chegar à Teoria dos Sistemas Sociais.
Este fracasso na resolução de alguns problemas básicos da aparelhagem
conceptual da Teoria Social pode ser evocado como uma das razões para a
sua contínua fragmentação, diversidade e incoerência.
A Teoria Social é propensa a um constante ciclo de modas e caprichos, por
intermédio do qual os teóricos sociais reinventam continuamente a sua
utensilagem teórica.

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Esta renovação de interesse ultrapassou largamente as descrições da
chamada Tese da Ética Protestante; traduziu-se numa Abordagem
Weberiana dos Conceitos de Personalidade, Ordens de Vida e Mundo
Social, Sociologia Económica e Estratificação, Sociologia do Estado e
Sociologia Comparada da Religião.
Mais recentemente, emergiu um Forte Interesse Weberiano pelo Papel do
Estado e do Poder no Desenvolvimento do Capitalismo Tardio.
Mais uma vez, quanto a este ponto, discordo da tendência de Giddens para
rejeitar a contribuição de Weber para a Sociologia, considerando-a
ultrapassada e obsoleta devido ao facto de Weber ter alegadamente
equiparado o Conceito de Estado-Nação ao de Sociedade.
Na minha perspectiva, Weber não se enquadra nas várias críticas à
Sociologia Clássica esboçadas por Giddens em The Consequences of
Modernity (Giddens, 1990).
Weber parece ter tido uma visão clara da importância da Globalização e a sua
ambiguidade e incerteza a respeito da Modernização prefiguram, de certa
forma, grande parte do debate vivido em torno da Pós-Modernização (Turner,
1992).

As Perspectivas da Teoria Social

Nesta Introdução, uma consequência resultante da discussão em torno da


Teoria Social é que esta sobrevive e floresce melhor quando se compromete
com a investigação empírica, bem como com questões públicas.
É um argumento também vincado na análise de Craig Calhoun sobre o papel
da Teoria na esfera pública; na verdade, esta asserção subjaz à maior parte
das versões da Sociologia enquanto crítica social (Bottomore, 1975).
Tal como Calhoun defende, uma das atracções da Teoria Social tem sido a
sua relação constante com temas políticos e sociais importantes, tal como o
facismo e o racismo.
A Teoria Crítica tentou encurtar o fosso entre factos e valores, uma questão
central para o positivismo convencional.
Uma leitura importante, embora trágica e mal orientada, da Filosofia da
Ciência Social de Weber tem sugerido que a neutralidade axiológica implica
para o teórico social a ausência de qualquer comprometimento político.
Na verdade, esta Noção Weberiana representou, acima de tudo, um aviso
contra o abuso dos cargos públicos e dos seus privilégios; constituiu uma
crítica aos professores universitários, prevenindo-os de que não podiam pregar
no salão de conferências, como se as suas opiniões políticas representassem
factos neutros sobre o mundo.
É evidente que Weber também defendeu a importância da aplicabilidade dos
valores e, na sua própria vida, procurou optar entre a vocação da ciência e a
vocação da política.
Ao longo do século XX, a Teoria Social floresceu, de forma característica,
devido a algum envolvimento prático em questões de orientação política
específica ou problemas de natureza social e política.
Um exemplo clássico desta situação poderia ser o debate sobre a pobreza e a
redescoberta do fenómeno da pobreza na Ciência Social Inglesa, uma
questão que gerou consideráveis progressos na nossa compreensão das
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necessidades, dos desejos e da sua satisfação num contexto de desigualdade
e pobreza (Townsend, 1979).
A partir destas investigações sobre a desigualdade, emergiu uma discussão
importante em torno do Conceito de Privação Relativa (Runciman, 1966).
Podemos também mencionar o debate científico gerado sobre a feminização
da pobreza no contexto da economia pós-fordista e as suas implicações na
estrutura do agregado familiar e no papel da mulher na sociedade.
Em termos teóricos, estas questões empíricas conduziram a uma visão muito
mais apurada da relação entre, por um lado, género, classe e grupo doméstico
e, por outro, alargamento da cidadania (Roche, 1992).
Outro exemplo que pode ser dado é a Noção do Papel do Doente (Parsons,
1951) na Sociologia Médica.
Muito embora o Conceito Parsoniano de Papel do Doente tenha sido
bastante criticado, serviu um objectivo útil pelo facto de ter gerado um melhor
entendimento da profissão médica, da natureza da medicalização da
sociedade e das características do estatuto do paciente.
Como resultado desta convergência empírica, a Sociologia Médica
desenvolveu um conjunto importante de conceitos e teorias relacionado com o
sistema de posições referenciais, o comportamento de saúde anormal e o
poder médico.
Nos finais do século XX, não é muito difícil prever que um enfoque possível
para a Teoria Sociológica será a natureza da cidadania e dos direitos
humanos em sociedades passadas, tal como John Mandalios demonstrou, um
processo de globalização profundo que pôs em questão a tradicional soberania
do Estado-Nação e, logo, o estatuto tradicional do cidadão.
O debate em torno da Cidadania (Turner e Hamilton, 1994) tem sido gerado
por uma preocupação com o manifesto declínio do comprometimento
governamental em relação ao pleno emprego e ao Estado-Providência, à
natureza mutável do Estado, ao crescimento do problema dos refugiados à
escala global e à ambiguidade crescente no que respeita ao estatuto da criança
e da mulher no Estado Moderno.
Do mesmo modo que o tema da Cidadania Social se torna cada vez mais
central, também é possível antecipar um grande debate em torno da natureza
dos Direitos Humanos, em particular com uma referência às questões do
Género, da Raça e da Idade.
Será apenas mediante um comprometimento público com as Questões
Sociais e Políticas que a Sociologia, ou a Teoria Social, poderão ter
esperança de sobreviver às mudanças ocorridas entre o final do século XX e o
início do século XXI.
Uma outra forma, ou via de intervenção da Teoria Social no debate público,
relaciona-se com a questão do Ambientalismo e da Poluição.
Enquanto a Ciência Política, a Geografia e a Filosofia revelam já um
empenho público nestes problemas, à Sociologia tem faltado uma abordagem
adequada da inter-relação entre Ciência, Tecnologia e Ambiente.
De um modo geral, é possível argumentar que a Teoria Social não se
conseguiu comprometer com o Desenvolvimento Científico ocorrido ao longo
do século XX, em particular na área das Ciências Biológicas.
Ao passo que a Teoria Social Oitocentista se envolveu directamente com
Questões da Tecnologia e da Ciência, por exemplo, através do Darwinismo
13
Social, a Teoria Sociológica produzida no século XX evitou qualquer
implicação significativa com a Ciência Biológica.
Em termos gerais, a Sociobiologia tem tido um impacto diminuto na Teoria
Social.
Nos anos mais recentes, talvez o desenvolvimento mais interessante ocorrido
na Teoria Social tenha sido em torno do Conceito de Risco relativamente à
Poluição e ao Perigo Ambiental.
A obra de Ulrich Beck, intitulada Risk Society (1992), teve um impacto
considerável no debate público na Alemanha, no que diz respeito ao papel da
Ciência e às consequências da Poluição Ambiental.
A abordagem de Beck sobre o Risco é útil pelo facto de impelir os sociólogos
para um comprometimento directo com as Preocupações Ambientais, a
Ciência Médica e a Biologia, para além de questionar o papel do académico
num contexto de confrontação política com corporações internacionais em
termos da sua responsabilidade pelo Ambiente.
No entanto, o Risco é visto por este autor como uma consequência inevitável
da Modernização Global.
Deste modo, a Multiplicação dos Riscos é algo que não pode ser travado.
Para além deste aspecto, Beck evita o pessimismo característico que
prevalece na maior parte dos comentários da Ciência Social nas Sociedades
Avançadas, afirmando a importância da Ciência Social e da Teoria Social no
debate público sobre o Ambiente.
Alguns aspectos do seu argumento foram admitidos por Giddens na sua
discussão sobre a Modernização Reflexiva com respeito às Questões da
Identidade, da Modernidade e da Transformação da Intimidade.
Ambos rejeitaram as reivindicações da Teoria Pós-Moderna, sugerindo que
caminhamos para um Período de Modernidade Tardia, ou Sociedade de
Risco, caracterizada por Processos de Destradicionalização, Globalização
e Amplificação do Risco.
Por outro lado, os mesmos autores sugerem que a Teoria Social já existente,
em particular a Sociologia Clássica, deixou de ser adequada para
compreender ou explicar estes Desenvolvimentos Sociais.
Enquanto Giddens e um conjunto de sociólogos ingleses se têm interessado
pelas Relações entre Risco, Confiança e Reflexividade, na Alemanha o
argumento de Beck provocou algo semelhante a um Movimento Teórico
Novo que se autodescreve em termos de uma análise dos Processos de
Individualização (Beck, 1994).
Para Beck, assim como para os seus seguidores, as Noções Clássicas de
Classe Social, Sociedade, Economia e Estado são Noções Antiquadas,
pois a Incerteza, a Reflexividade e a Contingência, características da
Sociedade Moderna, necessitam de uma nova bateria de conceitos que vá
para além do tópico genérico da Individualização da Teoria.
Tal como os Conceitos de Individualização e Risco sugerem, o argumento
reside no facto das mudanças ocorridas na Sociedade Moderna terem
conferido uma proeminência particular ao Indivíduo e à Autonomia Individual
num contexto de crescente incerteza.
O Conceito de Risco de Beck, que pode ser visto como uma resposta
sociológica à desregulação da Economia e da Sociedade nos anos 1980,

14
desafia muitas asserções sociológicas tradicionais sobre a estabilidade e
regulação crescentes da Sociedade Moderna.
O Conceito de Racionalização de Weber, o Conceito de Sociedade
Administrada proveniente da Escola de Frankfurt e o Conceito de Processo
Civilizacional de Norbert Elias, todos têm implícita a noção de que a
Sociedade Moderna se tornará Mais Regulada, Mais Normalizada, Mais
Rotineira e Mais Administrada.
Ritzer, recorrendo à Sociologia de Weber, verificou que a aplicação de
Técnicas Administrativas, tal como a aplicação do Taylorismo e do
Fordismo, produziram uma regularização e padronização da vida quotidiana
no contexto da Sociedade Moderna.
Este Conceito de Sociedade Administrada parece ser contraditado pela
ênfase de Beck na Desregulação, na Incerteza e no Acaso.
É possível reconciliar estas duas abordagens sobre a Sociedade Moderna
sugerindo que, enquanto o Ambiente Macro da Sociedade se torna cada vez
mais incerto e irregular, o Mundo Micro, ou o Mundo Quotidiano, é, na
verdade, sujeito a Processos de Padronização e Regularização.
É evidente que a Desregulação da Economia e da Política tiveram um
impacto significativo sobre a Vida Quotidiana, mas há uma Solidez e
Facticidade importantes no Quotidiano que desde há muitas décadas têm
sido observadas por sociólogos (Berger e Luckmann, 1967).
Pelo facto dos Seres Humanos serem Biologicamente Inacabados (ou seja,
serem Instintivamente Abertos e Ambientalmente Adaptáveis), as
Sociedades Humanas têm necessidade de criar um Ambiente Cultural para
substituir ou complementar a Estrutura Instintiva Elementar dos Seres
Humanos.
Este “Guarda-Chuva Sagrado” (Berger, 1969) actua como uma salvaguarda
importante contra determinados Processos, tais como a Anomia e a
Incerteza.
É ainda mais interessante o facto de Berger ter postulado uma pluralização
significativa das esferas pública e privada à medida que a vida da Sociedade
Moderna se torna mais Complexa, Fragmentada e Diversificada.
A Urbanização e os Mass Media tiveram um impacto considerável na
consciência contemporânea, facilitando este Processo de Pluralização.
Neste ambiente, os Seres Humanos são forçados a comprometer tempo e
esforço para a realização da noção subjacente de plano de vida.
Berger defende que “a biografia de um indivíduo é apreendida por si como
um projecto arquitectado. Este projecto inclui a formação da própria
identidade. Por outras palavras, num plano de vida de longo alcance, o
indivíduo não só planifica o que vai fazer, como também o que vai ser ”
(Berger, Berger e Kellner, 1973, Pág. 71).
Berger e os seus colegas de trabalho defenderam que a Identidade Moderna
é peculiarmente Diferenciada, Reflectida e Individualizada (Págs. 73-5).
Tal visão da Modernidade está, na verdade, muito próxima da versão de
Giddens sobre o Lugar do Indivíduo na Sociedade Contemporânea, já que
Giddens defendeu que a Modernidade envolve Reflexividade e, neste
contexto, o Eu torna-se um Projecto.
As concepções de Berger sobre a Destradidonalização parecem ter aberto o
caminho para estas formas subsequentes de análise.
15
No entanto, é importante notar que a visão da Modernidade enquanto
Processo Reflexivo foi exposta por Berger, pelo menos há 20 anos atrás.
Esta referência é aqui apresentada como mais um exemplo do Problema da
Moda e da Descontinuidade na Teoria Social, onde a busca de originalidade
parece necessitar de um constante enfraquecimento da acumulação e da
continuidade na construção da Teoria.
Uma dificuldade acrescida ao Desenvolvimento Contínuo da Teoria no
século XX o conflito permanente e persistente entre a Teoria Social Norte-
Americana e a Teoria Social Europeia.
Os Teóricos Sociais Europeus olharam muitas vezes para a Filosofia Social
e Teoria Social Americanas como um Modo Simplista, Positivista, ou
mesmo Idiota de Teorização Social, enfatizando, por contraste, a sofisticação
filosófica e a profundidade das formas de abstracção europeias no quadro da
Teoria Social.
Esta Tensão, ou Conflito, entre a Tradição Empírica Americana e a
Filosofia Social Europeia remonta, pelo menos, à década de 1930 e à
tentativa de Parsons para introduzir o trabalho de Weber, Durkheim e Pareto
nas instituições académicas norte-americanas (Parsons, 1937).
O Conflito foi ainda agudizado com a Migração da Escola de Frankfurt para
a América, onde autores como Horkheimer, Adorno e Marcuse
desenvolveram, de forma consciente, uma forma de especulação teórica
destinada a diferenciá-los da tradição americana de Empirismo e
Pragmatismo (Fleming e Bailyn, 1969).
A ascensão e a importância da Sociologia de Parsons têm de ser
compreendidas neste contexto de Conflito Internacional sobre o Estatuto da
Teoria Social.
O colapso do Parsonianismo deixou a Teoria dos Sistemas produzida por
autores como Jurgen Habermas e Niklas Luhmann numa posição de domínio
triunfante.
Depois de Parsons, nenhum Sistema Geral Americano emergiu para
competir com a Filosofia Crítica de Habermas ou com a Análise dos
Sistemas de Luhmann.
A Reunificação da Alemanha e o Colapso do Comunismo Organizado
sugerem que a Teoria Social Europeia pode mais uma vez recrudescer,
evoluindo para uma nova forma de dominação no Desenvolvimento
Internacional da Teoria Social.
Estes Confrontos Nacionais dificultam o estabelecimento de uma Coerência
Global, ou Geral, da Teoria Social num contexto de Conflito Cultural e
Político.
Por fim, é necessário ter em conta a Dimensão Moral da Teoria Social.
A Teoria Social Clássica baseou-se na hipótese de que a Civilização
Capitalista transformaria de forma radical não só as Estruturas Sociais, mas
também os Sistemas Morais, as Personalidades e as Mentalidades dos
Seres Humanos, em detrimento de si própria.
A Teoria Social Clássica adoptou, tipicamente, uma visão pessimista e
nostálgica da Mudança Social, por intermédio da qual a Coerência das
Comunidades Tradicionais se fracturaria e destruiria com o Crescimento
das Classes Sociais e da Diferenciação Social.

16
Tal como já verificado, esta visão do mundo foi importante na distinção de
Ferdinand Tonnies entre Comunidade e Associação.
Na Teoria Social Contemporânea, esta Posição Comunitarista foi seguida e
desenvolvida por autores como Alisdair Mclntyre, numa série de publicações
onde a Moral e a Teoria Social são combinadas para produzir uma visão
poderosa acerca do Problema dos Valores na Sociedade Moderna.
As Grandes Questões Morais do século XXI andarão, provavelmente, em
torno da Tecnologia, do Ambiente e do Corpo Humano.
As mudanças actuais na Ciência Médica, especificamente na Área da
Tecnologia Reprodutiva, têm levantado questões da maior importância
acerca da Natureza do Corpo e da sua relação com a Identidade Humana.
Não deve surpreender que a Sociologia do Corpo tenha emergido como um
dos mais importantes focos da análise contemporânea (O'Neill, 1985; B. S.
Turner, 1984; Shilling, 1993).
A Poluição do Ambiente e a Transformação Rápida das Possibilidades
Tecnológicas levantaram questões acerca do Estatuto de Habitabilidade do
Universo e do problema de criar e defender Estruturas Sociais Habitáveis.
Nesta área, o trabalho de Pierre Bourdieu distingue-se como uma enorme
contribuição para o Pensamento Social do século XX.
Bourdieu debruçou-se sobre a maior parte das questões que ocuparam a
Teoria Social do nosso século, propondo um vasto conjunto de contribuições
teóricas, novos conceitos e uma gramática conceptual para dar conta da
Relação entre Corpo e Habitus, Poder Económico e Cultural, Indivíduo e
Sociedade.
Bourdieu arquitectou um programa de Investigação Empírica em torno da
Noção de Capital Cultural (Bourdieu, 1979), de uma visão particular da
construção da Teoria (Bourdieu, 1990) e de um comprometimento com o
Debate Político (Bourdieu, 1991).
Enquanto o Crescimento do Pós-Modernismo é visto, muitas vezes, como
um inimigo deste tipo de debate, a verdade é que o Pós-Modernismo levanta
questões importantes de Ordem Moral relacionadas, em particular, com o
Problema da Diferença.
Tal como Roy Boyne (1990) apontou, o trabalho de Jacques Derrida e de J.F.
Lyotard lida, de Facto, directamente com as Questões da Justiça Social, do
Terror e da Violência.
A tentativa de Zygmunt Bauman no sentido de Desenvolver uma Abordagem
da Moralidade Pós-Moderna é indicativa do potencial existente neste campo
particular (Bauman, 1993).
Claro que a possibilidade da Teoria Social poder dar uma contribuição para o
domínio público através de Análises Sociais e Morais é algo que depende,
em última instância, de um Conjunto de Factores Sociais Materiais, tais
como a Continuidade da Universidade, a Viabilidade do Papel Social do
Intelectual, a Natureza das Publicações e o Papel do Estado no Apoio à
Actividade Académica.
Nenhuma destas condições pode ser prevista com absoluta certeza, mas pode,
assim se espera, criar um ambiente propício à Continuidade e ao
Desenvolvimento da Teoria Social no século XXI.

17
I - ORIGENS

O termo Sociologia surgiu na primeira metade do século XIX e esteve ligado à


tentativa de Auguste Comte e Claude Saint-Simon de proceder a um Estudo
Científico da Sociedade Industrial no rescaldo da Revolução Francesa.
Comte usou o termo Sociologia numa carta escrita em 1824, tendo o mesmo
voltado a aparecer no Volume 4 do seu Curso de Filosofia Positiva, em 1838
(Horkheimer e Adorno, 1973, Pág. 12), para substituir a expressão Physiquc
Sociale.
Num momento posterior, a emergência da Sociologia foi associada às
Reacções Intelectuais e Sociais que se fizeram sentir face às Revoluções
Francesa e Industrial.
O termo Sociologia, no seu sentido literal, significa o Estudo Científico da
Amizade e do Companheirismo, nomeadamente o Estudo das Formas
Sociais de Intimidade e Reciprocidade entre Indivíduos.
Desenvolveu-se, de modo mais explícito, no sentido do Estudo das
Instituições e dos Padrões da Sociedade Capitalista Industrial, com
referência particular à Questão das Classes Sociais.
Comte e Saint-Simon deixaram de ser lembrados como pensadores influentes
da Evolução da Sociologia enquanto Disciplina, embora Saint-Simon
tivesse sido importante para o Desenvolvimento da Sociologia da
Solidariedade Social de Émile Durkheim.
Durkheim prestou um tributo importante a Saint-Simon no seu estudo sobre o
Socialismo, um livro que permanece influente na configuração de
determinadas atitudes contemporâneas face ao Papel Social do Estado
(Gouldner, 1962).
O Período Clássico da Sociologia pode ser identificado como o Período que
se estende desde 1890 até à data da morte de Max Weber, em 1920.
Neste Curto Período de Tempo, a Sociologia, tanto na Europa como na
América do Norte, instituiu-se como Disciplina Universitária com as suas
próprias revistas e associações profissionais e com uma visão clara acerca dos
seus objectivos de investigação e de ensino.
A Institucionalização da Sociologia ocorreu em Universidades como
Chicago, Sorbonne, Berlim e, num período posterior, na London School of
Economics.
A Primeira Guerra Mundial impôs uma perda trágica de talento na jovem
Disciplina de Sociologia, em especial na Escola Durkheimiana, mas a
Sociologia, ainda assim, sobreviveu a esta Catástrofe Europeia.
Robert Holton fornece-nos uma introdução preciosa à Tradição Sociológica
Europeia e Norte-Americana.
A sua reflexão inclui não só os Pais Fundadores (Marx, Weber e Durkheim),
mas também outros nomes que continuam a influenciar a Sociologia
Contemporânea, como é o caso de Georg Simmel.
Holton faz também uma introdução importante a uma figura muitas vezes
negligenciada na História do Pensamento Sociológico, o aristocrata francês,
comentador da democracia americana, Alexis de Tocqueville.
A sua introdução é ainda particularmente válida pelo facto de ter identificado a
importante relação entre Economia e Teoria Social.

18
Em muitos aspectos, a Sociologia pode ser entendida como um comentário
crítico sobre as limitações da Teoria Económica, em particular com referência
ao Conceito de Racionalidade (Sica, 1988).
Um exemplo disto é a Centralidade do Problema da Religião no trabalho de
Durkheim, Weber e Simmel.
Os sociólogos defenderam que os Valores e Práticas Religiosos não podiam
ser explicados pelas Teorias Utilitaristas da Racionalidade.
Holton identifica também uma Divisão, ou Diferença, importante que separa a
Abordagem da Sociedade praticada pelos Estudos Europeus, daquela
praticada pelos Norte-Americanos.
Enquanto estes últimos foram profundamente influenciados pelo Reformismo
Social, pelo Pragmatismo e pelo Empiricismo, a Teoria Social Europeia
operou muito mais no Contexto da Filosofia Pós-Hegeliana e Pós-Kantiana.
Estas diferenças têm persistido ao longo de grande parte do século XX.
Esta relação entre Economia e Sociologia foi bastante evidente no caso da
Teoria Social Marxista, tendo sido frequentemente interpretada como um
Determinismo Económico.
As Concepções Marxistas das Relações e Forças de Produção deram
relevo à Ideia do Modo Económico de Produção como o aspecto
determinante da Sociedade como um todo.
No entanto, Marx criticou bastante a corrente dominante da Teoria
Económica, pelo menos tal como esta foi desenvolvida por Adam Smith,
Jeremy Bentham e J. S. Mill.
Marx considerava grande parte da chamada Teoria Económica como uma
mera expressão de uma Visão Capitalista ou Burguesa da Realidade, Visão
esta que era, na verdade, uma descrição da Alienação dos Seres Humanos
nas Relações Sociais.
O Pensamento Marxista foi crítico na medida em que procurou desmascarar e
evidenciar muitos dos pressupostos da Teoria Económica Burguesa.
Nesta sua crítica à Teoria Económica, o Marxismo acabou por sucumbir a
uma divisão entre o Marxismo Científico e o Marxismo Humanista
(Satterwhite, 1992).
A Relação entre o Marxismo enquanto Movimento Social e enquanto
Sistema de Pensamento, gerou sempre uma Relação Problemática e
Paradoxal com a Sociologia.
A Sociologia, em particular e tal como foi desenvolvida por Max Weber, foi
muitas vezes considerada como um debate realizado sob o Fantasma de
Marx.
A História da Sociologia costuma ser escrita como se os sociólogos se
preocupassem essencialmente em encontrar uma Visão Alternativa da
Sociedade e da Economia, de forma a distinguir a Sociologia enquanto
Ciência, do Marxismo enquanto Ideologia Política.
A Visão da Relação entre o Marxismo e a Sociologia é, no entanto, bastante
exagerada e, em muitos aspectos, ilusória (António e Glassman, 1985).
Por exemplo, Weber adoptou muitas das ideias básicas de Marx e aplicou- as
à Análise Comparada das Religiões e ao Desenvolvimento Capitalista, ao
Status e à Classe Social, tal como à Análise do Poder e do Estado.
Na Sociologia Britânica do Pós-Guerra, o Desenvolvimento da Sociologia
do Conflito, por parte de John Rex (1981) e Ralf Dahrendorf (1959),
19
dependeu do Legado Marxista, pelo menos enquanto Teoria dos Interesses
de Classe Conflituantes no Quadro do Capitalismo.
É necessário não esquecer, também, que o Marxismo se transfigurou ao longo
do século XX.
Goran Therborn, dá-nos uma visão ampla da Evolução do Pensamento
Marxista através de Escolas como a de Frankfurt ou o Marxismo-Austríaco.
O Marxismo do século XX prestou uma atenção crescente aos Problemas da
Superestrutura, em particular à Cultura, à Estética e à Filosofia das
Ciências Sociais.
Por último, é importante sublinhar o facto da Teoria Crítica ir muito para além
do Marxismo.
As Questões Filosóficas e Teóricas, em especial o Legado de Kant e Hegel,
dominaram o Desenvolvimento da Sociologia em particular.
Os teóricos sociais têm-se preocupado com a Natureza Problemática das
Ciências Sociais e a sua Relação com a Ciência Natural.
Estes temas são retomados por William Outhwaite, através de uma discussão
sobre a Filosofia das Ciências Sociais.
Neste domínio, a Sociologia tem-se confrontado com um Problema
Fundamental: se deve ser considerada como Arte ou como Ciência.
Estas Tensões entre Orientações Artísticas e Científicas são ilustradas pela
divisão que foi elaborada à volta dos contrastes entre os Processos de
Interpretação e os de Explicação.
Os teóricos sociais têm-se envolvido numa discussão permanente sobre as
diferenças entre a Compreensão dos Fenómenos Sociais e o Encontro de
Explicações Causais para esses mesmos Fenómenos.
Um problema específico dos leitores ingleses neste debate é que o termo
inglês para Ciência se refere, de forma típica, a uma Concepção Ampla de
Actividade Científica em termos de Métodos Experimentais.
Na Alemanha, o Conceito de Wissenschaft indica uma Moção muito mais
ampla, compreensiva e subtil acerca da natureza de um Inquérito Sistemático
e da sua Organização.
Na tradição germânica, o Estudo Científico das Religiões é tão científico
como o Estudo Científico da Natureza.
William Outhwaite também reflecte o facto de a Ciência Natural se ter
modificado radicalmente durante o século XX, em parte como consequência de
mudanças fundamentais na nossa forma de compreender o tempo e o espaço.
Em boa verdade, a Ciência não fornece Critérios Fixos, Firmes e Imutáveis
daquilo que constitui a Actividade Científica Real.

CAPÍTULO 2

Teoria Crítica e o Legado Marxista do Século XX

Qualquer estudioso da História Parlamentar Inglesa encontra-se familiarizado


com a ideia da Leal Oposição a Sua Majestade.
O Marxismo, enquanto Fenómeno Social Histórico, pode ser considerado
como a oposição de sua Majestade à Modernidade, pois sempre criticou ou
combateu os seus regimes predominantes, apesar de nunca ter contestado a

20
legitimidade da sua Soberania e, sempre que se revelou necessário, a ter
defendido de forma explícita.
À semelhança de muitas oposições, também o Marxismo já teve a sua dose
de Poder.
No entanto, os Períodos em que passou pelo Governo limitaram-no em
termos de Atractividade e Criatividade, tendo antes originado Dúvidas e
Desilusões, à medida que se alimentava no Pragmatismo do Poder.
O Marxismo é, apesar de tudo, a Principal Manifestação da Dialéctica da
Modernidade, tanto num Sentido Sociológico, como Teórico.
Como Força Social, o Marxismo foi um fruto legítimo do Capitalismo
Moderno e da Cultura Iluminista.
Para o bem e para o mal, correcta ou erradamente, os Partidos, os
Movimentos e as Correntes Intelectuais Marxistas tornaram-se, durante
pelo menos cem anos, no Período compreendido entre o final do século XIX e
o final do século XX, na mais importante Forma Teórica capaz de dar conta
das Ambiguidades da Modernidade: afirmando, por um lado, os Aspectos
Progressistas e Positivos do Capitalismo, da Industrialização, da
Urbanização, da Alfabetização de Massas, de uma Atitude voltada para o
Futuro, em vez de para o Passado ou de com os Olhos Baixos, Presos no
Presente; e, por outro lado, denunciando a Exploração, a Alienação
Humana, o Consumismo e a Instrumentalização do Social, as Falsas
Ideologias e o Imperialismo, inerentes ao Processo de Modernização.
O Liberalismo e o Racionalismo Iluminista, incluindo, mais recentemente, a
Democracia Social Pós-Marxista e o Conservadorismo Pós-Tradicional,
têm-se constituído em Apologias da Modernidade e não têm levantado
Questões Críticas acerca da Ciência, da Acumulação Capitalista, do
Crescimento e do Desenvolvimento.
O Conservadorismo Tradicional, Religioso ou Secular, preparou-se a si
próprio contra os Aspectos Negativos da Modernidade.
A Tradição Intelectual Nietzscheana, desde o próprio Nietzsche até Michel
Foucault, tem vindo a atacar a Modernidade a partir de uma posição de
Autodefinida Exterioridade, como se de uma Perspectiva Fora da Lei se
tratasse.
Um número significativo de Movimentos Cristãos ou (num grau muito menor)
de Democratas Islâmicos, de Fascistas e de Populistas Terceiro-
Mundistas também tem, de variadas formas, tentado combinar os Elementos
da Modernidade com os da Antimodernidade.
No seu conjunto, os Marxistas encontravam-se sozinhos quer quando
saudavam a Modernidade (e a forma como esta destrói a carapaça da Idiotia
Rural e dissipa os fumos do Ópio do Povo), quer quando a atacavam.
É que, na verdade, o Marxismo defendia a Modernidade de olhos postos
numa outra Modernidade Mais Desenvolvida.
O Marxismo era pois uma Teoria que não só suportava esta Dialéctica da
Modernidade, como também sustentava a sua prática.
A Teoria Marxista centrava-se na Ascensão do Capitalismo, enquanto
estágio progressivo do Desenvolvimento Histórico, bem como nas suas
Contradições ou, por outras palavras, na forma como o Capitalismo permite a
Exploração de Classes, na sua tendência para viver Situações de Crise e na
sua capacidade para Gerar Conflitos entre Classes.
21
A Dialéctica Marxista, depois de ter visto as suas principais linhas esboçadas,
em traços largos, no Manifesto of the Communist Party (Marx e Engels, 1848),
também prestou, logo desde o início, atenção ao Género e à Questão
Moderna da Emancipação Nacional.
“A Primeira Classe de Antagonismo”, escreveu Friedrich Engels (1884
[1972, p. 69]), na sua obra The Origins of Family, of Private Property and the
State, é a que surge entre o homem e a mulher, “a Primeira Submissão de
Classe” é a da mulher em relação ao homem.
Uma das obras do Movimento Trabalhista Marxista mais difundidas, foi a
obra Woman and Socialism, de August Bebel (1883).
Bebel, era o Líder do Principal Partido Comunista, o Partido Social-
Democrata Alemão (O Movimento Trabalhista Marxista inicial, especialmente
na Europa Central, ocupava um importante número de mulheres em posições
de destaque, o que, para a altura, constituía um feito único: Angélica
Balabanoff, Kata Dalstrom, Alexandra Kollontay, Anna Kuliscioff, Rosa
Luxemburgo, Henriêtte Roland-Holst, Vera Zasulich, Klara Zetkin, etc. A Social-
Democracia Marxista foi também o Primeiro Movimento Masculino a bater-se
pelo Direito das Mulheres ao Voto).
Como analistas políticos apaixonados, Marx e Engels acompanharam de perto
os Desenvolvimentos da Política Nacional do seu tempo, embora a maior
parte dos seus trabalhos sobre esta matéria não tenham passado de meros
escritos circunstanciais.
Todavia, de finais da década de 1860 em diante, estes autores começaram a
centrar a sua atenção numa problemática de alcance mais amplo, ao tentarem
compreender como é que a Opressão, exercida por uma determinada Nação
sobre Outra, influenciava a Luta de Classes em ambas.
O caso concreto estudado foi o da Inglaterra, o País Capitalista rnais
avançado no seu tempo.
Nas conclusões do estudo que realizaram, Marx e Engels defendem que o
Advento de uma Revolução Social naquele País seria algo Impossível, sem
que antes houvesse uma Revolução Nacional na Irlanda.
Os Marxistas dos Impérios Multinacionais, Austro-Húngaro e Russo,
perceberam rapidamente que teriam que dedicar mais atenção ao Conceito de
Nação e à forma como este se relaciona com o de Classe Social.
No entanto, a Visão Estratégica e as Práticas Políticas que associam o
Marxismo e o Conflito entre o Capital e o Trabalho ao Anticolonialismo e a
Outras Formas de Luta pela Autodeterminação Nacional, foram, em
primeiro lugar, desenvolvidas numa série de artigos escritos produzidos pouco
antes da Primeira Guerra Mundial por Vladimir Lenine e posteriormente
consolidadas no estudo que este mesmo autor realiza no decurso da Guerra,
intitulado Imperialism (1917).
A leitura de Marx e Engels, como Dialécticos da Modernidade, representa a
expressão de um Período em que a Teoria Social Crítica afirma a sua
autonomia em relação à Teoria Económica e no qual, acima de tudo, o próprio
Valor da Modernidade é problematizado, partindo da Perspectiva da “Pós”,
em vez de da Pré-Modernidade.
Embora esta não tenha nunca sido teorizada ou integrada no Cânone Marxista
Clássico, há uma Concepção da Modernidade que atravessa o pensamento
de Marx.
22
Agarrar, ao mesmo tempo, nos dois cornos da Modernidade (o Emancipador
e o Explorador), tem sido uma tarefa intrinsecamente delicada, mais
facilmente assumida pelos intelectuais, do que por aqueles que têm
responsabilidades políticas concretas.
Por conseguinte, encontramos na Tradição Marxista uma certa propensão
para a Ambiguidade, na sua prática da Dialéctica da Modernidade.
Na Segunda Internacional (1889-1914) e na posterior Tradição Social-
Democrata, verifica-se uma tendência para ofuscar progressivamente a
Negatividade com uma Concepção Evolucionista dos Poderes Crescentes
e Equilibradores dos Sindicatos, dos Partidos Operários e da sua influência.
Em contrapartida, a Terceira Internacional (1919-43) e a Tradição
Comunista subsequente centram-se na Negatividade e nas suas
contingências, através da Denúncia Sistemática dos males crescentes do
Capitalismo e da adopção de uma visão da súbita Reviravolta
Revolucionária.
A corrente puramente intelectual da Teoria Crítica ou, como é também
designada, a Escola de Frankfurt, enfatizava a Contraditoriedade e a
Negatividade da Modernidade, sem fazer qualquer Promessa Utópica de um
futuro melhor.

Momentos da Tradição Crítica

A Crítica e o Criticismo, enquanto esforços intelectuais de particular


importância, surgem na Europa ao longo do século XVII (Kosellek, 1959 [1992,
p. 87 e segs.]).
O foco da Reflexão Crítica neste período inicial incidia sobre o Exame
Filológico e a Avaliação de Textos Antigos, sem excluir Textos Sagrados
como a Bíblia.
No século XVIII, porém, o Âmbito do Criticismo foi alargado, de forma a
abarcar a Crítica da Política, da Religião e da Razão.
Posteriormente, em 1840, o Criticismo gozou, no seguimento de décadas de
Reacção Pós-Revolucionária, de um significativo Alargamento Intelectual
na Alemanha, assumindo a forma de crítica da Religião e da Política.
Não obstante, a Tradição Alemã de Teorias Críticas que, encarada em
termos gerais, inclui tanto Kant, como os Hegelianos de Esquerda, acaba por
ser trazida para o interior do Marxismo.
Apesar de tudo, Marx e Engels autoproclamam-se herdeiros da Filosofia
Alemã e a principal obra de Marx tem por subtítulo Crítica da Economia
Política.
Na Literatura Alemã ou na de Inspiração Alemã a Crítica da Economia
Política foi, durante muito tempo, sinónimo de Marxismo.
Com efeito, na Ciência a que Marx se entregou, a Crítica é incluída como um
Elemento Nuclear, sendo o tipo de Crítica que nos é apresentado
pretensamente Científico.
Para Marx e Engels não havia qualquer tensão entre a Ciência e a Crítica.
Todavia, após 1968, a recepção académica da obra de Marx estabeleceu,
sobretudo no Mundo Anglófono, uma clara distinção entre o Marxismo
Crítico e o Marxismo Científico (Gouldner, 1980).

23
Qualquer que fosse a legitimidade da genealogia intelectual e o mérito do seu
uso, existia então, na Academia Marxizante, uma separação clara entre
Estilos e Estratégias Cognitivos, expressa nos tipos ideais de Gouldner.
Este último, porém, atribuirá à Crítica um significado e um papel mais limitado
do que aquele que lhe tinha sido atribuído antes, embora a sua obra The Two
Marxisms represente mais um momento da Tradição Crítica, do que a
Tradição propriamente dita.
O século XX constitui um período dificilmente comparável àquilo que foi o
Iluminismo, o qual, de acordo com Immanuel Kant e muitos outros, foi: “A
Verdadeira (Eigentliche) era da Crítica”.
No entanto, o lugar da Crítica na Teoria Social Contemporânea pode ser
mais facilmente compreendido, através de uma abordagem do posicionamento
original da Teoria Crítica, isto é, como elemento de Unificação Teórica de um
brilhante grupo de judeus alemães, exilados em Nova Iorque nos finais da
década de 1930.
Enquanto Conceito, a Noção de Teoria Crítica é definida em 1937 por Max
Horkheimer.
O significado desta expressão decorre da Concepção Reflexiva e
Autoconsciente do ponto de vista filosófico, de uma Crítica Dialéctica da
Economia Política (Horkheimer, 1937a [1988, Pág. 180n]; 1972).
Enquanto Conceito-Chave no interior do círculo de Horkheimer, o qual mais
tarde virá a ser conhecido como Escola de Frankfurt, a Noção de Teoria
Crítica vem substituir a de Materialismo.
O colaborador intelectual mais próximo de Horkheimer, Theodor W. Adorno,
escreverá mais tarde que a transformação daquela expressão não pretendeu
tornar “o Materialismo aceitável, mas sim dar a conhecer aos homens aquilo
que o distingue” (1966 [1973, p. 197]).
Isto parece provável, uma vez que a posição de Horkheimer em relação ao
Verdadeiro Mundo Burguês era bastante mais intransigente em 1937 do que
em 1932.
No início, a Teoria Crítica funcionava mais como um código de leitura do
Materialismo Dialéctico do que como uma Crítica do mesmo.
Contudo, quarenta anos mais tarde, Herbert Marcuse, defendeu que “mais
perto do fim, a Teoria Marxista foi a força integradora” (Habermas, 1981, vol.
2, p. 197).
A Teoria Crítica, por oposição à Teoria Tradicional (exposta, pela primeira
vez, no Discours de Ia Méthode (1637), de Descartes e incorporada nas
Disciplinas Especiais [Fachwissenschaften]), demarcava-se, antes de mais
nada, da Divisão Intelectual do Trabalho e, portanto, de todas as Formas de
Concepção Teórica existentes tanto nas Ciências Sociais como nas
Ciências Naturais, fossem elas Empíricas ou não.
Trata-se, portanto, de um “Posicionamento Humano [menschliches
Verhalten] que tem na própria Sociedade o seu Objecto” (Horkheimer, 1937ª
[1988, p. 180]; 1972).
A vocação do Teórico Crítico “é o Combate ao qual o seu Pensamento
pertence” (p. 190).
A Teoria Crítica é “um Juízo Existencial único e elaborado” (p. 201).

24
Embora os teóricos críticos se recusem a desempenhar um papel na Divisão
do Trabalho, tal como esta lhes é dada a conhecer, eles não se posicionam
acima ou fora das Classes.
Entre eles e as Classes Governadas existe uma União Dinâmica, apesar de
essa União existir apenas sob a forma de Conflito.
O Processo de Transformação Social pode ser acelerado através da
Interacção entre o Teórico e a Classe Social.
A tarefa da Teoria Crítica é, pois, contribuir para a Transformação do Todo
Social, que só ocorrerá com uma intensificação dos Conflitos Sociais.
Assim, a Teoria não oferece nenhum melhoramento a curto prazo, nem mesmo
qualquer tipo de Realização Material Gradual (pp. 192-3.)
Apesar de tudo, a Teoria Crítica é uma Doutrina caracterizada pela
Conceptualização Formal, pela Lógica Dedutiva e pela Referência à
Experiência.
Não se trata, pois, nem de uma Teoria Hostil à Investigação Empírica, nem
sequer desinteressada por ela.
No centro da Teoria Crítica, enquanto Teoria, está o Conceito Marxista de
Troca, a partir do qual se desenvolverá, para lá da Europa, a “Verdadeira
Sociedade Capitalista Globalizante” (p. 201).
Este Conceito é, “em muitos lugares”, reduzido a um certo Economicismo, o
que não significa que o Económico seja considerado como algo
excessivamente importante, mas sim que este é um Conceito frequentemente
encarado de um modo bastante Estreito e Limitado.
O Processo de Formação Social (Vergesellschaftung), se é que está a
ocorrer, precisa de ser analisado não só em Termos Económicos Restritos,
mas também de uma forma que leve igualmente em consideração o
Funcionamento do Estado e o Desenvolvimento dos “momentos essenciais
da Verdadeira Democracia e Associativismo” (Horkheimer, 1937b [1988,
pp. 222-3]).
“Seria errada [...] uma Transformação Gradual dos Conceitos Económicos
em Conceitos Filosóficos. Muito pelo contrário, são antes [...] os Objectos
Filosóficos Relevantes que se desenvolvem a partir do Contexto
Económico” (Marcuse, 1937 [1965, p. 102]).
Poderá ser pertinente comparar de forma breve a Teoria Crítica na sua Forma
Clássica, com uma outra Formulação Radical relativa ao Lugar e Uso do
Conhecimento Social.
As Preocupações e a Perspectiva Sociopolítica de Longa Duração do
filósofo alemão (Horkheimer) e do sociólogo norte-americano (Robert Lynd)
são, em muitos aspectos, semelhantes.
Tal como Horkheimer, também Lynd adopta uma Posição Crítica
relativamente às Modalidades de Divisão Académica do Trabalho, criticando
a Tendência Empírica das Ciências Sociais para tomar as Instituições
Contemporâneas como dados adquiridos.
Lynd pretende orientá-las para o Estudo “daquilo em que os Actuais
Protagonistas Humanos dessas Instituições se esforçam por as
Transformar” (1939, Pág. 180, ênfase omissa), isto é, para o Estudo das
Transformações Institucionais.
O sentido de tais Transformações, com o qual Lynd se compromete, é
também semelhante ao que Horkheimer lhes atribui: a Expansão Decisiva da
25
Democracia, não apenas no Governo, mas também na Indústria e noutras
Áreas da Vida e a Substituição do “Capitalismo Privado” (Pág. 220).
Todavia, a Linguagem e a Forma de Pensar a que este autor recorre, são
bastante diferentes das de Horkheimer.
Lynd não se apoia numa Tradição Teórica, argumentando em vez disso a
partir das Questões Empíricas do dia.
A sua Concepção Pragmática da Ciência Social (“a Ciência Social
sobreviverá ou perecerá em função do seu Carácter Serviçal em relação aos
Homens que lutam pela sobrevivência” [Pág. 177]), é vista por Horkheimer
com um céptico franzir de sobrancelhas (Horkheimer (1947 [1991, p. 184]) fez
um breve comentário crítico acerca das Visões Pragmáticas da Ciência e da
Religião desenvolvidas por Lynd, embora reconhecesse a sua (de Lynd)
Orientação (Gesinnung) “Genuinamente Progressista”).
A sua Perspectiva Histórico-Crítica não se baseia tanto nas Noções de
Exploração e de Classe (apesar de defender que as Classes e os Conflitos
de Classe deveriam ser Objecto de uma muito maior atenção por parte dos
Cientistas Sociais Norte-Americanos), mas antes numa espécie de
Antropologia do “Desejo Humano”, enquanto Medida Comparativa na
Avaliação das Instituições existentes (Págs. 192 e segs.).
O Socialismo de Lynd não constitui um argumento para a Defesa do
Conflito, apresentando-se, antes, como uma Hipótese de que o Capitalismo
“não funciona e, provavelmente, nunca poderá ser posto em funcionamento de
uma forma que nos garanta a Quantidade Geral de Bem-Estar (e
Prosperidade) que o presente estado das nossas Competências Técnicas e
Inteligência nos faz merecer” (Pág. 220).
Depois de Lynd, a Linguagem Crítica Original, típica do Radicalismo Norte-
Americano, encontra o seu mais característico e influente desenvolvimento no
trabalho de C. Wright Mills, The Sociological Imagination (1959).
As 3 Questões Básicas dessa imaginação, abordadas por Mills com a
Autoconfiança e a Frontalidade óbvias do Artesão do Novo Mundo, eram
as mesmas que as que se encontravam implícitas na maior parte das
Reflexões produzidas pela Escola de Frankfurt: “Qual é a Estrutura de uma
Determinada Sociedade, encarada como um Todo ?”, “Qual o Lugar que
essa Sociedade ocupa na História da Humanidade e quais são os
Mecanismos por intermédio dos quais ela se Transforma ?” e “que
Variedades de Homens e de Mulheres Predominam nessa Sociedade e
nesse Período ?” (1959 [1967, Pág. 6]).
Adorno, Horkheimer, Marcuse e outros teóricos críticos teriam, com certeza,
desdenhado, com repulsa, a Noção de um simples Mecanismo da
Transformação Histórica, mas não havia nenhuma interpretação especial da
História do Mundo associada à vigorosa prosa de Mills.
No entanto, os teóricos críticos acalentavam outros interesses para além da
Teoria Social, devendo acrescentar-se ainda que tais interesses incluíam a
Teoria do Conhecimento e a História da Teoria.
Em 1961, a Associação Alemã de Sociologia propôs o Confronto entre um
outro Conceito de Crítica (ainda mais Elaborado e Fundamentalmente
Antagónico) e a Teoria Crítica então existente.
Para tal convidou, então, Karl Popper para realizar uma palestra acerca da
Lógica das Ciências Sociais, tendo Adorno como comentador.
26
O encontro formal entre os dois foi polido e educado, no entanto, para grande
desagrado de Sir Karl (Popper, 1984a), este acabou por originar uma viva
controvérsia na Alemanha que ficou conhecida por “Positivismusstreit” (a
Controvérsia do Positivismo) (Adorno et al, 1976).
Popper, que rejeitava o rótulo de Positivista, apresentou aí o seu ponto de
vista de Criticista, desenvolvido em torno de uma Visão de Método Científico
que consistia na “Experimentação de Tentativas de Solução” para
Problemas, soluções controladas através da “mais incisiva das Críticas”
(Popper, 1962 [1969, Pág. 106]).
Popper atacou, assim, de forma explícita, uma Concepção da Ciência
Indutivista e Naturalista, reconhecendo o valor que um Método de
Interpretação da Lógica da Situação teria para as Ciências Sociais (Pág.
120).
Surpreendentemente, enquanto Pensador Dialéctico, Adorno encontrou
(1962 [1969, Págs. 125, 128]) na Posição Crítica de Popper muitas coisas
com as quais concordava.
Com efeito, a argumentação por ele desenvolvida constituiu mais uma reflexão
adicional acerca das teses de Popper do que a exposição de uma Série de
Antíteses das mesmas.
Isto, porém, não limou as suas características arestas críticas (O contraste
entre o Diplomático Isolamento de Adorno e a Arrogância de Popper é visível
na renúncia de Adorno a fazer quaisquer ataques pessoais, quer na sua
introdução de 1969, quer no seu Korreferatde 1961. No final deste último,
Adorno refere uma correspondência anterior à reunião, na qual Popper deve ter
dito que a diferença entre ele e Adorno poderia ser a de que ele, Popper,
acreditava que viviam no melhor dos Mundos, enquanto Adorno não. Entre
afirmar que as Falhas da Sociedade eram sempre difíceis de julgar e que ele
era igualmente hostil a uma Teoria acabada, Adorno admitia que lhe era difícil
aceitar que não tinha havido melhor época do que aquela que gerara Auschwitz
(Adorno, 1962 [1969, pp. 41-2]). Popper, mais tarde, profere uma série de
invectivas, que se podem resumir da seguinte forma: “[Adorno] não tem
absolutamente nada para dizer e di-lo em Linguagem Hegeliana” [1984b, Pág.
167]).
A principal divergência entre Adorno e Popper tinha que ver com o Objecto
do Criticismo ou da Crítica (em Alemão é utilizado o mesmo termo para
exprimir estas 2 Noções).
Para Popper, o Objecto da Crítica seriam as Soluções Propostas para os
Problemas Científicos, enquanto para Adorno o Criticismo deveria estender-
se à Totalidade da Sociedade.
De acordo com este último, só para uma Teoria capaz de Conceptualizar uma
Realidade Social Diferente é que a Sociedade Contemporânea se pode
tornar num Problema Real.
E “apenas através do que não é, se revelará a si própria tal como é e isso,
presumo eu, é no que se torna uma Sociologia que não se limita, tal como na
verdade sucede com a maior parte dos seus Projectos, a cumprir Objectivos
de Administração Pública e Privada” (Pág. 142).
A Dialéctica da Teoria Crítica desenvolveu-se para lá da Crítica Marxista da
Economia Política.

27
Durante a 2ª. Guerra Mundial, Horkheimer abandona o seu projecto de
escrever um importante Tratado de Dialéctica e, em vez disso, em conjunto
com Adorno, reúne uma colecção de ensaios e fragmentos que intitula
Dialectic of the Enlightenment (1944).
O tema desses ensaios estabelece o tom intelectual da Escola de Frankfurt
do Pós-Guerra, nomeadamente, a Autodestruição do Iluminismo, escrito
com base no Compromisso de Recuperação do Iluminismo (Horkheimer e
Adorno, 1946 [1987, p. 597]; 1972).
Este Projecto foi visto como uma Extensão do Marxismo, mas a
interpretação que Friedrich Pollock faz do Fascismo, como sendo um
Capitalismo de Estado, do qual o Estalinismo era também uma Variante,
tendeu, durante algum tempo, a remeter as Clássicas Categorias
Económicas Marxistas para segundo plano.
O último grande trabalho de Horkheimer, The Eclipse of Reason (1947),
centrou-se na Crítica da Razão Instrumental.
Depois da Guerra, quando Adorno se tornou no principal Teórico Crítico, “die
verwaltete Welt” que, com o seu timbre trágico, pode ser muito pouco
musicalmente traduzido para o inglês corno The Admmistered World (O
Mundo Administrado), torna-se num Conceito Central para a Teoria Crítica.
Freud e a sua Crítica Cultural foram igualmente incorporados nesta Teoria
depois do final da Guerra, alcançando essa incorporação a sua mais elaborada
expressão na obra Eros and Civilization, de Herbert Marcuse (1955).
No entanto, o Cordão Umbilical que ligava a Crítica Marxista à Crítica
Económica Pré-Marxista nunca foi totalmente cortado, pesem embora as
fracas expectativas de se obterem quaisquer Resultados Dialécticos
Positivos a partir desta ligação.
A Crítica Marxista proporcionou a Marcuse o ponto de partida e a base para a
sua Crítica da Ideologia da Sociedade Industrial (1964).
Ela esteve presente na polémica entre Adorno e Popper e de uma forma
ainda mais evidente, no último trabalho publicado por Adorno, as suas lições
de Introdução à Sociologia feitas na Primavera de 1968.
Nestas, Adorno baseou-se também no trabalho de C. Wright Mills, para
censurar aqueles que permaneciam agarrados às Concepções Dominantes
da Sociologia Convencional, esquecendo a Análise dos Processos
Económicos (Adorno, 1993, Págs. 237-8).
Entretanto, Jurgen Habermas, por um lado assistente e protegido de Adorno
e, por outro, sucessor de Horkheimer na Cadeira de Filosofia e Sociologia
da Universidade de Frankfurt, já se encontrava a trabalhar procurando
separar o Projecto Crítico da Economia Política Marxista.
Por trás destes Novos Desenvolvimentos Filosóficos encontravam-se as
Transformações do Capitalismo que conferem Novos Papéis à Política, à
Ciência e à Tecnologia.
Assim, Habermas substituiu os Conceitos Marxistas de Forças e de
Relações de Produção (os Conceitos-Chave da Teoria de Marx relativa à
Dialéctica Social), pelos de Trabalho (que tanto envolve a Acção
Instrumental, como a Escolha Racional) e de Interacção Simbolicamente
Mediada ou, Acção Comunicativa.
Neste sentido, Habermas abandonou a Contradição Sistémica, a que se
referem os Conceitos Marxistas, substituindo-a, primeiro, por uma Distinção
28
entre Diferentes Tipos de Acção e de Interesses de Conhecimento e,
depois, pelo Conflito entre o Sistema Social e o Mundo do Quotidiano.
Apesar de algumas pretensões de legitimidade que podem ser consideradas
válidas, Habermas nunca se viu a si próprio, não se apresentou, nem tão-
pouco permitiu que outros o apresentassem como Herdeiro da Teoria Crítica
ou como um sucessor da Escola de Frankfurt.
Para além disso, ele continuou sempre a praticar a Teoria Social Crítica de
um género mais lato “sem Reservas, de um Modo Autocorrigido e
Autocrítico” (Habermas, 1985b [1992, Pág. 212]).
Ao mesmo tempo, uma Defesa Crítica da Modernidade permaneceu central
na sua prática (Habermas, 1985a; 1992b).
Assim, Histórica ou Sociologicamente, há uma afinidade entre Marx e
Habermas que atravessa longitudinalmente todas as Diferenças Teóricas que
possam existir entre as suas obras.
Habermas não só quebrou os laços que mantinha com a Crítica da Economia
Política, mas também com os discursos dos seus predecessores.
Abandonou a “Fragmentária” Essaistik destes últimos, em prole de
Confrontos Críticos mais elaborados e com outros modos de pensar.
A sua Concepção da Racionalidade Comunicativa e da Comunicação Livre
de Dominação, constitui uma tentativa para estabelecer as Bases Normativas
da sua própria posição crítica, algo com que Adorno, Horkheimer e Marcuse,
por se encontrarem encostados à Tradição Clássica do Idealismo Alemão,
nunca se preocuparam (veja-se Habermas, 1979 [1992, Pág. 56]).
A Teoria Crítica baseia-se na Recepção Filosófica, na Reflexão
Aprofundada e na Reelaboração da Crítica da Economia Política de Marx,
inscrevendo-se no quadro dos traumáticos acontecimentos ocorridos entre
1914 e 1989: a Chacina da 1ª. Guerra Mundial que acabou com a Alta
Cultura da Belle Époque; o Fracasso da Revolução no Ocidente e o seu
Imperfeito Nascimento na Rússia; a Grande Depressão; o Fascismo com a
correspondente Institucionalização e Racionalização do Massacre
Organizado que origina o Holocausto; o Aparecimento das Organizações
Globais; a 2ª. Guerra Mundial; e a Unidimensionalidade da Guerra Fria.
No seu tom individual próprio, a Teoria Crítica exprime uma Forma de
Reflexividade Radical perante o Processo de Desenvolvimento da
Modernidade Europeia.
A Teoria Crítica regressou à superfície, em particular na Alemanha Ocidental
e, mais tarde, nos Estados Unidos (tal como a Original Teoria Crítica), com
Novos Traumas, tornados visíveis pelos Meios de Comunicação de Massas,
decorrentes das Revoltas Anticolonialistas e das Sublevações Estudantis
que se sucedem à Expansão Universitária do Pós-Guerra.
O seu acolhimento foi marcado por uma especial ironia, ao reunir uma Jovem
Geração, caracterizada pela Esperança Revolucionária, a uma Outra Mais
Velha que erguia a Derrota da Revolução contra toda a Esperança.
A afinidade estabelecia-se com as Correntes Académicas Radicais
Americanas que, desde sempre, tiveram muito menos razões práticas para
acreditar na Esperança do que os seus Camaradas Europeus.
Para estes últimos, quer as Práticas da Classe Operária e dos Movimentos
Trabalhistas, quer as que viriam a ser guiadas pelas Novas Vanguardas em
Construção, auguravam mais Promessas do que Críticas.
29
Presentemente, neste 2º. Fin de Siècle, o Momento de Frankfurt voltou.
As palavras de Adorno (1966 [1973, Pág. 3]) encontram-se bastante mais
próximas do Espírito Radical de 1994 do que do de 1968: “A Filosofia, que
em tempos se afigurou Obsoleta, continua viva porque se deixou escapar o
momento da sua Realização. O Julgamento Sumário em que esta é acusada
de se ter limitado a Interpretar o Mundo [...] tornou-se num Derrotismo da
Razão, depois de terem abortado as suas tentativas para Transformar o
Mundo”.
Para as pessoas dos anos 1990, a Crítica da Crítica levada a cabo na
Sagrada Família, no início da década de 1840, pode parecer mais próxima,
Intelectual e Emocionalmente, do que a Crítica da Economia Política
Marxista posterior.
Os Problemas levantados por Bruno Bauer, a “Questão Semita”, “o Bom
Lado da Liberdade” e “Estado, Religião e Partido” parecem mais próximos
dos tópicos de hoje, do que as alternativas de Engels e Marx (1844 (1962,
Pág. 144]): “Revolução, Materialismo, Socialismo, Comunismo”.
O Marxismo do século XX é algo infinitamente mais rico e complexo do que o
minúsculo círculo intelectual de teóricos críticos do Ocidente.
Todavia, dito isto, poder-se-á argumentar que, considerando todas as suas
Limitações Esotéricas, Ocidentalistas e Elitistas, a Teoria Crítica tem sido
a “neta” de Marx que, contra todas as expectativas, mais explícita e
persistentemente, tem revelado a Quintessência Histórica do Marxismo, ou
seja, a sua Capacidade para Reflectir acerca da Dialéctica da Modernidade.
Os autores malditos do Marxismo, em particular Theodor Adorno e Herbert
Marcuse, adeptos de uma Dialéctica Negativa que assume uma espécie de
Recusa Individualista, capturaram a Dialéctica da Modernidade como
sendo, nem mais nem menos que a Dialéctica Positiva de Classe, exposta
em The Social Revolution (1902) e The Road to Power (1909), de Karl
Kautsky.

O Marxismo «Ocidental» e os Outros

Normalmente, a Teoria Crítica é vista como parte de uma Subdivisão mais


ampla do Marxismo do século XX, designada por Marxismo Ocidental.
Esta expressão foi criada, em meados da década de 1950, pelo Filósofo
Francês, Maurice Merleau-Ponty (1955, Capítulos II e III) cujo trabalho, por
vezes, também tem sido integrado naquela Corrente Teórica.
De uma forma geral, o Marxismo Ocidental tem sido tratado como um
panteão de indivíduos e de trabalhos individuais, expressando mais uma
Atitude Intelectual, do que uma Tradição ou um Movimento propriamente
dito.
Na verdade, o Círculo de Marxistas Ocidentais tem sido sempre visto como
algo vago e indistinto, apesar de existir um consenso geral de que esta
Corrente nasceu após a Revolução de Outubro na Rússia, como resposta da
Europa Ocidental à mesma, uma Reacção Positiva, mas especial, iniciada
pelas obras de Georg Lukács e de Karl Korsch.
Lukács era um Filósofo e Teórico da Estética Húngaro com Educação
Alemã e Korsch, um Professor de Direito Alemão.

30
Ambos foram Comunistas Proeminentes, durante as Revoluções Falhadas
na Alemanha e na Hungria.
Ambos foram Criticados pelos seus Camaradas, por serem Esquerdistas que
apresentam Desvios Filosóficos, o que chegou mesmo a originar a Expulsão
de Korsch do Partido Comunista Alemão em 1925.
Merleau-Ponty foi aparentemente o responsável pela criação do rótulo de
Marxismo Ocidental, segundo uma sugestão de Korsh, quando se referia
ironicamente aos seus críticos soviéticos, a Lukács e a 2 outros Filósofos
Húngaros: Jozef Revái e Bela Fogarasi.
Merleau-Ponty aplicava este rótulo principalmente a Lukács, pelo seu tipo
especial de Criticismo, fortemente influenciado por Max Weber.
Um Criticismo que contrastava com a Tradição Comunista Ortodoxa e com
a obra Materialism and Empirio-Criticism (1908) de Lenine, em particular.
É geralmente aceite que outro distinto Membro da 1ª. Geração de Marxistas
Ocidentais é António Gramsci, um Jornalista Italiano que, em 1924, se
tornou Líder do Partido Comunista Italiano.
Talvez o seu mais famoso trabalho tenha sido a sua interpretação pessoal da
Revolução de Outubro, num artigo intitulado “The Revolution against Capital”,
publicado, pela primeira vez, em 24 de Novembro de 1917.
“A Revolução dos Bolcheviques materializou-se mais a partir das Ideologias,
do que dos Factos [...] Esta é a Revolução contra o Capital de Karl Marx”
(Gramsci, 1917 [1964, Pág. 265]).
Um Sociólogo do Conhecimento ou um Historiador das Ideias Ecuménicas
poderá definir o Marxismo Ocidental como uma Forma Autónoma do
Pensamento Político Marxista, criada nos Países Capitalistas mais
avançados, após a Revolução de Outubro.
Como tal, ele é diferente quer do (s) Marxismo (s) das outras partes do
Mundo, quer do Marxismo, praticamente Institucionalizado, dos Partidos e
Agrupamentos Políticos.
Todavia, o Marxismo Ocidental é uma Construção Post Hoc com um
significado particular, mesmo nas suas versões menos partidarizadas e mais
eruditas.
Começando por estas últimas, como definições significativas, iremos aqui
tentar situar o Fenómeno designado por Marxismo Ocidental de uma forma
algo diferente, cuja vantagem decorre da possibilidade de um maior
distanciamento.
O Marxismo Ocidental consistiu num Círculo de Autores que só
amadureceu, Teórica e Politicamente, depois da 1ª. Guerra Mundial, mas
cuja posição só se consolida depois da 2ª. Guerra Mundial.
Para Perry Anderson, “a marca de distinção escondida” do Marxismo
Ocidental é a Derrota, uma Característica só inteligível a partir da sua, algo
especial, Periodização.
O Marxismo Ocidental contrasta igualmente com o Trotskismo, do qual
Ernest Mandel é visto como um dos teóricos contemporâneos mais eminentes.
Martin Jay (1984, Pág. 3) vê o Marxismo Ocidental como Algo “criado por
um círculo pouco coeso de autores que vão buscar as suas ideias a Lukács e
a outros Pais Fundadores do Período que se segue imediatamente ao termo
da 1ª. Guerra Mundial: António Gramsci, Karl Korsch e Ernst Bloch”.

31
Embora defenda que, inicialmente, o Marxismo Ocidental tinha, em geral, o
mesmo significado que o Marxismo Hegeliano, Jay aceita basicamente a
definição mais sociológica proposta por Anderson.
Anderson salienta as Mudanças de Posição verificadas na obra de alguns
Intelectuais vindos de Instituições ligadas ao Movimento Trabalhista e
Autores de Estudos na Área da Política e da Economia, em direcção à
Academia e à Filosofia.
Depois da 2ª. Guerra Mundial, todos aqueles que lhe sobreviveram (Gramsci
e Benjamin tinham sido, de diferentes formas, perseguidos até à morte, por
Regimes Fascistas), tinham-se tornado Filósofos Académicos, de nível
catedrático, com a excepção de Sartre que trocara uma promissora carreira
académica, pela de escritor.
A “sua mais notável característica [...] enquanto Tradição Comum será [...]
talvez a Constante Pressão e Influência que exercem sobre ela os Tipos
Sucessivos de Idealismo Europeu” (Anderson; 1976, Pág. 56). O trabalho
dos Marxistas Ocidentais concentrava-se, em particular, na Epistemologia e
na Estética, ao mesmo tempo que produzia Inovações Temáticas no próprio
Discurso Marxista, de entre as quais” Anderson sublinha: o Conceito de
Hegemonia de Gramsci; a Visão que a Escola de Frankfurt tinha da
Libertação, mais como uma Forma de Reconciliação do que de Dominação
da Natureza; bem como o Recurso a Freud.
Atravessando todas estas Inovações Temáticas, Anderson constata um
“Pessimismo Comum e Latente” (Pág. 88; ênfase omissa).
Ao percorrer o Território do Marxismo Ocidental, o trabalho de Martin Jay
utiliza o Conceito de Totalidade, como Bússola Conceptual.
É certo que Jay se recusa, explicitamente, a aceitar este Conceito como
sendo a única bússola possível para aquele propósito, mas, a partir do
momento em que foi evidenciado por Lukács, o Conceito de Totalidade tem,
certamente, estado no centro das atenções do Marxismo Ocidental, sujeito a
várias definições, elaborações e aplicações que Jay persegue com enorme
perícia.
Embora se encontre formalmente definido, o Marxismo Ocidental constitui
uma Nachkonstruktion, ou seja, uma Construção Post Hoc (a seguir a isto)
e não um Grupo ou Corrente que se Auto-Reconhece enquanto tal.
Apesar de tudo, uma Perspectiva mais distanciada do que as de Merleau-
Ponty, de Anderson e de Jay, exige e ao mesmo tempo possibilita um
Posicionamento Histórico parcialmente diferente do Marxismo Ocidental,
uma Outra Leitura Histórica acessível à Falsificação Empírica.
Se tomarmos Lukács como figura-chave e a sua colecção de ensaios, History
and Class Consciousness (1923) como texto-chave, o que não parece ser
controverso, podemos localizar com alguma exactidão quer a Filiação, quer o
Local e a Data de Nascimento do Marxismo Ocidental.
O seu texto fundador foi escrito em 1918, antes de Lukács se ter filiado no
Novo Partido Comunista Húngaro e se ter associado à Abortada Revolução
Húngara.
Este tinha por título, “Bolchevismo como Problema Moral” e colocava, com
uma lucidez exemplar, o problema explicitado no seu título “quer se acreditasse
que a Democracia era uma Táctica Temporária do Movimento Socialista,
uma útil ferramenta a empregar [...], quer se acreditasse que a Democracia era
32
uma Parte Integrante do Socialismo. Se esta última hipótese é verdadeira, a
Democracia não pode ser abandonada sem se considerarem as
Subsequentes Consequências Morais e Ideológicas”.
“O Bolchevismo oferece-nos uma fascinante saída para esta questão, no facto
de não nos obrigar a um Compromisso. Todavia, todos aqueles que caem sob
o seu fascínio podem não estar totalmente conscientes das implicações dessa
decisão. [...] Será possível conseguir algo de bom, recorrendo a meios
condenáveis ? Será que se pode alcançar a Liberdade através da Opressão?”
(Lukács, 1918 [1977, Págs. 419-23]).
Em 1918, Lukács não era de forma alguma um Marxista Ocidental, nem no
sentido que a expressão assumiu na sua obra de 1923, nem naquele que
resulta da forma como esta é acolhida por outros autores.
Com efeito, a sua visão do Marxismo era, nessa altura, diametralmente
oposta.
“No passado”, escreveu Lukács (1918, Pág. 40; ênfase omitida), “a Filosofia
da História de Marx tem sido separada, com frequência, da sua Sociologia.
Em resultado disso, tem sido muitas vezes esquecido que os 2 Elementos
Constitutivos do seu Sistema, a Luta de Classes e o Socialismo [...] se
encontram intimamente relacionados, mas não são, de forma alguma,
Produtos do mesmo Sistema Conceptual. O Primeiro é uma Descoberta
Factual da Sociologia Marxista [...]. O Socialismo, por seu lado, é o
Postulado Utópico da Filosofia da História Marxista: ele é o Objectivo
Ético de um Porvir na Ordem Mundial”.
Tal representa um Tipo de Marxismo filtrado pelo Neo-Kantismo, o qual
constituía uma Corrente Filosófica predominantemente Alemã, muito
presente no Círculo de Max Weber, em Heidelberga, do qual Lukács fazia
então parte, ramificando-se também numa espécie de Marxismo Ortodoxo,
em parte, da Esquerda, desenvolvido por Max Adler e por toda a tendência
Austro-Marxista que reúne Otto Bauer, Rudolf Hilferding, Karl Renner,
entre outros, em Viena, na década que antecede a 1ª. Guerra Mundial.
O nascimento do Marxismo Ocidental consistiu na Confluência ou, se
preferirem, na Transcendência da Distinção entre Ciência e Ética, em
direcção a uma Dialéctica Hegeliana da Consciência de Classe.
O seu primeiro prenúncio foi o primeiro artigo de Lukács, após o seu regresso
à Hungria como Comunista: “Táctica e Ética”, escrito antes da efémera
República Soviética.
Nele se considera que a Acção Moralmente Correcta depende do
Conhecimento, da “Situação Filosófica da História” e da Consciência de
Classe (1919 [1967, Págs. 8-9]).
O texto termina com uma nota que, mais tarde, será desenvolvida no ensaio-
chave History and Class Consciousness (1923), acerca da Reificação e da
Consciência do Proletariado: “Este apelo à salvação da Sociedade é o
Papel Histórico Mundial do Proletariado e, só através da Consciência de
Classe dos Proletários, se pode atingir o Conhecimento e a Compreensão
deste Processo da Humanidade” (Pág. 19).
O alvo imediato do 2º. Texto Canónico do Marxismo Ocidental, a obra
Marxism and Philosophy de Karl Korsch, é o Austro-Marxismo, exemplificado
no texto de Rudolf Hilferding, Finance Capital (1909).

33
Este último é atacado, em nome de uma Dialéctica Hegeliana que rejeita as
suas tentativas para dissolver a “Teoria Unitária da Revolução Social” em
Estudos Científicos e em tomadas de posição Políticas (Korsch, 1923 [1964,
Págs. 92 e segs.]).
Com base no anteriormente referido, podem-se esboçar algumas conclusões.
O Marxismo Ocidental surgiu como uma Recepção Intelectual Europeia da
Revolução de Outubro.
Esta última foi interpretada por Gramsci, como sendo um bem sucedido atalho
do Pensamento Marxista contra o Capital e contra o próprio desenrolar dos
Factos e por Lukács e Korsch como um superar tanto de Problemas Morais
como Científicos.
Se bem que seja verdade que as Perspectivas de uma Revolução a
Ocidente da Rússia começaram a esmorecer a partir de 1923, não é de
pensar que seja muito esclarecedor representar o Marxismo Ocidental como
uma Teoria caracterizada pela Derrota.
Isto não só é falso relativamente ao momento da sua Fundação, como também
em relação à própria Caracterização de Anderson que pode agora parecer o
Produto de uma Perspectiva demasiado Limitada ou Especializada.
Assim, será preferível afirmar que todos os Membros da sua Lista (Georg
Lukács [nascido em 1885], Karl Korsch, António Gramsci, Walter Benjamin,
Max Horkheimer, Galvano Delia Volpe, Herbert Marcuse, Henri Lefebvre,
Theodor W. Adorno, Jean-Paul Sartre, Lucien Goldmann, Louis Althusser
e Lúcio Colieti [nascido em 1924]. Este círculo obedece, em primeiro lugar, a
um Critério Geracional), se tornaram Marxistas, porque encararam a
Revolução de Outubro como um Acontecimento Decisivo na História
Mundial.
Dos 13 Nomes que integram a lista de Anderson, 7 eram Comunistas e, se
excluirmos Korsch e Colletti, foram-no durante toda a sua vida.
O Círculo de Horkheimer, com 4 dos seus Membros referidos na Lista de
Anderson, permaneceu sempre à margem de qualquer Ligação Partidária,
apesar de, antes da 2ª. Guerra Mundial, este Grupo ter manifestado uma
clara simpatia para com a URSS e, depois do Termo do Conflito, nunca ter
prestado muita atenção aos Apelos da Mobilização Anticomunista
característicos do Período da Guerra Fria.
Tanto Adorno, como Horkheimer, desprezavam os Regimes Autoritários da
Europa Oriental, mas nunca os denunciaram abertamente e Herbert Marcuse
produziu um Estudo Crítico, Sóbrio e Erudito, intitulado Soviet Marxism
(1958), que acaba por apontar o Aspecto Racional e Potencialmente Crítico
da Filosofia Social Soviética.
Os 2 que restam, Goldmann e Sartre, estiveram também na órbita da
Revolução de Outubro.
Goldmann fê-lo como discípulo fervoroso do jovem Lukács e Sartre como
simpatizante do Partido Comunista Francês, procurando manter as suas
distâncias, embora, durante todo o Período que se segue à Guerra, o tenha
feito no interior do circuito que reivindicava a Revolução do Proletariado.
Devido à importância que a Revolução de Outubro e a URSS assumem junto
das 2 Gerações Clássicas do Marxismo Ocidental, faz bastante sentido
traçar uma Linha Divisória a Separar o Período Anterior à Morte Recente
de Henri Lefebvre, do Período Que se lhe Segue.
34
Enquanto existe um certo número de figuras da Geração de 1968 passíveis de
ser reagrupadas em torno da continuação de algo a que eles próprios
chamariam Marxismo Ocidental, ninguém pode estabelecer, entre os
primeiros e os segundos, o mesmo tipo de relacionamento com a possibilidade
de ocorrência de uma Revolução Operária ou qualquer outra mistura de Fé e
Desilusão remotamente semelhante.
O facto de Jurgen Habermas, antigo assistente de Adorno, ter quebrado a
Ortodoxia Tácita da Escola de Frankfurt e de a forma como o fez o ter
encaminhado em direcção a Novos Terrenos Teóricos, servem para
exemplificar esta afirmação.
É claro que aclamar a Revolução de Outubro significava, igualmente, aclamar
a Liderança de Lenine, um homem a quem Lukács já antes, em 1919, tinha
prestado homenagem, apontando-o como “o Líder da Revolução do
Proletariado” (1919 [1967, Pág. 19]) e de quem Korsch tomou emprestado o
lema para a sua obra, Marxism and Philosophy.
Com efeito, só uma Falsa Consciência de Esquerda Americana será capaz
de ligar o Marxismo Ocidental ao “Movimento Antileninista deste Século”
(Aranowitz, 1981, Pág. xiii).
A questão que não é respondida pelo que antes foi descrito é a de se será
verdade que todos ou a maior parte dos Marxistas Ocidentais eram Filósofos
e, se sim, porquê ?
Aqui, as Listas de Anderson, Jay, Merleau-Ponty e outros são, na melhor
das hipóteses, tão fiáveis como o veredicto de uma comissão reunida para
decidir sobre o preenchimento de vagas no âmbito de um concurso académico.
Embora não seja necessariamente assim, a verdade é que o argumento de
Anderson não consegue demonstrar que não é um argumento circular.
Todos os nomes que apresenta, com a excepção dos de Benjamin e de
Gramsci, são nomes de Filósofos, mas como é que sabemos que Outros
Não Filósofos tinham possibilidade de se juntar à sua Lista ?
A Lista de Jay (António Gramsci, Karl Korsch, Ernst Bloch, Theodor W.
Adorno, Walter Benjamin, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Leo
Lowenthal [pertencente à Escola de Frankfurt], Grupo Francês Pré-
Althusser, Maurice Merleau-Ponty, Bertold Brecht, Wilhelm Reich, Erich
Fromm, os Comunistas do Conselho da Holanda [Herman Gorter, Anton
Pannekoek e outros], o Grupo dos Argumenisem Franca [Kostas Axelos,
Edgar Morin e outros], Membros da 2ª. Geração da Escola de Frankfurt
[Jurgen Habermas e Alfred Schmidt, Alfred Sohn-Rethel, Leo Kofler, Franz
Jakubowsky, Claude Lefort e Cornelius Castoriadis), é igualmente
dominada pelos Filósofos, sendo a ausência de Cientistas Sociais e de
Historiadores também aí quase absoluta.
Porém, uma vez que o Marxismo Ocidental constitui uma Construção Post
Hoc, esta última conclusão não pode ser aceite, de Forma Acrítica, como um
Facto Histórico.
Sugere-se pois, que aquilo com que se está a lidar decorre da Interacção entre
2 Factores: o Cenário Intelectual Europeu, na altura do acolhimento da
Revolução de Outubro e a Imagem do Marxismo Ocidental que,
posteriormente, se forma na Europa Ocidental e na América do Norte.

35
Por outras palavras, a resposta a esta questão passa, por um lado, pelo facto
de, em 1917, os Filósofos se encontrarem em cena e, por outro lado, pelo de
os Marxistas Mais Tardios terem querido escutar Filósofos.
Deve ser lembrado que um certo número de Percursos e de Carreiras
Intelectuais se encontravam vedados àqueles que prematuramente se tinham
identificado com a Revolução de Outubro.
O Estabelecimento, na Europa, de uma Ciência Social Empírica era pouco
(ou nenhum).
A Sociologia estava Dividida na Tensão entre “a Política da Revolução
Burguesa e a Economia da Revolução do Proletariado” (Therborn, 1976) e
tinha ainda uma Precária Existência Institucional.
Os Departamentos de Economia eram Tradicionalmente Hostis à Crítica
da Economia e a Ciência Política ainda dava os seus primeiros passos em
direcção aos Estudos Políticos na Área da Sociologia.
Quanto às Faculdades de Direito, cobriam ainda Grandes Áreas de
Conhecimento que, mais tarde, iriam ramificar-se pelas Disciplinas Sociais,
mas que por enquanto continuavam unidas e dominadas por Veneráveis
Tradições.
Quanto à Historiografia, permanecia Bastante Hostil a qualquer intrusão nos
seus domínios por parte das outras Ciências Sociais.
Parece, pois, que no coração da Europa (França, Alemanha, Itália) a
Filosofia era a Disciplina Académica onde penetravam com maior facilidade
aqueles que tinham assistido à Alvorada de Outubro de 1917.
Com efeito, a Filosofia encontrava-se relativamente Distante do Poder e dos
Interesses de então, sendo claramente Não Paradigmática, pelo que era
capaz de Acolher Várias Escolas e Correntes de Pensamento no seu seio.
Para além disso, era o meio que permitia debater alguns dos mais importantes
Problemas da Humanidade: a Vida, a História, o Conhecimento ou a Moral.
Apesar disso, conforme acontece em geral na Filosofia do século XX, com o
passar do tempo, grande parte dos Filósofos Marxistas voltam-se para a
Sociologia, embora normalmente não abandonem as suas origens
académicas.
Após a 2ª. Guerra Mundial, esta Viragem Sociológica é claramente visível na
obra de homens como Adorno, Horkheimer, Marcuse, Henri Lefebvre, na do
seu camarada Georges Friedman e na de Jean-Paul Sartre (Adorno e o
Instituto de Frankfurt voltam-se para a Psicologia Social, para a Sociologia
dos Grupos e para a Sociologia Industrial. Lefebvre [1948-61] embarcou
numa Sociologia Filosófica da Vida Quotidiana. Friedmann tornou-se no
Fundador da Sociologia Industrial Francesa. Sartre [1960, Pág. 153] estava
preocupado em demonstrar o Valor do Método Dialéctico para as Ciências
do Homem, o que, tal como era visto por ele próprio, envolvia um Diálogo
Crítico permanente com a Sociologia da Época).
Porém, o Marxismo Ocidental é apenas uma de entre as Muitas Tendências
do Marxismo no século XX.
Mais ainda, qualquer Abordagem Crítica do mesmo, terá que levar em
consideração que o Marxismo não é um Universo Autocontido, constituído
apenas pelas suas próprias Teorias e Práticas, pelas suas Polémicas e pelos
seus Inspiradores e Inimigos.

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O Marxismo e, com ele, a Teoria Crítica, tem feito parte de uma História
Intelectual e Sociopolítica mais vasta, com Alternativas, Rivais e Opostos.
Será, pois, no interior dessa História que o lugar próprio da Teoria Crítica,
num Sentido Estrito ou Específico, tem de ser determinado.

Marxismo e as Rotas pela Modernidade

O Marxismo não é um Corpus Teórico de pouca importância.


Enquanto Perspectiva Cognitiva Distintiva no Mundo Moderno ele só é
Superado, em termos de Significado Social e de Número de Seguidores,
pelas Grandes Religiões.
Enquanto Elemento Moderno de Polarização Identitária, ele só é
Ultrapassado pelo Nacionalismo.
O Marxismo adquiriu uma Importância Histórica muito especial quando, no
Decurso do Período compreendido entre 1880 e 1970, se tornou na Principal
Cultura Intelectual de 2 dos Maiores Movimentos Sociais da Dialéctica da
Modernidade.
Um, foi o Movimento Trabalhista que Emergiu dos Conflitos Intrínsecos do
Capitalismo Industrial e que Afirmava a Primazia da Nova Economia
Industrial, ao mesmo tempo que Combatia as Formas Capitalistas
Prevalecentes.
O outro, foi o Movimento Anticolonialista ou Anti-Imperialista que
Denunciava os Valores e as Perspectivas de Desenvolvimento Social das
Potências Ocidentais em Expansão, ao mesmo tempo que Rejeitava as suas
pretensões de Poder e Lucro.
Em nenhum dos casos, o Marxismo deixou de Enfrentar Importantes Rivais
ou conseguiu uma Difusão Universal, Regular e Sem Derrotas.
Porém, nenhum dos seus competidores teve um alcance e uma persistência
que se lhe possam comparar.
O Marxismo foi também importante para o Feminismo desde os tempos de
Clara Zetkin e Alexandra Kollontay, até aos de Simone de Beauvoir e, mais
recentemente, de Juliet Mitchell, Frigga Haug e de Michèle Barrett.
Mas, apesar do seu Posicionamento Pró-Feminista ser único, num Quadro
de Movimentos, Partidos e Correntes de Pensamento dominados por
Homens (até aos mais recentes Partidos Pós-Marxistas, situados à
Esquerda do Centro), esta Tendência Marxista foi relegada para segundo
plano por Movimentos Religiosos e Outros de Natureza Conservadora, no
que respeita a sua capacidade para atrair o Apoio Feminino.
O Marxismo teve a sua origem na Europa e a sua Concepção Dialéctica da
História adaptava-se melhor ao Rumo Europeu para e através da
Modernidade, com o seu Processo de Transformação Endógeno realizado
no interior dos Conflitos Internos entre as Forças Opositoras e Defensoras
da Modernidade, qualquer que fosse a Concepção desta última.
Será, pois, no seio desta Modernidade Europeia que o Marxismo irá Vencer,
à medida que as Outras Forças que competem pelo Apoio das Classes
Trabalhadoras vão Enfraquecendo e são desacreditadas pela Derrota.
À Direita Imediata do Marxismo, estava o Liberalismo ou, no caso dos
Países Latinos, o Radicalismo.

37
Na Grã-Bretanha, a Primeira destas Correntes era Forte e Vigorosa; em
França e em parte, também na Península Ibérica, era a última que
preponderava.
Um Pouco Mais à Direita, estava ainda a Democracia Cristã, embora esta
surja bastante mais tarde e só se torne verdadeiramente importante em Países
com uma Igreja Forte dotada de uma Certa Autonomia em relação à
Burocracia do Estado, o que acontece, por exemplo, com a Igreja Católica
dos Países Baixos, da Região do Reno, do Sul da Alemanha e da Itália,
assim como com os Militantes Calvinistas (Gereformeerde) Holandeses.
À Sua Esquerda, estavam o Anarquismo, o Anarco-Sindicalismo e o
Populismo Russo.
Contudo, os Anarquistas foram, desde muito cedo, Marginalizados na maior
parte dos lugares, com a excepção da Andaluzia.
Os Anarco-Sindicalistas, em Itália e em Franca, foram Duramente
Vencidos, Permanecendo Activos, na sua maior parte, apenas em Espanha.
Quanto aos Populistas, sofreram Severas Derrotas na Rússia de finais do
século XIX.
Assim sendo, os Mais Importantes Baluartes Marxistas encontravam-se na
Europa Central (estendendo-se no Sentido Norte-Sul, da Escandinávia até
ao Meio de Itália) e na Europa Oriental, onde uma Forte Classe Operária se
estava a formar sem uma prévia Experiência Ideológica da Modernidade.
Na Rússia Autocrática, onde era pouca a Liberdade Intelectual para a
Expressão de quaisquer Ideias Modernas, o Marxismo tornou-se, depois das
Derrotas do Populismo, na Principal Linguagem dos Intelectuais.
Antes de 1914, a Democracia Social Alemã era o Indiscutível Centro de
Gravidade do Marxismo Europeu e Mundial.
O Alemão era o seu Principal Idioma, quer directamente, quer como fonte de
tradução, mesmo em Países cuja Orientação Cultural era predominantemente
Russa, como a Sérvia ou a Bulgária, ou Francesa, como acontece com a
Roménia.
O Die Neue Zeit (Os Novos Tempos), de Karl Kautsky, era o seu Jornal
mais importante.
A 1ª. Guerra Mundial e o seu desfecho tiveram um forte e complexo efeito
sobre o Marxismo Europeu.
A Revolução de Outubro atraiu um número significativo de Trabalhadores e
de Intelectuais para o Marxismo e os Novos Partidos Comunistas iniciaram
um Vigoroso Programa de Publicação e Difusão dos Trabalhos de Marx e
Engels.
Na Alemanha verificou-se uma certa Abertura Académica, especialmente na
Prússia governada pelos Sociais-Democratas, onde a Cidade de Frankfurt
se encontrava integrada.
Contudo, na Europa Central e na Europa do Norte, se excluirmos a Áustria,
o Marxismo dos Partidos Social-Democratas perdeu terreno a favor de um
Reformismo Pragmático que dominou a cena política até à subida dos
Fascistas ao Poder, em 1934.
Na Noruega um Marxismo vivo, Liderado por uma Série de Historiadores
Políticos, floresceu repentinamente, no seio e em torno de um Partido
Trabalhista bastante Radicalizado.

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Em França e na Gra-Bretanha ainda levou um certo tempo até que os
Marxistas Recém-Recrutados amadurecessem, tarefa em que não foram
ajudados, nem pela vigorosa Tradição Não Marxista dos respectivos
Movimentos Trabalhistas e Progressistas, nem pela Instabilidade Sectária
dos Novos Partidos Comunistas.
Em Itália, o Fascismo muito cedo atira com o Marxismo para o interior do
calabouço, obriga-o a exilar-se ou remete-o ao silêncio.
Na Rússia Bolchevique o Marxismo floresce, apoiando-se em Generosos
Donativos Académicos, todavia, a partir da década de 1930, a Ortodoxia
Terrorista Estalinista sufocará durante um Longo Período de tempo todo e
qualquer Pensamento Criativo que este pudesse eventualmente produzir.
Não obstante, já muito antes as Originais Características Autoritárias da
Revolução tinham constrangido o Debate Intelectual, levando homens como,
por exemplo, George Gurvitch e Pitirim Sorokin a deixar a Rússia pouco
depois da data em que se dá a Revolução, para se tornarem proeminentes
Sociólogos (Não Marxistas), em Paris o primeiro e em Cambridge,
Massachusetts o segundo.
No Resto da Europa Oriental, as Perspectivas do Marxismo estavam a
ensombrar-se.
A maior parte dos Estados que se sucederam ao Desmoronamento dos
Impérios Multinacionais ou eram de Natureza Autoritária ou encontravam-se
em vias de se tornar, sendo muito pouco tolerantes em relação ao Marxismo
ou a qualquer outra forma de Pensamento Radical.
Junto dos Estudantes e dos Intelectuais, um Nacionalismo Persistente
marginalizava o Marxismo.
Quanto à Ascensão do Marxismo Ocidental, esta também teve uma
Explicação Sociológica.
A 2ª. Guerra Mundial e o seu rescaldo imediato transformaram de novo a
Paisagem Intelectual Europeia.
Os Novos Regimes Comunistas abriram a Europa de Leste a uma
Institucionalização do Marxismo.
Este, porém, passará a ser controlado por Lideranças Políticas que não mais
irão desenvolver a sua Dimensão Científica ou de Teoria Crítica.
Mesmo assim, um Marxismo Criativo, Abstracto e Filosófico continuou a
desenvolver-se, da Jugoslávia à Polónia, locais onde também conseguiu,
após o Fim do Estalinismo, ligar-se à Sociologia e à Análise de Classes,
nos trabalhos de Julian Hochfeld, Stefan Ossowski e outros.
Depois de 1968 (com a Campanha Anti-Semita na Polónia e a Invasão da
Checoslováquia), a maior parte do Marxismo Criativo que se produzia na
Europa de Leste foi silenciado, exilado ou abandonado.
Na Europa Central e do Norte, o rescaldo da 2ª. Guerra Mundial marca uma
Viragem Intelectual para a América.
As Tendências Empíristas da Ciência Social Americana são acolhidas e
adoptadas, em particular, pela Sociologia, a Ciência Política e a Psicologia
Social, acolhimento estimulado pelas generosas bolsas de estudo norte-
americanas (Adorno, recém-chegado dos Estados Unidos da América,
também se mostrou, durante esses anos, envolvido nesta Tendência
Empirista, sendo visto corno o Introdutor dos Estudos Empíricos de
Opinião, na Alemanha Ocidental).
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Aquilo que foi assimilado com maior facilidade, foram as Variantes mais
Empíricas e Conservadoras das Ciências Sociais Norte-Americanas.
Assim, o Marxismo Foi Marginalizado e remetido para a Política de
Extrema-Esquerda.
Em contrapartida, em França e em Itália, o Marxismo colheu os Frutos da
Resistência, beneficiando também da Maior Elasticidade da Alta Cultura
Latina e da sua aversão ao Processo de Americanização.
A Filosofia permaneceu no seu Trono Intelectual e, entre os Intelectuais
Franceses e Italianos, o Marxismo ou uma qualquer forma de diálogo com
ele, torna-se num Discurso Dominante.
Partidos Comunistas de Grandes Dimensões e Recursos apoiavam-no e o
Marxismo era, também, a Linguagem Teórica dos Partidos Socialistas.
Foi então, em 1949, que os escritos de António Gramsci foram publicados,
juntando um Corpo de Pensamento Original à Tradição Marxista.
A Cultura e os Intelectuais foram, deste modo, colocados no centro das
Análises Políticas e do Poder de Classe.
O Marxismo guiou, no Pós-Guerra, a Historiografia da Revolução Francesa.
O Marxismo, foi igualmente pertinente para a Grande Escola dos Annales,
criada no Período entre Guerras.
Por último, temos a Grã-Bretanha que, com as suas próprias Tradições
Empíricas, não se deixou influenciar grandemente pela cena intelectual norte-
americana.
Aí, no final da década de 1930 e início da de 1940, nasce, a partir das
Movimentações Políticas de Estudantes Comunistas, uma significativa
Corrente Marxista, apoiada por um importante grupo de homens ligados às
Ciências Naturais, Historiadores da Ciência e Velhos Historiadores.
A Grã-Bretanha veio a ser o mais importante porto de abrigo do Marxismo
Empírico Europeu depois da 1ª. Guerra Mundial.
O seu núcleo, após a 2ª. Guerra Mundial, era o Grupo dos Historiadores do
Partido Comunista desmembrado em 1956.
Entre estes Historiadores Marxistas do Pós-Guerra incluíam-se homens
como Christopher Hill, Eric Hobsbawm e Edward P. Thompson.
Faziam também parte deste círculo o Professor de Literatura, Raymond
Williams, o Economista Maurice Dobb e o Historiador George Thomson.
Quanto a Isaac Deutscher, ele descende de uma Tradição, um
Enquadramento e um Passado Político diferentes, embora como
Historiador-Biógrafo (de Trotski e de Estaline) se integre bem na cena
Marxista Inglesa.
Apesar de ser, em grande medida, impulsionada por ela, a Teoria Social não
se encontra sincronizada com a História Social e Política.
O final da década de 1950 e o início da de 1960 assistem a um Declínio do
Marxismo Político na Europa Ocidental.
Entre 1958 e 1960, os Partidos Social-Democratas Austríaco, Alemão
Ocidental e Sueco, desembaraçam os seus programas de qualquer
Reminiscência Marxista.
O Socialismo Francês desacreditou-se a si próprio e, consequentemente, ao
seu Marxismo Oficial, na Guerra da Argélia.

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Aos poucos, os Partidos Comunistas Envelhecem e vão ficando cada vez
mais isolados, uma vez que o longo e Inesperado Boom do Pós-Guerra, não
só continuava, como até atravessava um Processo de Aceleração.
Nesta altura a Situação Política Europeia altera-se significativamente com as
Revoltas Estudantis que resultam da combinação explosiva das Novas
Universidades de Massas, com a Guerra do Vietname e com a influência da
Revolução Cultural Chinesa.
Mais ou menos na mesma altura, a Diminuição da Procura nos Mercados de
Trabalho abre caminho ao Reaparecimento dos Conflitos de Classe.
O Objecto Sociológico em que estes últimos se transformam cresce
rapidamente, gerando um dos principais campos de batalha académicos.
Para uma vasta Geração de Radicais, o Marxismo torna-se, ao mesmo
tempo, na Linguagem Política e na Perspectiva Teórica que melhor
permitem compreender os Fenómenos da Guerra Colonial e do
Subdesenvolvimento, bem como o Funcionamento Socioeconómico
Doméstico das Democracias Ocidentais.
Este Neomarxismo assumiu múltiplas facetas, bastante mais heterogéneas do
que as formadas pelo Marasmo Ocidental Original.
No entanto, quando se compara com este último, dificilmente se pode afirmar
que produziu efeitos tão espectaculares.
Uma das razões para que tal não tenha acontecido, prende-se com o facto de
que a Política e a Teoria se tinham transformado em coisas muito mais
distantes e diferenciadas entre si.
Mesmo os mais brilhantes e reflectidos Textos Políticos deste Período
revelam um Envolvimento Político e Prático muito maior do que os
Trabalhos Teóricos e Académicos que, mesmo quando produzidos por
autores politicamente activos, eram circunscritos a um círculo letrado e
minoritário.
O Neomarxismo conseguiu a Inclusão de Marx nos Cânones Clássicos da
Sociologia e tornou as Perspectivas Marxistas ou Marxizantes, em modos
de ver legítimos (mesmo quando minoritários) na maior parte dos
Departamentos Académicos de Ciências Sociais e Humanidades.
Primeiro, o Marxismo entra na Antropologia, através do trabalho de
antropólogos franceses como Maurice Godelier, Claude Meillassoux,
Emmanuel Terray, entre outros.
E, ao ligar-se ao Trabalho Neo-Ricardiano do amigo de Gramsci, Piero
Sraffa, era montado o primeiro Grande Desafio Teórico sério que se coloca à
triunfante Economia Marginalista, colocando em confronto a Universidade de
Cambridge, em Inglaterra, ao lado de Ricardo e de Marx, contra Cambridge,
Massachusetts.
Mas quando, na segunda metade da década de 1970, a Força do Radicalismo
Político começa a esgotar-se, o Marxismo Político evapora-se rapidamente.
Também o Marxismo Académico retrocede nessa mesma altura, sendo, umas
vezes, abandonado em prole de outros Ismos Teóricos mais recentes, outras
vezes, absorvido por Práticas Disciplinares Ecuménicas.
Assim, onde este se conseguiu suportar melhor a si próprio, foi na Sociologia
e na Historiografia.
Nos novos mundos criados com base nas conquistas do Início da Idade
Moderna e nas Migrações de Massas, a Luta Teórica e Prática em prole da
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Modernidade era, em grande medida, uma Luta Externa contra a Europa
Colonial, levada a cabo pelos Estrangeiros Colonizados contra os
Colonizadores.
Nem o Conflito Interno de Forças Históricas, nem a Formação de Classes
nas Forças em Acção conseguiram, em nenhum outro lugar, ser tão
importantes, como na Europa.
O Problema da Dialéctica da Modernidade, como um todo e o da
correspondente Dialéctica de Classe, em particular, era destituído de parte do
seu significado nas Américas e na Oceânia.
Por isso, não surpreende verificar que o papel desempenhado pelo Marxismo
nesses Novos Mundos tenha sido bastante mais modesto.
Os Partidos Marxistas, com alguma Importância Social, são excepções raras
que surgem tardiamente, já depois da 2ª. Guerra Mundial.
A Guiana, Cuba e o Chile constituem as principais excepções.
O Marxismo difunde-se rapidamente nesses Novos Mundos.
Na viragem do século, a editora de Chicago, Charles H. Kerr, tornou-se num
importante centro intercontinental de Disseminação do Marxismo Inglês.
Os Emigrantes oriundos de Países Latinos espalharam o Marxismo pela
América do Sul: a Argentina, por exemplo, obtém a sua tradução de Capital
muito antes da Suécia e da Noruega.
Apesar de tudo, o Marxismo não consegue desenvolver aí raízes significativas.
No entanto, depois da 2ª. Guerra Mundial, o Conhecimento Académico
Marxista também passou por uma Viragem no Ocidente, semelhante à que
se verifica na Ciência e no Conhecimento em Geral, apesar de ter levado
mais tempo a amadurecer.
Não foi feita uma oferta a Marcuse suficientemente aliciante para o levar a
regressar à Europa, pelo que este permaneceu nos Estados Unidos; porém,
se excluirmos os seus trabalhos mais tardios, o Marxismo Americano ganhou
muito pouco com os Refugiados Antifascistas que aí buscaram exílio.
Paul Sweezy cria a Monthly Review e a Monthly Review Press, que se
tornam no mais importante Fórum Internacional, para uma Crítica Séria da
Economia Política (Em quase toda a parte, os Partidos Comunistas
subsidiaram a Investigação Empírica sobre os Capitalismos Nacionais,
parte da qual, como a realizada entre o final da década de 1950 e o início da de
1960 pelo futuro líder do Partido Comunista Sueco, C. H. Hermansson, era
bastante inovadora a nível local e mais tarde seria oficialmente reconhecida
como tal. No entanto, tais estudos cingiam-se, normalmente, a uma audiência
que permanecia limitada às Fronteiras do País a que o investigador
pertencia).
A Nova Teoria Marxista do Subdesenvolvimento do Capitalismo veio a
desenvolver-se em torno da Monthly Review, através dos trabalhos de Paul
Baran (1957) e de André Gunder Frank (1967), que argumentam que o
Subdesenvolvimento não era uma Falta de Desenvolvimento, mas sim algo
que se desenvolvera a partir do Capitalismo Global, como um dos seus
Pólos.
Na América Latina, em meados da década de 1960, surgem alguns trabalhos
com uma Orientação mais Sociológica, acerca do Subdesenvolvimento, dos
quais se destacam, sobretudo, os do brasileiro Fernando Henrique Cardoso.

42
Esta corrente seria frequentemente designada por Escola da Dependência,
visto que defendia que o Subdesenvolvimento Sul-Americano dependia das
suas Relações com as Metrópoles do Capitalismo.
As Sublevações Estudantis ocorridas na Cena Académica Norte-
Americana, no final da década de 1960, parecem ter tido, no seu todo, efeitos
intelectualmente mais produtivos e inovadores do que os acontecimentos
paralelos ocorridos na Europa e noutros lugares.
Contributos altamente criativos foram subitamente dados por alguns Marxistas
Norte-Americanos, dos quais os dois mais bem sucedidos são rivais.
Um foi o Trabalho Historiográfico de Robert Brenner acerca da Relevância
da Luta de Casses para a Ascensão da Modernidade.
A Explícita e Ortodoxa Perspectiva Materialista Histórica de Brenner, foi
defendida e sustentada numa série de confrontos com outros historiadores,
acerca da Importância da Luta de Classes na Emergência da Europa
Capitalista Industrial.
Esses confrontos assumem uma tal dimensão que chegam mesmo a ser
reunidos sob o título de The Brenner Debate (Aston e Philpin, 1985).
Mais recentemente, Brenner (1993) avança, ainda, com um outro importante
contributo para responder a uma questão central do Debate Historiográfico,
desta feita argumentando a favor do Carácter Classista da Guerra Civil
Inglesa.
O outro foi Immanuel Wallerstein, cujas credenciais, em termos da
capacidade de Síntese Sociológica Erudita podem ser algo mais
controversas do que as de Brenner, mas cuja Perspicácia Empresarial
Académica e realizações tiveram só um Paralelo Marxista comparável: o de
Max Horkheimer.
Em 1976, Wallerstein lança o seu Projecto de Análise do Sistema Mundial,
a mais Vasta Totalidade Social concebível, em torno do qual construiu um
Instituto de Investigação, uma Corrente no seio da American Sociological
Association e uma Rede Global de Colaboradores.
A Dialéctica Wallersteiniana do Sistema Mundial Capitalista, foi
explicitamente dirigida contra a Teoria Evolucionista da Modernização de
Sociedades Separadas, então muito em voga.
A Extraordinária Criatividade do Marxismo Norte-Americano, no Período
que se segue a 1968, inclui também algumas Profundas Análises dos
Processos de Trabalho, onde, mais uma vez, se Geraram Conflitos de
Interpretação: Braverman (1974) e Burawoy (1979; 1985); as mais
ambiciosas Análises de Classe, Przeworski e Sprague (1986) e Wright
(1985); os mais Inovadores Inquéritos Culturais, após a obra de Raymond
Williams (1921-88): Jameson (1991) e muitos outros.
A Teoria Crítica foi recebida mais calorosamente pela Ala Esquerda da
Academia Norte-Americana, do que por qualquer outra das suas congéneres.
No entanto, os melhores resultados produzidos pela Teoria Crítica são, de
longe, aqueles que decorrem do trabalho realizado com a própria Teoria
Crítica como Objecto, bastante mais importantes do que aqueles que dela se
puderam retirar (De facto, as mais Criativas Análises produzidas no âmbito da
Teoria Social Crítica Americana aparecem fora da Tradição Marxista, em
obras como as de Etzioni e de Unger).

43
A Modernidade nas Regiões Colonizadas, Centrada em torno da Relação do
Conquistado, tanto com a Conquista, como com os Conquistadores, tem
sido particularmente traumática.
É provável que ninguém tenha conseguido capturar a Violência dos Traumas
envolvidos melhor do que Frantz Fanon, o médico marxista das Caraíbas
envolvido na revolução argelina, cuja obra The Damned of the Earth surge,
pela primeira vez, em 1961, com prefácio de Sartre.
Foi uma Comissão (Comintern) que tornou possível e difundiu (a partir do
Congresso dos Povos Oprimidos, realizado em Baku, em Novembro de
1920 e da Formação da Liga Anti-Imperialista, destinada ao incentivo global
de Partidos Comunistas Anticolonialistas), uma Interpretação Marxista do
Colonialismo identificando o Anticolonialismo com o Marxismo.
Todavia, os resultados finais consistiram no aparecimento de muitos mais
Nacionalismos de Expressão Marxista, do que propriamente de Movimentos
Comunistas.
O Marxismo transformou-se, pois, na Linguagem Oficial dos Movimentos
Anticolonialistas e dos Poderes Pós-Coloniais especialmente, em África,
através da Acção de Partidos que vão da FNL Argelina, ao ZANU do
Zimbabwé.
No entanto, no Subcontinente Indiano, designadamente na Índia
Secularizada, o Marxismo também assume grande importância, tal como
acontece na Indonésia onde, inicialmente, foi impulsionado por um Grupo
extraordinário de Homens de Esquerda Holandeses, liderados por Henricus
Sneevliet.
A Cultura Negra Africana, bastante afastada da Dialéctica da Modernidade
Marxista, (ainda) não foi capaz de suportar qualquer Forma de
Intelectualidade Marxista significativa.
Existe mesmo uma certa tendência para que os Intelectuais Marxistas
Africanos mais importantes Não Sejam Negros.
É o caso de Samir Amin (1970), o mundialmente Famoso Economista do
Desenvolvimento Egípcio que habita em Dakar; dos 2 Analistas da Política
e do Direito, da África Oriental (de Origem Indiana), Mahmood Mamdani e
Issa Shivji e da Liderança Central do Complexo Partido Comunista Sul-
Africano (a Nata Intelectual do ANC) composta, principalmente, por Brancos.
Na Indonésia, o Marxismo foi integralmente liquidado em termos físicos, quer
como Corrente Intelectual, quer como Força Social, numa das mais
alargadas Perseguições Políticas alguma vez encenadas (em 1965-1966).
No Paquistão ele foi abafado pelo Islão, numa competição que foi tudo menos
justa.
A Índia, em contrapartida, conseguiu conservar um Marxismo Complexo e
Relevante, que chegou inicialmente àquele País, vindo dos Estados Unidos.
Existe, nesse País, uma Tradição Marxista ou Marxizante de alto nível na
Economia, que pode ser ilustrada pelo facto de, entre os Economistas
envolvidos na já referida controvérsia entre Cambridge e Cambridge,
Massachusetts, os únicos que não são de Origem Norte-Atlântica, são 2
Italianos e 3 Indianos.
E, acima de tudo, uma viva e generalizada Tradição Historiográfica, da qual
fazem parte o formidável Poli-Historiador e Professor de Matemática, D. D.

44
Kosambi (1985) e também Bipan Chandra (1979), Irfan Habib e Harbans
Mukhia, entre outros.
Já na Sociologia Indiana, o papel desempenhado pelo Marxismo foi de
menor importância.
A China nunca foi completamente Colonizada e, por isso, percorreu uma 4ª.
Via para a Modernidade.
Porém, as Invasões Japonesas de 1931 e 1937, colocaram a China sob uma
Forte Ameaça Colonial, que deu origem, em 1940, a um Marxismo Político
Extremamente Original, sob a Liderança Teórica e Prática de Mao Zedong
(Ainda se aguarda uma avaliação sóbria do contributo de Mao para o
Marxismo, isenta da influência das opiniões suscitadas pelo seu Carácter de
Político Impiedoso).
Nos Países em que a Modernização é Induzida a Partir do Exterior, é de
esperar do Marxismo que tenha uma Existência Marginal.
Nestes casos, ele é mantido ao largo pela Facção Modernizadora detentora
do Poder Político, sendo, em grande medida, estranho à Populaça que é
arrastada para a Modernidade por essa mesma Facção.
Em contrapartida, nos Países em que existe uma Maior Abertura à
Importação de Ideias, verifica-se também a Existência de uma Importação
Precoce do Marxismo e de outras Ideias Radicais, por parte dos Vários
Grupos de Não Governantes Pró-Modernos.
A Importância Relativa das 2 Tendências deverá, então, depender dos
Níveis, quer de Continuidade no Processo de Modernização, quer de
Repressão: quanto mais elevados são estes níveis, menos possibilidade há de
vermos o Marxismo ocupar uma Posição Central.
O Antigo Império Otomano, a Turquia, o Coração do Mundo Árabe, o Irão
e a Ásia Oriental Sino-Japonesa são as Maiores Civilizações nesta Via
Para e Através da Modernidade.
Todas elas, exceptuando a última, encontram-se do Lado do Espectro em que
há uma Continuidade no Processo de Modernização e nunca geraram
qualquer tipo de contributo importante para o Marxismo, quer Política, quer
Teoricamente (exceptuando os contributos de Intelectuais Exilados, tais
como Anouar Abdel Malek, Samir Amin e a Diáspora Iraniana Pós-
Khomeini).
O Japão, em contrapartida, não só foi a Primeira Nação a trazer o Marxismo
para a Ásia, como também foi, por volta de 1930, o Produtor de um
impressionante Debate Marxista, sustentado por uma Extensa
Argumentação Empírica, acerca do seu Desenvolvimento
Socioeconómico.
No mínimo, a sua Catastrófica Derrota em 1945, abriu o caminho para a
formação de um importante Marxismo de Classe Média, em torno dos
Partidos Comunista e Socialista e do Movimento Estudantil.
Teoricamente, o Marxismo Japonês apresentava uma Forte Orientação no
sentido da Crítica Ortodoxa da Economia Política, liderada por Kozo Uns e,
mais recentemente, por Mishio Morishima (1973), Makoto Itoh (1980) e
outros.
As Rotas Históricas para e através da Modernidade e as Respectivas
Dinâmicas Políticas determinaram de forma bastante importante a trajectória
do Marxismo do século XX, o seu Conteúdo Substancial e, mais ainda, os
45
seus Períodos de Expansão e Retracção, permitindo a Persistência
Retardada de Acontecimentos Geracionais Cruciais.

O Futuro da Dialéctica Social

Enquanto Interpretação, Crítica, Análise e, ocasionalmente, Governo da


Modernidade, o Marxismo não encontrou nenhum rival à sua altura entre as
Concepções Modernas da Sociedade, embora o Registo Governamental de
Políticos que se afirmaram Marxistas seja actualmente visto por muitos, como
Pejado de Insucessos.
O Marxismo tem-se aguentado (Desenvolvendo-se Intelectualmente, como
Historiografia primeiro e como Sociologia, mais tarde), não só na Forma de
Análise Histórica e Sociológica das Classes Sociais, mas também como
Crítica da Economia Política, não directamente Económica, mas antes
Socialmente Mediada.
No entanto, no Âmago de qualquer Normal Demanda de Conhecimento
Científico, todos os Ismos estão, mais cedo ou mais tarde, Condenados ao
Desaparecimento.
A sua Verdadeira Obra Filosófica (tal como é distinguida pelos seus
Kulturkritik), desde Max Adier até Louis Althusser e a G. A Cohen, tem-se
centrado sobre o entendimento de Marx e do próprio Marxismo (Na verdade,
esses autores abordaram alguns Problemas de Natureza mais
Epistemológica. Althusser (1965) apresentou originalmente a série, cujos
primeiros exemplares foram For Marx e Leading Capital, como um conjunto de
obras escritas com a intenção de definir e explorar o Campo de uma
Filosofia concebida como Teoria da Produção do Conhecimento. Mas, de
facto, se vamos de Adler (1904), até Adorno (1966), passando por Althusser
(1965; 1969) e Cohen (1978), verificamos que existe uma Tendência
Progressiva para um Autocentramento no Marxismo e na sua Dialéctica) e,
como tal, tem sido uma Filosofia voltada para o Interior.
Em alternativa, nos trabalhos de Henri Lefebvre e de Jean-Paul Sartre, a
Filosofia Marxista tem sido uma Proto-Sociologia.
A Teoria Crítica é apenas um dos Momentos Ocidentais desta História
Global, agora com mais de um século de existência.
Não obstante, trata-se de um momento de grande importância, porque traz à
luz do dia, talvez melhor do que qualquer outra Variante Marxista, a
Problemática do Marxismo enquanto Dialéctica da Modernidade.
À Convencional Disputa em torno da Definição do Marxismo como Ciência
ou Crítica, escapa, porém, um ponto decisivo.
Na verdade, as Pretensões Científicas e a Autoconfiança que
caracterizavam os Marxistas, desde Engels e Kautski, a Louis Althusser e
seus discípulos, passando pelos Austro-Marxistas, assentavam na suposição
de que, na realidade, a Crítica era algo que já se encontrava inerente ao
Movimento Trabalhista então existente.
Só a partir do momento em que este último se esbateu, quer (tal como no
Marxismo Ocidental original) como passível de ser instantaneamente
submerso numa Potente Vaga Operária, quer, mais tarde, por se ter
Integrado e ter deixado de acalentar qualquer esperança na vitória é que o
momento crucial da Crítica Anticientífica emergiu.
46
Nesta Encruzilhada Histórica, depois de esgotada a Revolução de Outubro
(em 1989-91) e depois de Iniciada a Queda da Classe Trabalhadora
Industrial (por volta de 1970), tornou-se necessário repensar uma eventual
relevância futura da Dialéctica da Modernidade Marxista.
Se o Processo de Globalização Económica e Cultural tivesse algum
significado, deixaria de fazer qualquer sentido separar a Humanidade,
Dividindo-a entre História e a Pós-História (Fukuyama, 1992).
Porém, o que acontece vai no sentido oposto: a Interdependência Global e os
Abismos Globais que Separam a Miséria da Abundância estão a Crescer
em simultâneo.
As Polarizações das Oportunidades de Vida, se não de Poderes Rivais,
também se sucedem no interior das Grandes Metrópoles.
Um Entendimento Dialéctico desta Unidade de Opostos é tão necessário
nos nossos dias, como o foi no tempo de Marx.
Neste sentido, vivemos um Novo Momento da Crítica que requer um
empenhamento capaz, destinado a transcender a mera Divisão Académica do
Trabalho, desta feita sem o Pano de Fundo Classista da Ciência, nem das
Profecias Apocalípticas de Korsch e Lukács.
Por isso, pese embora aquilo que nos diz Habermas, parece-nos que uma
Crítica da Economia Dominante é uma tarefa mais urgente do que uma
Teoria da Acção Comunicativa.
Uma vez que, num futuro próximo, nem o Capitalismo, nem a sua Polarização
de Percursos de Vida irão provavelmente desaparecer, existem boas
hipóteses de que a sombra de Marx se continue a projectar sobre o
Pensamento Social.
A maneira mais óbvia de contribuir para o Avanço da Produção Teórica de
Inspiração Marxista, será olhar para aquilo que, à Escala Global, está
presentemente a acontecer ao velho par das forças e das Relações de
Produção, bem como aos Efeitos Conflituais que ambas têm sobre as
Relações Sociais.
O Marxismo pode já não ter capacidade para apresentar qualquer tipo de
solução pronta a utilizar, mas a sua Perspicácia Crítica não se encontra
necessariamente esgotada.
Finalmente, com o Retorno de um Socialismo que novamente se afasta da
Ciência para se aproximar da Utopia, existem boas possibilidades de
assistirmos, no futuro, a um retorno dos homens e mulheres envolvidos na
Produção de Pensamento Social Crítico a um interesse crescente pelo
trabalho do Grande Historiador e Filósofo da Esperança, Ernst Bloch, o
qual assinalou (1959 [1986, vol. 3, Pág. 1370]) que “o Marxismo, o mais frio
dos detectives em todas as Análises, aborda o conto de fadas com seriedade
e o Sonho de uma Idade de Ouro de Forma Pragmática”.
A Sociedade com que os Dialécticos Críticos sonhavam, Livre da
Exploração e da Alienação, não será necessariamente, mesmo quando tal vai
contra todas as expectativas, um Fracasso do Passado, mas antes algo que
ainda está para vir.

47
II - ACÇÕES, ACTORES, SISTEMAS

CAPÍTULO 4

Teorias da Acção e da Praxis

Diferença entre Comportamento e Acção: A Acção é Individual e pode ser


Subjectiva; o Comportamento implica uma Avaliação por Terceiros, as
Expectativas que outras pessoas têm quanto às Acções do Actor, sendo
assim uma Perspectiva Social das Acções.
Pressupostos das Teorias da Acção: O seu fundamento no séc. XX foi a
Filosofia Utilitarista que postulava que a Acção Humana se desenrolava em
Função da Natureza Humana e que, portanto, toda a Acção correspondia a
uma Satisfação de Necessidades, ou à Minimização de Perdas ou
Sofrimentos.
Razões pelas quais não existe uma Teoria Unificada da Acção: Devido à
Discordância Teórica Histórica entre a Filosofia Utilitarista e o
Pensamento Romântico.
Problemática das Relações entre Acção e Estrutura: Giddens considera
que o Tempo e os Lugares Materiais condicionam os Desempenhos de
Conduta e consequentemente as Acções.
Define 4 Elementos Estruturais: Regras de Procedimento; Regras Morais;
Recursos Materiais; e Recursos de Autoridade.
Associa a Estrutura à Praxis e define a Estrutura como Condicionante da
Praxis.
Define a Teoria do Sujeito baseada em 3 Níveis de Subjectividade:
Consciência Discursiva ou Nível do Raciocínio; Consciência Prática; e
Subjectividade Inconsciente.
Os Actores utilizam estes 3 Níveis e o Nível Racional não predomina na
Acção Social.
A Acção dos Actores baseia-se nas tentativas constantes de manter a sua
Segurança Ontológica.

Distinguir

Perspectivas Individualistas da Acção Derivadas de Max Weber: Weber


colocou o Actor e o significado que ele atribui às suas Acções, como chave de
leitura da Acção Social.
Perspectivas Estruturalistas: Anthony Giddens afirma que tudo o que
acontece ou existe na Vida Social se produz através de Formas de
Desempenho da Conduta, que contribuem para a Produção e Reprodução
de Relações Sistémicas e de Padrões Estruturais.
O Sistema e a Estrutura são, portanto, Padrões Colectivos e são mais do
que Comportamentos Localmente situados.
Perspectivas Deterministas: Definem que todo o Acontecimento ou Acção
(inclusive Mental) é explicado pela Determinação, ou seja, por Relações de
Causalidade (Causa-Efeito).
Perspectivas Anti-Individualistas Derivadas da Sociologia de Durkheim:
Para Durkheim a Ordem Social impõe-se através da Força Constrangedora
48
das Normas que o Processo de Socialização fornece Coercivamente aos
Indivíduos.
As Regras Estabelecidas Socialmente possuem Força Moral.
Perspectivas que Consideram as Consequências Involuntárias da Acção:
Pensamento Romântico; Garfinkel que considera que os Actores Sociais
sabem como produzir uma Acção, mas a maior parte do tempo mantêm
apenas uma Consciência Tácita daquilo que sabem.

Distinguir

Perspectivas de Orientação Subjectivista das Teorias da Praxis:

Subjectivistas - Acreditam que os Actos Mentais moldam ou dirigem a


Execução da Conduta ou da Subjectividade enquanto Fundamento da
Acção (Weber e Parsons).
Teorias da Praxis - Distinguem-se das Subjectivistas essencialmente por
considerarem muito menor a importância da Consciência na Acção Social
(John Dewey, George Herbert Mead, Harold Garfinkel e Anthony Giddens).

Segundo Weber, Conceitos de Acção Social e Relação Social:

Acção Social - Comportamento com significado atribuído; é sempre


Subjectivamente orientada para o Comportamento dos outros.
Os Outros, não são Necessariamente Indivíduos.
Podem ser Grupos, Populações, etc.
Relação Social - Apenas existe Relação Social se vários Actores orientarem
mutuamente o significado das suas Acções.
Conceito Weberiano de Ordem: Qualquer Relação Social que se oriente por
uma Norma Superior (não por uma Norma Pessoal ou Privada), ou seja,
qualquer Relação Social que se desenvolva, estando presente nos seus
protagonistas a Convicção Moral de Vinculação a um Dever, independente
da sua vontade.
Tipo-Ideal: As Construções de Tipo Ideal fazem parte do Método Tipológico
criado por Max Weber que, até certo ponto, se assemelha ao Método
Comparativo.
Ao Comparar Fenómenos Sociais Complexos o pesquisador cria Tipos ou
Modelos Ideais, construídos a partir de Aspectos Essenciais dos
Fenómenos.
A Característica Principal do Tipo Ideal é Não Existir na Realidade, mas
Servir de Modelo para a Análise de Casos Concretos, realmente existentes.
Comportamento: Consiste no que as Pessoas, ao redor do Indivíduo,
esperam dele, no que se refere à sua Conduta em determinadas Situações
Sociais.
Relação Social: Refere-se ao Relacionamento entre Indivíduos ou no
Interior de um Grupo Social.
As Relações Sociais formam a Base da Estrutura Social.
Acção: É um certo Tipo de Coisa que uma Pessoa Pode Fazer.

49
Estrutura: É uma Noção Fundamental e às vezes Intangível, cobrindo o
Reconhecimento, Observação, Natureza, Estabilidade de Padrões e
Relacionamentos de Entidades.
Uma Estrutura define do que um Sistema é feito.
É uma Configuração de Itens.
É uma Colecção de Componentes ou Serviços Interrelacionados.
A Estrutura pode ser uma Hierarquia (uma Cascata de Relacionamentos
Um-Para-Vários) ou uma Rede contendo Relacionamentos Vários-Para-
Vários.
Utilitarismo: É uma Doutrina Ética que prescreve a Acção (ou Inacção) de
forma a Optimizar o Bem-Estar do Conjunto dos Seres Sencientes.
O Utilitarismo é então uma Forma de Consequencialismo, ou seja, ele
avalia uma Acção (ou Regra) unicamente em Função de suas
Consequências.
Agir sempre de Forma a Produzir a Maior Quantidade de Bem-Estar
(Princípio do Bem-Estar Máximo).
Empirismo: Teoria segundo a qual Todo o Conhecimento provém da
Observação e da Experiência.
É um Movimento que acredita nas Experiências como Únicas (ou Principais)
Formadoras das Ideias, Discordando, portanto, da Noção de Ideias Inatas.
O Empirismo é Descrito/Caracterizado pelo Conhecimento Científico, a
Sabedoria é Adquirida por Percepções; pela Origem das Ideias por onde se
percebem as Coisas, independentemente dos seus Objectivos e
Significados;
Consciência Subjectiva: Tem o seu Conteúdo no Plano Subjectivo sob a
Forma de Percepções, Representações, Conceitos, etc.
Consciência Objectiva: Soma de Crenças e Sentimentos Comuns à Média
dos Membros da Comunidade, formando um Sistema Autónomo, isto é, uma
Realidade Distinta que persiste no Tempo e Une as Gerações (Durkheim).
Norma: Qualquer Modo ou Condicionante de Conduta Socialmente
Aprovada.
Conduta: Consiste no Comportamento Humano Autoconsciente, ou seja,
Comportamento Controlado pelas Expectativas de Outras Pessoas.
Ordem: Refere-se a Certa Qualidade, ou seja, ao Funcionamento Sem
Choques, no Seio da Sociedade, da Acção Recíproca de Indivíduos,
Grupos ou Instituições e por este motivo compreende Valores de Eficiência,
Coerência, Lógica, Moralidade, etc.
É um Padrão de Relação Social Cristalizado.
Desordem: Uma Perturbação no Equilíbrio das Forças, o que Produz uma
Desintegração das Instituições e um Enfraquecimento do seu Controlo.
A Sociedade é, então, envolvida por todos os Tipos de Problemas Sociais.
Anomia: Ausência de Normas.
Aplica-se tanto à Sociedade como a Pessoas: significa Estado de
Desorganização Social ou Pessoal, Ocasionado pela Ausência ou
Aparente Ausência de Normas.

50
CAPÍTULO 5

A Teoria dos Sistemas

Estrutural Funcionalismo de Talcott Parsons (1902-1979): Permaneceu


dominante entre os anos 30 e 70 do séc. XX, nos EUA.
O grande mérito de Parsons foi ter conseguido uma Síntese Completa das
Principais Ideias Sociológicas desde Durkheim a Malinowski, incluindo
Weber e Freud, a qual integra a Capacidade de Explicar os Diferentes
Níveis Sociais desde a Estrutura Social, ao Comportamento Individual.
Parsons introduziu no Pensamento Americano as Grandes Correntes
Teóricas da Sociologia Europeia (Durkheim, Weber e Pareto).
Parsons interessou-se sobretudo, pelas Condições de Manutenção e
Funcionamento do Sistema Social e das Modalidades da Acção Social.
A sua pergunta de partida foi: “De que forma as Sociedades Subsistem e se
Mantém Unidas e Coesas ?”
Rejeitou os Modelos Económicos de Explicação, baseados nos Interesses
Pessoais e sublinhou a Importância das Normas e dos Valores na Vida
Social.
Esta Perspetiva Sociológica (Funcionalismo) remonta aos seus
Fundadores (Comte e Spencer).
Parsons acrescenta a Estrutura na Função.
Considerou que a Sociedade é um Sistema Vivo, que tem de Adaptar-se a
um Ambiente em Constante Mutação e Encontrar o seu Equilíbrio,
assegurando que cada uma das partes funcione de forma própria e adequada
aos Objectivos.
Parsons considera a Sociedade como um Sistema Autossuficiente,
constituído por Vários Subsistemas Interligados e Interdependentes.
Cada um dos Sistemas contribui para assegurar os Imperativos Funcionais
que lhe são próprios e são Elementos Básicos necessários ao Equilíbrio da
Sociedade e à sua Manutenção (Funções de Integração Social).
Imperativos Funcionais: A Teoria das 4 Funções pretende ser um Modelo
de Interpretação dos Desafios Vividos pelos Actores Sociais, de qualquer
Sistema Social (Níveis Micro e Macro)
A - Adaptação - Cada Sociedade tem de se Alimentar e a Aquisição de
Recursos Físicos a partir do Meio Envolvente requer uma Adaptação a esse
mesmo Meio.
G - Realização dos Objetivos - Utilização Política dos Recursos para
Atingir Objectivos Particulares.
I - Integração dos Actos - A Aquisição de Regras ou Normas para Regular
o Sistema Social Globalmente, por exemplo as Leis.
L - Manutenção dos Modelos Latentes - Assegura a Transformação dos
Valores Individuais e Pessoais em Modelos Padronizados que são
Partilhados e Estáveis no seio de um dado Sistema Social.
Parsons acreditava que os Desvios Sociais eram Faltas de Educação.
Um Comportamento Desviante significa que o Indivíduo que o Pratica não
foi Correctamente Socializado e, portanto, Não Interiorizou Correctamente
as Normas e os Valores.

51
Daí a Necessidade de Ressocializar estes Indivíduos através de
Instituições criadas para esse efeito (Policiais e Prisionais).
Segundo o autor, as Normas e os Valores Vigentes são Agrupados em 2
Categorias Principais:
- Emotivos ou Expressivos, Orientados para a Colectividade, tais como o
Particularismo e a Afectividade;
- Instrumentais, Orientados para a Realização, tais como a Aquisição, a
Autodisciplina e o Individualismo.
A partir deste Critério de Divisão, Parsons constrói um Quadro de Variáveis
Estruturais que permite Descodificar os Valores Presentes na Acção
Social.
Ele identifica na Sociedade Contemporânea 4 Conjuntos de Pares de
Valores Antagónicos:
1. Particularismo/Universalismo: Na Acção Social os Actores Fazem
Julgamentos dos outros, segundo Critérios Universais, ou segundo Critérios
Particulares (que entendem o Indivíduo na sua Singularidade como
Pessoa).
2. Aquisição/Atribuição: Na Acção Social os Actores Podem Julgar os
Outros, mediante as suas Capacidades Adquiridas em Função das suas
Realizações (Nível de Instrução, Categoria Profissional, Rendimento, etc.),
ou mediante as suas Qualidades Naturais e Herdadas (Raça, Idade, Sexo,
Casta, etc.), que Não Resultam de Esforços de Aquisição.
3. Especificidade/Difusão: Os Actores têm de Decidir Relacionar-se com as
Pessoas na sua Totalidade enquanto Seres Completos, ou apenas com
Alguns Traços ou Aspectos Particulares.
Exemplo: Um Pai relaciona-se com o Filho num Registo Holístico
(considerando o Todo); um Bancário relaciona-se com os Clientes num
Registo Específico (considerando Aspectos Importantes para a sua
Actividade).
4. Neutralidade/Afectividade: Na Acção Social os Actores têm de Optar por
Relações Instrumentais Neutras, que Não Envolvem Sentimentos, ou por
Relações Afectivas que Envolvem Sentimentos e Afeições.
Estas Variáveis permitem-nos Interpretar a Vida Social em Função de Níveis
de Integração Social e de Equilíbrio e isso reflecte os Próprios Tipos de
Sociedade (Sociologia da Ordem de Parsons).
Obras de Parsons:
-The Structure of Social Action (1937);
- Towards a General Theory of Action (1951);
- The Social System (1951);
- Societies: Evolutionary and Comparative Perspectives (1966).
Robert Merton foi um dos seguidores mais importantes de Parsons:
- Regressa às Ideias Culturalistas de Max Weber e faz uma Síntese destas,
com as Ideias Materialistas e Economicistas de Marx (Parsons não
considerou a Teoria de Marx).
- Considera como Valores Principais da Comunidade Científica, o
Paradigma ou Ethos Profissional:
- Universalismo;
- Comunismo;
- Desinteresse;
52
- Cepticismo Organizado.
Encontra 3 Principais Limitações na Análise Funcionalista de Malinowski
e Radclif-Brown:
- Postulado da Unidade Funcional da Sociedade - Supõe que as Crenças e
Práticas Sociais Standardizadas São Funcionais para a Sociedade como
Um Todo e para os Indivíduos em Particular.
- Postulado da Universalidade Funcional - Supõe a Existência de Funções
Positivas em todas as Formas Sociais Standardizadas.
- Postulado da Indispensabilidade - Afirma que todos os Aspectos
Standardizados da Vida Social têm Funções Positivas e também
Representam Partes Indispensáveis ao Funcionamento Completo do
Sistema.
Merton afirma que a Análise Estrutural Funcionalista deve Distinguir os
Motivos Subjectivos que estão na Base das Acções Sociais.
Considera que as Disfunções do Sistema também Podem Contribuir para a
Manutenção do Sistema Social.
Exemplo: Escravatura nos Estados do Sul dos EUA que Contribui para a
Manutenção do Grupo Social dos Brancos.
Introduz os Conceitos:
- Função Latente - Não Intencionais - que Conduz às Consequências Não
Intencionais (Qualquer Acção tem Consequências Intencionais e Não
Intencionais).
- Função Manifesta - Intencionais.
Com Merton o Funcionalismo torna-se mais capaz de compreender a
Mudança Social admitindo que Certos Aspectos dos Sistemas possam ser
Substituídos por Outros pelo facto de Serem Disfuncionais ou Neutros sem
Prejudicar o Equilíbrio e a Integração do Sistema.
Merton, assim como o Funcionalismo, torna-se Crítico do Sistema de
Estratificação Social e coloca-se numa posição já muito destinta da do seu
mestre Talcott Parsons.
Faz a ponte entre o Pensamento Clássico do século XIX e o do princípio do
século XX e o Pensamento Sociológico actual.
Principais Críticas ao Estrutural Funcionalismo (Mills, Turner,
Abrahamson, Cohen, Horowitz, etc.):
- Teoria A-Histórica e com Excesso de Abstracção;
- Incapacidade de Explicação da Mudança Social;
- Não estar habilitado a Estudar Conflitos Sociais e Valorizar em demasia as
Relações Sociais Harmoniosas;
- Considerar apenas os Aspectos Negativos do Conflito e exagerar o
Consenso Social e a Integração em Níveis Não Realistas, centrando-se na
Análise da Cultura, Normas e Valores;
- Teoria Conservadora e Ideologicamente Enviesada (fazendo o Elogio da
Situação Social tal como estava e beneficiando os Detentores do Poder).
- Teoria Vaga, Ambígua e Pouco Clara (Noções Abstractas);
- Acreditou que a Realidade Social poderia ser explicada por Uma Única
Teoria Integrada;
- Não aceita comparações ao afirmar que determinado elemento só é
analisável no quadro do seu Sistema Social, e nunca fora dele.

53
C. Wright Mills (Universidade de Columbia): Faz a Principal Crítica ao
Estrutural Funcionalismo.
Publica Os Colarinhos Brancos (1951) e A Elite do Poder (1956).
Em colaboração com Hans Gerth publica ainda Character and Social Structure
(1953).
Foi muito radical e acabou por ser segregado pela própria Sociologia
Americana.
Escreve A Imaginação Sociológica (1960).
Permaneceu Liberal e Humanista, favorável a uma Liderança Moral e Leal à
Ideia Iluminista de que o Conhecimento poderia Libertar e Melhorar o
Mundo.
Oposição à Sociologia Parsoniana - Ralf Dahrendorf:
- Teoria do Conflito - Anos 50/60 respondeu às Limitações do Estrutural
Funcionalismo.
Orientou-se para o Estudo das Estruturas e das Instituições.
Representada por Ralf Dahrendorf, postulava que a Ordem Social é mantida
pelo Exercício do Poder e que a Sociedade é Conflituosa e Não Pacífica
(Teoria do Consenso / Teoria do Conflito Interdependentes).
Enquanto aqueles que se encontram em Posições Dominantes lutam pela
manutenção da sua situação e do seu estatuto, os que se encontram em
Situação Dominada, lutam por melhorar a sua posição na hierarquia (Quase
Grupos, Grupos de Interesses, Grupos de Conflito).
A Principal Função da Teoria dos Conflitos é Estudar a Relação Existente
entre Interesses Latentes e Manifestos, bem como Compreender e Mostrar
que a Função do Conflito no Sistema Social é Dupla: Manutenção e
Mudança.
Críticas à Teoria do Conflito (Hazelrigg, Turner, Weingart):
- Não considerou Aspectos da Ordem e da Estabilidade;
- Ideológica e Radical;
- Mais próxima do Estrutural Funcionalismo do que do Marxismo;
- Atingiu apenas a Dimensão Macro e Não a Micro.
Funcionalismo: É um Ramo da Antropologia e das Ciências Sociais que
Procura Explicar Aspectos da Sociedade em Termos de Funções
Realizadas por Instituições e suas Consequências para a Sociedade como
Um Todo.
É uma Corrente Sociológica associada à obra de Émile Durkheim.
Para ele Cada Instituição Exerce uma Função Específica na Sociedade e
seu Mau Funcionamento Significa um Desregramento da própria
Sociedade.
Sua interpretação de Sociedade está directamente relacionada ao Estudo do
Facto Social, que segundo Durkheim, apresenta Características
Específicas: Exterioridade e a Coercitividade.
O Facto Social é Exterior, na medida em que existe antes do próprio
Indivíduo e Coercitivo, na medida em que a Sociedade Impõe tais
Postulados, Sem o Consentimento Prévio do Indivíduo.
Neofuncionalismo: Surge nos anos 80 e tenta recuperar as Ideias do
Estrutural Funcionalismo.
Desenvolvido por Jeffrey Alexander e Paul Colomy.

54
Tenta ultrapassar os Problemas do Estrutural Funcionalismo (Anti-
Individualismo, Antagonismo à Mudança, Conservantismo e Idealismo,
Antiempirismo e Falta de Ligação à Realidade).
Funcionou como Modelo Descritivo da Realidade Social e determina que
existe uma Pluralidade de Forças em Acção, que mantém a Interacção
Social.
Analisa Teoricamente a Sociedade aos Níveis Racional e Expressivo.
Considera o Controlo Social e o Desvio como inerentes ao Sistema Social.
Mantém a Ênfase na Cultura, Personalidade e no Sistema Social tal como
Parsons, porém com a Ideia de possibilidade de Mudança Social neste
Equilíbrio de Subsistemas.
Encara a Mudança Social como um Processo de Diferenciação entre os
Subsistemas, não sendo esta necessariamente Harmoniosa.
O Neofuncionalismo está de certo modo ultrapassado por falta de
Continuidade (Sociologia marcada pela Conflitualidade Interna e Incapaz
de uma Unificação e de um Consenso Teórico).
Ubiquidade do Funcionalismo na Sociologia: Tem Raízes Históricas na
Europa e no século XIX, particularmente no Darwinismo.
A Sociologia Americana distinguiu-se da Europeia, principalmente nos anos
60 do século XX, com Modelos Distintos e Caracterizados pelas suas
Próprias Preocupações.
A Sociologia Americana teve uma Vertente mais Empírica desde logo
associada à Escola de Chicago (nos anos 30).
Funcionalismo como uma Criação Americana que tenta explicar esta Nova
Sociedade e Manter a sua Coesão.
Parsons marcou o nascimento do Funcionalismo Americano em 1937, com a
sua obra The Structure of Social Action, com um Pendor Empirista e com
Grande Produção de Inquéritos Sociológicos e que veio a constituir a
primeira tentativa de introduzir na Sociologia Americana o Pensamento dos
Clássicos Europeus como Durkheim, Weber, Tönnies e Pareto.
Baseado num importante Fundamento Teórico, o Estrutural Funcionalismo
tornou-se um Verdadeiro Paradigma da Investigação (falha anterior da
Escola de Chicago).
A ascensão de Parsons em Harvard coincide com a queda da Escola de
Chicago e tornou-se a figura central da Sociologia Americana, prolongando-
se a sua influência até aos anos 70.
Apesar das inúmeras críticas, Parsons reagiu a elas e criou a Teoria da
Acção Cibernética, dedicando-se a Questionar o Funcionamento do
Programa Simbólico do Controlo nos Sistemas de Acção.
Relações entre Funcionalismo e Teoria dos Sistemas: Parsons tentou
Analisar a Vida Social mediante 2 Perspectivas: da Acção e do Sistema.
- Considerou que só um Sistema de Valores Fortes permitiria ter uma
Sociedade Estável e Eficiente.
- O Código de Valores e o Conjunto de Normas Estabelecidas numa
Sociedade asseguram a Integração Individual de modo a que Todas as
Partes do Sistema e Todos os Indivíduos estejam em Perfeita Harmonia.
- A Aquisição destes Valores Sociais que permitem a Integração e
Motivação dos Indivíduos para os mesmos Fins, independentemente das
suas Personalidades Individuais, dos seus Desejos e Ambições, só é
55
possível graças ao Processo de Socialização, ao Controlo Social e ao
Desempenho dos Papéis Sociais.
- Importância da Moral para o Equilíbrio Social.
Função: Finalidades Pretendidas e Esperadas dos Indivíduos.
Estrutura: Conjunto Organizado de Relações Sociais nas quais os
Membros de uma Sociedade ou Grupo estão implicados.
Sistema: É um Conjunto de Elementos Interconectados, de modo a Formar
Um Todo Organizado.
Todo o Sistema possui um Objectivo Geral a ser atingido.
O Sistema é um Conjunto de Órgãos Funcionais, Componentes,
Entidades, Partes ou Elementos e as Relações entre eles, a Integração
entre esses Componentes pode se dar por Fluxo de Informações, Fluxo de
Matéria, Fluxo de Sangue, Fluxo de Energia, enfim, ocorre Comunicação
entre os Órgãos Componentes de um Sistema.
Actor Social: Indivíduo Humano Socializado e Possuidor de Status e
Papéis.
Acção: É um Certo Tipo de Coisa que uma Pessoa Pode Fazer.
Processo de Sociabilização: Processo pelo qual ao Longo da Vida a
Pessoa Humana Aprende e Interioriza os Elementos Socioculturais do seu
Meio, integrando-os na Estrutura da sua Personalidade sob a Influência de
Experiências de Agentes Sociais Significativos, adaptando-se assim ao
Ambiente Social em que deve viver (Rocher).
Controlo Social: Conjunto das Sanções, Positivas e Negativas, a que uma
Sociedade Recorre para Assegurar a Conformidade das Condutas aos
Modelos Estabelecidos (Rocher).
O Controlo Social pode ser Informal (Natural, Espontâneo, baseado nas
Relações Pessoais e Íntimas que Ligam os Componentes do Grupo) e
Formal (Artificial, Organizado, Exercido principalmente pelos Grupos
secundários [Grupo Secundário, onde as Relações são Formais e
Impessoais]).
Papéis Sociais: É o Padrão de Comportamento Esperado e Exigido de
Pessoas que Ocupam Determinado Status (É o Lugar ou Posição que a
Pessoa Ocupa na Estrutura Social).
Portanto, as Maneiras de Comportar-se, esperadas de Qualquer Indivíduo
que Ocupe Certa Posição (Status), constituem o papel associado com aquela
Posição.
Valores: Consiste em qualquer dado que possua um Conteúdo Empírico
Acessível aos Membros do Grupo e uma Significação com Relação à qual
é, ou poderá ser, Objecto de Actividade.
Normas: Qualquer Modo ou Condicionante de Conduta, Socialmente
Aprovada.
Holismo: É a Ideia de que as Propriedades de um Sistema, quer se trate de
Seres Humanos ou Outros Organismos, não podem ser explicadas apenas
pela Soma dos Seus Componentes.
O Sistema como Um Todo, determina como se Comportam as Partes.
O Princípio Geral do Holismo pode ser resumido por Aristóteles, na sua
Metafísica, quando afirma: O Todo é Maior do que a Simples Soma das
Suas Partes.
Anomia: Ausência de Normas.
56
Aplica-se tanto à Sociedade, como a Pessoas: significa Estado de
Desorganização Social ou Pessoal, ocasionado pela Ausência ou Aparente
Ausência de Normas.

III - O PROBLEMA DA RELAÇÃO MICRO-MACRO

CAPÍTULO 8

Interaccionismo Simbólico no Século XX: a Emergência da


Teoria Social Empírica

Herbert Mead (1863-1931) foi o Fundador do Interacionismo Simbólico, que


teve como influência directa o Pragmatismo, o Behavorismo e o Legado de
Simmel.
Enquanto o Behavorismo é uma Corrente da Psicologia, formulada por John
B. Watson e ligada à Observação dos Comportamentos Humanos que
Correspondem a Estímulos Exteriores, ou seja, define o Comportamento
Humano num Processo de Estímulo/Resposta, o Pragmatismo (James,
Dewey, Peirce), Principal Influência do Interaccionismo, põe a tónica no
Indivíduo, no Eu e na Sua Experiência Pessoal e de Apreensão do Mundo
Social que o rodeia.
Mead não aceita estas Concepções e tenta construir uma Teoria que
ultrapasse as Propostas desta maneira de Interpretar o Comportamento
Humano.
O Interaccionismo Simbólico (cujo termo surgiu com Herbert Blumer em
1937), é um Tipo de Micro-Sociologia que se situa entre as Grandes Teorias
de Marx e Parsons e a Psicologia, dando ênfase às Vivência Pessoal do dia-
a-dia, pretendendo Compreender como é que o Indivíduo Cria Ordem e
Sentido para as Suas Acções, através da Comunicação Com os Outros e
dos Símbolos Utilizados para Comunicar.
Tratando-se de uma Interpretação do Funcionamento da Mente Humana, o
investigador dispensa os Métodos Científicos para se resumir à Descrição e
Interpretação das Acções a partir de uma Posição Observante.
O Estímulo Representa aqui uma Oportunidade para a Acção.
A Percepção dos Estímulos, implica por parte dos Actores um Raciocínio.
Este Raciocínio terá em conta as Experiências Passadas e Expectativas
Futuras e em Função delas o Actor Delibera o seu Comportamento.
O Homem é o Único Animal que possui uma Linguagem Gestual e Verbal
que Permite a Utilização da Língua, Fundamental no Processo de
Comunicação.
Esta Capacidade de Definição e Auto-Controlo de Rações, permite a
Organização Social Humana.
Os Símbolos Vocais Significantes (Linguagem Vocal) Estimulam os
Indivíduos à Comunicação, Transmitindo não somente Um Som, mas
também um Significado Inerente.
Daí se conclui que os Símbolos Significantes Estimulam os Indivíduos à
Comunicação.

57
São os Símbolos Significantes que tornam possível uma Interacção
Simbólica, ou seja, os Indivíduos podem Interagir não somente através de
Gestos, mas de Gestos Significantes, o que conduz a Formas de
Organização Social.
A Capacidade de Pensar, é portanto Moldada pela Interacção Social que
Permite aos Indivíduos Aprenderem os Significados e Símbolos
Necessários ao Pensamento.
Estes Modelos de Interacção e Comunicação, Criam Grupos e Sociedades.
O Interaccionismo Simbólico reconhece a importância da Estrutura Social e
das Instituições, mas recusa aceitar que elas sejam determinantes no
Comportamento Humano.
Os Interaccionistas crêem que a Ordem Social não resulta, contudo, da
Comunicação Directa, mas da Aprendizagem de Papéis durante o Processo
de Socialização que Ensina aos Indivíduos o que os Outros Esperam deles
nas Situações Particulares.
Assim, Aprendem o Eu (Pessoal) e o Mim (Social) e Construído em Função
das Expectativas dos Outros.
A Luta entre o Homem Natural Regido pelos seus Próprios Impulsos e o
Homem Social Condicionado pelas Expectativas Inerentes ao
Desempenho de um Papel, é Constante.
Nesta Perspectiva, os Indivíduos Controem uma Imagem em Função do
Outro Significante, do Outro que lhes Interessa.
Mead considera assim, que o Ser Social e a Sociedade, é o Resultado de
Interacções Pessoais Permanentes, Caracterizadas pela Interpretação e a
Significação, a Negociação e a Definição de Expectativas.
As críticas a esta Teoria são a Incapacidade de Análise para além do Nível
dos Pequenos Grupos e a Redução da Sociedade, à imagem que as
pessoas fazem dela, minimizando a sua importância e o seu papel.
O Interaccionismo Simbólico Desenvolveu-se ao longo do século XX de
Forma Irregular e Vive de Imagens, Histórias e Temas.
Inclui ainda Várias Correntes e Teorias Diferentes, formuladas em décadas e
em universidades diferentes.
Tem, na sua Base, 4 Critérios:
1. Os Mundos Humanos não são só Materiais, mas também fortemente
Simbólicos e a Sociologia Interaccionista interessa-se pelas Formas,
através das quais o Ser Humano Constrói Significados; Define-se a Si
Próprio, às suas Emoções, Comportamentos e Situações em que se
Envolve; Interage com os Outros Manipulando, Transformando e
Alterando esses Significados.
2. A Evolução das Significações está ligada a um Processo que resume as
Estratégias de Aquisição de um Sentido do Eu, de Desenvolvimento de
uma Biografia, Representação Mental do Tempo e do Espaço, etc.
3. A Unidade de Análise Interaccionista não é o Indivíduo, mas a
Interacção, que faz com que no Eu Individual esteja sempre Presente no
Outro.
4. Todas as Descobertas são Objecto de Investigação Empírica.
Investigam-se as Interacções Concretas entre as Pessoas, Observam-se
os Encontros e Estuda-se-lhes os Significados.

58
Existiu uma Grande Diversidade de Contributos Interaccionistas
Simbólicos:
- Escola de Chicago - Blumer;
- Escola de Iowa - Manford Khun;
- Escola Dramatúrgica - Com Raízes em Durkheim;
- Escola Etnometodológica - Com Raízes em Parsons.
Nos anos 20, mais propriamente na Universidade de Chicago, onde se
desenvolveu, o Interaccionismo Simbólico, criou-se uma Tradição de
Análise Empírica, especialmente em Domínios Ligados à Marginalidade
Social e aos Comportamentos Desviantes, Produzindo Vários Contributos
Teóricos: Teoria da Rotulagem (Becker), Etnometodologia (Harold
Garfinkel), Fenomenologia e Modelo Dramático (Goffman).
O trabalho mais importante do Interaccionismo Simbólico foi desenvolvido
por Erving Goffman no seu Livro Presentation of Self in Everyday Life (1959).
A Tensão ente o Eu e o Mim, está expressa através do Modelo
Dramatúrgico.
Goffman entendia que o Comportamento Humano não estava Pré-
Determinado e Resultava da Capacidade Criativa Individual e da Liberdade
Pessoal Limitada por Contextos Sociais, embora Não Determinada por
Estes.
Desenvolveu o Modelo Dramatúrgico de Acção Social, que a concebe como
uma Actuação em Público em que o Indivíduo Desempenha Papéis, de
Modo a Proteger o seu Íntimo e a sua Auto-Imagem.
O Conceito de Papel Social é central no pensamento de Goffman.
Os Papéis Sociais são Definidos Socialmente em Função das Posições
que os Indivíduos Desempenham.
Assim, toda a Vida Social está Organizada em Zonas de Tempo e Espaço
que se Caracterizam Diferentemente (Intimidade / Actos Públicos).
Harold Garfinkel criou a Etnometodologia que é um Método de Análise da
Realidade Social.
A Etnometodologia baseia-se na Observação da Vida Social do dia-a-dia, na
Tradição dos Estudos Empíricos do Interaccionismo Simbólico,
relativizando a importância das Estruturas Sociais.
A Rotina do dia-a-dia é a Chave da Manutenção da Ordem e da Coesão,
Sociais.
O Encontro Concertado de Práticas, Regras e Expectativas Comuns que
ocorrem entre os Indivíduos, permite a União Social.
No fundo, trata-se de Estudos acerca do Senso Comum e das Maneiras de
Viver com Descrições Etnográficas Detalhadas, de Eventos Rotineiros e
Diários.
Para a Realização destes Estudos, Garfinkel Desenvolveu 3 Conceitos
Fundamentais:
- Método Documental (que Permite Identificar Certos Padrões de
Interpretação e Significação na Vida do dia a dia);
- Reflexibilidade (refere-se ao Fenómeno de Interpretação Individual
Orientada por um Sentido Pré-Determinado Socialmente);
- Indexicalidade (Nenhuma Palavra ou Acção Tem Sentido, fora do seu
Contexto).

59
Tal como afirmam Bergman e Luckman, “as Palavras já não são meros
Símbolos de Objectos, Pensamentos, Emoções, etc.”, São Criadoras
dessas mesmas Realidades e São Responsáveis pelo Funcionamento
Social.
As críticas à Etnometodologia são a Incapacidade de Explicar seja o que fôr
e Produzir apenas Descrições Sem Capacidade Teórica e Subjectivas; Não
Contemplar a Influência do Poder e da Estrutura Social nos
Comportamentos dos Indivíduos; Representar a Vida Social como sendo
uma Colecção de Vidas Individuais e não fazer mais do que leituras de
Senso Comum, sendo Incapaz de Explicar qualquer Fenómeno.
O Interaccionismo Simbólico foi a mais importante Teoria Empírica do
século XX, senão a única.
De Origem Americana, desenvolveu-se e viu o seu apogeu na Universidade
de Chicago e tem como representantes nomes como Robert E. Park, E.
Burgess, Hughes, Blumer e mais tarde, nos anos 50-60, Becker (primeiro a
incluir a fotografia nos seus Estudos Sociológicos).
Nos anos 60 combateu o Estrutural Funcionalismo de Parsons e apesar das
críticas que eclodiram nos anos 70, sobreviveu e estimulou a criação da
Sociedade para o Estudo do Simbólico (SSSI), abrindo Novos Campos de
Investigação, tais como, a Divisão entre Micro e Macro, a Preocupação com
a Linguagem, a Procura de Processos Formais Genéricos e o Estudo da
Política.
Emoção: É uma Experiência Subjectiva, associada ao Temperamento,
Personalidade e Motivação.
As Ciências Sociais frequentemente examinam a Emoção, pelo Papel que
Desempenha na Cultura Humana e nas Interacções Sociais.
Em Sociologia, as Emoções são examinadas de acordo com o Papel que
Desempenham na Sociedade Humana, nos Padrões e Interações Sociais e
na Cultura.
Comportamento: É definido como o Conjunto de Reacções de um Sistema
Dinâmico em Face às Interacções e Realimentações Propiciadas pelo Meio
onde está inserido.
Exemplos de Comportamentos: Comportamento Social, Comportamento
Humano, Comportamento Animal, Comportamento Atmosférico, etc.
Étnico: Pertencente ou Relativo a uma Étnia.
Simbólico: Relativo ao Símbolo, que Serve de Símbolo; que tem o Carácter
de um Símbolo e que é Utilizado para Obter um Determinado Efeito.
Símbolo: Por sua Forma e Natureza, os Símbolos Evocam, Perpetuam ou
Substituem, em Determinado Contexto, Algo Abstracto ou Ausente.
Interacção: É a Acção Social, Mutuamente Orientada, de 2 ou Mais
Indivíduos em Contacto.
Distingue-se da mera Interestimulação em virtude de Envolver Significados
e Expectativas em Relação às Acções de Outras Pessoas.
Podemos dizer que a Interacção é a Reciprocidade de Acções Sociais.
Empirismo: É um Movimento que acredita nas Experiências como Únicas
(ou Principais), Formadoras das Ideias, Discordando, portanto, da Noção
de Ideias Inatas.

60
Um Conceito Capital, na Ciência e no Método Científico, é que toda
Evidência deve ser Empírica, ou seja, Depende da Comprovação Feita
pelos Sentidos.
Termos como Método Empírico ou Pesquisa Empírica, usado nas Ciências
Sociais e Humanas, para Denominar Métodos de Pesquisa que são
realizadas através da Observação e da Experiência (Exemplo: o
Funcionalismo).

CAPÍTULO 9

Teoria Sociológica e Teoria da Escolha Racional

Teoria do Intercâmbio Social, Teoria das Redes e Teoria da Escolha


Racional

O Pensamento do Social evoluiu de acordo com as Convicções Positivistas da


Ciência, reflectindo-se actualmente em 3 Teorias: Teoria da Troca, Teoria das
Redes e Teoria da Escolha Racional, que é um desenvolvimento efectuado por
James Coleman da Teoria das Trocas.
A Teoria da Troca é uma Teoria Utilitarista e reflecte as Convições
Behavioristas, destacando o papel do Comportamento do Indivíduo na vida do
Meio Social, posteriores condicionamentos desses Comportamentos Individuais
e a Relação Estímulo/Resposta.
Realça a Capacidade do Indivíduo de influenciar as Mudanças Sociais.
A Teoria da Troca foi construída por George Homans, na sua obra “Social
Behavior as Exange”, em 1958.
Thibaut e Kelly desenvolveram trabalhos no âmbito da Psicologia, que vieram
contribuir para o Desenvolvimento da Teoria das Trocas.
Também o contributo de Homans, de Base Psicológica, dá enfâse ao Indivíduo
e aos Comportamentos Individuais.
Pretende demonstrar as Consequências Sociais dos Comportamentos
Individuais nas Interacções entre Diferentes Actores, dispensando a Análise
Sociológica, pois entende ser a Análise Psicológica a adequada para a
interpretação dos Comportamentos e que o Resultado Social das Acções
Individuais está relacionado com os Interesses Privados de Optimização das
suas posições, repudiando desta forma o Pensamento de Parsons.
Peter Blau, professor na Universidade de Columbia, contribuiu para esta Teoria
e foi também um estudioso da Estrutura Social, pretendendo compreendê-la a
partir das Relações Sociais.
Realça a importância da Troca como estando na origem da própria Estrututra
da Sociedade, Dividindo esse Processo em 4 Momentos:
- Num Primeiro Momento, as Trocas entre Indivíduos;
- Num Segundo Momento, entende que essas Trocas vão criar Diferenças de
Poder e Estatuto;
- Num Terceiro Momento, esses Diferentes Estatutos procuram Legitimar-se e
Organizar-se, conduzindo a um …;
- Quarto Momento, que é o da Oposição de Situações e de Mudança Social.
Mais tarde surgiu Richard Emerson que considerou a Teoria de Homans como
Reducionista e Desenvolveu um Conceito mais lato, onde incluiu a Base
61
Psicológica e também os Aspectos Macro-Sociais, dando um carácter mais
abrangente a esta Teoria.
Para Homans, a Acção do Indivíduo destina-se à obtenção de Beneficios, pelo
que adopta um Comportamento Racional que lhe vai permitir atingir esse
Objectivo e, ao mesmo tempo, abandona os Comportamentos que lhe trazem
Redução de Benefícios.
A Capacidade de Troca do Indivíduo no Meio Social também é ponderada, bem
como os Beneficios que pode obter por via da sua Acção Social.
Em termos de Análise Macro, Emerson aplica os mesmos aspectos às
Entidades Colectivas, sendo que e devido às várias relações de Troca entre
Diferentes Actores Sociais, essa Rede de Trocas cria uma Estrutura Social,
estando a Capacidade de Troca na Base do Poder.
Quem tem mais Capacidade, vai assumir o Poder e Condicionar essas
Relações.
A Teoria das Redes surge devido à Rejeição da Orientação Psicológica da
Teoria da Troca e tenta reorientá-la e ultrapassar essa Perspectiva
Psicologista, através da Centralização do seu estudo num Processo de
Socialização, em que os Actores interiorizam Normas e Valores, deixando de
ser importante a Motivação para o Cumprimento dessas Normas, passando a
ser a Regularidade no Cumprimento dessas Normas o Objecto do Estudo.
Essa Regularidade vai determinar a Compreensão da Estrutura Social
resultante da Ligação entre Indivíduos.
A Estrutura Social vai condicionar os Actores e vão também ser ponderadas as
Diferentes Capacidades de Acesso aos Recursos, pois elas vão determinar
Diferentes Níveis de Poder e demonstrar a dependência de uns para com os
outros.
A Teoria da Escolha Racional é um Desenvolvimento da Teoria da Troca.
É criada por James Coleman, que em 1989 fundou a revista Rationality and
Society e em 1990 publica o livro “Foundations of Social Theory”, que
estabelece o seu pensamento.
É uma Teoria baseada no Individualismo Metodológico e pretende, através
da Análise do Micro-Social, explicar o Nível Macro, com base nas Acções
Racionais dos Actores ao Nível Micro.
Coleman justifica este Método, asseverando que a Recolha de Dados
Estatísticos que estão na base da Análise da Sociedade, é sempre feita a partir
do Indivíduo e depois passa à Fase da Agregação das Unidades.
Esta Teoria baseia-se na Análise de 2 Elementos que, apesar de Distintos -
Actores e Recursos -, estão Interligados.
O Indivíduo é Orientado por Objectivos e Valores que tenta atingir com as suas
Acções.
Essas Acções são Racionais e com elas o Actor pretende a satisfação dos
seus Desejos Individuais.
A ambição de Controlar Recursos que pertenem a Outrém, obriga o Actor a
Desenvolver Relações Sociais através de Acções, que estão na base da
Interdependência e do Carácter Sistémico da Acção Social.
Coleman desvaloziza o papel da Irracionalidade, apesar de reconhecer que na
vida, as pessoas não fazem apenas Escolhas Racionais e também não
considera a Pressão que o Factor Macro exerce sobre o Micro.

62
A TER ou Teoria da Acção, é uma Actualização das ideias de Max Weber
relativamente ao Objectivo da Sociologia.
Baseia-se na Crença Iluminista de que a Acção Humana se Rege pela Razão.
A grande inovação que transporta para a Sociologia é o facto de pretender que
a Acção Social seja concebida de uma forma menos complexa e que, mesmo
assim, permita alcançar uma Explicação Causal da Prática e dos seus Efeitos.
Revistas Científicas como Racionality and Society e o Journal of Mathematical
Sociology, contêm artigos sobre esta Teoria.
É de destacar os contributos de Coleman, Fararo, Cook, Levi e Elster.
Os Postulados da TER derivam da ideia de Weber de que a Sociologia se
deve preocupar com a Compreensão Interpretativa, a Acção Social e alcançar
uma Explicação Causal do seu Curso e Efeitos.
Esses Postulados são os seguintes:
1- A Compreensão Interpretativa, que deve ser alcançada através do já
referido Modelo da Escolha Racional Individual da Acção, o mais simples
possível;
2 - A Acção Social, que também deve ser interpretada utilizando o Modelo,
mais simples possível, de Acções Interdependentes ou Interacções entre
Indivíduos;
3 - As Explicações Causais, devem ser estabelecidas através das Relações
entre o Nível Macro (ou Sistémico) e o Nível Individual, como por exemplo a
Forma como uma Doutrina Religiosa produz Valores Individuais; as Relações
de Nível Micro (ou Individuais), como por exemplo os Valores que Ordenam as
Práticas Económicas e as Relações entre o Nível Micro (ou Individual) e o Nível
Macro, como por exemplo as Práticas Económicas Individuais que geram o
Padrão de Organização Económica da Sociedade.
Após a abordagem dos Postulados, analise-e agora às Premissas da TER,
que são 4:
1 - O Individualismo, presunção de que só os Indivíduos agem e que tudo o
que ocorre na Vida Social deriva da Acção Individual e tem consequências
directas, criando o Sistema Social que vai condicionar as Consciências
Individuais;
2 - A Optimização, presunção de que o Indivíduo age sempre da melhor
maneira possível;
3 - O Autocentramento, presunção de que o Objectivo da Acção Social é o
Bem-Estar do Actor;
4 - O Privilégio Paradigmático, a versatilidade de certos aspectos destas
Premissas, permite a adição de ideias provenientes das Teorias de
Aprendizagem e Evolução, que irão resultar na Teoria Sociológica.
É importante na TER, fazer a distinção entre Acções Independentes (a Acção
de Weber) e 2 Tipos de Acção (Inter) Dependentes (as Acções Sociais de
Weber), que são as Ações Sociais Paramétricas e as Acções Sociais
Estratégicas.
As Relações Independentes têm pouco interesse para a Análise Sociológica.
As Acções Sociais são Paramétricas, quando as Acções dos Outros puderem
ser analisadas como Independentes das do Actor Principal, para que ele não
tenha de calcular o que será feito por Terceiros, em Função da sua Acção.

63
As Acções Sociais são Estratégicas quando existe uma Interacção em que o
Actor tem de calcular o que os Outros estão a fazer ou farão, em Função da
sua Acção.
Nesta Situação, o Ambiente onde se desenrola a Acção é Reactivo aos Actores
e os mesmos são, Estrategicamente Interdependentes, o que nos transporta
para a Teoria dos Jogos, que é a Teoria de Interdependencia Estratégica
adoptada pela TER.
Esta Teoria leva a TER a Situações em que os Actores, quando agem, levam
em consideração as Acções dos Outros Actores.
O Destino de um Actor depende, não só das suas Acções, como das Acções
dos Outros.
A Teoria dos Jogos pode ser utilizada na Clarificação de Situações
Estratégicas e apontar Soluções de Equilíbrio, assim como pode Assumir
Diferentes Formas.
Na Análise Contemporânea é a Categoria dos Jogos de Repetição ou
Superjogos, que ocupa lugar de destaque (em especial os Jogos Repetidos do
Dilema do Prisioneiro, pois permitem que o Estudo de Conceitos como o de
Confiança e Reputação, sejam feitos com grande Rigor Analítico e permitem
ainda uma Abordagem Evolucionista do Equilíbrio).

A Teoria Sociológica do Futuro

O Grande Desafio que se coloca aos Teóricos da Sociologia é o de Moldar o


Espaço, entre uma Acção Social Individual e os Efeitos Macro por um lado e,
por outro, entre os Efeitos Macro e as Acções Sociais Individuais.
Para tal é necessário encontrar um Modelo de Actor Individual Simples e
Suficientemente Flexível, que nos permita ser bem sucedidos.
Os Teóricos da TER pensam ter encontrado nesta Teoria, a Fórmula adequada
para alcançar esse Objectivo, partindo do princípio de que os Indivíduos fazem
o melhor que podem, em função do desafio que enfrentam.

IV - A SOCIOLOGIA HISTÓRICA COMPARADA

CAPÍTULO 10

Sociologia Histórica

Terá a Humanidade que ver, no essencial, com Processos de


Uniformização?
Teoria dos Sistemas-Mundo - Análise Histórica no Pós-2ª. Guerra Mundial;
Concepção Liberal de Modernização; Perspectiva Holística da Mudança Social
(Immanuel Wallerstein);
Teorias Sociais do Poder - Análises Históricas de Michael Mann e Anthony
Giddens;
Teoria da Globalização - Década de 1980; Distanciamento das anteriores
Teorias;
Análise Civilizacional - Norbert Elias e Benjamim Nelson; Abordagem de
Cariz Analítico Civilizacional no Problema da Identidade Cultural.

64
Interdisciplinaridade: Fusão da História e Teoria

Teóricos Clássicos: Giambattista Vico, Karl Marx ou Max Weber,


compreenderam bem a relação íntima entre o Domínio Histórico e do Social,
porém, só em 1972, com Hirkheimer e Adorno esta Abordagem se revelou
essencial, basicamente devido à Fragmentação das Ciências Humanas até aí e
à Influência do Fascismo e Estalinismo.
A Teoria Social apoia-se assim na Análise Histórica (Charles Tilly, Immanuel
Wallerstein, Pierre Bourdieau, Norbert Elias).
As Estruturas Sociais e os Modos de Interacção Social Contemporâneos, não
podem ser convenientemente interrogados na ausência de uma Perspectiva
Histórica.
A Compreensão Histórica permite ao Indivíduo reflectir sobre a Historicidade,
por oposição à Naturalidade de uma Determinada Prática ou Instituição Social.
Com Karl Marx, a Compreensão do facto de que a Ordem das Coisas varia em
Função do Espaço (Cultura) e do Tempo (Contexto Histórico), traduz-se na
Adopção de uma Postura mais Reflexiva em relação ao Mundo Social e à sua
Investigação.

Quais foram as Mudanças Fundamentais nos Modos de Conceber o


Mundo e na Forma de Nos Concebermos a Nós Próprios ?

Uma das respostas possíveis foi, por exemplo, a Articulação Provocatória do


“Fim da História” e da Chegada do “Derradeiro Homem” (Fukuyama, 1992),
com a Rarefacção da Ideologia e o Triunfo Exuberante das Democracias
Capitalistas Liberais.
Os Filósofos Modernos argumentam que, desde o Período das “Luzes”, o
Triunfo da Razão sobre a Superstição e a Fé, têm vindo a anunciar uma nova
forma de ver o mundo, uma Nova Mundivisão (Habermas, 1971).

Análise dos Sistemas Mundo

Surge uma Perspectiva Crítica, quase Marxista, pioneira no estudo das


Economias-Mundo e das Sociedades Centro-Periferia, que se debruça sobre a
Vida Material e a Civilização por um lado e, por outro, sobre a Geografia e o
Poder (Wallerstein).
A Fronteira deixa de ser o Contexto Histórico Nacional.
Passam-se a Analisar as Estruturas e Conjunturas a um Nível mais Amplo e
Global.
A Observação Incisiva de que a Problematização da Natureza Complexa da
Civilização Capitalista exige uma Unidade de Análise mais ampla que a de
Estado-Nação, não pode ser separada das Experiências que Braudel e
Wallerstein beneficiaram, aquando das sua estadias em África.
A Sociologia do Imperialismo e do Subdesenvolvimento do Terceiro Mundo,
enquanto Percursora de uma Sociologia Internacional, esboçou também os
contornos de uma Nova Problemática, hoje commumente designada por
Globalização.
Wallerstein, Baran, Frank, Rey e outros Teóricos da Dependência Neocolonial,
questionaram, de forma pertinente, os Principais Pressupostos do Marxismo e
65
do Liberalismo Neoclássico, em relação aos Efeitos inelutavelmente Benéficos
para as Sociedades Não Europeias (muitas delas Antigas Colónias de Impérios
Ocidentais), da Expansão Capitalista.
Wallerstein reformulou o Axioma Marxista, segundo o qual o Capitalismo
substituiria necessariamente todos os Outros Modos de Produção Pré-
Capitalistas, postulando, em sua substituição, que o Sistema-Mundo admite
uma Multiplicidade de Modos de Produção.
A Interpretação Descontinuísta de Wallerstein isola uma Arena Civilizacional
Específica como origem geradora de Modernidade: a Economia-Mundo
Europeia.
Este Espaço Civilizacional, Heterogéneo do ponto de vista das Estruturas
Políticas, sinalizou a chegada ao Ocidente de uma Civilização Capitalista em
Expansão.
O Objetivo último seria o Domínio à Escala Mundial.
Wallerstein considera os Impérios Políticos “uma Forma Primitiva de
Dominação Económica” (Impérios-Mundo: China, Pérsia, Roma, Ocidente).
O Sistema-Mundo Europeu, teve, segundo Wallerstein, a vantagem de
conseguir romper com este Padrão e conseguir avançar em vez de Desvanecer
como Império.
As Técnicas do Capitalismo Moderno e a Tecnologia da Ciência Moderna
permitiram à Economia-Mundo Europeia Florescer, Produzir e Expandir-se,
sem que dela Emergisse uma Estrutura Política Unificada.
O que distingue uma Economia-Mundo de um Império-Mundo é a Ausência de
um Poder Político Unicêntrico.
Assim, o Sistema Multicêntrico de Estados é o Traço que Distingue o Sistema-
Mundo Moderno, embora este não seja, per se, ao contrário dos Impérios, uma
Identidade Política.
A Ligação Fundamental entre as Várias Partes do Sistema é Económica,
dando-lhe a característica de ser maior do que qualquer Unidade Política
definida em Termos Jurídicos.
Para a Perspectiva Teórica dos Sistemas-Mundo é Fundamental o Argumento
de que qualquer Investigação acerca da Natureza dos Fenómenos Sociais e
Políticos, deve tentar entender e explicar esses Fenómenos em Relação com a
“Totalidade” Social dada.
Deste argumento decorre que nem o Estado-Nação, nem a Sociedade
(Nacional), poderão ser Entendidos ou Explicados Isoladamente.
Estados e Sociedades Interagem no Interior de uma Configuração Complexa
de Relações Políticas, Culturais, Religiosas e Espaciais.
Existem assim, 3 Classificações Possíveis como Sistemas Sociais (Totalidades
Sociais):
- Impérios-Mundo;
- Economias-Mundo;
- Comunidades Autónomas de Subsistência.
Wallerstein considera assim, estes 3 Elementos como os únicos dignos de
Análise Social.
Este raciocínio tem como corolário que, as Teorias Tradicionais de Classe,
do Estado e da Sociedade, percam o seu Valor Heurístico Particular enquanto
Paradigmas Sociológicos, abandonando o Estado Soberano ou a Sociedade
Nacional como Base de Análise Social.
66
Principais Obras de Wallerstein:

The Modern World System, (1974 Vol I; 1980 Vol. II);


The Capitalist World Economy, (1979);
The Politics of the World Economy, (1984).

Aristide Zollberd e Anhtony Giddens dirigiram críticas ao Estatuto Superficial


concedido por Wallerstein ao Poder Político e à Cultura.
Braudel também tece críticas a Wallerstein no seu Livro Civilization and
Capitalism (1979), alegando que a Dimensão Cultural, ainda que não ausente
por completo da Análise, é restringida às Funções de Legitimização daquilo a
que os Marxistas chamaram a Superestrutura, nomeadamente da Lei, da
Religião, da Política e da Moral; ao mesmo tempo que se Privilegiam as
Relações de Troca no seio da Economia Mundial, em relação a Outros
Domínios da Vida, os Factores Culturais surgem sempre como Parasitas dos
Determinismos de Classe.

Como descentrar os focos de poder - Teorias Sociais do Poder

No contexto da Tradição da Sociologia Histórica Britânica, Michael Mann


(1986) definiu as Fontes de Poder Social como:
- Ideológica;
- Militar;
- Política;
- Económica.
Uma das Contribuições Teóricas que diferenciou esta “Escola”, foi a atenção
explicita concedida a Fenómenos Políticos como o Nacionalismo, o Processo
de Construção do Estado, a Coerção e o Mundo até aí Negligenciado das
Redes Intersocietais de Poder e Associações Geopolíticas.
Anterior à preocupação actual com a Temática da Globalização, teve o Efeito
Positivo de alargar os Parâmetros da Moderna Teoria Social, de forma a
englobar o Papel do Outro (o Estrangeiro, o Outsider), epítome ameaçador do
Desconhecido e do Diferente.
Mann criticou o Mito difundido pela Ciência Social mais ortodoxa, de que
vivemos em Sociedades Orgânicas, mais ou menos Hermeticamente Fechadas
(The Sources of Social Power, 1986).
Mann defende o abandono de um Modelo Identitário estritamente
Sociocêntrico, como primeiro passo para nos libertarmos dos constrangimentos
colocados pelas concepções mais Orgânicas e essencialmente Etnocêntricas
de Pertença Moral ou de “Comunidade”.
Identifica as Sociedades como muito mais Confusas do que as nossas Teorias
as fazem crer, não sendo Totalidades Sociais muito bem arrumadinhas, mas
antes pelo contrário, Colectividades Porosas que devemos compreender como
Sociedades Constituídas por Múltiplas Redes Socioespaciais de Poder, que se
Sobrepõem e Intersectam.
Em vez de traçar os Estádios de Evolução das Totalidades Sociais, Mann
socorre-se da Análise das Redes Socioespaciais de Poder, para Identificar as
Vanguardas do Poder na História da Humanidade.

67
Os Seres Humanos, enquanto Sujeitos e Objectos da História, Redefinem de
Forma Contínua e em Simultâneo, a sua Auto-Percepção e a sua Pertença a
Vários Mundos.
Os Sujeitos Históricos oscilam entre o Enclausuramento Social (base do
Totalitarismo) e a Heteronomia (base do Globalismo).
As Ideologias Transcendentes e as Ideologias Imanentes exercem um Efeito
Diferenciado sobre o Desenvolvimento, tanto das Identidades Sociais, como
dos Complexos Societais.
Assim, a Ideologia, explica a Força Integradora ou Solidificadora do Islão ou da
Cristandade, nos quais a Moral Imanente Intensifica os Laços, ipso facto, o
Poder, dos Grupos ou Estados Existentes.

V - A NATUREZA DO SOCIAL

CAPÍTULO 11

Teoria Social Feminista

Feminismo, Raça e Diversidade Cultural

As Sexualidades Femininas, tanto a Branca, representada pela personagem


Nana criada por Zola, como a “Vénus Hotentote” (considerado Hotentote como
a Criatura Humana no Patamar Mais Baixo da Grande Cadeia do Ser
[Hotentote = Habitante de Raça Negra, nativo da Hotentótia, Namíbia, Região
da África Meridional]), representada por Sarah Bartmann, com as suas
proeminentes nádegas e figura em formato de “ampulheta”, estavam unidas e
reguladas na Europa do Séc. XIX, na mesma Matriz de Diferenciação e
Identidade.
A Crítica Feminista Negra ao Feminismo Branco, surgiu no Final da Década de
1970, acusando as Feministas Bancas de Classe Média de Etnocentrismo, de
Racismo e de Repetirem os Erros que estas imputavam aos Homens, acima de
tudo o de Generalizar e Teorizar, a partir da Sua Própria Situação.
A Diversidade das Posições das Mulheres na Sociedade e nas Representações
Culturais ganharam reconhecimento em estudos sobre as Mulheres, numa
Perspectiva Internacional.
Muitos estudos acerca das Mulheres, no chamado Terceiro Mundo, são
escritos sob uma óptica Feminista-Marxista, que privilegia o Quadro Contextual
da Globalização Capitalista e da Nova Divisão Internacional do Trabalho.
Estas Percepções foram construídas com base em Instituições, Códigos
Legais, Direitos de Propriedade, etc, funcionando muitas vezes como Fonte
Suplementar do Enfraquecimento de Mulheres, Despossadas de Direitos
Naturais, adquiridos de longa data.
O Legado Contemporâneo nesta Área é assim representado, pelo Domínio
Colonial e a Escravatura e pela Classificação por Género da “Raça”.
Gauri Viswanathan (1989), sob a influência de Edward Said, relaciona a Cultura
Europeia com o Colonialismo Contemporâneo, demonstrando a Metáfora
Sexual na Conquista Imperial.
Jane Miller (1990), argumentou que o Conceito de “Patriarcado” Universal, era
Insustentável, já que Historicamente os Homens em Situação de Escravatura e
68
outros que foram Privados de Poder, nunca estiveram em posição de
estabelecer ou manter Relações Patriarcais com Mulheres.
Guita Saghal (1989), chamou a atenção para o Facto de as actuais,
“Comunidades”, Conceito Legitimador e Poderoso, poderem constituir Lugares
de Extrema Desigualdade e Opressão.
Entre o Multiculturalismo e o Conceito de Comunidade, a Opressão da Mulher
é, muitas vezes, encoberta pelos Interesses do Combate ao Racismo.
Richard Rorty (1991), numa Versão do Pós-Modernismo ou Novo
Comunitarismo, levanta a Hipótese da Solidariedade Humana poder
Desenvolver-se através da Diferença, da Necessidade de Diálogo Genuíno e
Troca Mútua entre aqueles que não são Iguais: Escutar realmente o Outro, em
vez de Impor aos Outros os nossos próprios Quadros Referenciais e de Acção.
A Análise da Mulher e do Género, na actualidade, assenta na Diversidade e na
Multiculturalidade, não sendo uma simples Adição de “Raça” e de Outras
Dimensões de Diferenciação entre as Mulheres, na Grelha Conceptual do
Feminismo.
Elizabeth Spelman defende que, qualquer Generalização sobre todas as
Mulheres, tenderá a constituir uma Falsidade ou uma Trivialidade.
Existem ainda Diferenças Abissais de Teor Filosófico e Analista entre as
Mulheres.
A Teoria Feminista Contemporânea reforça as Ideias de Sexo e Género,
Sexualidade e Patriarcado.
O Feminismo Marxista, pelo contrário, sempre Registou “a Diferença”,
especialmente a Diferença de Classe, na sua Grelha Teórica.

Compromisso com o Marxismo

As Feministas Radicais recusaram sobretudo a Teoria Feminista Marxista,


considerando-a uma Teoria Tributária da Teoria Masculina dominante.
A Teoria Social Feminista tem um Objecto que é os Efeitos da Construção
Social do Género, na determinação da Posição Social das Mulheres.
O Feminismo Radical, na sua Recusa Separatista em apropriar o
“Conhecimento dos Homens”, auto-exclui-se dos instrumentos potencialmente
poderosos da Tteorização em torno dessa Construção.
Para o Feminismo Marxista a Produção da Força de Trabalho e a
Reprodução da mesma, geram a Instituição, mais do que a Produção
Capitalista ou o Estado Capitalista Local ou Nacional.
Assim, o Principal Objecto da Teoria Feminista Marxista tem sido a Família e
o Núcleo Familiar, onde ocorrem normalmente a Reprodução Biológica, o
Crescimento e a Socialização Primária da Criança e o Descanso e
Carregamento de Energia do Trabalhador, exaurido da sua Força de Trabalho.
A Defesa da Igualdade entre os Sexos e o compromisso de entendimento das
Origens e Formas da Subordinação entre os Sexos, definem a aliança entre o
Marxismo e o Feminismo.
As Marxistas deram contributos importantes para o Estudo das
Especializações e Diferenciações de Género, no Processo de Trabalho, nas
Relações de Trabalho e Emprego, no Trabalho Doméstico e na Divisão do
Trabalho no Lar, faltando contudo, uma Teoria Social da Sexualidade, do
Sexo e do Género, sem a qual permaneciam toldadas não só a Natureza das
69
Relações de Sexo e de Género no seio das Relações Familiares e Pessoais,
mas também a Sexualização (e não meramente as Diferenciações e
Especializações de Género) do Local de Trabalho e do Próprio Trabalho.

Sexo e Género

As Distinções ente Sexo e Género forneceram, numa fase inicial, uma base
sólida tanto para as Marxistas como para as Feministas Radicais,
concedendo à Teoria Feminista Anglófona o seu Objecto: a Construção
Social da Feminilidade.
Explica-se assim, o Posicionamento de Inferioridade e de Subordinação da
Mulher na Sociedade.
As Funções Biológicas da Mulher eram, repetidamente, utilizadas para
Racionalizar e Legitimar o seu Estatuto Social Inferior.
A Teoria Feminista partilha com a Sociologia, uma Desconfiança Profunda da
Biologia e do que é Biológico, advogando que não é apenas a Biologia que
Define a Condição Feminina, mas também a Interacção com o Meio Social em
que se está envolvido.
Foi a Separação estabelecida entre Sexo Biológico e Género Social, que
tornou possível a Refutação das Racionalizações Biológicas Deterministas
da Dominação Masculina.
Exemplo disto é a famosa frase de Simone Beauvoir “não se nasce Mulher”.
Porém, argumentos contrários inquiriam sobre a Importância da Biologia, uma
vez que, a Propagação Global da Dominação Masculina era um facto inegável.
As Feministas mais Radicais, dos Princípios do Movimento de Libertação das
Mulheres, tinham como Objectivo declarado o Total Desmantelamento dos
“Papéis de Género”, aos quais sucederia apenas um Conjunto Diferenciado de
Corpos Biológicos.
O “Problema do Útero” e das Diferenças Reprodutoras de Sexo, surge como
uma das Condições para a Abolição do Género.
Foi contudo o Feminismo Marxista que, com um Cariz Sistemático, mais se
concentrou na Análise das Relações Sociais de Reprodução, não por si
próprias, mas na sua Relação com a Produção Capitalista e com a Classe
Social.
Na falta da Explicação Marxista sobre a Opressão, muitas vezes Violenta, que
as Mulheres sofriam nas suas Relações Pessoais e Familiares com os
Homens, o Feminismo Radical teve-a como preocupação cimeira.
A Dominação Sexual da Mulher e a Amplitude da Violência Masculina,
representou uma espécie de “Opressão Excedentária”, excessiva e alheia à
Teoria.
Para as Feministas Radicais, todas as Mulheres sofriam com Diferentes
Graus de Agudeza, as Opressões do Sistema Sexo-Género, que é o
Patriarcado.

A Questão do Patriarcado

O Pensamento Feminista Radical mantinha a sua insistência na Autonomia


da Existência de Dominação baseada no Género, Fonte de Dificuldade ao
Nível Teórico e Analítico e em termos de Política de Acção.
70
Este Conceito dividiu as Feministas Marxistas e Socialistas.
Walby (1989) definiu o Patriarcado como sendo, um Sistema de Estruturas e
Práticas Sociais em que os Homens Dominam, Oprimem e Exploram as
Mulheres, dividindo-o em 6 Componenentes e relegando o Predomínio do
Patriarcado não à Biologia, mas apenas à Ordem Social:
- Exploração do Trabalho das Mulheres pelos Maridos;
- Relações Laborais;
- O Estado;
- Violência Masculina;
- Sexualidade;
- Cultura.
Uma questão porém colocava-se: como é que é possível que os Homens
tenham exercido Domínio em todo o lado, se o resultado pode advir de
uma Multiplicidade de Contingências ?
O Biologismo que Walby tanto se esforçou por afastar, espera pacientemente
na sombra da sua Teoria Sociológica do Patriarcado.
Carole Pateman (1988), desenvolveu uma das explicações mais originais do
Patriarcado Ocidental.
Segundo Pateman, o Mito, Tácito e Nunca Verbalizado (subjacente às
Narrativas Escritas dos Filósofos dos Sécs. XVII e XVIII) e a História que é
contada sobre a Fundação da Sociedade Civil por um Pacto Social, funcionam
como Substituição da que é Reprimida: a do Contrato Sexual.

Heterossexualidade Compulsiva

Os Sistemas de Sexo-Género estão intimamente ligados à Sexualidade e às


Práticas e Instituições Sexuais.
Só na Década de 1990 (Haraway, 1991), é possível à Sociologia abordar a
Sexualidade, assim como a Sociologia do Corpo, deixando de ser um dos
Parentes Pobres da Teoria Social e um tema tipicamente ligado à Biologia.
As Lésbicas Radicais, com primeira expressão nos EUA, tentaram demonstrar
o Mito do Orgasmo Vaginal, considerando que apenas Barreiras de Ordem
Física e Ideológica, se interpunham entre o Amor que uma Mulher poderia
sentir por Outra.
A Política da Sexualidade entrava na ordem do dia das conferências e
Encontros Feministas, suscitando réplicas inflamadas por parte da Sociedade.

Psicanálise e Feminismo: da Ideologia à Subjectividade

A Teoria Feminista foi, desde cedo, forçada a reconhecer que a Concepção


Teórica das Mulheres e do Género, não tinha grande adesão, por parte da
Mulher “Comum”.
É mais certo que Sexualidades, Identidades de Género e Subjectividades
sejam fruto de uma Aquisição Social, do que o Desempenho de Guiões
Escritos a partir dos Nossos Genitais.
Mas as Sexualidades, Identidades de Género e Subjectividades foram vividas,
constituindo uma Componente profundamente enraizada do “Eu” Percebido, do
“Eu” Social.

71
Seguindo o Estruturalismo Althusseriano, muitas Feministas Marxistas
fizeram depender o Patriarcado ou o “Sistema Sexo-Género”, da Prática
Ideológica.
A Psicanálise com a sua Teoria do Inconsciente, expôs à luz do dia a
Impossibilidade de Transformar com êxito, Crianças de Sexo Feminino em
Mulheres de Palmo e Meio.
As Mulheres nunca poderiam adoptar de Corpo e Alma a Feminilidade.

Teoria Lacaniana da Subjectividade do Sexo

Lacan reformulou o Conceito Freudiano de Inconsciente, recorrendo à


Linguística Moderna.
A Criança Pré-Edipiana e a sua Mãe formam, aos olhos daquela, uma Unidade
Diádica ainda Quase Indiferenciada que, por sua vez, se Funde com o Mundo.
À medida que a Criança Vai Crescendo e passando por Várias Fases, a
Identidade de Sexo é Produzida numa Crise em que a Criança é Brutalmente
Despojada do Imaginário e é Adstrita ao Simbólico, onde pontificam a
Ausência, a Lacuna, a Proibição e já não a Plenitude ou a Presença.
É, por conseguinte, a Crise e a Ameaça de Castração que, de acordo com a
leitura que Lacan fez de Freud, Cria a Identidade de Sexo, ao conferir um
Significado Sinistro às Diferenças Corporais.
A Mãe é o foco de grande parte, do que tem que ser Negado ou Reprimido.
Mais do que explicado, o Patriarcado é, de facto, Universalizado.

Feminismos Franceses Pós-Lacanianos

Em França, um conjunto de Feministas tentou ir para além da Teoria de


Lacan, no decurso da sua apropriação pela Teoria Feminista.
Luce Irigaray (1974), foi uma das mais notáveis.
Ao Separarem Sexo (Fêmea e Macho) e Género (Masculinidade e
Feminilidade), conclui-se que o “Feminino” pode ser Apropriado e Revalorizado
pelos Homens, como de facto o é na Teoria Pós-Moderna ou na Teoria
Romântica, sem que daí advenham quaisquer Benefícios para as Mulheres na
Vida Social ou Cultural.
Por outro lado, considerando que o Corpo de uma Mulher e o Seu
Funcionamento se relacionam com estes Atributos de “Feminilidade”, de um
modo em que o ser Fêmea é vivido como Categoria de Género, então essas
Qualidades tão prontamente premiadas, não podem ser anexas por Homens
“Femininos”.

Feminismo Maternal

Adrienne Rich privilegiou a Ideia da Fêmea, em detrimento da Ideia do


Feminino.
Esta Teoria, supõe que a Masculinidade é mais difícil de adquirir do que a
Feminilidade, uma vez que o Pai, figura menos próxima, deixa os Meninos na
“Ignorância” de quem são, obtendo apenas uma certeza: para ser um Homem,
ele não deve ser uma Mulher.

72
Economias do Desejo: Luce Irigaray

O Feminismo Cultural tem sofrido a perseguição tenaz do Estigma de


Essencialismo, o fantasma da Teoria Feminista Contemporânea.
Para Irigaray existe um Agente de Mediação crucial, entre as Mulheres e os
Seus Corpos: a Linguagem.
O seu primeiro grande trabalho “Speculum of the Other Woman”, começa com
uma forte e mordaz desconstrução do ensaio de Freud sobre Feminilidade.
Freud estabelece uma Bissexualidade Original e, em consequência, um
Desenvolvimento Comum da Líbido na Criança Pré-Edipiana.
Segundo Irigaray, “um Homem, menos a possibilidade de se representar como
um Homem, é Igual a uma Mulher Normal”.
O Projecto de Irigaray pode ser visto como um incitamento à Imaginação e à
Representação que se podem fazer das Mulheres e da Feminilidade, tomando
Corpo no Campo do Simbólico, através de uma Crítica à Ordem Simbólica da
Cultura Ocidental.
Segundo Freud, as Líbidos Masculina e Feminina estão Representadas como
Uma Só Líbido, de Características Masculinas, na Criança Pré-Edipiana.
Quando a Criança entra na Fase do Simbólico, Procede-se a uma Bifurcação
da Líbido: Masculina ou Feminina, definindo-se assim a Criança, como Sujeito
de Sexo Definido.
Irigaray contesta em Freud, quer a Imensa Pobreza das Representações
Culturais sobre as Raparigas e sobre as Mulheres, quer a Entrega da Imagética
Positiva, em exclusivo, à Sexualidade Masculina.
Irigaray concorre para o Enriquecimento do Simbólico, permitindo à Cultura
Ocidental a rutura com a repetitiva “Economia do Próprio”, Tipificada e
Analisada por Freud e que tão Restritiva é para as Mulheres.

Feminismos Pós-Estruturalistas e Pós-Modernos

A Teoria Feminista é demasiado jovem para ter perdido a Memória das suas
Fontes (Movimento Feminino, de Finais da Década de 1960).
Insere-se no que foi denominado a “Contra-Esfera Pública Feminista”,
juntamente com Várias Instituições e Práticas, desde Refúgios e Abrigos para
Mulheres Vítimas de Violência a Campanhas Políticas e Movimentos de
Cidadãos.
O Desenvolvimento de um Dispositivo Teórico que revelasse a Posição das
Mulheres na Sociedade e que ao mesmo tempo colocasse essa Posição e a
Própria Construção Social do Género em Causa, foi, desde o seu início, uma
Componente Basilar do Movimento de Libertação das Mulheres.
Década de 1970: o Feminismo perfilava a Igualdade entre os Sexos;
Década de 1980: o Feminismo perfilava a Diferença entre os Sexos (Exemplo:
Irigaray).
Pós-Estruturalismo, Pós-Modernismo e a Desconstrução: foram utilizados para
Erguer um Novo Feminismo, um Feminismo que Evita Oposições Bipolares.
Os Pós-Modernos e os Pós-Estruturalistas Valorizam a Diferença e através das
Múltiplas Teorizações está a nascer um Novo Consenso, em que se reconhece
que o “Género” não pode ser Caracterizado como um Tipo de Opressão
Separado e mais Primordial, de que derivam as Formas de Opressão criadas
73
na “Raça” e na “Classe”, devendo, em vez disso, ser Perspectivado como
Constituído nas, e através das, Outras Oposições.

Género como Desempenho; Identidade como Fantasia - Judith Butler

Judith Butler utiliza o Primado da Matriz Constitutiva da Heterossexualidade na


Determinação, tanto do Sexo como do Género e, portanto, o Primado da Matriz
da Homossexualidade no derrube destes Binómios.
Butler defende, que se a Criança tem de Optar por uma das Posições deste
Binómio para Adquirir Subjectividade, então o Processo nunca está completo,
porque a Opção nunca é tomada em Termos Absolutos e Exclusivos.
No Processo da Expressão Material dos Corpos, estes serão Produzidos e
Classificados de acordo com os Requisitos da Heterossexualidade
Institucionalizada, porém a Exclusão também figura neste Processo, uma vez
que os Corpos Homossexuais, que Escandalizam, também Emergem do
Processo.
Para Butler, toda a Identidade Social não é mais do que o seu Desempenho
Repetitivo (Gender Trouble, 1990).
Heterossexuais e Homossexuais têm, assim, uma Interdependência,
encontrando-se Mutuamente Relacionadas, Ambas Produzidas segundo os
Constrangimentos de uma Heterossexualidade Reguladora e Compulsiva.
Keller (1989), revela-nos que embora o Sexo, o Género e a Sexualidade
possam ser Desconstruídos, não podem ser Dispensados.
Como se pode assim construir estas Distinções sem a Formação de
Hierarquias do Género ?
Sem instituir uma Heterossexualidade Compulsiva ?
Será possível que as Pessoas venham a entender a sua Implicação nos Outros
Abjectos que existem ?
E que Relações Sociais de Reprodução permitirão que as Mulheres que
carregam Crianças, de que todos precisamos, o façam sem terem que suportar
pessoalmente o Fardo e a Totalidade do Custo que uma Gravidez acarreta ?
A Matriz Heterossexual em que a Criança é Catalogada Sexualmente, como
Macho ou Fêmea, é sempre Singular em Termos Históricos e, por isso, os
Sentidos Específicos que se vão Associando aos Posicionamentos de Sexo
possuem, desde o primeiro, maior riqueza de conteúdo do que a simples
Diferenciação por Sexo.
A Matriz Heterossexual é, desta maneira, um Dado Universal na História da
Nossa Espécie, embora enquadrada Histórica e Socialmente.
Nesta Matriz, tanto a Homossexualidade, como a Heterossexualidade em
Situação Não Adequada ou com os Parceiros “Adequados” é Interditada, de
forma a manter os Limites de Étnia, “Raça”, Classe e Nação.
A Epistemologia Feminista fundamenta-se no Marxismo, Foi Levada ao
Extremo com as Feministas Radicais e Desconstruída pelo Pós-Modernismo.
Uma Multiplicidade de Aspectos Teóricos, co-habitam na Teoria Feminista.
A Teoria Feminista, que pressupõe pelo próprio nome um “Ponto de Vista
Feminino”, não é partilhada por todas as Mulheres.
Perante Tamanha Multiplicidade de “Pontos de Vista” e na sequência da Actual
Mundividência Dominante de Multiculturalidade e Multi-Teorias, é difícil definir-
se um Panorama Futuro, contudo, Terry Lovell crê que o Projecto Feminista
74
terá mais Condições de Progresso a Nível de Teoria Social, Política e
Filosófica, pela Via da Análise Substantiva e Historicamente Situada.
Talvez assim, seja possível consensualizar os Feminismos Radicais,
Marxistas e Pós-Modernos.

CAPÍTULO 13

Sociologia do Tempo e do Espaço

Foi a partir dos anos 70 e 80 do Séc. XX que a Sociologia começou a


preocupar-se com a Forma como as Estruturas e os Processos Sociais são
considerados Temporais e Espaciais.
O Conceito de Tempo, derivado de Durkheim, afirmava que o Tempo nas
Sociedades Humanas é Abstracto, Impessoal e Organizado Socialmente.
O Tempo seria uma Instituição Social e as Suas Categorias seriam Sociais e
Não Naturais, Variando de Sociedade para Sociedade.
Outros Teóricos, como Sorokin e Merton, destacam a Natureza Qualitativa do
Tempo Social nas suas Diversas Particularidades, pois não é forçosamente
Diário ou Semanal (Hebdomadário).
Bourdieu nos seus estudos, efectuados na Argélia, defende uma Cultura de
Tempo Hostil ao Relógio, Característica das Sociedades Pré-Modernas, sendo
que, nas Sociedades Modernas, é o Relógio quem Rege a Construção Social
do Tempo (Quantitativo), o qual é Perspectivado como um Recurso e não
como Critério de Diferenciação, padecendo assim das Debilidades de todos os
Recursos e, como tal, passível de se esgotar, motivo pelo qual nas Sociedades
Modernas as Pessoas Administram as Suas Vidas pelo Relógio e não pelas
Tarefas, pela Luz do Sol ou pela Estações, como nas Sociedades Pré-
Modernas.
Thompson sustentava que a Orientação pelo Tempo tornou-se a
Característica terminante da Sociedade Capitalista Industrial.
A Regulação e a Exploração do Tempo de Trabalho (Característica Central do
Capitalismo), bem como as Trocas Sociais com base na Troca de Tempos
de Trabalho, foram problematizadas por Marx que considerou que, o
Capitalismo, ao tentar Alargar o Tempo de Trabalho para Além dos Limites
Físicos e Sociais dos Homens levou, como consequência de tais Abusos na
Exploração do Trabalho, a que surgissem as Legislações e Regulações do
Trabalho.
O Estado, Obrigado à Limitação da Jornada de Trabalho, desencadeou a
procura de Trabalho Intensivo, por não ser permitido estendê-lo no Tempo.
Os 3 Principais Contributos para uma Teoria Social do Tempo foram
possíveis através de Heidegger, Bergson e Mead:
Para Heidegger, os Seres Humanos são, essencialmente, Temporais e
Encontram o seu Sentido na Consciência de Caminharem para o Fim das suas
Existências;
Para Bergson o Verdadeiro Tempo é o Tempo da Formação.
Os Indivíduos devem ser vistos como Existindo no Tempo.
Encara o Tempo como uma Variável Qualitativa e o Espaço como uma
Variável Quantitativa, encontrando-se a Memória sempre em Actualização;
Mead relaciona o Tempo com a Acção, Acontecimentos e Papéis.
75
Para ele, só o Presente é Real e o Passado é encarado como uma
Reconstrução Mental do Sujeito, levada a cabo pelo Momento Presente,
Permanentemente Recriado e Sem Existência Real Fora do Sujeito, sendo o
Presente que dá Sentido ao Passado e ao Futuro.
Representa a Mentalidade Relativista, típica do Séc. XX.

Breve História do Espaço

Marx, juntamente com Engels, preocupou-se em saber como é que a


Industrialização Capitalista terá dado Origem a um Crescimento Rápido e
Excedentário das Cidades e Metrópoles.
Para Marx, a Acumulação Capitalista baseava-se na Aniquilação do Espaço
pelo Tempo, o que Geraria Transformações Sociais, Físicas e Económicas ao
Longo do Espaço e do Tempo.
Já Durkheim, construiu uma Teoria que mostrava que as Representações
Individuais do Espaço têm Origem Social e, muitas vezes, Reflectem o Padrão
Dominante de Organização Social, relacionando alguns Processos de
Alteração de Relações Sociais no Espaço, como resultado da Progressiva
Divisão de Trabalho.
Uma das mais importantes contribuições para uma Teoria do Espaço foi dada
por Simmel, que se preocupou com as Relações dos Indivíduos face ao Mundo
Urbano, a Influência da Grande Cidade Moderna na Personalidade e na Vida
Mental dos seus Habitantes, bem como com a Economia, devido à Questão do
Dinheiro que Provoca uma Personalidade Urbana Caracterizada pela Reserva,
pelo Desinteresse, pela Desconfiança e Apatia.
Evidenciou, através de 5 Propriedades, as Estruturas Espaciais que podem
ser encontradas nas Interacções Sociais:
1 - O Carácter Único ou Exclusivo de um Espaço;
2 - As Formas nas quais o Espaço pode ser Dividido em Partes e o
Enquadramento de Actividades nesses Espaços;
3 - O Grau em que as Interacções Sociais podem ser Localizadas no Espaço;
4 - O Grau de Proximidade ou Distância, principalmente da cidade;
5 - A Possibilidade de Mudar de Local e as Consequências dessa Mudança.
Para Simmel, o Espaço é tão menos importante quanto a Organização Social
se separa dele, Relacionando a Personalidade Urbana, a Liberdade Pessoal no
Espaço Urbano e o Desenvolvimento Pessoal no Espaço Urbano, com as
Características desse Espaço Urbano, sendo estes os Padrões Modernos que
explicam a Mobilidade da Vida Social, a sua Fragmentação e a sua
Diversidade.
Grande Desenvolvimento Sociológico foi observado no Período entre as 2
Guerras, através dos Teóricos da Escola de Chicago, cuja principal
preocupação se situou ao Nível da Abordagem Ecológica do Estudo da Cidade,
da Ecologia Humana e do Urbanismo, bem como do Desenvolvimento de um
Método Etnográfico.
Os principais representantes desta evolução foram Louis Wirth e Redfield, os
quais demonstraram que a Organização do Espaço, em Termos de Dimensão
e Densidade, Produzem Padrões Sociais Correspondentes.
Wirth defendia que existiam 3 Causas para as Diferenças nos Padrões Sociais
da Área Urbana e da Área Rural:
76
- A Dimensão (que produz Segregação, Indiferença e Distância Social);
- A Densidade (que faz com que os Indivíduos se Relacionem Uns com os
Outros segundo os seus Papéis Específicos, com Segregação Urbana entre os
Detentores de tais Papéis e uma maior Regulação Formal);
- A Heterogeneidade (que significa que os Indivíduos participam em Diferentes
Círculos Sociais, sem que nenhum desses Círculos comande o seu
Envolvimento Total, o que implica que esses Indivíduos possuam Estatutos
Discrepantes e Instáveis).
Apresentava, por isso, uma Posição Diferente de Simmel.
Wirth forneceu a Base para o Desenvolvimento da Sociologia Urbana.
Os Estudos de Redfield proveram a Base da Sociologia Rural, tentando
mostrar que os 2 Mundos são Distintos e Directamente Dependentes da
Dimensão, Densidade e Heterogeneidade das Áreas Rural e Urbana.
Estes Estudos sobre as Ligações entre as Pessoas nos Espaços Urbanos e
Espaços Rurais, levaram a uma Problematização do Conceito de
Comunidade explicado por Bell e Newby, que distinguiram, de forma útil, 3
Sentidos Diferentes para o Conceito de Comunidade:
1º. Sentido - Relativo à sua Utilização numa Acepção Topográfica, tal como
se refere às Fronteiras de uma Determinada Povoação;
2º. Sentido - Refere-se a uma Comunidade enquanto Sistema Social Local,
implicando um Grau de Interconhecimento Social dos Conterrâneos e das
Instituições;
3º. Sentido - Reporta-se ao Conceito de Comunidade como uma Comunhão,
ou seja, um Caso Particular de Associação Humana que implica Ligações
Pessoais, Pertença e Proximidade.
Este 3º. Sentido não é Necessáriamente Produzido por um Determinado Tipo
de Povoado, podendo até Resultar de uma Completa Falta de Rotina em
Termos de Afinidades.
A Comunidade pode também Ser Compreendida num 4º. Sentido, como
Ideologia, onde os Esforços são feitos para Associar Concepções de
Comunhão a Edifícios, Áreas, Propriedades, Cidades e por aí diante, de
maneira a Esconder e Ajudar a Perpetuar Relações Não Comunitárias Vigentes
de facto.

A Crítica dos Anos 70

Os 3 Principais Desenvolvimentos Intelectuais e Sociais dados pelos Teóricos


das Décadas de 70 e 80 do Séc. XX (que Ajudaram a Transformar, bem como
a Contribuir para Mudanças na Teoria Social do Tempo), foram fornecidos
por:
Crítica de Manuel Castells à Sociologia Urbana - Efectuou uma Revisão da
Sociologia Urbana e Rural, com base em Conceitos Marxistas
Estruturalistas.
Reafirmou que qualquer Disciplina Científica necessitava de um Objecto
Teórico Adequadamente Constituído, acrescentando que, a Sociologia Urbana
Não Possuía esse Objecto Teórico, Partindo sim, de uma Grande Variedade de
Conceitos de Senso Comum, como Vila, Cidade, Comunidade.

77
Associa os Problemas Sociais a Consumos Colectivos (Gerados pelas
Contradições do Capitalismo), considerando que estes deveriam constituir o
Objecto de Estudo da Sociologia Urbana.
Não vê o Espaço Urbano em Termos Culturais ou de Formas de Vida, mas em
Termos de Espaço onde São Gerados os Conflitos Criados pelos Consumos
Colectivos, resultantes da Necessidade de Reprodução do Poder de Trabalho.
Análise de Massey às Diversas Formas de Reestruturação Económica - De
Influência Marxista, considerava a Existência de Padrões Espaciais,
Resultantes da Divisão Social do Trabalho, explicado pela Luta entre Capital e
Trabalho e que, as Desigualdades Espaciais Resultariam de uma
Acumulação de Estratos de Reestruturação, Dependentes do Impacto de
Processos de Acumulação em Graus Variáveis.
Isto é, Massey considera irrelevantes os Padrões Resultantes da Divisão Social
do Trabalho, explicando que o que importa são os Resultados do
Desenvolvimento da Luta entre Capital e Trabalho, não estando as Classes
Limitadas pelas Fronteiras dos Estados, pois são Fenómenos Internacionais
Resultantes de Variáveis Ligadas aos Processos Capitalistas de Produção e
Acumulação, aos Interesses de Classes e aos Níveis de Concentração
Espacial dessas Classes.
Estes Novos Conceitos de Tempo e Espaço, conduzem à Tese da Nova
Divisão Internacional do Trabalho, que se Postula em 3 Factores de Relevo:
1- O Melhoramento na Produtividade, que Vai Originar um Excedente de Mão-
de-Obra Rural, que Fica Disponível para Trabalhar na Cidade;
2- As Mudanças no Processo Produtivo que Facilitam a Separação do
Processo de Produção, do Processo de Concepção e Direcção;
3- O Desenvolvimento das Tecnologias de Comunicação que Permite uma
Melhor Circulação de Informação e Supervisão.
Estes 3 Factores estão na Base de uma Divisão Espacial do Trabalho com 3
Consequências:
1- Colapso Generalizado do Emprego na Indústria dos Países Desenvolvidos;
2- Aumento do Emprego Fabril nos Países Recentemente Industrializados;
3- Intensificação da Competição Espacial, pela Atracção e Manutenção do
Capital Móvel que, fruto da Evolução Tecnologica, se pode Localizar em
Qualquer Local.

O Tempo e o Espaço em Giddens

Giddens (cujos estudos consagraram uma viragem na Sociologia do Tempo e


do Espaço nos Finais dos Anos 70 do Séc. XX), para construir a sua Teoria
do Tempo e do Espaço, baseou-se essencialmente em Heidegger, tendo
postulado 5 Características no Ser Humano que os Diferencia, relativamente
aos Objectos:
1 - A Consciência da Própria Finitude;
2 - A Transcendência da Experiência Sensorial Individual por Via da Memória;
3 - A Consciência do Passar do Tempo, Integrada nas Instituições;
4 - A Existência do Subconsciente Individual que Liga Passado e Presente;
5 - O Movimento da Passagem Individual pelo Tempo, Passível de
Interpretação, como uma Presença ou uma Ausência do Corpo.

78
A partir do Estudo do Carácter Rotineiro da Vida Humana, no dia-a-dia,
estabeleceu que, as Rotinas são Condicionadas por Vários Constrangimentos,
Ligados aos Limites dos Próprios Seres Humanos.
Considerando que os Processos Individuais de Vida estão ligados aos
Processos de Longa Duração das Instituições, Giddens desenvolveu 6
Conceitos com o Objectivo de Integrar a Teoria da Acção, na Teoria das
Estruturas:
1 - Conceito de Regionalização ou Zona de Espaço-Tempo, relacionado
com as Práticas Sociais Rotineiras;
2 - Conceito de Presença-Disponibilidade, relacionado com o Grau e a
Forma como o Indivíduo está Co-Presente no Meio Social de Cada Indivíduo;
3 - Conceito de Distanciamento Espácio-Temporal, no qual as Sociedades
São Prolongadas por Períodos de Tempo Mais Curtos ou Mais Longos;
4 - Conceito de Margens de Tempo, relacionado com Formas de Contacto ou
Conflito entre Sociedades Organizadas, segundo Diferentes Princípios
Estruturais;
5 - Conceito de Repositório de Poder, relacionado com a Capacidade de
Armazenamento através do Espaço-Tempo;
6 - Conceito de Tempo Vazio, relacionado com a Separação do Tempo e do
Espaço das Actividades Sociais.

Principais Críticas a Giddens:

- A Pouca Análise da Organização Específica Tempo-Espaço de


Determinados Lugares ou Sociedades;
- Giddens não conceptualizou o Tempo como um Recurso, mas sim como uma
Medida de Distância Cronológica;
- A Importância do Uso do Tempo e do Espaço para Viajar, em que Giddens
não efectua nenhuma Análise do “Porquê dos Indivíduos Viajarem”, não
ponderando porque é que a Poupança de Tempo e a Cobertura cada vez mais
Alargada de Espaço, podem fazer parte do leque de “Interesse” dos
Indivíduos.
As Ciências Sociais têm trabalhado com uma Concepção Desajustada de
Tempo nas Ciências Naturais, um Tempo que é Quase Não Temporal e que
pode ser descrito como Newtoniano e Cartesiano:
Newtoniano - Porque é fundamentado na Noção de Tempo Absoluto que,
pela sua Própria Natureza, dimana igualmente sem qualquer relação com o
Eterno.
O Tempo é encarado, essencialmente, como o Espaço como uma Duração
Mensurável que se Prolonga para a Frente e para Trás.
Cartesiano - Porque é estabelecido, apelando à Metáfora de Tempo, como
premissa sobre os Dualismos da Mente e do Corpo, da Repetição e do
Progresso, da Quantidade e da Qualidade, da Forma e do Conteúdo, do Sujeito
e do Objecto.
Esta Noção de Tempo alterou-se durante o Séc. XX e já não é vista como
Newtoniano-Cartesiano.
Quatro Descobertas Científicas no Séc. XX Transformaram o Conhecimento
do Tempo na Natureza:

79
1 - Einstein demonstrou que Não Há um Tempo Fixo.
O Tempo é Local e Intrínseco ao Sistema de Observação;
2 - Einstein demonstrou também que o Tempo e o Espaço Fundem-se numa
4ª. Dimensão de Entidades Espácio-Temporais;
3 - Cronobiologos demonstraram que o Ritmo é um Princípio essencial da
Natureza, logo do Homem.
As Pessoas não são unicamente influenciadas pelo Tempo-Relógio.
São Eles Próprios um Relógio;
4 - Pensadores Evolucionistas enfatizaram que o Tempo do Corpo de um
Indivíduo deve ser entendido como uma Extensão Biológica Inclusiva de toda a
História da Evolução Humana.
O Tempo do Nosso Corpo não se esgota na nossa Finitude, antes Transporta
Consigo toda a História Evolutiva (Adam, 1990).
Adam é a favor de uma Noção de Tempo Não Espacializada, Não Reversível,
Multifacetada e em que Não Há uma Forte Distinção entre Tempo Natural e o
Tempo Humano.
Este Tipo de Formulação tem-se Reflectido em Análises mais recentes:
Tese de Thompson (1967): Demonstrou que o Capitalismo Industrial
Transforma uma Orientação pela Tarefa, numa Orientação pelo Tempo.
Thrift (1990): Analisa o “Surgir da Consciência Capitalista do Tempo” na Grã-
Bretanha.
Seguiram-se os Debates do Pós-Modernismo, que argumentavam que:
- A Cultura Predominantemente Escrita está Ameaçada por uma Cultura mais
Visual e Estética, que se torna mais apreciada numa Forma Menos Separada,
Menos Formal e Menos Distanciada;
- Referem que agora, as Entidades Sociais são Mais Abertas e Fluidas (quando
Comparadas com as Tradicionais), Mais Fixas e Inalteráveis (Período
Moderno).
Levebvre: Exerceu bastante Influência nos Anos 1980.
Defendeu que o Espaço não é uma Geometria Neutra e Passiva.
O Espaço é Produzido e Reproduzido, Representando assim o Lugar de Luta.

CAPÍTULO 14

Teoria Social Pós-Moderna

Conceitos

Modernidade: Costuma ser entendida como um Ideário ou Visão de Mundo,


relacionada ao Projecto empreendido a partir da Transição Teórica operada por
Descartes, através da Ruptura com a Tradição Herdada (o Pensamento
Medieval dominado pela Escolástica) e o Estabelecimento da Autonomia da
Razão, o que teve enormes repercussões sobre a Filosofia, a Cultura e a
Sociedade Ocidentais.
O Projecto Moderno consolida-se com a Revolução Industrial e está
normalmente relacionado com o Desenvolvimento do Capitalismo.
Na Primeira Metade do Século XX, Vários Movimentos de Vanguarda na Arte e
na Cultura Ocidental, constituem o que se costuma chamar Modernismo.

80
Pós-Modernidade: É a Condição Sócio-Cultural e Estética que prevalece no
Capitalismo Contemporâneo após a Queda do Muro de Berlim e a
Consequente Crise das Ideologias que dominaram o Século XX.
O uso do termo tornou-se corrente, embora haja controvérsias quanto ao seu
significado e a sua pertinência.
Algumas Escolas de Pensamento têm-na como o Fundamento do Alegado
Esgotamento do Movimento Modernista, que dominou a Estética e a Cultura
até Final do Século XX, substituindo, assim, a Modernidade.
O termo foi utilizado pela 1ª vez em 1964, pelo brasileiro Mário Pedrosa.
Estruturalismo: É uma Corrente de Pensamento nas Ciências Humanas que
se inspirou no Modelo da Linguística e que Apreende a Realidade Social como
um Conjunto Formal de Relações.
O Estruturalismo é uma Abordagem que veio a tornar-se um dos Métodos
mais extensamente utilizados para Analisar a Língua, a Cultura, a Filosofia da
Matemática e a Sociedade na 2ª. Metade do Século XX.
De um modo geral, o Estruturalismo procura explorar as Inter-Relações (as
"Estruturas"), através das quais o significado é produzido dentro de uma
Cultura.
Pós-Estruturalismo: Refere-se a uma Tendência para a Radicalização e a
Superação da Perspectiva Estruturalista, observada entre os Intelectuais
Franceses, tanto no Campo propriamente Filosófico (Jacques Derrida, Gilles
Deleuze, Jean-François Lyotard), como Psicanalítico (Jacques Lacan), Político
e Sociológico, na Perspectiva Neomarxista (Louis Althusser) e na Análise
Literária (Roland Barthes, Maurice Blanchot).
O Pós-Estruturalismo instaura uma Teoria da Desconstrução.
A Realidade é considerada como uma Construção Social e Subjectiva.
A Abordagem é mais aberta no que diz respeito à Diversidade de Métodos.
Em Contraste com o Estruturalismo, que afirma a Independência e
Superioridade do Significante em Relação ao Significado, os Pós-
Estruturalistas vêem o Significante e o Significado como Inseparáveis.
O prefixo Pós não é, todavia, interpretado como sinal de contraposição ao
Estruturalismo.
De facto, esses Pensadores levaram às últimas consequências os Conceitos e
Desenvolvimentos do Estruturalismo, até dissolvê-los no
Desconstrutivismo, no Construtivismo ou no Relativismo e no Pós-
Modernismo.
O Movimento Pós-Estruturalista está intimamente ligado ao Pós-
Modernismo, embora os 2 Conceitos não sejam sinónimos.
Teleonomia da História: Finalidade da História.
Reflexibilidade: Significa Questionamento e Subversão da Tradição,
implicando que esta não pode mais prover um Conjunto Firme de Normas e
Crenças, que sejam usadas para Criar Confiança.
A Sociedade Pós-Tradicional é uma Sociedade em que as Convenções Sociais
são, Activa e Conscientemente, Criadas e Renegociadas, ao Invés de Dadas,
Aceites e, inerentemente, Autoritárias.
Mas isto requer uma Consideração Reflexiva, rompendo com o
Inquestionável Status das Premissas da Tradição, que são transmitidas como
Verdades através de Rituais.

81
Numa "Sociedade Globalizante, Culturalmente Cosmopolita, as Tradições são
Colocadas a Descoberto: é preciso oferecer-lhes Razões ou Justificativas"
(Giddens, 1996: 14).
Dialéctica: É um Método de Diálogo cujo foco é a Contraposição e
Contradição de Ideias, que Conduz a Outras Ideias e que tem sido um Tema
Central na Filosofia Ocidental e Oriental, desde tempos imemoriais.
A Tradução Literal de Dialética significa "Caminho Entre as Ideias".
Metafísica: É uma das Disciplinas Fundamentais da Filosofia.
Os Sistemas Metafísicos, na sua Forma Clássica, tratam de Problemas
Centrais da Filosofia Teórica: são Tentativas de Descrever os Fundamentos, as
Condições, as Leis, a Estrutura Básica, as Causas ou Princípios Primeiros,
bem como o Sentido e a Finalidade da Realidade como um Todo, isto é, dos
Seres em Geral.
Niilismo: É um Termo e um Conceito Filosófico que Afecta as Mais Diferentes
Esferas do Mundo Contemporâneo (Literatura, Arte, Ciências Humanas,
Teorias Sociais, Ética e Moral).
É a Desvalorização e a Morte do Sentido, a Ausência de Finalidade e de
Resposta ao “Porquê”.
Os Valores Tradicionais Depreciam-se e os "Princípios e Critérios Absolutos
Dissolvem-se".
"Tudo é Sacudido, Posto Radicalmente em Discussão”.
“A Superfície, antes congelada, das Verdades e dos Valores Tradicionais está
Despedaçada e torna-se difícil prosseguir no Caminho, Avistar um
Ancoradouro".
Hermenêutica: É um Ramo da Filosofia e Estuda a Teoria da Interpretação,
que pode Referir-se, tanto à Arte da Interpretação ou à Teoria e Treino de
Interpretação.
A Hermenêutica Moderna, ou Contemporânea, Engloba não somente Textos
Escritos, mas também Tudo que Há no Processo Interpretativo.
Isso inclui Formas Verbais e Não Verbais de Comunicação, assim como
Aspectos que Afectam a Comunicação, como Preposições, Pressupostos, o
Significado, a Filosofia da Linguagem e a Semiótica.
Contingência: Aquilo que É, ou Pode Ser, mas não sendo absolutamente
necessário que seja.
É o Status de Proposições que não são necessariamente Verdadeiras, nem
necessariamente Falsas.
Necessidade: A Propriedade Daquilo que É (e não pode não ser), em Todos
os Mundos Possíveis.
Localização: É o termo usado em Geografia e Áreas Afins, para Designar a
Posição de Algo num Espaço Físico.
Universalidade: Qualidade ou Carácter Universal; refere-se a Generalidade.
Ambivalência: De outro modo, Ambivalência é a Experiência de Ter
Pensamentos e Emoções, Simultaneamente Positivos e Negativos, para
Alguém ou Alguma Coisa.

82
Pós-Modernos

Foi no Contexto do Iluminismo que o Social, pela Primeira Vez, se Constituiu


como um Objecto de Conhecimento ou Raciocínio Abstracto, como um Campo
de Reflexão Teórica e de Análise Sistemática.
A Teoria Social Desenvolveu-se neste Contexto Complexo, começando a
encontrar um lugar no Quadro do Projecto da Modernidade.
É o Diagnóstico dos Limites e Restrições do Projecto de Modernidade, que
têm sido vistos como Irrealizáveis ou Inaceitáveis, que têm sido associadas
Várias Intervenções identificadas como Pós-Modernas.
Nietzche, Heidegger, Simmel, Weber e Adorno são Considerados como
Iniciadores das Intervenções Pós-Modernas, na medida em que Manifestam
nas suas obras Discordâncias relativamente às Premissas da Ordem Social
Moderna e às suas Consequências.
Simmel, o Teórico da Crise da Cultura Moderna e do Esgotamento das
Formas Culturais Modernas, é Considerado como o 1º. Sociólogo da Pós-
Modernidade.
A Noção do Pós-Modernismo é Ambígua e Controversa.
Ambígua, porque pode Ser Lida como um Processo de Continuidade do
Modernismo.
Controversa, porque pode Significar um Relacionamento Crítico com o
Modernismo (Reconciliação e Ruptura).
Lyotard considera o Pós-Moderno como sendo uma Parte do Moderno.
O Pós-Modernismo reconhece que as Consequências Práticas da
Modernidade estiveram em Desacordo com as suas Bases Programáticas.
É a Possibilidade de Dar Conta da Modernidade, isto é, Ser Capaz de Reflectir
sobre os Seus Postulados, Práticas, Realizações ou Consequências
Fundamentais, que tem sido Identificada como o Sintoma Principal da
Emergência de uma Condição Pós-Moderna.

Factores da Pós-Modernidade
- Ambiguidade;
- Controvérsia (Crítica Literária, Análise Histórica, Discurso Filosófico e
Cultural).
Wright Mills foi o Iniciador da Ideia de Pós-Moderno, no Campo da Teoria
Social.
Mills defende que, tal como a Idade Moderna se está a Transformar, também o
Nosso Entendimento da Sociedade e do Indivíduo está a Ser Surpreendido
pelas Realidades Novas.
Muitas das Nossas Expectativas e Imagens são Datadas, e se,
frequentemente, muitas das Nossas Categorias Normais de Pensamento e de
Sentimento nos Ajudam a Explicar o que acontece à nossa volta, noutros
casos, acabam por nos desorientar.
Muitas das Explicações que Concebemos derivam da Grande Transição da
Idade Média para a Idade Moderna, Tornando-se Ineficientes, Pouco Flexíveis,
Pouco Convincentes e de Relevância Duvidosa, quando são Generalizadas
para a Compreensão da Realidade Actual.
Mills denuncia como Insustentáveis as Posições Modernas acerca da Relação
Intrínseca entre Razão e Liberdade.
83
A Questão da Teoria Pós-Moderna tem sido Colocada na Recepção (com
particular acuidade e em primeira instância na América do Norte), da obra de
um Grupo de Pensadores Franceses como Barthes, Baudrillard, Deleuze,
Guattari, Faucault e Lyotard.
Barthes, Derrida, Faucault e Lyothard são considerados Pós-Estruturalistas e
advogam uma Preocupação Global e Crítica relativamente a:
- Crise de Representação e Instabilidade;
- Ausência de Fundações Seguras para o Conhecimento;
- Importância das Linguagens, Discursos e Textos;
- Desadequação da Proposição Iluminista de um Sujeito Racional e Autónomo,
Substituída pela Percepção dos Modos pelos quais os Indivíduos são
Constituídos como Sujeitos.
Num certo sentido, pode dizer-se que houve determinado traço de “Tradição
Morta” do Pensamento Pós-Estruturalista que Renasceu e se Regenerou no
Quadro conhecido como Teorias Sociais e Filosóficas Pós-Modernas.
O Pressuposto da Teorização Pós-Moderna tem como Base que, tanto as
Concepções, como as Análises da Vida Aocial de Base Moderna que Existiam,
começaram a parecer cada vez Mais Deficientes e Desajustadas, senão
mesmo Erradas.
4 Autores Contemporâneos ficaram ligados de forma estreita à Noção
Controversa de Pensamento Social e Filosófico Pós-Moderno,
Transmitindo a Sensação de que Vivemos com o Fim da Metafísica Ocidental:
- Foucault (História Genealógica Crítica; Conduta Ética; Política);
- Derrida (Metafísica Ocidental em Senescência; “Nada Existe Fora do Texto”;
Decadência das Instituições Sociais e Políticas; Desconstrução da Metafísica;
Logocentrismo: Oposição Entre Escrita e Fala);
- Lyotard (Indissociável da Noção de Pós-Moderno; desenvolveu uma
Conceptualização em torno da Questão do Pós-Moderno);
- Baudrillard (Cultura Contemporânea; Meios de Comunicação)
Lyotard, preocupado com as Alterações do Saber e com o que daí poderá
Advir; o Estado das Ciências nas Sociedades Avançadas.
Mais tarde, o autor afasta-se da Análise Sociológica da Condição Pós-
Moderna do Saber, assumindo uma Perspectiva eminentemente Filosófica da
Razão e dos Problemas Políticos e de Justiça que esta encerra.
A Premissa Central da Tese de Lyotard é que a Grande Narrativa Perdeu a sua
Credibilidade, qualquer que seja o Modo de Unificação que lhe está
Consignado: Narrativa Especulativa, Narrativa de Emancipação.
Lyotard interessa-se sobretudo no Declínio da Grande Narrativa, em
Aceleração, sobretudo, desde os Finais da 2ª. Guerra Mundial.
O interesse de Lyotard está nas Grandes Narrativas e Metanarrativas, que
terão cunhado a Modernidade.
Narrativas estas que invocaram um “Futuro para Cumprir”, uma Ideia Universal
para Materializar.
No Fundo, Lyotard Constrói a “Grande Narrativa” do Declínio das Grandes
Narrativas”.

84
Modernização Reflexiva

Lyotard tem afinidades com o Processo Contemporâneo de Modernização


Reflexiva (Cariz Contraditório do Desenvolvimento Técnico-Científico e
Consequências da Aplicação do Cepticismo Científico às próprias fundações e
resultados Técnicos da Ciência).
Beck preconiza a Regeneração do Projecto da Modernidade, aspirando à
Redução ou Eliminação das Consequências do Desenvolvimento Técnico-
Científico, através da Formação de uma Prática Técnico-Científica Alternativa,
orientada para o Auto-Controlo e para a Auto-Limitação.
Beck refere-se ao Eventual Desenvolvimento de uma Nova Cultura Política
(Esvaziamento de Poder, Politização da Sociedade, Surgimento da Subpolítica
Cultural e Social).
Com o Surgimento de uma Época de Modernização Diferente, assiste-se à
Emergência de uma Esfera Política em Crescente Descentralização,
Caracterizada pela Reflexividade, Diferenciação e Flexibilidade, que também
já foi Adjectivada de Pós-Moderna.
Beck argumenta que as Soluções Modernas tornaram-se na Fonte dos
Nossos Problemas e que estas necessitam de primeiros-socorros, Alegando a
Ciência Moderna da Racionalidade como eventual cura para os Problemas
Actuais.
Advoga que a “Idade das Desculpas Terminou” e determina que a
Modernização Reflexiva Consiste na Realidade de Vivermos em
Contingência, uma Condição cada vez mais aceite como Corolário da
Modernidade por Si.
Lyotard sustenta, ao contrário de Beck, que Actualmente os Intelectuais já não
podem falar em nome de uma Universalidade Inquestionável.
O Declínio das Grandes Metanarrativas de Emancipação significou a Perda de
Autoridade que detinham, para poderem dizer publicamente “Aqui Está o Que
Devem Fazer”.
Este é um Indicador-Chave da Condição Pós-Moderna: o Fim da Era
Intelectual Universal, dos Sujeitos Dotados de um Valor que é Universal.
Lyotard Confirma a Crise das Fundações da Sociedade Moderna e que
Continuar a Interrogar Criticamente a Razão e Demonstrar que não se trata de
uma Razão Única e Compacta, mas antes, que o que existe são Razões ou
uma Pluralidade de Racionalidades, corresponde a uma Tarefa Analítica Vital.
Sem apelar ao Irracionalismo, constitui uma Recusa Racional do Pensamento
Estabelecido e Constitui uma Política Intelectual de Resistência, que continua a
ser uma Possibilidade após o Declínio das Grandes Narrativas Emancipadoras.
É Incorrecto Tomar a Linguagem como sendo meramente um Instrumento de
Comunicação e Lyotard julga Ser Tempo de Filosofar e de Estabelecer uma
Doutrina Filosófica Separada da Política dos Intelectuais e dos Políticos, ou
seja, uma Política Crítica da Heterogeneidade, que dê Testemunho dos
“Differends”.
O Progresso, apanágio da Modernidade e do Iluminismo que o viu nascer,
Não Conduziu a uma Humanidade Esclarecida e Liberta, Livre da Degradação
da Pobreza, da Ignorância e do Despotismo, antes Tem Trazido consigo um
Cortejo de Novas Dificuldades, como a Possibilidade de uma Guerra Total,

85
Incerteza de Identidade, Totalitarismos ou o Crescente Hiato entre o Norte Rico
e o Sul Depauperado, Desemprego, etc.
Lyotard deixa o convite para se Activar as Diferenças e Respeitar as Diferentes
Formas de Alteridade.
Giddens (1990) Aponta a Insinuada Humanização do “Imperativo” Técnico-
Científico, como uma das Dimensões de um Possível Futuro Social Pós-
Moderno.

Baudrillard e o Pós-Modernismo

É a figura mais controversa do Pós-Modernismo, mas também aquele cuja


obra ficou mais intimamente associada ao Pós-Moderno (de Tom
Apocalíptico).
3 Asserções pretendem Titular o Trabalho de Baudrillard:
- Mais do que Aprender, a sua Prosa Exemplifica a Experiência do Pós-
Moderno;
- Existe na sua Produção a Análise Sistemática de uma Configuração Social e
Cultura Específica: a Pós-Modernidade;
- A sua própria Análise acaba, em última instância, por se Revelar Vulnerável
ao Fatal e Enigmático Enviesamento da Ordem das Coisas.
A obra de Baudrillard atravessa um grande número de Interesses Intelectuais,
Socio-Culturais, Económicos e Políticos e Sugere que tem havido uma Má
Compreensão das Sociedades Ocidentais.
Baudrillard vira costas ao Marxismo, à Psicanálise e ao Estruturalismo e
Explora uma Nova (Terceira) Ordem de Simulacro, na Emergência de
Preocupações Especificamente Pós-Modernas.
Este autor não só faz uma Apreciação e Classificação da Teoria Pós-
Moderna, como Apresenta uma Nova Forma Contestatária de Teoria “Anti-
Pós-Modernista”.
Assim, Baudrillard surge como o Principal Opositor da Teoria Pós-Moderna,
combatendo-a ferozmente.
Define a Verdadeira Revolução do Séc. XIX, da Modernidade, a Destruição
das Aparências, o Desencanto e uma 2ª. Revolução no Séc. XX, da Pós-
Modernidade, o Vasto Processo da Destruição do Sentido, equivalente à
anterior Destruição das Aparências.
É um Controverso e Ambíguo Teórico, que nem se assume como Pós-
Modernista, nem deixa de referenciar o Pós-Modernismo nas suas obras.
Incoerente e Inconsistente, reflete-se como um Teórico da Mudança de Registo
Identificada, que significa uma Ruptura Radical com a Filosofia do Sujeito e,
portanto, com a Tradição da Metafísica Ocidental.
A Teoria deve tomar partido pelo Objecto.
O Mundo não é Dialético, mas Governado pelo Extremismo e pelo
Antagonismo Radical, em vez de ser pautado pela Reconciliação e pela
Síntese.
É a Teoria Ficção que Deverá Desafiar o Mundo a Ser Mais e Melhor (e que
poderá ser considerada a Própria Epítome do Pós-Modernismo).

86
Fim da Modernidade

Se existem muitos autores que referem o Fim da Modernidade, existem


também Muitos Ainda que a Constroem.
Giddens Constitui uma moção de apoio às reflexões de Wright Mills e Lyotard,
sobre as Limitações das Formas de Pensamento Social Estabelecidas e
assinalou que “Vivemos num Mundo para o qual as Fontes Tradicionais de
Teoria Social nos deixaram Impreparados, especialmente as Formas de
Teoria Social ligadas à Política Liberal ou Socialista”.
Castells é um dos autores que Concorda com esta Forma Inadequada de
Vermos o Mundo e de Continuamente o Continuarmos a Analisar sob os
pontos de vista Tradicionais da Teoria Social.
Levanta-se contudo a Questão do Estatuto das Contribuições Ambíguas dos
Pós-Modernos.
Lyotard, Baudrillard e Vattimo são descritos como Participantes Recalcitrantes,
sendo este um dos traços mais curiosos da discussão que surgiu em torno da
Controversa Noção de Pensamento Social e Filosófico Pós-Moderno.
A Reflexividade é um dos Atributos Definidores da Modernidade, que inclui, a
Reflexão sobre a Natureza da Própria Reflexão.
Desta forma, o Conhecimento é Continuamente Sujeito a Revisão, passando a
própria Natureza da Reflexão a Objecto de Reflexão, levando a um
entendimento largamente partilhado de que nos encontramos no Termo da
Modernidade.
Tudo é Contestado, Questionado e Posto em Causa.
Esta Reflexividade Geral e Reflexão Crítica na sua Prática Analítica, acaba
por contribuir, embora de Forma Controversa, para a Regeneração, senão
Radicalização, da “Atitude de Modernidade”.
O Pensamento Social Moderno baseia-se na Interrogação Crítica tanto do
Pensamento Social Moderno, como da Hipótese de uma Articulação Forte
entre Discurso Teórico, Estratégia Política e Decisão Criticamente Informada.
Esta Forma de Teorização Social, tem acompanhado o Desenvolvimento do
Pensamento Social através do Séc. XX e XXI, com especial acuidade na
Tradição Marxista de Análise Social.
Não só são colocadas em causa as Formas Tradicionais de Teoria Social,
como também as Contemporâneas.
O Surgimento de uma “Multiplicação de Antagonismos” e de Lutas
Sociopolíticas, em Conjunção com uma Destituição do Papel Intelectual
Universalizado Convencional, tem Causado Erosão nas Velhas Certezas ou
Revelado que elas são um Mero Produto de Posições Analíticas e Políticas
Privilegiadas.
Deixaram assim, de existir Posições Asseguradas provindas de uma Ordem
Transcendente e, por isso, as Convicções Éticas ou Políticas, só conseguem
encontrar um Falso Conforto na Metafísica.
Com a Aplicação dos Poderes de Reflexão ao Próprio Processo de Reflexão
Moderna, as Velhas Certezas, entraram, de facto, em Colapso.
Encontramo-nos assim, num Mundo onde a Teoria Social e a Análise Social
já não são capazes de, com Credibilidade, Fornecer um Mandato para a
Prática Política e para a Decisão Eticamente Informada.

87
Mas isto Não Representa, Nem o Fim da Teoria, Nem o Fim da Política.
Pelo Contrário, não podemos furtar-nos à Responsabilidade Política, à Decisão
Ética e às Dificuldades de, continuamente, Fazer uma Opção ou Assumir uma
Posição.
E é, neste contexto, que as Formas Reflexivas de Teorização ocuparam um
lugar proeminente.
O Habitat Pós-Moderno é Pluralista e tende a Cultivar a Diferenciação e o
Entendimento entre Diferentes Círculos Sociais e Tradições.

FIM

88
TEORIAS SOCIOLÓGICAS
PERGUNTAS E RESPOSTAS DE VÁRIOS EXAMES
(2004 A 2010)

COMPLETE OS ESPAÇOS EM BRANCO DE MODO A DAR SENTIDO


PERTINENTE ÀS FRASES:

01 - Proudhon via a sociedade como um Cosmos de Conflitos e Contradições


em que os indivíduos eram vítimas da Estrutura Social.
02 - Segundo Augusto Comte a Desordem Social deve-se à Desordem
Intelectual e, portanto, é necessário Educar o povo para organizar a
sociedade.
03 - Durkheim chamou a si a tarefa de demarcar a Sociologia das outras
Ciências Sociais, nomeadamente, a Psicologia e a História.
04 - Os Positivistas afirmam que a Filosofia da Ciência deve ser feita pelos
Cientistas, enquanto os Hermenêutas, Marxistas ou Fenomenologistas,
afirmam que ela deve ser trabalho de Filósofos.
05 - Os Unitaristas Metodológicos consideram que as Ciências Sociais não
devem ter um Método específico.
06 - A Epistemologia do Círculo de Viena é de Tipo Interno, ou seja, incide no
Rigor das Proposições.
07 - O Marxismo teve início no pensamento de Marx e Engels.
08 - A Alienação Humana é uma das principais preocupações do Marxismo.
09 - A Teoria Crítica foi definida como Conceito por Max Horkheimer.
10 - As Teorias da Acção e Praxis fundamentam-se na Filosofia Utilitarista.
11 - Weber definiu a Acção Social como "os significados subjectivos que
indivíduo atribui ao seu comportamento”.
12 - Segundo Weber, a Acção Social é sempre subjectivamente orientada para
o comportamento dos outros.
13 - O Funcionalismo surgiu na América, nos anos 30 do século XX.
14 - The Structure of Social Action foi publicado pela primeira vez em 1937.
15 - A ascenção de Parsons em Harvard é simultânea com o declíneo da
Escola de Chicago.
16 - O Interaccionismo Simbólico, em rigor, apareceu em 1937 com Herbert
Blumer.
17 - O Pragmatismo foi a principal influência exercida sobre o
Comportamentalismo.
18 - Simmel pode ser considerado um Interaccionista, pois interessa-se pelas
formas da intracção social.
19 - A TER constitui uma actualização das ideias de Weber quanto ao Objecto
da Sociologia.
20 - Coleman é uma das figuras mais importantes da Teoria da Escolha
Racional.
21 - A TER baseia-se na Crença Iluminista de que a Acção Humana se baseia
na Razão.
22 - O estudo do Espaço e do Tempo não tem uma Tradição Sociológica
duradoura.
23 - Entre as Perspectivas Sociológicas do Tempo podemos mencionar a
Francesa que teve origem em Durkheim.
89
24 - Sorokin e Merton chamaram a atenção para a natureza do Tempo Social.
25 - A Teoria Social Clássica teve a sua origem no século XIX e no início do
Século XX.
26 - A Teoria Social Clássica gerou os dois contributos mais influentes para a
discussão das relações entre Estrutura e ”agency” que estão associadas
respectivamente às figuras de Karl Marx e Émile Durkheim.
27 - Karl Marx apresenta a mudança social como processo evolucionista pois,
a História, para ele, é vista como uma Revelação Progressiva.
28 - Émile Durkheim, tal como Marx, concebem a sociedade em função da
Noção de Estrutura Social.
29 - Durkheim distinguiu Solidariedade Mecânica, própria das Sociedades
Tradicionais de Solidariedade Orgânica, própria das Sociedades Modernas.
30 - Inicialmente, Durkheim considerava que o Paradoxo de uma Sociedade
baseada na diferença, ser capaz de estabelecer laços de Solidariedade
eficazes, se resolvia através da Divisão do Trabalho.
31 - Toqueville contrasta a Autoridade Tradicionalmente Dispersa do “Ancient
Régime” Pré-Revolucionário com a Autoridade Centralizada do Estado
Democrático Moderno.

ESCOLHA SE SÃO VERDADEIRAS OU FALSAS AS SEGUINTES


AFIRMAÇÕES:

01 - Segundo Durkheim os Factos Sociais são fenómenos das consciências


individuais. (FALSO)
02 - O Manifesto Comunista é uma obra de Lenine. (FALSO)
03 - Karl Marx foi influenciado por Hegel. (VERDADEIRO)
04 - A Epistemologia do Círculo de Viena pode ser considerada Formal.
(VERDADEIRO)
05 - A Epistemologia Francesa é Indutiva/Dedutiva. (FALSO)
06 - O Pragmatismo Americano é Imanentista. (FALSO)
07 - A Teoria Crítica é uma Corrente Americana. (FALSO)
08 - Habermas introduziu no Marxismo o Conceito e Interacção
Simbólicamente Mediada. (VERDADEIRO)
09 - O Interaccionismo Simbólico é uma Teoria de Parsons. (FALSO)
10 - Para Weber a "Ordem" reporta às Valorações Superiores. (FALSO)
11 - Uma "Ordem Legítima" é aquela a que os Actores aderem
incondicionalmente. (FALSO)
12 - A Estrutura da Acção Social é uma obra de Parsons. (VERDADEIRO)
13 - Parsons sofreu a influência de Malinowsky. (VERDADEIRO)
14 - O Funcionalismo/Teoria dos Sistemas, dominou a América até ao final dos
anos 60. (VERDADEIRO)
15 - Parsons interessou-se sobretudo pela Mudança Social. (FALSO)
16 - Robert Park e E. Burgess foram as mais conhecidas figuras da Escola de
Frankfurt. (VERDADEIRO)
17 - A Sociologia teve o seu maior deenvolvimento em Chicago nos anos 50.
(FALSO)
18 - Becker não fez parte da Escola de Chicago. (FALSO)
19 - A Teoria da Troca faz parte da orientação Neo-Positivista. (VERDADEIRO)
20 - Emerson denvolveu a Teoria das Redes. (VERDADEIRO)
90
21 - A Teoria da Troca baseia-se no Behavorismo. (VERDADEIRO)
22 - Bourdieu estudou aspectos relativos ao Tempo Social. (VERDADEIRO)
23 - As Sociedades Modernas estão geralmente organizadas em Função do
Tempo do Relógio. (VERDADEIRO)
24 - Marx não problematizou o Tempo Social. (FALSO)
25 - Toqueville considera a Democracia como uma Forma Totalitária de Poder,
sem precedentes. (VERDADEIRO)
26 - Toqueville considera que o impacto do Estado na sociedade dependia de
se imporem limites à sua acção. (VERDADEIRO)
27 - Weber não incluiu no estudo da sociedade as percepções subjectivas dos
actores sociais. (FALSO)
28 - Weber considerava a acção social subordinada à estrutura. (FALSO)
29 - A questão do consumo colocada por Simmel foi depois retomada pela
Escola de Frankfurt. (VERDADEIRO)
30 - Mead foi o autor da Teoria da “Personalidade Espelho”. (VERDADEIRO)
31 - A Escola de Chicago foi uma escola eminentemente teórica. (FALSO)
32 - A Ecologia Humana foi uma criação de Robert Park. (VERDADEIRO)
33 - A Escola de Frankfurt é também designada por Teoria Crítica.
(VERDADEIRO)
34 - Popper aplica a crítica à esfera conceptual, enquanto Adorno a aplica à
conceptual e à real. (VERDADEIRO)
35 - O Marxismo Ocidental contrastava com a Tradição Comunista Ortodoxa de
Lenine. (VERDADEIRO)
36 - Weber considerava que, a objectividade nunca é condicional. (FALSO)
37 - O Interaccionismo Simbólico afirma que a aquisição do “Eu” é Estratégica.
(VERDADEIRO)
38 - Simmel deve ser considerado Interaccionista porque se interessou
essencialmente pelas Afirmações Anti-Pragmáticas. (VERDADEIRO)
39 - A Teoria da Troca é essencialmente uma Abordagem Holística. (FALSO)
40 - A Teoria das Redes deve situar-se no Paradigma de Análise de Trocas e
Recursos. (VERDADEIRO)
41 - A Teoria da Escolha Racional utiliza a Compreensão e a Explicação da
Causalidade da Acção Social. (VERDADEIRO)
42 - As Categorias de Tempo são socialmente variáveis e portanto instituídas.
(VERDADEIRO)
43 - Marx problematizou a Troca Social com base na Troca do Tempo de
Trabalho. (VERDADEIRO)
44 - A Tese da Nova Divisão Internacional do Trabalho afirma o rápido
melhoramento na produtividade, com consequente excedente de mão-de-obra
rural disponível para trabalhar na cidade. (VERDADEIRO)
45 - O Modelo Dramatúrgico exprime uma tensão entre o “Eu” e o “Mim”.
(VERDADEIRO)
46 - As Instituições Totais tendem a destruir o “Eu”. (FALSO)
47 - A publicação de The Structure of Social Action marcou o início do declínio
da Escola de Chicago. (VERDADEIRO)
48 - Homans defendeu uma Explicação Psicologista para os Fenómenos
Sociais. (FALSO)

91
49 - Com Parsons, a Acção deixa de ser considerada como um Atributo da
Racionalidade de um Actor, para ser tomada como o veículo central da
Explicação Funcional da Organização Social. (FALSO)
50 - Para os Interaccionistas Simbólicos o que distingue o homem dos animais
é a capacidade de dominar a matéria. (VERDADEIRO)
51 - A Ideia de Progresso é um dos temas fundamentais do Programa
Interaccionista. (VERDADEIRO)
52 - A Neutralidade/Afectividade é um Par de Variáveis Estruturais
Parsonianas. (VERDADEIRO)
53 - A principal crítica feita ao Estrutural Funcionalismo foi a de utilizar
Explicações Históricas demasiado concretas e empíricas. (FALSO)
54 - A Teoria do Conflito afirma que a Ordem Social é mantida pelas Normas e
Valores de uma Sociedade. (FALSO)

ASSINALE A ÚNICA RESPOSTA CERTA EM CADA PERGUNTA:

01 - A Teoria da Acção:
 A. Deve ser vista como elemento constitutivo de toda a Teoria Social;
 B. Não deve ser operacionalizada fora da Sociologia Activa;
 C. Considera o Comportamento Social dependente da Estrutura Social;
 D. Todas as respostas anteriores.
(Resposta A)

02 - A Teoria dos Sistemas:


 A. É preponderantemente americana;
 B. Sofreu forte influência de Parsons;
 C. É considerada sucessora da Teoria Funcionalista;
 D. Todas as respostas anteriores.
(Resposta D)

03 - O Livro The Structure of Social Action foi escrito por:


 A. Jeffrey Alexander;
 B. Talcott Parsons;
 C. Marion Levey;
 D. Niklas Luhman.
(Resposta B)

04 - O Estruturalismo, nas Ciências Humanas, foi adoptado por:


 A. Psiquiatras;
 B. Marxistas;
 C. Blumerianos;
 D. Todas as respostas anteriores.
(Resposta B)

05 - O Pós-Modernismo, opõe-se a:
 A. Pós-Estruturalismo;
 B. Modernismo;
 C. Positivismo;
 D. Todas as respostas anteriores.
92
(Resposta C)

06 - A Divisão Social do Tempo é:


 A. Universal;
 B. Um Padrão Social particular;
 C. Um Sistema Simbólico/Realista;
 D. Nenhuma das respostas anteriores.
(Resposta B)

07 - Qual das seguintes classificações não deve ser aplicada à Sociedade


Moderna:
 A. Mais desregulada;
 B. Mais normalizada;
 C. Mais rotineira;
 D. Mais administrada.
(Resposta A)

08 - Segundo Marx, os Conflitos de Interesses Materiais tendem:


 A. A impedir a Acção Colectiva;
 B. A gerar formas de Acção Colectiva;
 C. A impedir a Acção Individual;
 D. A gerar formas de Acção Individual.
(Resposta B)

09 - Qual das seguintes Abordagens Sociológicas do início do século


pode ser considerada Naturalista?
 A. Sociologia Positivista;
 B. Sociologia Compreensiva;
 C. Sociologia Histórica;
 D. Todas as respostas anteriores.
(Resposta A)

10 - A Tradição Liberal da Sociologia Americana apoia-se em:


 A. “Laissez-Faire”;
 B. Liberdade;
 C. Bem-Estar Individual;
 D. Todas as respostas anteriores.
(Resposta D)

11 - A Etnometodologia baseia-se em:


 A. Observação das Estruturas Sociais;
 B. Centralização do aspecto conflitual das Relações Sociais;
 C. Observação da vida do dia-a dia;
 D. Todas as respostas anteriores.
(Resposta C)

12 - Este autor desenvolveu as Noções de Função Latente, Função


Manifesta, Disfunção e Teoria de Médio Alcance. Assinale a alternativa de
resposta que considera CORRECTA:
93
 A. Talcott Parsons;
 B. Robert Merton;
 C. Mark Abrahamson;
 D. Ralf Dahrendorf.
(Resposta B)

13 - Qual dos seguintes grupos NÃO é considerado na Tipologia de


Grupos proposta por Ralf Dahrendorf:
 A. Quase Grupos;
 B. Grupos de Interesse;
 C. Grupos de Pressão;
 D. Grupos de Conflito.
(Resposta C)

14 - As fundações do Interaccionismo estão assentes. Assinale a


alternativa de resposta que completa CORRECTAMENTE o enunciado:
 A. Numa Análise das funções manifestas do Sistema Social;
 B. Num Modelo Positivista da Análise Sociológica;
 C. Numa observação Naturalista directa do mundo empírico;
 D. Numa Análise Sistemática das Estruturas Sociais.
(Resposta C)

15 - Um dos trabalhos mais importantes realizados no âmbito da


perspectiva Teórica do Interaccionismo Simbólico é da autoria de Erving
Goffman. Central no seu trabalho é o Conceito de ________. Assinale a
alternativa de resposta que considera CORRECTA:
 A. Anomia;
 B. Estatuto Social;
 C. Papel Social;
 D. Acção Social.
(Resposta C)

16 - Identifique as premissas da Teoria de Escolha Racional. Assinale a


alternativa de resposta que considera INCORRECTA:
 A. Individualismo;
 B. Autocentramento;
 C. Racionalidade;
 D. Optimização.
(Resposta C)

17 - Indique a principal contribuição de Heidegger para a formulação de


uma Teoria Social do Tempo. Assinale a alternativa de resposta que
considera CORRECTA:
 A. Só o presente é real e o passado é considerado como uma reconstrução
mental do sujeito que ganha sentido no momento presente;
 B. A concepção do Tempo está estreitamente ligada à experiência do corpo
e do espaço;
 C. Os seres humanos são fundamentalmente temporais e encontram o
sentido para a vida no caminhar para o fim da existência;
94
 D. O Tempo é uma representação mental e subjectiva.
(Resposta C)

18 - Segundo Lefebvre, o Espaço é um lugar de luta e como tal todos os


tipos de fenómenos espaciais devem ser entendidos como parte da
mesma Estrutura Dialéctica, constituída por 3 dimensões principais.
Assinale a alternativa de resposta que considera INCORRECTA:
 A. Práticas Espaciais;
 B. Representações do Espaço;
 C. Espaços de Representação;
 D. Espaços Subjectivos.
(Resposta D)

19 - As perspectivas Teóricas Positivistas estão presentes em 3 principais


Quadros Teóricos. Assinale a alternativa de resposta que considera
INCORRECTA:
 A. Teoria da Troca;
 B. Teoria dos Sistemas;
 C. Teoria das Redes;
 D. Teoria da Escolha Racional.
(Resposta B)

20 - A Dialética é:
 A. Um Conceito Comunista;
 B. Um Conceito de Hegel;
 C. Um Conceito Realista.
(Resposta B)

21 - A produção da Filosofia das Ciências Sociais:


 A. Condicionou o seu Desenvolvimento;
 B. Foi a única Base Teórica estável de uniformização das Ciências Sociais;
 C. É de Tipo Relativista Externo.
(Resposta A)

22 - O Marxismo Ocidental:
 A. Não teve inspiração em Marx;
 B. Centrou-se em aspectos Estéticos e Epistemológicos;
 C. Foi uma Corrente essencialmente desenvolvida por artistas.
(Resposta B)

23 - Para Parsons, o Conceito de "Fins Últimos" tem a ver com:


 A. Com Princípios da Acção Social;
 B. Com Normas estabelecidas pelo Estado;
 C. Com altruismo e desinteresse individual.
(Resposta A)

24 - Parsons considera Variáveis Estruturais:


 A. Valoração/Avaliação;
 B. Aquisição/Atribuição;
95
 C. Negação/Afirmação.
(Resposta B)

25 - Goffman:
 A. Criou a Teoria da Rotulagem;
 B. Desenvolveu os Aspectos Simbólicos no interior do
Interaccionismo;
 C. Foi um Parsoniano convicto.
(Resposta B)

26 - Homans:
 A. Aperfeiçoou a Teoria da Troca;
 B. É essencialmente Psicologista;
 C. Foi um dos principais seguidores de Parsons.
(Resposta B)

27 - Heideger mostrou que:


 A. A Troca Social baseava-se na Troca de Tempos de Trabalho;
 B. Trocando o seu tempo de trabalho pelo salário, o trabalhador está a ser
alienado;
 C. A existência humana tem um carácter temporal irredutível.
(Resposta C)

28 - A Nível Cultural o Pós-Modernismo caracteriza-se por:


 A. Produção Cultural Uniforme;
 B. Produção Cultural Massificada;
 C. Produção Cultural Original;
 D. Produção Cultural A-Tecnológica.
(Resposta B)

29 - O Termo Marxismo refere-se:


 A. Unicamente à Teoria de Marx;
 B. Só aos Trabalhos de Marx e Engels;
 C. Às Teorias Subsidiárias do Pensamento de Marx e Engels;
 D. Às Teorias Deterministas no seu conjunto.
(Resposta C)

30 - A Teoria Crítica:
 A. Ataca o Pensamento de Habermas;
 B. Ataca a Escola de Frankfurt;
 C. Ataca o Pensamento de Horkheimer;
 D. Ataca a Própria Sociologia.
(Resposta D)

31 - Weber e Parsons são considerados:


 A. Objectivistas;
 B. Fundamentalistas;
 C. Subjectivistas;
 D. Positivistas.
96
(Resposta C)

32 - Parsons chamou ao seu Modelo Teórico da Acção:


 A. Modelo Accionista;
 B. Modelo do Acto Unidade;
 C. Modelo Acção/Reacção;
 D. Modelo Activo/Subjectivo.
(Resposta B)

33 - Dos Paradigmas Teóricos abaixo mencionados, indique aquele que


NÃO é considerado como fazendo parte da Teoria Social Clássica:
 A. Positivismo;
 B. Funcionalismo;
 C. Interaccionismo;
 D. Marxismo.
(Resposta C)

34 - Um dos principais contributos da Teoria Social Clássica no Século


XIX e princípios do Século XX foi o Desenvolvimento da questão da
_______________. Assinale a resposta que completa CORRECTAMENTE o
enunciado:
 A. Interacção Social e do Papel Social;
 B. Estrutura e da Acção Humana;
 C. Classe Social e da Mobilidade Social;
 D. Facto Social e Sociedade.
(Resposta B)

35 - O Programa Intelectual da Teoria Social Clássica foi estabelecido por


2 grandes acontecimentos. Indique-os:
 A. O Iluminismo e o Positivismo;
 B. A Revolução Francesa e a Revolução Industrial;
 C. O Pós-Renascimento e o Capitalismo;
 D. A Revolução Americana e a Democracia.
(Resposta B)

36 - Um dos grandes Teóricos Sociais Clássicos foi Robert Park, membro


proeminente da chamada Escola de Chicago. Indique quais os 2
elementos essenciais do Paradigma Teórico proposto por Park:
 A. Estrutura Social e Praxis;
 B. Acção Humana e Cultura;
 C. Ecologia Humana e Cultura;
 D. Raça e Etnicidade.
(Resposta C)

37 - A expressão Teoria Crítica é da autoria de ____________________ e


decorre da Concepção Reflexiva do ponto de vista filosófico de uma
“Crítica Dialéctica da Economia Política”:
 A. Max Horkheimer;
 B. Jurgen Habermas;
97
 C. Theodor Adorno;
 D. Herbert Marcuse.
(Resposta A)

38 - A Teoria da Acção proposta por Max Weber e Talcott Parsons reporta-


se a uma Perspectiva:
 A. Subjectivista da Acção
 B. Positivista da Acção
 C. Marxista da Acção
 D. Estruturalista da Acção
(Resposta A)

39 - A Teoria Funcional-Estrutural apresentada por Talcott Parsons


sustenta-se num conjunto de Fontes e de Perspectivas.
Qual das alternativas de resposta abaixo indicadas NÃO constitui uma
dessas Abordagens a que o autor recorre na sua formulação teórica?
 A. Psicologia Dinâmica e Clínica;
 B. Antropologia social e Cultural;
 C. Teoria Crítica;
 D. A Sociologia de Durkheim.
(Resposta C)

40 - O Sociólogo Anthony Giddens colocou a Análise do Tempo e do


Espaço no centro da Teoria Social Contemporânea.
Neste âmbito, um complexo dispositivo de Conceitos é desenvolvido para
conceptualizar como os processos de vida dos indivíduos estão ligados à
Longue Durée das Instituições Sociais.
Indique qual destas Noções NÃO está ligada ao Quadro Conceptual
proposto por Giddens:
 A. Regionalização;
 B. Presença-Disponibilidade;
 C. Repositórios de Poder;
 D. Habitus.
(Resposta D)

41 - Para Talcott Parsons uma Sociedade Estável dependia de um forte


Sistema de Valores.
A aquisição destes Valores está associada a 3 Dimensões Fundamentais.
Indique a alternativa de resposta que considera INCORRECTA:
 A. Processo de Socialização;
 B. Controlo Social;
 C. Trajectórias Sociais;
 D. Papéis Sociais.
(Resposta C)

42 - Um dos principais contributos de C. Wright Mills foi o


desenvolvimento do Conceito de _______. Assinale a alternativa de
resposta que considera CORRECTA:
 A. Crítica Sociológica;
98
 B. Imaginação Sociológica;
 C. Acção Sociológica;
 D. Imperativos Sociológicos.
(Resposta B)

43 - O Interaccionismo Simbólico criou uma Tradição ______. Assinale a


alternativa de resposta que completa CORRECTAMENTE o enunciado:
 A. Análise Estrutural da Sociedade;
 B. Análise Empírica da Realidade Social;
 C. Análise das Instituições Sociais;
 D. Análise das Interacções Sociais em grandes Comunidades ou Grupos.
(Resposta B)

44 - Um dos trabalhos mais importantes realizados no âmbito da


Perspectiva Teórica do Interaccionismo Simbólico é da autoria de Erving
Goffman. O Conceito de Papel Social refere-se a:
 A. Modo como cada Indivíduo aprende a distinguir o “Eu” do “Mim”;
 B. Modo como cada Indivíduo cria uma imagem de si próprio;
 C. Modo como cada Indivíduo cria e mantém a sua imagem no seio de uma
Comunidade;
 D. Modo como cada Indivíduo cria e mantém a sua imagem em função
de comportamentos socialmente esperados.
(Resposta D)

45 - ________ foi um dos principais autores da Teoria de Escolha


Racional.
Indique a alternativa de resposta que considera CORRECTA:
 A. Harold Garfinkel;
 B. Richard Emerson;
 C. James Coleman;
 D. Norbert Elias.
(Resposta C)

46 - A Teoria do Conflito, proposta por Karl Dahrendorf, foi objecto de


várias críticas, dirigidas a diferentes dimensões da sua matriz conceptual
e interpretativa. Indique a alternativa de resposta que considera
INCORRECTA:
 A. Carácter Ideológico da Teoria;
 B. Incapacidade para explicar as dinâmicas a Nível Micro;
 C. Não tomar em consideração as dimensões da coesão e da estabilidade
sociais;
 D. Sub-teorização das dinâmicas de Poder no seio de Grupos.
(Resposta D)

47 - Para este autor a figura do “flâneur” exemplifica uma forma de estar,


associada à vida urbana moderna. Assinale a alternativa de resposta que
considera CORRECTA:
 A. Henri Lefebvre;
 B. Walter Benjamin;
99
 C. Doreen Massey;
 D. Manuel Castells.
(Resposta B)

48 - Um dos principais contributos de David Harvey na Análise do Tempo


e do Espaço é o desenvolvimento do Conceito de:
 A. Práticas Espaciais;
 B. Tempo Vazio;
 C. Espaço-Mito;
 D. Compressão Espaço-Tempo.
(Resposta D)

49 - Qual das seguintes afirmações remete para o Estrutural


Funcionalismo de Talcott Parsons?
 A. Teoria que explica a Estrutura Social;
 B. Teoria que explica o Comportamento Individual;
 C. Teoria que estuda os Grupos Primários;
 D. Teoria que sintetiza as ideias de Durkheim e Weber, a estrutura
social e o comportamento individual.
(Resposta D)

50 - Diga qual das seguintes afirmações completa com maior correcção a


seguinte frase: O estrutural Funcionalismo de Talcott Parsons permitia
ligar …
 A. As Funções dos Sistemas Estruturais;
 B. As Perspectivas Macroestruturais com as Perspectivas Accionistas;
 C. Os Subsistemas, Institucionais e Finalista;
 D. Todas as respostas anteriores.
(Resposta A)

51 - Diga qual das seguintes afirmações é a mais correcta para completar


a seguinte frase: Merton chamou paradigma …
 A. Ao Ethos que permitiu construir a Comunidade Científica;
 B. Aos Valores Científicos e seus Imperativos Funcionais;
 C. Às regras e jogos que limitam emocional e profissionalmente a
comunidade dos cientistas;
 D. À aplicação da regra do pensamento tripartido: ontologia, epistemologia
e metodologia.
(Resposta A)

52 - Diga qual das seguintes afirmações é a mais correcta:


 A. O Behaviorismo é uma Corrente da Psicologia formulada por Wundt;
 B. No Behaviorismo o Comportamento Humano é praticamente
equivalente ao Comportamento Animal;
 C. O Behaviorismo postula o Comportamento Humano como independente
de um Mecanismo Estímulo/Resposta;
 D. A Perspectiva Behaviorista foi adoptada por Mead nos seus estudos.
(Resposta B)

100
53 - Escolha a resposta mais correcta para a seguinte pergunta: qual o
pressuposto da Etnometodologia ?
 A. Que a observação das Instituições é determinante para a explicação do
social;
 B. Que a Ordem Social resulta da Estrutura;
 C. Que a Coesão Social se mantém pela Acção rotineira dos
Indivíduos;
 D. Que o desempenho de papeis é sempre de tipo orgânico.
(Resposta C)

RESPOSTAS CURTAS:

01 - Segundo Anthony Giddens, a Noção de Estrutura assenta em 4


elementos principais. Caracterize-os.

Para Anthony Giddens, a Noção de Estrutura é constituída por 4 elementos, os


quais se combinam e estão presentes em todas as práticas estruturadas:
1) Regras de Procedimento [como executar a prática]; 2) Regras Morais para
um desempenho apropriado; 3) Recursos Materiais [alocativos]; 4) Recursos de
Autoridade.

02 - Ao pretender descodificar os valores presentes na Interacção Social,


Talcott Parsons propõe 4 Pares de Variáveis de Análise de Acção Social.
Identifique-os.

Parsons entende que a sociedade contemporânea se caracteriza por


contrastes e mantém em coexistência valores antagónicos.
Estes valores são interiorizados pelos indivíduos e expressos no desempenho
dos seus papéis sociais.
Assim, segundo Talcott Parsons, existem 4 Pares de Variáveis de Análise de
Acção Social que são constituídas por valores antagónicos:
1) Particularismo/Universalismo;
2) Aquisição/Atribuição;
3) Especificidade/Difusão;
4) Neutralidade/Afectividade.

03 - Refira as 4 Tradições Teóricas associadas ao Interaccionismo


Simbólico.

As 4 Tradições Teóricas associadas ao Interaccionismo Simbólico, são: Teoria


da Rotulagem; Etnometodologia; Fenomenologia; Modelo Dramático.

04 - Reportando-se à Teoria da Escolha Racional, explique o Conceito de


Individualismo Metodológico.

O Individualismo Metodológico designa a dimensão reducionista da Teoria da


Escolha Racional, ao pretender explicar as relações a Nível Macro, a partir da
análise das causas e das acções observadas a Nível Micro, ou seja, a Nível do
Actor Social, do Indivíduo.
101
05 - Émile Durkheim estabelece uma distinção fundamental entre as
Noções de Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica.
Caracetrize sucintamente cada um destes conceitos.

Solidariedade Mecânica: Este Conceito refere-se aos Laços Sociais que unem
as pessoas com base numa comunhão de crenças, costumes, rituais e
símbolos.
Este Tipo de Solidariedade é típico das sociedades tribais e é caracterizado
pelo predomínio de uma consciência colectiva, assim como pela
homogeneidade e indistinção entre os seus membros.
Este tipo de Solidariedade é designado por “Mecânica”, pois segundo
Durkheim, as obrigações morais são sentidas pelos indivíduos como “Naturais”,
sendo muito pouco questionadas ou debatidas.
Solidariedade Orgânica: Oposto à Noção de Solidariedade Mecânica, o
Conceito de Solidariedade Orgânica pretende explicar a Sociedade Moderna
como o resultado de um Processo de Evolução, Diferenciação Social e de
Divisão Social do Trabalho.
Para Durkheim a Sociedade Moderna está unida pela Diferença.
Contudo, o Individualismo e a Divisão do Trabalho não conduzem
necessariamente à Anarquia Moral ou à Anomia.
Tal como um Organismo, a Sociedade Moderna é entendida a partir das
Relações de Dependência que os seus membros estabelecem entre si para
poderem sobreviver.

06 - Refira a Concepção proposta por Karl Marx sobre a Relação entre


Estrutura e Agency (Acção Humana).

Para Karl Marx a questão da Estrutura e da Acção Humana (Agency) centra-se


na ideia que são os seres humanos, mais do que as Estruturas englobantes,
que provocam a Mudança Social, ou seja, que “fazem a história”.
Contudo, este argumento é relativizado pela Noção de que a Acção Humana
desenvolve-se no seio de Relações Sociais (Estruturas Sociais) que
configuram a sua natureza.
De primordial importância é o modo de Produção que, segundo Marx, é uma
Estrutura Social que tem tido, ao longo da História da Humanidade, um impacto
fundamental sobre os Grupos Sociais e a Acção desenvolvida por estes.

07 - No âmbito do Paradigma Teórico da Acção e da Praxis, caracterize a


Noção de Estrutura proposta por Anthony Giddens.

Para Anthony Giddens, a Noção de Estrutura é constituída por 4 Elementos, os


quais se combinam e estão presentes em todas as Práticas Estruturadas:
1) Regras de Procedimento (como executar a prática); 2) Regras Morais para
um Desempenho Apropriado; 3) Recursos Materiais (Alocativos); 4) Recursos
de Autoridade.

08 - Identifique as Principais Premissas da Teoria da Escolha Racional.

As Principais Premissas da Teoria da Escolha Racional, são:


102
1) Individualismo - São exclusivamente os Indivíduos que, em última análise,
desenvolvem Acções e Acções Sociais que geram Acontecimentos ou
Resultados Macrosociais;
2) Optimização - As Acções Individuais e Sociais são escolhidas de forma
óptima, ou seja, são o melhor que o Indivíduo pode alcançar, dadas as
preferências transitivas dos Indivíduos em cada oportunidade concreta, com
que ele ou ela se depara;
3) Autocentramento - As Acções dos Indivíduos e as Acções Sociais dizem
respeito, por inteiro, ao Bem-Estar do próprio Indivíduo.
A estas Premissas acrescenta-se um 4º. Princípio de Ordem Metodológica - O
Privilégio Paradigmático.

09 - Mencione os Principais Pressupostos da Teoria do Conflito.

As Principais Premissas da Teoria do Conflito são as seguintes:


- A Sociedade não é Estática e está em Permanente Mudança;
- A Sociedade é por natureza Conflituosa e o Conflito manifesta-se aos mais
diversos Níveis;
- A maior parte dos elementos constitutivos da Sociedade contribuem para
Tensões e Conflitos;
- A Ordem Social não emerge espontaneamente de um Sistema de Normas e
Valores, em virtude de ela ser imposta do Topo para a Base;
- A Ordem Social é mantida pelo exercício do Poder.

10 - Defina os Conceitos de “Função Latente” e “Função Manifesta”,


propostos por Robert Merton.

Função Latente - Refere-se a consequências não intencionais, decorrentes da


Acção Social;
Função Manifesta - Reporta-se a funções intencionais.
Quer uma, quer outra, desempenham um papel importante na manutenção do
Sistema Social.

11 - Refira os Pressupostos da Teoria da Escolha Racional, no que


respeita à Acção Social.

No que respeita à interpretação da Acção Social, os Pressupostos da TER são


os seguintes:
1 - A compreensão da Acção Social decorre das Escolhas Racionais do
Indivíduo;
2 - A Acção Social resulta das Interacções Sociais dos Indivíduos;
3 - As causas dos Fenómenos Sociais são explicadas a partir da Análise da
Acções desenvolvidas a Nível Médio e Micro;
4 - As Acções Sociais são interdependentes, ou seja, o Indivíduo quando age
tem em conta o comportamento dos Outros Indivíduos.

103
12 - Defina o Conceito de Espacialização Social, proposto por R. Shields
(1991)

Segundo Shields, o Conceito de Espacialização Social designa a Construção


Social do Espaço, quer a nível das intervenções específicas no ambiente, quer
a nível do seu imaginário social.

13 - Explicite as 3 Premissas Básicas do Interaccionismo Simbólico,


enunciadas por Blumer.

As 3 Premissas Básicas do Interaccionismo Simbólico, enunciadas por Blumer


são:
1ª. - Os Seres Humanos agem em relação às Coisas, com base nos
Significados que estas têm para eles;
2ª. - O Significado de tais Coisas deriva ou emerge da Interacção Social entre o
Indivíduo e os seus Pares;
3ª. - Estes Significados são manipulados e transformados por intermédio de um
Processo Interpretativo utilizado pelo Indivíduo para lidar com as Coisas com
que se depara.

14 - Explique sucintamente porque se chama ao Modelo de Goffman o


Modelo Dramatúrgico e qual é a sua Forma de Análise.

A obra de Goffman permanece única nos anais da Sociologia, dado que


quebrou todas as Regras: as suas Fontes eram obscuras, o seu Trabalho no
Terreno mínimo, agradando-lhe mais o Romance e a Biografia do que a
Observação Científica.
O seu estilo não era o de um Relato Científico, mas sim o de um Ensaísta e o
seu Trabalho era frustantemente Assistemático.
O principal contributo de Goffman reside no facto dele ter revelado a Profunda
Complexidade que caracteriza a forma como, através da multiplicidade das
Interacções Humanas, as Sociedades se organizam.
Desenvolveu um enorme número de Conceitos, onde desafiou a aridez de uma
Sociologia metodologicamente sofisticada, mas a que faltava substância.
Tentou demonstrar que a Ordem da Interacção era a ponte entre os Níveis
Micro e Macro da Análise Sociológica.
Tal como os outros Interaccionistas, estava interessado na Análise da
Interacção Social no dia-a-dia, especialmente em lugares públicos.
Entendia que o Comportamento Humano não estava pré-determinado e
resultava da capacidade criativa individual e da liberdade pessoal limitada por
contextos sociais, embora não determinada por estes.
Desenvolveu o Modelo Dramatúrgico de Acção Social, que a concebe como
uma Actuação em Público em que o Indivíduo desempenha papéis, de modo a
proteger o seu Ser Íntimo e a sua Auto-Imagem.
A Definição da Identidade surge, para Goffman, do Conflito Permanente entre
as Definições Sociais da Acção e as que o Indivíduo tem como suas.

104
15 - Explique porque é que Peter Hamilton afirma que é apropriado
descrever que toda a Teoria Sociológica se baseia num Esquema
Funcionalista.

Peter Hamilton sugere que o Funcionalismo brotou de diversas Tradições


Antropológicas vigentes nos finais do Séc. XIX e princípio do Séc. XX, que
tentava compreender as Instituições sem referência à Acção Social Individual.
Na sua essência, o Funcionalismo procura ter em conta a contribuição das
Instituições Sociais para a Sociedade ou para o Sistema Social.

16 - Explicite as principais críticas feitas a Parsons a partir do final dos


anos 50.

Foi a partir dos anos 50 que as grandes críticas começaram a surgir,


nomeadamente por Wright Mills que acusa a Teoria de não atender à realidade
concreta; Ralf Dahrendorf acusa a Teoria de não explicar as questões do
constrangimento, conflito e mudança; George Homans (Teoria das Trocas)
acusa a Teoria de não dar explicações para além das Psicológicas; David
Lockwood acusa a Teoria de partir de uma base normativa e não incluir
problemas de poder, conflito etc.
Este Período Crítico desenvolveu-se durante os anos 60 e foi reforçado pelo
renascimento do Pensamento Marxista, na esteira do Movimento do Maio de
68, em Paris.
A Teoria foi contestada por muitas Outras Correntes, entre as quais a
Etnometodologia protagonizada por Garfinkel (que por acaso foi aluno de
Parosns), que a acusou de Positivista, pela Fenomenologia, pela Teoria do
Conflito, pelo Interaccionismo Simbólico, etc.

RESPOSTAS LONGAS:

01 - Refira e discuta os principais contributos teóricos de Georg Simmel


para o desenvolvimento da Análise Sociológica sobre o Espaço, ou,
explicite as Propriedades que Simmel analisou como sendo básicas nas
Estruturas Espaciais.

A contribuição clássica mais importante para a Análise Sociológica do Espaço


foi, sem dúvida, a de Georg Simmel.
O autor identifica 5 Propriedades Básicas das Estruturas Espaciais, que podem
ser encontradas naquelas interacções sociais que tornam um Espaço Vazio em
algo com um significado.
Estas qualidades são: 1) o carácter exclusivo ou único de um espaço; 2) a
possibilidade de dividir o espaço em partes e identificar actividades específicas
a cada uma delas; 3) o grau em que as interacções sociais podem ser
localizadas no espaço; 4) o grau de proximidade ou distância, especialmente
na cidade, e o papel da percepção da luz; 5) a mobilidade espacial e as
consequências, em especial, da chegada de um estranho.
No seu ensaio “A Metrópole e a Cidade”, Georg Simmel desenvolve
argumentos mais específicos acerca do Espaço e da Cidade.

105
Em primeiro lugar, devido à riqueza e à diversidade de um conjunto de
estímulos na Metrópole, os indivíduos têm de desenvolver uma atitude de
reserva e insensibilidade perante os sentimentos.
Sem o desenvolvimento de tal atitude, as pessoas não estariam aptas a
enfrentar as experiências causadas por uma elevada densidade populacional.
A Personalidade Urbana é reservada, desinteressada e sofisticada.
Em segundo lugar, a Cidade assegura aos indivíduos um tipo diferente de
liberdade pessoal.
Quando comparada com a Comunidade de Pequena Escala, a Cidade
Moderna possibilita aos indivíduos o desenvolvimento interior e exterior das
suas peculiaridades.
É a configuração espacial da Grande Cidade que permite um desenvolvimento
único dos indivíduos excepcionalmente inseridos num vasto raio de acção e de
contactos.
Em terceiro lugar, a Cidade baseia-se na economia monetária que é a fonte e a
expressão da racionalidade e do intelectualismo da Cidade.
Tanto o dinheiro, como o intelecto, partilham uma mesma atitude perante
pessoas e coisas e é o dinheiro que nivela sentimentos e atitudes.
Em quarto lugar, a economia monetária, em particular na forma como se tem
reflectido na vida moderna, gera uma preocupação pela precisão e pela
pontualidade.
Isto é assim, quer num sentido mais geral, no qual a economia monetária se
institui como responsável pelo facto de os indivíduos calcularem mais as suas
actividades e relações, quer, mais especificamente, no sentido em que os
indivíduos têm de planear as suas actividades de forma precisa, sendo
necessário cronometrar cuidadosamente as suas acções, com pontualidade e
com restrições à espontaneidade.
Simmel não explica tanto a Vida Urbana em função da forma espacial da
Cidade, a sua análise constitui antes uma primeira investigação, paralela à de
Marx e de Engels no Manifesto do Partido Comunista, sobre os efeitos dos
padrões “modernos” de mobilidade na vida social, onde quer que se
encontrem.
Simmel analisa a fragmentação e a diversidade da vida moderna e demonstra
que o movimento, a diversidade de estímulos e as apropriações visuais do
espaço (dos lugares), são aspectos centrais dessa experiência.
(Livro, Págs. 382 e 383)

02 - Discuta a Teoria do Conflito, caracterizando os seus principais


pressupostos, virtualidades e limitações.

A Teoria do Conflito surgiu e desenvolveu-se nos anos 50 e 60 como resposta


às limitações do Estrutural Funcionalismo do qual nunca se autonomizou
totalmente.
Tem também raízes no Marxismo e na contribuição teórica de Simmel.
Esta Teoria, à semelhança do Estrutural Funcionalismo, orientou-se para o
estudo das estruturas e das instituições, mas é praticamente constituída por um
conjunto de antíteses a essa Teoria.
A Teoria do Conflito é representada em primeiro lugar por Ralf Dahrendorf.
As principais afirmações da Teoria do Conflito são as seguintes:
106
- A Sociedade não é Estática, está em Permanente Mudança;
- A Sociedade não é Pacífica, é Conflituosa na sua natureza e o Conflito
manifesta-se aos mais diversos níveis;
- A maior parte dos elementos constitutivos da Sociedade contribuem para a
existência de Conflitos;
- A Ordem Social não nasce espontaneamente de um Sistema de Normas e
Valores, ela é coercivamente imposta do Topo para a Base;
- A Ordem Social é mantida pelo exercício do Poder.
Ralf Dahrendorf inspira-se tanto em Marx como em Weber.
Tal como eles, vê os Conflitos de Classe como chaves do Dinamismo Social e
da Mudança.
Não baseia a sua leitura do Antagonismo das Classes como resultante da sua
posição no processo de produção, mas na desigualdade da distribuição do
Poder e especialmente da Autoridade.
É assim, segundo o autor, um Processo Dialéctico, que permite a Evolução
Histórica e a Mudança Social, mas também, em simultâneo, a Integração
Social.
Dahrendorf afirma que a Sociedade tem 2 Faces, a do Conflito e a do
Consenso e, portanto, advoga uma Divisão da Teoria Sociológica: a Teoria do
Consenso e a Teoria do Conflito, cada uma analisando os aspectos sociais
correspondentes ao seu quadro teórico.
O Conflito e o Consenso são vistos como dependendo um do outro.
No entanto, apesar desta mútua dependência Dahrendorf não acredita que
uma Teoria Uniformizada permita estudar as 2 coisas em simultâneo, por isso,
inicia a sua Teoria do Conflito afirmando que a Sociedade se mantém unida
pela força dos constrangimentos o que, pressupõe a delegação de Poder de
alguns indivíduos, noutros.
Esta afirmação conduz o autor à sua tese central que é a de que a Autoridade
se encontra desigualmente distribuída e que essa Desigualdade é
invariavelmente a Fonte de Conflitos Sociais Sistemáticos.
Considera que os Conflitos de Grupo se desenvolvem por graus e assumem
uma pluralidade de formas, desde as greves das grandes empresas, até às
lutas dos Grupos de Pressão.
Somente em casos extremos é que este Conflito Social Permanente explode,
dando origem a Revoluções.
Dahrendorf afirma que mesmo as Classes Sociais, se encontram desintegradas
pela concorrência individual que ocorre sempre que os indivíduos têm
oportunidade de avançar, ou seja, durante os períodos de prosperidade
económica.
Afirma, que a Classe Trabalhadora se encontrará progressivamente mais
fragmentada e heterogénea à medida que a tecnologia se complexifique e
requeira progressivamente mais técnicos qualificados tais como designers,
construtores, pessoal de manutenção, etc.
Esta enorme especialização da Classe Trabalhadora vai dividi-la mais do que
uni-la.
A competição entre os diferentes níveis de competências dentro da mesma
classe tornar-se-á mais intensa.

107
Para Dahrendorf a Luta e o Conflito são inevitáveis mesmo dentro de um
Grupo, uma vez que este é hierarquizado e, portanto, o Poder encontra-se
desigualmente distribuído no seu seio.
Assim, enquanto aqueles que se encontram em posições dominantes lutam
pela manutenção da sua situação e do seu estatuto, os que se encontram em
situação dominada, lutam por melhorar a sua posição na hierarquia.
O Grupo é um Cosmos de Luta e Conflito.
Este Conflito de Interesses pode mesmo não ser consciente.
Por isso, o autor desenvolve o Conceito de Interesse Latente que contrapõe ao
de Interesse Manifesto (que são interesses inicialmente latentes que se vieram
a manifestar).
Dahrendorf constrói uma Tipologia de Grupos em que distinguem 3 Estádios
até chegar ao Grupo de Conflito:
- Os "Quase Grupos", em que diversos indivíduos se encontram em posições
próximas e coincidem em interesses comuns aos seus papéis.
- Os “Grupos de Interesses”, em que os indivíduos que constituíam um "Quase
Grupo" se organizam, estruturam e estabelecem objectivos de acção comum
liderada.
- Os “Grupos de Conflito”, constituídos por indivíduos que se encontram
reunidos e estão em Conflito com outros Grupos.
Segundo Dahrendorf, a principal tarefa da Sociologia dos Conflitos é estudar a
relação existente entre Interesses Latentes e Manifestos, bem como
compreender e mostrar que a Função do Conflito no Sistema Social é dupla:
Manutenção e Mudança.
O Conflito é Permanente, pois alguns Lutam pela Manutenção do Status Quo e
outros pela Mudança de Situação.
Também Dahrendorf foi criticado nas suas posições e acusado de não ter em
consideração os aspectos da Ordem e da Estabilidade Social.
Esta Teoria foi igualmente considerada Ideológica e Radical por não ter
conseguido, tal como o autor se propôs, fazer uma reflexão sobre as Ideias
Marxistas pelo que, terá resultado uma numa aplicação não muito adequada do
Marxismo à Teoria Sociológica.
Foi também acusado de ser mais próximo do Estrutural Funcionalismo do que
do próprio Marxismo.
Finalmente, foi acusado de, tal como o Estrutural Funcionalismo, apenas atingir
a Dimensão Macro, deixando escapar o que se passa ao Nível Micro.
A Teoria do Conflito acabou por não ter uma importância decisiva no
Pensamento Sociológico, nem ter conseguido avançar em termos da
recuperação do Pensamento Marxista para a Teoria Sociológica.
No entanto, pode ter contribuído um pouco para o início de uma aceitação
tardia (anos 60) do Pensamento Marxista nos Estados Unidos.
Entre os críticos de Ralf Dahrendorf deve procurar-se especialmente Hazelrigg,
Turner e Weingart.
Entre os seguidores da Teoria do Conflito distingue-se apenas Randall Collins,
que pretendeu superar algumas limitações da Teoria, nomeadamente a sua
incapacidade de passar do Nível das Estruturas Sociais para o Nível dos
Actores Sociais.

108
03 - Caracterize os principais temas do Paradigma Teórico
Interaccionismo Simbólico, referindo a influência desta Perspectiva na
Sociologia Contemporânea e, em particular, no Pensamento Pós-
Moderno.

O Interaccionismo Simbólico resulta de 4 Temas Fundamentais:


1) Para os Interaccionistas, aquilo que distingue o Ser Humano dos restantes
animais é a sua complexa capacidade para produzir símbolos que lhe permitem
construir uma História, Cultura e Formas de Comunicação.
Uma Preocupação-Chave da Sociologia Interaccionista tem a ver com o
processo de Produção de Significados, ou seja, como nos definimos a nós
próprios, as nossas emoções, sentimentos, actos, como entendemos diversas
situações e Acções Sociais.
De fundamental importância é como construímos Significados que, ao longo do
tempo, são reconfigurados e alterados, mantendo-se abertos a reavaliações e
a ajustamentos;
2) A Ideia do Processo.
Para os Interaccionistas, o Processo de Transformação de Significados e as
mudanças ocorridas nas Sociedades, leva-os a centrar a sua atenção na
aquisição do Sentido do “Eu”, na narrativa do Indivíduo, de relacionamento com
os outros, na organização da noção do tempo, da negociação da ordem e de
construção de civilizações.
Esta é uma visão dinâmica do mundo em que os Actores Sociais vão
delineando Estratégias de Acção e Actividades Sociais, construindo a
Sociedade a partir destas Interacções, em permanente mudança;
3) A Ideia da Interacção é central aos Interaccionistas, que incidem a sua
atenção sobre os “Comportamentos Colectivos”, como as “Pessoas Fazem as
Coisas Juntas”.
Neste quadro, a Existência do “Eu” implica necessariamente a Existência do
“Outro”, o Outro Social com o qual Interagirmos e a partir do qual criamos e
negociamos a ideia de nós próprios.
4) Envolvimento no Mundo Empírico.
A Teoria Interaccionista assenta na Investigação Empírica das Colectividades
Humanas, dos Grupos e das Pessoas, explorando os seus Comportamentos e
Símbolos.
No Princípio do Século XXI, Abordagens Pós-Modernas do Social têm incidido
sobre diversos temas que têm sido centrais nas Abordagens Interaccionistas:
O interesse pelos Signos e Símbolos; a preocupação com Temas
Deconstructivistas da Ordem Social, com os Processos de Construção Social,
com a Cultura, a Comunicação de Massas e a Identidade Social.
A ligação entre o Pensamento Pós-Moderno e o Interaccionismo Simbólico tem
constituído um foco de atenção dos Estudos Interaccionistas a partir de 1980.
As Análises Etnográficas, Histórias de Vida, Narrativas Biográficas e a
Exploração da Vida Quotidiana, o Questionamento da Retórica e de Formas de
Interpretação e Representação, ganharam grande proeminência na Análise
Sociológica Interaccionista e nas múltiplas Abordagens Pós-Modernas da
Sociedade Contemporânea.

109
04 - Explicite a principal Linha de Clivagem Epistemológica no
Pensamento Sociológico, distinguindo entre o
Positivismo/Naturalismo/Objectivismo e o Construtivismo/Anti-
Naturalismo/Subjectivismo.

A principal Linha de Clivagem no seio do Pensamento Sociológico alinha o


Positivismo/Naturalismo/Objectivismo e Correntes daí derivadas ou Inspiradas
contra o Construtivismo/Anti-Naturalismo/Subjectivismo e respectivas
Correntes Derivadas ou Inspiradas.
No Primeiro Grupo encontram-se por exemplo Durkheim e Parsons bem como
a maioria das Correntes Anglo-Saxónicas e parte dos Marxistas tais como
Engels e Althusser.
No Segundo Grupo, encontra-se Max Weber e grande parte do Pensamento
Germânico, bem como outros Marxistas tais como Lukács, Sartre e a Escola de
Frankfurt.
Um outro Grupo Alternativo a este Dualismo Histórico, surgiu recentemente e
pode ser considerado como Naturalista Crítico, ou Pós-Positivista, pois
apresenta um Programa Pealista Não-Positivista da Ciência.
O Positivismo ou Naturalismo foi o Modelo Clássico ou Dominante, baseado
numa Proposta Teórica Realista Explicativa aplicada às Ciências Sociais.
Ontologicamente, afirmar o Realismo, significa que está presente a crença de
que a Realidade existe independentemente do conhecimento que temos dela.
A Realidade deixa-se conhecer sem alterar a sua natureza e, as proposições
acerca dela são generalizáveis pois, a sua natureza é regular e organiza-se por
Relações Causais (Causa-Efeito).
Isto é, o Positivismo pretende explicar os Fenómenos Sociais através da
existência de Leis Gerais que regem todos os Fenómenos e que permitem
explicar as Acções ou Ocorrências Observáveis.
Do ponto de vista Epistemológico, o Positivismo considera que existem 2
Esferas: Sujeito e Objecto, as quais são independentes.
Enquanto a Esfera do Real permanece inalterável face ao sujeito, a Esfera do
Sujeito transforma-se pela relação de conhecimento.
A isto se chama Dualismo Epistemológico ou separação entre o sujeito e o
objecto de estudo.
O Positivismo postula a possibilidade de aceder ao conhecimento objectivo
através da explicação dedutiva, a qual garante a possibilidade da previsão de
factos com base no conhecimento de condições iniciais.
Além disto, o Positivismo apoiado no Cartesianismo rejeita qualquer
promiscuidade entre Factos e Valores.
Do ponto de vista Metodológico são várias as implicações da assunção desta
Ontologia e Epistemologia, a saber, adopção de uma Metodologia
Experimental/Manipulativa para verificação de hipóteses, utilização preferencial
de métodos quantitativos e adesão ao unitarismo metodológico, ou seja,
consideração de um único método científico para todos os Ramos da Ciência.
Este Paradigma, é usualmente acusado de Reducionismo e Determinismo.
O Construtivismo ou Anti-Naturalismo também designado por alguns autores
como Hermenêutica encontra-se no pólo oposto do Pensamento do Social.
Ontologicamente, o Construtivismo é Relativista e afirma que a Realidade é
apreendida de formas múltiplas através de conceitos mentais intangíveis que
110
se baseiam na experiência social e pessoal dos indivíduos e, portanto, esses
conceitos jamais podem ser unificados por uma Fórmula ou Lei Geral, pois
obedecem à Variabilidade Psicológica e Social.
Os Fenómenos Sociais são Ontologicamente diferentes dos Físicos/Naturais,
pois regem-se por regras que não são logicamente independentes dos
comportamentos humanos.
A Linguagem é a Estrutura que materiliza os Sentidos subjectivamente visados
pelos Agentes Sociais.
Uma vez que ela tem uma Estrutura Semântica, é importante compreender por
Interpretação, os Sentidos manifestados na Linguagem (Sentido Semiótico e
não apenas Linguístico).
Assim, os Conceitos não se consideram mais ou menos verdadeiros, mas
apenas, mais ou menos elaborados ou contendo mais ou menos informação.
Por outro lado, eles são alteráveis tal como as Realidades Pessoais e Sociais
que lhes deram origem.
Do ponto de vista Epistemológico a Proposta Hermenêutica afirma a
Impossibilidade da Previsão por aplicação de Leis Gerais (Previsão
Incondicional).
O que explica as regras de Funcionamento do Social são os Sentidos
atribuídos pelos Sujeitos e Grupos às suas Acções e esses devem ser
interpretados, não explicados.
A explicação dessas razões não é generalizável ficando assim posta em causa
a sua utilidade.
A Epistemologia Construtivista diz-se Transaccional, o que significa que Sujeito
e Objecto interagem e não são independentes.
Os Factos não existem por si.
São criados pelo Investigador – Subjectivismo.
Isto destrói a linha que separa rigorosamente a Ontologia da Epistemologia (os
Factos não têm natureza própria, são criados pela Relação de Conhecimento).
Do ponto de vista Metodológico, a consequência da Ontologia/Epistemologia
Construtivista é a adopção de Metodologias Hermenêuticas e Dialécticas que
permitem interpretar e comparar Relações Variáveis, Imprevisíveis e
Singulares, ou seja, não generalizáveis.

05 - Identifique e discuta as principais críticas dirigidas ao Paradigma


Teórico Estrutural Funcionalista.

Principais críticas ao Estrutural Funcionalismo:


A Principal Crítica que foi feita ao Estrutural Funcionalismo foi a acusação de
se ter separado da História Concreta e ter sido incapaz de a ter em
consideração.
Acusação, portanto, de que se trata de uma Teoria A-Histórica.
Efectivamente esta Teoria nasceu por reacção a uma certa Antropologia
Histórica um tanto especulativa e tentou construir um Modelo Universal de
Interpretação dos Sistemas Sociais e da Acção Social, que acabou por ser
acusado do inverso: Excesso de Abstracção e Défice Histórico.
A Segunda Crítica Fundamental é de Incapacidade de Explicação da Mudança
Social, pois seria somente um Modelo de Análise de Estruturas Estáticas.

111
A Crítica Mais Frequente acusa o Estrutural Funcionalismo de não estar
habilitado a estudar Conflitos Sociais e de Valorizar em demasia as Relações
Sociais Harmoniosas.
É também acusado de considerar apenas os Aspectos Negativos do Conflito e
de Exagerar o Consenso Social e a Integração em níveis não realistas,
Centrando-se na Análise da Cultura, Normas e Valores.
Estes 3 argumentos levaram à criação da ideia de que se tratou de uma Teoria
Conservadora, ideologicamente enviesada, uma vez que mais do que as
desvantagens, enfatizou as vantagens de manutenção da sociedade tal como
estava.
A manutenção da situação, obviamente, interessou especialmente aos
favorecidos, aos que dela retiravam os maiores proveitos.
O Funcionalismo tomou os Sistemas Normativos como representando a
Sociedade como um todo, quando na realidade, qualquer Sistema Normativo
reflecte os interesses dos que têm capacidade de dominar as instâncias
legislativas e exercer o seu poder em proveito próprio.
Ao Nível Metodológico, as Principais Críticas foram de que o Estrutural
Funcionalismo era Vago, Ambíguo e Pouco Claro, que trabalhava mais com
Noções Abstractas do que com Sociedades Reais.
Outra crítica afirmava, que erradamente o Estrutural Funcionalismo acreditou,
que a Realidade Social poderia ser explicada por uma Única Teoria Integrada e
um Conjunto de Categorias, o que não é verdade.
Outra reserva principal foi a que desconfiou de que existisse qualquer Recurso
Metodológico capaz de abarcar a leitura de um todo tão complexo de forma
integrada e simultânea.
Por outro lado, o A-Historicismo inviabiliza o Método Comparativo.
O Estrutural Funcionalismo, de facto, não aceita comparações ao afirmar que
determinado elemento só é analisável no Quadro do seu Sistema Social e
nunca fora dele.

06 - Discuta o Quadro Teórico apresentado por Anthony Giddens sobre a


Problemática do Tempo e do Espaço, tendo em especial consideração o
dispositivo conceptual desenvolvido para explicar a relação entre o
Processo de Vida dos Indivíduos e as Instituições Sociais.

Giddens desenvolveu uma Teoria particular do Espaço e do Tempo, ligada à


sua Teoria da Estruturação Social.
Tendo Heidegger como inspirador, postulou 5 Características no Ser Humano:
1. Consciência da própria finitude;
2. Transcendência da experiência sensorial individual por via da memória;
3. Consciência do passar do tempo, integrada nas instituições;
4. Existência de subconsciente individual que liga passado e presente;
5. Movimento da passagem individual pelo tempo, passível de interpretação
como uma presença ou ausência do corpo.
Giddens parte da análise do carácter rotineiro da maior parte da vida humana,
no dia-a-dia.
Essas rotinas são condicionadas por vários constrangimentos que estão
ligados aos limites do próprio ser humano, nomeadamente a natureza do corpo

112
indivisível, finito no tempo, impossibilitado do desempenho simultâneo de
tarefas e restrita capacidade de armazenamento de Tempo-Espaço.
As Redes de Interacção Humana são formadas por trajectórias individuais
diárias, semanais, mensais, anuais etc., por situações, participação em grupos,
prosseguimento de projectos, etc.
Essas Redes estão condicionadas pelos limites dos indivíduos que as
compõem e o resultado desses constrangimentos é que, a conduta diária não
está só confinada por fronteiras físicas e geográficas, mas também, por
“Paredes Espácio-Temporais” existentes em todos os lados.
Estas “Paredes” têm sofrido grandes mudanças e essas mudanças deram-se
no sentido de fazer convergir o Espaço com o Tempo, devido ao encurtamento
do Espaço (resultante das Tecnologias, nomeadamente nos Transportes e
Comunicações).
Giddens considera que os Processos Individuais de Vida estão ligados aos
Processos de Longa Duração das Instituições, tentando assim integrar a Teoria
da Acção na Teoria das Estruturas.
Desenvolve vários Conceitos para atingir esse objectivo, de que se podem
destacar:
a) Conceito de Regionalização, ou Zona de Espaço-Tempo relacionada com
práticas sociais rotinizadas.
b) Conceito de Presença-Disponibilidade, ou Grau e Formas pelas quais os
Indivíduos estão co-presentes no Meio Social de cada Indivíduo.
c) Conceito de Distanciamento Espácio-Temporal, ou Processo pelo qual as
Sociedades são esticadas por Períodos de Tempo mais curtos ou mais longos.
d) Conceito de Margens de Tempo-Espaço, ou Formas de Contacto ou Conflito
entre Sociedades Organizadas, segundo diferentes Princípios Estruturais.
e) Conceito de Repositórios de Poder, ou Capacidade de Armazenamento
através do Espaço-Tempo.
f) Conceito de Tempo Vazio, ou Separação do Tempo e do Espaço das
Actividades Sociais.

07 - A contribuição da Etnometodologia para a Sociologia da Ordem:


a) Origem do Termo
b) Autores
c) Ideias Principais
d) Os Métodos
e) Principais Críticas

A Etnometodologia, como o nome indica, é um Método de Análise da


Realidade Social.
Foi criada por Harold Garfinkel.
Garfinkel nasceu em Newark, Nova Jersey e foi aluno de Talcot Parsons,
embora tenha sido profundamente influenciado pela Fenomenologia de Alfred
Schutz.
Foi um reputado professor da Universidade de Los Angeles, Califórnia.
A Etnometodologia baseia-se na Observação da Vida Social do Dia-a-Dia, na
Tradição dos Estudos Empíricos do Interaccionismo Simbólico.
Relativiza portanto, a importância das Estruturas Sociais.

113
Parte do pressuposto de que o que mantém a Ordem e a Coesão Social é a
vida rotineira do dia-a dia.
Somente os Sociólogos e os Pensadores consideram a existência de
Estruturas Sociais e Instituições responsáveis pela Manutenção da Ordem
Social.
Os Indivíduos, no seu dia-a-dia, preocupam-se apenas com o desempenho das
suas rotinas e dos seus papéis e, só se apercebem da existência de Estruturas
Sociais, face a acontecimentos dramáticos ou muito significativos
absolutamente excepcionais nas suas vidas.
O Fenómeno que permite manter unida a Sociedade é o encontro concertado
de Práticas, Regras e Expectativas Comuns que ocorre entre os Indivíduos.
Assim, a Etnometodologia pretende estudar os Métodos que os Indivíduos
utilizam nas suas relações do dia-a-dia, os quais reflectem as suas
aprendizagens e as suas interpretações das experiências já vividas, os seus
encontros sociais e as suas rotinas estabelecidas.
Os Estudos Empíricos daqui resultantes, produziram Descrições Etnográficas
detalhadas de eventos rotineiros e diários, geralmente negligenciados pela
Investigação Sociológica.
No fundo, trata-se de estudos acerca do Senso Comum e das maneiras de
viver.
Para estudarem as rotinas e a sua importância na Manutenção da Ordem
Social, estes investigadores provocam, Metodologicamente, Rupturas nas
Práticas Sociais, como incumprimento de regras, desrespeito pelos outros etc.
Garfinkel desenvolveu 3 Conceitos Fundamentais: Método Documental,
Reflexibilidade e Indexicalidade.
O Método Documental, trata-se de um Método que permite Identificar certos
Padrões de Interpretação e Significação existentes na vida do dia-a-dia, que
conduzem os Indivíduos a uma Experiência Social Particular.
A Reflexibilidade, que se aplica à Vida Social, refere-se ao Fenómeno de
Interpretação Individual orientada por um Sentido Pré-Determinado
Socialmente.
Cada indivíduo utiliza os outros para elaborar as suas imagens, pelo que elas
são o Reflexo das suas Interacções.
A Indexicalidade aponta para o facto de nenhuma Palavra ou Acção, ter
Sentido fora do seu contexto.
Para a Etnometodologia a Linguagem e a Conversação são, pois,
Fundamentais para criar a Realidade Social.
Ela é Socialmente construída, como afirmarão Peter Bergman e Luckman em
1965, na sua obra traduzida para português: A construção social da realidade.
As Palavras já não são meros Símbolos de Objectos, Pensamentos, Emoções,
etc.
São criadoras dessas mesmas Realidades e são responsáveis pelo
Funcionamento Social.
Assim, a tarefa principal da Etnometodologia é refutar o Princípio Sociológico
de que a Realidade Social existe por si e é Independente dos Indivíduos.
Estamos nas antípodas (opostos) de Durkheim e, na Tradição Interpretativa da
Sociologia.
A tarefa do Sociólogo não deve ser a de criar sentido para a Vida Social, mas
sim a de descrever como é que o homem da rua cria sentido para a sua vida.
114
Para isso basta observar.
A criação de sentido, por parte do investigador, por exemplo, através da
utilização de Estatísticas, é tida como ilegítima pois a Caracterização é
Subjectiva e Enviesada (Oblíqua).
São os implicados nos Fenómenos que tem de falar deles, pela Linguagem do
Sociólogo.
Ele tem de os deixar mostrar como são e o que pensam.
O Sociólogo deve ser um veículo de evidenciação do mundo, através da sua
capacidade de interpretar os Sentidos criados pelo mundo, não de produzir
esse Sentido.
De um ponto de vista Epistemológico, isto opõe-se ao Positivismo e
especialmente à Revisão Construtivista de Bachelard.
Trata-se de um desafio demasiado grande, às bases do Pensamento
Sociológico, para escapar a todo o tipo de Críticas.
As Principais Críticas feitas á Etnometodologia são:
- Incapacidade de explicar seja o que fôr e produzir apenas descrições sem
Capacidade Teórica.
- Apresentar as pessoas como criadoras de Realidade.
- Não contemplar a influência do Poder e da Estrutura Social nos
Comportamentos dos Indivíduos.
- Representar a Vida Social como sendo uma Colecção de Vidas Individuais
imunes aos grandes Fenómenos Económicos e Políticos, como a Revoluções
ou as Crises Económicas, por exemplo.
- Não fazer mais do que leituras de Senso Comum, sendo incapaz de explicar
qualquer Fenómeno.
A Etnometodologia constitui o que Boaventura de Sousa Santos classificou
como um "Rombo no Paradigma Positivista", no seu Livro”: Introdução a uma
Ciência Pós-Moderna.
Teve a virtude de focar aspectos quase sempre esquecidos na Tradição
Sociológica, relativos à vida do dia-a-dia e, apesar da Grande Controvérsia
Teórico/Epistemológica que gerou, parece que como Corrente se mantém com
bastante força ainda.

CORRIGIR TEXTOS:

Texto 1:

Os textos que se seguem contêm erros de conteúdo.


Corrija-os anotando as suas correcções no quadro ao lado.

“No Século XX, o Social surgiu com frequência no debate científico em


contraste com a ideia de natureza ou de natural. A Mudança Social havia
transformado – ou pelo menos assim se pensava –, a Condição Social dos
seres humanos. O Estado da Natureza era muito diferente do Estado de
Guerra. Por intermédio da Sociologia Clássica, teve lugar uma
consciencialização decrescente da Separação do Social em relação a outras
esferas e dimensões da actividade.”

115
Onde se lê: Deveria ler-se:

Séc. XX Séc. XIX


Social Natural
Decrescente Crescente

Texto 2:

“Para Marx, o Estado Democrático Moderno representa uma das principais


mudanças históricas da Estrutura da Sociedade Moderna, e, em especial, da
Estrutura da Autoridade. Segundo Nisbet (1977,p.120), a obra de Marx é o
“primeiro estudo sistemático e empírico dos efeitos do Poder Político na
Sociedade Moderna”. Esta interpretação exagera as bases empíricas do
trabalho de Marx mas fornece uma chave para a Estrutura mais geral
especulativa do seu argumento ao centrar-se em quatro aspectos da mudança
política associados ao Estado Democrático Moderno: o seu carácter
tendencialmente absolutizante; a base de apoio que encontra nos indivíduos;
a centralização; e a irracionalização.”

Onde se lê: Deveria ler-se:

Marx Toqueville
Indivíduos Massas
Irracionalização Racionalização

Texto 3:

"Na verdade, é fácil compreender a Teoria Social Contemporânea sem dar


conta das Origens Históricas e dos Fundamentos Clássicos da Teoria Social".

Onde se lê: Deveria ler-se:

Fácil Difícil

Texto 4:

"Olhando para a História da Sociologia Europeia no Período entre os anos 30


e 60, somos imediatamente confrontados com a dimensão da contribuição de
Talcott Parsons (1902-1979) para o Desenvolvimento da Teoria Económica e,
em particular, para a emergência do Estruturalismo".

Onde se lê: Deveria ler-se:

Europeia Americana
Teoria Teoria
Económica Sociológica
Estruturalismo Funcionalismo

116
Texto 5:

"Há algo de paradoxal quando se escreve acerca da Sociologia do Conflito e


da Cooperação.
Neste sentido, a minha intenção é demonstrar que essas Noções têm um
significado central no interior da Teoria Sociológica Contemporânea, mesmo
sabendo que nem sempre tal aconteceu.
A História da Teoria Social no Século XX tem sido, de certa forma, a História da
sua ausência singular, apesar de se poder demonstrar que se trata de uma
ausência impossível de justificar por inteiro.
O Conflito e a Cooperação emergiram em diversos lugares, rompendo com
algumas opções preexistentes formadas em torno de distinções que serviram
para construir uma Sociologia que não era nem Conflituosa, nem
Cooperativa".

Onde se lê: Deveria ler-se:

Conflito e da Espaço e
Cooperação Tempo
Nem Nem Cultural
Conflituosa
Nem Nem Espacial
Cooperativa

LIGUE CONVENIENTEMENTE A 1ª. À 2ª. COLUNA:

I II
1. Positivismo 1. Estudo da Autoridade Burocrática
2. Funcionalismo 2. Teleonomia Conflitual da História
3. Sociologia histórica 3. Análise Científica dos Objectos
Reais
4. Marxismo 4. Sistema Social Coercivamente
Imposto
5. Organicismo 5. Recurso à Analogia

Chave

I II
1 3
2 4
3 1
4 2
5 5

117
I II
1. Ciência no Século XVIII 1. Durkheim e Comte
2. Positivismo Sociológico 2. Metodologia Hermenêutica
3. Dialética 3. Gramsci
4. Materialismo Histórico 4. Naturalismo
5. Construtivismo 5. Engels
6. Marxismo Ocidental 6. Hegel

Chave

I II
1 4
2 1
3 6
4 5
5 2
6 3

AUTORES E OBRAS:

Ligue A e B convenientemente.
Na grelha da chave, complete o quadro com o número correcto retirado da
coluna B.

A B
1. O Suicídio 1. Weber
2. 2. A Ética Protestante e o Espírito do 2. Durkheim
Capitalismo
3. As Regras do Método Sociológico 3. Dilthey
4. Psicologia dos Povos 4. Habermas
5. Para uma Sociedade Racional 5. Durkheim
6. A Estrutura das Revoluções 6. Khun
Científicas

Chave

A B
1 5/2
2 1
3 2/5
4 3
5 4
6 6

118
A B
1. Raymond Aron 1. Conhecimento e Interesses
Humanos
2. 2. Durkheim 2. A Elite do Poder
3. Habermas 3. The Social Systhem
4. Wright Mills 4. O Suicídio
5. Parsons 5. A Ética Protestante e o Espírito
do capitalismo
6. Weber 6. As Etapas do Pensamento
Sociológico

Chave

A B
1 6
2 4
3 1
4 2
5 3
6 5

A B
1. O Antigo Regime e a Revolução 1. Durkheim
2. 2. Catecisme Positiviste: ou Sommaire 2. Marx
Exposition de la Religion Universele
3. A Divisão do Trabalho Social 3. Weber
4. A Ideologia Alemã 4. Toqueville
5. A Situação da Democracia 5. Comte
Burguesa na Rússia

Chave

Nº. RESPOSTA
CORRECTA
1 4
2 5
3 1
4 2
5 3

119
MARQUE COM - V (VERDADEIRO) ou F (FALSO), AS SEGUINTES
AFIRMAÇÕES:

V/F
1 F A Sociologia é uma Ciência Normativa.
2 V O Relativismo desenvolveu-se bastante no seio da Antropologia
Cultural.
3 F Weber e Durkheim eram Socialistas.
4 F O Estrutural Funcionalismo começou a desenvolver-se em meados
do Século XIX.
5 V A manutenção dos Modelos Latentes é um dos Imperativos
Funcionais de Parsons.
6 V A Teoria do Conflito é de inspiração Marxista.
7 F A Fenomenologia utiliza um Método Positivista.
8 V Teoria da Escolha Racional é uma Teoria Voluntarista da Interacção.

V/F
1 V A Teoria da Escolha Racional afirma que as causas das Acções
Sociais devem ser procuradas nos sistemas.
2 F A Concepção Francesa sobre a Sociologia do Tempo é derivada de
Toqueville.
3 V O desenvolvimento da Sociologia foi marcado pelas diferentes
Histórias Nacionais.
4 F O Pensamento Sociológico Alemão foi unificado por Marx e Engels.
5 V Durkheim foi Professor na Sorbonne.
6 V Marx foi influenciado por Hegel.
7 V Weber criou uma Teoria da Estratificação Social.
8 V Weber é um Teórico da Acção.

120
TEORIAS SOCIOLÓGICAS - P-FÓLIO DE 27/02/2011

I GRUPO

COMPLETE OS ESPAÇOS EM BRANCO DE MODO A DAR SENTIDO


PERTINENTE ÀS FRASES:

1 - Em “The Elementary Forms of Religious Life” (Durkheim), afirma que o


Tempo, nas Sociedades Humanas é considerado abstracto e impessoal e
não meramente individual.
Além disso, é organizado socialmente.
2 - Conceito de Regionalização ou Zona de Tempo-Espaço relaciona com
práticas sociais rotinizadas.
Presença-Disponibilidade, isto é, o grau e as formas pelas quais os
individuos estão co-presentes no meio social de cada individuo.
Distanciamento Espácio Temporal: o processo pelo qual as sociedades são
“esticadas” por Períodos de Tempo mais curtos, ou mais longos.
Margens de Tempo-Espaço, ou formas de contacto ou conflito entre as
sociedades organizadas segundo diferentes principios estruturais.
Repositórios de Poder, ou a capacidade de armazenamento de diferentes
sociedades, particularmente a capacidade de depósito através do espaço e
do tempo.
Separar do tempo e do espaço das actividades sociais, o desenvolvimento de
uma concepção vazia da dimensão do tempo, a sepação do espaço do lugar e
a emergência de mecanismos para esse afastamento, de recordações
simbólicas e de sistemas técnicos que afastam as relações sociais dos
envolvimentos dos lugares. (O Tempo e o Espaço em Giddens)

ASSINALE A ÚNICA RESPOSTA CERTA EM CADA PERGUNTA:

3 - Resposta mais correcta para caracterizar as Críticas que a Pós-


Modernidades fez à Modernidade.
a) Irrealização em Termos Técnicos;
b) Desasjustamento Moral;
c) Moralmente Aceitável;
d) Todas as anteriores.
(Resposta A)

4 - Resposta mais correcta para Caracterizar a Pós-Modernidade.


a) Reflexividade;
b) Projecto Teórico Distintivo;
c) Projecto Teórico Consistente, partilhado pelos Autores Pós-Modernos;
d)Todas as anteriores
(Resposta A)

121
II GRUPO

RESPOSTAS CURTAS:

1 - Qual a Hipótese de Trabalho de Lyotard em relação ao Estatuto do


Saber ? (3 linhas)

A Hipótese de Trabalho de Lyotard em relação ao Estatuto do Saber é que o


Saber muda de Estatuto ao mesmo tempo que as Sociedades entram na Era
dita Pós-Industrial e as Culturas na Era dita Pós-Moderna.

2 - Quais foram os 4 Autores Contemporâneos que ficaram estritamente


ligados à Noção de Pensamento Social Pós-Moderno ? (2 linhas)

Os 4 Autores Contemporâneos que ficaram estritamente ligados à Noção de


Pensamento Social Pós-Moderno foram: Foucault, Derrida, Lyotard e
Baudrillard.

3 - Explique o sentido da frase “no pensamento de Foucault alguns


indícios apontam na direcção do Pós-Modernismo que não antagoniza a
Razão e o Iluminismo”. (2 linhas)

Trata-se de indícios de um Modelo de Análise que, em oposição a Habermas


(1987), não leva a cabo uma Celebração da Irracionalidade, aspirando antes à
Exploração da Problemática do Iluminismo, a saber, o Desenvolvimento e
Estabelecimento de Formas de Racionalidade e Técnica, bem como as
Consequências Complexas que lhe estão associadas.

4 - O que é que Beck denomina Modernização Reflexiva ? (2linhas)

Para Beck, a Modernização Reflexiva mais não é do que a Realidade de


Vivermos em Contingência, uma Condição cada vez mais aceite como corolário
da Modernidade por si.

III GRUPO

A Questão do Pós-Modernismo, está Eivada de Ambiguidade e


Controvérsia. (2 Páginas)

Baudrillard é, dos 4 Teóricos “Arqueólogos da Modernidade”, o mais


Controverso.
Ícone Pós-Moderno e Pensador Enigmático, foi a sua obra que ficou mais
intimamente ligada ao Pós-Moderno, muito devido ao seu tom apocalitico.
É descrito como o autor da Cultura e Sociedade Pós-Moderna e a figura que
desenvolveu a mais surpreendente e extrema Teoria da Pós-Modernidade.
Para titular o trabalho de Baudrillard são apresentadas 3 Afirmações:
1 - Insinua que, mais que aprender, a sua prosa exemplifica a Experiência do
Pós-Moderno;
122
2 - Sugere que existe na sua produção a análise sistemática de uma
configuração social e cultural especifica: a Pós-Modernidade;
3 - Indicia que a sua própria análise acaba, em última instância, por se revelar
vulnerável ao “fatal e enigmático enviesamento da ordem das coisas”.
A Pprodução de Baudrillard reveste-se de Premissas Reactivamente
Convencionais, revelando a influência do Marxismo, da Psicanálise, do
Estruturalismo e da Semiologia.
Na sua obra “The Mirror of Production”, de 1975, anuncia-se o Distanciamento
Crítico em relação a Marx - nesta obra, afirma-se que a Crítica Marxista mais
não faz do que reflectir, quer os Pressupostos Produtivistas do Capitalismo
Ocidental, quer o Discurso da Economia Política, fornecendo simplesmente um
Discurso Produtivista Limitado -, e sustenta-se que o Marxismo não submete
nem a Forma de Produção, nem a Forma de Representação a uma Análise
Crítica e que, além disso, lê as Complexas Histórias de todas as Sociedades,
que existem ou que já existiram, em termos de uma História dos Modos de
Produção.
O afastamento de Baudrillard do Marxismo, bem como da Semiologia e da
Linguística Estrutural, conduziu ao Desenvolvimento de um conjunto de
considerações mais radicais sobre as Estruturas do Signo e as Ordens
Sucessivas de Simulacros, bem como a Análises Associadas das Implicações
do Obsceno, Êxtase da Comunicação – é neste afastamento que os estudiosos
identificaram emergência e preocupações especificamente Pós-Modernas.
Existe um conjunto de temas intrínsecos às peças sobre cultura
contemporânea de Baudrillard que reaparece no Teórico Vattimo, na sua
tentativa mais coerente de pensar os problemas da Modernidade Tardia.
Vattimo fez uma apologia vigorosa da relevância e importancia do
Desenvolvimento de uma Noção do Pós-Moderno, através da defesa das
virtudes de um “Pensamento Débil”, de um “Niilismo Conseguido” e de uma
“Ética de Interpretação”.
A Filosofia Pós-Moderna representa um enfraquecimento da Metafísica - daí a
Noção de “Pensamento Débil”.
A Noção de Pensamento Débil de Vatimo, contém outras Noções Relacionadas
- Niilismo e Hermenêutica (O Niilismo - Pode ser designado como a
Desvalorização e a Morte do Sentido, a Ausência de Finalidade e de Resposta
ao “Porquê”; A Hermenêutica - Palavra de Origem Grega que significa,
Esclarecedor, Significativo, Interpretativo, é o Ramo da Filosofia que estuda a
Teoria da Interpretação, Processo de Busca de Conhecimento aplicado pelas
Ciências do Espírito”: Teologia, Filosofia, História e Literatura).
Vattimo, tal como Baudrillard, atribuíu grande relevo ao impacto dos meios de
comunicação.
Um dos atributos que define a Modernidade é a sua Reflexividade.
Foucault, Derrida, Lyotard, Baudrillard e Vattimo, nas análises que fizeram à
Modernidade, questionaram e contestaram as proposições intrínsecas às
Formas Modernas de Pensamento e Política, através de um Processo de
Reflexividade Generalizada que não trata um conjunto particular de Temas
Analíticos e Crenças Políticas, como simplesmente adquiridos, priveligiados ou
inquestionáveis.
Estes Arqueólogos da Modernidade exemplificaram uma Reflexividade Radical,
na sua Prática Analítica, ao submeterem os Complexos Procedimentos,
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Concepções e Hipóteses Intrínsecas, às Formas Modernas de Análise de um
Processo de Incessante Reflexão Crítica.
As suas intervenções podem ser consideradas como contribuições
significativas, controversas, para a Regeneração ou mesmo Radicalização da
Atitude de Modernidade (Foucault, 1986).

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